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Caderno2 D5

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 3 DE ABRIL DE 2010

LUIZ PRADO/AE–11/9/1998

C2+m/Capa
FEITADE
AMOR
EÓDIO
A raiva que alimentava contra tudo e
contra todos parecia ser o combustível de
Nina Simone. Afinal, quanto mais revolta
sentia, mais talento surgia de seu piano

● As várias faces da diva

RACISMO
“Toda a minha vida desejei
exprimir meu sentimento de
prisioneira, esse silêncio atroz
que transforma todos os negros
em encarcerados.”

VERDADE
“Seja o que for que alguém
possa concluir sobre minha
Antonio Gonçalves Filho música, seja o que for que idiossincrasia estilística de Nina cia deadvogados, obrigados a re-
alguém sinta por ela, saiba que a Simonerivalizava comapessoal. presentá-la como Dra. Simone –
Nina Simone achava que era a perturbação que ela provoca é Quando criança, foi aluna de A CONCERTISTA onde tudo começou com duas ela insistia na “doutora”, por ter
reencarnação de uma princesa também parte da perturbação do uma professora inglesa de pia- gotas do ar condicionado caindo estudado música erudita na
egípcia. Seus fãs não precisavam ouvinte. Tudo o que você ouve no, Muriel Mazzanovich, que a OBRIGADA A sobre a cabeça da pianista, obri- Julliard School, frustração
dessa informação para reveren- nessa música é absolutamente obrigava a tocar Bach sem parar SOLTAR A VOZ gada a cantar para atrair fregue- maior, uma vez que não conse-
ciaracantora– tampoucoaescri- verdadeiro.” –aprimeirahoradeaulaerasem- ses. Logo ela, que sonhava com guiu se tornar uma pianista clás-
tora Nadine Cohodas, que, mes- pre dedicada ao compositor ale- uma carreira de concertista. sica. E, mais uma vez, ela culpou
mo assim, batizou sua biografia, LIBERDADE mão. Miss Mazy, como Nina a ● No dia 18 de maio de 2003, Essa frustração era evidente. Fa- os brancos por isso, alegando ter
recém-lançada nos EUA e ainda “Vou dizer a você o que significa chamava, era mais que uma pro- um mês após sua morte, o Curtis lei com ela duas vezes como re- sido rejeitada no exame de ad-
sem previsão dechegar aoBrasil, liberdade para mim. Liberdade é fessora de música. Seria uma es- Institute of Music, o mesmo que pórter. Na primeira, mal me missãonoCurtisInstituteofMu-
de Princess Noire – The Tumul- realmente não sentir medo de pécie de Maggie Smith no filme a rejeitou em 1951, resolveu con- olhou no rosto – e sua insistência sic, aos 18 anos, por ser negra.
tous Reign of Nina Simone (Pan- espécie alguma. Todos deveriam A Primavera de uma Solteirona ceder um prêmio póstumo “por para que fosse tratada por “dou- Osentimento deinjustiçapes-
theon Books, 464 págs., US$ 30). ser livres e, se não o somos, é (The Prime of Miss Brodie), uma sua contribuição à arte musical”. tora Simone” afastou qualquer soal,vítimadoracismodos bran-
Ascredenciaisda biógrafa garan- porque somos assassinos.” professora que ensinava às alu- E foi mesmo uma contribuição e possibilidade de perguntas ínti- cos, perseguiu a militante Nina
tem a seriedade da pesquisa. An- nas tudo o que seus pais jamais tanto. No entanto, seu caminho mas. Na segunda, às 9 horas da Simone a vida toda, mesmo
tes de Nina Simone, ela escreveu AMÉRICA ousariamaprender. Assim,Euni- poderia ter sido diferente se ela manhã, já estava tão encharcada quando já era uma diva, adorada
a biografia de outra diva do jazz, “Não estou no meu país. Nasci ce Waymon adotou-a como sua não tivesse, em 1954, trocado o de champanhe Cristal que mal por fãs – brancos e negros –, dis-
Dinah Washington (Queen: The aqui, nos EUA, mas este não é o “mãe branca”. Como seus pais nome para Nina (menina, em es- entendia as perguntas. De qual- postos a pagar uma fortuna para
Life and Music of Dinah Washing- meu lar. Sinto estar à beira de não podiam pagar pelas aulas, panhol) Simone (em homenagem quer modo, não há como negar: vê-la no palco e cantar apenas
