1828 – 1878
Um mogimiriano à frente
de seu tempo.
Apresentação
Trata-se da mais alta e ilustre figura política desta cidade, sendo Presidente da Província
de São Paulo no período de 1872 a 1875.
Servirá este opúsculo como referência histórica para pesquisadores e amantes da tradição
de nossa terra bandeirante e também para homenagear todos aqueles que contribuiram para o
engrandecimento local.
A vida e as atuações marcantes do mogimiriano Dr. João Teodoro Xavier ainda não são
suficientemente conhecidas por grande parcela de nosso povo. Eis aí o principal fator que nos
motivou para pesquisar a respeito daquele nosso maior conterrâneo, que alcançou expressivo
destaque em boa parte da segunda metade do século XIX.
Este opúsculo, editado sob os auspícios da Câmara Municipal de Mogi Mirim, procurou
localizar e transcrever fontes documentais inéditas, encontradas em diversos trechos de páginas
de algumas atas de sessões da Edilidade local, em vários anos da década de 1870. Foram
consultadas interessantes e expressivas obras de autores que pesquisaram e escreveram a respeito
da biografia e realizações do Dr. João Teodoro Xavier.
Não havia tempo suficiente para se produzir um trabalho com maior número de páginas e
abordagem mais ampla e aprofundada do tema. Eis a razão básica do dimensionamento humilde
deste texto.
Estamos próximos do limiar do ano de 2003, em que serão completados, a 1°. de maio,
175 anos do nascimento do Dr. João Teodoro e também 125 anos do falecimento dele, no dia 31
de outubro do referido ano vindouro. Trata-se de uma homenagem antecipada em memória
daquele mogimiriano muito ilustre.
Os autores
“Seu pai, fazendeiro e comerciante, foi figura de relevo na política mogimiriana. Vereador
por muitos anos, exerceu a Presidência da Câmara de 1837 a 1844. Àquela época, não existiam as
Prefeituras. Assim, durante oito anos, o Comendador João Teodoro Xavier foi cabeça do
Governo Municipal. Nesse posto, à frente de tropas poderosas, tomou parte ativa em
acontecimento de repercussão nacional, a Revolução de 1842, ao lado dos legalistas, sob o
comando supremo do então Barão de Caxias”.
Na época do nascimento do menino João Teodoro, o pai dele já era capitão, porém da
companhia de ordenanças que existia desde a época colonial; somente em 1834, o Ministro da
Justiça, Padre Diogo Antonio Feijó, instituiu no país a Guarda Nacional, que substituiu as antigas
companhias de ordenanças.
O capitão João Gonçalves Teixeira tinha sido juiz de órfãos na vila de São José de Mogi
Mirim no ano de 1826 e, de 1829 a 1834, exerceu o mandato de vereador na Câmara Municipal,
período em que o ainda capitão João Teodoro Xavier também foi vereador; posteriormente, de
1837 a 1840 e de 1841 a 1844, o já tenente-coronel da Guarda Nacional João Teodoro Xavier, foi
Presidente da Câmara Municipal da vila de São José de Mogi Mirim.
João Teodoro talvez fosse o filho caçula e teve cinco irmãos. Na infância ele foi um dos
alunos de maior aplicação aos estudos que o Padre José Joaquim de Oliveira Braseiros – que era
professor de primeiras letras pago pelo governo imperial teve, na ainda Vila de São José de Mogi
Mirim. Com aquele sacerdote, ele aprendeu a ler, escrever e a fazer os cálculos aritméticos da
adição, multiplicação, subtração e divisão.
Aos 12 anos, o jovem João Teodoro ficou órfão de mãe e, cinco anos depois, morreu o
pai dele. Seus pais talvez não tivessem legado aos filhos expressiva riqueza de bens materiais,
porém sólidos e edificantes princípios éticos.
Especialmente de seu pai o jovem João Teodoro herdou vocação política, fidelidade ao
governo imperial e ao Partido Conservador, do qual ele tinha sido um dos líderes mais
expressivos na década de 1830 e até quase a metade da década de 1840.
Na Faculdade de Direito
No ano de 1849, João Teodoro cursou o 1º. ano e depois, em 1850, 1851, 1852 e 1853, as
quatro séries subseqüentes e sempre foi aprovado de uma para outra série com a menção
plenamente. Esta palavra designava, no século XIX, o grau de aprovação em exames com notas
situadas na faixa de 6 a 9, numa escala que ia de zero a dez.
