Cave (1999) vê a criatividade como a tradução dos talentos humanos para uma
realidade exterior que seja nova e útil, dentro de um contexto individual, social e
cultural. Essa tradução pode-se fazer, basicamente, de duas formas. A primeira é a
habilidade de recombinar objetos já existentes em maneiras diferentes para novos
propósitos. A segunda, "brincar" com a forma com que as coisas estão inter-
relacionadas. Em ambos os casos, considera a criatividade como uma habilidade para
gerar novidade e, com isso, idéias e soluções úteis para resolver os problemas e
desafios do dia-a-dia.
Alencar, por sua vez, identifica duas dimensões que parecem permear a noção de
criatividade:
1
"(...) pode-se notar que uma das principais dimensões presentes nas mais diversas
definições de criatividade propostas até o momento diz respeito ao fato de que
criatividade implica emergência de um produto novo, seja uma idéia ou invenção
original, seja a reelaboração e aperfeiçoamento de produtos ou idéias já existentes.
Também presente em muitas das definições propostas é o fator relevância, ou seja,
não basta que a resposta seja nova; é também necessário que ela seja apropriada a
uma dada situação."
Teorias filosóficas
Segundo Hallman (1964) apud Kneller (1978), uma das mais velhas concepções da
criatividade é a sua origem divina. A melhor expressão dessa crença é creditada a
Platão:
“E por essa razão Deus arrebata o espírito desses homens (poetas) e usa-os como
seus ministros, da mesma forma que com os adivinhos e videntes, a fim de que os
que os ouvem saibam que não são eles que proferem as palavras de tanto valor
quando se encontram fora de si, mas que é o próprio Deus que fala e se dirige por
meio deles.”
Essa concepção ainda encontra defesa, por exemplo, em Maritain (1953): o poder
criativo depende do “reconhecimento da existência de um inconsciente, ou melhor,
pré-consciente espiritual, de que davam conta Platão e os sábios, e cujo abandono em
favor do inconsciente freudiano apenas é sinal da estupidez de nosso tempo”.
2
imprevisíveis; e daí concluiu que a criatividade não pode ser ensinada formalmente”.
Além de gênio, essa teoria identifica a criação como uma forma saudável e altamente
desenvolvida da intuição, tornando o criador uma pessoa rara e diferente. É a
capacidade de intuir direta e naturalmente o que outras pessoas só podem apurar
divagando longamente que caracteriza essa teoria.
Inteligência Características
Habilidade de expressão;
Facilidade para se comunicar;
Aprecia a leitura;
Possui amplo vocabulário;
Lingüística ou verbal
Competência para debates;
Transmite informações complexas com facilidade;
Absorve informações verbais rapidamente.
3
Prefere trabalhos manuais;
Facilidade para atividades como dança e esportes corporais.
Reflexiva e introspectiva;
Capaz de pensamentos independentes;
Intrapessoal
Autodesenvolvimento e auto-realização.
Curiosamente, Gardner não inclui uma “inteligência criativa” em sua lista. Isso se deve
à sua crença de que a criatividade permeia todo pensamento humano. Nas palavras
de Moran (1994):
4
As 7 principais características das pessoas muito criativas
Fluência: o número de idéias, sentenças e associações que uma pessoa pode pensar
quando apresentado a uma palavra, conceito ou problema.
Nada pode impedir uma pessoa com a atitude mental correta de realizar seu objetivo;
nada na terra pode ajudar uma pessoa com a atitude mental errada. Thomas
Jefferson.
1. Curiosidade
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Criatividade requer uma disposição permanente para investigar, procurar entender e
obter novas informações sobre as coisas que nos cercam. Para se tornar uma pessoa
mais criativa você deve aprender a perguntar “por quê?” e “e se…?” e incorporar estas
perguntas ao seu modo de vida. Infelizmente, com a maturidade perdemos aquela
atitude inquisitiva da infância, quando não dávamos trégua aos nossos pais, querendo
saber o porquê sobre tudo. Faz-se necessário estimular a volta desta curiosidade
natural, anulada pela escola, pela família e pelas empresas.
2. Confrontando desafios
As pessoas criativas não fogem dos desafios mas os enfrentam perguntando “como
eu posso superar isto?”. Elas têm uma atitude positiva e vêem em cada problema uma
oportunidade de exercitar a criatividade e conceber algo novo e valioso.
3. Descontentamento construtivo
As pessoas criativas têm uma percepção aguda do que está errado no ambiente em
volta delas. Contudo, elas têm uma atitude positiva a respeito desta percepção e não
se deixam abater pelas coisas erradas. Ao contrário, elas transformam este
descontentamento em motivação para fazer algo construtivo. Santos Dumont era um
entusiasta dos balões mas não estava satisfeito com suas limitações e não descansou
até inventar uma aeronave dirigível.
4. Mente aberta
Criatividade requer uma mente receptiva e disposta a examinar novas idéias e fatos.
As pessoas criativas têm consciência e procuram se livrardos preconceitos,
suposições e outros bloqueios mentais que podem limitar o raciocínio. Quem vê um
celular apenas como um telefone, jamais pensaria em agregar ao aparelho outras
utilidades como fotografia, GPS, e-mail e MP3.
5. Flexibilidade
6. Suspensão do julgamento
7. Síntese
6
criativas. A visão do todo lhe dá os caminhos para estabelecer conexões entre
informações e idéias aparentemente desconexas.
8. Otimismo
Henry Ford resumiu bem as conseqüências de nossas atitudes: Seja acreditando que
você pode, seja que não pode, você estará provavelmente certo. Pessoas que
acreditam que um problema pode ser resolvido acabam por encontrar uma solução.
Para elas nenhum desafio é tão grande que não possa ser enfrentado e nenhum
problema tão difícil que não possa ser solucionado.
9. Perseverança
Quais destas atitudes mentais caracterizam sua maneira de lidar com seus desafios?
Quais são seus pontos fortes? Quais atitudes você precisa desenvolver para fortalecer
sua criatividade? Focalize naquelas que você considera essenciais para o
aprimoramento de sua criatividade e prepare um plano de ação. Mas tenha sempre em
mente que atitudes não são mudadas de um dia para outro. Isto requer disciplina,
paciência e perseverança. Pode ser difícil, mas o prêmio é alto.
