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porque, para entendermos o papel da educação na sociedade capitalista, faz-se

preciso compreender o mundo do trabalho e como essa categoria (Trabalho) é


AS DETERMINAÇÕES ESTRUTURAIS DA (CONTRA-)REFORMA mantida e organizada sob o jugo do Capital dentro do modo de produção
UNIVERSITÁRIA capitalista.

a) Entendendo o Mundo do Trabalho

Henrique Gonçalves Dantas de Medeiros Para permitir um melhor entendimento das razões materiais que
determinaram o processo de reestruturação universitária e transformações
25 de março de 2010 curriculares nos últimos anos, é preciso dominar minimamente as formas como o
Trabalho vem sendo historicamente organizado dentro do modo de produção
capitalista.
1. A Educação e o Mundo do Trabalho Tal sistema caracteriza-se pela produção em larga escala de mercadorias.
Uma mercadoria é qualquer coisa que detenha um valor de troca e, no mercado,
O discurso corrente dentro de nossa sociedade coloca de forma usual a
possa ser permutado por outra(s) mercadoria(s). Assim, uma mercadoria pode ser
educação simplesmente como um processo de transmissão de saberes (científicos,
uma caneta, um navio, a força de trabalho de um trabalhador ou um serviço
religiosos, morais, etc) às gerações seguintes, ganhando em nosso país nas últimas
qualquer, como um procedimento médico ou o sexo. Basta, para tanto, que haja um
décadas o status de “salvadora” da nação. O senso comum, alimentado
mercado em que as mercadorias possam ser trocadas.
constantemente por figuras públicas ligadas às classes dominantes, costuma
afirmar que “sem educação, o país não vai para frente”, ou que “o Brasil não se Outra marca desse modo de produção é o desenvolvimento da Indústria.
desenvolve porque não investe em educação”. De modo simples (a intenção não é aprofundar essa temática), Indústria é toda
atividade humana organizada que, através do Trabalho, transforma matérias-primas
De fato, é inegável o papel que a educação cumpre ao garantir que os
em outros produtos com maior valor agregado. Também se pode usar o termo
conhecimentos elaborados e sistematizados no passado cheguem ao presente e
Indústria, de modo geral, para qualquer grupo de empresas que compartilham um
possibilitem a produção de novos conhecimentos e tecnologias que permitam ao
método comum de gerar dividendos, embora não sejam necessariamente do
ser humano desenvolver os meios necessários à sua segurança e conforto diante da
chamado segundo setor, tais como a indústria do entretenimento, a indústria da
natureza. Porém tais assertivas mascaram os reais determinantes do
saúde, a indústria da educação; basta para isso que a fórmula do Capital desvelada
subdesenvolvimento e dependência econômica de nosso país, os quais são
por Karl Marx gire nessa área.
econômicos e políticos. Falaciosamente, também sugerem que tais benesses e
confortos gerados por esse desenvolvimento estão à disposição de todos e todas,
quando na verdade estão ao alcance de uma minoria. Além disso, ao revestir a
