As Aristocracias
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por Allan Kardec
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torna tão poderosa e tão preponderante como a da cessar, novos recursos, de lutar contra uma
força, porque se não tinha esta por si, como nos concorrência invasora, de procurar novos mercados
primeiros tempos, em que cada um pagava com seu para os produtos, desenvolveu a sua inteligência, e
próprio corpo, possuía a força necessária. Dispondo ela se esclareceu pelas mesmas causas das quais se
de todo o poder, cercou-se, muito naturalmente, de serviu para sujeitá-la. Não se vê aí o dedo da
privilégios. Providência?
e trabalhar tanto mais quanto era oprimida, disso A classe submissa, portanto, viu claro; viu a pouca
resultou que a necessidade de encontrar, sem consistência do prestígio que se lhe opunha e,
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sentindo-se forte pelo número, aboliu os privilégios inteligência, diante da qual todos podem se inclinar
e proclamou a igualdade diante da lei. Esse princípio sem se aviltar, porque ela pertence ao pobre como
marcou, em certos povos, o fim do reino da ao rico. Será essa a última? Ela é a alta expressão
aristocracia de nascimento, que não é mais do que da Humanidade civilizada? Não.
nominal e honorífica, uma vez que ela não confere
mais direitos legais. A inteligência nem sempre é uma garantia de
moralidade, e o homem mais inteligente pode fazer
Então, se levantou um novo poder, o do dinheiro, um emprego muito mau de suas faculdades. Por outro
porque com dinheiro se dispõe de homens e de lado, a simples moralidade pode não ter capacidade.
coisas. Era um sol diante do qual se inclinava, como
outrora se inclinava diante de um brasão, e mais A união dessas duas faculdades, inteligência e
baixo ainda. O que não se concedia mais ao título, se moralidade, é, pois, necessária para criar uma
concedia à fortuna, e a fortuna teve os seus preponderância legitima, e à qual a massa se
privilégios iguais. submeterá cegamente, porque lhe inspirará toda a
confiança por suas luzes e por sua justiça.
Mas, então, percebeu-se que, se para fazer fortuna
é preciso uma dose de inteligência, não era preciso Será a última aristocracia, a que será a
tanto para herdá-la, e que os filhos são, conseqüência, ou antes, o sinal do advento do reino
freqüentemente, mais hábeis para comer do que do bem sobre a Terra. Chegará muito naturalmente
para ganhar, que os próprios meios de se enriquecer pela força das coisas; quando os homens dessa
nem sempre são irrepreensíveis; disso resultou que categoria forem bastante numerosos, para
o dinheiro perdeu, pouco a pouco, seu prestígio formarem uma maioria imponente, será a eles que a
moral, e que essa força tende a se substituir por um massa confiará os seus interesses.
outro poder, uma outra aristocracia mais justa: a da
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Os homens, por um instinto natural, procuram seu todas as classes da sociedade, encontrareis ainda
bem-estar; se não o encontram completo no reino da bastante boas e louváveis naturezas que vos não
inteligência, irão procurá-lo alhures; e onde poderão permitirão desesperar da Humanidade.
encontrá-lo se não for no reino da moralidade? Para
isso, é preciso que a moralidade domine E, depois, é preciso dizer também, entre os maus há
numericamente. Há muito a fazer, é incontestável, muitos que não o são senão por arrastamento, e que
mas, ainda uma vez, haveria tola presunção em dizer se tornariam bons se fossem submetidos a uma boa
que a Humanidade chegou ao seu apogeu, quando é influência. Admitamos que, sobre 100 indivíduos, há
vista a marchar, sem cessar, no caminho do 25 bons e 75 maus; sobre estes últimos, há deles 50
progresso. que o são por fraqueza, e que seriam bons se
tivessem bons exemplos sob os olhos, e se,
Dizemos primeiro que os bons, sobre a Terra, não sobretudo, tivessem tido uma boa direção desde a
são inteiramente tão raros quanto se crê; os maus infância; e que sobre os 25 francamente maus, nem
são numerosos, isto infelizmente é verdade; mas o todos são incorrigíveis.
que os faz parecer ainda mais numerosos, é que são
mais audazes, e sentem que essa audácia mesma No estado atual das coisas, os maus estão em
lhes é necessária para triunfarem; e, todavia, maioria e fazem a lei para os bons; suponhamos que
compreendem de tal modo a preponderância do bem uma circunstância leve à conversão dos 50 medianos,
que, não podendo praticá-lo, dele tomam a máscara. os bons estarão em maioria e farão a lei por seu
turno; sobre os 25 outros francamente maus, vários
Os bons, ao contrário, não exibem as suas boas sofrerão a influência, e não ficarão senão alguns
qualidades; não se colocam em evidência e eis incorrigíveis sem preponderância.
porque parecem tão pouco numerosos; mas sondai os
atos íntimos, realizados sem ostentação, e, em
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Tomemos um exemplo para comparação: Há povos Por que, pois, esses povos progredindo, os vícios ali
entre os quais o assassínio e o roubo são o estado não se tornariam a exceção, como o são hoje os
normal; o bem ali é exceção. Entre os povos mais crimes, ao passo que os povos inferiores alcançariam
avançados e os melhores governados da Europa, o novo nível? Negar a possibilidade dessa marcha
crime é exceção; perseguido pelas leis, e sem ascendente seria negar o progresso.
influência sobre a sociedade. O que ali ainda domina
são os vícios de caráter: o orgulho, o egoísmo, a Seguramente, tal estado de coisas não poderia ser a
cupidez e seu cortejo. obra de um dia, mas se há uma causa que deve
apressar-lhe o advento, sem nenhuma dúvida, é o
Espiritismo.
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Um dos pontos interessantes abordados por Allan Kardec é a E aí entra a influência sobre aqueles que têm uma tendência
necessidade de liderança. Será que precisamos mesmo de boa, porém são levianos, e se deixam levar facilmente pela
líderes? idéia de que se os outros podem levar vantagem, porque eles
não?
Muitos ainda precisam, como aqueles profissionais que só
cumprem suas tarefas quando são mandados, ou aqueles Enquanto essas pessoas não
motoristas que só seguem as regras de trânsito se há um buscarem se fortalecer
guarda por perto. Aqueles que são independentes são mais moralmente, continuaremos
conscientes de seus deveres e direitos e prescindem de tendo problemas sociais,
líderes, precisando ao invés disso, de mentores. causados mais por pura
estupidez do que pela
Temos um exemplo do papel essencial da moralidade nos malícia.
líderes, se levarmos em conta que a inteligência sozinha pode
fazer um Hitler, enquanto a moral junto à inteligência pode Por fim, Kardec diz que o
fazer um Gandhi. espiritismo é o agente por
excelência da solidariedade
Ambos foram homens falíveis, com imperfeições e humana mostrando as provas
qualidades, como todos nós, mas a força de vontade e a da vida atual como a
determinação que eles tiveram para atingir seus objetivos conseqüência lógica e raci-
mostram o quanto a humanidade pode fazer. O primeiro é o onal das ações realizadas nas
exemplo máximo do que o egoísmo pode conseguir, o outro existências anteriores.
um dos melhores exemplos do que o altruísmo pode alcançar. Mahatma Gandhi
Quando a noção de que,
Kardec menciona que o que faz os maus parecerem mais como disse Paulo de Tarso, a semeadura é livre, mas a
numerosos é a sua audácia, mas mais do que isso nos dias colheita é obrigatória (Gl 6:7) for melhor compreendida pela
de hoje, o mal parece atraente porque ele vende bem. maioria das pessoas, muitos males serão evitados.
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