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Cristo tornou-se homem para que a humanidade pudesse ser salva. Sua vida, morte e ressurreição significaram que a transformação da vida humana em vida espiritual já foi alcançada por Ele. Indivíduos podem agora se apropriar dessa salvação ao se abrirem para Cristo.
Deskripsi Asli:
OS obstinados soldadinhos de chumbo. texto de CS Lewis
Cristo tornou-se homem para que a humanidade pudesse ser salva. Sua vida, morte e ressurreição significaram que a transformação da vida humana em vida espiritual já foi alcançada por Ele. Indivíduos podem agora se apropriar dessa salvação ao se abrirem para Cristo.
Cristo tornou-se homem para que a humanidade pudesse ser salva. Sua vida, morte e ressurreição significaram que a transformação da vida humana em vida espiritual já foi alcançada por Ele. Indivíduos podem agora se apropriar dessa salvação ao se abrirem para Cristo.
O Filho de Deus fez-se homem para que os homens se fizessem filhos de
Deus. No sabemos ou pelo menos eu no sei como seriam as coisas se a raa humana nunca se tivesse rebelado contra Deus e passado para o inimigo. possvel que todos os homens estivessem em Cristo, isto , participassem da vida do Filho de Deus desde a nascena. possvel que Bios, a vida natural, fosse incorporada automtica e imediatamente a Zo, a vida incriada. Mas tudo isso so meras conjecturas. O que nos interessa, a voc e a mim, o modo como as coisas funcionam na nossa condio atual. E a nossa condio atual esta: hoje, as duas espcies de vida no somente so diferentes t-lo-iam sido em qualquer caso -, como chegam a ser opostas. A vida natural, em cada um de ns, algo de egocntrico, algo que quer ser mimado e admirado, que quer aproveitar-se das outras vidas, explorar o universo inteiro. E, principalmente, quer que a deixem vontade: gosta de manter-se longe de tudo o que seja melhor, mais forte, mais elevado do que ela, de tudo o que a faa sentir-se pequena. Tem medo da luz e do ar do mundo espiritual, tal como as pessoas que foram criadas no meio da sujeira tm medo de um banho. Num certo sentido, preciso reconhecer que no lhe falta razo, pois sabe muito bem que, se a vida espiritual tomar conta dela,
todo o seu egocentrismo e a sua vontade prpria morrero, e est disposta a
lutar com unhas e dentes para evit-lo. Voc j chegou a pensar alguma vez, quando ainda era criana, como seria divertido se os seus brinquedos pudessem cobrar vida? Bem, suponhamos que realmente lhe fosse possvel traz-los vida e transformar um soldadinho de chumbo num homenzinho de verdade. Isso significaria transformar o chumbo em carne. Mas, e se o soldado de chumbo no gostasse disso, se no tivesse o menor interesse em ser carne? Tudo o que conseguiria ver seria que o seu chumbo se estava desfazendo: pensaria que voc o estava matando e faria tudo o que pudesse para impedir o seu propsito. Se pudesse evit-lo, no consentiria de forma alguma que o convertessem num homem. No sei que providncias voc teria tomado a respeito desse soldado de chumbo renitente. Mas Deus tomou as seguintes providncias a nosso respeito: a Segunda Pessoa da Santssima Trindade, o Filho, fez-se homem. Nasceu neste mundo como um homem de verdade, um homem real, com determinada altura, com cabelos de uma certa cor, que falava uma lngua concreta e pesava tantos quilos. O Ser eterno que conhece todas as coisas e criou o universo inteiro tornou-se, no apenas um homem, mas, antes disso, uma criana e, ainda antes, um feto no interior do corpo de uma Mulher. Se voc quiser fazer uma idia do que isso significa, pense em como se sentiria se tivesse de transformar-se numa lesma ou num caranguejo. A conseqncia disso foi que, a partir de certo momento, passou a existir um Homem que realmente era tudo aquilo que todos os homens estavam destinados a ser: um Homem no qual a vida criada, derivada da sua Me, se deixou transformar completa e perfeitamente na vida gerada. A criatura humana natural em Jesus foi inteiramente incorporada ao Filho de Deus. Ao menos uma vez, a humanidade chegou por assim dizer sua meta: passou-se inteira para a vida de Cristo. E como toda a dificuldade desse processo, quanto a ns, reside em que a nossa vida natural tem de ser morta em certo sentido, Cristo escolheu uma carreira terrena que implicava a morte dos seus desejos humanos a cada
passo: a pobreza, a incompreenso por parte dos seus prprios familiares, a
