São Paulo
2009
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Joice Atique
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AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................06
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................40
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INTRODUÇÃO
Escrituras, não sabendo, então, como defender a sua fé diante das pressões intelectuais
seculares. Alguns ainda aceitam que a Palavra de Deus pode estar errada em alguns
pontos, apenas para tentarem conciliá-la com o pensamento deste século. Nota-se a
necessidade de pesquisar mais sobre o relacionamento de fé-razão para que o cristão
sinta-se segura na Palavra de Deus, e não acuado pelos ensinamentos do mundo.
Sabendo, assim, como pregar um evangelho baseado na Palavra de Deus, e não em vãos
argumentos racionalistas.
Esta pesquisa partirá da abordagem dedutiva, a partir de fatos históricos e
estudos de grandes filósofos, pensadores, cientistas e teólogos, antigos e do nosso
tempo. Procurar-se-á entender o pensamento de tais homens e relacioná-los com a
revelação de Deus para chegarmos a algumas considerações finais. O procedimento
utilizado será comparativo, e as investigações terão caráter teórico e de pesquisa
bibliográfica.
Será usada a Bíblia Sagrada nas traduções Atualizada, Corrigida e Nova Versão
Internacional; de acordo com o que for mais claro para o contexto da pesquisa. Na
fundamentação bibliográfica desta pesquisa, destacam-se também as seguintes obras:
McGrath, Teologia – sistemática, histórica e filosófica; Brown, Filosofia e Fé Cristã;
Stott, Crer é também pensar e Geisler, Introdução à filosofia: uma perspectiva cristã.
Muitas outras obras também farão parte desta pesquisa e constam nas Referências
Bibliográficas.
Esta pesquisa não tem como objetivo ser exaustiva, o que não seria possível pelo
limitado tamanho da pesquisa e o fato de haver muitas obras e pensadores que foram
importantes para o problema da relação fé-razão. Assim, foram citados apenas os nomes
necessários para entendermos algumas das posições que mais influenciaram a
perspectiva cristã. Os argumentos bíblicos, filosóficos e lógicos poderiam ser mais
extensos, mais não estaria dentro dos objetivos e delimitações da presente pesquisa.
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1.1.1 Sócrates
Como observou Will Durant foi “a sua resposta a essas perguntas que deu a
Sócrates a morte e a imortalidade.” (1991, p.29). Sócrates talvez recebesse o apoio dos
mais velhos se levasse seus discípulos de volta à antiga crença nos deuses e deusas. Mas
ele tinha a convicção de que isto era suicídio intelectual, era retroceder. O filósofo
acreditava em um Deus único que o livraria da morte completa.
Sócrates cria que sua sabedoria advinha da religião, e assim dizia:
do que este serviço que presto a Deus” (citado por Giuseppe Staccone,
1991, p. 19).
Assim, para Sócrates, não havia uma divisão entre a fé em um Deus único e a
razão, estas duas ideias eram tão próximas que chegavam a se confundir. A razão levava
a fé, e a verdadeira fé vinha da razão.
1.1.2 Platão
Platão – 427 a 347 a.C. – foi profundamente impactado por Sócrates. Afirmava,
como observa Giuseppe Staccone (1991, p. 22), que o verdadeiro saber não estava
naquilo que se pode provar e testar empiricamente, mas no mundo das ideias.
O filósofo argumentava a favor da procura de Deus através da razão: “Afirma-se
que não se deve fazer indagações a respeito do Deus supremo e de todo o universo, nem
investigar curiosamente as suas causas, porque seria ímpio. Parece-me que o certo é
justamente o contrário” (citado por Giuseppe Scappo, 1991, p.22).
Foi Platão que criou o termo Teologia – theós + logos – que depois foi assumido
por Aristóteles.
Um aspecto bastante importante nos seus escritos é a teoria das formas; na qual
ele afirma que a realidade visível pode ser explicada como imagens de formas como o
Bem, que por sua vez é a suprema personificação do divino. Assim, a alma é uma
projeção de um mundo superior e transcendente onde habita o bem.