educação de uma falsa neutralidade, escondem o papel que a escola desempenha A característica principal dessa fórmula é a extração da mais valia: a força
na legitimação da ordem econômica, política e social vigente. de trabalho, única coisa que o trabalhador pode trocar para sobreviver, é uma
mercadoria que detém um certo valor representado pelo salário; contudo essa
Tais aspectos, contudo, só são passíveis de percepção a partir da mercadoria é a única capaz de gerar valor através do trabalho, da transformação da
compreensão de que vivemos numa sociedade separada em classes, em que a matéria-prima em outro produto, ou seja, trata-se de um valor de troca capaz de
riqueza produzida socialmente é apropriada de forma privada por uma minoria. Eis
gerar outros valores de troca, os quais são quantitativamente maiores do que o iniciativa dos trabalhadores com promoções, ganhos salariais e outras benesses.
próprio valor de troca da força de trabalho representado por seu salário. Esse valor Assim, elaborou um método cuja idéia central é o Estudo do Tempo.
a mais, ou mais-valor ou mais-valia é apropriado pelo dono dos meios de produção
(das ferramentas de trabalho, das máquinas, etc) e constitui a fonte de seu lucro e O objetivo é conseguir todo o empenho, concentração e habilidade com o
da exploração dos trabalhadores. menor desgaste físico dentro do menor tempo possível. Para isso, as tarefas e
responsabilidades de cada operário seriam subdivididas ao máximo, ao nível de
gestos físicos (como o Chaplim apertando parafusos), para as quais seriam
Ao longo do desenvolvimento histórico do capitalismo, desde o realizadas estudos do tempo mínimo a partir dos operários mais experientes,
surgimento das corporações de ofício aos dias atuais, a atividade industrial evoluiu buscando-se uma uniformização com o treinamento dos demais operários e a
de artesanal, à manufatureira e, com a revolução industrial, à fabril. Especialmente elaboração de ordens e fichas com especificações quantitativas da produção.
nesse último estágio, o Trabalho foi organizado de maneiras as mais diversas, com
vistas a cumprir o papel de produção de mercadorias com máxima extração de Assim, dá-se um aumento no controle do ritmo de trabalho e a sua
mais-valia. O século XX viu nascer métodos de otimização produtiva e controle do intensificação com vistas ao aumento da taxa de exploração da mais-valia e
Capital sobre o Trabalho cada vez mais intensos e adaptados a cada momento aprofunda-se dois processos que já vinha ocorrendo ao longo do desenvolvimento
histórico. Pretende-se aqui esboçar sutilmente algumas idéias mais gerais sobre o do Capital, que são a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual (à medida
Taylorismo, o Fordismo e o Toyotismo. que as gerências se apropriam dos conhecimentos dos trabalhadores e os
desenvolvem para aumentar a qualidade e a produtividade) e a alienação completa
I – O Taylorismo / Fordismo do trabalho manual a partir de uma super-especialização.

