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Anotagdes ao Codigo de EDEN. Baer) E TU teeta 6) ceitos e Nogdes Basicas aborda, passo a passo, a Lei 8,078/90 (Codigo de Defesa do Consu- midor), publicada em 11 de selembro de 1990. Esse Codigo AUiol ous leew asele(o 1-H ON ES ileleel satel seo Mu alolo nae oh eaoa Reif fol a eae =n lan (-MecL-1N(oehsgaa Poserei cols racrmte 9 Clunte es aati cn PELE CLON OCMC Oca telacao de consumo, asnormas de Elolo( al eel Meee nee R yo okt qualidade do produto e do servico, ANOTACOES AO CODIGO DE a responsabilidade civil do ‘ fornecedor, as delimita S DEFESA DO CONSUMIDOR praticas comerciais ¢ 0. combate as Tie leIi StI AO OLN Oc Cac propaganda enganosa e tambem abusiva, os limites de cobrangas de dividas e os limites dos cadastros ditos de protecao ao credito, 2 responsabilidade penal Uiietacei einelea (serena sen faveneenecueriae Toric) OfeNeole i nisleye tie nl ok) Ooo RU nC ei Beet tituigaa Federal, no seu art..5°, Dao Alea Niet oecielil (eM eel sce Br) premissa de que qualquer norma Unies eolg sn Melogtel (Memon cite aes direitos consagrades pelo Cédigo dé Defesa do Consumidor estara ferindo a propria Constituicao ¢, eee ecialel vam Clears edie etel DEA (P\e\TECHNICAL BOOKS LIVRARIA LTDA. Tels: (21) 2024-3177 / 254.9027 Telefax (21) 2252-9000 Ruz: Goncalves =P and, -S. 205 - Cento» Rio ‘emai tachbooks @alilobal net - ww lecricalbooks come PLINIO LACERDA MARTINS Mestre em Direito; Promotor de Justiga; Professor de Direito do Consumidor da UGF e FGV; Professor Convidado da EMERJ. ANOTACOES AO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CONCEITOS E NOGOES BASICAS 2° edicfo atualizada com o Cédigo Civil de 2002 Com complemento legislativo: + Lei 8.078/90 (Cédigo do Consumidor) * Decreto 2.181/97 ° Lei 9.656/98 (Lei do Plano de Saiide) * Lei 9.791/99 (Datas Opcionais para o Vencimento de Débitos) © Lei 9.870/99 (Lei das Mensalidades Escolares) + Portarias 4/98, 3/99, 3/01 ¢ 5/02 de SDE (Clausulas Abusivas) + Lei 10.406/02 (Cédigo Civil) Rio de Janeiro 2004 1 edigto 2003 2 edigSo— 2004 ©Copyright Pion Lacerda Martins (CIP Brasil Catalogagdo-no-fonte Sindieato Nacional dos Editores de Livios, RI M3458 Maxtins, Pinio Lacerda, 1959 AAnotagées uo Céalgo de Defess do Consumidr: (Lei 8.078090} concsitns e noses hiscas/ Plinio Lacerda Martins. ~ Rio de Juncir Porense, 2004. ‘Anexot Treluibibiogat. ISBN §5.308.2072-4 |. Brasil, [Céiga de Defess do Comsuimidor (1990). 2. Defesa do consumidoe Titulo, on-ts24, (DU 34381.976(81), (0 titular cuja obra sjafraudulentamence reproduzida, divulyada ov de qualquer forma utlizada poderd requeres a apeensio dos exemplaresreproduzidos a suspes- sio da divulgagto, sem prejuzo da indenieagdo cabvel (art, 102 da Let n° 9.610, de 19.02.1998) ‘Quem vonlr,expuser 8 venda, ocular, adguiric, distibuir, iver em deprsito ou utlizar obra ov fonegrama reproduzidos com aude, coma fnalidade de vender, ober ‘ganho, vantagem, proveit,luer dreto ou indiret, paras ou para outrem, sera solide Fiamenteresponsivel com o conizafor, nos termos dos artigos precedente, responien- {do como contrafatres 0 importador eo distibuidor em caso de epredugi0 no exterior {art 104 da Lei 9.61098). [AEDITORA FORENSE se responshiliza pos viclos do produto no que concerne 8 sun edigio, af compreendidas a impressdae « presentago, a fim de possibiltar ao ‘consumidor bem manuseé-lo e Ie-o, Os vieios relacionados 3 aualizaga da obra, aes ‘onetitos doutrindrios, as concepedesideolépiea erefertnciasindevidas sto de espon- slidae do autor efowstualizaor. ‘As reclamages devem ser fits até noventa dics partir da compra venda com ota fiscal interprecagdo do art. 26 da Lei n* 8.078, de 11.09.1990). Reservados os direitos de propricdae desta edigio pela (COMPANHIA EDITORA FORENS! [Enderego na Internet, hip//wwwforense.com br — nail: forense@ forense.com be ‘A, Erasmo Brags, 299 1°, 5° e 7" anwdares ~20020-000— Rio de Janeiro — RI ‘Tels (OXX2L) 2533:5537 ~ Fa: (OXX21) 2538-4752 Tmpresso no Brasil Printed in Brac SUMARIO Obras do Autor Preficio.. ‘Malo I Inodugfo a0 Esco do Direto do Consumidor Capitulo I~ As normasjuridicas do Cédigo de Defess do Consumider. Capitulo It— Princpias do dieto eonsumesista Capitulo I~ iretosbisicos do consurmidor ‘Ttlo It - Da Retagio de Consumo ‘Capitulo Do coneeita de relagao juridica de consume Capitulo Il Do conceito de formeceder nn Capitulo II Do conceito de consumidor Caputo 1¥— Do consid onsumior or equa. ‘Capitulo V — urisprudénta annenensn ‘Titulo Ill —Do Acidente de Consume. ‘Capitulo TO conesto de prsduarservigo deeinoso Capitulo I O-consumidor eomo vtime narelagio de consumo Capitulo I1T-O acidente de consumo . Capitulo TV — Surisprudéncia = ‘Titulo IV ~Os Vicios de Qualdade do Produtc/Servigo Capitulo Disine neeiie vio equine ore Capitulo It Vio de qualidude do produto. Capitulo It — Vico de qualidade do servigo Capitulo LY ~ Vici de quanidade. Capito V — Jucispeudéncia ‘Tialo V -Da Responsabilidade Civil do Fomecedor Capitulo 1 -Responsabilidae csi objetvaesubje Capitulo Il Responsabildade aquliana.e contrat oso. ade pe fat do produteservigo ade pelo vio do produtfservigo Capitulo V ~ Responsabilidade dos profisionas lierais Capitulo VI Cousas de exclusio da responsabilidad civil xo CDC Capitulo 1 ~ Responsabil Capitulo 1V ~ Responsabi Capitulo VII ~ Jurisprudéncia ado frnesedor ‘Titulo VI -Das Pritieas Comercnise Causulas Abusivas Capitulo I -0 consumidor eu prévien abusiva vw Anotagdes ao Codigo de Defess do Consumidor Capitulo It - oferta do produtoservg0 cs 10 CCapstulo TA ofena 20 orgamento riVi0 vn snnnenenmnn 1 Capitulo IV — Das pestis abusivas.. . no Capitulo V ~ Das eliusulas abi8iV35 cen nn nine us ‘Capitulo VI —Sursprudéact = ace ‘Titulo VII~Da Propaganda Abusivac Enganosa = 9 Canto ~Conesto d opin abusive egion 129 OBRAS DO AUTOR ‘Capiilo I~ Da coneapropaganda 133 Capitulo Tt ~Jucisprudéacta = 135 Titulo VIN] -Os Prazos no CDC 137 Livros ‘Capitulo T- Prazo de relamago para 0 produtoservigo com viio 137 0 Ministério Piblicae © Cédigo de Defesa do Consumidor em Casos Concreos, Ed. Capitulo 1 —Prazo de eclamagio para 0 produtlservigo com defeto M4 een Jak 190e. Capitulo IO Prazo de gararta legal econtratual do produtoiservgo 143, : Capitulo TV —Jursprudenciz oie as Cétigo de Defesa do Consumidor em Referéncias Leeistativas, 6 ed. Bd. DPA, ‘Tiulo 1X ~ A Cobeanga de Dividase o Cadasto de Consumidores st ao Capitulo! ~Constrangimento do consumidor pela ebranga Ist Inirodigdo ao Bstudo do Cédigo de Defesado Consumidar —conceitas e nage basics, Capitulo 1 —Constrangimento com informagdes cadastas ty a, Universidade Gama Filho, 1999 Capitulo IT Sursprudéncia 155 0 Abuso nas Relogdes de Consumo e o Principio da Boa- Fé, Ed, Forense, 2002 ‘Titulo X ~ Das Infragbes Pena... o 137 ‘Capitulo 1—Da esponsnbildade pena nas relagdes de consumo wcsun- 157 Capftlo I~ Tipos penais no CDC... = 160 ARTIGOS Capitulo T— Surispred2 cia ono. 169 : caso fortuit a orga maior como causas de excluso da responsabilidade no cio ‘Tito XL = Da Dafesn do Consens im Fan eremmeme—noennrnrmn | 17 lo consumidoe", Revisie dos Tribunals, Bé. KF ~abriv93, vol 16, 1994 Capitulo | ~Tutelajurisicional de consumo ~ m1 Capitulo I~ Legitimados para ago coletiva = 174 "Crime Milzar— Commpeténcia da Justiga Militar Federal e Estadual", Revissa Juridica Capitulo I Agoes coletivas a ee JUS, Revista do Ministéria Pabico Mineiro, vol. 15, 1993, ‘Capitulo IV — urispradéncia : 182 "A validade do produto nas embalagens pisticas do lete Datado, Revisia do Consuai A ~ a : 185 dor EA. RT, vo. 9. Bibliogrtia. mm "Condicionar abertura de conta comente_a aqusigdo de seguro ~ Crime ~ C6digo de ice Siststico e os 281 Defesa do Consumidor”, Caden Cientfico do Mestrado e Dontorado em Ditto da Universidade Gansa Fito, 997, ¢ Informativo ADCOAS, outubro, 1998, Revista do Ministerio