Jesus respondeu aos fariseus com estas palavras consoladoras: Não são os
que gozam de boa saúde que necessitam de médico, mas os enfermos. Não
vim chamar à conversão os justos, mas os pecadores2.
Cristo é o remédio para os nossos males: todos andamos doentes e por isso
temos necessidade de Cristo. Ele “é Médico, e cura o nosso egoísmo se
deixarmos que a sua graça penetre até o fundo da alma” 10. Devemos procurá-
lo como o doente procura o médico, dizendo-lhe a verdade sobre o que
sentimos, com o desejo de nos curarmos. “Jesus advertiu-nos de que a pior
doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios.
Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que
lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Domine, si vis, potes me mundare
(Mt VIII, 2), Senhor, se quiseres – e Tu queres sempre –, podes curar-me. Tu
conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras
fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus.
Senhor, Tu que curaste tantas almas, faz com que, ao ter-te no meu peito ou
ao contemplar-te no Sacrário, te reconheça como Médico divino”11.
“Todas as tuas doenças serão curadas – diz Santo Agostinho –. «Mas são
muitas», dirás. Mais poderoso é o Médico. Para o Todo-Poderoso, não há
doença incurável; limita-te a deixar-te curar, coloca-te nas suas mãos”16.
Devemos aproximar-nos do Senhor como aquelas pessoas simples que o
rodeavam, como os cegos, os coxos e os paralíticos que o procuravam porque
desejavam ardentemente a sua cura. Só aquele que sabe e se sente
manchado experimenta a necessidade profunda de ficar limpo; só quem é
consciente das suas feridas e das suas chagas experimenta a urgência de ser
curado. Devemos sentir a profunda preocupação de curar todos os pontos que
o nosso exame de consciência nos mostre que devem ser curados.
No dia em que foi chamado, Mateus deixou a sua antiga vida para
recomeçar outra nova ao lado de Cristo. Hoje, podemos fazer nossa esta
oração de Santo Ambrósio: “Como ele, eu também quero deixar a minha antiga
vida e não seguir outro que não sejas Tu, Senhor, Tu que curas as minhas
feridas. Quem poderá separar-me do amor de Deus que se manifesta em Ti?...
Estou atado à fé, pregado nela; estou atado pelos santos vínculos do amor.
Todos os teus mandamentos serão como um cautério que terei sempre
aplicado ao meu corpo...; o remédio arde, mas afasta a infecção da chaga.
Corta, pois, Senhor Jesus, a podridão dos meus pecados. Enquanto me tens
unido a ti com os vínculos do amor, corta tudo o que está infectado. Apressa-te
a lancetar as minhas paixões escondidas, secretas e múltiplas; abre a ferida,
para que a doença não se propague por todo o corpo... Achei um médico que
mora no Céu, mas que distribui os seus remédios na terra. Só Ele pode curar
as minhas feridas, porque não as padece; só ele pode tirar do coração a pena,
e da alma o temor, porque conhece as coisas mais íntimas”17.
Não nos esqueçamos disto quando nos sentirmos esmagados pelo peso das
nossas fraquezas. Mas também não o esqueçamos se alguma vez, no nosso
apostolado pessoal, nos parecer que alguém tem uma doença da alma sem
aparente solução. Existe solução; sempre existe.
(1) Lc 5, 27-32; (2) Lc 5, 31-32; (3) Paulo VI, Enc. Ecclesiam suam, 6-VIII-1964; (4) Mc 10, 18;
(5) cfr. Jo 10, 28; (6) Santa Teresa, Exclamações, 8; (7) cfr. Is 61, 1 e segs.; Ez 34, 16 e segs.;
(8) cfr. Lc 19, 10; (9) Is 53, 4 e segs.; (10) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 93;
(11) ib.; (12) Mt 8, 3; (13) Lc 17, 14; (14) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et
paenitentia, 2-XII-1984, 31, II; (15) São Gregório Magno, Homilia sobre os Evangelhos, 4, 4;
(16) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 102; (17) Santo Ambrósio, Comentário ao
Evangelho segundo Lucas, 5, 27.