A noção do logos, que dava lógica ao universo, foi bastante explorada por
teólogos a partir do primeiro século da era cristã. Estes relacionaram esta visão
platonista com a divindade. Clemente de Alexandria afirmou:
“Platão diz: ‘Quem são os verdadeiros filósofos? Aqueles que desejam enxergar a
verdade’. E em Fedro, ele refere-se à Verdade como ideia. Essa ideia, porém, não é
outra senão o pensamento de Deus, ao qual os pagãos chamaram de seu logos. Ora,
o logos procede de Deus como a causa da criação.” (citado por McGrath, 2005,
p.272)
Ao definir as diretrizes para um Estado ideal Platão dá grande ênfase a uma base
psicológica e fisiológica; mas afirma também que uma nação que não acredita em Deus
não pode ser forte. Para o filósofo, um Deus visto apenas como uma força cósmica ou
como uma razão para o universo não serviria. Deus teria que ser pessoal para dar ao
povo a fé, a coragem e a força que necessitavam para passar pela dura realidade da vida.
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Deveria ser um Deus vivo. E a esperança também dependia de uma vida após a morte, a
imortalidade daria força para aguentar a morte dos entes queridos e seria agente
moderador das paixões e ganâncias humanas.
Além da base moral, a fé em um Deus pessoal também capacitaria o povo a
entender que no Estado ideal “Deus vos fez de forma diferente. Alguns têm o poder do
comando (...) outros para serem auxiliares (...) outros ainda, que deverão ser agricultores
e artesãos.” (citado por Alister McGrath, 2005, p. 415).
Portanto, através de sua filosofia teológica Platão acreditava ser possível e
necessário justificar a fé através da razão.
1.1.3 Aristóteles
Aristóteles – 348 a 322 a.C.- foi discípulo de Platão, mas por discordar em várias
áreas do seu mestre acabou fundando a sua própria academia, o Liceu. Uma das grandes
influências de Aristóteles no mundo da teologia foi o seu princípio do “tudo o que se
move é movido por outra coisa” (citado por McGrath, 2007, p. 273), que foi usado por
Tomás de Aquino para desenvolver alguns argumentos a favor da existência de Deus
que serão comentados mais adiante neste trabalho.
Aristóteles tratou sobre o problema de Deus na Física e na Metafísica. Como
comenta Giuseppe Sttacone, na física o filósofo afirma que existe algo que deu
movimento a tudo o que há no universo, e na metafísica afirma que este algo é um Deus
ativo e inteligente.
Portanto, na busca de uma teologia filosófica Aristóteles chega a conclusões
metafísicas através da razão. Seguindo o exemplo de Sócrates e Platão, ele se afasta do
politeísmo místico que era alcançado pela fé cega e sem explicação, e busca uma
explicação racional. Mas o filósofo, assim como seus mestres, também ultrapassa os
limites da razão, mesmo sem contradizê-la, tentando dar mais informações sobre o Ser
supremo do que os próprios métodos racionais permitiam.
A racionalização do conhecimento foi a marca destes pensadores que não
abandonaram certas crenças. Foram dirigidos pela razão, ruíram a mística crença grega,
mas não ignoraram a própria fé.
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1.3 MODERNISMO
Sob aspectos teológicos o modernismo pode ser visto como uma tentativa de
conciliar a crença com o iluminismo, com o propósito explicar a fé da religião de forma
centrada no homem. Neste sentido as maiores inspirações foram Maurice Blondeu e
Henri Bérgson.
O filósofo judeu Benedito Spinoza é, de acordo com Norman L. Geisler (1996,
p. 204) o exemplo mais claro e radical de ‘razão somente’ que se pode achar na história
da filosofia. Ele acreditava que a verdade só pode ser conhecida se for comprovada por
axiomas evidentes em si mesmos, o que não puder ser comprovado desta maneira deve
ser considerado irracional. Spinoza concluiu que era irracional acreditar nos milagres e
nas ressurreições descritas na Bíblia: “Podemos, portanto, ter absoluta certeza de que
todo evento que é corretamente descrito na Escritura necessariamente aconteceu, como
tudo o mais, de acordo com leis naturais” (citado por Geisler N., 1996. p.205).