Foi Alfredo Gomes quem destacou, em seu já citado livro, em certo trecho da página 238,
que João Teodoro, aos 25 anos de idade, “Recebeu o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais no dia 31 de outubro de 1853”. Foram colegas de turma de João Teodoro, na Faculdade
de Direito, entre outros, José Bonifácio de Andrada e Silva (o moço), João Mendes de Almeida,
Costa Machado, Evaristo de Araujo Cintra, Fortunato de Brito e Landulfo Machado.
Começaria ali a brilhante, embora curta carreira de João Teodoro Xavier: naquele quase
final de 1853, ele foi nomeado Promotor Público da capital paulista. E dois anos mais tarde, foi
nomeado procurador fiscal do Tesouro em São Paulo.
Paulo Cursino de Moura assim caracterizou João Teodoro em seu livro “São Paulo de
outrora – Evocações da Metrópole”, citado por Alfredo Gomes nas páginas 22-23: “Foi um
temperamento vigoroso e enérgico, a par de sua jovialidade burguesa, ingênua e comunicativa. A
Justiça nele residiu de olhos realmente vendados e de balança aferida. Foi bom. Foi prudente. Foi
patriota, morreu na pobreza. Rico de benemerências”.
E a cidade de São Paulo ainda era pequena, conquanto fosse a capital da Província de
mesmo nome: tinha pouco mais de vinte mil habitantes. Caberia àquele mogimiriano a iniciativa
de impulsionar o crescimento da capital paulista no período em que ele foi Presidente da
Província, desde 21 de dezembro de 1872 até 29 de maio de 1875, praticamente dois anos e meio.
O Professor e Jurista
O enérgico Padre Dr. Vicente Pires da Mota, que tinha sido Presidente da Província de
São Paulo de 1848 a 1851 (durante seu governo, pela Lei Provincial n° 17, de 3 de abril de 1849,
as vilas de Bananal, Iguape, Jacareí, Mogi Mirim e Pindamonhangaba foram elevadas à categoria
de cidades) foi, na década seguinte de 1860, Diretor da Faculdade de Direito de São Paulo.
E em 1860, João Teodoro Xavier, para conseguir ser Professor-subtituto, concorreu com
o Padre Mamede José Gomes da Silva e este foi perdedor. O tema para a defesa de tese foi:
“Podem, no compromisso, as partes convencionais observar uma forma de processo diversa
daquela que a lei tem estabelecido ?”. Depois, João Teodoro tornou-se Professor catedrático de
Direito Natural (de 1870 a 1878 e de Direito Criminal, de 1870 a 1871). Ele passou para a cadeira
de Direito Natural por permuta com o Professor e conselheiro Justino de Andrade.
Assim expôs e destacou Dante Alighieri Vita, na pág. 9 de seu opúsculo “João Teodoro
Xavier e o seu tempo”: “Sob a direção de Vicente Pires da Mota vinha, desde 1866, lecionando
com invulgar brilho as cátedras de Direito Constitucional e Direito das Gentes e Diplomacia, o
mogimiriano João Teodoro Xavier.”
O casarão do antigo convento de São Francisco não parava de emitir clarões do porvir e a
preparar as gerações que haveriam de levar a efeito o abolicionismo e a implantação da República
em nossa Pátria”.
Entre vários que foram alunos de João Teodoro naquela Faculdade, alguns brilhariam na
literatura, tais como Antonio de Castro Alves, Luís Nicolau Fagundes Varela, Joaquim Aurélio
Barreto Nabuco e Rui Barbosa; e na política, personalidades tais como Afonso Augusto Moreira
Pena, Francisco de Paula Rodrigues Alves, Martinho da Silva Prado, etc.
João Teodoro periodicamente argüia seus alunos, provocava debates e, sempre que
possível, procurava argüir alunos de aparência ou de estrutura corporal diversificada: “na
Academia, escolhia sempre para as suas argüições os mais diferentes tipos – um muito alto e
magro; outro, baixo e gordo; um calvo e um cabeludo, um estudante com cara de menino e outro
que parecesse um grave pai de família” (Alighieri Vita, obra citada, pág. 24).
