REDE DE

PONTOS DE CULTURA
SANTA CATARINA

CARTA ABERTA A CIDADE DE MARAVILHA

A Rede de Pontos e Pontões de Cultura de Santa Catarina, formada por 81 Entidades

que gerenciam Pontos/Pontões de Cultura espalhados por todas as regiões do estado, tem
acompanhado com apreensão os desdobramentos do ato de exoneração do Cineasta e
Gestor Cultural Sr. Jone Schuster, ocorrido em 13 de abril de 2010 na cidade de
Maravilha/SC. O motivo de nossa preocupação advém do agente causador do afastamento, e
das posteriores medidas tomadas contra o Sr. Jone Shuster e colaboradores e colaboradoras
do Ponto de Cultura “Maravilhosas Artes”, assuntos os quais temos algumas considerações:

1. Consideramos injusta, a demissão do Cineasta e Gestor Cultural Sr. Jone Schuster por
causa de uma obra audiovisual ficcional, autoral, feita fora do exercício da função
pública, e amplamente vista e elogiada em encontros nacionais de cultura em que ele
participou no ano de 2010.
2. Reiteramos o teor ficcional do curta-metragem, e o fato de não haver a mínima
menção ou ato que pudesse constranger os funcionários do poder público local ou
cidadãos daquela cidade;
3. Ponderamos que a temática da obra não fere a honra ou a dignidade da pessoa
humana, ao contrário, representa sim o exercício pleno da liberdade de expressão
através de uma linguagem artística que tem no Sr. Jone Shuster um de seus poucos
realizadores que residem e produzem em cidades do interior do Estado de Santa
Catarina, ao passo que toda a celeuma provocada sobre o filme em nada contribui
para o desenvolvimento cultural da cidade e da região.
4. Repudiamos a forma autoritária e sem direito a defesa com que foi conduzido o ato
de exoneração, esse sim, constrangedor, que fere a dignidade da pessoa humana,
usando o peso do estado que representa a totalidade da população para o
cumprimento da vontade de uma minoria.

No que tange a continuidade do Sr. Jone Schuster à frente do Ponto de Cultura ponderamos:

1. O Projeto de Ponto de Cultura aprovado e conveniado com o Estado, não pode ser
modificado em nenhuma de suas partes, sem justificativa prévia que comprove a real
necessidade de mudança do texto original. O Estado já deixou claro em mais de uma
situação que o projeto aprovado será o projeto realizado, sob pena de extinção do
convênio;
2. O Projeto do Ponto de Cultura aprovado e conveniado com o Estado contém
inclusive, o nome e o currículo dos colaboradores que irão fazer parte da iniciativa,
considerando como critério de seleção profissional, a competência técnica em
detrimento da condição de naturalidade, gentílico, ou quaisquer outras formas de
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seleção protecionista ou subjetiva. É assim em todos os projetos do Estado, o de

Maravilha não seria diferente. A simples troca de profissionais como mecanismo de
retaliação pública é um expediente que deve ser condenado e combatido em
qualquer circunstância.
3. Mesmo a ACEMA sendo uma entidade formada por sócios que são funcionários da
Prefeitura de Maravilha, ela é antes de tudo uma Organização do Terceiro Setor, ou
seja, independente das decisões do poder público, atuando dentro dos princípios de
isonomia e independência. Do contrário, a entidade comete um desvio de finalidade,
podendo sofrer sanções oriundas dessa situação.
4. Do ponto de vista gerencial, dispensar um gestor e uma equipe que auxiliou na
estruturação do projeto, participou das oficinas de capacitação, construiu uma
condição de liderança no cenário estadual, é uma atitude contra produtiva, que caso
venha a ser tomada representa um descaso com o dinheiro público investido nesse
projeto cultural e por conseqüência um desrespeito aos cidadãos de todo o Estado de
Santa Catarina, em especial os da cidade de Maravilha.
5. O Projeto do Ponto de Cultura “Maravilhosas Artes” foi selecionado dentre mais de
200 propostas de todo o Estado, faz parte de uma seleta rede de 2.500 Pontos de
Cultura de todo o Brasil, num processo de inscrição, habilitação e seleção de
propostas que iniciou em 2008 e culminaram com o repasse de recursos as 60
entidades selecionadas no primeiro semestre de 2010. Foi um caminho árduo, que
deixou de fora vários bons projetos em todo o estado inclusive na Região Oeste, essa
situação vivida em Maravilha é um desrespeito a todo esse processo e a todos nós, 78
Pontos e 02 Pontões de Cultura de Santa Catarina que temos a plena consciência do
real valor desse recurso, muito além da dimensão monetária, à dimensão simbólica e
social que essa outorga “Ponto/Pontão de Cultura” representa para a cultura
catarinense.

Por fim, reiteramos que o Sr. Jone Schuster foi eleito Representante Regional dos
Pontos de Cultura da Região Oeste, foi escolhido como um dos representantes da delegação
catarinense na Conferência Nacional de Cultura em Brasília/DF, inclusive sendo um dos 32
delegados de todo o Brasil, apenas 02 de Santa Catarina, que fizeram uso da tribuna e
apresentaram diretrizes na Plenária Final da Conferência, escolhidos dentro de seu próprio
Grupo de Trabalho. Isso demonstra a capacidade de articulação e a visibilidade que ele
estava dando ao Ponto de Cultura e a cidade de Maravilha no cenário estadual e nacional.
É lamentável quando outros interesses se sobrepõem aos interesses públicos nas
decisões administrativas de uma cidade.
É deplorável que em pleno século XXl ainda tenhamos visões obscurantistas de
mundo, que segregam as pessoas pelo gênero, credo, raça, opção sexual, atividade
profissional, ou qualquer outra forma discriminatória de enxergar a realidade.
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É inconcebível imaginar que as pessoas não saibam diferenciar a ficção da realidade

ao se depararem com um produto de lazer, entretenimento ou cultura, como é o caso de
filmes, músicas, teatro ou programas de televisão.
É muita pretensão considerar que os princípios morais de poucas pessoas possam
balizar o exercício moral de toda uma cidade, desconsiderando a diversidade de opinião e
pensamento.
É hipocrisia condenar um artista por sua obra com base na sexualidade, e não
combater com a mesma verve, agilidade ou eficiência, os casos de exploração sexual de
menores, pedofilia, violência doméstica, machismo, corrupção, improbidade administrativa.

A Rede de Pontos e Pontões de Cultura de Santa Catarina é solidária aos prejudicados

por essa questão, o Sr. Jone Schuster, os colaboradores do Ponto de Cultura “Maravilhosas
Artes”, e principalmente a população de Maravilha, que certamente em sua diversidade de
opiniões difere dos atos tomados pela administração municipal.

Atenciosamente,

Rede de Pontos de Cultura de Santa Catarina - Representação Compartilha

Denílson Machado
Associação Cultural Baiacu de Alguém
Ponto de Cultura Pescadores da Cultura

Gilson Maximo de Oliveira

Matakiterani Associação Cultural
Ponto de Cultura – Cultura Popular no Rumo de João Maria

Florianópolis | Lages, 26 de abril de 2010.

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LISTA DE AUTORIDADES QUE RECEBERAM A CARTA

1. Orli Genir Berger - Prefeito Municipal

2. Jonas Berger - Secretário de Administração e Fazenda
3. Max Schabarum - Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Maravilha
4. Juiz Solon Bittencourt Depaoli - Juiz de Direito do Fórum da Comarca de
Maravilha
5. Diego Rodrigo Pinheiro - Promotor de Justiça do Fórum da Comarca de
Maravilha
6. Iolanda de Mello Zanchett - Gerente de Turismo, Cultura e Desporto da SDR
Maravilha
7. Fabiane Galera - Secretária Administrativa da AMERIOS Associação dos
Municípios do Entre Rios
8. Raquel Rodrigues - FECAM Florianópolis
9. Paulo Roberto Festinha Soares - Presidente do SATED SC Sindicato dos
Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Santa Catarina
10. Jornalismo Rádio Difusora AM - A/c Dr. Julmir Viccari
11. Jornalismo Rádio Líder FM - A/c Gilmar Oliveira
12. Jornal Novoeste - A/c Jairo Miguel da Silva
13. Jornal Correio Regional - A/c Dirceu Johann
14. Jornal Imprensa do Povo - A/c Mallu Deparis