Caros(as) Colegas,
Com base no que foi discutido pelos colegas até esse momento, a seguir,
buscarei expor minhas considerações acerca da ética em dois eixos consecutivos, a
saber:
“Há ou pode haver uma lei moral que seja universal, no sentido de ter de ser
constante, permanente, válida em todos os contextos e para todos os seres humanos?
Neste momento, não me interessa discutir a conduta da Igreja neste caso, mas
sim, a defesa que o Sílvio faz sobre a falta de ética na prática do aborto, em qualquer
situação.
“(...) os sistemas de ética pretendem afetar o agir das pessoas para que elas pas-
sem a ter a tendência, ou a disposição, de sempre agir de uma mesma maneira: levando a
cabo determinadas ações e (ou) se abstendo de outras. Isso, como os velhos Platão e Aris-
tóteles sabiam, só se consegue com a prática constante, isto é, com o hábito. E penso que
estavam certos porque, em geral, pensamos que uma pessoa age eticamente bem quando
tem a tendência a agir seguindo determinado padrão de conduta ou, para falarmos de outra
forma, quando está habituada ou tem o costume de agir assim. Mas este é apenas um as-
sunto, não é o mais importante nem o assunto central que levantei para a discussão. Pode-
mos deixá-lo de lado para passarmos ao que é mais importante.”
“A questão central é, mais uma vez, se existem ou não valores éticos universais.
(...)”
“A filosofia não está relacionada com “quantos” pensam, mas com o que se pen-
sa e como se pensa.”
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Copiado em 8/2/2010 da página http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u530540.shtml
‘como se pensa’, quanto o ‘como se age’. Logo, questiono a relevância de uma questão
teórica a partir de sua consequência prática.
Posto isso, passo ao segundo eixo das minhas considerações, a saber: Até onde
vai a responsabilidade do intelectual que se propõe a filosofar sobre os valores éticos?
“O fato é que, repito mais uma vez, setores da igreja católica exigem universali-
dade absoluta da tese de que a vida é um valor que em todos e absolutamente todos os ca-
sos deve ser respeitado.”
M.F.:
“O papel do intelectual não é mais o de se colocar "um pouco na frente ou um
pouco de lado" para dizer a muda verdade de todos; é antes o de lutar contra as formas de
poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do
saber, da "verdade", da "consciência", do discurso.
E por isso que a teoria não expressará, não traduzirá, não aplicará uma prática;
ela é uma prática. Mas local e regional, como você diz: não totalizadora. Luta contra o
poder, luta para fazê-lo aparecer e feri-lo onde ele é mais invisível e mais insidioso. Luta
não para uma "tomada de consciência" (há muito tempo que a consciência como saber
está adquirida pelas massas e que a consciência como sujeito está adquirida, está ocupada
pela burguesia), mas para a destruição progressiva e a tomada do poder ao lado de todos
aqueles que lutam por ela, e não na retaguarda, para esclarecê-los. Uma "teoria" é o
sistema regional desta luta.”
G.D.:
“Exatamente. Uma teoria é como uma caixa de ferramentas. Nada tem a ver com
o significante... É preciso que sirva, é preciso que funcione. E não para si mesma. Se não
há pessoas para utilizá-la, a começar pelo próprio teórico que deixa então de ser teórico, é
que ela não vale nada ou que o momento ainda não chegou.”
Um abraço a todos,
Caius Brandão