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País: Portugal Cores: Cor
ID: 29706525
Paulo Alexandre Coelho
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A marca Ferrari carrega toneladas
de café que saem dos navios para
os vagões do comboio, em Lisboa.
Fotografias: Ana Brígida
Do grão à chávena: a fábrica onde
Hoje é Dia Mundial do Cafe. O Diário Económico acompanhou a rota dos cafés Delta e mostra-lhe como
Rebeca Venâncio
rebeca.venancio@economico.pt
Um aroma a verde convida os
primeiros trabalhadores da fá-
brica Delta, em Campo Maior, a
entrar nos contentores que aca-
baram de viajar 40 dias. Estão
recheados com toneladas de sa-
cas de café do Brasil, Colômbia e
Índia. O destino? As chávenas
dos portugueses. A etapa? Uma
das primeiras da produção, já
em Portugal.
Antes desta fase, muitas ou-
tras, que vão da colheita ao re-
pouso, passando pelo transpor-
te, garantem que o café ainda
verde chegue nas melhores
condições a território nacional.
O trabalho de fazendas como a
brasileira Cooxupé é vital para a
qualidade do produto. Mas a
preocupação, hoje, é cada vez
mais com outro artigo ‘verde’: o
dinheiro. “Actualmente, o custo
de produção é o nosso maior
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Depois da torrefacção, que dura
em média 20 minutos, um cheiro
característico ganha força.
problema. O real [moeda brasi-
leira] valorizado e o aumento do
custo da mão-de-obra têm
preocupado os produtores, que
procuram na tecnologia, princi-
palmente na mecanização, for-
mas de reduzir os custos de pro-
dução”, disse Joaquim Ferreira
Leite, director de exportação da
cooperativa brasileira.
Dos 20 anos de relações com
a empresa portuguesa Delta só
guardam boas memórias. E são
mais de 65 agrónomos que as-
seguram a divulgação das me-
lhores técnicas para a produ-
ção, plantação e comercializa-
ção do café.
Depois de colocado nos con-
tentores, um papelão reveste as
sacas para que seja garantido
que a humidade fica do lado de
fora, enquanto um selo inviolá-
vel mantém o contentor vedado
e hermeticamente fechado. Se-
guidamente o desembarque dos
navios no Porto de Lisboa, uma
Period.: Diária
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Já em Campo Maior, um odor
forte recebe os funcionários.
Cheiro a café verde é bom sinal.
empilhadora Ferrari coloca nos
vagões os contentores que de-
pois seguem de comboio até ao
entreposto aduaneiro de Elvas.
Equipa de 12 provadores
A viagem prossegue, já longa,
de camião até Campo Maior. É
aqui que mora a fábrica da Delta,
onde são recebidos, todos os
anos, mais de 1.200 contentores,
com 275, 300 ou 320 sacas reple-
tas de bagos virgens. Todos os
dias chegam ao local que Rui Na-
beiro edificou em 1961 toneladas
de cheiros, aromas e texturas. No
início, era um velho armazém
com pouco mais de 50 metros
quadrados – hoje, uma fábrica
moderna e informatizada, que
emprega 399 pessoas.
Dessas, 12 têm um trabalho
(mais) especial. Se trabalhassem
em França e a sua matéria-prima
fossem perfumes, chamavam-se
“nez”, ou “narizes”, em portu-
guês. Por cá, usam o nariz como
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O processo de embalamento dá
ao café a forma final que chegará
aos consumidores.
VIAGEM
40 dias
é quanto demora uma
embarcação com café a chegar
do país de origem até Portugal.
Depois, pode esperar até 45 dias
no Porto de Lisboa, em função
da necessidade da fábrica,
em Campo Maior.
ENTRADAS
20 toneladas
de café entram todos os anos
na fábrica da Delta, em Campo
Maior. Cada contentor traz 275,
300 ou 320 sacas de cada
uma dos mais de 30 países
de origem com quem a empresa
portuguesa faz negócio.
