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Revista de Arte, Cultura, Arquitetura — MAIO/JUNHO 1981 edigao 64 cr$ 170 Alguns compromissos do projeto de arquitetura Erminia Maricato A recente “‘invasdo” de empresas multinacionais no mercado da constru¢ao de habitagdes no Brasil, prenuncia o surgimento de novos tempos para a industria de construcdo, para a politica habitacional e para nossa arquitetura. O movimento de iingresso das empresas no setor de construgao, mais pronunciado a partir de 1978, é acompanhado de tecnotogias mais avangadas que a que se verifica na pratica da industria de constru¢ao no pais e que nem por serem mais avancadas, deixam de ser banais. O bloco estrutural (PRENSIL), a madeira mineralizada (CLIMATEX), a palha de arroz prensada (STRAMIT), ‘a argamassa armada (QLAP), as inGmeras técnicas de pré-fabricar ou moldar in /oco 0 concreto armado, nao apresentam grandes novidades, nem quanto ao material, nem quanto ao Processo construtivo(1). Nao é preciso avan¢ar muito para superar o estagio tecnolégico da nossa industria de construgao que utiliza a forga de trabalho humano como animal de carga. Até a pouco tempo nfo interessou 4 maior parte do capital imobiliério que atua no Brasil, a modernizagio tecnolégica do processo construtivo, calcado em grande parte na mao de obra abundante, desqualificada e, 56 portanto, barata. Cabe perguntar entao ‘© que mudou para que o mercado brasileiro se tornasse atraente as empresas que tém propostas tecnolégicas mais modernas. Algumas empresas brasileiras que pagam royalties pelo uso do processo francés OUTINORD de construcdo em concreto armado com formas metalicas em tineis, respondem a esta pergunta do seguinte modo: para as faixas de renda baixa como séo aquelas as quais a Cohab se dirige, nao é vidvel economicamente a construgao tradicional. A aplicagao de um capital inicial na compra das formas e de algumas méaquinas, asseguram ao empresario maior rapidez e menor numero de problemas na construcdo, do que no processo tradicional. Esses motivos aliados a outros, esto fazendo com que um numero cada vez maior de empresas construtoras se lancem atualmente no mercado habitacional de faixas de renda baixa, Propondo novos processos construtivos. O “filé-mignon” do mercado constitu/do pelos apartamentos de luxo ou pelos loteamentos fechados, que permitem maior margem de lucro por unidade, esgotou-se (apds meados da década de 70). Agora os empresérios se dirigem a outras faixas de renda que tém alguma capacidade de poupanga. As empresas que est&o construindo em Itaquera, SP, mostram que é vidvel economicamente construir até mesmo para as faixas de renda que vio de 3a 5 salarios minimos, considerando a situagdo excepcional em que o prego do terreno adquirido pela Cohab foi bastante baixo por m2(ver nota 1). Se os materiais de constru¢do que estéo sendo propostos no sao os mais adequados para o nosso clima, e se a tecnologia ngo traz vantagens ou originalidade que pudéssemos desdobrar para aplicar a outros projetos, isso ndo nos redime dos pagamentos de know- how, assisténcia técnica, etc., repetindo © ciclo que atinge a toda estrutura industrial no Brasil, aniquilando ou impedindo o surgimento de pesquisa de novos materiais de construgao e Novas técnicas construtivas entre nds ou simplesmente impedindo o aperfeigoamento dos materiais e racionalizagao das técnicas que séo de conhecimento popular. Tanto as universidades, quanto os profissionais ligados a arquitetura esto marginalizados de um modo geral, em relagdo as inovagdes que esto sendo introduzidas na industria de construgao. Essa situago conduz 0 ensino e a pratica profissional ao mero exercicio formal de melhor “arranjar” as plantas nas unidades habitacionais populares ou de continuar a fazer arquitetura como se faz alta costura: edificio Gnico, “individualizado”, com detalhes especiais rebuscados que absorvem horas de trabalho de equipes inteiras de profissionais. Situagdo extrema de elitismo e desperdicio, é representada pelos freqiientes concursos de arquitetura, quando 90% do trabalho, em média, permanece improdutivo. A resposta as imensas necessidades do nosso povo, quando dadas as condigSes