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(COM)PAIXÃO 

DINÂMICA QUARESMAL NO ÂMBITO DA MISSÃO 2010  
 
“(Com)Paixão” é a proposta feita a toda a Diocese do Porto, no âmbito da Missão 2010, para o mês  de Março. Durante este 
mês, a Liturgia da Igreja vive, em cheio, a maior parte do tempo quaresmal. No ciclo C do Leccionário Dominical, a Quaresma de 
2010 perspectiva‐se em clara dimensão penitencial, pondo em destaque a compaixão de Deus pelo homem e deste para com o 
seu semelhante, que se manifesta, em concreto, no apelo à conversão (3º domingo C), na prática da misericórdia (4º domingo C) 
e no acolhimento e oferta do perdão (5º domingo C).  
 
Cristianismo de compaixão 
 
Assim,  a  temática  da  compaixão,  expressão  humana  da  paixão  de  Deus  por  nós,  é  explicitamente  anunciada  na  Liturgia  da 
Palavra  de  Deus,  própria  do  Ciclo  C,  tendo  na  parábola  do  Pai  misericordioso  (Lc.15,11‐32),  que  se  encheu  de  compaixão  (4º 
domingo),  o  seu  ícone  mais  belo  e  mais  famoso!  Propomos,  por  isso,  para  toda  a  comunidade,  uma  dinâmica  de  vivência 
quaresmal, que evidencie ao mundo um cristianismo de compaixão. Talvez seja este o dom tipicamente bíblico, que a fé cristã 
oferece à Europa na idade da globalização e do seu pluralismos de mundos religiosos e culturais.  
 
Uma Semana ou uma “Carta pela Compaixão” 
 
Este bem podia ser o título maior de cada frase bíblica inspiradora do nosso caminho semanal, no longo percurso quaresmal. 
Todavia a “Carta pela Compaixão é uma iniciativa que reuniu ainda recentemente em Lisboa representantes de várias confissões 
religiosas  e  não‐crentes,  para  um  encontro,  precisamente  sobre  a  «Compaixão».  A  ideia  de  uma  “Semana  da  Compaixão”  foi 
lançada em Fevereiro do ano passado por Karen Armstrong, uma ex‐freira católica, que se tem dedicado ao estudo das religiões 
monoteístas. Ora, a recente iniciativa inter‐religiosa apresenta precisamente a compaixão, como um valor comum às grandes 
traições  religiosas  essencial  à  vida  da  humanidade.  Diz  o  texto:  “O  princípio  da  compaixão  é  o  cerne  de  todas  as  tradições 
religiosas, éticas e espirituais, que nos convoca sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser 
tratados. A compaixão impele‐nos a trabalhar incessantemente, com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o 
que inclui todas as criaturas, e de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a 
santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem excepção, com absoluta justiça, equidade e respeito”.  
 
Nós, por cá, fundamentaremos a nossa dinâmica semanal e quaresmal da compaixão, a partir da Palavra de Deus, proclamada 
em cada Domingo, recordando, em paralelo, outros passos, em que Cristo nos introduz no seu próprio “código da compaixão”. 
 
Dinâmica da compaixão 
 
1. LUGARES DA COMPAIXÃO, A SINALIZAR COM A CRUZ DA MISSÃO 2010 
 
Neste Ano de Missão, queremos fazer dilatar o coração 
da Igreja, de modo que esta, em comunidade e através 
do testemunho de cada um dos seus fiéis, se aproxime, 
abra  os  olhos,  veja  e  toque  as  diversas  feridas  da 
humanidade, para as sarar com ternura! Neste sentido, 
propomo‐nos  identificar  e  sinalizar,  na  área  de  cada 
paróquia,  com  as  três  Cruzes  do  Calvário,  os  cinco 
lugares  da  nossa  via  e  da  nossa  vida  pública,  onde  a 
compaixão, se há‐de manifestar, particularmente hoje.  
 
São três cruzes, (a cruz do centro, deve estar um pouco 
mais elevada em relação às cruzes laterais), pois Cristo 
nunca  está  só  na  sua  Paixão,  nem  os  crucificados  de 
ontem  ou  de  hoje  estão  sós,  na  sua  dor.  Estas  cruzes 
terão  a  forma  da  Cruz  apresentada  no  logótipo  da 
missão  2010,  com  uma  vara  de  base  (um  pouco  ao 
estilo de uma cruz processional).  
 