Como jurista, ele realizou diversos trabalhos, tais como pareceres, dissertações e autoria
de livros; destes, os mais conhecidos passaram a ser “Discussão do Conflito de Atribuições”,
publicado em 1875 e “Teoria Transcendental do Direito” (1876).
Além das obras de conteúdo jurídico, João Teodoro ainda foi autor de uma obra que
permanece inédita, a “Memória Histórica dos acontecimentos mais notáveis da Faculdade de São
Paulo”, escrita em 1863, e também de “São Paulo antigo” (em dois volumes, sem data).
Em sua breve existência que durou apenas 50 anos, ele realizou bastante, e conseguiu
marcar expressivamente com feitos e atuações memoráveis a sua vida. Tornaram-se perenes e
não morreram com ele; resistiram ao decorrer do tempo.
O Escritor
A produção literária de João Teodoro Xavier foi relativamente pequena, mas de grande
expressividade, principalmente as de caráter jurídico. Seus trabalhos registrados, em número de
dezoito, encontram-se na Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
versam sobre Direito Natural e Direito Criminal. Entre seus escritos estão registradas também
obras de educação, filosofia e relatórios administrativos, mas a obra mais importante e conhecida
foi publicada após ter deixado a presidência da Província, em 1876, “Teoria
Transcendental do Direito” com 379 páginas. A respeito desta, o já mencionado Alighieri Vita
salientou que João Teodoro, “As suas lições de Direito Natural reuniu-as no volume, que
intitulou ‘Teoria Transcendental do Direito’, e que como êle próprio disse, representa: “uma
reação contra as idéias de Vicente Ferrer, e através dele, de Cousin e Kant e, ao mesmo tempo,
uma amplificação das teorias harmônicas de Ahrens e Krause” (obra citada, pág. 25).
Esta obra foi dedicada homenageando o amigo Monsenhor Dr. Joaquim Manuel
Gonçalves de Andrade, que foi arcediago e vigário geral do bispado de São Paulo, e à memória de
seu querido protetor, Cônego João José Vieira Ramalho, correligionário, companheiro e amigo
íntimo de seu pai em Mogi Mirim: “Dedicada em reconhecimento e homenagem a Sua
Excelência o Monsenhor Joaquim Manuel Gonçalves de Andrade e á veneranda memoria do
Excelentissimo Senhor João José Vieira Ramalho”.
Em sua obra já citada, Alfredo Gomes escreveu à pág. 32, que João Teodoro reconheceu
o papel importante da História e que esta apresenta-se como o arquivo da experiência humana.
“Só a História nos garante ou nos corrige deste furor de generalizar os fatos, que supõem e
mantêm a ignorância, favorece, alimenta e desenvolve o orgulho, impondo pela estreiteza das
idéias, aos homens, aos povos, o suplício imaginado por Procusto... História raciocinada de todos
os governos, deve ser para sempre, debaixo deste aspecto, o manual de todos os políticos e de
todos os legisladores”. Continua Alfredo Gomes: “Para João Teodoro, a História se apresentava
como o arquivo da experiência humana”.
Facetas da Personalidade
João Teodoro Xavier era considerado um homem excêntrico, como geralmente o são
aqueles que estão à frente de seu tempo. Conhecido por adotar atitudes não tão convencionais,
era original e extravagante, usava calças de ganga amarela, sobrecasaca e cartola, lenço preto no
pescoço e muitas vezes ao dar audiências se enrolava em um cobertor vermelho, ou com um gato
ao colo. Gostava de trabalhar à noite e certa vez tendo que despachar durante o dia, fechou as
janelas e acendeu velas para ter a ilusão de ser noite, como bem descreve em seu já citado
trabalho Dante A. Vita, à pág. 23: ‘Ah! meu amigo. Só sei trabalhar de noite, e como agora tenho
urgência em concluir este relatório, vejo-me forçado a tomar estas precauções, que me dão a
ilusão da noite, mãe do sono, irmã gêmea e protetora do silêncio, do isolamento e da
tranqüilidade. Pode ir. Diga que o papel está entregue e que em palácio é meia noite.”