ton), sendo também autora da ser crucificada aqui, só não sei foi criado em Tryon uma espécie à atriz Simone Signoret), ao acei- foi uma personalidade e tanto. seis músicas – como no seu últi-
história de uma lendária grava- dizer por quem.” de fundo para custear seus estu- tar o contrato para cantar num Não haverá outra Nina Simone. / mo concerto no Carnegie Hall,
dora de blues, a Chess Records. dos de piano. Miss Mazy, então, bar de Atlantic City, o Midtown, ANTONIO GONÇALVES FILHO em 2001, dentro do Festival
EmPrincessNoire, Nadine Coho- MILITÂNCIA preparouaalunaparaseuprimei- JVC. O organizador George
dastentaserdiscretaaoacompa- “O que eu fazia não era música ro recital, em 1944, aos 11 anos, Wein pagou a ela um cachê de
nhar a evolução da bipolaridade clássica, nem popular, mas no auditório da Biblioteca La- quentes provocações da cantora contas. Deu calote em locadores US$ 85 mil, cobrando US$ 100
da grande cantora, que morreu, música em defesa dos direitos nier, de Tryon. Foi o estopim do aopúblico durante os concertos, londrinos, numa clínica suíça, por ingresso. Ninguém recla-
em abril de 2003, aos 70 anos, de civis. Todos os meus amigos trauma que a acompanhou para como a de interpretar seu hino no American Express e acumu- mou. “Ela era adorada como
umcâncer nopulmão,diagnosti- foram exilados ou simplesmente o resto da vida. de guerra Mississippi Goddam, lou uma dívida com o Imposto umadeusaehaviasetransforma-
cado dois meses antes. Acontece assassinados. Fiquei meio Os pais vestiram-se como se passaram pelo mesmo teste de de Renda americano que chega- do num ícone”, comenta o em-
que Eunice Waymon (seu nome perdida, amarga, paranoica, fossem para a igreja. Chegaram e resistência aos impropérios lan- ria, nos dias de hoje, a quase US$ presário. Não foi a mesma opi-
verdadeiro) teve uma vida nada imaginando que podia ser morta sentaram-se na primeira fileira. çadosdopalco aosbrancos.Esta- 500 mil, o que explica seu exílio nião do crítico Gene Santoro, do
discreta. Há, portanto, uma dis- a qualquer momento.” Ao entrar no palco, a futura Ni- valançadaasementedabipolari- voluntário em Barbados e na Daily News. Para ele, aquela ha-
sonância que perturba a inten- na,furiosa,observouque elesha- dade de Nina, uma intérprete de França, onde morreu. Nina gos- via sido uma noite em que Wein
ção da biógrafa, a de dissecar – SEMELHANTES viam sido deslocados para o fun- reconhecida sensibilidade, ca- tava de vestir roupas de grife e “tentouerguer Romadesuas ruí-
sem os instrumentos corretos “Dizem que eu e Billie Holiday do da sala. Encarou a plateia e paz de emocionar um canibal, e tomar a champanhe Cristal nas”. Afinal, no fim da carreira, a
de um psicanalista – essa perso- somos parecidas. Suponho que pediuaosorganizadores queins- que chegava ao extremo de agre- LouisRoederer.Eissocusta mui- voz não era mais a mesma e Nina
nalidade perturbada, algo esqui- seja porque tivemos vidas talassem os pais num lugar onde dir seu público, dizendo que não to, muito caro (uma garrafa de davasinaisdedistúrbiodeperso-
zofrênica, megalomaníaca e da- idênticas, sempre rejeitadas.” pudesse vê-los. Constrangidos, precisava do amor dos fãs, mas Cristal de uma boa safra não sai nalidade, tropeçando nos fios do
da a acessos de agressividade. os anfitriões cederam ao pedido, de dinheiro para viver. por menos de US$ 500). Ainda microfone, falando com a voz
Criada durante a Grande De- contrariando as leis locais, que De fato, como conta sua bió- assim, apresentou-se regular- empastada dos alcoólicos e dei-
pressão em Tryon, na Carolina garantiam aos brancos a escolha grafa, ela foi explorada por agen- mente nos EUA nos anos 1970 e xando a alça do vestido cair co-
do Norte, numa família de oito dos melhores lugares. Anos mais tes, empresários, gravadoras. 1980, graças a um acordo com o moumadecadente divademelo-
irmãos e pai pastor metodista, a tarde, os que assistiram às fre- Vingava-se na hora de pagar as Leão americano e à interferên- drama hollywoodiano.