A influência do modernismo na fé se enfraqueceu com a primeira guerra
mundial, e foi perdendo mais força até a metade da década de 1930. A decepção tem
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1.4 PÓS-MODERNISMO
2.1 Sócrates
Ele também argumenta que a finalidade das coisas do mundo também é uma
evidencia da existência de Deus. Pois o homem não pode contemplar as diferentes
criaturas que existem no mundo com seus diferentes papéis no universo e ainda assim
duvidar que são providências divinas.
Giuseppe Staccone (1991, p.20) porém observa que a visão de Sócrates não é a
de um Deus pessoal cristão, a teologia do filósofo parece ser uma projeção de sua
antropologia, assim, o homem não deve adoração ou culto a Deus, mas o adora quando
busca a virtude e a sabedoria.
2.2 Platão
Como já vimos Platão foi profundamente impactado por Sócrates. Por isso
também os seus argumentos a favor da existência de divindades não se diferenciam
muito dos do seu mestre.
Este filósofo também acreditava que a alma era uma evidência da existência de
Deus, pois, nas palavras de Giuseppe Staccone, “o procedimento ascendente e dialético
da alma, que, partindo da realidade empírica, e subindo por graus sucessivos de
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2.3 Aristóteles
afastado, sob todos os aspectos (...) da delicada e solícita paternidade do Deus cristão”
(1991, p. 73).
Tertuliano afirmou:
“Infeliz Aristóteles! Que inventou para estes homens a dialética, a arte de edificar e
de demolir; uma arte tão evasiva as suas posições, tão forçada nas suas conjeturas,
tão áspera nos seus argumentos, tão produtora de contendas (...) retraindo tudo e
realmente não tratando de nada!” (citado por Geisler N., 1996, p. 207)
2.4 Agostinho
Apesar de advertir que primeiro é preciso crer para depois entender, Agostinho –
354 a 430 – formulou um argumento racional a favor da existência de Deus.
A mente humana é capaz de entender algumas verdades imutáveis, como as leis
matemáticas. Mas a mente humana não é imutável. Uma vez que verdades imutáveis
não podem ter como base uma mente mutável, então deve haver uma Mente Imutável.
Agostinho identifica esta mente ‘imutável necessária’ como Deus. Ainda asseverando
que a Fé é requisito necessário para o conhecimento deste Deus.
A terceira via diz respeito a seres cuja existência necessita de explicação, por
exemplo, o ser humano. Precisamos de algo que justifique a nossa existência, um ser
cuja explicação é desnecessária, que simplesmente e necessariamente exista: Deus.
A quarta via afirma que a existência de valores humanos como virtude e verdade
indicam que existi algo capaz de dar origem a estes valores, algo que seja virtuoso e
verdadeiro. Assim, estes valores comuns aos seres humanos não foram inventados, mas
originam-se em Deus.
A quinta via é a observação de que há traços de um criador inteligente, pois o
que existe parece ter sido projetado para um propósito. Tudo o que é projetado com
certo propósito é assim feito por um ser inteligente. Chegamos a conclusão que Deus
projetou todas as coisas com um propósito. No século XVIII William Palley contribuiu
grandemente para este argumento.
Os cinco argumentos de Tomás de Aquino têm uma estrutura parecida,
retrocedem até uma causa maior e a reconhecem como Deus.
“Vimos o modo com que certas coisas, como os corpos naturais, atuam
conforme um propósito, mesmo não tendo conhecimento algum. O fato desses
corpos quase sempre atuarem da mesma maneira, visando à obtenção do bem
máximo, torna isso bastante evidente e demonstra que eles alcançam seu fim por
meio de um desígnio, e não por mero acaso. Ora, coisas que não possuem em si
conhecimento algum somente apresentam a tendência de atingir um fim por
intermédio da ação de algo que possua conhecimento e também compreensão para
tanto, como no caso de uma flecha lançada por um arquiteto, Portanto existe um ser
inteligente que dirige todas as coisas de acordo com o seu propósito. Esse ser nós
chamamos de Deus” (citado por McGrath, 2005, p. 300)
“estou convencido de que a existência não pode ser separada da essência divina (...)
