Este trabalho tem por objetivo apresentar os conceitos básicos da álgebra Boole
permitindo a aplicação dos postulados, teoremas, propriedade e identidades em circuitos
eletrônicos digitais facilitando o seu entendimento e simplificação.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 2
Índice:
1 Conceito:......................................................................................................................... 3
2 Revisão Funções Lógicas Básicas: ................................................................................. 4
2.1 Função “E” (AND): ................................................................................................ 5
2.2 Função “OU” (OR):................................................................................................ 5
2.3 Função Inversora (NOT): ...................................................................................... 6
2.4 Função “NÃO OU” (NOR): ................................................................................... 6
2.5 Função “NÃO E” (NAND): ................................................................................... 7
2.6 Função “OU EXCLUSIVO” (EXOR):................................................................... 7
2.7 Função “NÃO OU EXCLUSIVO” (EXNOR): ...................................................... 8
2.8 Diagrama Lógico: ................................................................................................... 8
3 Postulados da álgebra de Boole:..................................................................................... 9
3.1 Postulado do produto:............................................................................................. 9
3.2 Postulado da soma: ............................................................................................... 10
3.3 Postulado da Inversão:.......................................................................................... 11
3.4 Aplicação prática dos postulados: ........................................................................ 12
3.4.1 Chaves eletrônicas digitais: .......................................................................... 12
3.4.2 Implementando a função NOT sem usar a porta inversora: ......................... 13
4 Propriedades das funções lógicas: ................................................................................ 15
4.1 Propriedade Comutativa: ...................................................................................... 15
4.2 Propriedade Associativa: ...................................................................................... 15
4.3 Propriedade distributiva: ...................................................................................... 16
5 Teorema de Demorgan: ............................................................................................... 17
5.1 Aplicação prática do Teorema de Demorgan: ...................................................... 18
6 Teorema do Mutual: .................................................................................................... 20
7 Identidades:................................................................................................................... 21
7.1.1 Identidade 1: ................................................................................................. 21
7.1.2 Identidade 2: ................................................................................................. 22
8 Simplificação usando álgebra de Boole: ...................................................................... 23
8.1 Equação na forma da soma de produtos: .............................................................. 23
8.2 Dicas para a simplificação usando álgebra de Boole: .......................................... 24
8.2.1 Exemplo 1 de simplificação: ........................................................................ 24
8.2.2 Exemplo 2:.................................................................................................... 26
8.2.3 Exemplo 3:.................................................................................................... 27
9 Mapa de Karnaugh: ...................................................................................................... 28
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 3
1 Conceito:
A álgebra de Boole estuda as funções e variáveis lógicas. O conhecimento da
álgebra de Boole vai permitir otimizar circuitos digitais. Uma das principais aplicações
desta álgebra é na simplificação de funções lógicas, com este conhecimento é possível
projetar circuitos digitais menores e mais baratos. O conhecimento da álgebra de Boole
pode ser aplicado no campo da pneumática, existem circuitos pneumáticos digitais, que
usam funções lógicas.
O estudo da álgebra de Boole é basicamente matemático, trata as funções lógicas
somente sob o aspecto matemático, no entanto, vamos enfocar estes aspectos matemáticos
tendo em vista a sua aplicação em circuitos digitais.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 4
A função “E” relaciona as funções lógicas de forma que a saída assumirá estado 1
somente quando a entrada A e a entrada B for 1. Esta função é chamada de produto lógico
pois tem o comportamento exatamente igual ao produto algébrico.
A B Z
0 0 0 Tabela verdade da função “E” (AND)
0 1 0 Equação:
1 0 0 Z = A.B
1 1 1
A função “OU” relaciona as funções lógicas de forma que a saída assumirá estado 1
somente quando a entrada A ou a entrada B forem 1. Esta função é chamada de soma lógica
pois tem o comportamento “quase” idêntico a soma algébrica (na soma algébrica 1+1 não é
1 e sim 2)
A B Z
0 0 0
0 1 1 Tabela verdade da função “OU” (OR):
1 0 1 Equação da função “E” (OR):
1 1 1 Z= A+B
A função inversora inverte estado lógico da entrada, esta é uma função uma
variável.
A Z
0 0 Tabela verdade da função “NOT”:
0 1 Equação:
Z=A
A função “NOU” relaciona as funções lógicas de forma que a saída assumirá estado
1 somente quando a entrada A ou a entrada B forem 1. está é uma função complexa
composta da associação de uma função “E” básica em série com uma função “OU”.