institucionais, certamente exigiria 0 enfoque do tipico, do genérico, da producdo em série. Talvez nao seja o caso de falarmos em construgdo industrializada jé que mesmo nos pases capitalistas avangados, ela permanece industria relativamente atrasada. Mas sem divida é 0 caso de incorporar ao desenho, nessa resposta, as exigéncias do processo produtico seriado, de modulacao e padronizacdo dos elementos da construcéo, bem como a racionalizagao dos processos construtivos. Essa idéia tao coerente internamente nao pode abstrair seu contexto concreto e real de insercdo. Afinal os capitais nacionais e internacionais ligados a industria de construcdo, estao propondo um certo grau de industrializago, cujos resultados esto longe de significar apenas beneficios. E preciso considerar, por exemplo, a impossibilidade de “’solucionar” o \enso problema habitacional brasileiro na base do cimento/ferro. Foto 1: Sérgio Ferro Abbboda circular Estrada da Cotis Ou é preciso considerar ainda a generalizada caréncia de capital, maquinas e mao de obra qualificada * na maior parte do territério nacional, incluindo praticamente toda a zona rural. As dimensées territoriais do pajs, as extremas diferengas regionais, a0 lado do alto custo representado pelos transportes, sao fatores que apontam para a diversidade de solucées, Permitindo, o que 4 fundamental, o respeito as condi¢Ges e recursos locais. Nao é 0 caso de partirmos novamente em busca das “‘rafzes populares”, trazendo de volta a mistica sobre a criatividade e a inventividade de populacdes pobres que vivem & margem do consumo industrial ou que dele, aproveitem apenas o lixo. A vinculagao do processo construtivo as condigdes locais, permite 4 populagao a participagdo e alguma forma de controle técnico e politico. Tanto em Cuba quanto nos pajses trutura de concreto armado e laje pré-fabricada So Paulo africanos recentemente libertados, as propostas construtivas estéo ainda em . debate. Ha muita diversificagao no grau de avan¢o da tecnologia nas experiéncias jé realizadas, Atualmente, em areas proximas a zona urbana, os cubanos combinam a pré-fabricagao no canteiro com alguns aspectos da construcao tradicional. Nos pa/ses africanos, que contam com a estrutura industrial muito fragil, a maior parte das propostas se baseiam na utilizagdo da mo de obra intensiva. Experiéncias Novas ou Veltias, mas Todas Atuais Entre as muitas dividas hd uma certeza, trata-se do compromisso do projeto com o processo produtivo, coma tecnologia e com os produtores. Essas circunstancias permitem o surgimento de inovagées tecnolégicas, fator estratégico para qualquer pa/s que queira caminhar sobre as proprias pernas(2). A auséncia de condigdes institucionais favoraveis, entre nds, para uma atividade criadora (no sentido da inovagao tecnolégica e da democratizacao da arquitetura) ndo deve servir de escudo, entretanto, contra a busca de alternativas. Mesmo que limitada e sobredeterminada pelo contexto histérico, a arquitetura constitul um discurso especifico, cujos compromissos ideolégicos e politicos podem ser evidenciados através da leitura. Para enriquecer e ilustrar o exercicio de reflexdo acerca da ideologia da produgao de arquitetura, vamos apresentar aqui algumas experiéncias jé feitas. Trata-se de um conjunto de propostas (algumas até elementares), que nao pode ser tomado como diregdo ‘ou caminho. Mais do que alternativas, as propostas significam ainda busca, procura, experiéncia. Outras propostas semelhantes poderiam figurar neste grupo desde que apresentem certas Garacteristicas que foram critério para a escolha dos exemplos, Essas caracteristicas sdo as sequintes: 1. O projeto esté profundamente comprometido com o processo produtivo. O desenho apenas se ‘esboga na prancheta servindo como parametro para um projeto que se complementa no canteiro, a partir da experimentacao ativa com os produtores. N . O processo de projetagao e construgdo se caracteriza como um processo de pesquisa. O projeto Messe caso ndo é nunca uma tese, um produto acabado, uma ordem, mas sempre um vir a ser, uma possibilidade que somente se realizaré em condicdes adequadas. 