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A interpretação e o ato

na psicanálise com crianças


Beatriz Siqueira
Sofia Saruê
Vera Vinheiro

O Psicanalista, a partir de uma ética, ética do seu desejo de analista, e

conduzindo-se dentro de uma estratégia — a da transferência — coloca


em ação uma tática, cabendo aqui seus atos e interpretações. O ato do
analista, portanto, só se dirigirá à cura, se for feito a partir da ética do seu desejo,
pois o seu ato tem conseqüências.
A criança, em seu processo de análise, tem que poder se situar em relação ao
lugar que ela ocupa no desejo dos pais, repetindo, na transferência, os buracos da
demanda do Outro. A mãe é vista inicialmente pela criança como sendo o Grande
Outro, possuidor do saber e da verdade, e a criança passa a ser objeto a no fantasma
da mãe. A criança, muitas vezes, faz, com seu sintoma, uma delimitação do que
não está bem dito no par parental.
Uma Clínica:
Uma criança de 9 anos, adotada, cujos pais não sabiam como lhe dar a notícia
da adoção, e cujo sintoma era pânico diante do afastamento da mãe, ao longo de
seu processo de análise, repetiu diversas vezes a mesma história:
— "Na minha casa tem muitos bichos, tem galinhas, patos e marrecos. A
marrequinha botou ovo, mas quem está chocando é a galinha. A marreca não quis
chocar os ovos. Todos os dias, eu via a galinha chocando os ovos da marreca. Já
nasceu um monte de marrequinhos que a galinha chocou".
—Analista: Quem você acha que os marrequinhos vêem como sendo a mãe —
a marrecaou a galinha?
— "A galinha, é claro, pois foi ela que chocou eles e depois criou".
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—Analista: Mãe, então, é a que choca e cria...
—"É".
A analista sublinha no discurso desta criança aquilo que lhe retorna do discurso
dos pais, pois, através dos seus bichinhos, esta criança está abordando, em última
instância, a questão de sua origem —sua adoção.
Na análise com crianças, trata-se de levar a criança a separar-se de um lugar de
alienação, de um lugar de objeto no fantasma materno e dirigi-la à construção de
seu próprio fantasma.
Na clínica, a operação de passagem da alienação à separação já se inicia a partir
do momento em que a criança tem que deixar a mãe na sala de espera e dirigir sua
demanda ao analista, enquanto Outro.
Lacan, em seu Seminário As Formações do Inconsciente, aborda o Complexo
de Édipo teorizado por Freud, dividindo-o em três tempos: o 1° tempo, tempo
mítico, da metáfora paterna e da primazia do falo. A criança neste momento é
desejo do desejo da mãe. O 2a tempo é o do pai privador, e o 3" tempo é o do declínio
do Édipo e formação do ideal do eu.
No 2a tempo, Lacan nos diz: "... é uma mensagem sobre uma mensagem: uma
proibição, um não. Dupla proibição. Com respeito à criança: não deitarás com tua
mãe. E com respeito à mãe: não reintegrarás teu produto. Aqui o pai se manifesta
enquanto Outro, e a criança é profundamente sacudida em sua posição de sujeição:
o objeto do desejo da mãe é questionado pela interdição paterna"1.
Uma Clínica:
B.éum garoto de sete anos que é trazido para análise por não ter conseguido
alfabetizar-se. É o primeiro de dois filhos de uma mãe pedagoga que, embora
reconheça a inteligência do filho, quase não o deixa "respirar sozinho". O pai,
ciente do autoritarismo da esposa, assiste a tudo de camarote achando ser apenas
uma "questão de escola " o fato do filho usar somente o primeiro sobrenome, o da
mãe.
Nas entrevistas preliminares, B. demonstrou ser muito esperto, tendo optado
por permanecer no mesmo lugar, junto à barra da saia da mãe, sem passar ao
mundo dos letrados.
Nas sessões, B. insistia em sentar no lugar da analista, chegando, por vezes, a
sentar-se no seu colo. Durante um certo tempo, houve uma tentativa de questioná-
lo a respeito desse lugar que queria ocupar. Pouco pôde ser dito e permanecia a
repetição.