Na  base,  isto  é  na  vara  de  suporte,  deverão  ser  assinaladas,  com  o  respectivo  número,  as  15  estações  da  Via‐sacra,  que 
assinalam o caminho que vai da Cruz à Ressurreição de Jesus. 
 
Propomos  que,  a  partir  do  Rito  de  envio  da  Missa  Dominical,  sejam  entregues  estas  três  cruzes  de  cada  calvário,  a  pessoas 
ligadas  aos  diversos  grupos,  associações  e  instituições  não  paroquiais,  fazendo‐se  estas  acompanhar  de  outros  fiéis  da 
comunidade cristã, integrados nos diversos grupos paroquiais.  
 
ENTREGA DAS TRÊS CRUZES DO CALVÁRIO
NO FINAL DA MISSA DOMINICAL 
INSTITUIÇÕES OU GRUPOS NÃO PAROQUIAIS OU   
FAMÍLIAS CONVIDADOS A RECEBER AS TRÊS  GRUPOS PAROQUIAIS E DE CATEQUESE A ACOMPANHAR 
Semana  CRUZES DO CALVÁRIO, NO FINAL DA MISSA E A  OS ELEMENTOS DAS INSTITUIÇÕES ASSINALADAS NOS 
COLOCÁ‐LAS NOS RESPECTIVOS   LUGARES DE COMPAIXÃO 
LUGARES DA COMPAIXÃO   
Instituições sociais de caridade
Grupos da Pastoral sócio‐caritativa 
1ª  (Se não houver, recorrer a algum grupo paroquial a 
5º e 6º anos da Catequese 
trabalha na pastoral sócio‐caritativa) 
Movimento Esperança e Vida
Família (s) atingida (s) pelo luto  Associações de Fiéis / Confrarias 
2ª 
  7º e 8º anos da Catequese 
 
Membros da Protecção Civil:
Bombeiros e Cruz Vermelha (ou outros!) 
Grupo de Jovens 
3ª  Familiares de vítimas de acidentes graves 
9º e 10º anos da Catequese 
 
 
Funcionários do Tribunal  
Visitadores dos Doentes 
ou de algum Julgado de Paz 
MEC’s, 
 
4ª  Pastoral Familiar 
Pessoal do Hospital, do Centro de Saúde, 
3º e 4º anos da Catequese 
responsáveis de alguma Clínica 
 
Familiares de algum doente 
 
Educadores, professores,   Grupo dos Leitores 
5ª 
auxiliares da Acção Educativa   Grupos Bíblicos 
Catequese do 1º e 2º anos 
 
Cada Domingo, serão entregues as três cruzes do calvário, para serem, por eles, colocadas, em cinco lugares diversos, onde a 
compaixão se há‐de manifestar:  
 