O processo criativo
7
Seja qual for o nível de estruturação adotado, o processo criativo se fundamenta em
três princípios: Atenção, Fuga e Movimento. O primeiro princípio nos diz: concentre-
se na situação ou problema; o segundo: escape do pensamento convencional; o
terceiro: dê vazão à sua imaginação. Estas três ações mentais formam uma estrutura
integrada em que se baseiam todos os métodos de pensamento criativo. As diferenças
entre os diversos métodos encontrados na literatura especializada estão na ênfase
dada a cada um destes princípios e nas ferramentas usadas. As definições destes três
princípios são parcialmente inspiradas no trabalho de Paul E. Plsek (Creativity,
Innovation and Quality, ASQ Quality Press).
ATENÇÃO
Até 1980, a indústria de computadores dirigia sua atenção para a máquina, como
torná-la mais potente. Apple e Windows focaram sua atenção no usuário, em como
tornar o computador mais acessível e mais amigável, revolucionando toda a indústria
de informática.
FUGA
Tendo concentrado nossa atenção na maneira como as coisas são feitas atualmente,
o segundo princípio do processo criativo nos chama a escapar mentalmente dos
nossos atuais modelos de pensamento. É a hora de refletir sobre os nossos bloqueios
8
mentais e derrubar as paredes que limitam nossa imaginação ao que sempre fizemos,
ao que é confortável e seguro.
Você não pode resolver um problema com a mesma atitude mental que o criou. (Albert
Einstein).
MOVIMENTO
O quadro abaixo resume os três princípios e apresenta um checklist do que você deve
considerar na montagem de suas técnicas de criatividade.
9
O ser criativo
Para Fayga Ostrower, “cada pessoa constitui um ser individual, ser in-divisível em sua
personalidade e na combinação única de suas potencialidades... A criação, porém,
nunca é apenas uma questão individual. As influências culturais existem sempre. Não
há como opô-las à espontaneidade criativa.” (OSTROWER, 977:147)
A utilização de resíduos rejeitados por não servirem mais à sua finalidade primeira é
uma atitude, como já afirmamos, uma maneira natural do brasileiro de aproveitar tudo
para a criação de objetos que vão atender a suas necessidades materiais e espirituais.
Mas a nossa sensibilidade, nossa sentimentalidade, atuantes, vão operar e ajudar
nessa incorporação, nessa digestão, com explica Raimundo Rodrigues: “O que
transforma é a arte, é o sentimento, se não transformar o coração, se não abrir o
coração, não muda nada. Dentro do lixo só me interessa o que não interessa pra mais
ninguém. Objetos, ressentimentos, rejeições, de pessoas e coisas, não me
interessam. Só se conseguir transformá-las.”
Whitt N. Schultz, da Universidade de Búfalo nos Estados Unidos, famosa por seus
cursos de criatividade, seguem algumas dicas para que você tenha idéias criativas e
brilhantes:
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2. Todo dia escreva pelo menos uma idéia sobre estes assuntos: como eu posso fazer
meu trabalho melhor; como eu poderia ajudar outras pessoas; como eu posso ajudar a
minha empresa; como eu posso ajudar o meu país, o que posso fazer para melhorar a
minha qualidade de vida e de outras pessoas...
4. Faça anotações. Não saia sem papel e lápis ou algo para escrever. Anote tudo, não
confie na memória. Cabe aqui a observação da sua professora (Viviane) sobre o
Caderno de Idéias!
5. Armazene idéias. Coloque em cada pasta um assunto. Idéias para a casa, para
aumentar a sua eficiência no trabalho, para ganhar mais dinheiro. E vá aumentando
este banco de dados através de leitura, viagens, conhecimento com novas pessoas,
filmes, competições esportivas etc.
7. Desenvolva uma forte curiosidade sobre pessoas, coisas, lugares. Ao falar com
outra pessoa, faça com que ela se sinta importante.
8. Aprenda a escutar e a ouvir tanto com os olhos quanto com os ouvidos. Perceba o
que não foi dito.
11. Mantenha o sinal verde de sua mente sempre ligado: sempre aberto.
12. Procure ter uma atitude positiva e otimista. lsso ajuda você a realizar, seus
objetivos.
13. Pense todos os dias. Escolha uma hora e um lugar para pensar alguns minutos,
todos os dias.
14. Descubra o problema. Ataque seus problemas com maneiras ordenadas. Uma
delas é descobrir qual é realmente o problema, senão você não vai achar a solução
Faça seu subconsciente trabalhar. Ele pode e precisa. Dia e noite. Fale com alguém
sobre a idéia, não a deixe morrer.
16. Evite coisas que enfraqueçam a concentração e a ordem no seu cérebro: barulho,
fadiga, negativismo, dietas desequilibradas, excessos em geral.
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18. Aprenda a fazer perguntas que desenvolvam o seu cérebro e a maneira de
racionar sobre todos os assuntos:
> O QUÊ,
19. Coloque as idéias em ação. Lembre-se de que uma idéia razoável colocada em
ação é muito melhor que uma grande idéia arquivada.
20. Use o seu tempo ocioso com sabedoria. Lembre-se de que a maior parte das
grandes idéias, os grandes livros, as grandes composições musicais, as grandes
invenções foram criadas no tempo ocioso dos seus criadores.
E para confirmar que a criatividade não é um dom, mas um potencial a ser explorado
à sua volta e dentro de você, vamos ver o que os grandes inventores e pensadores
escreveram sobre CRIAR:
“As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que
precisam e, quando não as encontram, as criam.” (Bemard Shaw – Filósofo)
“As boas idéias vêm do inconsciente. Para que uma idéia seja relevante o
inconsciente precisa estar bem informado.” (David Ogilvy – Publicitário)
1. Preparação
2. lncubação
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3. Iluminação
4. Verificação
Nesta fase, o intelecto termina a obra que a imaginação iniciou. O criador analisa,
julga e testa sua idéia para avaliar sua adequação.
Por Que Criatividade é tão importante? Será que todos nós somos criativos? É
algo que vem de berço ou se aprende? Pode ser cultivada, incentivada? Dá para
ser Criativo em uma Empresa não Criativa? O que é afinal Criatividade?
São muitas perguntas, grande parte delas com várias respostas possíveis, e nenhuma
resposta pode ser considerada a “melhor”. Criatividade é o típico conceito que resiste
a definições e durante muito tempo temos visto aparecer diversos livros e manuais
tentando apresentar visões pessoais sobre o assunto. Nosso enfoque neste pequeno
artigo é mostrar que Criatividade pode ser encarada de uma maneira bastante
diferente das tradicionais e que essa forma é mais fundamentada do que muitas outras
alternativas.