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Numa sessão, B. entra correndo e senta-se na cadeira da analista, esconde o
rosto epede: — "Deixa, vai". A analista faz com que ele saia do seu lugar. B. sai,
mas diz: "Não tem lugar marcado " — "Onde não tem lugar marcado ? " questiona
a analista — "Aqui", respondeB. — "Aqui?" espanta-se a analista e afirma —
"Aqui tem lugar marcado, sim".
B. vai para a mesa e propõe, pela primeira vez em sua análise, o jogo da velha,
jogo no qual são dois os jogadores, mas onde há um terceiro, a velha, na cena.
Na seqüência do jogo, cada vez que a velha ou a analista ganham, B. tenta
modificar o resultado pondo seu "X" no lugar do círculo da analista. A analista
marca que isso não pode ser feito, que o lugar não pode ser alterado. A "velha "
ganha então o jogo, eB. aceita.
A função do analista introduz o terceiro na cena, num processo que visa privar
a criança do objeto do seu desejo e a mãe do objeto fálico.
A questão edípica é central na psicanálise com crianças; portanto, a direção da
cura terá que apontar para o 3a tempo do Édipo, colocando uma barra no Outro,
tanto em relação ao saber quanto ao gozo.
Lacan, no Seminário doAto Psicanalüico, nos diz: "o psicanalisando no início
pega seu bastão, enche sua sacola para ir ao encontro, ao ponto de encontro do
sujeito suposto saber"2. É, portanto, via transferência, que o analista poderá operar
com seus atos e interpretações pois, "fora disto que chamei manipulação da
transferência, não existe ato analítico ... O sujeito como tal e que se chama
inconsciente está dentro da psicanálise, posto em ato"3.
Em 1953, no texto "Informe de Roma", Lacan introduz a idéia de que a
interpretação em psicanálise pode ser uma pontuação. O analista trabalhará pon-
tuando o discurso do sujeito, no sentido de articulá-lo numa cadeia significante,
colocando o inconsciente em ação.
No final dos anos 50, como nos diz Eric Laurent, a "clínica da psicose e a
psicanálise com crianças teriam uma influência preponderante sobre o dispositivo
analítico da interpretação, até o ponto em que já nada havia que separava uma
interpretação de qualquer outra intervenção do analista"4.
Lacan define a interpretação, nessa época, como sendo um dizer esclarecedor,
opondo-se ao insight inglês, que é uma concepção da interpretação centrada em
um fenômeno de visão e que dá margem a tudo o que pode ser imaginário.
A criança, com seu discurso mais metonímico, com seu brincar incessante, nos
traz questões. Ela age mais, seus discursos associativos são mais reduzidos, seus
desejos são exteriorizados e dramatizados de forma lúdica. Como intervir? Como
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interpretar? Pensamos que o analista, ao intervir na análise com uma criança,
pontua um texto para que a metáfora, além da metonímia, também se coloque.
Essas pontuações não são necessariamente palavras, podendo ser puros cortes.
A interpretação, na teoria Lacaniana, não é da ordem de uma técnica, pois ela
produz o corte que institui o sujeito e aponta para a causa do desejo. Ela visa o
surgimento de algo novo para o sujeito, sendo que o enunciado que responde a esse
modelo é o que está entre enigma e citação.
Uma Clínica:
J. é uma criança que se atrapalha em corresponder ao que os pais lhe
demandam: "Seja o craque! Seja o melhor!". Ele se atrapalha porque, na
escolinha de futebol, embora J. tenha um bom estilo reconhecido por todos, não
consegue ter um bom desempenho ao jogar uma partida de verdade, fato este que
irrita muito os seus pais.
Esta situação se repete também em casa, pois existe uma expectativa de
organização, uma expectativa em torno dos filhos que "deram certo" (já que a
mãe é educadora). J. foge a isso, colocando-se como o inquieto, desorganizado,
embora tente, de todas as formas, corresponder a essa expectativa.
Num momento de sua análise, a analista diz a J.: "quero que me pague com
parte de sua mesada ". J. fica irritado diante deste ato da analista, pois não quer
perder nada, embora tudo o que faça seja perder: perder no futebol, perder
passeios por causa de seu comportamento, etc. Diante dessa reação, a analista
não cede, repetindo a demanda de que ele pague com sua mesada. Ele recusa-se
apagar dizendo: "Estou aqui há 3 anos. Não venho mais. Tomei uma decisão",
ao que a analista responde: "Trabalhe!" Como resposta, J. propõe um enigma.