João Teodoro Xavier foi casado com D. Mauricia Fernandes Cantinho e de cujo
casamento nasceram duas filhas. Em relação a sua personalidade, era bastante reservado, não
gostava de comentar as críticas que faziam da sua pessoa. O Presidente de Província, não era
bom orador devido a problemas nas cordas vocais, coxeava um pouco, por ter sido derrubado
pelo cavalo em que estava montado, numa das práticas de equitação. Certa feita, ele declarou “ao
então vigário-geral do bispado de São Paulo, Monsenhor Joaquim Manuel Gonçalves de
Andrade: “Eu sou coxo, caminho mal, mas a cidade e a província são perfeitas e hão de caminhar
firmes, melhor e depressa”. (Alfredo Gomes, obra citada, págs, 24-25).
Quando recebia pedidos que acreditava não serem importantes, dizia que precisava ouvir
a opinião pública, que era composta por um grupo de amigos modestos e servidores: o capitão
Antonio Bernardo Quartim, empreiteiro das obras públicas; o alfaiate Mariano da Purificação
Fonseca, oficial de gabinete da Presidência; o bedel da Academia, Valeriano Neves; tipos
populares da época, como o Nhô Paulo Pica-Fumo, o Rafaelzinho, tenente-coronel dos bugres, e
Nhá Maria Café, vendedora no Mercado.
- “Não estranhe Vª. A. eu lhe explico. Tenho uma antiga convenção, ali com o cidadão
Goulartinho; ele janta todos os dias comigo, no lugar de honra, com a condição de me fazer um
discurso à sobremesa. Ora, o cidadão tem cumprido pela sua parte, até hoje, pontualmente, o
contrato, não serei eu que o infrinja, compreende Vª. A....” (em Lúcio de Mendonça em “Horas
do Bom Tempo” na obra já citada de Alfredo Gomes, às págs. 23 e 24).
João Teodoro Xavier era maçom atuante e conheceu de perto a Marquesa de Santos,
única mulher a partilhar das reuniões juntamente com alguns colegas da Faculdade de Direito,
citado por Odilon da Costa Manso em seu artigo: De ontem e de hoje “João Teodoro e a
Marquesa” “Em seu túmulo, no cemitério da Consolação, colocou-se a estrela maçônica de cinco
pontas, como bem observa o ilustre Dr. Pedro Brasil Bandeechi em uma de suas últimas obras, o
interessantíssimo livro - “A bucha, a maçonaria e o espírito liberal...” em “A Comarca” de 18 de
outubro de 1978.
Cargos Públicos
Após bacharelar-se em Ciências Jurídicas e Sociais João Teodoro Xavier foi nomeado
promotor público da capital em 1853 e procurador fiscal do Tesouro em São Paulo em 1855.
Deputado Provincial equivalia, naquele tempo, a Deputado Estadual. O voto era distrital,
isto é, alguns candidatos - poucos, podiam concorrer à eleição por determinado distrito.
Era membro atuante do Partido Conservador por tradição familiar, sendo defensor dos
ideais políticos em que acreditava: “Os homens que se vendem não têm partido algum”. “... estes
homens, máquinas de guerra (e máquinas mercenárias) não pertencem a partido algum. O motor
que os dirige é o instinto do interesse, o cálculo do egoísta, e não o ideal da política”.
Na Presidência da Província
O Dr. João Teodoro Xavier que, na década anterior, tinha sido suplente de Deputado
Provincial e depois fora Deputado Provincial em dois mandatos pelo Partido Conservador, foi
nomeado em 11 de dezembro de 1872 para a Presidência da Província de São Paulo, pelo
imperador D. Pedro II. Desde a Independência do Brasil as antigas Capitanias, que tinham sido
instituIdas quase no final da primeira metade do século XVI, passaram a ter o nome de
Províncias; e somente após a Proclamação da República, em 1889, passaram a existir os Estados
que integravam a Federação ou União.
“Ilmo. e Exmo. Snr. A Camara Municipal d’esta Cidade tem a honra de accuzar a
recepção da circular de 31 de Dezembro ultimo, em que V. Excia. lhe communicou que
no dia 21 do dito mez, perante a Carnara Municipal da Capital prestou juramento do
cargo de Prezidente d’esta província, para a qual foi nomeado por Carta Imperial de 11
daquelle mez.
Era uma manifestação de sadio orgulho, o teor desse ofício enviado pela Câmara
Municipal mogimiriana ao notável conterrâneo. Ela exteriorizava o júbilo da população não
apenas da cidade como também do ainda extenso município. Confiava em que ele teria uma
atuação expressiva e importante, enquanto estivesse no exercício daquele cargo político.
Muito embora permanecesse na Presidência da Província por um período não muito longo, ele
foi se não o melhor, um dos melhores Presidentes que a Província de São Paulo teve, no século
XIX.
Como exemplos, entre vários outros historiadores, o Dr. Eurípedes Simões de Paula
considerou, na monografia que publicou na “Revista de História” (n°. 17, págs. 167 - 79, 1954) o
período do governo de João Teodoro como uma espécie de “segunda fundação de São Paulo” e
destacou, em certo trecho, que aquele mogimiriano, “No desempenho de seu cargo imprimiu
notável impulso ao progresso da cidade, incentivando os fazendeiros e capitalistas, que
começavam a ganhar dinheiro no oeste da Província, a constituir seus domicílios temporários e
construir residências na cidade”.
Outro historiador, Affonso d’Escragnolle Taunay, assim escreveu, em certo trecho da sua
“História da Cidade de São Paulo” (Edições Melhoramentos, São Paulo, sem data): “Tornou-se
conviçção pacífica entre os paulistas que o primeiro verdadeiro e grande beneficiador de sua
capital veio a ser João Teodoro Xavier”.
E Alfredo Gomes, autor que publicou em 1967 o livro “João Teodoro” (Martins Editora,
São Paulo); além disso, na conceituação dele, o período de governo de João Teodoro foi assim
caracterizado: “é marco, é divisor é fim e princípio. Fim do sonho romântico do burgo estudantil.
Princípio da ascensão para a metrópole do café...”
Foi no período de João Teodoro como Presidente da Província de São Paulo que se
constituiu e começou a ser instalada a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Em sua
monografia “A evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da lavoura cafeeira”
(Edições do Arquivo do Estado de São Paulo, 1981, 3 edição, revista) Odilon Nogueira de Matos
salientou, neste trecho da pág. 91: “A 28 de agosto de 1873, era iniciada a construção da estrada,
que se abriria ao tráfego até Jaguari (atualmente Jaguariúna) em 3 de maio de 1875 e até Mogi
Mirim em 27 de agosto do mesmo ano, com um ramal para Amparo, também inaugurado no fim
de 1875”.
Como Presidente da Província, João Teodoro voltou-se para melhoramentos nos mais
variados setores: urbanização, com aberturas de novasvias públicas; impulso para obras de
embelezamento e saneamento; promoção de um empréstimo de 650 contos de réis para o
abastecimento de água para a cidade de São Paulo; mandou construir allguns importantes
edifícios, assim como mandou restaurar outros; ainda em seu período governamental fundara-se a
Caixa Econômica Imperial e o Monte de Socorro; foi colocada a pedra fundamental do
monumento que se erigiu no Ipiranga para comemorar a Proclamação da Independência.
Affonso d’E. Taunay escreveu, em certo trecho da pág. 206 de sua já referida obra que:
“Acontecimento de maior relevância veio a ser a instalação solene, a 3 de fevereiro do mesmo
ano, (de 1874) do Tribunal da Relação de São Paulo, corte constante de sete desembargadores”.
Era a Justiça paulista que ganhava um tribunal de segunda instância, para julgar os recursos
apresentados contra algumas decisões dos juízes de Direito das Comarcas da Província.
“A norma de direcção que sempre me guiou foi esta: em politica, os interesses superiores
e transcendentes da harmonia, confraternização e justiça; só tenho encontrado opozição
sistematica nas paixões impetuozas do egoismo contrariado ou na seita da intolerancia, fanatismo
e guerra implacavel do adversario”.
Assim se desabafa ele das oposições, críticas mordazes e até ofensas por parte de bom
número dos deputados provinciais integrantes do Partido Liberal na Assembléia Legislativa
Provincial, assim como por alguns jornais paulistanos e até mesmo de alguns jornais de cidades
interioranas paulistas.
Somente após a Proclamação da República passaria cada cidade a ter Prefeito, pois até
então Câmara Municipal, por seu Presidente, e vereadores, a Câmara administrava a cidade. Na
capital da Província, o Presidente dela quase fazia o governo executivo da municipalidade, além
de governar a Província.
Algumas das providências determinadas pelo Presidente João Teodoro Xavier foram, no setor
urbanístico: ajardinamento, pelo sistema inglês, de certas praças da capital e dotando-as de
quiosques, coretos e cascatas; diversas desapropriações, para facilitar a abertura de novas vias
públicas; calçamento com paralelepípedos e ajardinamento de alguns largos, tais como o Largo
dos Curros (depois Praça da República), da Sé, da Glória e da Misericórdia.
Em seu governo, por ato datado de 12 de fevereiro de 1874, ele dividiu a comarca
judiciária da capital em dois distritos: 1°. - sul da Sé, Brás, Penha, Conceição dos Guarulhos, São
Bernardo e Santo Amaro; 2°. - norte da Sé, Santa Ifigênia, Consolação, Itapecerica, Parnaíba e
Juqueri.
“A capital que ha tantos annos esteve entregue a si mesma e onde havia indispensaveis e
urgentes melhoramentos a realizar-se, encontrou em s. Exa. um atento observador de suas
neccessidades.
Dahi a quaze completa transformação por que tem elia passado, de hum anno a esta
parte. A abertura de novas ruas, o aformoseamento de varios logares da cidade, a construção de
importantes edificios publicos, ahi estão atestando o infatigavel zelio com que s. Exa. timbra em
preencher, de modo brilhante, a aspiração de sua terra natal e o mandato de que o investiu o
patriotico governo central”.
Tendo amigos e sendo mogimiriano, João Teodoro Xavier não se esqueceu de sua terra
natal; podemos observar alguns beneficios, como a doação de lampiões para a iluminação pública
da cidade e o empréstimo de dois contos de réis para a construção da Matriz de São José, como
consta nos trechos das seguintes atas da Câmara Municipal de Mogi Mirim:
(...)
Communicou o Sr. Prezidente que chegarão a esta cidade 64 lampeoes com braços de
ferro que foraõ dados a esta Camara pelo actual Exmo. Prezidente da Província para a
illuminaçaõ das ruas desta Cidade, e que as despezas ja verificadas importaraõ em
180$O10 rs. a saber 641 rs. com o serviço de arrecadaçaõ dos mesmos lampeoes na
capital, 82$010 rs de incaixotamento dos mesmos e frete na estrada de ferro e 34$000rs
de frete de Campinas a esta Cidade conforme os documentos que aprezentava, isto é,
dous recibos de pagamentos feitos pelo Dr. Antonio Pinheiro de Ulhoa Cintra na
importancia de 140$010 rs e as guias pagas pelo Sr. Vereador Monteiro Guedes na
importancia de 34$000 rs: havendo ainda a despeza de comissaõ ao recebedor em
Campinas, para se verificar rezolveo a Camara que o Procurador pagou as referidas
quantias ao Dr. Antonio Pinheiro d’Ulhoa Cintra e ao Sr. Vereador Monteiro Guedes
entregando-se ao mesmo Procurador os documentos para neiles serem passados os
recibos e bem assim pagar a despeza da comissaõ ao correspondente de Campinas,
ficando os ditos lampeoes sob a guarda do Procurador da Camara.
(...) (...)
Foi rezolvido que se agradeça ao Dr. Antonio Pinheiro d’Ulhoa Cintra a sollicitude pelo
bem do Serviço publico com que procurou obter a doaçaõ dos 64 lampeoes para a
iluminaçaõ das ruas desta Cidade, fazendo as despezas necessarias com o transporte dos
mesmos, e da mesma forma se agradeça ao actual Prezidente da Provincia o Exmo. sr.
Dr. Joaõ Theodoro Xavier a doaçaõ por elle feita a esta Camara dos referidos lampeoes.”
(...) (...)
(...)
Declarou o Sr. Vereador Dr. José Alves dos Santos que lhe foi entregue pelo Sr. Dr.
Francisco Alves dos Santos a quantia de R$ 1:300$000 Rs. que recebeu do Thesouro
Provincial para as obras da Matris desta cidade e suas dependencias. Deliberou a Camara
que fosse recolhida ao cofre a referida quantia, participando-se ao Thesouro Provincial o
recebimento e agradecendo-se ao Sr. Dr. Francisco Alves dos Santos.”
O Fim
“(...)
Desde muito tempo soffria o Dr. João Theodoro Xavier grave alteração em sua
saude. Uma complicação de molestias devia minar-lhe o organismo e prostrar aquelle
gigante no leito de dôr, onde passou trez meses agonisando.
(...)
(...)
O comércio paulista doou a lápide de mármore com os dizeres: “Aqui jaz o Dr.
João Teodoro Xaviei nasceu em 1°-5-1828, e falieceu em 31-10-1878. Homenagem
prestada pelo commercio”
Por iniciativa dos professores Vinícius Stein de Campos e João Luiz Ferreira Porto,
fundou-se na gestão do Sr. Prefeito Municipal Luiz Frankljn Silva, pelo Decreto n° 40.857 em 29
de setembro de 1962, pelo Serviço de Museus Históricos da Secretaria de Estado da Educação o
“Museu Histórico-Pedagógico Presidente Dr. João Teodoro Xavier”, que iniciamente ocupou
uma pequena sala hoje inexistente na Escola Estadual “Monsenhor Nora” : em 1966, passou a
ocupar duas salas no Paço Municipal; em 1971, passou a ocupar a casa de número 82 da Rua Dr.
José Alves, perto do Paço Municipal.
Por meio do trabalho incansável do Dr. Odilon da Costa Manso, iniciou-se em meados de
1975, a viabilização da concessão do antigo Fórum abandonado, pertencente à Secretaria da
Justiça, para a Secretaria da Cultura, mas somente em 19 de abril de 1991, o Centro Cultural de
Mogi Mirim entrou em atividade e a ele está vinculada a permanência do “Museu Histórico
Pedagógico Presidente João Teodoro Xavier”, onde permanece com seu acervo, rico em
documentos que atendem a pesquisadores da região toda.
“(...)
Que esta Camara ordene a seu procurador para mandar substituir o nome da rua
da boa Vista pelo nome de rua do Dr. Joaõ Theodoro = em Memoria de taõ distinto e
illustrado filho desta cidade, e bem assim como um testemunho de gratidaõ e
reconhecimento aos relevantes Serviços que prestou a Provincia durante o tempo em que
administrou-a. E tambem mais que seja Consignado na acta da presente Sessaõ, um voto
de profundo pezar por parte d’esta Camara e seus Municipes pelo passamento do mesmo
Exmo. Dr. Joaõ Theodoro = (...) Foi unanimmemente approvado =”
Em 1975, o túmulo e as cinzas de João Teodoro Xavier, são transladados para Mogi
Mirim, por iniciativa do Centro Mogimiriano de Cultura, evitando assim a possibilidade de serem
perdidos na renovação do cemitério da Consolação, com o passar do tempo. Na reportagem
publicada pelo jornal “A Comarca” de 19 de outubro de 1975, vem transcrita a ata da solenidade
de exumação dos restos mortais do Presidente da Província Dr. João Teodoro Xavier, e seus
descendentes sobrinhos-netos acompanharam os trabalhos de ixumação, assim como
autoridades.
“Termo de exumação dos restos mortais do Presidente da Província Dr. João Teodoro
Xavier em 13 de outubro de 1975.
Aos treze dias do mês de outubro de hum mil novecentos e setenta e cinco , nesta cidade
de São Paulo, Cemitério da Consolação, às dez horas da manhã, presentes as autoridades e
representantes de órgãos oficiais e entidades culturais abaixo assinados, procedeu-se com as
formalidades do estilo à exumação dos restos mortais do Presidente da Província de São Paulo
Doutor João Teodoro Xavier, em a sepultura de n° 32 da rua 10, sendo as cinzas recolhidas numa
urna de cimento a seguir entregue ao Desembargador Dr. Odilon da Costa Manso, Presidente do
Centro Mogimiriano de Cultura instituição credenciada pela Prefeitura Municipal de Mogi-Mirim
para a solenidade deste ato e que terá a seu cargo, juntamente com os representantes da cidade
que o acompanham, conduzir àquela localidade as preciosas cinzas do ilustre brasileiro, que ali
deverá permanecer “ad semper” em sua terra natal. Essa trasladação se efetiva em virtude da
doação, pela Prefeitura Municipal de São Paulo à Prefeitura Municipal de Mogi-Mirim, do túmulo
e dos restos mortais do antigo Presidente, referidos neste termo, feito. E para a todo o tempo
constar lavrou-se no ato o presente termo, feito e assinado por mim, Vinício Stein Campos,
Diretor da Divisão de Museus da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura,
Ciência e Tecnologia do Estado e subscrito por todos os presentes.
Dr. José Avila Diniz Junqueira, representando o Sr. Prefeito da Capital, Dr. Olavo Egydio
Setubal e o Sr. Secr. dos Neg. Int. e Jurídicos, Dr. Teófilo Ribeiro de Andrade Filho.
Odete Xavier
Herminio Xavier
A urna e os restos mortais, após 97 anos da morte do Presidente João Teodoro Xavier,
foram transladados para Mogi Mirim no mesmo dia, uma segunda-feira, aqui chegando ficou sob
a guarda de Cônego Carlos A. Malho, colocada em local de destaque na Igreja Matriz de São José,
aguardando o dia 22 de outubro, quando Mogi Mirim completaria 206 anos de história. A
solenidade foi simples e expressiva, com missa na Matriz de São José, e após o hasteamento das
bandeiras, com numerosas autoridades seguiu-se em comitiva até o cemitério municipal, onde se
erigiu o monumento que localiza-se em terreno nobre, fronteiro à Capela e à quadra da
Irmandade do Santíssimo Sacramento no Cemitério da Saudade, onde estão os despojos daquele
que governou o Estado de São Paulo, com inteligência perspicaz, de mente aberta, bem à frente
de sua época.
Pelo Decreto Legislativo n°. 28, de 1°. de setembro de 1977, com proposta do então
vereador Dr. Décio Mariotoni, institui-se a Medalha Presidente João Teodoro, com a qual são
homenageadas personalidades que expressam seu amor pela cidade de Mogi Mirim, perpetuando
assim a memória de nosso mais ilustre conterrâneo.
Cronologia
1828 – 1°. de maio, nascimento. 1°. de novembro, batizado na Igreja Matriz de São José em Mogi
Mirim.
1835 – Início dos estudos primários em Mogi Mirim orientados pelo Padre José Joaquim de
Oliveira Braseiros, que em 1826 tornou-se professor público da cidade.
1840 – Ficou órfão de mãe com 12 anos.
1847 – Curso preparatório, anexo à faculdade
1849 – No dia 1°. de março, com 21 anos, solicita matrícula no 1°. ano jurídico na Academia da
Faculdade de Direito de São Paulo.
1853 – Em 31 de outubro, recebeu grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela mesma
faculdade.
1853 – Nomeado Promotor Público da capital.
1855 – Nomeado Procurador Fiscal do Tesouro em São Paulo
1856 – Conquista o título de doutoi, com defesa de tese.
1860 – Em 6 de novembro, ingressou por concurso como lente substituto na Faculdade de
Direito defendendo a tese: “Podem no compromisso as partes convencionais observarem uma
forma de processo diversa daquela que a lei tem estabelecido?”
1860 – 1861 – Deputado Suplente pelo 9°. Distrito - Partido Conservador.
1862 – 1863 – Deputado pelo 3º. Distrito (pelo Partido Conservador).
1864 – 1865 – Deputado pelo 3°. Distrito (pelo Partido Conservador).
1870 – Em 23 de novembro, ascendeu a lente catedrático, como professor de Direito Natural e
Direito Internacional.
1871 – Como professor de Direito Criminal.
1872 – 1875 – Nomeado por Carta Imperial de 11 de dezembro como Presidente da Província,
tomando posse em 21 daquele mesmo mês, tendo como vice-presidente o Monsenhor Dr.
Joaquim Manoel Gonçalves de Andrade, ambos do Partido Conservador, tendo maioria na
Assembléia Legislativa Provincial. Recebe do Imperador a mais cobiçada honraria, “Oficial da
Ordem da Rosa.”
1878 – 31 de outubro, falecimento em São Paulo. Sepultamento em 1º. de novembro no
Cemitério da Consolação. Em 7 de novembro, missas em sufrágio de João Teodoro Xavier.
1962 – Por meio do Decreto n°. 40.857 em 29 de setembro, fundou-se o “Museu Histórico-
Pedagógico João Teodoro Xavier”.
1975 – Em 13 de outubro, translado do túmulo e das cinzas para Mogi Mirim, pelo Centro
Mogimiriano de Cultura.
1977 – Decreto Legislativo n°. 28, de 1°. de setembro, Instiuição da “Medalha Presidente João
Teodoro Xavier” e criação do Conselho de Honraria, ao qual compete escolher as personalidades
que serão agraciadas com aquela condecoração.