Arquivo Estado
Rose Saconi batista da cidade. Aprendeu pia- Discografia. Ao longo de 47 rante duas semanas, também
Há 20 anos ●O adeus no e até tocou um pouco de ór- anos de carreira, Sarah Vaughan no Rio. A última vez que visitou

C
hamada pela crítica Já sem condi- gão. Sua vida de cantora come- gravouquaseumacentenadedis- o País foi em 1989.
Jazz perde Sarah norte-americana de
“Divina do Jazz”, Sa-
ções de recupe-
rar a saúde,
çou apenas em 1943, quando
venceu um concurso de calou-
cos, cantando ao lado dos gran-
des nomes do jazz como Bub Po-
A vida pessoal de Sarah foi
marcada por uma série de casa-
rah Vaughan – “uma Sarah Vaughan ros no Teatro Apollo, no Har- well, Charlie Parker e Duke mentos e divórcios. Ela não gos-
Vaughan, a ‘Divina’ das poucas vocalistas capazes foi internada e lem, em Nova York. Ellington, entre outros. A músi- tava de ser chamada de Sarah
de modular a melodia como se teve alta no A capa do Caderno 2 do dia 5 de ca brasileira era uma de suas pai- por pessoas que não fossem pró-
tocasse um instrumento musi- mesmo dia, 31 abril foi toda dedicada à canto- xões. Em 1977, gravou o LP O ximas. Era Miss Vaughan, como
cal”, segundo texto de capa do de março. Ela ra. Em destaque, sua vida pes- Som Brasileiro de Sarah Vaughan. exigia em suas entrevistas. Os
Estado – morreu em 3 de morreu em soal, a carreira e a discografia. E, em 1987, com Sérgio Mendes e amigos, no entanto, a chama-
abril de 1990. Tinha 66 anos e casa, em Uma declaração de Frank Sina- Dori Caymmi, Brazilian Roman- vam de “Sassy” (desbocada).
sofria de câncer no pulmão. Hidden Hills, tra descrevia a qualidade vocal ce. Tom Jobim era um de seus
Filha de carpinteiro e de la- uma semana de Sarah Vaughan e sua impor- compositores favoritos. estadao.com.br
vadeira, Sarah nasceu em Ne- após o tância para a música: “Todos Sua primeira apresentação no
wark, New Jersey, em 27 de aniversário. cantam, mas cantores de verda- Brasil ocorreu em 1958, no Rio. Blog. Saiba o que acontecia
março de 1924. Começou a can- de não passam de dez. Sarah es- A temporada mais longa foi em há um século no
tar ainda criança numa igreja tava nessa dezena.” 1979, quando se apresentou du- blogs.estadao.com.br/cem-anos-atras

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