"É uma frase sem pontuação e que tem que ser pontuada —deixo meus bens à
minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres
—o jeito como você vai pontuar vai dizer para quem ficará o dinheiro: separa a
irmã, o sobrinho, os pobres ou para o alfaiate". A analista diz: "Então pontue".
EJ. responde: "Acho que vai para o alfaiate". E pontua —"Deixo meus bens à
minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada aos
pobres".
Aqui o enigma se coloca no ato do analista ao dizer "quero que pague com sua
mesada", ato este cujo efeito no paciente é fazê-lo dizer que há uma conta a ser
paga. Cabe à analista executar e cobrar, para que o paciente, ao "perder",
pagando a análise, possa começar a sair do lugar daquele que sempre perde.
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A interpretação é um meio dizer, e, como tal, não explicita, mas aponta na
direção do horizonte desabitado do ser. A interpretação é um dizer privilegiado
que sustenta a causa no caminho da verdade; ela revela um dizer proveniente do
Real como não todo.
A operação do analista é possibilitar a emergência do desejo, fazendo aparecer
um dizer que se apresenta como inarticulado.
Colette Soler afirma que, quando o sujeito se reconhece no que o analista diz,
não se trata de uma interpretação, pois esta divide, e não reassegura as identifica-
ções. Ela faz surgir um "que quer dizer isso?" tornando assim presente oChe Vuoi!
Uma Clínica:
Ainda um exemplo sobre J.: Numa determinada sessão, ele faz um desenho e
conta uma estória:
— "Tinha um homem que ia se livrar do castelo. O rei fez uma armadilha. Botou
um monstro e ele ia se assustar. O homem não queria mais entrar e saiu correndo.
Os homens do rei ficaram felizes. Fizeram aqueles jantares que os reis fazem. O
homem pensava que o rei tinha pegado a mulher dele ". J. diz à analista que é o
rei nessa estória e completa: "sou o melhor do futebol na Ia série, mas não sou o
Rei Pele".
Nesse momento a analista corta a sessão, para que se presentífique o Che Vuoi,
e possa retornar aJ. a questão que lhe vem do Outro: "O que o Outro quer de
mim?"
Poderíamos acrescentar que o material que a criança produz em suas sessões de
análise—seus desenhos, estórias, jogos, etc.—constituem, muitas vezes, interpre-
tações que apontam a dar um sentido ao que do Real se apresenta no trauma.
Uma Clínica:
D. de nove anos, insere-se numa trama familiar, onde as funções paterna e
materna são muito confusas, sendo que a mãe, por diversas vezes, refere-se ao pai
como a um terceiro filho. Ela, com seu sintoma, sustenta a ambigüidade do casal
parental permanecendo, no entanto, aí enredada.
Numa sessão D. desenha essa situação: Faz duas árvores, sendo que uma, como
diz, tem mais galhos e a outra tem menos. Procura, então, a cor mais forte e
brilhante para pintar a rede que fica amarrada entre as duas árvores. Ao ser
questionada pela analista sobre quem ficará na rede, D. desenha uma menina.
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Com o corte da sessão, ela dobra o desenho e o deixa noporta-lápis da analista,
dizendo que tem que ficar ali até a próxima sessão.
D., em análise, ilustra com sua produção o lugar que ocupa na trama familiar.
No Seminário doAto Psicanalítico, Lacan nos diz: "O analista não pode fingir
esquecer que seu ato é ser causa de um processo"3.0 ato analítico tem um cunho
de ficção, uma vez que ele acontece a partir de um saber suposto, sendo, ao mesmo
tempo, através da escansão provocada pelo ato do analista, que o sujeito poderá ter
acesso a um saber no lugar da verdade.
O ato sintomático que acontece numa análise é o ato falho, que vai revelar a
verdade do sujeito. No brincar da criança, o analista deverá estar atento às falhas
que aí se apresentarão, pois o brincar articula e contorna o gozo e a repetição,
realizando-se sob o fundo da perda.
Uma Clínica:
D., de quem já falamos anteriormente, coloca sua questão já na primeira
entrevista: Trata-se de saber sobre duas pequenas letras perdidas no desenho,
"m " e "f", o masculino e o feminino.
