A máquina do serviço público é historicamente pouco eficiente. Como o senhor fez para
mudar essa realidade?
Nós estabelecemos metas para todos os servidores, dos professores aos policiais. E 100% deles
passaram a receber uma remuneração extra sempre que atingissem as metas acordadas. O
governo começou a funcionar como se fosse uma empresa. Os resultados apareceram com uma
rapidez impressionante. A mortalidade infantil em Minas caiu mais do que em qualquer outro
estado, a desnutrição infantil das regiões mais pobres chegou perto do patamar das regiões mais
ricas, todas as cidades do estado agora são ligadas por asfalto, a energia elétrica foi levada a
todas as comunidades rurais e mesmo as mais pobres passaram a ter saneamento. Na segurança
pública conseguimos avanços notáveis com a efetiva diminuição de todos os tipos de crime.
Nas últimas eleições, quem venceu em Minas venceu também a eleição presidencial.
Acontecerá o mesmo neste ano?
Espero que sim, e acho que o governador Serra tem todas as condições para vencer em Minas
Gerais e no Brasil. Eu vou me esforçar para ajudá-lo, repito, porque tenho um compromisso com
o país que está acima de qualquer projeto pessoal. Esse compromisso inclui trabalhar para
encerrar o ciclo de governo petista. Lula teve muitas virtudes. A primeira delas, aliás, foi não
alterar a política econômica do PSDB. Ele fez bons programas sociais? Claro, é um fato. Mas o
desafio agora é fazer o Brasil avançar muito mais, e é isso que nosso presidente fará.
A ministra Dilma Rousseff, candidata do PT ao Planalto, tem dito que o presidente Lula
reinventou o país. Esse é um exemplo de discurso messiânico?
Sem dúvida. Se um extraterrestre pousasse sua nave no Brasil e ficasse por aqui durante uma
semana sem conversar com ninguém, só vendo televisão, ele acharia que o Brasil foi descoberto
em 2003 e que tudo o que existe de bom foi feito pelas pessoas que estão no governo atual. Os
brasileiros sabem que isso é um discurso vazio. Não teria havido o governo do presidente Lula
se não tivesse havido, antes, os governos do presidente Fernando Henrique e do presidente
Itamar Franco. Sem o alicerce do Plano Real, nada poderia ter sido construído.
A ministra Dilma cresceu nas pesquisas e viabilizou-se como candidata competitiva. Isso
preocupa o PSDB?
A ministra Dilma chegou ao piso esperado para um candidato do PT, qualquer que fosse ele. A
partir de agora, ela terá de contar com a capacidade do presidente Lula de lhe transferir votos.
Mas o confronto olho no olho com o governador Serra vai ser muito difícil para ela.
O senhor acha que os brasileiros são ingratos com o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso?
Eu acho que hoje não se faz justiça a ele, mas tenho certeza absoluta de que a história
reconhecerá seu papel crucial. Como também acho que se fará justiça ao presidente Itamar
Franco, que permitiu a Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, fazer e aplicar o
Plano Real.
Se vencer a disputa presidencial, Serra diz que tentará acabar com a reeleição.
Eu prefiro mandatos de cinco anos, sem reeleição. Defendo isso desde 1989. Mas, hoje, pensar
nisso é irreal. A reeleição incrustou-se na realidade política brasileira de maneira muito forte. A
prioridade deveria ser uma reforma política que incluísse o voto distrital misto. Isso aproximaria
os eleitores dos deputados e ajudaria a depurar o Parlamento.
O senhor, um político jovem, bem avaliado, duas vezes governador de um grande estado,
ainda deve almejar chegar à Presidência, não?
Eu tenho muita vontade de participar da construção de um projeto novo para o Brasil, em que a
nossa referência não seja mais o passado, e sim o futuro. Sem essa dicotomia que coloca em um
extremo o PT e no outro o PSDB, e quem ganha é obrigado a fazer todo tipo de aliança para
conseguir governar. Assim, paga-se um preço cada vez maior para chegar a sabe-se lá onde. O
PT deixou de apresentar um projeto de país e hoje sua agenda se resume apenas a um projeto de
poder. Eu gostaria de uma convergência entre os homens de bem, para construir um projeto
nacional ousado, que permita queimar etapas e integrar o Brasil em uma velocidade muito maior
à comunidade dos países desenvolvidos, de modo que todos os brasileiros se beneficiem desse
processo.