traio de um dos seus amigos mais ntimos, o escrnio e os maus-tratos da polcia e a execuo por meio da tortura. Por fim, depois de ter morrido dessa maneira morrido todos os dias, num certo sentido -, a criatura humana nEle, por estar unida ao Filho de Deus, voltou vida. Em Cristo, quem ressuscitou foi o homem, no apenas o Deus: tudo consistiu nisso. Pela primeira vez, pudemos ver um Homem de verdade. Um soldadinho de chumbo de chumbo mesmo, exatamente como todos ns tornou-se plena e esplendidamente vivo. E aqui, claro, chegamos ao ponto em que o meu paralelo com os soldados de chumbo se desfaz. No caso dos autnticos soldados de brinquedo ou das esttuas que vimos acima -, se um deles cobrasse vida, isso evidentemente no faria a menor diferena para os outros. Cada um deles existe separadamente dos outros. Mas os seres humanos no so assim. Parecem separados porque os vemos andar por a separadamente. Mas isso s se d porque estamos feitos de tal maneira que no conseguimos enxergar seno o momento presente. Se pudssemos ver o passado, tudo nos pareceria diferente. Porque houve um tempo em que cada ser humano era parte da sua me, e igualmente parte do seu pai; e, antes ainda, os seus pais eram parte dos seus avs. Pois bem, se pudssemos ver a humanidade espalhada no tempo, como Deus a v, no se pareceria com uma poro de pontos independentes espalhados por toda parte. Lembraria antes uma coisa nica que se encontrasse em crescimento, algo de semelhante a uma rvore muito ramificada. Cada indivduo apareceria claramente vinculado a todos os outros. Mais ainda, poderamos perceber que os indivduos na verdade no esto mais separados de Deus do que uns dos outros. Cada homem, cada mulher e cada criana deste mundo s sentem e respiram, neste preciso momento, porque Deus, por assim dizer, lhes d corda continuamente. Por conseguinte, quando Cristo se fez homem, no foi como se um soldado de chumbo qualquer tivesse ganhado vida. Foi como se Algo que desde sempre afetava toda a massa humana tivesse passado, a partir de um determinado
ponto, a afet-la de uma maneira nova. E esse efeito propagou-se a partir
daquele ponto por toda a humanidade. Esse efeito faz diferena tanto para as pessoas que viveram antes de Cristo como para as que viveram depois. Faz diferena para as pessoas que nunca ouviram falar dEle. como derramar num copo de gua uma gota de alguma substncia que confere um novo sabor ou uma nova cor a todo o lquido. Naturalmente, nenhuma das comparaes que acabamos de fazer perfeita. Em ltima instncia, Deus incomparavelmente Ele mesmo, e o que faz no se assemelha a nada que conheamos; alis, nem poderamos esperar outra coisa. Muito bem, e em que consiste ento a diferena que Cristo faz para toda a massa humana? Muito simplesmente, em que o trabalho de nos tornarmos filhos de Deus, de passarmos da condio de coisas criadas para a condio de filhos gerados, de transformarmos a nossa vida biolgica temporria na vida espiritual eterna, j foi feito por Ele em nosso lugar. A humanidade j est salva em princpio. Ns, os indivduos, temos apenas de apropriar-nos dessa salvao. O trabalho realmente duro a parte que no poderamos realizar por ns mesmos foi feito em nosso lugar. Ou seja, no temos de tentar escalar as alturas da vida espiritual pelas nossas prprias foras: ela j desceu at ao gnero humano. Basta que abramos o nosso ntimo ao nico Homem no qual essa vida esteve plenamente presente e que, apesar de ser Deus, foi tambm um homem verdadeiro; basta que lhe abramos o nosso ntimo, e Ele a realizar em ns e por ns. Lembremo-nos do que vimos acerca do bom contgio: Algum da nossa raa j tem essa vida nova, e, se nos aproximarmos dEle, seremos contagiados por ela. claro que podemos expressar esta verdade das mais diversas maneiras. Podemos dizer que Cristo morreu pelos nossos pecados (1 Corntios 15:3). Podemos dizer que o Pai nos perdoou porque Cristo fez por ns o que ns deveramos ter feito. Podemos dizer que fomos lavados no sangue do Cordeiro (cf. Apocalipse 7:14). Podemos dizer que Cristo venceu a morte (cf. 2 Timteo 1:10). Tudo isso verdade. Se alguma dessas formulaes no o ajuda muito,
deixe-a de lado e fique com a que mais o atrair. Mas, faa l o que fizer, no comece a discutir com outras pessoas s porque utilizam uma frmula diferente da sua. (C. S. Lewis, Mero Cristianismo, Ed. Quadrante, 1997, pgs. 176/179)