Uma equipa de 12 pessoas
forma a equipa que degusta
todo o café que chega.
ferramenta, mas também as
mãos, o palato – dois segundos
bastam para detectar uma ano-
malia no aroma, textura, corpo,
acidez ou o gosto residual do
café. São degustadores profissio-
nais, cujo trabalho inclui a prova,
duas vezes por dia, das amostras
de cada uma das sacas que en-
tram, diariamente, na fábrica.
“Este cheiro a verde, esta
frescura, é um bom sinal. É um
prenúncio da qualidade do café.
Quando abrimos o contentor,
sabemos logo o que nos espera”,
explica Adelino Cardoso, há 34
anos dedicado à empresa de Rui
Nabeiro. Mas se um cheiro a ver-
de agrada ao olfacto, um aroma
diferente faz mais do que torcer o
nariz a quem abre as portas do
contentor. “Se for muito crítico,
nem chega a entrar na fábrica. Se
for imediatamente perceptível
que algo correu mal na viagem
ou que o café veio com proble-
mas de origem, é analisado no

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Apesar dos 350
trabalhadores, muito do
trabalho é mecanizado.
ninguém dorme
funciona o maior produtor nacional.
exterior porque o aroma pode
contaminar todo o café no arma-
zém”, explicou o responsável.
Quem não goste de café difi-
cilmente se senta na mesa da
degustação ou entra no painel
de provadores. “Isto é uma vo-
cação, mas também envolve
muito treino e formação.
Discutimos e aperfei-
çoamos a forma como
o café é saboreado,
temos testes inter-
agem
Report
nos, e se se revelar
a aptidão de uma
pessoa, avança-se
com a formação es-
pecífica”, afirma
Adelino Cardoso.
Além da análise sensorial –
em que cada amostra tem de ser
dada como “conforme” por cada
um dos três provadores que traba-
lham em simultâneo –, é feita uma
análise física e química que mede o
teor de cafeína. Só quando o ‘OK’
do laboratório arranca, as tonela-
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Depois de testada a qualidade, as
bagas seguem para a fábrica para
peneirar e extrair corpos estranhos.
das de Arábica, Libérica, Robusta,
entre outras tantas categorias, po-
dem avançar na produção.
Pregos entre os bagos
Identificados os pedidos dos
clientes, as sementes do cafeeiro
renovam-se como protagonistas
e tomam parte do processo.
Primeiro são limpos,
peneirados e as má-
quinas procedem à
remoção de corpos
estranhos (chegam
a encontrar pregos
a talheres) e final-
mente à torrefacção.
Segue-se o arrefeci-
mento e finalmente re-
conhecem-se os rótulos,
que chegam ao mercado, quan-
do começa o embalamento.
Cristina Lourenço, funcio-
nária da Delta, garante: “Somos
cada vez mais pessoas”, mas a
maioria dos processos pouco
recorre ao calor da mão huma-
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Em embalagens especiais, o
trabalho é manual por ser mais
dificil uniformizar as máquinas.
na. Aos funcionários da Delta
sobram tarefas como a supervi-
são das máquinas, painéis de
controlo, ou o controlo de lotes
específicos - como em datas
comemorativas, quando “é
mais difícil uniformizar as má-
quinas”, explica. Aí, a popula-
ção, na sua maioria de Campo
Maior, Portalegre ou Elvas, vol-
ta a deitar mãos à obra à moda
antiga.
Definidos os lotes, progra-
ma-se a misturadora onde vi-
vem qualidades de diferentes
origens e que irão, mais tarde,
para diferentes destinos. O café
é moído, embalado e empacota-
do. Pelo caminho, cruza-se com
o armazém de produtos subsi-
diários, onde estão o açúcar, o
invólucro das cápsulas, os paus
de canela e todos os produtos
associados ao ‘merchandising’
ajudam a Delta a ter, actual-
mente, 80% da quota do mer-
cado nacional. ■
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QUATRO PERGUNTAS A...
RUI NABEIRO
Presidente da Delta Cafés
“É na relação cara
a cara que está a
chave do negócio”
Aos 13 anos já sabia de cor o pro-
cesso de torrefacção do café. Hoje
faz questão de conhecer pessoal-
mente cada um dos produtores
que lhe enchem a fábrica e o man-
têm acordado.