13
É o conjunto de atividades exercidas pelo cérebro na busca de padrões que
provoquem a identificação perceptual de novos objetos que, mesmo usando “pedaços”
de estruturas perceptuais antigas, apresentem uma peculiar ressonância,
caracterizadora do “novo valioso”, digno de atenção.
Como quase todas as definições, estas são opacas e difíceis de entender, mas
servem para demonstrar como é vasto o repertório de idéias que podem ser postas em
conjunto para tentar explicar o que é o fenômeno criativo. Há, no entanto, uma grande
tendência em se “assustar” com essas idéias e dessa forma evitar compreendê-las,
ficando com aquelas noções batidas de “preparação, incubação, insight”. Não temos
espaço neste artigo para mostrar porque essas idéias velhas não vão muito longe.
Basta dizer que a grande maioria dos autores de livros e manuais de Criatividade se
contentam em expor “técnicas” com variações dessas estratégias e com isso parecem
se satisfazer com as idéias que historicamente tem sido usadas para explorar esse
assunto. No mínimo, isto pode ser dito como muito pouco criativo da parte deles.
Temos que ser criativos para pensar sobre criatividade.
Propomos pensar sobre Criatividade a partir de outro enfoque: para ser mais criativo,
temos que entender porque o cérebro humano é naturalmente criativo, porque as
crianças são espontaneamente criativas.
Temos que compreender como funciona a mente humana, em seus aspectos mais
cognitivos e perceptuais, não através de “chutes” sobre como pensamos, mas sim
através do acompanhamento criterioso das descobertas científicas acerca da mente e
do cérebro humanos. Nunca houve tantas informações sobre esse assunto quanto
tivemos nos últimos dez anos.
A Ciência Cognitiva estuda, entre outras coisas, como o cérebro humano desenvolve
progressivamente sua capacidade perceptual. Uma criança aprende com o tempo a
perceber expressões faciais de seus pais quando eles estão, por exemplo, zangados
ou impacientes. A percepção é uma atividade contínua do cérebro e para identificar os
diversos objetos e eventos que uma criança tem que lidar, muito de seu aprendizado
depende de correlacionar coisas que acontecem em frente a seus olhos, ouvidos e
mãos. Para executar essa correlação a criança precisa ser ativa, precisa interagir com
o ambiente e testar seus limites, precisa verificar se aquilo que aconteceu ontem
também vai acontecer hoje. Isto é, na essência, um dos procedimentos fundamentais
da Criatividade, o desenvolvimento (através de testes e observação) de uma
capacidade perceptual apurada através da atitude ativa.
14
Agora ela já está mais apta a atuar sobre o mundo e teve tempo de desenvolver um
aparelho perceptual suficientemente poderoso para ajudá-la na tentativa de satisfazer
seus anseios. Um deles pode ser, por exemplo, alcançar aquele bolo que está ali
sobre a mesa. Sua percepção
lhe informa que um banquinho próximo à mesa lhe daria suporte para quase alcançar
o topo dela. Falta apenas um pouco mais. Então, sua criatividade vai impeli-la a
observar ao redor e ver se há algo mais que possa lhe “fornecer” o tipo de suporte de
que necessita para elevá-la além da altura do banco. Ao encontrar uma caixa de
brinquedos, um “estalo” ocorre: se colocada sobre o banquinho, isto lhe permitirá
atingir a mesa e assim saborear o bolo.
Este ato criativo no caso da criança tem dois componentes que eu gostaria de
destacar. O primeiro é a solução inovadora (a criança não “sabia” desta solução, ela a
concebeu, principalmente porque sua percepção “juntou partes”). Mas há também o
fator “risco”, pois qualquer adulto que estivesse presente iria desincentivar a criança
porque talvez a caixa de brinquedos sobre o banquinho fosse instável e assim a
criança poderia cair. Temos aqui dois itens que influenciam bastante a criatividade:
2) A crítica dos pais fornece reforço negativo (neste caso, apropriado), pois há a
imposição de uma regra que “corta” o fluxo criativo de pensamento (essa regra, na
verdade, só tem significado para os pais, para a criança não significa nada, pois ela
não sabe do perigo de cair de apoios instáveis, só irá aprender quando cair uma vez).
Obviamente, a regra dos pais é bem-vinda pois evita um acidente desagradável. Mas
se os pais não esclarecem à criança o porquê da regra, isto fará sobrar em sua
pequena mente apenas a parte negativa da regra, aquela que tolhe a iniciativa sem
dizer qual a causa disso. É fundamental que todos nós entendamos o porquê das
coisas.
Quando adultos, mantemos boa parte dessas restrições impostas sem explicação em
nossas cabeças.
Elas nos colocam regras, normas, procedimentos, padrões, bloqueios que agem como
os pais originais agiram em relação à criança. À primeira vista, isto pode parecer tão
útil quanto a situação original da criança: as regras e procedimentos foram
desenhados porque eles deram certo no passado (evitam quedas dolorosas). As
regras que nos ensinaram na escola e na faculdade também tiveram certo cuidado em
sua confecção. Então como justificar a criatividade (quebra de regras) neste caso?
Vamos nos concentrar agora no porque é necessário quebrar regras.
15
coisas que funcionaram bem até hoje. Entretanto, não há ninguém que consiga
justificar porque elas irão funcionar bem amanhã (isto é parte de uma discussão
filosófica sobre a justificação de procedimentos indutivos). Além disso, se a regra é
apresentada a nós sem nenhuma explicação convincente, então ela pode ter sido
desenvolvida por força de generalizações imperfeitas. O mundo evolui, descobrimos
novas coisas a todo o instante. Confiar cegamente nas regras antigas significa
desprezar o potencial criado pelas descobertas recentes.
Esta é mais uma das observações que fazemos para justificar porque temos que
entender as coisas. Não basta sabermos sobre fatos, temos que captar a essência de
suas interligações. Em outras palavras, em vez de ensinar a nossas crianças o nome
dos afluentes do rio Amazonas (e de cobrar esses nomes em provas, valendo nota!),
elas deveriam ser expostas ao ciclo de eventos que ocorrem por causa da chuva,
deslocamento de águas dos rios para os mares e posterior evaporação.
Veja que a cada “teste” malsucedido que fazemos conseguimos novos elementos para
nosso aparelho perceptual (mais ligações de causa/efeito, mais identificação de
correlações, mais micro-regras unindo partes do problema a outras partes, mais
conhecimento sobre partes montando um todo, etc). Por isso se diz que muito se
aprende com os erros. Eles enriquecem nossa percepção de forma que possamos ter
melhores chances de simular o mundo em nossas mentes em futuras situações.