Piblico do Estado de Sdo Peulo/99-APMP. "“OrpamentoPrévio ~Obrignoriedade ~ Céigo do Consumior,jomal local ~ Tribune ¢Didrio Regional "Perda das Prestapbes Pagas-Cldusula Abusiva ~Cidigo de Consumider”,jomal local ~ Tribune e Didrio Regicnal "Espanta eo direito do consumidor na Unio Europea: controle das elausilas abusivas ha contratago pivada”, Caderno Cienfico do Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Gama Fiho, vol 6, n° 1, agosto, 1998, Bre tet ect Re tage epee ran ar rota eae ae van ‘Anoiagdes 20 Cio de Defesa do Consumidor “A inversio do Onus da provana ago civil piblicaproposta pelo Minstéie Pico em efesa do consumido:", Revista de Diretto do Consumidor, vo, 31, Ed, RT, 1999, © Revistade Informagio Legistaiva 1143, 1998. “Comte de Energia Eletrica ~ Pritica sbusiva ~ Cédigo de Defesa do Consumidar”, Revista ce Iformagdo Legistativado Senado Federal n° \43,janeirofmargo 2000. for. ‘mative ADCOAS, Doutrina 9, setembro, 2000, Revista dos Tribunats, 0 89, agosto, 2000, vo. 778, pp. 100V112. “Hlonoririos Advocafcios Extrajudiciais~Cléusula Abusiva ~ Céigo do Consumidor”, ‘Douirina ADCOAS, Doutrna n° 12, dezembeo, 200, 0 I 0 Conceito de Consumidor no Diceito Comparado”, Jornal do Commercio, Calera B ‘Apontamentas), Rio de Janeiro, 09.01.2001, "A abusividade no servi educacionale oii do Consumidor, Revina de Enucag to ‘do COGEUME, ano 10, n° 18, junhof2001 “Ponta giatia banca ~constrangimento~ pti abusiva", Jornal do Commerc, (Caderno B-10 (Direito & Justiga), Rio de Janeiro, 19.10.2001 ‘Vici de informaso nos boletos de cobranga bancérios", Jomal do Commerco, Cader ‘no B-4(Suas Cons), Riode Fence, 23.10.2001 PREFACIO Mosta-se evident, dese logo, a ineacedivel qualidade que vai notbiiza eta ‘by aq se ensina como funeionam as normas de defesa do consumidor ‘Como na lingusgem biblia, 0 autor ndo doa simplesmeate 6 peixe, pois enst- ‘nnn pesear [No sto simples anotagdes sobre as disposigbes do Cigo de Defesa do Consum- Aor, posto que no bastam palvras, ainda que eseitas a letra de ouro na Constisigao € Aisles, para alterararealicade juriica, econdmic, socal cultural afm de wansformar fmando.que se mostea to evel pars os mals Facose, eralmente, io permissive para ‘os mais foes ‘0 Cédigo de Defesa do Consumidor muito mais do que o mero conjunto de Alspositivos lepais, pois €regulagSe das conduras para atender Bs promessas que a Gonsttuigdo faz no art. *, XXXII (o Estado promovers, na forma da lei, a def {dp consumidor),e no art. 170 (a defesa do consumidor como prinefpio geral da iiividade econdmica). (0 longo, compleno belo e tanias veres incensado texto do CDC é a fonte mais Poderosa ~ mas nfo exclusiva! para. eumprimento da promessa consttueional, pois Ul 6 que se exteaem as normas, as eegras do conduta que regulam as atvidedes de onsuimidores, fornecedores de servigos,venedoreseproutores de mercaorias, ps featise a6 mesmo os organismos no governamenais votados a ta, ‘© toma ¢ universal pls final, somos todos nds consumidores dos bens «seri {908 que vio suprirnossasnecessidades ‘Amiverslidade do CDC ex8 muito além de suas disposigbes,somente pode ser proendida peas normas que dele devemas extra para regula as sities coneretas € Individusis, © exsas normas somente se justfiam e se legtimam se Considerados os lores ov funcameatos cos que os inspira, "Nao basta, portato, e dispositive legal, ois ee se mostra insuicinte para prever fod as mulirias ages aque e Langa a pessoa na busca de sua elcidade. Nao se pense também que o Csdigo de Defesa do Consumidar eso, em Sous artigos, parigafos © Inlsos, as solugdes paras conflits desta sociedade consumistae globalzada do inicio lo séclo XX, Tampouco Fique restto 0 imésprete 20 sentido literal dos dispostives {Wo COC, pois deve procurar as norms, fundadas nos valores que indieam as soluges. Por essas raz0es em espacial, a presente obra ~ pequena no némero de pigins, ns transbocdance na densidade do conto ~ inoduz 0 esto do Direto de Consu- Inidorpelas norms jridicas, pelos prneipins do deta consumerist e pelos principios Iyisicos do consumidar. x Anotagdes 20 Cédigo de Defesa da Consumidor Depois disserta sobre o conteido da relagSo de consumo, que define como se estabeleceo vinculo jridico por meio do qual uma pessoa fsica ou juriica denomi nada consumidor adquire ou utiliza produto ou servigo de uina outra pessoa den minada fornecedot. ‘A seguiravanga sobre tema do acdente de consume 08 veios de qualidade do produto edo servigo para chegar responsabilidad civil do fornecador, inchsivepelas priicas comerciaiseelsulasexorbitantse pla propaganéa abusivac engenoss, Passa sore otormentoso tema dos prazos n0 Cdigo de Defesa do. Corsumidor. ‘Ncobranga dedividas eo castro de consumidor. para fechar como tratamento do ema ra tea penal ena dreacivel, Enlim, Anotapdes ao Céigo de Defesa do Consunidar 6 obra sobre o diploma ‘egal consumerista que trata do tems pela pesspectiva funcional, o atuar da norma e das pessoas que se envolvem em stuagebésica para a vida nestes tempos, Ea obra esté muito bem conduzida pelo autor. que dedicou ao tema o labor Permanente, a acuidade intelectual, 0 rigor cientfin a independénia profissions. Pino Lacerda Martin é, hi longos anos, o titular da Curadoria da Defesa do ‘Consumidor de Juiz de Fora, fungo que Ie permite buscar diutumamentesolugdes para 4 protegao dos direitos individuals soca indisponives, como incumse ao membro do Ministéro Pablic, £, também, experientee destacado professor da Curso de Pos-graduagio da Universidade Gama Fitho e do MBA de Direito Erapresarial da Funcasio Getic Vargas, ostentando os titulos académicos de especialista em Direito Privado pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Direito pela Universidade Gama Filho.com a tese O abuso nas relacdes de consumo € 0 prinetpio da boa-fe aim de autor de virios artigos e livtos. Nagib Slab Filho Desemargaor do Tribunal de Tustiea do Rie de Fauci: Professor da EMER, Titulol INTRODUCAO AO ESTUDODO DIREITODO CONSUMIDOR Capftulo 1 ASNORMAS JURIDICAS DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, As, Introducio No magistério de Orlando Gomes, a norma jurfdica é uma regra de onduta, destinando-se, pois, 20s sujeitos de direito.' ‘As normas do Cédigo de Defesa do Consumidor so normas de lordem publica c interesse social (art. 1), sendo certo que 0 “nic dove apreciar ex aficio qualquer questo relatva is elagbes de consu- vento ieide nesta matéi o principio do dspositivo, sobre elas 0 ‘opera a precusio, ¢ as questBes que nelas surgem povtem ser decididas © revistas a qualquer tempo e grau do jorisdigo, O Tribunal pode até decidir contra Unico reorrente refocmando adecisio reerrida pars po, ocomen do assim 0 que danominamos de reformation pejus, que se trata de ‘matéria de ordem pblicaacujo respite no exige inieiativa da parte, ‘as, ao contri, determina queo juz aexamine de oficio™ No mesmo sentido, 0 direito do consumidor esti elencado entre os direitos fundamentais da Constiui | Orlando Gomes, intrdugtio ao Direzo Chil, LO ed, Rio de Janeiro, Forense, 1998, p. 8 2 Nelson Nery, Revista de Direitodo Consuidor, Sio Paulo, RT, vol. 3, pp. 51-52. 2 Anotagbes a0 Cédigo de Dofesa do Consumidor ‘osé Geraldo Brito Filomeno esclarece, a respeito do art. Ido CDC, que sua promulgagao se deve a“mandamento constitucional expresso. AS- sim, a comegar pelo inciso XXXII do art. 5° da mesma Consttuigao, impoe- se a0 Estado promover, na forma da le, a defesa do consumidor”? © 40° Congreso Brasileiro de Defesa do Consumidor, realizado em Gramado, concluiu que o diteito de protegio a0 consumidor é cldu- sula pétrea da Constituicao Federad (art. 5*, XXXII, CF/B8)* ‘Conforme demonstrado, o CDC erigiu do comando constitucional, ‘estabelecendo expressamente no art. 1° do CDC a despeito da norma cconstitucional Nesse sentido é correta a premissa de que qualquer norma infraconstitucional que ofender os direitos consagrados pelo CDC esta- ri ferindo a Constituigo ¢ mutatis mutandis deverd ser declarada como inconstitucional. Nesta diregao estabelece Arruda Alvim ‘A garam constitucional desta magnitude possui no minim, com efeto Jmedioo © emergene, irradiado da sua condigo de principio geal daativi- dace econbmica do Pas, conformeerigido em nossa Carta Magna, 0 con- do deinguinar de nconstiueionalidade qualquer norma que possa cosisic temic dees dest igure ferme dares de consumo, ue O art. IP do CDC € bem claro ao dispor que 0 presente Cédigo estubelece normas de protecao e defesa do consumidor, de ordem paibli- cae interesse social, nos termos dos ars. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituigdo Federal, e 48 de suas Disposigdes Transitérias, atenden- do, assim, a politica nacional de relagdo de consumo, que tem por objeti- 3 José Geraldo Brito Filomeno et ol. Ciiigo Brasileiro de Defesa do Consumidor ‘comentalo pelos autores do anteproeto, $e, SioPoul, Saraiva, 1997, p21 4 4°Congresso Brasileiro de Dirsto do Consumidor realizado entre 80 1 de mirgode 1988 sb otilo: A Sociedade de Seriga « Protea do Consunicor no Mercado Globa! ~ Gramado (RS), pine 1, Meeost, Prvatizagio, Concorrécia e Servigos Pbiis ~ Tema Mereosu! e Concerséncia item 8, aprovedo por unanimidade, ‘A Constigio Federal assoguean0 at. 58, XXXII, que © "Estado promovers na forma da lei a defesa do eonsumidor”,assegurando ainda no at 60, $4, 1V, 05, divitose garantiasindviduais como clausula pices 5 Cistigo do Consunidor Comentado. Arruda Alvin et ol. 2 ed, Séo Paulo, RT, 1995, p. 15. {wird a0 Estudo do Direito do Consumidor 3 Yoo atendimento das necessidades dos consumidores,o respeito & sua Aignidade, sade e seguranga, a protegdo de seus interesses econdmi- 9s, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparéneia © Jmurmonia das relagdes de consumo (art 4, caput). Restou consignar que os direitos previstos neste Codigo no exchi- fm ovtros decorrentes de tratados ou convengGes internacionais de que {Brasil seja signatiio, da legislagio interna ordindria, de regulamentos f¢xpedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos {luc derive dos prinespios gerais do direito, analogia, costumes e eqii- ddde (art. 7° do CDC). ‘Ao proceder andlise do art. 7” do CDC, verificamos que o fim Ieleoldgico da lei do consumidor objetiva aplicagio harménica do fdenamento consumerista com os demais ramos do direto. Por exem- flo: 0 contrato de incorporaglo imobiliria éregido por lei propria que é UtLei n?4.591/64, mas sobre ele também incide o Cédigo de Defesa do Gonsumidor, considerando que o art. 12 do CDC faz referéncia expres- 4-30 construtor como sendo fornecedor, a ponto de considerar como ula de pleno direito a cléusula que estabeleve a perda total das pres {gbes no contrato de compra e venda de im6veis (denominada cléusula {e decaimento conforme disposto no art. 53 do CDC) Nesse sentido o Min, Ruy Rosado jé consagrava 0 entendimento ‘no aresto proferido no ST}: “INCORPORAGAO IMOBILIARIA ~ CONTRATO - CLAU- SULA ABUSIVA. ‘© contrato de incorporago, no que tem de espectfico, éregido pela Jei que the & propria (Lei n?4,591/1964), mas sobre ele também incide 0 ‘@éigo de Defesa do Consumidor, que introduziu no sistema civil princi- plos gerais que realgam a justiga contratual, a equivaléneia das presta- {es co princpio da boa-fé objetiva (4* Turma ~ REsp,n 80.036)” Bustertam assim os consumeristas, que embora 0 CDC niio discipline Gjualquer contrato de consumo, limitando as vezes asomente fazer alusio (como por exemplo na hipstese do art, 3 que menciona o contrato de Blienagio fiduciéria em garantia), apica-se a todos os tipos de contratos fiivolvendo uma relagso de consumo, O insigne Prof. Sergio Cavalieri Filho, com maestria vem sustentando que o CDC criou uma sobreestrutura juridica mutidisciplinar, significando afirmar que o CDC 6 uma norma jutfdica de sobredircito ‘plicdvel em todos 0s ramos do Diveito, quer scia piblico ou privudo, 4 ‘Anotagdes 10 Cdigo de Defesa do Consumidor material ou instrumental. Desta forma, sustenta Cavalieri, 0s insttutos ¢ contratos continuam regidos pelas normas e prineipios que lhes sio préprios, mas sempre que gerarem relagSes de consumo ficam também sujeitosdisciplina do Cédigo do Consumidor. 1.2. 0 CDC como sistema juridico Cumpre registrar « priori que a relago de consumo é prevista no CDC como norma juridica especial, que trata dos mecanismos de equilt- brio no mereado de consumo, ‘A bem da verdade, o CDC no é uma simples norma juridica e sim um sistema juridico, contendo varias normas de direito material civil e penal, além de direito instrumental Nomagistério de Maria Helena Diniz, “o sistema jutidico 60 result ddo de uma atividade instauradora que congrega os elementos do direito’ estabelecendo as relagdes entre eles, proetando-se numa dimensdo signi- ficativa. “O sistema juridico nao €, portanto, uma construgio arbitriria."® No dizer de Nelson Nery, a tendéncia hoje ¢ pela elaboragio de ‘microssistemas que atendam determinada situagio juridica, tais como: 0 Dec.-Lei 58/37 (que regula a venda de lotes de terreno a prestagiio), 0 Dec.7.661/45 (que regula as faléncias), a Lei 6.766/79 (que regula o parcelamento do solo urbano), a Lei 6.015/73 (Registros Piblicos), a Lei 8.245/91 (que regula as locagdes), que encerram em si mesmos microssistemas, afastando, assim, a incidéncia das normas gerais do Cédigo Civil, do Codigo Comercial e de outros sistemas, sendo a discus- Sioa respeito da conveniéncia ou niio das codificagbes, a exemplo do que ocorreu com as grandes codificagées, com a edigio dos céidigos civis da Franga e da Alemanha.? Luiz Antonio Rizzato Nunes leciona que o CDC é um “subsistema Juridico proprio, li geral com prinefpios especias voltada para a regulagio de todas as relagées de consumo”, afirmando ainda que, na realidade, tem-se de acatar a Lei 8.078/90 como um Cédigo, no s6 porque a Constituigo denomina (ADCT, art. 48), bem como 0 CDC (art.1°) 6 Maria Helena Diz. Contos de Normas, 2 ed, Sio Paulo, Saraiva, 1996, p.9. 7 Nelson Nery op. cit, p. 47. 8 Laz Antonio Rizzato Nunes, Comentérios ao Cédigo de Defesa do Consemior, ‘0 Paulo, Saraiva, 2000, p. 75. Capftulo PRINCIPIOS DO DIREITO CONSUMERISTA 4. O principio e a norma no CDC Ecedigo que as normas juridicasdividem-se em prinipios e pre- ltos. No fundo, tanto as normas encerram prinefpios quanto contém ito. I oh 5 ing princes, primed ecceen x Wa do {ego, origem, base. Em linguagem leiga ¢, de fato, o ponto ce partida ¢ (fundamento (causa) de um processo qualquer. c Podemos dizer que principios sao proposigdes diretoras de uma ci- (cia, as quais todo o desenvolvimento posterior desta cincia deve es- {ursubordinado. Rui Barbosa mencionava que os “principio io inviolivelseimonais, porque ifm como asiloa consciéncia, ‘cenquantocles se ajuntam goa gota, no esprio dos homens paratansfor mar-se na vaga enorme das revolugies, no ha lei que 08 reprima, nem inquisigfo que os akanee. moras, porque encerram ems}, contra a aio corrsiva dos preconceitos humanos,o eariter, a substinciae a energa de uma le invardvel, absolutae universal 1 Rui Barbosa, Exertose Diseursor Seletos, Ie, Rio de Janeito, Ea. José Aguiar, 1960, p. 1.081 2 ee ui afirmava que: “Costumava-se dizer que os prineipis so tudo. No seramos is quem contestasse esta verdade sensatamente entendida Cultor mais devoto ‘eles do que nde, fo queremos que haja. Maso primi de todos os prinefios 6 ‘od elatividadepritica na splcagio dees 8 vavabilidad infnita das cireunstncias ddminamtes. Op. ct, p. 1.081 ee eee 6 ‘Anotagies 80 Cio de Defesn do Consider Alberto do Amaral assevera que no dirmbito da Teoria Geral do Di reito procura-se distinguir entre regrase prinefpios jurdicos. “Principios estabelecem verdadeiros programas de agdo para o le sislador e 0 intérprete; jd as regras silo prescrigdes especificas que esta- belecem pressupostos € conseqiiéncias determinadas. A regra é elaborada para um determinado miimero de atos ou fatos; jo prinetpio é mais geral que a regra, comportando uma série de indeterminadas apli cagies.”