PATOLOGIA GERAL
INTRODUÇÃO
Didaticamente, a Patologia tem sua história dividida em fases. Estas nada mais
são do que a descrição dos conceitos utilizados para explicar a origem dos
estados de doença vigentes em um determinado intervalo de tempo e segundo
a corrente filosófica predominante.
Fase Pré-Humoral (Não Anatômico) [Idade Antiga até 400 AC]
O mecanismo da origem das doenças era explicado, nessa fase, pelo
desequilíbrio de humores. Os humores eram considerados os líquidos do
corpo, em particular, a água, o sangue e a linfa. Os deuses tinham o poder de
controlar esse desequilíbrio, bem como de restituir a normalidade do
organismo. Essa visão mítica de doença foi criada principalmente pela
civilização antiga grega. As moléstias eram consideradas como conseqüentes
do desagrado dos deuses ou pela fúria dos espíritos maléficos. Nesta época a
medicina era empírica, confundia-se com a religião, a feitiçaria, magia e a
superstição, sendo exercida principalmente pelos sacerdotes e pelos feiticeiros.
Este conceito teista ainda perdura entre os povos primitivos atuais. Para se
protegerem dos espíritos maléficos utilizavam-se de amuletos. No código de
Hamurabi (2000 AC) trata-se dos honorários médicos e inclusive a sua
responsabilidade. Para os gregos, o deus da medicina era Asclépio (Esculápio
para os romanos), filho de Apolo representado pela imagem de um homem de
barba, segurando um bordão erroscado por uma serpente.
Fase Humoral (Não Anatômico) [Hipócrates - 400 AC]
Esta fase caracteriza-se pela compreensão das moléstias como alterações que
provocam os humores. Os sintomas são relacionados com as lesões.
Hipócrates, filho de um médico nascido na ilha de Cós em 460 AC transformou
a medicina em uma ciência e arte. Hipócrates de Cós é considerado o pai da
medicina tendo em vista suas contribuições principalmente pelo juramento
médico. A medicina hipocrática era baseada nos humores: sangue
(sanguíneo), bile amarela (bilioso), bile negra (melancólico) e fleugma
(fleugmático). Saúde ocorria quando os quatro humores estavam em equilíbrio
(eucrasia) Doença era a discrasia. Em Roma, Cornélius Celsus estabeleceu as
bases da inflamação. Na Europa Medieval com o advento das cruzadas a
medicina retorna ao ocidente, tornando-se os monges, médicos que
dedicaram-se a copiar e fazer traduções de manuscritos antigos.
Período Anatômico
• Fase Orgânica (séc. XV - XVI)
Nessa época, há o predomínio da observação dos orgãos do corpo, feita
principalmente às custas das atividades de necrópsia ou de autópsia (estudo
do cadáver). Jean Fernel rompeu com os conceitos antigos e passou a
classificar as moléstias em gerais (aquelas de localização inderminada – febre)
e especiais (com localização definida). No renascimento Leonardo da Vinci
deixou inúmeros desenhos de anatomia. Andréas Vesalius de Bruxelas
publicou “De Humanis Corporis Fabrica” demonstra a verdadeira anatomia
humana relacionando a forma com a função. No século XVII, Willian Harvey e
Malpighi desvendam a circulação sanguínea. Morgagni em 1761 escreveu a
origem e a causa das doenças, gerando os principais fundamentos da
patologia.
• Fase Tecidual (séc. XVI-XVIII)
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HISTOTÉCNICA
A eosina é um corante (róseo), acido, que se liga às partes básicas das celulas
– citoplasma – (acidófilas). A hematoxilina (azulada), é um corante básico que
se liga às partes acidas da célula – núcleo – (basófilo).
CÉLULA NORMAL
vasos sanguíneos.
Esse mesmo epitélio deve impedir que moléculas absorvidas tão seletivamente
voltem para a luz intestinal pelos espaços intercelulares. A zônula de oclusão
tem aí, portanto, duas funções bem distintas: primeiro, impede que as proteínas
da superfície apical das células migrem para as superfícies basolaterais, o que
permite a manutenção das funções específicas de cada domínio. Segundo,
impede que pelo espaço intercelular, moléculas que já foram absorvidas
seletivamente voltem para a luz ou mesmo que moléculas solúveis em água
passem, sem seleção, da luz para o tecido conjuntivo subjacente.
Embora não esteja completamente clara a estrutura molecular dessa zônula de
oclusão, imagens de criofratura ao microscópio eletrônico mostram uma rede
de fitas que se "anastomosam" e que circundam completamente a superfície
apical de cada célula da bainha epitelial. Cortes ao microscópio eletrônico de
transmissão mostram uma série de conexões pontuais entre as hemicamadas
externas das membranas plasmáticas de duas células vizinhas. Pensa-se que
as fitas são compostas de proteínas transmembranas específicas em cada uma
das membranas que se avizinham, as quais se unem diretamente uma com
outra a fim de tornar ocluso o espaço intercelular. Embora todas as zônulas de
oclusão sejam impermeáveis a macromoléculas, elas possuem permeabilidade
variável a pequenas moléculas. Elas são, por exemplo, 10.000 vezes mais
permeáveis aos íons no epitélio do intestino delgado que naquele que reveste a
bexiga urinária. A capacidade de impedir a passagem de íons entre os espaços
intercelulares aumenta em função logarítmica com o aumento do número de
fitas na rede, já que cada fita atua com uma barreira independente. O Ca2+
extracelular é importante na manutenção da integridade dessa estrutura. Elas
já aparecem nos embriões na fase de duas células, o que demonstra serem
essenciais para o desenvolvimento.