3. Os projetos partem de algumas técnicas ou materiais de dominio popular para levd-los mais adiante, aprimorados através do conhecimento organizado. Materiais tradicionais podem ser usados em novas técnicas construtivas ou podem mesmo passar por melhoramento de desempenho. 4. Os materiais sdo utilizados de forma despojada sem acabamentos desnecessérios. Ao consumo fetichizado do concreto aparente, cuja superficie é lixada e tratada por empresas especializadas, fazendo com que seu custo compita com sofisticados materiais de acabamentos contrapomos o Corbusier das Maisons Jaoul, ou Villanova Artigas na Casa Mendonga (1959/60) para usar referéncias de imagens que dizem mais do que palavras. Essas foram as premissas que orientaram © arquiteto Sérgio Ferro no projeto e Construgao de uma abéboda de tijolo constituindo uma cobertura independente que formou o espaco interno de uma residéncia construfda na Granja Viana, km 29 da Estrada de Cotia. A estrutura desta aboboda circular é composta de arcos de concreto armado. Entre os arcos, amarrando-os 2, 30 4: Rodrigo Lefavre Parébola constituida de tijolos furados e vigotas pré-fabricadas Guarujé, Sé0 Paulo ANEL DE CONCRETO ARMADO 5, 6 @ 7: Ermi Construcao: Estrada de tijolo de argita rejuntade com barro iGna, Séo Paulo e vedando a cobertura foi colocada laje pré-fabricada do tipo “‘prel’’. (foto1} Rodrigo Lefévre féz varios projetos de residéncias em que a proposta de abéboda toma forma parabdlica (exigéncia estrutural) composta de elementos de laje pré-fabricadas (vigotas e tijolos encaixdveis). Durante © tempo em que pesquisou as abébodas, procurou simplificar ao maximo o processo construtivo, utilizando os materiais de paredes, aberturas, instalagdes de forma a eliminar qualquer elemento supérfluo. O processo construtivo é legivel e bastante claro para quem vé a edificagdo pronta. Podemos dizer que é didatico num certo sentido. A funcdo dos materiais, a juncdio entre materiais, a técnica utilizada, 0 trabalho humano, enfim, nao ficam escondidos sob uma camada de acabamento ou de “tratamento do material”, como é corrente na construcao civil. (fotos 2, 3 e 4) Partindo de uma técnica popular tradicional, provavelmente trazida por imigrantes portugueses ou espanhdis ao Brasil, que é utilizada para construgao de fornos de olaria, construfmos uma habitacdo em zona rural, onde era abundante o tijolo de argila. Esse processo construtivo que Pode ser encontrado no interior do Estado de Sao Paulo, Minas Gerais e regido litoranea do norte da Bahia, utiliza-se quase que exclusivamente do tijolo de argila rejuntado com barro nos vedos e cobertura, dispensando totalmente a madeira. A cobertura é composta de uma calota formada de anéis concéntricos de tijolos, que se apdia sobre um cilindro ligeiramente cénico. A calota de cobertura pode atingir até 12m de diametro e é constru(da sem qualquer forma ou cimbramento, contando apenas com um gabarito que regula o arco. Popularmente utiliza-se uma cinta de ferro que abraga 0 limite superior do cilindro, absorvendo os esforcos horizontais da cobertura. No detalhe aqui apresentado, ela foi substitufda por uma viga cilfndrica de concreto armado, (fotos 5, 6 e 7) 70 Utilizando a técnica de argamassa armada, de assimilago bastante facil ao entendimento popular familiarizado com o estuque, o arquiteto Walter Ono construiu a cobertura de uma residéncia situada num sitio em Santana do Parnafba, Sdo Paulo. A armacao da cobertura se fez com tela de arame, (conhecida como “‘tela de galinheiro”’) a concretagem (4cm de espessura) se apoiou em tabuas de pinho que deram forma e que ali ficaram permanentemente, funcionando como forragdo. Com um minimo de recursos @ abrangendo uma drea construida de 60m2, 0 espaco interno resultou bastante rico e a forma da casa bastante complexa, a ponto de tornar indispensdvel o uso de uma maquete Para a comunicacao com os construtores e até para o proprio arquiteto no proceso de projetagéio. Os detalhes técnicos interessantes nao param na cobertura da obra, se estendem ao desenho das esquadrias, portas, captagio e aquecimento de Agua, reutilizagdo do lixo, insolagao através de pequenas aberturas, etc.. O edificio intriga qualquer visitante, mesmo o leigo em arquitetura, que sente a