? Prinefpio € algo que nio pode ser afastado, como no caso da re za, que é afastada por outra. Principio cede em face de outro. Prink pio € uma idéia que se projeta em varias regras, como, por exemplo, 0 principio da dignidade humana. Para Celso Antinio Bandeira, o principio exprime a noo de “mandamento nuclear de um sistema, verdadito scores dele, disposigho fundamental ques radia sobre diferemes normas compondo-Ihes esp: sito sevindo de criti para sua exaiacompreenst e intligéncia,exal iment por definira gies ea racionlidde do tema normative, 0 que The contere a tBnica e the dé sentido harméni Destacamos que os principios da liberdade de contratar ¢ aautonomia da vontade serviram de marco para os contratos individuais regulados pelos eédigos do Séeulo XIX. Observa-se que, na atvalidade, os princfpios que se destacam no silo mais os prinefpios envolvendo o pacta sunt servanda e sim os principios envolvendo 0 ditvto de revisio contratual, em face da leso ‘casionada aos consumidores, em decorréncia de abusos nas relagées de consumo. Nesse sentido, © CDC permite a modificagto das elfusulas contratuais que estabelecam prestagoes desproporcionais ou sua revisio tem raziio de fatos supervenientes que as (ornem excessivamente onerosas (att. 6, V, do CDC) 2 Apue Alberto do Amaral. Revisto de Diveito do Conswmidor, So Paulo, RT, vol 6, p. 27 em, Revista de Direto do Consunldor, vol. 3, 9.51. 3. Celso Antonia Bandeirade Melo, Elements de Direita Adminisresivo, Sto Paul, Ei RT, 1980, p. 230, Bow camo Dictate Commitee Princfpos gerais nas relagdes de consumo Os principios gerais nas relagdes de consumo estiio enumerados fos arts. 1° a0 7° do CDC: : “Tudo © mais que const da lei 6, por assim dizer, uma projesao desses rincipios eras isto , uma espe de pormemorizagio daguelesprineipios ‘de modo a faze ls efetivos eoperacond-os, Estas nomas nt st deregra, programiticas, desprovidas de efioscin, mas coneretas cujneticia vem des ‘rita em todo 0 compo do Cédig."* © CDC elenca varios prineipios para 0 equilfbrio e a harmonia na flagio de consumo, tais como: da vulnerabitidade, da transparéncia, da Hhow-fé, da eqiiidade © da isonomia, ‘firma Nelson Nery que 0 direito de defesa do consumidor é"ramo ovo do dieito,” sendo necesséria a contribuigao da comunidade jaridi- ‘vinternacional para o seu aprimoramento. A respeito da Principiologia do CDC, Nelson Nery‘ afirma que os [finefpios podem ser informativos, pois prescidem de mais indagagdes & ilo precisam ser demonstrados. Fundam-se em critérios estritamente {Wenicos e logicos, nao possuindo praticamente nenhum conteido ideol6- {pico ou fundamental, sendo que a estes dizem respeito € dos quais 0 Aistema jurédico pode fazer opgdes, levando em consideragio aspectos politicos ¢ ideol6gicos; por esta azo admitem que a estes se contrapo- inham outros, de conteido diverso, dependendo do alvedrio do sistema ue ests adotando. Considerando a importancia da obser {wexata compreensio da prépria norma aplicada em toda a suaextensio, Importante lembrar, de outra parte, com referéncia i lei de protegio do Gonsumidor, que ao declarar direitos para o pélo consumidor impde ela brigagdes para o figurante do outro, ou seja, o fomecedor, qualquer que gla sua frea de atuago ow mesmo exploragio. 4A Nelson Nery faz.a distingto entre principio e norma. Amigo publicado na Revista de Direito do Consumidor, “Os Principios Gerais do C&stgo Brasileiro de Defesa ‘do Consumidoe, $50 Paulo, RT, vol. 3, p. SL. 5 Nelson Nery Junior, Artgo citad publieado na Revsts de Direto do Consunidor, vol. 3, p. 46. 6 1d. ibid, p. 50. 8 Anotagbes uo Cédigo de Defesa do Consumidee Prine(pio da vulnerabilidade A sociedade industrial inventou urna concepyo de relagGes contratuais «que tém em conta a desigualdade de fato entre 0s contratantes. © legislador procura proteger os mais fracos contra 0s mais pode- +0905, 0 Jeigo contra o mais informado. Os contratantes devemn sempre ccurvat-se diante do que os juristas modernos chamam de orem pribi- primeiro dos prinetpios é0 prinefpio da vulnerabitidade, atenden do assim ao preceito previsto na Resolugio 39/248 da ONU. O CDC brasileiro consagrou no art. 4’, I, 0 prinefpio da vulnerabilidade, reconhe- cendo assim o consumidor como parte mais fraca na relagio de consu- ‘mo, parte frégil, razio da tutela pela norma do consumidor, chegando a clencar como pritica abusiva o fato de prevalecer da fraqueza ou igno- rincia do consumidor (art. 39, IV, do CDC). ‘Vulnerabilidade do consumidor constitai a viga-mestre. A priori todos os consumidores so vulnersveis, tratando-se de uma presungio e nao de uma certeza? Sustenta Luiz Antonio Rizzatto Nunes que 0 principio da vulnerabilidade significa o reconhecimento de que o consumidor € a par- te fraca na relagio juridica de consumo, concretizando o principio da isonomia garantida na Constituigdo Federal.* 2.2.2. Prinefpio da transparéncia Esse principio ven de forma implicita no art. 4° do CDC: Art. 4” A Politica Nacional de Relagio de Consumo tem por objetivoo ‘atendimento das necessidades dos consumidores, respeitoa sua digni- ‘dade, sade e seguranca, a protesio de seus interesses econdmicos, a 7 Oltem4 das concluses aprovads pelo Congress prescreve:"Como dieto social a protego so consumidor tem come principio a vulnerabildae do consumidor que ‘exigeoreconhecimento jufdiea de sua desigualdsde erate 0 pradtor,Comodirito social, a proteio ao cansumidor se orienta por mantados de timizagao em que a realizado progresiva Gadssvelaprovada por manmade) Conclisdes pov. das no 40 Congresso Brasileiro de Diteto do Consumidar. 8 Lie Antonio Rizzatto Nunes, Comentéris aa Cstgo de Defeva lo Consunidor ‘So Paulo, Saraiva, 2000, . 106. Iirodu;o ao Estudo do Direto do Consumidor 9 ‘methoria da sua qualidade de vids, bem como a transparéncia ¢ har. ‘monia das relagées de consumo, alendidos os seguintes prineipios: principio da transparéneis busca uma relagio mais préskima e ade- {Wada entre o fornecedior e oconsumidor, visando, pelo préprio contetido, [ininceridade no negécio entre ambos os contratantes. Visa permitir um. tlhur direto no tocante & verdadeira intengao de cada um e no sentido de le, de Forma pura —no sentido de pleno conhecimente de condicdes—se Instaure a plena satisfagdo no atendimento dos fins objetivados na (ontratago: 0 fornecimento e o recebimento do produto on servigo. Cifudia Lima Marques aponta que transparéncia significa informa- Bag «comet sobre o prov sr vendo © 0 ooo a sor itmacdo, significa lealdade e respeito nas relagées entre fornecedar € Gonsumidor, mesmo na fase pré-contratual, isto &, na fase negocial dos ontratos de consumo. ‘Transparéncia € clareza e informagdo sobre os temas relevantes tia futura relagio de consumo ou contratual. Bis por que institui o CDC lum novo e amplo dever para o fornecedor, o dever de informar 20 con- Alimidor nio s6 sobre as caracteristicas do produto ou servigo, como lambém sobre o contetido do contato. Esse principio, por conseqiléncia, impde ao fornecedor o dever da ‘fetiva direta informagao sobre todas as condigdes do negécio a ser FWalizado, abrangendo tanto a oferta como o texto do proprio compro- Imlsso, quando escrito, oua divulgacio ampla das condigées, quando, em decorréncia do pequeno negécio, for verbal Tanto que o art, 30 do CDC consagra que toda oferta deve ser ‘lara e correta sobre todo o produto ou servigo, sob pena do fornecedor Fosponder pela falta (art. 20) ou, ainda, cumprir a oferta feita (art. 35) Deve, portanto, 0 fornecedor estar atento para essas transforma (ghes no tocante a responsabilizagio diante da vinculagio com as condi- (es apresentadas ou divulgadas, mesmo porque a publicidade traz essa ondigio, alterando a pritica comercial, resguardando 0 direito do con- Aumidor, colocando-o na condigao de patceiro no negécio endo mais (mo, anteriormente, dependendo do negécio. 