A B Z
0 0 1 Tabela verdade da função “NOU” (NOU):
0 1 0 Equação:
1 0 0 Z= A+B
1 1 0
A B Z
0 0 1 Tabela verdade da função “NÃO E” (NAND)
0 1 0 Equação:
1 0 0 Z = A.B
1 1 0
A B Z
0 0 1 Tabela verdade da função “EXNOR”
0 1 0 Equação:
1 0 0 Z = A⊕B
1 1 1 ou anda a forma abaixo menos comum:
Z=A⊗B
A B Z
0 0 1
0 1 0
1 0 0
1 1 1
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 9
Note que inverter uma variável que já está barrada significa eliminar a inversão, isto
vai ocorrer se o numero de barras for par, se o número de barras for impar pode ser
reduzido a uma só barra. Uma variável com um número par de barras equivale a uma
variável sem inversão, uma variável com um número impar de barras equivale a uma
variável com uma só barra.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 12
Podemos construir chaves digitais, de forma que uma das entradas de uma porta
“AND” ou “OR” bloqueie a passagem do sinal, que é aplicado a outra porta. A entrada que
servirá de chave (bloqueando ou não a passagem do sinal) é normalmente chamada de
“entrada de habilitação”, recebe o símbolo “E” do inglês “enable”(habilitar).
A configuração usando porta “E” é mais comum, pois deixa a saída desligada no
bloqueio. Podemos ter variantes como, por exemplo: Usando portas “NAND” ou “NOR”.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 13
A porta NAND pode ser considerada uma porta inversora em série com uma porta
E, de forma que a porta NAND tem a função inversora já implementada, assim vamos usar
os teoremas em que a saída Z assume o valor da entrada X, e deixar que a inversora
inerente a função NAND, inverta o sinal. Como existem duas Equações no teorema do
produto em que Z=X, temos duas configurações possíveis para implementar uma função
inversora usando uma porta NAND.
Esta propriedade afirma que: variáveis podem ser trocadas de posição sem que o
resultado se altere, na prática isto implica em que o técnico não precisa se preocupar em
qual o pino da porta irá conectar o sinal.
Esta propriedade é muito útil, pois permite que uma função de três variáveis possa
ser implementada com funções de duas variáveis. Se no circuito existe uma porta “E” ou
uma porta “OU” de três entradas, estas portas podem ser substituídas por duas portas de
duas entradas, veja no circuito da figura 6.
Associativa do produto: Z = A . B . C = A . (B . C) = (A . B) . C
Associativa da Soma: Z = A + B + C = A + (B + C) = (A + B) + C
Esta propriedade pode ser vista como a distribuição do produto, fora do parêntese,
entre as somas dentro do parênteses. Observe que o parêntese pode ser excluído, pois não
há duvidas de que primeiro deve ser feito a operação do produto. Esta ação também é
conhecida como colocar em evidência, isto ocorre quando existe duas ou mais parcelas com
uma variável comum, ou um conjunto de duas ou mais variáveis comuns. Neste caso a
variável comum pode ser “colocada em evidência”, esta ação é muito usada na
simplificação de funções aritméticas com frações, aqui, esta ação também será usada para
simplificar funções. A seguir é mostrada a ação de “colocar em evidência”, que é a
expressão contrária da distributiva.
Esta propriedade não existe na álgebra convencional, por isto você deve prestar
bastante atenção, pois não intuitiva como as outras propriedades. Esta propriedade pode ser
vista como a distribuição da soma, fora do parêntese, nos produtos dentro do parêntese,
neste caso dois novos parênteses são gerados, cada um com uma soma, e o produto entre
eles, para evitar que primeiro seja feito o produto. Aqui até podemos dizer que existe uma
ação semelhante à ação de colocar em evidência.
5 Teorema de Demorgan:
Este é um dos teoremas mais importantes da álgebra de Boole. Este teorema
relaciona as funções de soma lógica e produto lógico. Por este teorema podemos afirmar
que basta uma função lógica, por exemplo, a soma, pois um produto pode ser
implementado usando a função lógica da soma e da inversora. O mesmo ocorre para o
produto. O teorema de Demorgan é mostrado na equação 1 relacionando a função soma ao
produto, a equação 2 é outra forma de mostrar este teorema:
Equação 1. Z = A + B = A.B
Equação 2 Z = A + B= A.B
Equação 3 Z = A.B= A + B
Equação 4 Z = A.B= A + B
Neste método para aplicar o Teorema de Demorgam a uma equação o técnico deve
proceder três inversões:
1. Inverter as entradas independentemente.
2. Inverter as operações.
3. Inverter toda a equação.
Exemplo 1:
Aplicação do método das três inversões no produto Z = A . B
Solução:
1. Invertendo as entradas: Z=A . B
2. Invertendo a operação: Z=A + B
3. Invertendo tudo: Z=A + B
Exemplo 2:
O Teorema de Demorgan pode ser aplicado a qualquer tipo de equação, se tiver uma
variável barrada com a aplicação do teorema de Demorgan aparece duas barras e com isto
as inversoras são eliminadas. Aplicando o teorema de Demorgan na equação: Z = A + B .
