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Goiânia, 10 de fevereiro de 2010

Caros(as) Colegas,

Venho acompanhando com muito interesse o debate sobre ética promovido na


Lista CAFIL pelo Prof. Gonzalo, Sílvio, Leo e Janos, entre outros. Até agora, eu havia
conseguido resistir à tentação de participar desse diálogo, certo de que dificilmente eu
poderia oferecer uma contribuição significativa, mediante os textos tão bem elaborados
e com argumentações bem fundamentadas que vem sendo postados aqui pelos
participantes do debate. Então, contentei-me em ler, refletir e aprender. Entretanto,
agora que a discussão parece ter chegado a termo, eu gostaria de fazer algumas
considerações que considero relevantes, e abordar temas que, a meu entender, também
poderiam ser explorados com propriedade por aqueles que se debruçam sobre a questão
da ética.

Com base no que foi discutido pelos colegas até esse momento, a seguir,
buscarei expor minhas considerações acerca da ética em dois eixos consecutivos, a
saber:

1. Considerando que seja possível determinarmos com clareza e evidência que


alguns valores – como o valor da vida humana, por exemplo – são realmente universais,
como tal conhecimento poderia contribuir para constituição de um mundo onde estes
valores fossem integralmente respeitados? Em outras palavras, de que forma a chancela
da universalidade pode conferir a tais valores melhores condições para que sejam
sempre observados?

2. Até onde vai a responsabilidade do intelectual que se propõe a filosofar sobre


os valores éticos?

O Prof. Gonzalo, no artigo postado em 17 de janeiro, coloca a seguinte questão:

“Há ou pode haver uma lei moral que seja universal, no sentido de ter de ser
constante, permanente, válida em todos os contextos e para todos os seres humanos?

Após a rica troca de idéias que buscou investigar a existência desta


universalidade a partir da fundamentação dos valores éticos, no email postado em 7 de
fevereiro, o Sílvio expõe, entre outras, as seguintes conclusões:

“(...) os valores éticos são universais, não absolutos e independentes do contexto


pragmático.”

“(...) a prática do aborto continuará sendo não-ética, ainda que seja


discriminalizada (e sem recorrer a qualquer tipo de argumento de cunho religioso) (...).”

Tomarei o exemplo dado pelo Sílvio, sobre a questão do aborto, justamente


porque diz respeito ao valor da vida humana. Ora, se o valor da vida humana for um
exemplo de um valor ético universal, logo, para que sejamos éticos, não poderíamos
admitir o aborto em nenhuma hipótese, porque, como diz o próprio Sílvio, eles são
“independentes do contexto pragmático.” Tomemos, então, justamente um exemplo
prático para testar tal posição.

No dia 06 de março de 2009, a Folha Online publicou a seguinte notícia:


“O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, afirmou nesta
sexta-feira que o suspeito de ter estuprado uma menina de 9 anos em Alagoinha (a 230 km
de Recife) não deve ser excomungado pela Igreja Católica. Grávida de gêmeos, a vítima
foi submetida a uma cirurgia para interromper a gravidez na última quarta-feira (4). Após
o aborto, médicos que participaram do procedimento e a mãe da menina foram
excomungados.” 1

Neste momento, não me interessa discutir a conduta da Igreja neste caso, mas
sim, a defesa que o Sílvio faz sobre a falta de ética na prática do aborto, em qualquer
situação.

Se nossos legisladores fossem convencidos pelos argumentos que propõem a


universalidade do valor da vida humana nos termos defendidos pelo Sílvio, logo, eles
teriam que revogar a lei que autoriza o aborto em casos como esse de Alagoinhas.
Agora, me ponho a imaginar que eu concorde integralmente com o Sílvio, que também
tenha uma filha de nove anos grávida de seu estuprador e que, graças a ‘nós’,
universalistas, a lei brasileira me impediria de promover o aborto. Tento, na verdade
sem nenhum sucesso, me imaginar convencendo a mim mesmo e a minha filha de que
não seria ético e legal fazer o aborto e que, por isso, ela deveria colocar a sua própria
vida em risco. Mas, o próprio Sílvio nos oferece, no mesmo texto, um alento para este
caso hipotético: “não é ético seguir leis injustas.” Isto significa que, mesmo se fosse um
universalista e nunca tivesse cometido algum crime, nesta situação, eu optaria por dizer:
às favas com a universalidade da ética e com as leis dos homens! Naturalmente,
inúmeros exemplos poderiam ser dados com base na contingência dos fatos. Por esta
razão, ainda me pergunto de que forma o status da universalidade pode emprestar aos
valores éticos a força necessária para que sejam sempre observados?