3 prinefpios da harmonia e da transparéneia nas relagiies de con- sumo (art. 4°, caput) s&0 prineipios que tém como base a eqiidade © a bbou-fé (art. 4, 1). Sao prinefpios basiares insttuidos pelo CDC. Tanto Aaysim que o Cédigo trata como nulas as ckéusulas contratuais que infrin- item direta ou indiretamente a eqiidade e a boa-f. 10 Anotagdes ao Cédigo de Defesa do Consumidor princfpio da transparéncia consagra que o consumidor tem o di- reito de ser informado sobre todos 0s aspectos do servigo ou produto ‘exposto ao consumo, traduzindo-se assim, no principio da informagao, No easo de haver omissio de informagao relevante ao consumidor em clgusula contratual, prevalece a interpretagao do art. 47 do CDC, o qual retrata que as cldusutas contratuais serdo interpretadas de maneira mais favordvel ao consumidor. 2.2.3, Principio da boa-té O principio da boa-fé objetiva est previsto no art 4, II, do CDC ¢ traduz a lealdade que as partes devem ter na realizagdo do negécio Jjuridico, no caso numa relagio de consumo, No art. 4° do CDC vamos encontrar que 4 Politien Nacional de Relagies de Consumo tem por objetivo 0 aten- simento das necessidades dos consumidores, o respeito& sua digaida Ae, saide e seguranca, a protegio de seus interesses econdmicos, 2 ‘methoria da sua qualidade de vida, bem como a transparénciae har- ‘moni das relagies de consume, atendidos os seguintes principios: III ~ Harmonizacao dos interesses dos participantes das relagdes de ‘consumo e compatibilizagio da protegio do consumidor com a neces- sidade de desenvolvimento econémico e tecnoldgico, de modo a viabiizar 0s principios nos quals se funda u ordem economica (art. 170 da CF), sempre com base na boa-fé ¢ no equllbeio nas relages ‘entre consumidores e fornccedores: Resulta, em decorréncia desse dispositivo, que a boa-é deixa de ser elemento subjetivo nas relagdesjuridicas e passa a ser elemento objetivo, (ou sea, de apurago obrigatéria na formagio dessus relagSes juridicas, de ‘vez que foi erigida (a boo-f8) 2 categoria de norma-principio. Com efeito, dispie 0 inciso LV do art. 51 da Lei 8.078/90 que sio nulas de pleno direito as cliusulas contratuais que sejam incompativeis com a boa: ‘A condigo plena desse principio levou Claudia Lima Marques a que apor “Poderlamos afirmar genericamente que a boa-fé € 0 prinefpio méxiimo corientador do CDC; neste trabalho, pom, estamos destaeando igualmente © principio da transparéoeia (at. 4, caput), 0 qual nfo deixa de ser um reflexo da bow f6exigida sos agentes contatais™ luo a0 Estudo do Diteto do Consumidor n "No tocante & aplicagao da boa-f6, podemos ressaltar que a inter- lagdo humana deve pautar-se por um padrio ético de confianga e leal- “the, indispensdvel para o préprio desenvolvimento normal da convivencia ‘Hocial. A expectativa de um comportamento adequado por parte do ou- € um componente indissociavel da vida de relagio, sem o qual ela ma seria invidvel, [sso significa que as pessoas devem adotar umn {Yomportamento leal em toda a fase prévia A constituigdo de tai relagies ‘eque dever também comportar-se segundo a boa-fE que se projeta, por ‘vez, nas diregdes em que se diversificam todas as relagOes juridicas: Witvitos e deveres. Os diteitos devem exercitar-se de boa-fé; as obtig: ‘bes tém de cumprir-se de boa-Fé. | Faz-se mister destacar que no atual Cédigo Civil o legislador pre- onde dar maior énfase a boa-fé objetiva, tanto assim que est incluindo ‘io Capitulo das Obrigagdes um dispositive referente & boa-fé como noz- ‘ade conduta. Bstabelece 0 art, 422 do Cédigo Civil: Art. 422. Os contraentes sio obrigados @ guardar, assim na cone. sto do contrato, como em sua execugio, os prineipios de probidade ce boa-fé. Verifica-se ainda que 0 Cédigo Civil possui uma estreita relagio Wn as normas previstas no CDC, demonstrando, assim, wm avango no ireico referendando a boo- objetiva Oart. 423 do Cédigo Civil estabelece: Art, 423. Quando houver no contrato de adesio cléusulas ambiguas ou contraditéria, dever-s0-4 adotar a interpretagio mais favoravel ao aderente.? Encontramos a equidade como norma-prinefpio no art. 4° do CDC, 40 exigir equilfbrio nas relagdes entre o fornecedor e o consumidor. Em 9 Verartigo 47 doCDC, que estabelece que as ldusuls conzatucis sero interpreta as de maneica mais favorivel ao consuimidor. C—O ” AnotagSes a0 Cigo de Defesa do Consumidor nosso direito, a aplicacio de tl prinespio sempre foi ponto de discuss, \lificultando, no aspecto de uilizagio, a sua prSpria compreensio. O prin- cefpio da equidade também esté previsto no art. 7°, tr fine. Com a mestria inigualvel, a Prof Maria Ceeslia Nunes Amarante defendeu tese de mestrado abordando o tema Justica ou Eqilidade nas Relagdes de Consumo, destacando em sua obra juridica o prinefpio da eqilidade, afirmando que “o regime legal de Defesa a0 Consumidar tem ‘como um dos novos principios bésicos o Prinefpio da Bquidade para nortear ‘0 equilfbrio de forgas entre os personagens das retagdes de consumo"! A luz do pensamento da doutrinadora Maria Ceviia, a palawra eqt dade estdligada 3 nogao de equilforio, sustentando que grifamoso termo “equilfbrio” por entendé-lo crteriosamente como eqiitativo, concluindo que & solugio justa e equilibrada nas relagGes de consumo € revelada por imermédio dos critérios eqditativos que operam em atendimento 2 inamicidade social ean principio pré-cansumidor." Registre-se por fim que 0 contraio firmado entre fornecedor consttnidor passui por prineipio norteador o Prinefpio da Equidade Contratual, do equilfbrio de direitos e deveres nos contratos, para alcangar ajustica contratual 2.2.5. Principio da isonomia 0 fomnecedor deve levar em conta na contratagao de fornecimento de proctutos ou servigos que as pessoas sio diferentes entre sie, portan- to, invidvel idéntico tratamento, afastando a referéncia aos limites di ‘verso entre tum € outto, ‘A isonomia vai sustentar, justamente, a desigualdade no tratamen- to, buscando, na esséncia, a aproximagio da igualdade. Gera, em inicio, ‘alguma confusio na compreensio porque se procura a igualdade em vez ce se fomentar a desigualdade; entretanto, o tratamento € que deve ser Gesigual no limite em que as partes se desigualem e no sentido de se igualar na diferenea 10 Maria Ceesia Nones Amarante Justiga on Exide max RelagBex de Convers, Rio Ge Janeiro. Lumen Juris, 1998, p. 88. LL Apu Maria Coola, ep-ci. pp. 88¢91 ‘Iiioto Estudio do Direto do Consumidor a | Todos sio iguais perante a lei (at. $* da CF) ¢ a aplicago do prin nas telagdes de consumo vem declarara vulnerabilidade do consumi- i upresentando-se como a parte mais fraca na relagio negocial | Ao fazermos referéncia a vulnerabilidade do consumider, podemos fallentar que € aespinha dorsal da prota 26 consumidor, sabre que se assonta toda 2 Tinka flosériea do movimento. & induvidoso que 0 ooasumidor € a pare mais fraca das relages de consumo, apresenta eke sins de Iragilidade © impoténcia diame do poder seondmico, A busca de equilfbrio nas relagdes sociais nio € nova, podendo ser omparada, na drea do direito do consumidor, ao que ocorreu bi algu- Is décadas no campo do Direito do Trabalho, em que foi necessirio {imnbém o reconhecimento da vulnerabilidade do trabalhador, em face da fii situagdo de inferioridade em relagdio ao empregador. Assim 6, que fie reconhecimento de vulnerabilidade da parte mais fraca tem sua fyem, sempre, na realidade social. A igualdade que o CDC protege, limparado pela Constituigdo Federal, tem por objetivo nivelar aqueles endo desfratam da mesma condigio social Exte prine(pio refere-se, portanto, a0 exercicio pleno da prépria ci- didania pois o consumidor, na relacio instaurada, tem, em face do prin- pio, tatamento adequado e em nivel de igualdade com o fornevedor, Injesmo porque, diante da predomininncia de um, 0 outro recebe trata- Injento dferenciado no sentido de-proporcionar 0 equilforio e, por conse~ iléncia, justiga no proprio resultado, ‘Com tais ponderagses € que deve ser lido e entendido o prinefpio {iculpido pelo legislador constituinte com o propésito de que todos resul- tum fguats perante a lei Hid, a evidéncia, manifesto interesse piblico na guarda e protegtio dessas relagées com 0 objetivo de garantir o exercicio pleno da propria ‘idadania. Em zazZo disso, hd nutidade da cldnsula que stentar contra as ‘vondigdes e principios ora tratados, deixando, no conflito, de prevalecer, teduzindo, em jgualdade, as partes. 