SEGUNDA-FEIRA
– Contar com a graça de Deus e com o tempo. Evitar o desânimo na luta por melhorar.
Assim a minha alma suspira por vós, ó meu Deus. Temos que começar por
fomentar na nossa alma o desejo de santidade, dizendo ao Senhor: “Sim,
quero ser santo”; ou ao menos, se me vejo débil e fraco, “quero ter desejos de
ser santo”. E para que a dúvida se dissipe, para que a santidade não fique
num som vazio, fixemos o nosso olhar em Cristo: “O Senhor Jesus, Mestre e
Modelo divino de toda a perfeição, pregou a todos e a cada um dos discípulos
de qualquer condição a santidade de vida, da qual Ele mesmo é o autor e
consumador, dizendo: Sede, portanto, perfeitos, como também vosso Pai
celestial é perfeito (Mt 5, 48)”4.
Ele é o iniciador. Se não fosse assim, nunca nos passaria pela cabeça a
possibilidade de aspirar à santidade. Mas Jesus estabelece-a como um
preceito: Sede perfeitos, e por isso não é de estranhar que a Igreja faça
ressoar com força essas palavras ao ouvido dos seus filhos: “Todos os fiéis
cristãos estão, pois, convidados e obrigados a procurar a santidade e a
perfeição dentro do seu estado”5.
A força do Espírito Santo não conhece limites nem barreiras, como não as
conheceu no caso de Cornélio, que não pertencia à raça nem ao povo judeu.
Também não as conhece na nossa vida pessoal: por um lado, temos que
desejar ser santos; por outro, se Deus não edifica a casa, em vão trabalham
os que a constroem11. A humildade far-nos-á contar sempre e antes de mais
nada com a graça de Deus. Depois, virá o nosso esforço pessoal por adquirir
virtudes e, juntamente com esse esforço, o nosso empenho apostólico, pois
não podemos pensar numa santidade pessoal que ignore os outros, pois isso
seria um contra-senso; e, por último, o nosso desejo de estar com Cristo na
Cruz, quer dizer, de ser mortificados, de não rejeitar o sacrifício nem em
coisas pequenas nem, se for preciso, nas grandes.
Temos que estar prevenidos para não nos aproximarmos de Deus com
regateios, querendo tornar compatível o amor a Deus com aquilo que não lhe
agrada. Devemos esforçar-nos por alimentar continuamente na oração os
nossos desejos de santidade, pedindo a Deus a graça de saber lutar todos os
dias, de saber descobrir no exame de consciência em que pontos o nosso
amor se está apagando. Os desejos de santidade tornar-se-ão realidade
mediante o cumprimento delicado dos nossos actos de piedade, sem
abandoná-los nem adiá-los seja por que motivo for, sem nos deixarmos levar
pelo estado de ânimo nem pelos sentimentos, pois “a alma que ama a Deus
de verdade não deixa, por preguiça, de fazer o que pode para encontrar o
Filho de Deus, seu Amado. E depois de ter feito tudo o que pode, não fica
satisfeita, pois pensa que não fez nada”12.
III. MINHA ALMA tem sede de Deus, do Deus vivo. Mas será compatível
essa sede com a consciência dos nossos defeitos e mesmo das nossas
quedas? Sim, porque não são santos os que nunca pecaram, mas os que
sempre se levantaram. Renunciar à santidade porque nos vemos cheios de
defeitos é uma manifestação disfarçada de soberba e uma evidente covardia,
que acabará por afogar os nossos desejos de Deus. “Abater-se demasiado e
sucumbir perante as adversidades é próprio de uma alma covarde e que não
tem a vigorosa virtude de confiar nas promessas do Senhor”13.
Como a corça anseia pelas águas vivas, assim a minha alma suspira por
vós, ó meu Deus. Mantenhamos vivo o desejo de Deus; alimentemos todos os
dias a fogueira da nossa fé e da nossa esperança com o fogo do amor a
Deus, que aviva as nossas virtudes e queima a nossa miséria, e saciaremos a
nossa sede de santidade em águas que saltam até a vida eterna16.
(1) Sl 41; Salmo responsorial da Missa da segunda-feira da quarta semana do Tempo Pascal;
(2) Mt 16, 26; (3) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 96; (4) Conc. Vat. II, Const.
Lumen gentium, 40; (5) ib., 42; (6) Dan 9, 23; (7) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 21, 2;
(8) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 628; (9) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 316; (10)
At 11, 15-17; (11) Sl 126, 1; (12) São João da Cruz, Cântico espiritual, 3, 1; (13) São Basílio,
Homilias sobre a alegria; em F. Fernandez Carvajal, Antologia de textos, n. 1781; (14) J.
Tissot, A arte de aproveitar as próprias faltas, pág. 14; (15) ib., págs. 24-25; (16) cfr. Jo 4, 14.