Assim, pensar em Deus (isto é, pensar em um ser extraordinariamente perfeito)
como algo que não possui existência (isto é, que não possui uma certa perfeição)
não é menos absurdo do que pensar em uma montanha sem um vale (...) Não sou
livre para pensar em Deus à parte de sua existência (isto é, pensar em um Deus
extraordinariamente perfeito à parte da suprema perfeição) como sou livre para
imaginar um cavalo com ou sem asas... é necessário que atribua a ele todo tipo de
perfeição (...) Essa necessidade garante claramente que, quando disser
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“Esta (a definição de Deus) é de fato tão verdadeira que não se pode concebê-
la como falsa. Pois é perfeitamente possível pensar em algo cuja inexistência
não se possa conceber. E isso deve ser algo superior àquilo cuja inexistência
seja concebível. Logo, se isso (aquele a respeito de quem não se concebe nada
maior) for concebido como inexistente, portanto essa própria coisa (aquele a
respeito de quem não se concebe nada maior) não é algo a respeito do qual não
se conceba algo maior. No entanto, este raciocínio representa uma contradição.
Logo, é verdade que existe algo a respeito do qual não se concebe nada maior,
sendo impossível concebê-lo como inexistente.” (citado por McGrath, 2005,
196)
William Paley – 1743 a 1805 – foi um teólogo inglês e filósofo natural que deu
grande contribuição à já mencionada ‘quinta via’ de Aquino.
Paley ficou muito impressionado com as descobertas de Newton sobre a
mecânica celeste e desenvolveu um argumento sobre a existência de Deus baseado neste
aparente planejamento inteligente do mundo.
Usando como exemplo um relógio, o filósofo observa que a única resposta
sensata para explicar a existência daquele objeto era assumir a existência de um
relojoeiro que o criou. Pois as diversas peças e mecanismos de um relógio foram
propositalmente produzidos e organizados de tal maneira que o seu funcionamento fosse
tão perfeito a ponto de podermos contar até os minutos com ele. Visto tamanha
complexidade não seria sensato afirmar que tal objeto veio a existir por mero acaso.
Paley refere-se às válvulas do coração para demonstrar a complexidade da
criação, mas nós podemos pensar em um organismo unicelular dos mais simples. Este
ser com a capacidade de se alimentar, reproduzir, produzir proteínas, queimar energia e
acumular informação hereditária no material genético, é um dos mais simples da
natureza, mas é muito mais complexo que um relógio ou, contextualizando, que um
ipod. Assim, não podemos afirmar que seres unicelulares vieram a existir sem um ser
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“Para livrar seu pai do purgatório, subiu de joelhos a escada da Santa Sé, a
escadaria que se diz ter sido trazida da casa de Pilatos; repetindo, em cada
degrau, o Pai Nosso. Ao chegar ao topo, surgiu-lhe uma pergunta: quem sabe
se tudo isto é verdade?” (citado por Lopes, 2003, p.42).
O problema de Lutero não era com o pensamento racional, mas com a razão
dissociada da fé em Jesus Cristo, que não leva a lugar algum. Afirmou que
“Ainda que não houvesse alma, ou céu, nem inferno, seria necessário haver
escola para a segurança dos negócios deste mundo, como a história dos gregos
e romanos claramente nos ensina. O mundo tem necessidade de homens e
mulheres educados, para que os homens possam governar o país
acertadamente e para que as mulheres possam criar convenientemente seus
filhos, dirigir os seus criados e os negócios domésticos.” (citado po Lopes,
2003, p. 49)
“Não se pode ver a obra de Calvino atentamente sem se perceber que não somente
Educação está no âmago de seu programa e do seu grande sonho, a Igreja de
Cristo, mas que também era parte integrante, inerente e indispensável, segundo o
seu entender, da economia do Reino de Deus entre os homens, com vistas ao mais
alto propósito – a glorificação do seu Criador (...) Não há para Calvino uma
separação entre o ensino, quer seja de ciência, língua e história, e o ensino
religioso, porque todo o ensino visa ao aperfeiçoamento do homem para a sua
vocação, e essa vocação ou chamado divino tem por fim o cumprimento de um
papel na sociedade na qual o indivíduo se realiza, pois, além das bênçãos que
recebe para si na vida cotidiana, atinge o mais alto propósito da existência humana:
a glória de Deus” (citado por Lopes, 2003, p. 65)
Fazia parte de sua preocupação a busca de uma boa educação, esta deveria ser
iniciada com as crianças e supervisionada pela igreja. O ensino deveria refletir a glória
de Deus, e o conteúdo das aulas nunca poderia ser baseado somente nos escritos pagãos,
sendo a base central o ensino as Escrituras Sagradas.