3. Desmossomas (chamados também de macula adherens ou desmossoma
em botão) são pontos de contato intercelular que prendem as células de vários
tecidos, principalmente aqueles que estão sujeitos a fortes estresses mecâ-
nicos, como o músculo cardíaco, epitélio da pele, do colo do útero. Sua
estrutura é melhor observada ao microscópio eletrônico e seus constituintes
foram recentemente purificados e muitas de suas proteínas principais já estão
identificadas. Na região do desmossoma as membranas de cada célula vizinha
aparecem paralelas e separadas por um espaço de 30mm a 50mm. No lado
citoplasmático de cada célula adjacente existe uma placa elétron-densa
constituída de material protéico, cuja proteína principal é chamada de
desmoplaquina. Essas placas são conectadas aos respectivos citoplasmas, por
filamentos intermediários que formam uma verdadeira rede, ligando-se a vários
desmossomas. O tipo de filamento intermediário aí presente depende do tipo
celular: nas células epiteliais são de queratina, nas células musculares
cardíacas são filamentos de desmina, em muitas células de origem
mesenquimal são filamentos de vimentina. Nessa região ainda, oligoproteínas
transmembrânicas especiais, chamadas glicoproteínas de ligação, se prendem
à placa de desmoplaquina por um lado e reagem entre si através de seus
domínios extracelulares, mantendo assim juntas as membranas plasmáticas
adjacentes. Essas glicoproteínas de ligação pertencem à família das caderinas
e são as desmogleínas e desmocolinas.
A importância do papel dos desmossomas é verificada em uma forma de
doença de pele, o pênfigo, na qual o indivíduo produz anticorpos contra essas
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face trans aparece um retículo tubular distendido conhecido como rede trans
Golgi (cuja sigla,TGN, vem do inglês Trans Golgi Network).
Resumidamente, pode-se dizer que a principal função do Golgi é processar as
proteínas sintetizadas no RER, removendo e/ou adicionando diferentes
grupamentos às mesmas; empacotá-las em vesícula dando-Ihes o
direcionamento final. Os passos de processamento são organizados. Cada
cisterna é um compartimento distinto com seu próprio conjunto de enzimas; as
proteínas são modificadas na medida em que passam de um compartimento
para outro.
Brotando do RE, os elementos de transição trazem as proteínas para os
primeiros compartimentos do Golgi (face Cis). Em seguida, elas passam para o
compartimento mediano - constituído pelas cisternas centrais do Complexo -
para, finalmente, chegar ao compartimento trans. Desse, elas vão para o TGN,
onde são segregadas em diferentes vesículas e de onde seguem para seu
destino final: a membrana plasmática, os lisossomas ou as vesículas
secretórias.
O mecanismo de transferência de proteínas e lipídeos de uma cisterna para
outra ainda não está bem esclarecido, porém pensa-se que essa transferência
seja feita pelas vesículas cobertas que brotam das bordas das cisternas
mantendo o tráfego de uma cisterna para outra.
As glicoproteínas que irão fazer parte da membrana plasmática ou dos
lisossomas ou ainda de outras secreções exócrinas sofrem a primeira
glicosilação ainda na luz do RER, na forma de um oligossacarídeo, que vai
sendo "quebrado" à medida que a proteína avança pelo retículo em direção ao
Golgi. As modificações finais da molécula ocorrem no Golgi. Tais modificações
consistem de quebras das moléculas, adições de outros radicais de açúcar ou
de sulfato, etc., e que são efetivadas por enzimas estrategicamente loca-
lizadas, como proteases, galactosil transferases, e sulfotransferases,
respectivamente. A falha dessas enzimas pode resultar em um glicocálix alte-
rado, ou em lisossomas e outras secreções deficientes.
É amplamente conhecido que muitas enzimas são primeiramente sintetizadas
como precursores biologicamente inativos; a ativação acontece mais tarde e
em geral consiste na remoção de uma porção da cadeia polipeptídica. Essa
remoção pode ocorrer em diferentes locais, por exemplo: os grãos de
zimogêneo secretados pelo pâncreas são ativados extracelularmente, isto é,
após a liberação de secreção. Por outro lado, vários hormônios péptides são
produzidos como pró-hormônios que são, então, ativados intracelularmente por
"enzimas de conversão" (isto é, proteolíticas) provavelmente presentes no
Golgi. Exemplos de tais pró-proteínas são: pró-albuminas, pró-paratireóide
hormônio, pró-glucagon, pró-gastrina, e o caso melhor conhecido é o da pró-
insulina. A insulina, produzida pelas células beta das ilhotas pancreáticas,
contém duas cadeias ligadas por duas pontes de S-S: uma cadeia A, com 21
aminoácidos, e uma B com 30 aminoácidos.