SEMANA  LUGARES DA COMPAIXÃO SINALIZADOS PELAS TRÊS CRUZES DO CALVÁRIO 
 
Na primeira semana, sinalizar com as três cruzes do calvário, alguma instituição de caridade existente na paróquia 
ou  freguesia; no  caso de  não  haver,  poderá  sinalizar‐se  com  as  três  cruzes  a  proximidade de  alguns  lugares  ou 
1ª  casas,  onde  é  manifesta  a  pobreza!  Deste  modo  se  visibiliza  a  compaixão  de  Cristo  que,  compadecido  da 
multidão, lhes multiplicou o pão para comer! (Mt 14,13‐21; 15,32‐38; Mc 6,34‐44; 8,1‐9; Jo 6,1‐15) ou de Jesus, 
que compadecido, manda dar de comer a uma menina (Lc.8,55). 
Na segunda semana, sinalizar, com as três cruzes do calvário, a proximidade do Cemitério ou de alguma Capela 
Mortuária. Estas cruzes podem também colocar‐se na proximidade de alguma família marcada pelo luto ou órfã 
2ª 
de  pai  ou  de  mãe.  Trata‐se  de  visibilizar  a  compaixão  de  Cristo,  que,  compadecido  da  viúva  de  Naim,  lhe 
ressuscitou o seu único filho (Lc.7,11‐17) e que chorou diante de Lázaro, seu amigo, já morto (Jo.11). 
Na  terceira  semana,  sinalizar  com  as  três  cruzes  do  calvário,  Instituições  ligadas  à  protecção  Civil,  como  os
Bombeiros ou Cruz Vermelha ou alguma associação humanitária. Não havendo, poderão sinalizar‐se locais onde 
3ª  aconteceram acidentes graves (acidentes de viação, incêndio, derrocada etc.). Trata‐se de evidenciar os lugares 
onde  se  exerce  a  compaixão  de  Cristo,  Bom  Samaritano  (Lc.10,25‐37)  da  humanidade,  que  se  aproxima,  vê  e, 
cheio de compaixão, nos cura e salva. 
Nesta quarta semana, as três cruzes do calvário podem sinalizar alguns lugares de reconciliação, como o tribunal 
ou  julgado  de  paz,  (onde  os  houver)  mas  sobretudo  os  lugares  da  cura  e  recuperação  dos  doentes:  Hospital; 
4ª 
Centro  de  Saúde,  Clínica.  Pode  também  sinalizar‐se  a  proximidade  da  casa  de  algum  doente,  manifestando  a 
compaixão de Cristo, que curava os doentes (Mt.14,14). 
Na quinta semana, as três cruzes sinalizarão os espaços educativos, as escolas na área da paróquia. O ensino é 
5ª  uma forma de compaixão, testemunhada por Jesus, que, compadecendo‐se das multidões, começou a ensiná‐las 
demoradamente (Mc.6,34). 
 
2. UMA VIA‐SACRA, NA VIA PÚBLICA  
 
Ao  serem  colocadas  as  três  cruzes,  domingo  a  domingo,  ou  semana  a  semana,  é  sugerido  que  ali  se  anunciem  os  passos  de 
Cristo,  com  textos  relativos  à  sua  Paixão. Podem  ser  lidos  os  textos  dominicais  de  referência, com  a  leitura, no  lugar,  de  três 
textos bíblicos, a marcar três estações da via‐sacra: 
 
Semana  Estações da  Proposta de texto bíblico para meditação ao colocar as três cruzes  
Via‐Sacra  (texto a ser retomado, no seu conjunto, na oração da via‐sacra final) 
na via pública   
Lc.22,39‐43:  Levantai‐vos  e  orai,  para  que  não  entreis  em  tentação» Saiu  então  e  foi,  como  de 
costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao 
local, disse‐lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou‐se deles, à distância de 
1ª 
um  tiro  de  pedra,  aproximadamente;  e,  pondo‐se  de  joelhos,  começou  a  orar,  dizendo:  «Pai,  se 
1ª  quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» Então, vindo 
  do Céu, apareceu‐lhe um anjo que o confortava. 
Jo.19,28‐29:  Depois  disso,  Jesus,  sabendo  que  tudo  se  consumara,  para  se  cumprir  totalmente  a 
2ª  Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre 
uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram‐lha à boca! 
3ª  Lc.23,36: Os soldados também troçavam dele. Aproximando‐se para lhe oferecerem vinagre!
Lc.23,27: Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se 
4ª  lamentavam  por  Ele. Jesus  voltou‐se  para  elas  e  disse‐lhes:  «Filhas  de  Jerusalém,  não  choreis  por 
mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos! 
Jo.19,25‐27: Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de 
2ª 
Clopas,  e  Maria  Madalena. Então,  Jesus,  ao  ver  ali  ao  pé  a  sua  mãe  e  o  discípulo  que  Ele  amava, 
  5ª 
disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela 
hora, o discípulo acolheu‐a como sua. 
Lc.23,53: Descendo‐o da cruz, envolveu‐o num lençol e depositou‐o num sepulcro talhado na rocha, 
6ª 
onde ainda ninguém tinha sido sepultado! 
Lc.23,26:  Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do 
7ª 
campo, e carregaram‐no com a cruz, para a levar atrás de Jesus! 
3ª  Lc.23,33: Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram‐no a Ele e aos malfeitores, um 
8ª 
  à direita e outro à esquerda. 
Lc.23,44‐45: Por volta do meio‐dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O Sol 
9ª 
tinha‐se eclipsado e o véu do templo rasgou‐se ao meio 
10ª  Lc.22,33: Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes 
11ª  Lc.23,34: Jesus dizia: «Perdoa‐lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» 
Lc.23,39‐43: Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava‐o, dizendo: «Não és Tu 
4ª  o Messias? Salva‐te a ti mesmo e a nós também.» Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu‐o: 
  «Nem  sequer  temes  a  Deus,  tu  que  sofres  o  mesmo  suplício?  Quanto  a  nós,  fez‐se  justiça,  pois 
12ª 
recebemos  o  castigo  que  as  nossas  acções  mereciam;  mas  Ele  nada  praticou  de  condenável.»  E 
acrescentou:  «Jesus,  lembra‐te  de  mim,  quando  estiveres  no  teu  Reino.»  Ele  respondeu‐lhe:  «Em 
verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.»
Lc.23,3‐5:  Pilatos  interrogou‐o:  «Tu  és  o  rei  dos  judeus?»  Jesus  respondeu:  «Tu  o  dizes.» Pilatos 
disse, então, aos sumos‐sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» Mas 
13ª 
eles  insistiram,  dizendo:  «Ele  amotina  o  povo,  ensinando  por  toda  a  Judeia,  desde  a  Galileia  até 
aqui.» 
Lc.23,47‐48:  Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, 
5ª 
14ª  este homem era justo!» E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o 
 