O Taylorismo foi uma forma de organização do trabalho que recebeu esse Henry Ford (1862 – 1947), por sua vez, vai incorporar e desenvolver os
nome em referência ao seu idealizador Frederick Winslow Taylor (1856-1915), mecanismos tayloristas e, em substituição aos homens no transporte dos materiais
considerado hoje como o “Pai” da administração científica, que buscou e objetos de trabalho, vai incorporar as máquinas automáticas (como as esteiras).
sistematizar diversas experiências já existentes de organização fabril sob um olhar Desse modo, se no sistema taylorista a intensificação do trabalho se dava via
de cientificidade na transição do século XIX para o XX. controle pela cronometragem dos tempos de operação, no fordismo é a velocidade
automática da linha de produção que determina ao trabalhador o seu ritmo de
Taylor percebeu que a capacidade produtiva de um trabalhador era quase
trabalho.
sempre inferior à sua produtividade real, e que isso devia-se tanto por uma
constante troca de operações, de ferramentas, deslocamentos, etc; quanto pela Basicamente, a idéia fundamental do sistema taylorista/fordista, como
“queima de tempo” intencional praticada pelo trabalhador como forma de nos referiremos a ele daqui em diante, é elevar a especialização das atividades de
resistência ao crescente emprego de máquinas, o qual tornava cada vez mais trabalho a um nível de limitação e simplificação tão extremos que, a partir de um
escassa a necessidade de trabalho humano; assim o operário buscava proteger seus certo momento, o operário torna-se efetivamente “um apêndice da máquina”.
conhecimentos e seu salário controlando o tempo de produção de mercadorias, (PINTO, 2007)
fundamental diante da concorrência entre empresas.
Essa forma de organização do trabalho, por sua vez, sempre esteve
Taylor discordava da maneira como os administradores e supervisores associada a um baixo nível educacional e profissional dos trabalhadores, já que as
praticavam o controle do processo produtivo, os quais buscavam ganhar a tarefas estavam reduzidas a uma simplicidade quase pueril. Isso trazia como
reflexo no campo da educação superior, especialmente no mundo subdesenvolvido,
um formato voltado apenas a atender às necessidades das classes dominantes, com 3. Baixos preços finais, obtidos graças (entre outras coisas) pela capacidade
sérias restrições ao acesso da classe trabalhadora. Cabia à universidade de maneira ociosa mínima dos trabalhadores;
geral repassar, produzir e sistematizar o conhecimento aos filhos da elite
4. Entrega rápida e precisa.
econômica e política de modo a garantir a estes as habilidades necessárias ao
controle do processo produtivo, do aparato jurídico, e das demais formas de
legitimação da ordem vigente, como a própria medicina, como será abordado mais
adiante. Desse modo, torna-se um empecilho a produção em série em larga escala,
baseada em grandes contingentes de trabalhadores super-especializados e semi-
Daí provém o caráter elitista e anti-democrático da Universidade brasileira. qualificados. Eis então que se apresenta o sistema toyotista, desenvolvido por
Porém, esta vem sofrendo profundas mudanças, reflexos da reestruturação Taiichi Ohno na Toyota Motor Company.
produtiva ocorrida nas últimas décadas a partir do chamado Toyotismo.
De fato, entre a miríade de detalhes relativos à sua constituição original
II – O Toyotismo em solo japonês, o sistema toyotista de organização tinha como fundamento uma
metodologia de produção e de entregas mais rápidas e precisas que os demais,
No período pós-guerra o sistema Taylorista/Fordista vive seu apogeu até associada justamente à manutenção de uma empresa “enxuta” e “flexível”. Isso
entrar em crise na década de 1970, em virtude dos desequilíbrios cambiais e era obtido pela focalização no produto principal – gerando desverticalização e
comerciais das economias nacionais frente à alta dos preços do petróleo promovida subcontratação de empresas que passavam a desenvolver e a fornecer produtos e
pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e da política de atividades -, com utilização de uma força de trabalho polivalente – agregando
valorização e desvalorização do dólar promovida pelos EUA. Além disso, o em cada trabalhador atividades de execução, controle de qualidade,
manutenção, limpeza, operação de vários equipamentos simultaneamente,
contexto era de crescente autonomia do setor financeiro frente aos Estados,
entre outras responsabilidades. (PINTO, 2007; o destaque é nosso)
deslocando investimentos do setor produtivo real (o industrial) para o especulativo,
e de crescimento no consumo de serviços frente ao consumo de bens nas É nesse aspecto polivalente do trabalhador que quero aqui me deter para
economias centrais. não sair do foco desse trabalho. Tal aspecto passou a ser necessário devido a uma
reformulação no espaço fabril a partir da celularização, ou seja, da organização dos
Esse quadro macroeconômico instável arrefecia o investimento no setor
postos de trabalho em conjuntos abertos, as células de produção (em contraposição
industrial que, diante da concorrência com os setores de serviço e do baixo
aos departamentos fechados do fordismo). Nelas uma equipe de trabalhadores pode
crescimento, alterou suas estratégias de produção em larga escala de produtos
alternar-se em seus postos conforme as metas exigidas a partir das encomendas,
uniformizados para a de crescente agregação tecnológica, maior qualidade e
com a presença de um líder responsável por garantir o pleno funcionamento dos
personalização de seus produtos.
postos de trabalho assim como a comunicação entre as células e a administração da
Para tanto fazia-se necessário: empresa.

