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O documento resume os principais pontos dos capítulos 1 e 2 do livro "Doutor Golem Como Pensar a Medicina". O resumo descreve: 1) O efeito placebo como um "furo no coração da medicina" devido à dificuldade de separar os efeitos psicológicos dos tratamentos reais; 2) A necessidade de testes duplo-cegos para isolar o efeito placebo dos viés dos experimentadores e pacientes; 3) A força do efeito placebo depender da crença do paciente no tratamento.
O documento resume os principais pontos dos capítulos 1 e 2 do livro "Doutor Golem Como Pensar a Medicina". O resumo descreve: 1) O efeito placebo como um "furo no coração da medicina" devido à dificuldade de separar os efeitos psicológicos dos tratamentos reais; 2) A necessidade de testes duplo-cegos para isolar o efeito placebo dos viés dos experimentadores e pacientes; 3) A força do efeito placebo depender da crença do paciente no tratamento.
O documento resume os principais pontos dos capítulos 1 e 2 do livro "Doutor Golem Como Pensar a Medicina". O resumo descreve: 1) O efeito placebo como um "furo no coração da medicina" devido à dificuldade de separar os efeitos psicológicos dos tratamentos reais; 2) A necessidade de testes duplo-cegos para isolar o efeito placebo dos viés dos experimentadores e pacientes; 3) A força do efeito placebo depender da crença do paciente no tratamento.
Resumos dos captulos 1 e 2 do livro Doutor Golem Como Pensar a Medicina
Viosa 2015
O Furo no Corao da Medicina: O Efeito Placebo
Ser resumida neste texto a seguinte constatao de Collins e Pinch (2010), descrita em seu livro Doutor Golem: como pensar a medicina: apesar de todos os esforos na construo da cincia mdica, existe um furo no corao da medicina: o efeito placebo. Esse o nome que se atribui ao poder de cura da mente sobre o corpo, considerando-se que nenhuma real interveno fsica feita. Define-se como placebo qualquer tratamento falso - seja atravs de plulas quimicamente inertes, falsas cirurgias, etc. que produz esse efeito biolgico de cura. A existncia do efeito placebo faz com que novos medicamentos e tratamentos tenham que ser testados em uma espcie de competio contra este. O efeito do falso tratamento to forte que se torna impossvel mensurar melhoras advindas dos tratamentos reais sem que estes sejam comparados s suas falsas verses, pois no se pode dizer se os efeitos advm de melhoras biolgicas ou dos efeitos psicolgicos advindos da expectativa de tratamento. Esse o furo no corao da medicina. Diante do exposto, pode-se inferir que os mdicos so hbeis a ponto de desenvolverem novos tratamentos, porm, so pequenos quando se analisa a sua compreenso sobre a interao entre corpo e mente. essa falta de compreenso que os leva a comparar os efeitos da nova medicao com os da falsa verso. E, de forma embaraosa, muitas vezes o efeito do falso tratamento to bom quanto o do verdadeiro, ou ainda melhor que este. Uma das grandes dificuldades associadas ao placebo o fato de existirem parentes prximos a este. Logo, a cincia mdica atualmente se encontra em uma sala de espelhos quando se trata do conhecimento sobre o efeito placebo. Quatro so os elementos do efeito que devem ser levados em considerao: o vis inerente ao relato do experimentador; o efeito placebo verdadeiro; o falso efeito placebo e; o efeito da expectativa do experimentador. O vis inerente ao relato do experimentador se trata do efeito do relato do cientista mdico. Sempre que os resultados dos experimentos so definidos por uma margem mnima, a interpretao dos resultados feita pelos experimentadores tem a tendncia de ser influenciada por suas expectativas quanto ao resultado. Esse efeito existe de maneira inconsciente em todas as cincias. Conforme previamente formulado, o placebo se refere a uma mudana fisiolgica real advinda de falsos tratamentos. Entretanto, algumas doenas tem um carter mais subjetivo, como o caso de alguns tipos de depresso. Nesse tipo de caso, a medida da melhora feita pelo relato dos pacientes, o que novamente permite que o efeito do relato influencie os resultados e concluses. Quando um paciente acredita que o tratamento pode lhe trazer melhoras, este pode pensar se sentir melhor mesmo que no haja uma real melhora fisiolgica, o que gera o vis do relato do paciente. Este o falso efeito placebo e gera um problema: o subjetivo muitas vezes pode ser objetivo. Em casos de doenas como a depresso, em teoria mais fcil se separar o vis de relato do efeito placebo considerando a lgica de que, se o paciente acredita estar melhor, ele de fato
se sente melhor. Porm, como no h medidas diretas de melhoria,