que acontecera, regressava batendo no peito. 
Lc.24,25‐27: Jesus disse‐lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em 
tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua 
15ª 
glória?»  E,  começando  por  Moisés  e  seguindo  por  todos  os  Profetas,  explicou‐lhes,  em  todas  as 
Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito. 
Notas e sugestões: 
1. Semana a semana, em dia a escolher, são colocadas as três cruzes e rezadas as três estações da via‐sacra.  
2. Na  Semana  Santa,  poderá  organizar‐se  uma  via‐sacra  pública,  passando  e  parando  diante  dos  cinco  calvários,  que 
sinalizam os cinco lugares da compaixão;  
3. Estas três cruzes de cada calvário, colocadas, domingo a domingo (ou semana a semana), deverão aparecer decoradas 
festivamente, no Domingo de Páscoa, de modo a que, quem quer que passe pelo caminho, perceba a diferença.  
4. Num dos domingos de Páscoa, as cruzes deverão ser recolhidas, fazendo‐se com elas uma via‐lucis.  
 
3. GESTOS DE COMPAIXÃO, EM OBRAS DE MISERICÓRDIA 
 
A “compaixão” é uma emoção valorizada, pelo menos, nas principais tradições religiosas. É uma palavra que não faz justiça a 
outras, mais antigas, cujo sentido se apagou ou distorceu com o tempo. Referimo‐nos à «hesed» da tradição bíblica, ao "amor 
das entranhas" que os primeiros cristãos de língua grega traduziram por “ágape” e os de língua latina verteram no neologismo 
“caritas”, cuja raiz é a «charis», ou graça, pedida de empréstimo aos gregos. Em suma, quando se fala de compaixão, fala‐se de 
“um amor marcado pela gratuidade”, que encontra paralelos e convergências noutras tradições antigas.  
 
Trata‐se,  afinal,  de  uma  emoção  delicada:  um  transbordar  do  coração  perante  as  alegrias  e  sofrimentos  dos  outros.  É  um 
movimento profundo que arranca das raízes do nosso ser, antecedendo a reflexão da razão e a inclinação da vontade. Mais do 
que uma atracção "química" pelo outro, ou sequer um sentimento psicológico de afinidade, é uma virtude ou força espiritual. 
Os cristãos lêem‐na, como que brotando do próprio Deus, e por isso lhe chamam "virtude teologal". Nesse sentido, antes de ser 
acção, ela é atenção, vigilância. Dir‐se‐ia que é a condição do outro, que abre em nós a fonte da nossa própria humanidade. Por 
isso,  a  compaixão  se  manifesta  como  resposta  espontânea  à  grandeza  ou  miséria  do  outro:  um  excesso  que  transborda  do 
coração de qualquer homem ou mulher, independentemente da sua filiação ideológica e religiosa, ou ausência dela, porque a 
todas antecede. 
 