1. Capacidade de produzir diferentes modelos de produto em curto período de


tempo, mantendo-se ou não em larga escala;

2. Alto índice de qualidade dos produtos, diminuindo o retrabalho e, assim, os


custos;
A celularização substituiu o formato retilíneo dos postos de trabalho em Tendo em vista a mudança no perfil do trabalhador no chão da fábrica, que
série do agora passa a ter múltiplas funções dentro de sua célula de produção, e da políticas
neoliberais implementadas nos últimos anos, o Capital passa a exigir um novo
formato educacional para suprir suas necessidades. É o que veremos a seguir.

b) Entendendo o papel atual da Educação Superior

Pode-se abordar as mudanças ditadas à Educação Superior pelo Capital em


duas frentes: uma primeira diz respeito ao processo de privatização e
mercantilização desse setor, e uma outra, ao processo de mudança nos projetos
político-pedagógicos dos cursos, visando a atender a um novo perfil de trabalhador
à serviço do mercado.

Taylorismo/Fordismo por uma configuração semelhante a uma linha sinuosa As necessidades da acumulação capitalista determinaram aos Estados, nas
composta de sucessivas células, conforme ilustra a figura ao lado: três últimas décadas do século XX e nos primeiros anos do XXI, uma redução de
seus espaços de atuação para que estes fossem ocupados por empresas
privadas. A transmutação dos espaços públicos em espaços de apropriação
privada e de lucratividade efetiva-se, fundamentalmente, por duas formas de ação
Diante dessa modificação no setor produtivo configurou-se uma mudança do Estado: oferecimento de seguros e serviços em substituição aos direitos do
no arcabouço político-jurídico-institucional dos Estados Nacionais, com profundas mundo do trabalho e às políticas sociais e a privatização das empresas estatais
alterações nas políticas econômicas e sociais, conformando-se assim o chamado construídas com recursos provenientes do fundo público que são entregues ao
Neoliberalismo. Assim, enquanto o taylorismo/fordismo tinha como roupagem o capital por preços bastante inferiores aos preconizados até mesmo nas “leis de
chamado Estado de Bem-Estar Social nos países centrais, o Toyotismo terá nas mercado”. (ANDES, 2004; destaques nossos)
políticas neoliberais a sua faceta política, com a desregulamentação dos mercados
Dessa forma, pode-se compreender o que significam as ditas “reformas”
e das barreiras comerciais, das relações trabalhistas e das antigas relações entre
(ou seriam contra-reformas?) que se tentam implementar em setores como a saúde
público e privado.
e a educação. Especificamente a esta, a contra-reforma tem como uma de suas
Ao ser incorporado pelas economias periféricas, novamente na forma de principais fundamentações (...)“a educação como bem público”. Esta concepção
“modelo” de desenvolvimento político, econômico e social, tal regime resultou oportuniza a defesa da seguinte argumentação: na medida em que as instituições
num agravamento das crises econômicas e sociais preexistentes. No Brasil, por públicas e privadas prestam um serviço público, justifica-se a alocação de verba
exemplo, culminou numa implantação vasta e profunda da doutrina neoliberal no pública para instituições privadas (Programa Universidade para Todos1),
Estado na década de 1990, a qual persiste até os dias atuais impondo: à classe diluindo os conceitos de público e privado e retomando a noção de público não-
trabalhadora, de um lado, a precarização dos serviços públicos e a flexibilização estatal de Bresser Pereira2-FHC (ANDES, 2004).
de seus direitos, mediante o aumento da informalidade e do desemprego estrutural;
ao empresariado nacional, de outro, uma posição subalterna na divisão
internacional do trabalho, com a manutenção de acordos predatórios fundados em
1
políticas monetaristas, ditadas por organismos de controle financeiro PROUNI, programa pelo qual o Estado financia a matrícula de
internacionais. (PINTO, 2007) estudantes carentes em faculdades privadas, em detrimento da
universidade pública.
Dessa concepção e das políticas como PROUNI é que foi possível o Bolonha, pelo qual busca-se uma uniformização da educação superior em âmbito
crescimento avassalador dos chamados tubarões da educação, grupos empresariais mundial, visando a atender às empresas transnacionais, com braços estendidos