Solução:
1. Invertendo as entradas: Z = A + B = A + B Pois A = A
2. Invertendo as operações: Z = A .B
3. Invertendo tudo: Z = A .B
Exemplo 3:
Exemplo 4:
Neste vamos mostrar como deve ser tratado um erro bastante comum para os
iniciantes no estudo da eletrônica digital. O estudante desavisado tende a interpretar as
variáveis barradas de uma soma ou de um produto lógico como se fossem iguais a toda as
operações barradas, como é mostrado na equação a seguir.
Z= A + B = A + B ou Z = A . B= A . B
O Teorema de Demorgan mostra que para inverter toda a equação é preciso inverter
a operação também.
O correto é:
Z = A + B = A . B ou Z = A . B= A + B
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 20
6 Teorema do Mutual:
Este teorema diz que: Se existe uma relação conhecida e verdadeira, é possível criar
uma segunda relação verdadeira a partir da primeira, simplesmente trocando as operações, e
invertendo os números “1” e “0”. Este teorema pode ser exemplificado a partir dos
postulados anteriores, que sempre foram explicitados aos pares. Observe como o postulado
do produto pode ser deduzido a partir do postulado da soma, como é mostrado a seguir:
O teorema de Demorgan também pode servir como exemplo. Dada uma das
equações é possível a segunda. Se por exemplo fosse dado a equação 1:
Z = A + B = A . B , trocando a soma pelo produto, chagaríamos a equação 3:
Z = A . B = A + B . Note que aqui não havia nem o número zero nem o número um, note
ainda que, as barras não foram alteradas, o Teorema do Mutual não fala nada a respeito das
barras.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 21
7 Identidades:
Identidades são novas relações baseadas nos postulados e teoremas, que pela sua
importante aplicação prática na simplificação de circuitos eletrônicos digitais, são
estudados separadamente. Para provar a veracidade da Identidade pode ser usado a Tabela
verdade, isto é, deverá ser levantada a tabela verdade dos dois lados da igualdade, se as
tabelas verdades forem iguais então, a identidade é verdadeira. Outra forma é tentar
entender a equação usando os postulados e teoremas, este será o método que nós vamos
usar nesta etapa do trabalho, isto porque, este é um método semelhante ao usado na
simplificação das equações lógicas, que será visto nos capítulos seguintes.
7.1.1 Identidade 1:
Z = A + A.B = A
Note que esta identidade pode ser aplicada à um circuito digital de forma que o
complexo circuito da figura a seguir pode ser substituído por um condutor somente, note
que neste circuito a variável B não tem a menor influência no resultado, usando esta
identidade conseguimos um simplificação considerável.
Z = A + A.B
Z = A . ( 1 + B ) Colocando o “A” em evidência, pois o “A” está presente nas
duas parcelas.
Z = A . 1 Como ( 1 + B ) = 1, todo o parêntese pode ser eliminado e substituído
pelo número “1”.
Z = A Finalmente o produto por 1 pode ser eliminado pois A = A . 1.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 22
7.1.2 Identidade 2:
Z = A + A.B= A + B
Neste caso a simplificação não é tão marcante como na identidade 1, mas mesmo
assim, houve a economia de uma porta “E” e de uma porta inversora. O mais importante
desta identidade é a prova usando álgebra de Boole, pois será necessário o uso da
propriedade distributiva da soma no produto, esta é uma propriedade difícil de identificar
no início.
Z = A + A.B
Z = ( A + A ) . ( A + B ) Distribuindo a soma “A+” no produto
Z = 1 . ( A + B ) Porque ( A + A ) = 1 .
Z = A + B Porque 1. X = 1
Para tornar prática a aplicação desta identidade o estudante pode usar o seguinte
raciocínio:
Se uma variável ou conjunto de variáveis aparece sozinho em uma parcela de uma
soma e na outra parcela aparece invertido, então a variável que não está sozinho pode ser
simplificado. Observe os exemplos abaixo:
Exemplo 5:
Exemplo 6:
Z = A . B + A .B . C = A . B + C
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 23
Para tornar mais fácil o trabalho o estudante deve colocar a equação na forma de
soma de produtos. A figura abaixo mostra um exemplo deste tipo de estrutura.