Contudo,  na  sua  delicadeza,  a  compaixão  arrisca‐se  a  ser  perdida  de  vista  por  entre  a  multiplicidade  de  sentimentos  e 
emoções que parecem mais relevantes para a vida quotidiana. Pode parecer uma emoção débil, sintoma de fraqueza perante a 
crueldade  do  real.  Devemos  antes  identificá‐la  com  o  cuidado  atento  pelo  outro.  Daí  que  a  nossa  proposta  vá  no  sentido  de 
traduzir  a  compaixão  nas  tradicionais  sete  “obras  de  misericórdia”,  corporais  e  espirituais,  a  saber,  pela  respectiva  ordem 
apresentada  no  Catecismo:  1)  Dar  de  comer  a  quem  tem  fome;  2)  Dar  de  beber  a  quem  tem  sede;  3)  Vestir  os  nus;  4)  Dar 
pousada aos peregrinos; 5) Visitar os Doentes; 6) Visitar os presos; 7) Enterrar os mortos. Seguem‐se ainda as chamadas “obras 
de misericórdia espirituais”: 1) Dar bons conselhos; 2) ensinar os ignorantes; 3) Corrigir os que erram; 4) Consolar os tristes; 5) 
Perdoar as injúrias; 6) Suportar, com paciência, as fraquezas do nosso próximo; 7) Rezar a Deus, pelos vivos e defuntos.  
 
 
Semana  Gestos de compaixão, em obras de misericórdia 
 
Na primeira semana, em que Jesus experimenta a fome e a sede do deserto, é proposto: Dar de comer a quem tem 
1ª 
fome! Dar de beber a quem tem sede! 
Na  segunda  semana,  em  que  a  perspectiva  da  morte  de  Jesus  é  iluminada  pela  luz  da  ressurreição,  e  em  que  o 
2ª  Apóstolo Paulo nos fala da transformação do nosso corpo mortal em corpo glorioso, é proposto: Consolar os tristes! 
(os que estão de luto). Enterrar os mortos, rezar pelos vivos e defuntos.  
3ª  Na  terceira  semana,  em  que  Jesus  adverte  para a  necessidade de conversão,  perante  a  impiedade de  Pilatos  que 
mandou derramar o sangue de certos galileus juntamente com os das vítimas que imolavam e diante da tragédia da 
queda da Torre de Siloé, é‐nos proposto visitar vítimas de acidentes e tragédias.  
Na quarta semana, ao meditar a parábola do Pai misericordioso, que veste e reveste o seu filho e, no seu regresso a 
4ª  casa, lhe perdoa o desvario, são propostas algumas destas obras de misericórdia: Vestir os nus. Visitar os enfermos. 
Perdoar as injúrias. Suportar com paciência as fraquezas do próximo. 
Na quinta semana, a cena de Cristo a escrevinhar no chão e da mulher adúltera perdoada por Cristo, com o apelo 
5ª  forte  a  não  voltar  a  pecar,  inspirar‐nos‐á  obras  de  misericórdia  como  estas:  Dar  bons  conselhos.  Ensinar  os 
ignorantes. Corrigir os que erram.  
 
 
À luz dos textos bíblicos de cada domingo, procuraremos sugerir um gesto, uma atitude, uma obra que manifeste a compaixão, 
tal  como  a  entendemos  e  recebemos  de  Cristo.  «“Vendo  as  multidões,  Jesus  teve  compaixão,  porque  estavam  cansadas  e 
abatidas, como ovelhas sem pastor" (Mt 9, 36). E, depois da chamada dos Doze, reaparece esta atitude, no mandato que Ele lhes 
dá de se dirigirem "às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10, 6). Nestas expressões sente‐se o amor de Cristo pela sua gente, 
especialmente pelos pequeninos e pelos pobres. A compaixão cristã nada tem a ver com o pietismo, com o assistencialismo. Pelo 
contrário, é sinónimo de solidariedade e de partilha, e é animada pela esperança» (Bento XVI).  
 
 
4. UMA JANELA ABERTA, NA CASA DA COMPAIXÃO  
 
É proposto, a cada família, com (ou sem) crianças e adolescentes a frequentar a 
Catequese, que, naquelas cinco semanas da Quaresma, que vão até ao Domingo 
de  Ramos,  criem,  em  casa,  a  partir  da  forma  simples  da  Cruz  do  logótipo  da 
Missão 2010, a sua própria Cruz.  
 
Poderão  fazê‐lo  usando  diversos  materiais  de  construção,  tais  como:  pano, 
madeira, barro, papel, vidro, plástico, borracha, esferovite, esponja. A construção 
e a decoração, serão feitas a gosto e segundo a originalidade de cada família.  
 