Quase um ano depois, ela recorta um coração onde desenha sua mãe com um
exuberante vestido que deveria herdar aos 8 anos. Ela fez nove anos e ainda não
recebeu o vestido—"Está lá em cima ", diz. Cola um bilhete no coração e o deixa
secar na janela — "num outro lugar", aponta a analista.
Na sessão seguinte, faz um outro coração e desenha seu pai. Compara os
corações e exclama — "É, tá certo, são diferentes". — "Qual i a diferença?"
questiona a analista—"nenhuma ",responde D.—"Nenhuma ? " repete aanalista
deforma interrogativa. Ela se assusta ao escutar seu próprio dito vindo do Outro
e diz: — "Minha mãe é alta e magra, e meu pai é baixo e gordo ". Com o corte da
sessão, D. deixa o coração do pai também em outro lugar.
Nesse atofalho, D. revela sua dificuldade em articular suas questões sobre o
feminino e o masculino, face à indiferenciaçüo de seus pais em suas funções.
Na psicanálise com crianças, a repetição aparece muitas vezes sob a forma do
brincar, um brincar incessante. Freud, em seu texto Recordar, Repetir, Elaborar,
afirma que a repetição está para ser interpretada. A interpretação que cabe aqui é
o corte. O analista, com seu ato, corta a sessão, possibilitando ao sujeito circuns-
crever a repetição e metonimizar.
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Uma Clinica:
F. é uma criança que chegou à análise com 5 anos. Ele foi encaminhado pela
escola com suspeita de autismo, pelo grande isolamento que apresentava e,
principalmente, pelo seu silêncio. Ele sabia falar, mas pouco falava. F. vivia num
clima de rivalidade e oposição entre os pais que brigavam por seu intermédio.
No início de seu tratamento, F. repetia a mesma brincadeira e a mesma frase:
"É uma guerra", e arrumava a guerra com alguns bonecos, esta cena se repete
seguidamente até que, numa sessão, quando ele arrumava os bonecos, a analista
derruba-os surpreendendo-o e diz: "Essa, acabou. "A analista, com seu ato corta
a sessão. Nas sessões seguintes, o paciente traz suas questões não mais repetindo
a guerra, mas podendo falar, desenhar, brincar. O ato psicanalítico fez com que
o discurso do paciente prosseguisse, como também sua investigação, nesse caso
particular, para saber quem tem o falo.
A partir do estudo da brincadeira do Fort-Da, Freud conclui, em seu texto de
1920 Mais além do Princípio do Prazer, que "as crianças repetem experiências
desagradáveis pela razão adicional de poderem dominar uma impressão poderosa
muito mais completamente de modo ativo do que poderiam fazê-lo simplesmente
experimentando-o de modo passivo. Cada nova repetição parece fortalecer a
supremacia que buscam. Tampouco podem as crianças ter suas experiências
agradáveis repetidas com freqüência suficiente, e elas são inexoráveis em sua
insistência de que a repetição seja idêntica"6.
Lacan, nos Escritos, declara que Freud, numa intuição genial, apresentou-nos
esses jogos de ocultação, para que neles reconhecêssemos que o momento em que
o desejo se humaniza é também o momento em que a criança nasce à linguagem.
O jogo do carretei é a primeira aparição da ausência da perda simbólica de um
Grande Outro. O Fort-Da fala da falta da mãe, não sendo somente de sua
simbolizaçâo que se trata, mas também do que cai, enquanto Real, do campo do
Outro. Esse jogo é a resposta do sujeito à ausência da mãe. Trata-se de fazer valer
a hiância, de dar conta deste objeto que cai e do que, no jogo, se realiza da própria
perda do sujeito. Esse objeto é real, sendo que o Fort-Da, enquanto repetição,
articula o simbólico e o real. A impossibilidade de repetir o mesmo aí se coloca;
há sempre, na repetição, algo de novo que se produz e, como objeto a, é chamado
a ser cedido.
A repetição é um ato, no qual o que se faz é mais uma vez perder. O brincar,
numa análise, vai por essa via.
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O brincar na psicanálise com crianças, portanto, não é um brincar qualquer, um
brincar sem conseqüências, pois ele comportará a verdade do sujeito e deverá ser
lido no campo da articulação significante.
O brinquedo, na análise, dá suporte, dá corporeidade a esse objeto cessível,
aquilo que está para se perder (ex. caso F.). A análise é um trabalho de perda, que
se faz através do objeto; é fazer do objeto um certo instrumento para que a perda
aconteça.