Uma das características mais marcantes dos “seres inteligentes” que habitam este
planeta é a habilidade de aprender e antever consequências de atos imaginados. Isto
nos permite fazer “modelos” do mundo. Conseguimos “rodar” um programa simulador
em nossa mente. Uma criança desde cedo aprende a entender o que significa a força
da gravidade e a partir daí irá ganhar uma forma virtual de testar mentalmente uma
determinada ação física, verificando se ela é segura ou não antes de executá-la. As
crianças acabam descobrindo que se colocar o dedinho no fogo a consequência é dor
16
lancinante. Depois disso, elas podem antever a consequência do ato de estender seu
dedinho mental no fogo virtual e sentir assim o efeito virtual correspondente, sem ter
que passar pelo efeito físico.
Passamos boa parte de nossa vida aprendendo como melhorar nossa simulação do
mundo exterior. Modelamos o mundo físico, modelamos as emoções das pessoas com
as quais convivemos, modelamos a empresa em que trabalhamos, o governo, nossos
vizinhos, nosso carro, o trânsito, etc. Boa parte de nosso raciocínio é meramente uma
simulação de grandes cadeias causais (isto causa aquilo que causa aquilo...).
Podemos dizer que essa sequência de inferências são representantes das “regras”
que usamos no dia-a-dia, equivalentes às regras mais simples como aquela que diz
que quando vou atravessar uma rua, devo olhar para os dois lados. Essa regra é tão
forte que chega ao caráter de comportamento condicionado. Tudo isto é muito, muito
útil, pois poupa-nos tempo, automatiza procedimentos rotineiros, aumenta nossas
margens de acerto e evita erros fatais. Há poucas (se é que há alguma!) vantagem em
ser criativo no atravessar a rua.
Mas há um lado ruim dessa tática: essas regras também nos fazem ficar acomodados
e por isso evitamos procurar novas possibilidades. Para sermos criativos, temos que
estar dispostos a quebrar (mesmo que apenas mentalmente) várias dessas
sequências pré-programadas e dessa forma rodar nossa simulação do mundo com um
conjunto alterado de regras. Mas para que mesmo fazer isso? Vamos rever essa idéia.
O Estalo Perceptual
Aposto que todos os leitores já ouviram falar (ou mesmo já tiveram) o famoso “aha!” ou
o “eureka”. São expressões que exprimem o momento em que as coisas se
“encaixam” de um jeito ideal mostrando seu valor imediatamente. Chamo a isso de
“estalo perceptual”. Por que?
Porque esse estalo aparece devido ao nosso treinamento perceptual para reconhecer
coisas valiosas. Quando as coisas se juntam, há um momento onde identificamos uma
espécie de “objeto” como se tivéssemos reconhecido a face de um velho amigo que
não vemos há muito tempo. Na realidade, em termos neurocientíficos é exatamente
isso o que ocorre. Essa é uma atividade essencialmente cognitiva e que mostra a
importância de cultivarmos habilidades perceptuais.
Ainda há muito a se falar sobre este tópico e caso você esteja interessado em maiores
informações, você pode me contatar no e-mail abaixo. Veja também a página do meu
seminário sobre criatividade que trata desses assuntos com maior profundidade, em
especial como podemos fazer para alterar as regras que conhecemos e assim obter
maiores chances de estalos perceptuais.
Nós humanos somos os únicos seres inteligentes deste planeta capazes de uma
profunda auto-reflexão. Para ser mais criativos, temos que levar esse auto-
conhecimento um passo adiante. Temos que conhecer como funcionam nossos
cérebros para poder não apenas nos deleitar com esse conhecimento, mas também
para potencializar nossas capacidades e assim ampliar o alcance de nossas melhores
intenções humanísticas.
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Criatividade e Simplicidade - Horácio Soares
Para Maslow, criador da famosa pirâmide que levou seu nome é: “atividade mental
organizada, visando obter soluções originais para satisfação de necessidades e
desejos".
Ainda nesta entrevista perguntou: “De que adianta uma super filmadora com milhares
de funções se apenas 5% das pessoas conseguem usar mais de 10%?
Eu não gosto dos desodorizadores que ficam pendurados nas privadas dos banheiros
e que servem para deixá-las limpas e com bom cheiro. Além de estética discutível, às
vezes se soltam e ainda tem o contato físico para troca do refil.
Na casa da minha cunhada todas as descargas são do tipo que, após o uso, temos
que aguardar alguns instantes até que o nível de água se encha, para só então,
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voltarem a ser utilizadas. Exatamente como na minha e em muitas outras casas no
Brasil.
Muito bem, após usar o banheiro utilizei a descarga e reparei que a água tinha ficado
azul e perfumada. Não entendi, procurei o desodorizador e nada? Ainda demorei
alguns instantes até compreender o havia acontecido.
Esta idéia me lembrou mais uma das célebres frases de Einstein: "Se no início a idéia
não parecer absurda, não há esperanças para ela.”
Achei genial a solução e me perguntei: por que não pensei nisto antes? Normalmente
as idéias criativas são tão simples e obvias que ficamos com essa estranha sensação.
Bastou apenas um olhar diferente para o "problema", sobre um outro ponto de vista e
pronto,
surgiu uma solução simples e original. Não era perfeita e muito menos a mais
econômica, na verdade foi uma improvisação, mas enfim, resolveu o problema dela e
o meu por tabela.
Ela pensou diferente, fora dos padrões normais e solucionou criativamente o seu
problema. O professor Edward de Bono chama este raciocínio de: “pensamento
lateral”.
“Pediram a um grilo que citasse três animais mansos e três animais ferozes e o grilo
não hesitou em listar, como animais mansos, o leão, o tigre e a cascavel; e, como
animais ferozes, o pardal, a rã e a galinha.”
Há alguns anos, quando iniciava meus estudos sobre criatividade e seus processos,
tive acesso a uma fita de vídeo que fazia parte do acervo de uma antiga oficina de
19
criatividade da empresa em que trabalhava a qual, infelizmente, por razões de corte de
custos, havia sido desativada. Muito bem, essa fita tinha duração de apenas alguns
minutos, suficientes para me fazer entender quanto poderia aprender, se prestasse um
pouco mais de atenção no comportamento das crianças e de como elas conseguem,
de uma forma muito simples e fácil, ser criativas e originais.
