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A penria foi indescritvel, e por efeito dela, foi mister recorrer ao que
tinha escapado devastao.
Ora, o que tinha escapado, limitava-se escravatura, porque reservas
pecunirias, ningum as tinha, ou se algum as possua, fora
obrigado a gast-las durante a seca, e as terras, que com os gados e
os escravos constituam toda a fortuna do povo cearense, no tinham
o menor valor, visto como todos precisavam vend-las e, portanto,
no havia quem as procurasse.
O recurso, pois, em tal emergncia, consistia na venda dos escravos,e
todo o pas sabe como de 1846 em diante a escravatura do Cear
afluiu aos mercados do sul do Imprio numa proporo espantosa.
A provncia ficou despovoada de escravos.
Parece-me estar ouvindo os nossos fazendeiros do sul exclamarem
nos mpetos de sua comiserao pelos seus infelizes irmos do Cear:
Pobre Cear! Como viver-se assim sem escravos? Como lavrar as
terras, como manter sem negros as fazendas de criao?!
De 1845 a 1869 vo 24 anos, e nesse perodo, do qual se devem
abater uns 5 anos, durante os quais ainda no tinha desaparecido a
escravatura na provncia, a fortuna blica e a particular tm,
milagrosamente, crescido no Cear.
A indstria de criar tem hoje propores muito superiores, e a lavoura
tem prosperado espantosamente.
Centros importantes, que antes definhavam, depois da expulso dos
escravos, tm atingido o maior grau de prosperidade.
Inmeros fazendeiros, que mal fazia para sua manuteno, esto hoje
ricos, a par de outros que se tm estabelecido depois da grande
revoluo.
Desse aumento da fortuna particular, proveio o aumento do comrcio
da provncia, pela permuta em larga escala, e a elevao da renda
geral, que sobe hoje perto de 2,000:000$.
Como se operou essa metamorfose? Como de um fato de que parecia
no deverem resultar seno conseqncias funestas, surtiu, como de
uma fonte milagrosa, torrentes de tanta prosperidade?
Essa metamorfose, essa transformao feliz de uma populao pobre,
quase indigente, pela inrcia, em um povo rico pelo trabalho, foi a
conseqncia da substituio do trabalhador escravo pelo trabalhador
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ao
progresso
material,
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Dr. Bezerra
Rio, 10 de maro de 1869.
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