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moral e o estudo racional nas Escrituras. A razão deve ser estimulada para que possa
servir à fé.
Por muito tempo foi pressuposto que o único caminho para a apologética cristã
fosse alguma forma de teologia natural suficientemente convincente a ponto de agradar
até um descrente.
Três pensadores marcaram a teologia do século XX por descordarem desta ideia
alegando que a teologia natural não funciona como ponto de partida para um
pensamento sobre Deus, que a base para uma apologética verdadeira deveria ser o
próprio Deus e Sua revelação. Vamos observar os ensinamentos destes homens.
“não podem reagir a ele de modo neutro; devem aceita-lo ou suprimi-lo porque não
querem acreditar nele. Paulo sabe que aqueles que se apegam a sabedoria do
mundo o fazem contra aquilo que melhor sabem, e com uma consciência pesada.
Cada fato do teísmo e cada fato do cristianismo aponta um dedo acusador contra o
pecador e diz: ‘Você está violando a aliança, arrependa-se e seja salvo.” (citado por
Colin Brow, 1989, p. 157)
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Para Cornelius o relacionamento da fé cristã com a razão do mundo não deve ser
neutro e suave, mas uma colisão. A tarefa do pensador cristão não é achar um ponto de
concordância com a sabedoria do mundo, mas mostrar que esta está errada em suas
pressuposições.
Mas, como teólogo reformado, ele não crê que alguém pode aceitar o Deus
verdadeiro apenas por ter sido convencido com bons argumentos, indiferente de suas
pressuposições. O não-cristão apenas aceitará o evangelho se esta for a vontade de
Deus, se Ele remover a cegueira de seus olhos através do poder do Espírito Santo.
Colin Brown observa que desde Aquino até Van Til muitos escritores têm feito
têm usado a afirmação de Paulo: “O que se pode conhecer de Deus é manifesto entre
eles pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível tornou-se inteligível, desde a criação
do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpa.” (Romanos 1.19-20) E
poucos têm explicado que revelação é esta e como funciona. Cornelius não é exceção.
Possivelmente o apóstolo se referia ao fato de que a natureza e a história nos mostra
“que tipo de Deus Deus é” (Colin Brown, 1989, p. 159).
Para Van Til é necessário demonstrar que toda razão que não é fundamentada na
Fé no Deus vivo é equivocada.
Karl Barth nasceu na Europa continental e foi criado na Igreja reformada na ala
protestante liberal. Já em seu primeiro pastorado tornou-se descontente com a
abordagem liberal das Escrituras e no decorrer dos anos mudou consideravelmente sua
interpretação teológica, isto deveu-se principalmente ao estudo da Bíblia e de escritores
protestantes clássicos.
Barth ensina um Deus que é totalmente transcendente e que não pode ser
identificado com nada mais. Assim o conhecimento de Deus não é separado do
Evangelho. Não se pode chegar a Deus através de caminhos escolhidos pelo homem,
como o da razão. Deus escolheu se revelar através da Sua palavra e de Seu Filho. Nas
palavras de Bartn:
permanece sendo um mistério para nós porque Ele mesmo Se fez tão claro e
certo para nós” (citado por Colin Brown, 1989, p. 160)
Isto porque se pode dizer que uma idéia racional é aquela que foi justificada pela
experiência, mesmo que não tenha sido demonstrada por argumento lógico. Assim a
abordagem de Barth não é irracional, pois é fundamentada na experiência com a Palavra
de Deus; a razão não é ignorada, mas seu uso é decidido por Deus.
Karl Barth não viveu o suficiente para terminar sua obra, que é uma exata
resposta a esta insatisfação teológica do modernismo. Um termo aplicado as suas ideias
é “teologia dialética”. Para Barth existe entre Deus e a humanidade uma relação de
contradição, pois a teologia não é uma resposta às indagações humanas; e sim uma
resposta humana ao que Deus tem nos revelado.