Vamos agora tentar imaginar um pequeno grupo de adultos dançando: Tenho certeza
de que alguns não estariam participando, encontrariam facilmente “n” desculpas para
não dançar, enquanto o resto estaria dançando provavelmente em ritmo muito
semelhante, tentando realizar os últimos passos da moda, muito preocupados em não
pagar “mico” e ainda, se possível, em agradar seus observadores.
Mas se nesse grupo alguém mais criativo tentasse criar uma nova dança apenas pelo
puro prazer de descobrir novos movimentos - ou quem sabe imitando a coreografia do
acasalamento das baleias rosas do mar ártico? - a maioria estranharia tal atitude,
alguns achariam graça e outros iriam logo caçoar do pobre coitado. Ou quem sabe,
alguns até o imitariam e sua dança poderia virar moda?
Mas por que eles teriam tal atitude? Pela simples razão que este doido criativo mudou
o protocolo, fugiu do padrão estabelecido, “saiu do QUADRADO”, criou algo novo e
diferente, coisa com que não sabemos muito como lidar. As novidades e
principalmente as mudanças sempre foram difíceis de serem aceitas por quase todos
nós, a exemplo do sucesso do livro "Quem mexeu no meu queijo", que retrata
exatamente a importância de antecipar as mudanças que se fazem tão necessárias ao
sucesso e são inevitáveis em quaisquer áreas profissionais e pessoais.
A maioria dos adultos foi educada para seguir as regras estabelecidas pela sociedade,
comunidade, família, amigos, etc. Foi ensinada a obedecer e aceitar ordens sem
contestar e, por diversas vezes, proibida de perguntar, pensar e duvidar, e acabou
perdendo a curiosidade e tão a sonhada criatividade característica da infância. Como
conseqüência também o prazer e a capacidade de resolver problemas originais, em
suma, desaprendeu a gostar de problemas. Certa vez, Einstein disse: “ - não sou mais
inteligente do que ninguém, sou apenas a pessoa mais curiosa que conheço”.
Curiosidade é um poderoso motivador na resolução de problemas e desafios
aparentemente “impossíveis”. A criatividade tem suas raízes na infância, então por que
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diacho existem tão poucos adultos criativos? Pois é, tiveram a pobrezinha assassinada
durante a educação por diversas razões, algumas identificadas pela Dra. Amabile em
uma pesquisa, conforme citadas no livro O Espírito Criativo, as quais transcrevo:
“...
Portanto, ser morno é o inverso de ser criativo. Em sua natureza não existem crianças
mornas, elas nascem criativas e proativas, só que nem sempre as sementes da
criatividade encontram o melhor terreno para o crescer e florescer.
Paradigmas - Segundo o dicionário, nosso bom e velho Aurélio, são limites e valores
que condicionam o pensamento e a ação.
21
BLOQUEIOS À CRIATIVIDADE.
Quando surge uma idéia nova, logo aparecem “colegas” dizendo que “não vai dar
certo”, “é muito caro”, “nós nunca fizemos isto”, “para que mexer no que está
funcionando”, etc. Poucos sabem dar oportunidade a uma nova idéia, principalmente
se, à primeira vista, ela tiver um formato diferente dos padrões.
“ Esqueça, Louis; nenhum filme sobre a Guerra Civil jamais rendeu um níquel. (Irving
Thalberg, diretor de produções da MGM, para Louis B. Mayer sobre a compra dos
direitos do romance... E o Vento Levou).”
“A mente enfrenta uma nova idéia da mesma forma que o organismo enfrenta um
elemento estranho, resistindo com similar energia”. William Beveridge.
22
"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade." Raul Seixas
- É proibido errar.
Só erra quem faz! Jack Welch, ex-presidente da GE, conta em seu livro “Jack
Definitivo” que durante o seu segundo ano de trabalho foi responsável pela explosão
de um laboratório, não houve vitimas. Ao contrário do que pensava, não foi
penalizado, foi promovido. Oito anos depois, era escolhido presidente GE. Jack foi
presidente durante 10 anos e eleito por diversas entidades como o empresário do
século 20.
Pequenas ilhas dividem a empresa. Imaginem um barco a remo, onde cada um dos
remadores rema em uma direção diferente. Para onde vai este barco? É preciso
aproveitar as oportunidades, e muitas vezes ela mora na baia ao lado.
“O grande paradoxo da inovação é que o maior de todos os riscos é não inovar, nunca
fazer alguma coisa nova.” Nolan, 1989.
"Idéias todo mundo tem. Como é que entram na cabeça da gente? Entram porque a
gente lê, observa, conversa, vê espetáculos." (Ruth Rocha)
23
familiares. A Amazon é hoje o maior caso de sucesso de comércio eletrônico, e Bezos,
um dos homens mais ricos dos Estados Unidos.
“É totalmente impossível que os nobres órgãos da fala humana sejam substituídos por
um insensível e ignóbil metal.” (Jean Boillaud, da Academia Francesa de Ciências, a
respeito do fonógrafo de Thomas Edison, 1878)
Um cientista ao tentar criar uma super cola, acabou inventando uma muito fraca e que
aparentemente não servia para nada. Conversando com um amigo, descobriu que ele
tinha um problema que talvez sua fraca cola pudesse ajudar. Eles acabaram criando o
Post-It.
"Não existe nenhuma razão para alguém querer um computador em sua casa." -Ken
Olson, presidente e fundador da Digital Equipment Corp., 1977
Procure identificar e incentivar os talentos de sua empresa, você fi cará surpreso com
o resultado.
“Depois que nomearmos nossos gerentes, deixemos que eles reinventem a roda. O
mundo está mudando tão depressa que sempre iremos precisar de rodas diferentes
para terrenos que mudam.” Paul Van Vlissingen
Quando a cadeia de fast-food Habib´s tinha apenas 11 lojas, o Sr. Saraiva, criador da
rede, detectou um problema que comprometia todo seu empreendimento. Mesmo com
investimento em treinamento e padronização das suas receitas, cada uma das lojas
tinha sabores diferentes. Para solucionar o problema, tomou uma medida radical: em
apenas três meses, criou uma central de produção que passou a produzir e distribuir
seus lanches. Perdeu um sócio nesse processo, em compensação, resolveu o
problema da padronização e ainda cortou custos fixos com a diminuição das cozinhas.
Hoje são mais de 260 lojas Habib´s no Brasil e México.
