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Vistos etc. SINDICATO DOS CONFERENTES DE CARGA, DESCARGA E CAPATAZIA DO PORTO DE SANTOS, SÃO VICENTE,
GUARUJÁ, CUBATÃO E SÃO SEBASTIÃO, qualificado na inicial, impetrou o presente mandado de segurança, com pedido de
concessão de medida liminar, contra ato praticado pelo OFICIAL DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE
PESSOA JURÍDICA DE SANTOS, alegando, em síntese, que o Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga do Porto de
Santos incorporou, regularmente, a representação dos membros do Sindicato dos Conferentes de Capatazia do Porto de
Santos, o que implicou alteração estatutária de denominação e ampliação representativa de seus trabalhadores. Realizada a
incorporação sindical, o impetrante ponderou que houve regular processo eleitoral, mas a documentação pertinente
(processo de eleição e ata de posse) teve seu registro recusado pelo impetrado, o qual exigiu o cumprimento de diligências
prescritas em notas de devolução. Por entender que a negativa de registro importou em vulneração de seu direito líquido e
certo, o impetrante objetiva a concessão da segurança, a fim de que a autoridade impetrada seja compelida a arquivar o
processo eleitoral do Sindicato e ata de posse da diretoria eleita. O impetrante, com a inicial, juntou documentos (fls.
14/166). A liminar foi indeferida (fl. 167). A autoridade impetrada prestou informações e, na oportunidade, colacionou
documentos (fls. 185/290). O Ministério Público ofertou parecer, opinando pela denegação da segurança (fls. 294/296). A
Fazenda Pública do Estado de São Paulo foi cientificada sobre a demanda, requerendo a inclusão do nome de sua
Procuradora na contracapa dos autos, a fim de receber as intimações respeitantes ao feito (fls. 297 e 299). É o relatório.
Fundamento e decido. O impetrante é carecedor da demanda mandamental, porquanto ausente o interesse processual.
Interesse processual, requisito ou condição necessária ao exame do mérito da demanda, associa-se diretamente à noção de
utilidade, de modo que o demandante, mercê da provocação do órgão judicante, possa alcançar uma situação de vantagem
perante a situação de desvantagem em que se encontra, fruto do não atendimento a um direito subjetivo do qual se arvora
titular. E, para obter essa situação de vantagem, a via jurisdicional, além de necessária (interesse-necessidade), há de ser
adequada para tal desiderato (interesse-adequação). Feitas essas considerações, analisadas as razões fáticas e jurídicas
apostas na inicial, colhe-se que o impetrante, para alcançar o pretenso registro e arquivamento de seu processo eleitoral e
ata de posse de diretoria, aviou medida judicial inadequada para seu lamento. É que o impetrante, por não se conformar
com as exigências feitas pelo registrador em notas de devolução, em vez de impetrar mandado de segurança, deveria lançar
mão do procedimento de dúvida previsto na legislação regente da matéria (art. 115 da Lei nº 6.015/73; art. 30, XIII, da Lei
nº 8.935/94; e Provimento nº 58/89 da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo). Ademais, nos termos do art.
5º, I, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009, é descabido o manejo do mandado de segurança se o ato impugnado, tal
como a nota de devolução do Oficial de Registro, é passível de recurso administrativo, independentemente de caução. Ao
fazer uso do writ, sem o prévio procedimento de dúvida instituído em lei, o impetrante esvaziou por completo as atribuições
próprias que são cometidas ao juízo corregedor permanente do Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de
Pessoas Jurídicas de Santos. Ao juízo da Fazenda Pública, por evidente, não é conferido o poder de, em verdadeira subtração
de atribuições determinadas em lei, realizar os misteres ínsitos ao juízo corregedor permanente da serventia extrajudicial. O
egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em hipóteses parelhas, já se pronunciou acerca da inadequação do
mandado de segurança para se questionar a recusa do oficial de registro em promover o arquivamento de atos considerados
irregulares, pontificando, em reiteradas e recentes decisões, a falta de interesse processual, valendo conferir, a propósito da
matéria, os seguintes julgados: Apelação Cível com Revisão nº 813.416-5/0-00, 6ª Câmara de Direito Público, v.u., Rel. Des.
Leme de Campos, data de julgamento 18/05/2009; Apelação Cível com Revisão nº 780.495-5/5-00, 6ª Câmara de Direito
Público, v.u., Rel. Des. Israel Góes dos Anjos , data de julgamento 09/03/2009; e Apelação Cível nº 462.337-4/2-00, 4ª
Câmara de Direito Privado, v.u., Rel. Des. Maia da Cunha, data de registro 19/12/2006. Impende assentar, por oportuno,
que o Oficial do Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica, que ocupa a condição de impetrado nesta ação
mandamental, não praticou qualquer ato de autoridade na dicção exigida pela atual Lei nº 12.016/09 e anterior Lei nº
1.533/51, uma vez que tão-somente fez cumprir as determinações legais e administrativas aplicáveis ao registro pretendido.
O oficial de registro, como cediço, não defere nem indefere a pretensão de registro do interessado. Ele pratica ou não o
registro de determinado ato, desde que seja permitido por lei, de maneira que eventuais divergências serão submetidas ao
crivo do juízo corregedor permanente da serventia. É bem por isso que o interessado, ante as exigências feitas pelo oficial da
serventia extrajudicial, há de impugnar a negativa de registro mediante o procedimento de dúvida previsto em lei, o qual
será examinado e decidido por uma autoridade: o juiz corregedor permanente. Enfim, sob qualquer ângulo que se forceje
análise aos fatos descritos na inicial e seus documentos, salta aos olhos a inadequação do mandado de segurança para
assegurar tutela jurisdicional ao bem da vida que se visa a proteger, forçando reconhecer a ausência de interesse
processual. Ante o exposto, e considerando o mais que dos autos consta, com lastro no art. 267, VI, do Código de Processo
Civil, JULGO EXTINTA A DEMANDA MANDAMENTAL, sem julgamento de mérito, por falta de interesse processual do
impetrante (inadequação do mandado de segurança). Nos termos da Súmula 512 do Supremo Tribunal Federal e Súmula
105 do Superior Tribunal de Justiça, deixo de condenar o impetrante ao pagamento de honorários advocatícios,
respondendo, porém, pelo integral pagamento de custas e despesas processuais. PRIC. Santos, 18 de fevereiro de 2010.