Esta  Cruz,  bem  vistas  as  coisas,  pode  dividir‐
se  em  5  quadrados,  a  preencher  durante  as 
cinco  semanas  da  Quaresma,  até  chegar  à 
celebração  de  Ramos  na  Paixão  do  Senhor. 
No  centro  da  Cruz,  deverá  criar‐se  a  ideia, 
virtual  (pintada)  ou  real  (recortada)  de  uma 
janela, de modo que esta cruz seja símbolo da 
verdadeira  mística  da  compaixão,  que  é  a  mística  dos  olhos  abertos,  particularmente 
evidente na cena da parábola do bom‐samaritano (Lc.10,25‐37): ali, o sacerdote e o levita 
vêem  o  homem  meio‐morto  e,  por  o  terem  visto,  afastam‐se.  Ao  contrário,  o  samaritano 
chegou primeiro junto dele e, por ter chegado junto dele, é que o vê. O «ver» do samaritano 
vem  depois  do  «chegar‐se  junto  dele»:  não  é  condição  (aproximo‐me  de  ti,  porque  te  vi) 
mas  consequência  (vejo‐te,  porque  me  aproximei  de  ti).  Neste  sentido,  como  já  dissemos,  e  citando  J.B.  Metz,  “a  mística  da 
compaixão  não  é  senão  a  paixão  por  Deus,  que  se  experiencia  e  demonstra,  como  compaixão,  como  mística  dos  olhos 
abertos”.  
     
      Esta mística da compaixão é, através do encontro com os outros que sofrem, uma mística 
  1ª    “terrena”.  Nesta  mística  da  paixão  por  Deus,  cruzam‐se  no  coração  humano  todas  as 
nossas experiências de sofrimento que clamam ao céu! Daí é que podemos arrancá‐las ao 
   
abismo do desespero e do esquecimento e encorajar uma nova prática do amor, que se 
  esquece  de  si,  pondo  o  outro,  como  sua  prioridade  e  valor.  Por  outro  lado,  esta  janela, 
  5ª     4ª  que se abre a partir do centro da cruz, aponta ainda para a visão grandiosa do amor do 
2ª 
«Pai», que da lonjura donde egressa o filho, o vê primeiro e dele se compadece! (Lc.15, 
    20). Esta janela sugere o amor de Deus, que amou de tal modo o mundo que lhe deu o 
    Seu  Filho  Único  (Jo.3,16)  e  simbolizará  a  relação  do  cristão  com  o  mundo.  Esta  janela 
3ª 
    parece dizer a cada um: para esta compaixão, vale o imperativo categórico: “repara, olha 
    e ficas a saber” (H. Jonas). 
 
Conclui assim o texto da já famosa “Carta pela Compaixão”: “É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e 
dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes numa determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode 
quebrar  barreiras  políticas,  dogmáticas,  ideológicas  e  religiosas.  Nascida  da  nossa  profunda  interdependência,  a  compaixão  é 
essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável 
para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica”. 
  
 
 
BIBLIOGRAFIA, ALÉM DA BUSCA NA INTERNET: 
 
ABEL DIAS, Compaixão é sofrer com, in Revista Audácia, Abril 2009 
ANTÓNIO COUTO, Como uma dádiva. Caminhos de antropologia bíblica, U.C.E., Lisboa 2002 
ANSELMO BORGES, Janela do (In)finito,  Ed. Campo das Letras, Porto, 2008,  
BENTO DOMINGUES, O.P., O código da compaixão, in Jornal Público (08.06.2008). 
JANE E. AYER, Meditações sobre as imagens de Deus, Col. Um lugar calmo, Ed. Salesianas 
JOHANN BAPTIST METZ, O futuro do cristianismo na Europa do século XXI, in Deus no século XXI e o futuro do cristianismo, 
Editora Campo das Letras, Porto 2007 
SÃO BERNARDO DE CLARAVAL, Sermones sobre el Cantar de los Cantares, Obras Completas, BAC, Madrid 1987 
 
 
Uma proposta de trabalho elaborada por: 
 
Pe. Amaro Gonçalo  
Pe. Artur Moreira 
Pe. José Manuel Araújo 
Dr. António Madureira 
 

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