Há alguns anos, a empresa que conhecemos hoje pela sua excelência na produção de
aparelhos celulares, a Nokia, fabricava papel higiênico. Foi necessária muita coragem,
força de vontade e competência para promover uma mudança tão radical. Estes são
alguns dos bloqueadores da criatividade, mas cuidado, existem muitos outros.
Precisamos estar sempre atentos, um bloqueador pode vir camuflado de boas
intenções. Manter a cabeça aberta a novas idéias, não se deixar influenciar pelo
pessimismo alheio, os preconceitos e paradigmas.
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Desenvolvendo a criatividade.
A criatividade tem suas raízes na infância, mas infelizmente a maioria dos adultos não
teve acesso a uma educação eficiente, impedindo que elas crescessem e
florescessem.
“Quando as crianças vão para a escola, são pontos de interrogação; quando saem,
são frases feitas”. Neil Postman (educador).
Esse pequeno trecho a seguir, retirado do livro: Um “toc” na cuca, ed. São Paulo,
ilustra exatamente onde ocorre essa mudança.
“Quando eu estava no meio do curso colegial, meu professor de inglês fez uma
pequena marca de giz no quadro-negro.
Ele perguntou à turma o que era aquilo. Passados alguns segundos, alguém disse: ’É
uma marca de giz no quadro-negro’. O resto da classe suspirou de alívio, porque o
óbvio foi dito e ninguém tinha mais nada a dizer. ‘Vocês me surpreendem’, o professor
falou, olhando para o grupo. ‘Fiz o mesmo exercício ontem, com uma turma do jardim
da infância, e eles pensaram em umas cinqüenta coisas diferentes: o olho de uma
coruja, um inseto esmagado e assim por diante. Eles realmente estavam com a
imaginação a todo vapor’.
Nos dez anos que vão do jardim da infância ao colegial, nós tínhamos aprendido a
encontrar a resposta certa, mas também havíamos perdido a capacidade de procurar
outras respostas certas e perdido muito em capacidade imaginativa”.
A boa notícia é que a criatividade faz parte da natureza humana e com o estímulo
certo, nós podemos desenvolvê-la.
Idéias são como sonhos, se não forem devidamente armazenadas, serão esquecidas
e perdidas em poucos minutos. Por isso, anote qualquer idéia, mesmo aquelas que
não façam o menor sentido, que ainda não estejam prontas ou que não despertaram o
interesse de ninguém, mesmo assim, anotem.
“Quando perguntaram a Einstein onde era seu laboratório, ele tirou uma caneta e
respondeu ‘Aqui!’ ” Trecho do livro, Einstein – O Enigma do Universo de Huberto
Rohden.
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Certa vez, Einstein disse: “ - não sou mais inteligente do que ninguém, sou apenas a
pessoa mais curiosa que conheço”.
Esse é um exercício simples, que se for feito com regularidade, pode em pouco tempo
trazer resultados interessantes. Faça o seguinte: separe alguns minutos por dia,
durante o banho, indo para o trabalho, antes de dormir, ou em qualquer outro lugar e
hora, para pensar sobre um determinado assunto. Pense em novas soluções para
antigos problemas, idéias para problemas novos, etc. Faça o exercício diariamente e
anote e guarde todas as idéias que surgirem.
Um dos maiores estudiosos do processo criativo, Edward De Bono, diz que a sua
principal função como consultor de grandes empresas do mundo, sempre foi fazer as
pessoas pararem um pouco para pensarem e repensarem seus problemas. Então,
escolha uma hora qualquer do dia para sair um pouco da rotina e bote a cabeça para
funcionar.
"Quando a mente de uma pessoa expande-se ao criar uma nova idéia, nunca mais
voltará a sua dimensão original". Oliver Wendell Holmes
Um boa dica para não esquecer e perder suas idéias é comprar um pequeno caderno,
de preferência de capa dura para anotar sempre que surgir uma idéia ou pensamento.
Não se esqueça de levar o caderno acompanhado de um lápis ou caneta para todos
os lugares. Leve-o para onde quer que você vá, ao banheiro, ao almoço em família, ou
para qualquer outro lugar. As boas idéias não escolhem hora para aparecer e como já
disse, se não anotar rápido, certamente vai esquecer.
Mas tome cuidado, com tempo você terá muitos recortes, revistas e cadernos para
guardar. Para facilitar sua pesquisa no futuro, separe tudo em pastas por assunto e
guarde em caixas. Imagine se em sua casa, não tivesse um armário com portas e
gavetas para organizar as coisas? Como seria para encontrar um par de meias
pretas?
Assim também funciona com as idéias, precisamos organizá-las! Mas, não adianta
guardar na parte de cima do armário, procure deixar em um local de fácil acesso.
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Pessoas, lugares e acontecimentos podem nos enviar mensagens, respostas e idéias
a todo instante. Muitas vezes precisamos codificar essas mensagens através de nossa
experiência, percepção e intuição. Utilize todas as armas e sentidos na busca da
melhor resposta para o que procura.
"Descobrir é olhar para a mesma coisa como todos olham e enxergar algo diferente".
Albert Szent-Gyorgyi
O psicólogo Samuel Gosling, desenvolveu uma interessante tese que é preciso notar
os pequenos detalhes para se ter uma visão real de uma pessoa ou problema. Uma
particularidade de alguém, um pormenor sobre um caso podem provocar um insight.
Normalmente as idéias mais criativas são aquelas mais obvias e simples. As crianças
são a essência da simplicidade e podemos aprender muito observando a maneira com
que elas desenvolvem suas brincadeiras e criações.
Do outro lado temos os idosos com toda a experiência e sabedoria acumulada a duras
provas durante várias gerações de muito trabalho. Se observarmos outras culturas,
como, por exemplo, a oriental, poderemos aprender a respeitar um pouco mais essas
pessoas tão especiais e que têm muitas coisas para nos ensinar.
Se juntarmos a simplicidade das crianças com a experiência dos idosos, teremos uma
poderosa fonte de idéias.
Um problema é sempre uma ótima oportunidade para criar. Precisamos gostar dos
problemas e desafios que aparecerem pela nossa frente. Um problema e sempre um
desafio, uma oportunidade para inovar.
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O medo de perguntar algo sem sentido e parecermos estúpidos e incompetentes na
frente de estranhos, colegas de trabalho, amigos ou clientes, faz com que fiquemos
inseguros e que não tenhamos a coragem necessária para esclarecer nossas dúvidas.