O analista, que está atento a esse brincar, intervém com seu ato, algo como um
despertar que coloca o ponto de emergência do objeto a como causa do desejo.
Uma Clínica:
L. é o filho mais velho que reagiu muito ao nascimento de sua irmã. A mãe diz
aflita que ele não "desgruda" dela e da irmã, que não tem amigos, que ninguém
o convida para nada, e que ela percebe que algo não está bem. A mãe diz ainda
que ele se coloca como aquele que nunca sabe nada, como uma "porcaria ", e a
irmã como "a melhor coisa do mundo". Ele diz sempre: "eu não sei, mas minha
irmã sabe".
L. sempre que vem à análise faz, em cada sessão, um teatro, encenando, a cada
vez, estórias novas. L., ao brincar de teatro, vai desenrolando o fio de sua estória,
e trazendo, na transferência, suas questões. Em suas peças, L. vai oscilando o
lugar que ocupa: ora ele é a vítima, ora o carrasco. A partir de sua análise, o clima
constante de competição em casa diminui bastante e L., começa a se desligar um
pouco do par irmã-mãe. Ele agora quer descer para brincar no prédio e está
conseguindo fazer amizades com outros meninos, aponto de ser convidado para
passar o fim de semana fora.
Através da oscilação dos discursos do Senhor e do Escravo, de vitima ou de
carrasco, metaforizados em suas brincadeiras de teatro, pôde-se barrar o seu
gozo, que estava amarrado nopar mãe-irmã, fazendo, assim, circular o seu desejo.
O ato está sempre ligado à determinação de um começo lógico: ele é um dizer
e, como tal, articula-se à interpretação.
A interpretação e o ato do psicanalista tem a estrutura de corte, pois eles
acontecem num repente, a partir do "não penso" do analista. O seu efeito vai ser
vivido num a posteriori e, a partir daí, o analista irá construir a particularidade de
cada caso.
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Uma Clínica:
R., de 12 anos, com sintoma de gagueira, inibição e timidez excessivas, e de
dificuldade de fazer amigos, começa sua análise onde ele nada fala. Inicialmente,
a analista insistia, demandando-lhe sua palavra efazendo-lhe várias perguntas.
Como R. continuava sem conseguir colocar suas questões, a analista passou a
cortar após os primeiros minutos da sessão sempre que ele se recusava a falar,
mandando-o voltar no dia seguinte. Esses atos da analista, ela pôde fazê-los a
partir da instalação da transferência. Após uma semana em que ele insistiu em
dizer "não tenho nada para falar hoje " e, por isso, teve que virá análise todos os
dias da semana, sua questão finalmente se coloca e ele diz: "não sei por que eu
me sinto tão mal na escola, na minha turma. Acho que é porque eu não consigo
falar com ninguém..." Na sessão seguinte ele se deita e diz: "hoje eu quero falar
sobre a minha gagueira ".
A analista, neste caso, não cedendo sobre seu desejo, e atuando a partir de um
"não penso", pôde ver, num aposteriori, o efeito de seus atos pois, somente a
partir deste momento, a análise deste paciente pôde finalmente deslanchar.
O analista age com seu ser, e o seu ser é o des-ser. A ação é a colocação em ato
da falta — a — ser. A ação do analista é espinhosa na medida em que o ser está
em jogo iia causação da transferência. Não há regras porque a questão não é de
técnica, mas de ética.
"Nunca seria demais chamar os psicanalistas a meditarem sobre a especialidade
da posição que acontece será deles, de dever ocupar um lugar bem outro que aquele
onde são requisitados ... ainda assim, é do ponto de vista do ato que eles têm que
centrar sua meditação sobre a sua função"7.
NOTAS
1. Lacan, J.Las Formaciones dei Inconsciente.
2. Lacan, J. O Ato Psicanaltiico — Lição do dia 24/01/68.
3. Lacan, J. O Ato PsicanalUico— Lição do dia 15/11/67.
4. Laurent, E. Concepciones de Ia Cura en Psicoanalisis, p. 20.
5. Lacan, J. O Ato PsicanalUico— Lição do dia 29/11/67.
6. Freud, S.Além do Princípio do Prazer, p. 52.
7. Lacan, J. O Ato PsicanalUico— Lição do dia 24/01/68.
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