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Pessoas CARREIRAS

Pedro Mexia acaba de lançar o seu sexto livro de poesia. Há algum tema que
atravesse todos os poemas?
O livro está dividido em várias partes e cada uma delas tem uma unidade
Pedro temática específica. Mas há uma ideia de fantasma, que passa em todas
elas. A ideia que há coisas que nos assombram perpetuamente. Mesmo as
que nós achamos que já morreram continuam lá.

É um exorcismo desses fantasmas?


É pelo menos falar sobre eles. Tentar isolar algumas ideias que para mim
são fantasmas. São reincidentes na minha cabeça.

Sendo poeta e crítico qual é que considera ser o seu melhor livro?
Há um livro que eu acho que é o mais coerente de todos; o que está mais
bem estruturado, mais bem construído, que é um livro que se chama “Em
Memória” e que são poemas sobre a família.

Considera-se um poeta?
Não me apresento assim a mim próprio. Digamos que dentro do que eu
MEXIA
escrevo, se pudesse ficar alguma coisa, gostava que ficasse a poesia.

E um romance?
As pessoas em Portugal têm um bocadinho a ideia de que quem não
publicou um romance ainda não publicou um livro. Como o romance é
dos poucos géneros que vende, os editores e alguns leitores perguntam
– então quando é que sai o romance? Mesmo quando não há romance
nenhum. Por isso não vou cair naquela armadilha de anunciar um
romance que pode nunca sair. Em princípio vou publicar, para o ano, um
livro de contos, que inclui alguns que já saíram em jornais e revistas, mas
onde a maioria deles são inéditos. Em princípio sairá também para o ano
uma compilação, bastante criteriosa, dos textos publicados no DN desde
34 anos, poeta e crítico literário. 1998. Mas só incluirá aqueles que tratam de crítica literária.
Licenciado em Direito pela Universidade
Católica, por tradição familiar. Mas se Acha que ser crítico literário é incompatível com ser escritor?
fosse hoje teria enveredado pela Filosofia. Não. De maneira nenhuma. Só em Portugal é que existe essa suposta
Pedro Mexia acaba de lançar o sexto incompatibilidade, que resulta do facto de o meio ser pequeno e de as
livro de poesia, “Senhor Fantasma”, pessoas se conhecerem umas às outras. O escritor que é crítico é visto
depois de “Duplo Império” (1999); “Em como quem está a dormir com o inimigo. Mas se formos ver o caso anglo-
Memória” (2000); “Avalanche” (2001); saxónico, todos os escritores escrevem crítica literária. É o caso do David
“Eliot e Outras Observações” (2003) e Lodge, do Martin Amis, do Coetzee e do Naipul.
“Vida Oculta” (2004). Fomos com ele à
esplanada do Hotel do Chiado, ao fim O Pedro tirou o curso de Direito, não lhe interessou o tema da justiça como questão
da tarde, com as colinas de Lisboa como filosófica? A Justiça a ocupar o lugar do amor....
pano de fundo. Falou-nos do seu último Não creio que a justiça esteja a ocupar o lugar do amor. São campos
livro e sobre os fantasmas “que nos
assombram perpetuamente”.

Maria Teixeira Alves


Fotos: Paulo Alexandre Coelho
“GOSTAVA QUE DE MIM
FICASSE A POESIA”

6 | 15.06.2007 - CASUAL
diferentes. Nem creio que haja muito a ideia do Bem. Nós somos hoje cultura em áreas específicas. É um facto que nós nunca tivemos tanto
muito utilitaristas. Há uma ideia do Bom, mais do que uma ideia do Bem. acesso a informação à distância de um click, sem sair de casa. Agora se
O Bem é uma categoria religiosa que eu acho que numa sociedade laica formos falar de uma cultura literária, de uma cultura histórica, acho que
tende a desaparecer. não vivemos um momento muito positivo.

Essa não é uma ideia moralista do Bem? As sociedades têm enraizada uma ideia da O que é que hoje se procura num livro, num quadro, numa escultura? São respostas e
tentação do mal que é preciso contrariar. Mas nunca se explorou a tentação do Bem. ideias, ou é o estatuto que move a procura de produtos culturais?
Eu sou mais céptico em relação ao Bem do que em relação ao Mal. Nas É evidente que a arte é um mercado. Coisa que a literatura não é. Não
sociedades actuais o que há é a tentação do Bom. Potenciar o mais possível há praticamente escritores que vivam da escrita e são muito poucos os
o nosso bem-estar e o nosso prazer. Acho que isso não tem nada a ver a livros que vendem muito. Um livro é em si mesmo um produto barato,
definição clássica do Bem que, por exemplo, implicava uma coisa que nós enquanto um quadro pode valer uma fortuna. Portanto na arte há
hoje desprezamos do ponto de vista filosófico, que é o sacrifício. interesses comerciais e de estatuto social.