No email postado em 24 de janeiro, na tentativa de retomar o rumo da discussão


que ele próprio propôs, o Prof. Gonzalo afirma o seguinte:

“(...) os sistemas de ética pretendem afetar o agir das pessoas para que elas pas-
sem a ter a tendência, ou a disposição, de sempre agir de uma mesma maneira: levando a
cabo determinadas ações e (ou) se abstendo de outras. Isso, como os velhos Platão e Aris-
tóteles sabiam, só se consegue com a prática constante, isto é, com o hábito. E penso que
estavam certos porque, em geral, pensamos que uma pessoa age eticamente bem quando
tem a tendência a agir seguindo determinado padrão de conduta ou, para falarmos de outra
forma, quando está habituada ou tem o costume de agir assim. Mas este é apenas um as-
sunto, não é o mais importante nem o assunto central que levantei para a discussão. Pode-
mos deixá-lo de lado para passarmos ao que é mais importante.”

“A questão central é, mais uma vez, se existem ou não valores éticos universais.
(...)”

“A filosofia não está relacionada com “quantos” pensam, mas com o que se pen-
sa e como se pensa.”

Eu gostaria de propor que a universalidade da ética não é mais importante do


que a sua observância, e acrescentar a esta última sentença do Prof. Gonzalo que a
filosofia também está relacionada com o agir das pessoas. Pois, ao frigir dos ovos, ou
seja, para além das questões meramente teóricas, tais como “os valores éticos são
universais”, no âmbito da moralidade e da justiça, não me interessa tanto ‘o que’ e

1
Copiado em 8/2/2010 da página http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u530540.shtml
‘como se pensa’, quanto o ‘como se age’. Logo, questiono a relevância de uma questão
teórica a partir de sua consequência prática.

Posto isso, passo ao segundo eixo das minhas considerações, a saber: Até onde
vai a responsabilidade do intelectual que se propõe a filosofar sobre os valores éticos?

Para esclarecer os motivos que me levam a tal questionamento, tomemos como


exemplo mais uma afirmação do Prof. Gonçalo no email citado acima:

“O fato é que, repito mais uma vez, setores da igreja católica exigem universali-
dade absoluta da tese de que a vida é um valor que em todos e absolutamente todos os ca-
sos deve ser respeitado.”

Mesmo não acreditando que a Igreja Católica seja um bom exemplo de


instituições que defendam a ética, devo reconhecer que o Prof. Gonçalo está correto em
dizer que alguns setores da Igreja defendem a universalidade do valor da vida humana.
Dito desta forma, tal posição me parece louvável e até mesmo virtuosa. Entretanto,
devemos ser mais criteriosos ao avaliarmos as conseqüências das políticas dessa
instituição ao defender o que aqui chamamos de valor ético universal. Por exemplo, no
momento em que mais de trinta milhões de pessoas vivem com HIV/AIDS em todo o
planeta, os representantes da Igreja condenam veementemente o uso de preservativos
nas relações sexuais. Não creio, todavia, que seja um privilégio da Igreja a impunidade
ao defender “valores universais” através de políticas execráveis e criminosas como esta.
De fato, pouco importa se a ‘verdade’ que você defende está fundamentada na religião,
na metafísica, na natureza, ou no consenso histórico. O que realmente importa, são as
consequências de suas ações.

Ao refletir sobre o engajamento filosófico, além da dedicação e honestidade


intelectual, também considero como crucial a responsabilidade pelas idéias defendidas,
pois a defesa de idéias é uma ação, e como diria Aristóteles, toda ação tem uma
finalidade. Refiro-me a uma responsabilidade ética que, portanto, extrapola o campo da
subjetividade para se concretizar em ações no mundo em que se vive.

Se me permitem, eu gostaria de concluir com uma citação do trecho de uma


conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze – Os Intelectuais e o Poder, em
Microfísica do Poder. A meu ver, esta citação resume e integra os dois eixos das
considerações que fiz acima.

M.F.:
“O papel do intelectual não é mais o de se colocar "um pouco na frente ou um
pouco de lado" para dizer a muda verdade de todos; é antes o de lutar contra as formas de
poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do
saber, da "verdade", da "consciência", do discurso.

E por isso que a teoria não expressará, não traduzirá, não aplicará uma prática;
ela é uma prática. Mas local e regional, como você diz: não totalizadora. Luta contra o
poder, luta para fazê-lo aparecer e feri-lo onde ele é mais invisível e mais insidioso. Luta
não para uma "tomada de consciência" (há muito tempo que a consciência como saber
está adquirida pelas massas e que a consciência como sujeito está adquirida, está ocupada
pela burguesia), mas para a destruição progressiva e a tomada do poder ao lado de todos
aqueles que lutam por ela, e não na retaguarda, para esclarecê-los. Uma "teoria" é o
sistema regional desta luta.”
G.D.:
“Exatamente. Uma teoria é como uma caixa de ferramentas. Nada tem a ver com
o significante... É preciso que sirva, é preciso que funcione. E não para si mesma. Se não
há pessoas para utilizá-la, a começar pelo próprio teórico que deixa então de ser teórico, é
que ela não vale nada ou que o momento ainda não chegou.”

Um abraço a todos,

Caius Brandão

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