A4 O ESTADO DE S.

PAULO
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SEXTA-FEIRA, 16 DE ABRIL DE 2010

Nacional
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Blog. Dilma tenta reduzir

desgaste com gastos públicos
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Questão agrária. De acordo com estudo divulgado ontem pela Comissão Pastoral da Terra, foi de 929 a média anual de conflitos
registrados entre os anos de 2003, quando presidente assumiu o primeiro mandato, e 2009. Era FHC registrou índice de 800

Confrontos por terra tornaram-se

mais frequentes no governo Lula
Roldão Arruda

Nos últimos 25 anos, o perío- TURBULÊNCIA NO CAMPO CPT é ligada à

do com o maior número de
conflitos agrários no País foi o l 25 anos de registros de conflitos agrários no Brasil estrutura da
do governo do presidente Luiz Igreja Católica
Inácio Lula da Silva. De acor- Média anual de conflitos por terra
do com estudo divulgado on-
tem pela Comissão Pastoral ● A Comissão Pastoral da Terra
da Terra (CPT), a média anual 588,25 422,2 800,4 536,5 929 é ligada à Conferência Nacional
de conflitos registrados entre dos Bispos do Brasil (CNBB).
2003, quando Lula assumiu, e Também faz parte de organiza-
2009 chegou a 929. ções internacionais como a Pax
O recorde anterior havia sido Christi Internacional e a Right
observado no governo do presi- 140.000
119.969,7
Livelihood Foundation. Defende a
dente Fernando Henrique Car- 120.000
execução de uma ampla reforma
doso, com a média de 800 confli- Média anual de famílias envolvidas em conflitos agrária no Brasil. Nos anos 70 e
tos por ano. “O período entre 100.000 80 incentivou a formação do Mo-
74.927,5
2003 e 2009 é claramente o de 80.000 70.989,5 vimento dos Sem-Terra (MST) e
maior conflitividade desde o iní- até hoje continua a apoiar as
60.000
cio da redemocratização do ações dessa organização.
País, em 1985”, disse o geógrafo 40.000
22.000,7 Suas pesquisas sobre conflitos
Média anual de famílias despejadas
Carlos Walter Porto-Gonçalves, 20.000
11.781 no campo são realizadas há 25
pesquisadordaUniversidadeFe- 2.891,5 anos e servem de referência para
0
deralFluminenseeautordoestu- 1985 1991 1996 2001 2003 2009 estudos no Brasil e no exterior.
do que aponta o grau de tensão Sempre é presidida por um bis-
no campo em diferentes fases da Início da Avanço da Consolidação da Fim do ciclo Início do ciclo Lula, po, indicado pela CNBB. D. Ladis-
redemocratização, redemocratização, democracia, com a FHC, com com fortalecimento
história recente do País. com a posse de com o impeachment reeleição de FHC edição de MP do MST e reação do lau Biernaski, atual presidente,
Sarney, a Constituinte de Collor, a posse de que tirou terras agronegócio
Assessor do setor de docu- e a eleição de Collor Itamar, o Plano Real e invadidas da dirige a Diocese de São José dos
mentação da CPT, Porto-Gon- a eleição de FHC reforma agrária Pinhais, no Paraná.
çalves lastreou seu trabalho em FONTE: COMISSÃO PASTORAL DA TERRA INFOGRÁFICO/AE
sériesestatísticasproduzidaspe-
la instituição. Para fazer sua aná- No segundo período, de 1991 a formaagráriaaspropriedadesru- governo Fernando Henrique pa- dasoligarquiasrurais,quepassa- no campo. Na ocasião, o presi-
lise, ele dividiu a história recente 1995, a democracia se consolida rais invadidas pelos sem-terra. ra 22 mil nos 7 anos do governo ram a reagir com maior intensi- dente da comissão, bispo Ladis-
do País em cinco períodos – de e os movimentos de sem-terra O ato provocou um refluxo nas Lula. dade e mais violência”, disse o lau Biernaski, também divulgou
acordo com ciclos de ações dos ganham força. O terceiro perío- invasões e fez a média anual de NaavaliaçãodePorto-Gonçal- pesquisador. “Mas não foi só a o relatório de 2009 – indicando
movimentossociais e da vida de- do dura de 1996 a 2000. É quan- conflitos cair de 800 para 536. ves, esse aumento das tensões violência do poder privado que que a tensão aumentou em rela-
mocrática. O primeiro, de 1985 a do, sob o governo de Fernando O último período é o que trata na zona agrária nos últimos sete aumentou. No período recente ção a 2008. O número de confli-
1990, é o período imediatamen- Henrique Cardoso, os sem-terra dogoverno Lula, quandoamedi- anos tem uma correlação direta houve um crescimento notável tos, envolvendo invasões, mor-
te após a ditadura militar, quan- se tornam mais ousados e pro- da provisória do governo ante- com o avanço da democracia. no número de famílias despeja- tes, despejos e outros aconteci-
do a violência no campo atinge o movem a maior onda de inva- rior é praticamenteignorada e as das de áreas ocupadas, o que sig- mentos,subiude 1.170para 1.184.
maior volume de assassinatos já sões de terras já registrada. invasões aumentam – assim co- Despejo. “A eleição de Lula, nifica que a violência do poder O bispo anunciou ainda que a
registrado na história recente. O quarto período envolve os mo as reações dos proprietários um operário ligado ao Partido público também aumentou.” CPT vai apoiar em setembro a
Foram quase 130 mortes por ano dois últimos anos do mandato rurais e da máquina do Estado, dos Trabalhadores, significou a Os números da pesquisa fo- realização de plebiscito para sa-
naquela época, quando existia de Fernando Henrique, que, pa- especialmente o Judiciário. A afirmação do processo de rede- ram apresentados em São Paulo, ber se a população aprova ou não
uma grande expectativa de mu- raconter a ondadeinvasões,bai- média anual de famílias despeja- mocratização,criouenormesex- durante evento organizado para a ideia de impor um limite ao ta-
dança, em meio aos debates da xou uma medida provisória que das quase dobrou, passando de pectativas de mudanças e, ao marcar os 25 anos de séries esta- manho da propriedade rural no
Assembleia Constituinte. tornava indisponíveis para a re- 11.781 nos dois últimos anos do mesmo tempo, açulou o medo tísticas da CPT sobre conflitos País.
Assembleia Constituinte. tornava indisponíveis para a re 11.781 nos dois últimos anos do mesmo tempo, açulou o medo tísticas da CPT sobre conflitos País.