E o Mal? Os portugueses são um povo inteligente? João Lobo Antunes disse uma vez que não
O Mal existe a cada esquina. É a categoria filosófica triunfante. Nunca sabia o que era a inteligência, mas quando esta faltava notava-se logo…
tivemos tanto contacto com o Mal como agora. Basta ir à Internet e em Nós portugueses temos mais propensão para aquilo que se chama a
meia hora encontramos o Mal absoluto. Encontramos a pedofilia, o esperteza, para lidar com problemas concretos, imediatos. Mas não
canibalismo. Está lá tudo. há de facto uma tradição filosófica em Portugal, das grandes ideias. Os
portugueses desenvolveram mais a capacidade de “se virarem” (como
O que é explica isso? O tédio é a fonte da maldade? dizem os brasileiros). Nós temos uma grande capacidade de reagir a
O tédio ajuda o mal, leva à procura de novos estímulos. Nesse sentido, o coisas particularmente adversas e isso é uma forma de inteligência. Agora
Mal tende a crescer num contexto de bem-estar económico. a inteligência pura não é de facto o nosso forte. Não é uma das nossas
características, o sermos profundos.
Não acha que se está a gerar uma ideia perversa de liberdade? Somos livres e por isso não
temos limites? A liberdade não está a transformar-se noutra coisa? No egoísmo? Nunca teve medo de chegar à conclusão que o conhecimento não anula o perverso,
A ideia de liberdade individual pode ser terrível. Mas para mim é a maldade e a crueldade?
inegociável a liberdade, por mais calamitosa que possa ser. Agora a Essa é uma questão que remonta aos gregos: se o conhecimento e o bem
liberdade transforma-se quase sempre numa outra coisa. O egoísmo faz estão ligados. Acho que o conhecimento pode de facto combater um certo
parte da liberdade. Raramente alguém quer a liberdade para ser bom. E eu tipo de tendência para julgarmos os outros sem os conhecermos, para
sendo um pessimista creio que tende a escapar para formas de egoísmo e combater os preconceitos e outras atitudes negativas que resultam da
de violência. Enfim, para os sete pecados mortais. ignorância. Mais do que isso não. Claramente um país com uma forte
tradição cultural e filosófica como a Alemanha não evitou uma barbárie
Mudar e melhorar não são sinónimos. Há mudanças para pior. como o nazismo e, pelo contrário, até é sustentável que grande parte da
A frase é sua. Olhando para trás considera que Portugal tem mudanças? ideologia do nazismo tenha assentado na tradição intelectual alemã. O
Desde que me lembro, as mudanças em Portugal são para muito melhor, conhecimento não redime o pecado.
do ponto de vista da qualidade de vida. Deixe-me dar-lhe um exemplo,
quando eu era adolescente as tournées das bandas acabavam em Madrid Se tivesse que escolher escritores preferidos quais escolheria?
e hoje chegam a Lisboa. O que é de facto um sinal de que estamos Há alguns escritores a que eu regresso permanentemente. São autores que
mais próximos da Europa. Claro que há coisas que se perderam com o
progresso económico. A democratização significa também um certo
nivelamento, as pessoas são todas cada vez mais iguais umas às outras.
Não há hoje uma escala social muito flagrante..

O que é que nos falta a Portugal? O Gosto pelo Belo?


Isso, de facto, não temos. Baudelaire tem um poema em prosa onde diz
que em Lisboa as pessoas odeiam árvores.

Acha que os portugueses estão mais cultos?