Como avalia a influência econó-
mica da Delta em Campo Maior?
A Delta emprega cerca de 14% da
população do concelho de Campo
Maior, e é uma das principais forças
de produção nacional, o que obvia-
mente tem repercussão local. Cam-
po Maior é a minha terra, é onde es-
tão as minhas raízes, e a permanên-
cia da Delta aqui permitiu contrariar
o êxodo rural que aconteceu na
maioria das vilas alentejanas. Não
só criámos postos de trabalho,
como promovemos sinergias no
sentido de melhorar equipamentos,
como as estradas. A localização de
Campo Maior, no centro da Penínsu-
la Ibérica, também favorece essa vi-
talidade, mas a presença da fábrica
da Delta aqui é uma grande mais-
valia para todos.
E a nível económico e social?
É claro que com o desenvolvimento
económico de Campo Maior e a per-
manência da população na vila sur-
giram necessidades, como a de ter-
mos um Centro Educativo para as
crianças, e que hoje é também um
A postura dos concorrentes
A Delta é encarada como uma
empresa “com mérito que opera
com profissionalismo e que tem
uma estratégia comercial muito
agressiva sustentada numa
componente relacional forte
do Sr. Nabeiro com os clientes”,
disse João Dotti, director-geral
da Nutricafés. Mas nem esta
empresa nem a Nespresso se
dão por vencidas na conquista
pela liderança de mercado.
A Nespresso tem 60% de quota do
mercado de café por cápsulas, um
segmento criado pela marca suíça
da Nestlé e que tem tido “uma
evolução excelente em Portugal”,
pois “uma em cada duas máquinas
ninho de pequenos empreendedo-
res. Para além disso, permitiu a cria-
ção de um centro de Pós-Gradua-
ções e até de uma associação de
voluntariado, “Um Coração chama-
do Delta”, que surgiu da vontade de
ajudar dos nossos colaboradores.
Também a nível social a Delta é mui-
to activa. Para além do gosto em
ajudar, empenhamo-nos tão a fun-
do nesta actividade como no nosso
negócio, é um esforço colectivo.
Já acompanhou o processo de
produção de café. É uma história
que contava aos seus netos?
Sim, já “vivi” todo o processo
de produção de café. Gosto de
conhecer todos os nossos
produtores, pois acredito que
é na relação humana, cara a cara,
que está a chave do negócio.
E a história de como a Delta foi
criada foi uma história que lhes
repeti várias vezes, para que
percebessem que é da nossa
vontade, esforço e dedicação
que se consegue o que se quer.
Muitas vezes lhes disse para
eles não deixarem de fazer hoje
o que tem de ser feito, pois
amanhã já é tarde.
Como se transformaram neste gi-
gante em Portugal e também no
estrangeiro?
Com muito trabalho, muito esfor-
ço, algum sacrifício e muita vonta-
de. E, claro, procurando sempre
ouvir o que os nossos clientes têm
para nos dizer, pois são eles que
sabem o que querem. Se formos
claros, transparentes com eles,
trabalharmos com respeito e dedi-
cação, recebemos de volta esse
mesmo respeito. E a Delta é uma
empresa respeitada, pois toda a
gente sabe que o que dizemos,
cumprimos. Somos genuínos.
Se o nosso café não fosse bom,
ninguém o queria. Mas a verdade
é que o café tem muita qualidade,
e todos os nossos colaboradores
trabalham diariamente para
assegurar que essa qualidade
nunca se perde.
de café vendidas no mercado
nacional é da Nespresso”, afirmou
fonte da empresa. Já para João
Dotti, “o futuro passará pela
substituição do formato de 250
gramas pelas monodoses onde a
pastilha vai crescer mais do que
as cápsulas por ser mais amiga do
ambiente e mais barata”. M.C.
Uma em cada
duas máquinas
de café vendidas
em Portugal
é da Nespresso,
diz a marca.
É, tal como a
Nutricafés, um
dos principais
players do sector.