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A Espanha Mora ao Lado

Por CRISTINA FERREIRA


Jornal Público Domingo, 08 de Fevereiro de 2004

"Trocaríamos com alegria uma História gloriosa, por uma geografia mais conveniente."
A declaração partiu do ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Wlodzimierz
Cimoszewicz, quando se referia à vontade da Polónia em aderir à EU e da sua "luta" por
se manter independente ao longo de séculos. Em 1985, com a adesão à União Europeia,
Portugal mudou também a sua "geografia económica e politica", encontrando-se desde
aí, e pela primeira vez, junto com a Espanha na mesma aliança política e militar e no
mesmo espaço económico multilateral. Em vinte anos, o comércio com o seu vizinho
passou de quatro para 25 por cento do total e Espanha transformou-se no seu principal
parceiro e fornecedor. Este dado novo é a principal justificação para o debate sobre os
centros de decisão ou a suposta dependência em relação a Espanha.

O sinal dos tempos foi marcado pela integração europeia. Já nos anos 60, quando quase
dois terços do comércio externo de Portugal era com o Reino Unido, foram várias as
tentativas de Portugal para aderir à então CEE, investidas abertas e fechadas ao sabor da
tendência inglesa. E quando, no início dos anos 70, Londres se decide pela integração
europeia, Portugal conseguiu negociar um acordo comercial com Bruxelas. O país,
ainda colonial, fazia agora uma clara opção pela sua abertura ao exterior. Mas o
primeiro passo nesse sentido aconteceu antes, em 1958, ano em que a EFTA foi criada
com Portugal e a Inglaterra entre fundadores. Nessa altura, o nosso país antecipou-se a
Espanha. Vingaram as posições do ministro Correia de Oliveira e do embaixador Rui
Teixeira Guerra, o grande defensor da inserção de Portugal numa EFTA que constituiu
um factor importante de modernização da nossa indústria.

Quando, praticamente em simultâneo, a Espanha realizou um acordo comercial com a


CEE e com a EFTA, já se sabia que mais tarde ou mais cedo teríamos de abrir a
fronteira. A adesão em simultâneo à CEE, em 1986 aprofundou esta tendência: os dois
países estavam agora no mesmo espaço económico, político e militar (em 1982 a
Espanha tinha entrado na NATO). Porque não era mais possível defender uma fronteira
fechada, a "questão espanhola" passou a estar em cima da mesa desde então.

Nos primeiros anos pós-adesão, as exportações portuguesas para Espanha cresceram a


um ritmo superior ao das importações, reflectindo a maior experiência da indústria
portuguesa em mercados abertos. Mas rapidamente a Espanha recuperou, realizando
grandes transformações estruturais, sobretudo nas indústrias pesadas, que lhe
permitiram melhorar muito a sua competitividade.

Sendo o relacionamento entre os dois vizinhos negligenciável para o resto da Europa,


para Portugal é vital - e pode raiar a dimensão da soberania, como reflecte a recente
entrevista de José Manuel de Mello ao "Expresso". Observadores consideram que, no
dia em que o país aderiu à CEE, os decisores e os empresários deveriam ter perguntado:
"Que modelo devemos adoptar que assegure capacidade de antecipação e permita jogar
com alguma argúcia perante Estados mais fortes, como a Espanha?"

Ora é precisamente a ausência de um pensamento prospectivo claro quanto ao futuro do


país que agora nos causa feridas.

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