necessidade de conhecé-lo e entender a sua construgdo. A parciménia de recursos no impediu um discurso arquiteténico criativo e estimulante. (fotos 8, 9e 10) Considerando a inexisténcia de recursos institucionais para desenvolvimento dessas experiéncias, os arquitetos langaram mao de alguns expedientes. algumas se fizeram atendendo a solicitago de clientes (pessoas “esclarecidas” que se aventuraram a uma possivel desvalorizagaio da casa-mercadoria) outras foram feitas com os recursos do préprio arquiteto. Dai serem elas predominantemente artesanais e recorrerem a tecnologia atrasada, caracteristicas que conflitam em certa medida, com propostas destinadas as massas das cidades mais industrializadas. Das experiéncias institucionais que conhecemos, uma delas tem um valor excepcional j4 que trata de uma proposta que foi levada & pratica, isto 6, foi parcialmente realizada, contando para isso com condi¢ées institucionais favoraveis (3). Nenhuma outra proposta de habitagdo popular comprometeu-se tanto com os usudrios e tio pouco com a burocracia, com os dogmas, com os gabinetes. Ela se deu durante a gestéo de Miguel Arraes, governador do estado de Pernambuco, em 1962. . Entre os milhares de mocambos constru(dos pela populagao na cidade do Recife, parte deles se localizaram no Monte Guararapes, area tombada pelo Patrim6nio Histérico. Era preciso transferir 2.000 familias que ali construfram seus casebres. A importancia da estratégia adotada, esta em nao se restringir ao aspecto fisico do problema (providenciar habitagdes para uma populagao sem rendimentos fixos) mas de estendé-los ao social, envolvendo a participagao ativa da populagdo na proposta através da Associagao dos Moradores do Cajueiro Seco. O Servi¢o Social contra o Mocambo, érgdo do Governo do Estado, priorizou a inserg&o dos migrantes no mercado de Trabalho ea ‘sua instrucao, criando, entre os equipamentos comunitérios, oficinas de produgéo de roupas e calcados, além de escola, posto de satide e redes de gua e esgoto. A casa nao era o elemento fundamental. Seu aperfeicoamento se daria com o desenvolvimento dos moradores. A proposta arquitet6nica para a habitago combinou: 1) a extrema caréncia de recursos dispon(veis (a maior parte dos recursos financeiros se destinou aos equipamentos coletivos); 2) 0 baixissimo poder aquisitivo da populacao; 3) o conhecimento e as informagées dessa populagao acerca da construgdo com taipa e sapé; 4) algumas caracter/{sticas ‘técnicas do desenho moderno (a modulagao de painéis e a padronizagao de elementos). Os painéis pré-fabricados em taipa e 8, 9 @ 10: Walter Ono montados com o auxilio de 4 mordes cobertura construida com técnica de argamassa armada de canto, constituiam com ela o Parque Mirante do Parnaiba, Santana do Parnaiba: esqueleto da casa a ser preenchido com a conhecida técnica do sopapo (barro prensado). A cobertura proposta é de palha costurada, e tratada para aumentar sua durabilidade. Também a madeira Tecebeu tratamento com essa finalidade. projeto inclufa uma pequena fabrica de artefatos em concreto vibrado:pias, tanques, lavatérios, peca sanitaria e sifdo. Participaram do projeto os estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Recife e os arquitetos Mario Jorge Jardim Pedrosa e Flavio Marinho Rego, sob a coordenagdo de Acicio Gil Borséi. A proposta se desenvolveu, apenas em parte, em contexto favoravel pois foi drasticamente interrompida em 1964 com a mudanga brusca de governo. O fundamental da experiéncia do Cajueiro Seco nao esta na proposta arquiteténica, mas justamente no fato de que ela tem um papel de certa forma submisso diante de problemas estratégicos como 0 desemprego eo analfabetismo. A proposta nao se presta a efeitos demagégicos ou pirotécnicos. Ela nao é a “estrela” do Conjunto Habitacional do Cajueiro Seco. O desenho foi um instrumento modesto mas importante, porque adequado ao instante do processo de luta que inclufa participacao e mobilizacdo de populagdo recém chegada do sertao nordestino. (fotos e desenhos 11, 12, 13 e 14). 11, 12, 13 @ 14: Acécio Gil Bors6i e equipe Pré-fabricacdo de paingis de taipa Cajueiro Seco, Recife el ap

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