Uma das características infantis presentes nos adultos criativos é fazer perguntas
sobre temas que eles em geral, já não questionam mais.
Não adianta só ter idéias, é preciso ter coragem para mostrá-las aos amigos, família,
sócios, patrocinadores, etc. Ao apresentarmos uma idéia, ela cresce, se transforma e
atinge uma outra esfera. É nesse momento que a colocamos a prova e podemos
visualizar suas reais possibilidades.
“Quem troca pães, fica com um único pão. Quem troca idéias fica com as duas. O
melhor negócio é sempre trocas idéias.” J.M. Machado de Assis.
Jack Welch ex-presidente da General Eletric diz em seu livro “Jack Defi nitivo”, que se
uma idéia não resistir a algumas perguntas de corredor, por certo não resistirá ao
mercado.
Toda nova idéia normalmente passa por diversos tipos de resistências e obstáculos.
Da falta de vontade política a escassez de recursos humanos e materiais. Mesmo uma
excelente idéia pode sofrer todo tipo de pressão, por isso, para vencermos precisamos
ser perseverantes, mantermos a motivação e sabermos buscar os aliados certos.
Ter coragem para tentar, mesmo sabendo que é provável que tenhamos muitas
quedas durante o percurso. Nunca devemos esquecer que as piores idéias, são
sempre aquelas que nunca saíram das gavetas.
Qualquer tipo de droga legalizada ou não, pode à primeira vista ajudar no processo
criativo, mas cuidado, o preço cobrado é caro demais por alguns voláteis instantes de
bem estar e euforia.
Não é caretice, é fato! Todos que utilizam por muito tempo algum tipo de bengala
acabam desaprendendo a andar sozinhos. Com o tempo ainda diminuem sua
capacidade de criação, raciocínio, concentração e percepção.
É preciso ainda estar atento a outros tipos de perigos aparentemente inofensivos, mas
que podem ter conseqüências negativas ao processo criativo. São eles a baixa auto-
estima, a insegurança, o medo de errar, a timidez, o ciúme, a preguiça, o comodismo,
o desamor e a timidez, que juntos ou separados, podem limitar e até neutralizar seu
potencial criativo.
Só erra quem faz e só constrói uma grande idéia quem acredita em seu potencial, tem
paixão pela que faz e acredita na sua idéia.
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Aproveite seu tempo livre para enriquecer suas experiências, adquirir mais cultura e
conhecer mais pessoas. Descubra novas fontes e abasteça seu banco de idéias. Visite
museus, parques e exposições. Assista peças de teatro, filmes e shows. Leia o que
passar pela frente, de livros a jornais. É preciso estar preparado para receber a idéia.
É claro que mesmo o “melhor” trabalho não pode ser sempre divertido e prazeroso.
Mas quando descobrimos nossos verdadeiros talentos e trabalhamos no que
gostamos, transformamos nossas segundas-feiras, em dias tão interessantes quanto
os sábados.
“As pessoas não têm mais talento, têm mais paixão por seus assuntos. Einstein
investia tempo, todos os dias, viajando pelo imensurável espaço além da atmosfera
terrestre com sua imaginação intuitiva. Quem quiser ter mais intuição sobre alguma
coisa deve aumentar sua paixão sobre ela”. Psicóloga Sharon
Roberto Menna Barreto fala em seu livro “Criatividade no Trabalho e na Vida”, que
existem ingredientes que devem ser misturados e muito bem cuidados para que
possamos ter idéias criativas. A partir da idéia de um médico pernambucano, ele criou
um acrônimo chamado BIP.
O B é exatamente o Bom Humor. Segundo o autor, bom humor é estar numa boa
perante um problema, qualquer problema, é razão imprescindível, sine qua non, para
um indivíduo ter um flash criativo capaz de resolvê-lo.
Problemas que nos comprometem o bom humor, que nos fazem sofrer, são problemas
para cuja solução estamos provisoriamente, impotentes.
Roberto tem razão, quando estamos de bom humor, todas as coisas ficam mais
claras e fáceis. Mas na falta dele, é como se perdêssemos parte da visão e não
pudéssemos mais enxergar todas as paredes de uma sala. Sem ele, nosso raciocínio
e intuição ficam comprometidos.
Quando estava terminando este artigo tive alguns problemas pessoais que me
privaram o bom humor e o poder de concentração. Fiquei quase uma semana sem
conseguir escrever uma linha.
É muito difícil, poderia até dizer que é quase impossível manter o humor quando
passamos por algum problema pessoal que nos deixa triste, desmotivado e até sem
esperanças. Mas mesmo assim, é preciso levantar a cabeça, olhar o problema de
frente e dar a volta por cima. Quando consegui recuperar o humor, passei a enxergar
meu problema com outros olhos e afinal, ele não era assim tão feio.
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“Eu penso 99 vezes, e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio – e eis
que a verdade me é revelada”. Einstein
O BRAINSTORM PERFEITO
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arte, mais parecida com o ato de tocar piano do que com o de andar de bicicleta ou
amarrar os sapatos. O brainstorm é praticamente uma religião na IDEO, praticada
quase todos os dias. A maioria das pessoas conhece os princípios básicos de um
brainstorm – como prestar atenção em uma conversa de cada vez e incorporar as
idéias dos outros –, mas é preciso mais empenho se você quiser uma reunião que
produza resultados compensadores.
1 - Defina o foco
Comece a reunião com uma definição bem clara do problema – pode ser uma
pergunta que vá direto ao assunto, por exemplo. Busque uma coisa tangível, em que
os participantes possam trabalhar, sem limitar as possíveis soluções. Se tiver uma
exposição bem articulada do assunto, bem como o nível certo de especificidade, será
mais fácil trazer as pessoas de volta ao tópico principal.
Não critique nem debata as idéias que aparecerem na reunião. Na IDEO, temos um
jeito de desviar as críticas sem afastar os críticos: muitas salas de reunião exibem as
regras do brainstorm reproduzidas nas paredes, com letras garrafais. São coisas do
tipo: “vá atrás de quantidade”, “estimule idéias malucas” ou “seja visual!”
3 - Numere as idéias
Levamos quase dez anos para pensar nisso. Numerar as idéias é uma ferramenta
para motivar os participantes com um argumento do tipo “vamos tentar 100 idéias
antes de sair daqui” ou para medir a fluência de um brainstorm. E é também uma
ótima maneira de pular para a frente e para trás sem perder em que ponto você está.
Os melhores brainstorms tendem a seguir uma série de curvas de “força”, nas quais o
impulso é formado lentamente, depois intensamente e, mais tarde, começa a estagnar.
Estimule um outro impulso vigoroso ou proponha uma pequena variação no tema
inicial. Faça qualquer coisa que mantenha a energia em alta.
Antes de iniciar a reunião, cubra as paredes e superfícies planas com papel. Depois,
quando as idéias começarem a jorrar, anote o que for relevante para que o grupo
possa acompanhar o progresso da reunião. Quando for preciso retomar uma idéia, a
memória espacial ajudará as pessoas a recobrar o estado de espírito em que estavam
quando ela surgiu pela primeira vez.
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7 - Vá além das palavras
Bons brainstorms são extremamente visuais. Por isso, traga ao encontro tudo que é
relevante: produtos concorrentes, soluções de outras áreas e tecnologias promissoras
que poderiam ser aplicadas ao problema. Também ajuda ter materiais à mão para
montar modelos. Na IDEO, às vezes, chegamos ao ponto de fazer “discussões
corporais” sobre o assunto que estamos debatendo.
Lembre-se de que a inovação floresce em estufas. O que quero dizer com estufas?
Um lugar em que os elementos sejam perfeitos para promover o crescimento de boas
idéias. Onde haja calor, luz, umidade e muita sustentação. A estufa de que estamos
falando, logicamente, é o ambiente de trabalho, a maneira como os espaços tomam
forma nos escritórios e as equipes trabalham juntas. Talvez você considere secundário
o espaço do escritório para o processo prático da inovação. Bem, na IDEO, nós o
consideramos um de nossos principais recursos. Alguns anos atrás, fui citado na
revista Fortune, numa reportagem de capa sobre o fim do emprego, em que disse:
“Contrate as pessoas certas e todo o resto tomará conta de si mesmo”. A vida não é
tão simples assim, claro, mas contratar profissionais talentosos é a principal
tarefa de todo gerente. E as pessoas do topo contam nos que se unem à IDEO não
somente porque lideramos nosso setor, mas também por causa do ambiente físico e
cultural. Os espaços de nossos escritórios ajudam a inovação a acontecer.
ESPERE O INESPERADO
O acaso oferece idéias que você não previu. É uma verdade bem aceita a de que
invenções e descobertas muitas vezes resultam de acidentes aleatórios ou de
experiências que não deram certo. Como você pode capitalizar partindo de tais
fenômenos? Bem, comece esperando o inesperado e fi que aberto a surpresas que
vêm de dentro ou de fora da organização. Tente abordar os projetos com humildade e
com o reconhecimento de que as respostas podem vir dos lugares de que você menos
suspeita. Chamamos isso de “olhar de soslaio” e de “polinização cruzada”, o que é
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bastante libertador e poderoso. Se você espera encontrar respostas vindas de lugares
fora do comum, é muito mais provável que isso aconteça. Na natureza, sabemos que
a polinização cruzada leva a variedades superiores de plantas. O mesmo acontece
com produtos e serviços. Inicie um projeto com a suposição de que a polinização
cruzada pode ajudá-lo a inovar e você terá maior probabilidade de dar os saltos de
criatividade necessários.
Temos um ditado na IDEO: “Erre muitas vezes para chegar ao sucesso antes”. A falha
é o outro lado do risco e, se você não arriscar, há a probabilidade de que não tenha
êxito. É uma lição que aprendemos a duras penas e que vimos acontecer com
incontáveis clientes. No início da década de 80, descobrimos que o mouse na verdade
não precisava mais de seus “rabos” elétricos. Com baterias de níquel-cádmio e um
transmissor, você tem um mouse que funciona sem fi o. Propusemos essa inovação a
um cliente de uma grande corporação. No começo, ele adorou a idéia, mas, no dia
seguinte, o medo o atacou. Não ficamos muito surpresos quando, duas semanas
depois, o gerente, antes entusiasmado, se intimidou. “Se não der certo”, disse ele, “fi
arei conhecido pelo resto da minha carreira como o sujeito daquele estúpido mouse
sem fio.”
Em vez de enfrentar isso, ele tomou o caminho mais fácil. Passou adiante a inovação
e decidiu-se por um produto sem nenhuma novidade. Dois anos mais tarde, criamos
um mouse sem fio para David Liddle, o veterano do Vale do Silício que assumia riscos,
e sua sensacional estação de trabalho Metaphor. A empresa recebeu muita atenção
da imprensa por seu produto inovador.
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vez que os clientes começam a usar seus produtos ou serviços, você precisa
aperfeiçoá-los constantemente.
Para oferecer produtos e serviços melhores, você tem de se importar com as pessoas
que os usarão. Pense em algo tão básico quanto uma escova de dentes.
Os pequenos seguram a escova com a mão toda fechada, e não com as pontas dos
dedos. A princípio, parece paradoxal que as escovas das crianças sejam mais grossas
que a dos adultos, mas não quando você as vê em uso. Portanto, fizemos um cabo
gordo e macio, fácil de segurar. Nossas escovas tinham a aparência e a textura iguais
às de um brinquedo, uma coisa boa se considerarmos que, quanto mais tempo as
crianças ficarem escovando os dentes, melhor. Esse conceito pode ser aplicado a
todos os aspectos de diversidade em sua base de clientes. Os grupos têm diferenças
sutis que você precisa entender, observar e com as quais deve se identificar para
conseguir prever seus interesses e criar um produto que seja adequado a suas
necessidades.
Com o passar dos anos, acumulamos algumas valiosas idéias sobre a prática da
inovação.
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Tente anotá-las com suas próprias palavras e espalhá-las pelo seu ambiente de
trabalho. E, mais que tudo, pratique-as sempre que puder:
> Brinque com seu ambiente de trabalho físico de um jeito que emita uma “linguagem
corporal” positiva para funcionários e visitantes.
> Pense em suas ofertas de produtos e serviços com verbos, e não com substantivos.
Isso cria experiências maravilhosas para todos que entram em contato com sua
empresa ou marca.
> Quebre as regras e vá errando, mas sempre seguindo em frente, de maneira que a
mudança faça parte da cultura da empresa e que pequenos contratempos sejam
sempre esperados.
> Continue humano, escalando seu ambiente organizacional de tal modo que haja
espaço para que os grupos surjam e floresçam.
> Construa pontes de um departamento para outro, da empresa para seus prováveis
clientes e, finalmente, do presente para o futuro.
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