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Para Barth todas as tentativas de se chegar até Deus através da razão são inúteis,
pois o homem obscureceu e distorceu a revelação natural, aquela que poderia ser
observada nas leis da natureza, por exemplo. Em seu livro chamado ‘Nein’ – Não! – ele
argumenta que Deus sobrenaturalmente convence o homem da sua verdade.
Esta visão tornou-se muito importante para a teologia na década de 1930. Mas
recebeu algumas criticas também. Para alguns o fato de Barth enfatizar a transcendência
de Deus diante das questões humanas atribuía à divindade uma aparência de indiferença
e consequentemente o tornava irrelevante para os homens. Havia anseio por um Deus
que fosse ao mesmo tempo o centro da teologia e interessado no homem ao ponto de se
importar com suas indagações.
Porque somos apenas homens nenhum modelo de raciocínio pode ser exaustivo,
seja ele teológico ou científico, toda visão de mundo é mudada de acordo com a
experiência. A razão deve ser dirigida pela experiência da fé para ter uma base segura.
Richard Dawkins é o líder dos ateus atuais. Ele afirma em seu livro ‘Deus, um
delírio’ (2008) acreditar que a ciência deve ser o suficiente, pois não há outra forma
segura de se adquirir conhecimento. Mas também alega que devemos viver como se a
vida não fosse uma luta pela sobrevivência genética, devemos esquecer nossos instintos
naturais causados pela evolução e tratar as pessoas com amor.
Quanto a esta dualidade John Polkinghorne faz uma interessante observação:
tela do juízo, foi como se a fé cristã mesma tivesse sido atacada impiamente” (1975, p.
12).
Bacon, que criticou o método dedutivo de Aristóteles defendendo o método da
indução, afirmava que a fé estava acima da razão, o cristianismo acima da ciência. As
pesquisas científicas nada podem contra a Revelação de Deus, portanto deveriam
colocar-se no lugar de servas da verdade proclamado pelo cristianismo. Chega a afirmar
que os teólogos que são contra o uso da ciência para fortalecer o cristianismo agem
como se:
“no recesso de suas mentes e no segredo de suas reflexões, desconfiassem e
duvidassem da firmeza da religião e do império da fé sobre a razão e, por isso,
temessem o risco da investigação da verdade na natureza. Contudo, bem
consideradas as coisas, a filosofia natural, depois da palavra de Deus, é a melhor
medicina contra a superstição, e o alimento mais substancioso da fé. Por isso, a
filosofia natural é justamente computada como a mais fiel serva da religião.”
(citado por Maya, 2004, p.222)
Jonas Kepler compreendeu bem esta servidão da razão para com a fé, e afirmou
que, enquanto descobria as leis dos movimentos dos planetas, sentia-se como um sumo
sacerdote, obrigado a não alterar nenhum mínimo detalhe das suas observações
científicas; pois, assim como a Palavra de Deus não poderia ser alterada porque
transmitia verdades sobre Jeová, também a ciência revela o poder e a eterna sabedoria
do criador. (Hooykaas, 1988, p.137)
irracional, puramente mística. Ele quer uma glorificação baseada na Sua Palavra com
todo o afinco do estudo e da observação. Este é o único tipo de pensamento lógico
verdadeiro, o que procede das verdades já expostas por Jeová.
Nos Evangelhos Jesus afirma: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai,
e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Mateus 11.27) e “Se vós me conhecêsseis a
mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto”
(João 14.7). Assim, Jesus ensina que de maneira alguma é possível que alguém conheça
a Deus sem antes conhecer o Cristo.
Brown (1989) observa que Jesus não facilitava a entrega de sua mensagem, era
necessária uma dedicação pessoal para entendê-la. É somente para aqueles que o
seguem que ele dá o entendimento, é através da fé que a razão é encontrada.
Paulo de Tarso em suas cartas e também na narração de Atos ensinou muito
sobre a relação entra fé e razão. Alertava contra a sabedoria do mundo que considerava
loucura o Cristo crucificado, afirmando que já que o mundo não conseguiu conhecer a
Deus através da sabedoria, esta busca se tornou insana:
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos
salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E
aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba?
Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria
deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus
pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.”
(1Coríntios 1).