2.2.6, Prine(pios processuais no CDC O legislador incluiu a defesa do consumnidor entre os direitos e deve- Fes individuais e coletivos, estabelecendo que o Esiado promoveré, na Jorma da lei, a defesa do consumidor (an. 5°, XXXII, da CP), elevando @ M4 Anotagdes 20 Cédiga de Defesa do Consumiéoe defesa do consumidor ao status de principio constitucianal impositivo, cconforme leciona Eros Roberto Grau, imputando a dupla fungio como instrumento para realizago do fim de assegurara todos a existéncia digna € 0 objetivo particular a ser aleangado, assumindo a fungao de diretriz, (Dworkin) norma-objetivo, dotada de caréter constituciuonal conformador, Justificando a eivindicacao pelas realizagdes de politicas piblicas.* Entre os principios consagrados no CDC destaca-se o principio do dever governamental delineados no art. 4 incisos II, Ve VIT,retratan do a responsabilidade do Estado em prover 0 consumidor dos mecanis ‘mos suficientes que propiciem efetiva protegio ao mesmo, através de iniciativa direta do Estado (art.4°, I, a, c, VD, coibigdo e repressio 2 ‘abusos ou mesmo promovendo a racionalizagao e melhoria dos servigos pliblicos (art. 4°, VIN) ou mesmo assegurando instrumentos do Poder Pailico,tais como a manutengzo de assistencia judiciéria imtegral e gra- tuita para o consumidor carente, na forma do art. 5*, I, do CDC, e do art. 5°, LXXIV, e art. 134 da CR No Ambito processual civil envolvendo relagdes de consumo, », reproduzidos aos milhdes, como no caso das obrigagées bancd- ‘por exemplo, e que podem surpreender aquele com cldusulas injus- ‘abusivas, dando-se entiio preponderdncia a questio de informagiio ja sobre 0 contetido de tals cléusulas, fulminando-se, outrossim, de dade as cldusulas abusivas, elencando o art. 51, dentre outras que jam ocozrer, as mais comuns no mercado de consumo, * * ‘VI-A efetiva prevengio e reparagio de danos patrimoniais e morais, » individuais, coletivos ¢ difusos Quando se fala em prevengao de danos, fula-se logieumente, em Jimeiro lugar, das atitudes que as préprias empresas fornecedoras de [Produtos e servigos devem ter para que ndo venhiam a ocorrer danos ao donsumidor ou a tereeitos. ‘Ao Poder Pablico, entretanto, cabe enorme responsabilidade, ainda to aspecto da prevengio. A medida que as autoridades incumbidas da {isealizagio de certo setor produtivo (vigiléncia sanitiria, por exemplo) Ilo autorizam desde logo a fabricago de um medicamento cujo fator de tisco suplanta o fator beneficio, entao af se terd obtido o efeito preventi- {yo de protecio & satide do piblico consumidor em geral. Da mesma maneira, tal se verifica quando o fornecedor, a0 tomar ‘vonhecimento de determinado risco, comunica-se imediatamente com a 20 ‘Anotagbes 20 Cigo de Defesa do Consumidor aautoridade competente, que, a seu turno, toma as providéneias cabiveis, ‘Se tais mecanismos falham, ha ainda o instrumento processual, so bretudo no ambito das medidas cautelares, para que ainda af, preventiva mente, se evite 0 eventus damn. No Ambito da reparacdo, o que 0 Cédigo se prontifica a fazer & dotar'o consumnidor de instrumentos processuais dos mais modemnos ¢ efi cazes, para que se dé a prevengo de danos, bem como a sua reparagio. Nesse sentido, além de ages individuais, merecem destaque as ages coletivas, de um mode geral, que visam & tutela dos chamados interesses difusos dos consumidotes, interesses coletivos propriamen te dilos, ¢ individuais homogéneos de origem comum. VI ~ 0 acesso aos érgios judilérios e administrativos, com vistas 3 prevencio ov reparagio de danos patrimoniais e moras, individuals, coletivos ou difuso, assegurada a protecio juridica, adminstrativa€ técnica aos nocesstados, 0 Titulo II do Cédigo cuida da Defesa do Consumidor em Juizo, abrindo-Ihe a oportunidade de fazer valer seus interesses, sobretudo de natureza coletiva, e mediante ago de drgos ¢ entidades com legitimi- «axle processual para tanto, sem prejuizo das agées de cunho nitidamen. teindividuais. ‘VIII A facilitgo da defesa de seus direitos, inclusive com ainversio ‘do Gaus da prova a seu favor, no processo civil, quando, a eritério do Juiz, for verossimil a alegagao ou quando for ele hipossuficiente, ‘segundo as regras ordinvias da experiéncia, Como advento do CDC foi assegurada ao consumidor como direi- lo bisico a facilitagio da defesa de seus direitos, até mesmo com a inversao do Snus da prova a seu favor, no processo civil, quando, a crité rio do juiz, for verossimil a alegago ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordindrias de experiéncias (art. 6*, VIII, do CDC). ‘CDC incorporou ao sistema juridico brasileiro um avango ao dreito, adequando norms 2s situagbes que clamavam por uma tute juridica. © Cédigo de Processo Civil impde a0 autor o nus de provar os constitutivos de seu direito (att. 333, 1). José Geraldo Brito Filomeno assevera que “talver a grande novidad, ito sim, sao dieito previstona incisa VII do | Diigo 20 Esto do Direto do Consumidor 21 imenconado a 6d CDC, quando fala da verso do usd prove 800 favor, mas spenes no process iil, quando, acti o jul, for vero 2 slegagio do consmdor, on quando for ele hiposeliciente, segundo as tegrasoninriaedeexpeincin® Cecilia Matos, em sua dissertaglo de mestrado apresentada & Fa- ‘Wikdade de Direito da Universidade de Sio Paulo, afirma que a prova Weiinaese a formar a convicgao do julgador de que pode estabclecer ‘Wom objeto do conhecimento uma relagao de certeza ou de davida. ‘onceituando como risco sobre a parte por nio apresentar a prova que A fivorega, as normas de distribuigdo do Onus da prova sio regras de ilgamento utilizadas para afastar a duvida,afirma Cecilia, sendo que, Hele enfoque, o CDC prevé a facilitagao da defesa do consumidor atra- ‘vis da inversio do Gnus da prova, adequando-se 0 processo & universa- Iiide da jurisdigzo, ja que o modelo tradicional mostrou-se inadequado Bificledades de massa’ ‘Ada Pellegrini acentua que a idéia de acesso 2 Justia nio mais se Iifhita a0 mero acesso aos tribunais, ndo se trata apenas de possibilitar 0 Justia enquanto insttuigioestatal, mas sim de viabilizar o acesso jem juridica justa.® _Nesse sentido o doutrinador Antonio Gidi afirma que 0 Juiz nfo possui ® © poder dscrcionéro de inverter ov nfo © Sous da prova em favor do ‘onsumidor, ecionando que "com efeito, no diz a lei que fica a rit do Iuis inverter dus da prov O que fica a criteria do Juz (rectus, a pactir 4o seu livre conveneimento motivado) 6 tarefa de afer, no caso coneret0 levado 8 sua presenga, se © consunidor€ hipossufiient «sea sua versio os fatos€ verossiil, ‘Woncluindo que o papel do magistrado é meramente de aferir a presenca os requisitos impostos pelo CDC? 4 oxé Geraldo Brito Filomeno in Cidigo Brasileiro de Defesa do Conswmidor, ‘comeniado peios autores do anteprojet, Ada Pelegrini Grinover, Roe Janceo Forense Universiiia, 1998, p. 19. A Cectiade Matos, op. cit por José Geraldo Brito Filomeno, ia CSdiga Brasileira de Defesa do Consunidor, comentado pelos autores do aneprojeto, Ads Pellegrini Grinover, Rio de Janeiro, Forense Universita, 1998, 9.199. ( AdaPeliegrin Grinover. O Processo em Bvolugdo, Ria de Janeiro, orense Univer. sic, 1998, p. 115. 