Z = A . B . C + A. B. C + A . B .C
Observe o diagrama da figura do circuito que implementa esta equação. Note que
o circuito é montado em três partes:
• Uma parte constituída das inversoras, caso haja.
• Uma etapa comporta “E” (produto).
• Uma etapa final com porta “OU” (soma).
Z = A . B . C + A. B. C + A . B .C
Primeiramente você deverá procurar colocar as parcelas com variáveis comuns uma
ao lado da outra, na verdade isto já está feito neste exemplo, onde as variáveis
comuns são: A.B .
Note que agora surge uma simplificação dentro do parênteses, temos o postulado da
soma: 1 = X + X , então todo o parênteses pode ser substituído por 1, ficando a
equação assim:
Z = A . B . 1 + A . B .C
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 25
Note que agora na primeira parcela temos novamente outro postulado, agora do
produto: X = X . 1 , onde X = A.B , neste caso a equação fica:
Z = A . B + A . B .C
De posse da nova equação você deverá aplicar novamente o raciocínio, neste caso a
só existe uma variável comum as duas parcelas, o a barrado que deve ser colocado
em evidência, a equação vai ficar:
Z = A . (B + B .C )
Agora você deve olhar para o parênteses e procurar uma simplificação, isto possível
aplicando a identidade 2 pois: Nós temos uma variável sozinha em uma parcela e
esta mesma variável invertida na outra parcela), a variável sozinha permanece a
variável invertida da outra parcela desaparece. A variável sozinha é o B barrado. A
equação fica:
Z = A . (B + C )
Agora não existe mais simplificação possível para o parêntese, esta já pode ser
considerada a solução do exercício, no entanto, neste nosso estudo vamos considerar
a equação final aquela colocada na forma de uma soma de produtos, isto porque, na
prática este é o formato mais usado para a construção de circuitos digitais.
O circuito final é desenhado abaixo, note como ficou com menos porta lógica, logo,
bem mais barato.
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 26
8.2.2 Exemplo 2:
Note que aqui as parcelas já estão posicionadas duas a duas com variáveis comuns.
As variáveis comuns a primeira e segunda parcela são: B.C.D
As variáveis comuns a terceira e quarta parcela são: B.C.D
Novamente você pode colocar em evidência o B em todas as parcelas, mas, é
melhor tratar as parcelas aos pares.
Após colocar em evidência as variáveis comuns, a equação fica sendo:
Z = B.C.D.(A + A) + B.C.D.(A + A)
Note que você pode simplificar os dois parênteses pelo mesmo motivo, usando o
postulado da soma 1 = X + X . Já aplicando a simplificação direta do postulado do
produto X = X .1 . Para fazer o parêntese desaparecer. A função fica sendo:
Z = B.C.D + B.C.D
8.2.3 Exemplo 3:
Uma das principais dificuldades deste método é que ele não dá a você uma
indicação clara de que a função pode ser simplificada ou ainda de que a
simplificação chegou ao seu final, assim, você muitas vezes pode ser tentado a
fazer mais uma combinação e esta combinação não levar a nada, por isto, este
método depende muito do treino, do exercício e é usado na prática somente em
funções mais simples. Para funções mais complexas o método do mapa de
Karnaugh visto em outra unidade é mais usado, mesmo assim é um método prático
até quatro variáveis, ou cinco em alguns casos, para funções maiores hoje em dia,
existem programas de computador que fazem o trabalho por você, é o caso do
EWB, mais usado para testes de circuitos digitais.
Z = C.B.A + C.B.A
Z = B.(C.A + C.A)
Note que a função que ficou dentro do parêntese não pode ser mais simplificada,
não existe nenhuma regra que possa ser usada, observe bem que este é o caso do
erro grave do exemplo 4 do Teorema de Demorgan.
Você poderia ficar tentado a simplificar o parêntese, mas, isto não é possível.
Assim esta função não é possível de ser simplificada, você só pode chegar a esta
conclusão após tentar simplificar,não havia nenhuma pista antes!
Álgebra de Boole aplicada à eletrônica digital 28
9 Mapa de Karnaugh:
A simplificação de equações usando o Mapa de Karnaugh é um método simples e
prático usando uma representação gráfica especial da tabela verdade, devido a sua
importância este assunto é tratado em separado na apostila chamada “Mapa de
Karnaugh”.