enormes, alguns dos quais ligados a grupos internacionais, num claro processo de sobre diversas nações e que necessitam de força de trabalho com qualificação
transnacionalização da educação (em Natal, isso pode ser exemplificado pela uniforme em qualquer desse países.
Universidade Potiguar, instituição privada hoje ligada a Laureate International
Universities). Em conseqüência disso, além do desrespeito às diferenças culturais, tem-se
uma formação superior curta e não profissionalizante (como um “fast-food de
Quanto ao aspecto do perfil profissional formado tem-se uma clara política diplomas”), que busca gerar uma massa de trabalhadores menos despreparados do
de reorientação curricular, especialmente em cursos da área tecnológica, com o que aqueles com apenas o ensino médio, que dominem aspectos mínimos do
objetivo de atender ao perfil polivalente requisitado no setor produtivo do Capital, conhecimento científico, mas que não são de fato engenheiros, nem sociólogos,
afinado ao modelo Toyotista. nem professores, etc, estando à mercê do Capital como um exército industrial de
reserva para pressionar para baixo os níveis salariais nos diversos setores.
Para tal, propõe a constituição de um ciclo básico cujo objetivo é o
fortalecimento das “capacidades de compreensão e de expressão oral e escrita Fica evidente assim, que a formação massificada de generalistas a partir de
assim como de conceitos de ciências em geral”. A flexibilização dos currículos de
graduação parte da constituição deste ciclo inicial de dois anos (estudos uma formação minimalista busca cumprir o papel de fornecer a força de trabalho
universitários gerais) com certificação própria. (ANDES, 2004, destaques polivalente requisitada pela atual forma de organização do trabalho, o Toyotismo.
nossos). O generalismo, bandeira histórica dos movimentos e organizações políticas
progressistas, apresenta-se agora, ainda que de forma distorcida, à serviço dos
interesses capitalistas. Isso coloca um dilema para a esquerda, a qual sempre
Esse é o modelo que vem embutido em programas como Universidade
defendeu uma educação que se contrapusesse à super-especialização como forma
Nova (elaborado e implementado pela reitoria da Universidade Federal da Bahia) e
de enfrentar a alienação dos processos de trabalho, e põe em evidência que a
REUNI3 (herdeiro do primeiro), quando estes apontam a criação dos chamados
defesa do generalismo pelo generalismo é estéril e traiçoeira, que existem
bacharelados interdisciplinares (como o de Ciência e Tecnologia, criado esse ano
concepções de generalismo em disputa.
na UFRN).
2. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Diversificação das modalidades de graduação, preferencialmente não voltadas à
profissionalização precoce e especializada (Decreto nº 6096, de 24 de abril de
A (Contra-)Reforma Universitária tem sua perversidade aumentada ao
2007)
incorporar para dentro da Universidade Pública uma linguagem típica do setor
Na verdade, escondendo-se atrás da propaganda da ampliação de vagas nas privado, baseado em “produtividade”, “qualidade”, “competitividade”,
universidades (postura de conciliação de classes típica do atual governo federal), “flexibilidade”, “gestão” e “gestores”, “eficiência” e “empreendedorismo”. Lei de
esse projetos respondem a uma orientação internacional do chamado Protocolo de Inovação Tecnológica, PROUNI, REUNI são facetas de tal contra-reforma e
impõem essa lingugem tradutora de uma visão de mundo liberal, com sérias
2
Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado em todo o repercussões. Especificamente à ultima, a UFRN aderiu ao REUNI em 2007.
primeiro mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (1995- Conhecer o conteúdo desse programa que, como vimos, é uma das ferramentas
1998) hoje para atender aos interesses do grande capital em nosso país, é fundamental
3 para compreendermos os processos políticos internos à Universidade atualmente.
Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
intituído pelo Decreto nº 6096, de 24 de abril de 2007
(...) O Programa tem como meta global a elevação gradual da taxa de conclusão muito abaixo de tal acréscimo. O aumento da relação docente/discente de 1/8 (em