1 ‘Antonio Gi. Antigo publica pela Revista de Divito do Consumidor.“Aspectos da Iaversto do Onus da Prova no Céigo do Consumidox”, So Paulo RT, vol. 13,9. 36 OO 2 ‘Anotages 20 Cigo de Defesa do Consumidor Antonio Gidi afirma que veross{mil 60 que 6 semelhante a verdade, © que tem aparéneia de verdade, o que nio repugna a verdade, enfim, 0 provavel. Sustenta ainda Antonio Gidi que é possivel fazer uma aprox ‘ago entre a verossimilhanga das alegagSes do consumidor € 0 fumus bboni juris do processo cautelar, no qual seria, por assim dizer, uma ¢s pécie de fumus boni facti® Registra-se que a verossimilhanga possui papel relevante para a in- versio do énus da prova, bem como para a Tutela Antecipada, desde que preenchidos os demais requisitos a lei processual (fundado receio de dano izeparivel ou de dificil reparagio, abuso de direito de defesa ete.) E necessério ainda consignar que a decisio de inversio do dnus da prova em raziio da probabilidade do fato alegado pelo consumidor nao implica dizer que 0 Juiz iré proceder um julgamento prévio sobre o mérito decidindo a causa a favor do consumidor. Estaré apenas 0 Juz facilitando 8 defesa dos direitos do consumidor com base, por exemplo, nas provas “apresentadas no Inquérito Civil Pablico, admitindo prova em contrétio, ‘Tendo em vista que 0 CDC, no art. 6°, VIII, prevé como direito bisico do consumidor 0 direito& inverstio do 6nus da prova no proceso quando a alegagio for verosstmil,facilitando assim a defesa dos direito dos consumidores, que esta inversio a0 nosso juizo é ope legis, niio ope jiudicis, nio se justifica entio a nio-inversio do 6nus da prova, ‘quando comprovada a verossimilhanga ou mesmo a hipossuficigacia, 1X-VETADO. X~Aadequads eefiez prestago dos servigos pico em geral, | Quando se tata do conceito de fornecedor, fica consignado que | também 0 Poder Pablico, enquanto produtor de bens ou prestador de Sse-vigos, se sujeitar 8s normas ora estatufdas, em todos os sentidos © aspectos versados pelos dispositives do nove Cédigo do Consumidor (ar, | 3°), sendo, alids, categdrico o seu art. 22. | Antonio Gis, op. cit, p38, Ant. 3 Fornecedor 6 toca pessoa fsica ou juréica,piblica ou privada, nacional ou éstrangeira, bem como os ents despersonalizados, que deseavolver ative de rodugo, montagem,criago, construgio,transformagao, imporagao, exportag%o, isibuigdo eu eomerializagao de produtos ou prestasao de servos. Ininlugto 20 Estudo do Direito do Consumidor 23 O art. 4° do CDC estabelece que a Politica Nacional de Relagses de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos con- Aumidores, 0 respeito a sua dignidad, sade e seguranca, a protegio de lus interesses econ6micos, a melhoria de sua qualidade de vida, @trans- Jiuréncia e harmonia das relagdes de consumo, bem como a racionaliza- {jlo e methoria dos servigos péblicos (art. 4°, VID. No mesmo sentido, o Estado integra a relacao de consumo, através Ah ago governamental no sentido de proteger efetivamente o consumi- Alor (ant. 4, 1), por iniciativa direta (ar, 4°, II, a), por incentivos & cria- ilo ¢ desenvolvimento de associngSes representativas (art. 4", Il, 6), Jiela presenca do Estado no mercado de consumo (art. 4°, H, ¢) ou mes- Iho pela garantia dos produtos e servigas com padrdes adequados de lidade, seguranga, durabilidade e desempenho (art. 4°, I, d). Estabelece ainda o CDC que os legitimados a agir poderao propor lo visando compelir 0 Poder Piiblico competente a proibir, em todo 0 IGrio Nacional, a produgio, divulgagio, distribuigzo ou venda ou a minar alteragio na composigao, estrutura, mula ou acondiciona- lo de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou pe- Jos0 A sade pablica e A incolumidade pessoal (art, 102) Questo que tem mobilizado a doutrina é a relativa a aplicagio do 8 todos os servigos piblicos ou somente aos servigos pablicos wunerados. Hi doutrinadores que entendem que somente € possivel aplicar o een Estado, como pessoa juridica de direito pablico, quando o mes- Teveste-se na qualidade de fornecedor, ou seja: quando o mesmo noc ft uma atividade econdmica, como 0 caso das empresas publicas liedades de economia mista ou mesmo no caso das concessionérias smissionérias, ndo restando divida que € possivel aplicar o CDC aos igos puiblicos prestados por estas empresas ‘Todavia a discussio envolve a distingdo entre servigas piblicos pré- 8 € imprprios prestadlos pelo Estado. Sustenta parte da doutrina que nio é posstvel aplicar o CDC aos igos pUblicos propriamente ditos, como por exemplo, aqueles nos 0 Estado possui o dever jurfdico de prestar,tais como a satide, a saglo, ee. diceitos prestacionais). Somente seria possivel aplicar 0 IC tos servicos piblicos impropriamente ditos, pos estes so presta- ha qualidade de fornecedor de servicos, exigindo o pagamento de remuneragio que via le regra € uma tarifa. Logo a estas empresas ~~ a -Anotagdes ao Ciigo de Defess do Consumidor &possivel aplicar o CDC, pois os servigos pibicos pr6prios no sfo pagos diretamente pelos cidadios a0 Estado. Eles so mantidos mediante ti- butos gerais. Embora preste 0s servigos, 0 Estado nao se caracteriza como fornecedor, porque Ihe falta 0 requisito da profissionalidade. Dai rio se dever enquadrar os servigos pilblicos propriamente ditos (uti tuniversi) na eategoria de servigos de consumo. Todavia, hé dontrinadores que sustentarn que o legislador, quando inserit no CDC que é det bésico do consumidor a adequada e eficaz prestacio dos servigos pibticos em geral (art, 6°, X), prescrevendo inclusive no at. 22 que os Orgios Piblicos por si bem como suas empresas permissionérias, so obrigados a prestar um serviga piblico com qualidade, io resta diivida que a mens legis pretendea estender aos servigos puiblicos proprios e impréprios a norma de ordem piblica, nao limitande somente as empresas do governo. Titulo Tr DA RELACAODE CONSUMO- Capitulo 1 DOCONCEITODERELACAO JURIDICA DE CONSUMO a | © CDC cita por diversas yezes 0 voodibulo “Relagio de Consu- \ Todavia, o CDC nio positivou o conceito de “Relagzo de Consu= | preferindo deixar para a doutrina esta tarefa, Outros diplomas ngeiros, como no caso dos Pafses que integram 0 Mercosul, i elo de relagio de consumo no préprio texto da lei, como éo caso da io consumidor do Uruguai! e Paraguai? No Mercosul, no Protocolo de Defesa do Consumidor, elaborado Ip Comité Técnico n° 7 no artigo 5 consigna o conceito de relagdo de mo in verbs “I, Relagiode consume 0 vnculogue seesabelece ence fomacedor que, atiule oneroso, ofereee um produto ou rest um servo a quent squire ou utiliza como destinasta fin” nate age — 1 ALeido Consumidor do Uruguai, Ley n° 17.189189 que dita norma eativas as Felaciones de eonsumo, no ar 4 assim estabelece o conceito de elaglo de consume: "Arvento #”Relacidn de consuno esl vince que se extabece ene el pruveedar ne, ato oneros0, provee ua producto o presta an servicio y quien to aauiere ‘ouiliza como destinatario fina.” 1 ALi do Consumidor do Paragus, Ley 1334/98 de defesa do cosumidore do suitio ~ Paraguay, preserve no at $: “Amteula 5* Relacn de constants rlacidn jaridica que seesrablece entre quien, atin oneraso, provee im proto fo prestaun servicio y quien lo adquieree uilza como destnatario final” 26 ‘Anotagbes 20 Cédigo de Defesa do Consumidor Newton De Lucca’ registra erftica que o Instituto Brasileiro de Detesat do Consumidor (Brasilcon) manifestou sobre o protocolo refer: do, inclusive da inclusiio do conceito de Relagio de Consumo no art. 5 dio protocolo citado, afirmando: “A definigao de relagao de consumo im posta noart, 5 do Protocolo é falha pois se limita Aquela relagao obrigacions! cclissica, individual ¢ bilateral”; aduzindo ainda que “melhor seria no haver definigao de relagao de consumo, ou ser ela exemaplificativa, no exaustiva no presente protocolo” Por fim, conelui De Luces, citando Nelson Nery Jr. que 0 objeto de regulamentagao pelo Cédigo de Defesa do Consumidor é a relagio de consumo, sendo certo que 0 “CDC nio fala de ‘contrato de consumo, ‘ato de consumo’, ‘neg6eio de ‘consumo’, mas de relago de consumo, termo que tem sentido mais amplo do que aquelas expresses” ara aplicarmos as normas do CDC € necessrio nao s6 analisar 0 cconceito de relagi juridica de consumo, como identificar a figura do forn- cedor, do consumidore onexo causal, lame indispensdivel entre aaquisicao ‘ou utilizagdo do produto/servigo ea lest softida pelo consumidr. ‘Uma relagao juridica é um vineulo que une duas ou mais pessoas, caracterizando-se urna como sujeito ativo e a outra como passive da relagdo. Este vineulo decorre da lei ou do contrato e, em consequéneia, © primeiro pode exigir do segundo o cumprimento de uma prestacio do’ tipo dar, fazer ou nio fazer. Se houver incidéncia do CDC na relagi, isto é se uma das partes Se enquatdrar no conceito de consumidor e « outra no de foraceedor e, entre elas, houver nexo de causalidade capaz de obrigar uma a entregar a outra uma prestagiio, estaremos diunte de Deste modo, definimos a relagdo de consumo como. vinculo jurtai- co por meio do qual uma pessoa fisica ou juridica denominada consumi- doradquire ou uiliza produto ou servigo de uma outra pessoa denominacla fornecedor.* [Newton De Lusca, Direto da Consumidor, So Paulo, Quartier Latin, 200259. Newion De Lucea, op. eit, p. 98 ( Insite Brasicon apreseatou sugestio para a madifcagSe do at, $d Proto. Iesiaverbis: “Art. 5, Relacin deconsuno. entre otras, «sel vacuo que seestabece | entree proveedor que, attdo onerose,provee un producto o prea un servicio y (ques to adguiereo uta como desinaria final” (Newson, op. cit, p. 98) 6 Leciona Helio Zagheio Gama que "a terminologiateagies de consimo é ber ‘moderna no Delt. Devore ela dos novos entendimentos sobre as relagdes emt de Consume 27 Relngdo de consumo é aquela relagio que envolve de um lado uma it que fornece um produto ou servigo, a qual chamamos de forne- fede outro lado uma pessoa que vem adquitit 0 produto ou servigo , denominada consumidor. Conceituao Prof. Hélio Zaghetto Gama relagio de consumo como “aquelas relagbes que se estabelecem ou que podem vir ase estbelecer «quando, de um Indo, portirsealguém com a atividade ds ofertador de pro futos ou serviga e, de outro lado, haja alguém sujeito a tas ofertas ou ‘sujeitoaalgum ncidente que verha & ocorrer com a su pessoa ou com 08 sous bens"? Consoante se observa no conceito supratranscrito, Hélio Zaghetto classifica como relagio juridica “aquela que pode vit a se eslabe~ ‘entre 0 ofertador de produtos ou servigos e aquele que est sujeito ofertas”, Esta afirmagiio seguramente decorte da inteligéncia dos 30 e 48 do CDC." Entretanto, € mister responder wo seguinte i lionamento: Como pode existir uma relago juridica que ainda virdt abelecer?” Data vena, ousamos discordar do conesito expressa- 10 insigne e reconhecido professor pelos seguintes motivos: i E sabido por nds, estudioses do Direito, que todo dever decorre da fet a do contrato. Assim, ndo se pode estar obrigado a dar, fuzer ou a deixar alguna coisa seniio quando a lei ou 0 contrato a determine. ‘os fomecedores onsumidores ede como demos entender qusssejam as pesous assificiveis como consumidorss”, Curso de Direto do Consunidor, Ric de Hane: 10, Forense, 1999, p21 (Op. cit, p. 23. {Art 30. Tada informagio ov publicidade,suficiene, precisa, veiculada por qu © quer forma ox meio de comunicagto com lag a produinse serviga oerecidos 8 _tpresentadosobsiga ofornecedor que fizerweicular ox dela se uilzare integra oneal que vier aser celeb, ‘Art 48, As deelaragées de vontade constantes de esritos puticulaes,recibos © pré-conrats lato 3s relagbes de consumo vinculam o formecedor,ensejando inclusive exec expec, nos termas do art. 84 pargrfos Expondo as razies de seu raciocinio, Hélio Zaghetto Gama afirma que “em Direito do Consumidor a expectarva do dieito por si s6 gern direitos” (Op, it, p. 23). eee 28 -Anotases a0 CSdigo de Defesa do Consumidor Se verdadeiras estas premissas, uma relagio jurfdica (vinculo que ‘obriga uma pessoa a dar, fazer ou nio fazer alguma coisa a outra) sé pode resultar da lei ou do contrato ¢, assim sendo, nio cabe falar em expectativa de direito, que por si s6 jd gera o direito, uma vex. que s6 haverd direito se a relagdo estiver conctuida, Para o deslinde da questao que ora se nos apresenta, qual seja, se a oferta gera um direito para o consumidor, cumpre-nos antes responder a ‘outra questo: as relagdes de consumo so sempre contratuais ou po- dem ser legais? Em prinefpio, poder-se-ia dizer que, sendo a relagio de consumo um vincuo entre o forecedor e o consumidor, ela seré sempre de natu- reza contratual (obrigacional). Entretanto, duas situagdes desmentem tal assertiva: | 1) Ha casos em que © CDC equipara a tal aqueles que embora niio. | tenham celebrado contrato sdo vitimas de acidentes de consumo, Como | * ‘exemplo citamos o fato da queda de um avido sobre varias casas. Para ‘a Lei 8.078/90 estas vitimeas do evento, ainda que nio passageiras, sA0 cconsideradas consumidores por equiparagio (art. 17), 2) Um comerciante oferta um prodnto por um prego muito abaixo do normal através de jornal, De posse do antincio, o consumidor dirige- se ao estabelecimento comercial com © propésito de adquirir © bem Porém, alegando haver um erro na publicidad, o comerciante se nega a ‘vender o bem pelo prego anunciado. Segundo dispde 0 art. 30 do CDC, aquele que ficou sujeito & oferta pode exigir do ofertante a venda do bem pelo prego anunciado. Neste caso hé uma relacio de consume (um di _rcito do consumidor) au apenas uma expectativa de direito? [Nao se pode olvidar que se h direito de um lado e dever de outro ha uma relagio jurfdica e nfo uma expectativa de direito, O que se confun- de, no entanto, &a natureza dessas obrigagbes: se 0 comerciante celebras- se com 0 comprador e, apés verificar no estoque, constata a ausEncia da ‘mercadoria,naturalmente poderd.o comprador (consumidor) exigir ocum- primento do contrato. Essa hipétese difere daquela em que 0 ofertado deseja adguirir a mercadoria, mas 0 comerciante afirma que nas condi- G0es ofertadas pelo jomal nao mais € possivel concluir o negocio. Neste caso, embora afirme o art 30 do CDC que a oferta “obriga o fornecedor que a fizer veicular ou de se utilizar”, ndo poder o ofertado exigir ainda it entrega do bem, pois ainda nfo se celebrou o contrato, mas exigir que ‘este venha a ser celebrado e, como conseqiiéncia, seja 0 bem entregue > no de Consumo 29 ra comprador (consumidor). Esta interpretagio decorre do pré- texto do art. 30, que em sua parte final estabelece que a oferta i 0 contrato que vier a ser celebrado” Para aplicarmos a discussdo em torno do tema, uma vez que este € ivo do presente trabalho, reputamos salutar trazer & colagdo 0 numento de Hans Kelsen, que 20 refletir sobre o tema oferta ¢ acei- para fixago do momento em que o contrato é celebrado, afirma: “Na mioriadas vemos, paraaelaborago de um contrat nBo ésuficonte que ax paris fagam declaragiesidéntias. A decaragto de uina parte deve ser dirigida 8 outra pane & por ela aceita. Dizse,portanto, que um contrato ‘consists numa oferta ema acitagio. Esta dstngto entre oferta e aceits- ‘¢80 pressupe que a8 dns declaragBes nia s4o feitas simoltancamente Surge entio a questo de saber seo oertante deve manter sua vontade até ‘© momento da acetagdo. Ambas as partes devem ter a vontade efetiva de fazer o conatonesse momento, de modo que nto sea realizado neahum Contato, isto, no sejaeriadanenfurma norma obrigateia seo ofetante

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