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Folha de S.Paulo - Rubens Ricupero: Paz perpétua - 28/02/2010 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2802201004.

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São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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RUBES RICUPERO

Paz perpétua

Como se pode condenar golpe como


o de Honduras e legitimar regimes
onde presos políticos morrem em
greve de fome?

AMANHÃ COMPLETA o Brasil 140 anos de paz


ininterrupta com seus dez vizinhos, que já foram 11 no
passado. O 1º de março original marcava o fim da Guerra do
Paraguai nesse dia de 1870 (morte de Francisco Solano
López).
O fato é notável, sem precedentes nem paralelos.
Desconheço um grande país com tantos vizinhos com igual
tradição de paz. Basta olhar para a história da Rússia, da
China, da Índia, da Alemanha, da França, países de muita
vizinhança. Ou para os Estados Unidos, de poucos vizinhos,
mas em situação oposta à nossa: vivem em estado de guerra
permanente.
Uma das consequências de quase um século e meio de paz é
que se apagou no inconsciente coletivo a mais vaga
lembrança das ameaças externas. Isso explica por que se
mostra tão difícil convencer os brasileiros de que o país
necessita gastar fortunas em armamentos dispendiosos. Não é
à toa que dos quatro Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) ou
dos cinco "países-monstros" -aqueles que combinam
território continental com população gigantesca-, isto é, os
quatro Brics e os Estados Unidos, o Brasil é o único que não
é nem potência nuclear nem, a rigor, potência militar
convencional.
Não nascemos assim. Logo depois da Independência, tivemos
a guerra contra a Argentina devido à incorporação da
Cisplatina, o atual Uruguai. Após 1850, foram diversas as
intervenções brasileiras nos países platinos, culminando com
a "maldita" Guerra do Paraguai, que, no dizer do barão de
Cotegipe, atrasou-nos 50 anos. Como escapamos dessa sina?
Os diplomatas do passado seguiram caminho simples, no

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Folha de S.Paulo - Rubens Ricupero: Paz perpétua - 28/02/2010 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2802201004.htm

fundo com três metas:


1ª) em vez de perder tempo com diplomacia sem
objetividade, protagônica e mirabolante, resolveram por
negociações, de modo paciente e sistemático, como fez o
barão do Rio Branco, todas as questões de limites ou outras
pendentes;
2ª) defenderam os direitos e os interesses do Brasil com
firmeza e fé na única ideologia que se lhes pode atribuir, a da
confiança não na força ou no poder mas no Direito
internacional;
3ª) obedeceram de forma estrita ao princípio de não
ingerência em assuntos de terceiros.
Os que hoje pensam que esses princípios são obsoletos e
devem ser substituídos por diplomacia intervencionista e
ideológica enganam-se duplamente. Velha era a tendência de
meter-se na casa alheia, que nos valeu guerras, ódios e
ressentimentos dos que pretendíamos "redimir". Ao usar a
Embaixada do Brasil em Honduras como santuário de
"putsch" gorado contra autoridades locais, ao querer ditar à
Colômbia o que é melhor para sua segurança, voltamos à
perigosa política das ingerências.
Além de pôr em risco as bases de 140 anos de paz, a
seletividade ideológica compromete a coerência na defesa de
princípios. Como se pode condenar um golpe de opereta
como o de Honduras e oferecer legitimidade a regimes onde
presos políticos morrem em greve de fome ou que negam o
Holocausto e mandam enforcar opositores?
É por isso que amanhã, data também do bicentenário de
Chopin, ao ouvir os Noturnos que embalaram a agonia do
poeta, deveríamos meditar a lição de Rio Branco: "O Brasil
nada mais tem a fazer na vida interna das nações vizinhas
(...) o Brasil do futuro há de continuar a confiar acima de
tudo na força do Direito e (...) a conquistar a consideração e
o afeto de todos os povos vizinhos em cuja vida interna se
absterá de intervir".

RUBES RICUPERO , 72, diretor da Faculdade de Economia da Faap e


do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad
(Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e
ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Escreve quinzenalmente,
aos domingos, nesta coluna.

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