A informação está hoje mais acessível e há, por exemplo, uma maior

CASUAL - 15.06.2007 | 7
Pessoas CARREIRAS

Senhor
Fantasma
Pedro Mexia acaba de
lançar o sexto livro
de poesia, “Senhor
Fantasma”. Sobre o
livro, Pedro Mexia diz
que há uma ideia de
fantasma, que passa
em todos poemas. “A
ideia que há coisas
que nos assombram
perpetuamente. Mesmo
O AMOR É TAMBÉM UM FACTO SOCIAL e portanto não obedece apenas aos sentimentos. O
as que nós achamos que amor é vivido socialmente, não há uma solidão cósmica entre duas pessoas que gostam uma da outra.
já morreram continuam
lá”. É um exorcismo ?
Perguntámos, “ É pelo
menos falar sobre eles. têm uma visão do mundo em que me reconheço: O Beckett, que é um escritor A Agustina é o exemplo máximo, na literatura portuguesa, do fascínio da
Tentar isolar algumas
ideias que para mim
que tem uma ideia da humanidade como uma tragicomédia e isso interessa-me crueldade e da inteligência. É uma autora que tem frases, observações e visões
são fantasmas. São bastante. É um escritor que não é tão desesperante que vamos saltar todos da do mundo duma justeza tão grande, de uma ferocidade e de uma impiedade tão
reincidentes na minha
janela, mas que é fundamentalmente triste e pessimista, e ao mesmo tempo grande que não é nossa tradição. Nós temos uma tradição branda.
cabeça”. Se tivesse
que escolher, o seu é um autor muito divertido, o que não óbvio para toda a gente. Outro que O Cesariny foi o poeta em Portugal que mais se aproximou de uma noção da
livro de eleição seria o entra nessa lista é o T.S. Elliot, que é um dos meus poetas favoritos. E há ainda poesia como sublime. Uma coisa muito ligada a uma visão romântica da poesia,
“Em Memória”, onde
fala de outro tema que
Kirkegaard que é um dos meus autores de cabeceira. sendo ao mesmo tempo um crítico social muito divertido.
lhe é particularmente Por Vergílio Ferreira tenho sentimentos mais divididos. Era um homem de
importante: a família.
E um escritor preferido de entre os autores actuais? ideias. Muito atento à evolução do mundo intelectual francês. Mas não tenho a
Para o ano está
previsto lançar em Estou a lembrar-me do Seamus Heaney e da Agustina. É complicado falar dos mais certeza que ao longo de toda a sua carreira tenha sabido encontrar o equilíbrio
livro a compilação das novos no mesmo patamar em que se fala de um Beckett e de um Elliot. Claro que há perfeito entre as ideias e a ficção. Sem prejuízo de ter três ou quatro romances
suas críticas literárias
publicadas no DN e
autores mais novos, e mesmo da minha geração, de que eu gosto, mas têm de ser postos que estão entre os grandes do século XX, como o “Até ao Fim” ou o “Para Sempre”.
esta já a preparar um noutro capítulo. Tenho mais dificuldade em admirar escritores que eu encontro no O problema de estar muito à la page das discussões intelectuais ou estéticas de
livro de Contos. Pedro
Bairro Alto. Nós tendemos a valorizar coisas que resistiram ao tempo. Valorizamos os um determinado momento é que o tempo passa e isso deixa de ser interessante.
Mexia tem já editados os
textos da blogosfera no mortos precisamente porque apesar da morte continuam vivos.
“Fora do Mundo” (2004) E Saramago… disse uma vez que ele era o campeão dos livros vendidos e não
e mais recentemente
no “Prova de Vida”
Fale-me de três ou quatro grandes escritores portugueses… lidos, porque ninguém consegue passar da página 15…
(2007). Em 2006 tinha Se falamos de uma lista de três ou quatro não é possível fugir aos óbvios, ao Acho que o Saramago, como todos os autores, deve ser analisado livro a livro e
publicado o “Primeira
Camões, Pessoa... embora seja preciso dizer que há autores portugueses que são não está acima da crítica, como ninguém está. Saramago tem um estilo a que
Pessoa” onde aglutinou
algumas das suas injustamente subvalorizados. Toda a gente fala do Eça, e muito bem, mas acho não adiro muito facilmente. Admito que seja um estilo mais fascinante para um
crónicas publicadas na que o Camilo é, se não maior, pelo menos tão grande como o Eça. As pessoas estrangeiro. Para quem leu Padre António Vieira o estilo de Saramago parece
Grande Reportagem.
Organizou e prefaciou
tendem a subvalorizar o Camilo, porque é mais antiquado, mais melodramático. menos interessante. Porque é um estilo difícil, muito construído, muito artificial
o volume de ensaios Mas num certo aspecto narrativo, o Camilo é mais moderno que o Eça que é a que eu pessoalmente não me agarro muito como leitor. Sem prejuízo disso,
de Agustina Bessa-
muito mais um escritor de escola naturalista. acho que Saramago tem uma coisa que poucos escritores têm: é um escritor de
Luís “Contemplação
Carinhosa de Angústia”. O século XX português é absolutamente extraordinário em termos literários ideias (algumas delas são lamentáveis, mas essa é outra questão).
Traduziu “Notas sobre e há três ou quatro autores que se destacam. Para mim o mais importante foi
o Cinematógrafo”, do
cineasta francês Robert
o Vitorino Nemésio, que ainda por cima é um escritor completo que escreveu, O Pedro é um cinéfilo. Pode escolher um filme que o tenha marcado?
Bresson. Mantém o e bem, conto; romance; ensaio; poesia; biografia. É um autor que foi muito Acho que os filmes mais marcantes da nossa vida não são necessariamente os
blogue Estado Civil.
exigente e que não teve um grande sucesso em vida, aliás queixava-se de que era melhores filmes vimos. Um dos filmes que mais me marcou emocionalmente
Crítico literário no jornal
Público, onde assina mais conhecido por ter apresentado um programa de televisão nos últimos anos foi o Paris Texas do Wim Wenders. É um dos filmes que vi mais vezes. Trata
igualmente uma crónica de vida do que por 50 anos de obra literária publicada. de um universo que me é muito próprio: a família. É sobre a possibilidade de
semanal. Anteriormente
(1998-2007) escreveu
manutenção ou não dos laços familiares. Há outro filme que eu gosto muito:
no Diário de Notícias. Fale-me dos seguintes escritores: Agustina, Cesariny, Vergílio Ferreira…. é um filme francês dos anos 50, que se chama Pickpocket do Robert Bresson.