✽
Cenário: Roldão Arruda

1985 e 1990. brados com uma impressionante onda de inva- assessordeestudosdaCPTeprofessordaUniver-

Trabalho vai O trabalho apresentado ontem, porém, vai
além dos números isolados. Ele registra um cres-
além de números cente estado de mal-estar, decorrente de tensões
acumuladas– equeganharam corpocomaascen-
isolados são de Lula ao poder. Especialmente nos primei-
sões na primeira fase do governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Aspromessasdereforma agrária nãose concre-
tizaram,mas, apartirdali,astensões sóaumenta-
ram – como registra a pesquisa divulgada agora
sidade Federal Fluminense.
Os dois Estados figuram na linha de frente do
agronegócio brasileiro, em termos de avanços
tecnológicos, produtividade, negócios com o ex-
terior.Époraliqueserealizamhojegrandesnegó-

A
partir de séries estatísticas isoladas é
possível contra-argumentar que o qua-
drodeconflitos agráriosnogoverno Lu-
la não é tão dramático quanto indica o
estudo baseado em números da CPT. Afinal, o
número de invasões de terras vem diminuindo e
o volume de assassinatos decorrentes dos confli-
tos caiu drasticamente. No ano passado foram
registradas 25 mortes – número lastimável, mas
muito inferior à média anual de 130 mortes que se
verificou no início da redemocratização, entre
ros anos do mandato. O Estado registrou mais
de uma vez em 2003 e 2004 que o trabalho de
arregimentação dos movimentos ligados à defe-
sa da reforma agrária ganhou notável impulso na
periferia das grandes cidades com a informação
de que o presidente promoveria uma reforma
agrária em largaescala. Era quase certo que quem
acampasse ganharia o seu lote de terra e um pou-
co de dinheiro para se instalar.
Se, de um lado, as promessas inflamaram o en-
tusiasmo dos sem-terra, do outro assustaram os
proprietários rurais – que já haviam sido assom-
pela CPT. Um dos claros sinais disso foi o perma-
nenteembatenoCongresso,ondesónestegover-
no já foram instaladas três comissões para discu-
tir a questão dos conflitos agrários. Uma delas
ainda está em curso.
Outra informação relevante para se entender o
queestáacontecendoéqueo Estadoque, propor-
cionalmente à sua população, apresenta o maior
índice de violência no campo é Mato Grosso. Em
segundo lugar aparece Mato Grosso do Sul – se-
gundo um levantamento conduzido também pe-
lo pesquisador Carlos Walter Porto-Gonçalves,
cios na área de produção de grãos, cana-de-açú-
car e carne. Mas também é por ali que ganham
corpo reivindicações de grupos indígenas, de
sem-terra, quilombolas, que se dizem espremi-
dos pelos grandes empresários rurais.
Diante do número de famílias envolvidas nes-
ses conflitos (cerca de 13 mil foram despejadas de
áreas invadidas no ano passado), é difícil negar a
existência de um impasse – que pode engrossar
ou diminuir, a partir das medidas que foram ado-
tadas pelo atual governo e do que lhe suceder, a
partir do ano que vem.