RESUMO
ABSTRACT
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Professor do INESV. Pós-graduado em Direito Público. Advogado militante inscrito na OAB-ES
sob n.º 10.342
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1 INTRODUÇÃO
A evolução social, partindo dos mais remotos tempos, vislumbra das mais cruéis
práticas, em que o mais forte sobrepunha suas vontades aos mais fracos,
aplicando como critério de superioridade à força física e intelectual. Veja-se, por
exemplo, que, na pré-história, o vencedor na batalha escravizava o vencido.
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verdadeiros instrumentos para a opressão do poder econômico dos setores
produtivo-empregadores.
A condição social atual, entretanto, somente foi adquirida nos últimos séculos, em
especial no século XIX e XX.
As mazelas sociais geradas pelo liberalismo, tão grandes eram, que obrigaram o
Estado a sair de uma posição de não interferência para uma posição de extrema
interferência, sendo que em alguns Estados não havia nenhuma atividade fora da
esfera estatal.
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Veja-se que o trabalho passou de um momento extremamente liberal, em que
trabalhadores eram submetidos a jornadas de até 16 horas diárias, onde crianças e
mulheres eram submetidas à verdadeira escravidão, evoluindo para um trabalho
regado completamente pelo poder estatal.
O que se teve foi à mudança do método produtivo. Leis foram editadas e criadas
para que o trabalho fosse regulado, de modo a garantir que o trabalhador tivesse
sua dignidade produzida. Entretanto, o Estado intervencionista não suportaria as
evoluções ocorridas, e seria obrigado a abrir mão de tanto controle ara assumir
uma posição menos intervencionista.
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Também o fato de a concorrência ter-se acirrado com o aumento das facilidades no
comércio exterior faz com que as empresas procurem a redução de seus gastos ao
máximo, mesmo que isto venha a trazer desemprego, miséria e exploração.
Tal ponto de vista também é observado pelos detentores do capital, que buscam a
diminuição do custo de produção para concorrer ao mercado globalizado.
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Segundo Süssekind (2001, p. 51), os defensores do Estado Social admitem a
redução do grau de intervenção da lei, desde que para isso os sistemas legais
constituam regras gerais indisponíveis. Isso para ser garantido o mínimo de
proteção a todos os trabalhadores, sendo-lhes garantidos a dignidade do ser
humano. Não obstante, deve esses sistemas abrir espaço para a complementação
do piso protetor irrenunciável. Ainda, garantir o atendimento às peculiaridades
regionais, implantação de novas tecnologias e métodos e, também, preservação da
saúde econômica da empresa e do empregado.
Entretanto, muitas críticas são levantadas por esta inclusão na Carta Magna de
matérias que poderiam ser regulamentadas por leis. Sussekind (2001) afirma que
melhor teria sido que a Carta Magna tivesse possibilitado à Lei ordinária indicar,
restritivamente, as hipóteses nas quais as partes, através de convenção ou acordo
coletivo, pudessem flexibilizar a aplicação do preceito estatal, fixando os limites
suscetíveis de serem desrespeitados pelos instrumentos de autocomposição.
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pois permite às empresas contratarem serviços sem a necessária configuração do
vínculo empregatício. Entretanto, deve ser tomado o suficiente cuidado na
aplicação indiscriminada de tal artigo, pois uma série de conseqüências pode advir
da interpretação equivocada do artigo supracitado.
Esta modificação inserida pela lex fundamentalis, entretanto, não foi a única a ser
inserida no contexto das relações de emprego. Outras vieram, como a Medida
Provisória que permitiu os contratos temporários de trabalho com direitos
reduzidos, já no governo Fernando Henrique Cardoso, ou a Lei 9.601/98, que
introduziu o contrato de trabalho por tempo determinado com redução da
contribuição do FGTS.
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das condições contratuais de trabalho, mas com previsão em Convenção Coletiva.
Essa é a redação do art. 7.º,. Inc. VI, por exemplo, ao dizer que é direito do
empregado à irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo (grifo nosso).
Entretanto, mais recentemente, foi encaminhada à Câmara dos Deputados, o
Projeto de Lei nº 5483/2001, que altera o disposto no artigo 618 da Consolidação
das Leis Trabalhistas.
Tal projeto de lei busca a alteração do atual artigo 618 da CLT, cuja redação atual
é “As empresas e instituições que não estiverem incluídas no enquadramento
sindical a que se refere o art. 577 desta Consolidação poderão celebrar Acordos
Coletivos de Trabalho com os Sindicatos representativos dos respectivos
empregados, nos termos deste Título”.
Pelo projeto de Lei ora em comento, tal artigo passaria a vigorar com a seguinte
redação: “As condições de trabalho ajustadas mediante convenção ou acordo
coletivo prevalecem sobre o disposto em lei, desde que não contrariem a
Constituição Federal e as normas de segurança e saúde do trabalho”.
Está claro que o projeto traz uma revolução para o direito do trabalho brasileiro,
visto que inverte a hierarquia das normas, ou seja, o acordo coletivo passa a ser
superior à lei, ressalvadas as garantias constitucionais.
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Deve ser observado ainda, que a Convenção ou o Acordo coletivo sempre deverá
ser observado, independente de hierarquia, desde que para tanto traga ao
trabalhador um benefício. É a aplicação do princípio do Direito do Trabalho da
Norma Mais Favorável ao Trabalhador.
Com a aprovação de tal projeto de lei, muitas garantias dos trabalhadores poderão
ser suprimidas, tudo dependendo da condição da negociação coletiva de trabalho.
Se o sindicato não apresentar nenhuma força, estará sujeito ao poder de barganha
do órgão representativo de classe mais poderoso.
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inclusive licença-paternidade; i) redução do valor de depósito do FGTS; j)
transformação do 13º salário em parcelas mensais.
A flexibilização deve ser aplicada juntamente com políticas públicas para garantia e
erradicação das mazelas sociais decorrentes do trabalho desumano. À medida que
o direito do trabalho avança para um horizonte onde a flexibilização parece a saída
para as questões decorrentes de negociações de mercado, influenciada pela
supremacia da vontade do capital, é extremamente necessário que o direito do
trabalho avance, e neste ponto, com interferência e constante proteção do Estado
para garantida das mínimas condições de dignidade do ser humano. Não poderá o
Estado perder a sua característica de protetor do hipossuficiente, principalmente
nas relações de trabalho. Não pode o Estado deixar de lado seu caráter humanista.
Tal interferência estatal parece não somente estar sendo buscada pelo direito do
trabalho ao garantir os direitos mínimos dos empregados. Tal princípio, basilar nas
relações de emprego, com aplicação de normas mais favoráveis, inversão de ônus
da prova e vários outros eminentemente protecionistas vem sendo aplicados, com
as devidas revisões, em direitos como o do consumidor, ao garantir, por exemplo, a
aplicação do princípio da irrenunciabilidade da norma mais favorável. Desse modo,
é estranho como o governo e as pressões neoliberais pretendem retirar das
relações de trabalho a intervenção do Estado, para que ele deixe de tutelar os
direitos dos trabalhadores. Os mitos da autonomia da vontade, da liberdade
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absoluta das partes na constituição e desenvolvimento dos contratos já caíram no
Novo Código Civil que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003.
5 CONCLUSÕES
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de Direito, em especial de seus fundamentos, como a dignidade da pessoa
humana.
6 REFERÊNCIAS
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 16. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2002.
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