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É um filme completamente religioso sobre a importância dos gestos, das de o amor ser também um facto social e portanto não obedece apenas aos
escolhas, além de ter o final mais bonito da história do cinema. Em filmes sentimentos, mas a uma série de lógicas. O amor é vivido socialmente, não há
mais contemporâneos, acho que o maior cineasta americano é sem dúvida o uma solidão cósmica entre duas pessoas que gostam uma da outra.
Scorsese, basta ver os movimentos de câmara na Idade da Inocência. Ninguém
tem uma cultura cinematográfica tão vasta como Martin Scorsese. Sei que é católico. Qual o papel do cristianismo no combate a um mundo cada vez
mais egoísta e narcisista?
Onde é que passava as férias quando estas duravam três meses? Tem saudades? O cristianismo é um caminho para os crentes. Para os que acreditam nas suas
Essencialmente na Figueira da Foz, na praia, e na casa dos meus avós maternos verdades de fé. E só para estes. A ideia do amor cristão é totalmente baseada
na Lousã, ao pé de Coimbra. A infância foi provavelmente o único período feliz em questões metafísicas. Para mim o cristianismo subtraído do seu lado
da minha vida. Falo disso no meu livro “Em Memória” transcendental não tem valor nenhum. Mas não sou adepto de cristianizar
quem não é crente. E acho que as sociedades cristãs morreram, nós vivemos no
Há umas saudades do não vivido. Acha que essas nos marcam mais? pós-cristianismo.
Isso sim, completamente. Tem provavelmente a ver com o facto de eu ser pacato.
No seu último filme, Woody Allen faz uma piada com o facto de a religião de hoje
Escreveu que a devastação progressiva do tempo sugere o fatal fascínio da beleza. ser o narcisismo… a vaidade é um obstáculo ao amor?
Esta frase parece-me transparecer uma leve angústia… Sim, essa é brilhante. O amor implica a dedicação aos outros e nesse sentido a
Pensar na passagem do tempo é angustiante. Uma das coisas que o tempo afecta vaidade é um empecilho.
é a beleza, que é efémera, e é por isso que nós tentamos preservar a beleza através
da arte. A ideia de uma beleza perpétua deu origem à arte. O Papa Bento XVI veio dizer que vivemos numa sociedade com o sentimento da
culpa mas sem a noção do pecado...
Qual é a sua ideia do amor de que tantas vezes fala? Acha que o amor é um Enquanto o pecado é uma ideia, a culpa é uma experiência pela qual todos já
espelho através do qual nos vemos a nós próprios mais claramente? passámos num momento ou noutro. É interessante essa ideia de culpa sem
Acho que é um espelho a através do qual nos vemos mais confusamente. pecado.

O amor é uma luta contra milhares de forças escondidas que vêm de nós e dos Acredita que se pode prometer a alguém amá-lo a vida inteira?
outros? A questão é que o amor não é apenas aquilo que se sente quando nos
O amor romântico tem um lado de idealização como uma chegada a um apaixonamos. Ora isso não pode durar uma vida inteira. É evidente que
estado de beatitude. Mas creio que o amor romântico tem mais a ver com as quem vive há muito tempo, têm uma proximidade, uma cumplicidade, uma
dificuldades de chegar lá, com o sofrimento. Isto admitindo que eu subscrevo o intimidade, uma capacidade de perdoar a que normalmente as pessoas não
amor romântico o que já não é o caso. chamam amor, mas é isso que é o amor.

Qual é então a sua visão do amor? Qual a melhor herança que se pode deixar?
Foi essa durante muitos anos, mas hoje é muito mais marcada pelo facto A ideia de que se é uma pessoa decente.

CASUAL - 15.06.2007 | 9

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