“O que se pode conhecer de Deus é manifesto entre eles – isto é, os pagãos – pois
Deus lho revelou. Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade –
tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que
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não têm desculpa. Pois tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus, nem
lhe renderam graças; pelo contrário, eles se perderam em vãos arrazoados, e seu
coração insensato ficou nas trevas. Jactando-se de possuir a sabedoria, tornaram-se
tolos e trocaram a glória de Deus incorruptível por imagens do homem corruptível,
de aves, quadrúpedes e répteis.” (Romanos 1.19-23)
Mais uma vez as Escrituras afirmam que não há conhecimento de Deus através
de qualquer outra caminho que não seja a Fé em Cristo. Uma vez que Deus é a Verdade,
não há outro caminho para a razão verdadeira sem ser pela fé verdadeira.
Sobre este capítulo Champlin afirma que há alguns aspectos sobre o
conhecimento de Deus: ele é intelectual, no sentido de que nos ajuda a ver com mais
nitidez e nos dá capacidade para entender verdades que antes eram obscuras; também é
intuitivo, porque é baseado na experiência do homem com Deus; é místico também,
pois envolve uma iluminação da alma para crer em verdades profundas acerca de Deus
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Considerações finais
Alguns pensadores acreditam em uma fé que pode ser sustentada pela razão, mas
que não esta limitada aquilo que a razão pode conhecer. Para eles a fé vai além da razão,
principalmente nos quesitos revelação e experiência pessoal.
Outros têm a ideia de que se a fé é racional, deve ser possível conhecê-la
totalmente por meio da razão. Defendendo uma fé baseada em um sentido inato de Deus
e no dever moral do ser humano. Isto reduz a fé apenas ao que poderia ser de alguma
maneira comprovado pelos homens. É colocar a razão acima da fé e de qualquer
revelação dada por Deus ou experiência com este.
Assim, o que a fé afirmasse só poderia ser acatado como verdade se confirmasse
o que a razão já estava dizendo. Aliás, uma comunicação direta com Deus poderia ser
descartada, já que poderíamos enxergar a verdade através dos nossos próprios méritos.
Seria possível chegar a Deus sem a ajuda dele, e na verdade indiferentes a quaisquer
caminhos que ele quisesse nos oferecer.
Esta posição levada as suas conseqüências máximas resultou no direito da razão
de julgar a fé naquilo que esta fora dos limites da própria razão. A ideia é: Se pelo
raciocínio humano nós não podemos provar nem refutar algo, então este algo deve ser
falso. As áreas misteriosas e profundas da fé começaram a ser negadas pelo simples fato
de que a nossa mente não consegue explicá-las sozinha.
Este pensamento tem sido tão disseminado que a maioria o aceita sem
discussões. É a pretensão humana de que o universo todo deve estar contido em sua
mente, e o que ali não é encontrado simplesmente não existe.
Mas, pensando na complexidade do pouco que conhecemos na física, na
sociologia e na antropologia, por exemplo, parece racional dizer que talvez haja
algumas partes deste imenso universo que a nossa limitada mente não consegue
compreender. Para a maioria esta ideia não serve, pois não atesta a superioridade da
razão; e nem dá o direito ao homem de julgar todas as coisas.
É uma batalha de idéias, com pressupostos de improvável comprovação
científica de todos os lados. A fé cristã, ao contrário do que os racionalistas afirmam,
não é credulidade nem ingenuidade. A fé verdadeira é um pensamento racional baseado
no pressuposto de que existe um Deus pessoal e onipotente que se revelou nas
Escrituras. Em profunda certeza a fé confia que Deus é digno de todo crédito.
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Vimos que nenhum argumento, por melhor e mais convincente que seja, pode
levar o homem aos pés da cruz. Mas não podemos desmerecer o pensamento lógico
sobre Deus como sendo desnecessário, pelo simples fato de ser insuficiente.
Devemos parar de discutir nossa fé baseados na razão, e começar a discutir
nossa razão baseados na fé. Não importa quão louco e inapropriado isto parece ao
mundo, que, por sua vez, é incapaz de enxergar as crenças que envolvem seus próprios
pressupostos. Cremos que o Evangelho é “o poder de Deus para a salvação” (Romanos
1.16), portanto devemos basear todo o nosso pensamento lógico nele.
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Referências bibliográficas: