ESTADO DE MINAS

4. S Á B A D O , 2 5 D E M A R Ç O D E 2 0 0 6

O registro fotográfico, incorporado ao imaginário urbano, tem no jornalismo uma de

MU RA L
PEDAGOGIA
CONCURSO

A Editora da Unesp suas formas mais importantes de expressão, desafiando continuamente a interpretação
lança nova edição da
trilogia sobre ensino
profissional, de au- c
toria de Luiz Antônio m
y

fotojornalismo
Cunha. A obra apre-
senta um panorama

DA CIDADE AO
histórico que abarca k
as práticas educacio-
nais desde o Brasil
Colônia até as mu-
danças corridas na BETO NOVAES
segunda metade dos
anos 90 do século
20. O primeiro volu-
me é O ensino de ofí-
cios artesanais e ma-
nufatureiros no Brasil
escravocata; o se-
gundo aborda o te-
ma com a ascensão
da República, O ensi-
no de ofícios nos pri-
mórdios da industria-
lização; e o terceiro,
que acompanha o
tema até a atualida-
de, é O ensino profis-
sional na irradiação
do industrialismo.

LINGÜÍSTICA
A Editora PUC Minas
acaba de lançar mais
um número da revis-
ta Scripta, do pro-
grama de pós-gra-
duação em letras e
do Centro de Estudos
Luso-afro-brasilei-
ros da universidade.
A Scripta nº 16, dedi-
cada à lingüística e
filologia, discute
questões teóricas
suscitadas pelo estu-
do contemporâneo
da língua, mas tam-
bém a prática peda-
gógica na área,
abordando desde o
gênero textual e-
mail ao uso de pro- Flagrante da
vérbios na escrita
memorialística de vida da cidade:
Helena Morley. A pu- crianças brincam
blicação é semestral. na água que
Informações: (31) vaza de adutora
3375-8189. no Taquaril,
Região Leste de
CATOLICISMO Belo Horizonte
Estão abertas inscri-
ções para o curso
Catolicismo para
adultos, orientado

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

pelo médico Evaldo

A
D’Assumpção, com
reflexões sobre te-
mas da igreja. Serão
cinco encontros se-
manais, sempre às
quartas-feiras, das
19h30 às 21h30, no
Centro Loyola, Rua
Sinval de Sá, 700,
Cidade Jardim. A au-
la inaugural será dia
29. Informações e
inscrições: (31)
3342-2847 ou pelo
e-mail centroloyo-
la@centroloyo-
la.org.br.
PASQUIM
A Editora Desiderata
está lançando o livro
O Pasquim – Antolo-
gia 1969 – 1971, que
reúne os principais
artigos, entrevistas,
perfis e charges dos
150 primeiros nú-
meros do tablóide.
Os textos foram se-
lecionados por Ja-
guar e Sérgio Augus-
to e a organização
editorial é de Martha
Batalha. O volume
preenche uma lacu-
na na história da im-
prensa e deverá ser-
vir de fonte para
pesquisadores, his-
toriadores, jornalis-
tas, professores e in-
teressados na traje-
tória do veículo que
marcou época na
mídia brasileira.
ECONOMIA
Pela Editora da UFMG,
organizado por Clélio
Campolina Diniz e
Mauro Borges Lemos,
está sendo lançado
Economia e território,
que reúne textos de
especialistas no tema.
O livro é dividido em
quatro partes. A pri-
meira trata de inter-
pretações teóricas so-
bre a problemática do
território; a segunda
analisa a dinâmica
local-global e seus
desdobramentos; na
terceira são tratadas
questões contempo-
râneas da urbaniza-
ção e metropolização;
e, na última seção,
são apresentados
modelos empíricos de
fronteira em econo-
mia espacial.
FREDERICO DE MELLO BRANDÃO TAVARES
cidade é tema recorrente de inúmeras manifestações artísticas e visuais. A vi-
da urbana sempre despertou grande interesse nos diversos campos que traba-
lham com representações. A cidade em si já é uma representação em constan-
te construção, que se manifesta em múltiplas formas. É uma representação so-
cial e física. As pessoas e as formas que a habitam, seus habitantes e seus ele-
mentos compõem cenários e geram imagens que fazem da cidade algo visível
e a inserem em um processo de constante visibilidade.
Conhecemos e idealizamos cidades, mesmo aquelas onde nunca estivemos,
através de suas representações e das representações que se fazem delas. Uma
cidade violenta, uma cidade modelo, uma cidade deserta, uma aprazível cida-
de jardim. Todas essas atribuições podem corresponder à imagem de uma ci-
dade, a uma representação e até mesmo a um
imaginário criado a respeito de um lugar.
As cidades, portanto, podem ser vistas e co-
nhecidas a partir de suas imagens. Muitas ve-
zes, uma imagem busca esgotar um significa-
do para a cidade, tenta sintetizá-la de uma ma-
A FOTO NO
neira única, oferecendo um único conheci-
mento sobre ela. Outras vezes, encontramos
JORNAL É
representações várias de uma mesma cidade
que buscam indicar, de alguma forma, sua
NOTÍCIA,
multiplicidade. É verdade que as representa-
ções podem caminhar ideologicamente para
ASSIM
um lado, sendo mais fácil encontrarmos alter-
nada e isoladamente representações positivas
COMO É
ou negativas do que representações balancea-
das sobre alguma cidade. De qualquer forma,
REPRESENTAÇÃO
como nos lembra a historiadora Regina Hele-
na da Silva, as imagens advindas de represen-
DA REALIDADE
tações diversas são constitutivas de uma cida-
de: “São elementos de identificação dos luga-
res, são signos, representações, mediações das
formas de relações do homem com o espaço.
Entendê-las é indispensável para reconhecer
os lugares e sua história”.
Nesse sentido, quando falamos de cidade, é importante lembrar a relação
existente entre imagem e imaginário. Em uma cidade, ambos se constroem
mutuamente. As imagens da cidade favorecem a criação de um imaginário
desta e vice-versa. Assim, as representações que encontramos sobre uma cida-
de atuam em contínua reciprocidade na geração de significados sobre o espa-
ço urbano. Mesmo que imagem e imaginário se distingam – o primeiro decor-
rendo de um referencial contextualizado e o segundo de uma capacidade as-
sociativa de produzir imagens a partir da imagem concreta – ambos dizem,
sempre, de uma apropriação da realidade. Em uma cidade, todo cidadão pos-
sui numerosas relações com algumas de suas partes e as imagens daí constituí-
das estão impregnadas de memórias, significações e registros. E a fotografia,
podemos dizer, tem papel preponderante neste processo.
O registro fotográfico se incorporou à vida cotidiana ao longo dos tem-
pos, deixando à mostra hábitos e costumes de uma determinada classe so-
cial, servindo a motivos profissionais, criando e estabelecendo maneiras de
ser e se comportar, criando imaginários e ângulos, despertando novos pon-
tos de vista sobre a realidade de uma determinada sociedade. A fotografia,
como meio visual, mais do que um simples modelo técnico de captura óti-
ca e geométrica da realidade, é também forma de expressão cognitiva e per-
ceptiva de uma época e de uma sociedade. Desde o século 19, momento em
que o homem passou a produzir mecanicamente imagens de si mesmo e
do mundo que o cerca, a fotografia, precursora desse movimento, não per-
deu mais sua posição de destaque.
Hoje, mesmo com a enorme proliferação e com os avanços corresponden-
tes às imagens em movimento (cinema, vídeo, televisão etc), as imagens foto-
gráficas, traços da realidade, dotadas de uma pretensa fidedignidade visual
com o real, mantêm a posição de suporte ou meio de produção de imagens fi-
xas cujos acesso e uso permanecem amplamente difundidos pelas várias ca-
madas da sociedade.
Para a ensaísta norte-americana Susan Sontag, uma sociedade se configura
como moderna quando produzir e consumir imagens torna-se uma de suas
principais atividades. Para a autora, as imagens são dotadas de poderes extraor-
dinários para “determinar nossas exigências com respeito à realidade e são elas
mesmas substitutas cobiçadas da experiência autêntica”. Na nossa sociedade
moderna, segundo Sontag, as fotografias assumem papel preponderante, uma
vez que a foto tem a capacidade de fixar, aprisionar a realidade, não apenas re-
produzindo-a, mas também a reciclando.
Nesse contexto, vale lembrar que as imagens fotográficas sempre estiveram
muito próximas da cidade. Sua origem, inclusive, pode ser relacionada ao am-
biente citadino do século 19, quando as metró-
poles modernas passaram a ganhar corpo e
movimento. Há entre a fotografia e a cidade
uma relação advinda de uma convergência la-
tente que faz do encontro de ambas o elo de
uma mesma modernidade.
As primeiras imagens fotográficas rapida-
mente tiveram como foco a sociedade urba-
na e conseqüentemente passaram a registrar
e a expressar essa sociedade por diversos ân-
gulos. Dessa relação, a grande cidade moder-
na passou a ser considerada como algo pro-
priamente fotográfico, assim como a fotogra-
fia passou a ser um componente comum na
cidade. A foto, que surge dos ideais modernos
de registro (domínio) da natureza pelo ho-
mem, faz com que a cidade, “paisagem urba-
na”, assim como uma paisagem natural, tor-
ne-se foco das lentes dos fotógrafos. Assim, a
idéia de um domínio fotográfico sobre a na-
tureza reflete-se também nas manifestações
fotográficas na cidade. A cidade se transforma
numa segunda natureza a ser registrada.
Uma paisagem, no entanto, aparece sempre como algo externo, visto de fo-
ra, de cima; e a fotografia não estabelece somente este ponto de vista em rela-
ção à cidade; é intrínseca a ela, retrata-a de dentro, assim como dela faz parte.
Nos dias de hoje, o fotojornalismo é talvez aquele que melhor realiza esse
processo; aquele que melhor materializa essa relação entre a cidade e a foto. O
fotojornalista realiza movimentos diários de captura da cidade, deambulan-
do e balizando trajetos próprios por uma topografia midiática que acompa-
nha os movimentos que ali ocorrem e que ali habitam. A foto povoa a cidade
todos os dias nas páginas dos jornais e, ao mesmo tempo, a transmite, repre-
sentando-a, noticiosamente, para um grande número de pessoas. A foto no
jornal é notícia, assim como é representação da realidade.
Olhar para as fotografias de uma cidade dentro de um jornal é, sem dúvi-
da, um exercício de entendimento e compreensão sobre uma cidade. Sejam
imagens históricas, sejam imagens atuais, as imagens fotojornalísticas contri- c
buem para a criação de um imaginário acerca da cidade para a qual elas se di-
rigem. A representação é sempre da cidade e está na cidade. E tais representa-
m
ções estão em constante processo de transformação, em constante movimen- y
to. Assim como a cidade. Ver uma fotografia citadina é perceber os pontos fixos k
que a acompanham e outros que se renovam. Tanto na cidade quanto na ima-
gem que se tem desta. E o fotojornalismo sempre fará parte deste jogo: repre-
sentando e comunicando, provocando sentidos e significados, preservando e
reelaborando contextos e pontos de vista. Daí a necessidade de não apenas vê-
lo, mas, constantemente, entendê-lo.
Frederico de Mello Brandão Tavares é jornalista, professor universitário e mestre em comunica-
ção social.

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO