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...e já não existem pontos de partida, já só existem
encruzilhadas. Lugares no tempo em que somos confrontados
com escolhas. Momentos decisivos. Parar, voltar para trás ou
simplesmente sair do caminho. Ou podemos dar o passo que
falta e seguir em frente, rasgar um percurso, sem certezas,
mas tentar. Tudo foi já iniciado. Há muito. Conhecemos já
demasiado bem a estrada para a inventar de novo. Mas
podemos inventar o que falta, preencher os espaços em
branco, sonhar mais um pouco. Podemos escolher fazê-lo. E
por alguma estranha razão existem mesmo alguns loucos,
muitos mesmo, que se atrevem a arriscar o novo, o não
experimentado. Há quem goste de provar que tudo é
inflamável. Há quem tropece, claro, ninguém disse que ia ser
fácil, consta até que era é será impossível. Sendo assim,
devemos estar a sonhar acordados, de olhos bem abertos,
porque estas palavras, esta revista, este sonho, parecemnos
bem reais. São a nossa escolha na encruzilhada, são o
nosso passo em frente. Cada artigo reflecte também esse
tema. Esse desejo de ir mais longe. Ou, ao menos, o de traçar
um rumo próprio, apontar outras direcções. Pequenas
(r)evoluções que fazem a diferença.
...e já não existem pontos de partida, já só existem
encruzilhadas. Lugares no tempo em que somos confrontados
com escolhas. Momentos decisivos. Parar, voltar para trás ou
simplesmente sair do caminho. Ou podemos dar o passo que
falta e seguir em frente, rasgar um percurso, sem certezas,
mas tentar. Tudo foi já iniciado. Há muito. Conhecemos já
demasiado bem a estrada para a inventar de novo. Mas
podemos inventar o que falta, preencher os espaços em
branco, sonhar mais um pouco. Podemos escolher fazê-lo. E
por alguma estranha razão existem mesmo alguns loucos,
muitos mesmo, que se atrevem a arriscar o novo, o não
experimentado. Há quem goste de provar que tudo é
inflamável. Há quem tropece, claro, ninguém disse que ia ser
fácil, consta até que era é será impossível. Sendo assim,
devemos estar a sonhar acordados, de olhos bem abertos,
porque estas palavras, esta revista, este sonho, parecemnos
bem reais. São a nossa escolha na encruzilhada, são o
nosso passo em frente. Cada artigo reflecte também esse
tema. Esse desejo de ir mais longe. Ou, ao menos, o de traçar
um rumo próprio, apontar outras direcções. Pequenas
(r)evoluções que fazem a diferença.
...e já não existem pontos de partida, já só existem
encruzilhadas. Lugares no tempo em que somos confrontados
com escolhas. Momentos decisivos. Parar, voltar para trás ou
simplesmente sair do caminho. Ou podemos dar o passo que
falta e seguir em frente, rasgar um percurso, sem certezas,
mas tentar. Tudo foi já iniciado. Há muito. Conhecemos já
demasiado bem a estrada para a inventar de novo. Mas
podemos inventar o que falta, preencher os espaços em
branco, sonhar mais um pouco. Podemos escolher fazê-lo. E
por alguma estranha razão existem mesmo alguns loucos,
muitos mesmo, que se atrevem a arriscar o novo, o não
experimentado. Há quem goste de provar que tudo é
inflamável. Há quem tropece, claro, ninguém disse que ia ser
fácil, consta até que era é será impossível. Sendo assim,
devemos estar a sonhar acordados, de olhos bem abertos,
porque estas palavras, esta revista, este sonho, parecemnos
bem reais. São a nossa escolha na encruzilhada, são o
nosso passo em frente. Cada artigo reflecte também esse
tema. Esse desejo de ir mais longe. Ou, ao menos, o de traçar
um rumo próprio, apontar outras direcções. Pequenas
(r)evoluções que fazem a diferença.
Em ba ixada d e Portuga l e m Brasl i a R i c a rd o
G o r d o n
Braslia, cidade utpica concebida no papel.
paradigma do Movimento moderno, surgiu na tbua rasa do planalto central do territrio bra sileiro, aps una gnese longa de sculos que encontrou no plano de Lcio Costa o seu corpo, traando no solo o sinal da cruz. Este ancestral acto de fundao, de mar car a presena humana no lugar, remetido para o surgimento das primeiras cidades coloniais portuguesas - a efemride da sua inaugurao coincide com o achamento das terras de Vera Cruz pela armada de Cabral. Duplamente simblica (da identificao da conscincia da nao brasileira e dos princpios urbansticos expressos na carta de Atenas). Bra slia, classificada pela UNESCO como Patrimnio da Humanidade, runa nascena, hoje uma jovem cidade de 40 anos. O Lote de Portugal, o maior de entre os Lotes destinados a embaixadas ( 1 50 x 250 m) , situa-se no Sector de Embaixadas Sul e desenvolve-se na direco E-W, paralelamente ao eixo monumen tal, ladeando a esplanada dos ministrios. A implantao do complexo da Residncia da Embaixada feita no topo nascente, no extremo oposto ao ocupado pelo edifcio da Chancelaria (arq. Choro Ramalho) . fornecendo um pano de fundo Praa de Portugal. Se aparentemente o edifcio assume a escala e os contornos correntes nas construes de Braslia ( 1 50 x 35 x 20 m - crcea mxima), pre tende alcanar dimenses de ndole mais ambi ental e fenomenolgica. A interveno no terreno passa pela con cepo de uma plataforma trrea que se estende precisamente at meio do comprimento do lote, uma espcie de exerccio Land ari, que con siste em arar o solo, fazendo a marcao de fai xas E-W de 5 m de largura, numa interpretao -aproximao infinitesimal do suave declive
Eixo Monumental de Braslia.
natural do terreno no sentido N-S, formando
uma pauta (no imposta ao terreno, mas dele emergente) que servir de referncia constru o do projecto. A sua sucesso ritmada reforar o movi mento linear N-S a toda a largura do Lote corporizado pelo edifcio, evoluindo no sentido E-W numa gradao de ambientes distintos. No se pretende encontrar um ponto de interseco esttico e preciso, mas sim atomiz - lo, tornando -o abstracto, tridimensional e omnipresente. Os trinta metros que afastam a fachada nas cente do limite do lote com a Praa de Portugal, pavimentados com paraleleppedos de granito, libertam espao fsico para o espao mental da fachada. Ao ambiente a cu aberto e totalmente desobstrudo desta faixa, dominada pela pre sena ptrea do pavimento e da fachada, ora banhadas de luz da alvorada ora em contraluz ao entardecer, sucede-se, ao atravessar a espes sura (5m) do volume construdo adossado fachada principal, o espao-tnel (cujos topos
N e S so abertos) abrigado e semi-obscurecido
pelo invlucro exterior de painis-gelosias de madeira. As faixas de pavimento exterior deslizam por sob o volume do edifcio, reforando a fluida e permevel relao espacial proporcionada pelos amplos vos entre os ncleos de apoio da fachada, recortando caldeiras em torno dos troncos de rvores e macios vegetais que bro tam do solo, buscando verticalmente a luz. Detm-se abruptamente assim que voltam a surgir no exterior, para dar lugar a um plano entrecortado de gua em movimento, transbor dando suavemente de tanque em tanque (na verdade um nico tanque seccionado por lajes de pedra ao cutelo) por entre macios de vege tao aqutica, sobrevoado por capilares ram pas e passadeiras de beto imersas na luz rever berada pelos espelhos de gua, unindo o interior da nave ao interior do Lote. Apenas as duas faixas pavimentadas junto aos limites N e S se prolongam, unindo-se na praa de entrada da Chancelaria e permitindo assim um percurso pedonal e rodovirio junto ao permetro do lote. A transio para o jardim da Chancelaria feita mediante a interposio de uma ltima faixa construda paralelamente ao edifcio, entre os planos de gua e o eixo do Lote. De topografia mais fragmentada e intimista, o j ardim formal inclui o campo de tnis, piscina e respectivas instalaes de apoio e ainda o edi fcio das reas tcnicas (posto de transformao, grupo de emergncia, garagem/ oficina, chillers, centrais de bombagem e reservatrios de gua) .
A natureza dplice do programa de um edi
fcio- residncia de uma misso diplomtica encontra-se bem expressa nos alados que o edifcio exibe ora praa de Portugal, ora ao interior do lote.
Braslia.
Opaco e impenetrvel, o alado nascente
empresta praa de Portugal uma dimenso abstracta, se bem que eminentemente humana, apostando numa ruptura de escala com o obser vador para criar um espao de distenso mental. Para tal contribui a extenso do plano a toda a largura do lote, como se fizesse parte de um fluir ininterrupto de memria (uma pelcula de filme cortada arbitrariamente em dois pontos), o ritmo desigualmente espaado (contrastante com as faixas da plataforma trrea) dos vos entre os volumes em que se apoia e as extensas consolas ( 1 5 e 20 m) que se soltam no ar a cada um dos extremos. Se a sua face pblica contm inevitavel mente algo de monumental e supra individual, o alado sobre o jardim, transparente e radiograf vel, apenas lana um vu de sombra (a radiao directa por vezes mais intensa em Braslia do que a igual latitude ao nvel do mar) sobre a
atmosfera intimista vivida no interior, concebido
como um osis de vegetao exuberante no clima semi-desrtico de Braslia. A presena sensorial da gua (existente em abundncia no subsolo de Braslia, prev-se a sua captao artesiana para abastecimento dos tanques e dos sistemas de rega e nebulizao) exercer um papel primordial na experincia fenomenolgica que se pretende venha a cons tituir a vivncia interna do edifcio. Em unssono com a cambiante luz zenital, fil trada pelo ripado de madeira da cobertura e do alado poente, as instveis partculas de luz reflec tidas pelos planos de gua da cachoeira cru zando o espao sombreado em movimento ascen sional atravs do emaranhado da odorfera vege. tao, humedecida por volteis gotas nebulizadas e dos envidraados dos edifcios em suspenso, acentuam a unidade do espao interior, apelando ao que h de primordial no sentido de habitar do
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indivduo - a casa como <<lugar de andar nu de
corpo e alma e como abrigo, inveno do homem para se proteger do mundo exterior. Metfora da contiguidade entre homem e natureza, o edifcio ensaia uma fuso entre natu ral e artificial, explorando a ambiguidade das fronteiras entre ambos, celebrando um processo longo de quinhentos anos que consiste na cons ciencializao pelo Homem da finitude do seu planeta.
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A procura de clarificao espacial e de sim
plicidade conceptual conduziu ideia de uma equivalncia volumtrica entre os corpos areos a incluir na caixa torxica do edifcio da residn cia. Para tal, a rea de recepes foi desdobrada em dois mdulos (de recepes e de banquetes, idnticos entre si, de dimenses idnticas aos da habitao da famlia e dos convidados e como eles cruzando transversalmente o espao inte rior) enformando um espao claustro, atraves sado por pequenas pon tes metlicas e dominado pelo gabinete-observatrio do embaixador. A vantagem de aglutinar o mximo de espa os programticos de servios de apoio num nico corpo adossado ao tardoz da fachada sobre a praa de Portugal surgiu como bvia, abrindo caminho criao de uma ponte-aque duto de servios e redes de instalaes (com dois pisos e apenas quatro pontos de apoio no solo contendo acessos verticais, espaos tcnicos e de armazm) linear e compacta, permitindo uma simplificao funcional extrema das reas de recepo e banquetes e a obteno de um mximo de volume livre no interior do invlu cro, conseguindo-se assim uma relao equili brada entre volumes construdos, espaos vazios e macios vegetais. Simtrico em relao a este corpo, percorrendo todo o comprimento da fachada poente,
estende-se um varandim de 4m de largura
( cota das laje de pavimento dos mdulos das recepes e do piso 1 dos volumes da habitao e de convidados) que se constitui como uma linha de festo dominando a um tempo o espao contido do invlucro e o espao horizontal do jardim. A sua eminente condio de dispositivo de conexo, unindo linearmente os diversos quatro volumes soltos no espao da nave e arti culando-os (atravs de escadas no interior e de rampas em beto sobre os tanques no exterior) com a plataforma trrea e a plataforma do jar dim formal, acresce a sua vertente de interface ldico de permanncia / promenade, suspensa entre um interior frondoso de sombreamento quase tctil e um exterior luminoso e aqutico. no espao-tnel contido pelo paralelismo antagnico e arritmado das duas fachadas (e suas respectivas apropriaes lineares) , e pela progresso (personificada p elo movimento ascensional da vegetao) entre a densidade matrica da plataforma trrea e a rarefaco da cobertura-filtro, que se alojam (a uma mesma cota e donde a diferentes alturas da plataforma) , os evanescentes corpos albergando as restantes reas programticas, como se trazidos a posteri ori para o mago de um rectngulo de floresta por um fluxo N-S, catalizador de uma dissoluo na natureza. A fluidez da relao interior/ exterior (no interior do invlucro) traduziu-se numa esttica de desapario ou despojamento quase minimalista, conduzindo ao emprego de gran des superfcies envidraadas ou criao de varandas corridas ao longo dos flancos dos pavi lhes, expondo em vivisseco as actividades e o ambiente interiores. Apoiados no rgido beto estrutural dos ncleos de suporte do corpo dos servios, os qua tro corpos (recepes, banquetes, habitao da famlia e convidados) amarram na extremidade . oposta nos montantes dos prticos (espaados de
Maqueta do edifcio da residncia do Embaixador
de Portugal em Braslia. Perspectiva vista da Praa de Portugal. Fotografia de Eberhardt Schebl.
o edifcio visto a partir do jardim, no interior do
lote (maqueta). Fotografia de Eberhardt Schebl.
Vista geral da maqueta. Fotografia de Eberhardt
Schebl.
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7S
5 m e compostos por perfis de ao core- ten lami
nado) que estruturam o invlucro exterior. Os corpos das recepes, cujos pavimentos so suspensos mediante tirantes metlicos de vigas trelia espaadas de 10 m, vencem todo o vo de 30 m sem tocar a plataforma trrea. Estas vigas, inteiramente forradas a chapa de ao core-ten e com altura correspondente ao segundo piso dos restantes corpos, encerram uma sucesso de lanternins/ caixotes revesti dos interiormente com acabamentos diversos, trazendo at ao impondervel espao interior, apenas sustido pelo soalho de madeira de ip (uma vez que sob as vigas existe um envidraado de igual comprimento) , auras luminosas de dife rentes matizes e intensidades. A face inferior dos caixotes integra faixas de iluminao artificial difundida por vidros despolidos, enquanto as vigas incluem no seu forro a tubagem das instalaes de clima tizao. O acesso rea de recepes feito em pri meiro lugar p ela rampa (localizada no espao arborizado de maior comprimento - 40 m - o que corresponde ao vo livre entre os dois apoios do corpo de servios fronteiro entrada pela Praa de Portugal) , que se solta progressi vamente da plataforma, elevando-se num movi mento espiralado roando as rvores at ao patim-bandeja que leva directamente ao trio. A este trio pode ainda aceder-se pelo ascensor includo no ncleo de acessos em que apoia o corpo contendo o salo de recepes ou subindo a escada situada no claustro e que se desenvolve paralelamente s varandas/ponte. Tal como estas unindo os dois sales (ban quetes e recepes) , as lajes fornecidas pelo corpo de servios permitem a ligao coberta entre as zonas do trio pertencentes a cada um dos corpos. Os corpos da habitao da famlia e dos con vidados so servidos por ncleos de acessos ver-
ticais com ascensor e escada de servio, e ainda
por um ncleo de escadas contidas por um volume envidraado que perfuram o bojo de cada um dos corpos. Em busca de privacidade, distanciam-se dos corpos das recepes, aproximando-se dos topos abertos a norte e sul, mas preservando distncias em relao ao limite do lote (20 m a N e 1 5 m a S) de molde a permitir a existncia de macios vegetais actuando como filtros protec tores em relao ao exterior. A norte, a habitao da famlia encontra-se mais rente plataforma trrea (que aqui atinge a sua cota mxima), elevada apenas cerca de 2,5 m, o que conferir uma acessibilidade facili tada ao nico corpo habitado em permanncia e que engloba na sua rbita uma vivncia directa (possivelmente quotidiana) do jardim formal e seus equipamentos. A sul, o corpo dos convidados , presumi velmente, o de utilizao mais espordica e tam bm o mais recatado, distanciando-se 4,5 m da plataforma trrea e do bulcio ainda mais lon gnquo da cidade. A concepo dos dois corpos assenta em princpios tambm idnticos. No se trata de volumes com contornos rigi damente definidos, antes de uma sobreposio de trs planos horizontais (lajes) onde os volu mes e planos verticais opacos que subdividem o espao esto sempre recuados em relao aos bordos (como o deck de um navio cercado pela amurada), Ladeados ora por varandas corridas (unindo o corpo de servios e o varandim) debruadas sobre os ';ptios interiores arbori zados, ora por corredores de distribuio (que por vezes se diluem nos espaos que sequenci almente encadeiam) onde vos de correr envi draados alternam com painis fixos e opacos de madeira, entrecortando a transparncia abso luta sobre os macios arbreos a cada um dos topos.