média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento e da relação de 2007) para 1/18, como é a meta do programa, se refletirá na queda da qualidade do
alunos de graduação em cursos presenciais por professor para dezoito, ao final de ensino (não precisa ser pedagogo para perceber isso). A pesquisa e a extensão
cinco anos, a contar do início de cada plano. estarão comprometidos com a carga de trabalho imposto pela graduação, e
(...) Redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas exatamente para atender a essa demanda e “poupar” o trabalho do professor é que
de ingresso, especialmente no período noturno (Decreto nº 6096, de 24 de abril de se “incentiva” o aumento nas bolsas de monitoria. O ensino contará agora com
2007) estudantes ensinando a outros estudantes, o que certamente refletirá mais uma vez
na baixa qualidade. Mais do que isso, o acesso aumenta, mas a profissionalização
O aumento da taxa de conclusão média exigido pelo decreto é o motivo não. Nas propostas de bacharelados interdisciplinares o que se prevê é uma seleção
pelo qual a atual reitoria implementou no semestre 2010.1 a mudança no posterior para aqueles que quiserem se profissionalizar como engenheiro civil,
regulamento interno dos cursos de graduação. Tais alterações tocam exatamente têxtil, etc.
nos aspectos relacionados a trancamentos de disciplinas, que passam a ter limite
máximo de prazo até 1/3 da carga horária total (antes eram 2/3), e no jubilamento Opor-se às mudanças impostas pela reitoria da UFRN é colocar-se contra
de estudantes, cuja possibilidade aumenta. Trata-se, na verdade, de coação aos um modelo educacional que visa meramente atender aos interesses das grandes
estudantes para que eles concluam o mais rápido possível o curso e levam a UFRN empresas transnacionais na sua busca insaciável por lucros através da exploração
a atingir as metas impostas pelo decreto. Responsabiliza individualmente os dos trabalhadores; é lutar para que nossa educação se volte a atender aos interesses
estudantes por um problema que é estrutural da forma como nossa sociedade se populares, não só de acesso, mas de permanência, numa Universidade de fato
organiza, com o falso argumento de que o trancamento beneficia principalmente pública e de qualidade, voltada para a emancipação humana e transformação social
àqueles que “não querem nada com o curso”, mascarando que assistência e não para a reprodução dessa sociedade e de seus valores.
estudantil de qualidade e amplamente disponível seria a melhor saída para o
problema verficado. Afinal, as alterações prejudicarão especialmente àqueles
estudantes que trabalham e, por isso mesmo, tem dificuldades de conciliar seu REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
emprego com o curso, necessitando trancar disciplinas para que não seja reprovado
diante de tais obstáculos. 1. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DOCENTES DO ENSINO
SUPERIOR. A contra-reforma da educação superior: Uma
Isso é somente a ponta do iceberg. A aparente época de vacas gordas da
UFRN, com a construção de inúmeros prédios novos, laboratórios e salas de aula, análise do ANDES-SN das principais iniciativas do governo Lula
a disponibilidade de mais bolsas de mestrado e doutorado, além de bolsas para a da Silva. Brasília: ANDES, 2004.
graduação, contratação de professores, entre outras coisas, na realidade mascaram
2. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DOCENTES DO ENSINO
a dura realidade que se colocará para a UFRN nos próximos anos.
SUPERIOR. PDE – O plano de desestruturação da educação
O acréscimo de recursos referido no inciso III será limitado a vinte por cento das superior. Brasília: ANDES, 2007.
despesas de custeio e pessoal da universidade, no período de cinco anos (Decreto
nº 6096, de 24 de abril de 2007) 3. OLIVEIRA, Eurenice. Toyotismo no Brasil: desencantamento da
fábrica, envolvimento e resistência. São Paulo: Expressão Popular,
O aumento irresponsável do número de vagas colocará sérios problemas
2004.
de infra-estrutura, especialmente porque o aporte de recursos é proporcionalmente
4. PINTO, Geraldo Augusto. A Organização do trabalho no século
20: Taylorismo, Fordismo, Toyotismo. São Paulo: Ed. Expressão
popular, 2007.

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