Porém, o RNA mensageiro para sua produção contém informação para fazer
uma cadeia polipeptídica com 330 aminoácidos. A tradução desse RNA
mensageiro resulta na pré-pró-insulina, que contém, além dos segmentos
peptídicos correspondentes ao "sinal" e à cauda, comuns a todos os transcritos
para exportação, um segmento "C" que fica entre os segmentos A e B. A tra-
dução de mensageiro é feita no retículo endoplasmático rugoso; a cadeia
traduzida sofre a primeira quebra logo que é segregada no lúmen do retículo,
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RH2 + O2 ® R + H2O2
Esse tipo de reação oxidativa é importante nas células do fígado e rim, onde os
peroxissomas desintoxicam várias moléculas que entram na corrente
sanguínea. Quase a metade do álcool que uma pessoa ingere é oxidado a
acetoaldeído dessa forma. A catalase também converte a água oxigenada, que
é formada em várias reações químicas, em água e oxigênio conforme a reação:
2 H2O2 ® 2H2O2 + O2
O NÚCLEO
Em 1831, Brown descreveu uma estrutura constante no interior das células e
chamou-a de núcleo. De acordo com a presença ou ausência do núcleo,
promoveu-se a classificação das células em procariontes (sem núcleo definido)
e eucariontes (com núcleo definido, isto é, o material nuclear contido por uma
membrana, a carioteca).
Por volta de 1871, o médico suíço Friedrich Miescher analisou quimicamente o
conteúdo de núcleos isolados de células mortas em pus de curativos
hospitalares e encontrou uma substância que continha fósforo, denominando-a
nucleína. Após Fleming ter verificado que o núcleo era corado pelos corantes
básicos, o seu conteúdo foi denominado cromatina. Em 1888, Waldeyer usou a
palavra cromossomo para descrever as estruturas em forma de bastão que
apareciam no núcleo antes da sua divisão, enfatizando sua continuidade com a
cromatina do núcleo interfásico.
A função de tão importante estrutura, entretanto, só foi entendida em meados
do nosso século. Nem mesmo as descobertas de Mendel em 1885 e os
enunciados de seus "princípios" foram correlacionados com as de Miescher,
Fleming e Waldeyer.
Hoje, todos sabem que a função do núcleo é a de transmitir informações. Ele o
faz nos dois momentos do ciclo celular: a) na mitose, quando transmite para as
células-filhas toda a "bagagem" ou "material hereditário" que possuem na
cromatina, através dos cromossomos; b) na interfase, quando a cromatina
transcreve os diferentes tipos de RNAs, os quais, no citoplasma, irão con-
juntamente e por um intrincado processo produzir as diferentes proteínas
específicas daquela célula ou daquele organismo.
É importante que o patologista conheça as características de um núcleo
interfásico, pois estas irão ajudá-Io a entender os possíveis estados fisiológicos
das células.
Um núcleo interfásico apresenta duas estruturas fundamentais: carioteca e
cromatina. Uma terceira pode ser visível, dependendo do estado fisiológico da
célula: o nucléolo.
A forma do núcleo se adapta à pressão do ambiente, podendo ser esférico (se
em uma célula isodiamétrica, ocupando em geral o centro celular); cilíndrico (se
em uma célula prismática, ocupando em geral a porção basal de célula),
comprimido contra a membrana, como nas células gordurosas; irregulares,
multilobados como em alguns leucócitos. De forma regrada, aparece em
número de um por célula, havendo exceções, tais como no fígado, onde 5%
das células são binucleares, ou nos músculos estriados dos vertebrados, onde
as células são multinucleadas.
Ao microscópio óptico, como resultado de seu alto conteúdo de substâncias
ácidas (ácidos nucléicos), pode ser visto corado por corantes básicos; exibe a
reação de Feulgem positiva que identifica o DNA, um de seus principais
componentes. O DNA, o principal constituinte genético da célula, leva
informação de uma maneira codificada e não está livre, mas "complexado" com
proteínas básicas (histonas), formando a estrutura denominada cromatina.
Pouco ou nada podese ver de tal estrutura mediante a microscopia óptica, a
não ser que ela esteja mais ou menos condensada. Ao estado de mais
condensada deuse o nome de heterocromatina, e ao estado menos
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É por isso que dissemos anteriormente que o nucléolo é uma estrutura que
pode ou não ser observada no núcleo. Se este está frouxo em grande atividade
transcricional, certamente mostrará também um ou mais nucléolos. Se, entre-
tanto, estiver pouco ativo por razões fisiológicas ou patológicas, mostrará a
cromatina condensada, sem nucléolo ou outra estruturação; assim, tomará
muito corante, recebendo o nome de núcleo condensado.
"A doença é resultado da ação de uma agressão que leva a uma alteração
não compensada da homeostase e ou da morfostase."