difcil se avaliar a eficcia da psicanlise e reas afins. E mesmo a existncia de medidas diretas, como o caso da capacidade pulmonar de um paciente, no garantem que este problema possa ser evitado. Tomando-se como exemplo um teste que requer que o paciente assopre dentro de um dispositivo, este, por acreditar que est melhorando, pode fazer um esforo maior, gerando um autorrelato de confiana na eficcia do tratamento sem melhoras verdadeiras. Por fim, tem-se a expectativa do mdico. Estudos demonstram que a expectativa do experimentador quando ao bom desempenho de determinados indivduos faz com que estes tendam a obterem resultados melhores, mesmo nos casos em que, atravs do sigilo, elimina-se o vis do relato do experimentador. Em virtude da existncia das quatro influncias sobre o efeito placebo, surge a necessidade de se criar o experimento duplo-cego. Neste: os pacientes no sabem se tomam o remdio certo ou verdadeiro, para se evitar o falso efeito placebo (vis do relato do paciente) e; os mdicos experimentadores e aqueles que analisam o experimento no sabem se o paciente est recebendo um placebo ou o tratamento real, com a finalidade de se evitar o efeito de expectativa do experimentador e o vis inerente ao relato do experimentador. Quando o tratamento afeta o bem-estar de um paciente atravs do efeito planejado ou descoberto pela cincia, h o que se pode chamar de efeito fsico, fisiolgico ou qumico direto. Estes contrastam com os efeitos fsicos, fisiolgicos ou qumicos indiretos, que so provenientes do efeito placebo verdadeiro. Considera-se que o efeito placebo uma parte cientificamente estabelecida da medicina moderna pelo menos desde a dcada de 50. Diversos estudos demonstram pacientes que se beneficiam do uso de placebos. E estes benefcios advm at mesmo de falsas cirurgias, nas quais os pacientes sofrem melhora apenas recebendo uma leve inciso na pele, sem interveno cirrgica significativa. Porm, as descobertas sobre a cura por meio de placebos podem ser questionadas, afinal, as pessoas tambm podem se curar sem tratamento algum, sendo possvel que a cura nesses casos ocorra na mesma velocidade que a cura por efeitos fisiolgicos indiretos. Para se investigar se o placebo realmente existe, deve ser feita a comparao de grupos que no foram tratados com grupos que receberam falsos tratamentos. Diversos estudos foram realizados, o que levou os mdicos dinamarqueses Hrobjartsson e Gotzsche a analisarem diversos artigos que comparavam trs grupos de pacientes: aqueles que recebem tratamento mdico, os que recebem placebos e aqueles que no tiveram tratamento algum. Analisando 114 experimentos, os autores concluram que no havia diferena significativa entre pacientes que recebiam placebo e aqueles que no eram tratados. Porm, a observao cautelosa dos argumentos derruba a concluso. Primeiramente, havia indicaes de que existiam placebos na experincia da dor. Alm disso, os resultados podiam estar mascarados pela abordagem estatstica. Entretanto, estes no so os argumentos mais fortes que derrubam o estudo, afinal,
impossvel se fazer um teste s cegas de um tratamento, placebo
ou no, comparativamente a um no tratamento, pois os pacientes e experimentadores do estudo sabero quem no est sendo tratado. Essa situao pode tornar mais marcante a diferena do placebo e do no tratamento, pois os pacientes no tratados devem sentir-se pessimistas e o relato daqueles que tratam os pacientes pode sofrer forte vis. Logo, deveria ao menos parecer que houve um efeito placebo, o que leva inferncia de que houve algo de errado com o experimento. Outra complicao inerente aos problemas da cincia mdica pode ser dada pela mxima: a fora do efeito placebo uma funo da crena do paciente quanto ao tratamento. A ttulo de exemplo, quando tanto os pacientes que tomam placebo quanto os que tomam o remdio real sentem que esto recebendo um medicamente cuja eficcia comprovada, o tratamento ter um efeito ntido. Esta melhora que ocorre tambm nos pacientes que sofreram falsos tratamentos advm da expectativa quanto comprovada eficcia do remdio. Um grande dilema associado ao uso do placebo dado pela seguinte indagao: Se o efeito placebo funciona, porque no uslo de forma sistemtica? Primeiramente, vale-se ressaltar que a partir do momento em que o paciente sabe que est recebendo um tratamento falso, este deixa de ser um placebo e vira um no tratamento. A oferta de uma escolha impossvel. Porm, mdicos podem oferecer placebos, contanto que o paciente no seja informado. O grande problema que a associao da medicina e das agncias de sade com o uso de placebos algo que gera discusso, conforme ser exposto nos seguintes trechos. As diversas incertezas existentes na considerada medicina tradicional (ortodoxa) dificultam a delimitao entre esta e a medicina alternativa, que se refere s curas que no so reconhecidas pela comunidade mdico-cientfica. inevitvel que ao menos uma parcela dos tratamentos utilizados pelas duas medicinas no funcionam, ou seja, so tratamentos vazios em termos de melhorias fisiolgicas. Entretanto, a busca por todas as alternativas disponveis, sejam elas da medicina tradicional ou da medicina alternativa, como religio, rituais, homeopatias, etc., embora possa ser apenas um fruto da busca por todas as possibilidades de cura, talvez possa trazer um efeito placebo com mudanas fisiolgicas reais. Entretanto, isso no ideal para o avano da cincia mdica, visto que os placebos no funcionam de forma igual em todas as pessoas, devido s diferentes suscetibilidades s crenas. Deve-se distinguir a medicina como cincia da medicina como socorro para que se possa continuar essa discusso. E justamente a primeira que interessa aos Estados, que tendem a oferecerem apenas os tratamentos aprovados por testes cientficos. E esse discurso de superioridade do conhecimento cientfico por sua vez acaba reduzindo a efetividade das curas baseadas em placebo. Essa a tenso entre o bem individual e o coletivo. Para exemplifica-la, basta que se observe a luta dos pacientes de cncer que atualmente buscam utilizar a Fosfoetanolamina Sinttica - remdio criado por pesquisadores da
USP de So Carlos -, que, embora apresente bons resultados quando
se analisam os discursos de pacientes que a utilizaram, no permitida pelo fato de no ter passado por testes clnicos com humanos. Entretanto, alguns pacientes, por meio de medidas judiciais obtm o remdio. O governo no permite a total liberao do remdio, pois embora prejudique a medicina como terapia, seu papel fazer com que essa avance como cincia. E para que isto ocorra, deve-se verificar a existncia do efeito placebo atravs de experimentos de controle randomizado (ECR), os quais se tornaram o padro de ouro da medicina, embora, de forma irnica, simbolizem a falta de conhecimento da cincia mdica acerca da relao entre a mente e a cura. E para o preenchimento dessa lacuna, mdicos devem aspirar conhecer todas as doenas da mesma forma que conseguem entender de ossos quebrados. Uma compreenso melhor do corpo poderia fazer com que fossem abandonados estes tipos de testes. No se pode dizer se um dia o conhecimento mdico ir atingir tal estado de compreenso, porm, enquanto os tratamentos forem testados por meio de ECRs, as tenses entre os interesses individuais e coletivos persistiro. Enquanto perdura esse problema, deve-se levar em conta que maximizar o ganho individual imediato custa da cincia, ou em desafio a ela, nem sempre a escolha correta, ou nem mesmo a melhor escolha (COLLINS e PINCH, 2010, p. 35).
Tudo possvel na vida real: os falsos mdicos
Collins baseou principalmente no texto Bogus Doctors: The Simulation of Skill [Falsos mdicos: A Simulao da Habilidade], tambm se baseou em matrias publicadas em jornais na Gr Bretanha e nos EUA. Matrias essas que tinham como manchete o desmascaramento de um falso mdico Collins ento, leva a discusso baseada nos dados levantados nessas matrias. Entre muitos casos de falsos mdicos, foram estudados somente aqueles casos em que o falso mdico tentava exercer alguma habilidade mdica, como por exemplo, fazer uma cirurgia ou a prescrio de algum remdio. Aqueles casos em que os falsos mdicos s usavam do Know-how mdico foram descartados. O mais assustador que h casos em que os falsos mdicos exerciam a profisso por muitos anos, e at mesmo com maestria. Esses charlates aproveitam que muitas aptides mdicas so fceis de fingir habilidade. Um charlato bem treinado pode facilmente enganar seus pacientes e at mesmo fiscais reguladores do servio mdico. Isso torna difcil diferenciar o verdadeiro profissional do farsante. to difcil distinguir os dois que normalmente a descoberta de um falso mdico raramente est relacionada a um erro, mas sim a um desvio de comportamento apropriado para um profissional formado. Com esses fatos em mente, Collins estuda mais profundamente 5 casos que ocorreram na Gr Bretanha e chega a assustadora concluso que pouqussimos falsos mdicos so desmascarados por erros mdicos em si. O que nos assusta, pois muito provvel que
a nossa sociedade esteja repleta de falsos mdicos que ainda no
foram desmascarados e tambm a falta de maldade da populao de duvidar, de se perguntar, se tal pessoa tem o direito e a competncia de ditar aquilo que voc vai fazer com a sua sade ou no. E at mesmo todos os enfermeiros e profissionais que trabalham diretamente com esses falsos mdicos e nunca colocaram a prova um comportamento estranho. Conclui-se que a medicina como aplicado hoje cercada de incertezas e uma variaes de diagnsticos absurdas, o que revela o quo complexo lidar com a sade humana e no fundo pouco importa a aprendizagem acadmica dos mdicos.