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O QUE O PSS ESPERA OU PODE ESPERAR DA ECONOMIA...

O muro caiu realmente?

A queda do muro chegou, em parte, à política, mas está muito


longe de chegar a economia.
Certamente ainda temos muitos companheiros simpáticos às
fórmulas leninistas e estalinistas de poder. Mas já não são tantos.
A grande maioria uma agenda de compromissos com a
democracia, a alternância de poder, a capacidade dissenso e
questões assemelhadas.

Já na economia é grande o número de companheiros que


olha um mundo com o muro de pé e, embora critiquem o projeto
político, ainda defendem o projeto econômico do socialismo real.
Maior ainda o número daqueles que viram o muro cair, mas acham
que nada mudou na economia e podemos usar sem problemas os
modelos de análise antigos sem que nos levem a erros de
avaliação.
Outro grupo constatando que o muro caiu, não acata diversos
pontos dos modelos já superados de análise, mas também não se
propõe a formular o que poderia ser um novo modelo.

O debate que não houve

Talvez justamente o fato de haver muito mais divisões e


divergências do que convergências na economia tenha invibializado
o debate econômico entre nós.
Parte do problema podemos debitar também à noção de
centralidade da política. A leitura de que a política domina a
economia é um enorme facilitador da lógica de que “se temos
clareza na política necessariamente teremos clareza na economia”.
A prática política concreta e as divisões e subdivisões do debate
mostram justamente ao contrário.

Construindo o pensar econômico

Como no futebol somos todos “técnicos” de algum


pensamento estratégico e tático, também somos todos
“economistas” de algum pensamento econômico, mas quando
despolitizamos esse pensamento retiramos dele a capacidade
crítica, que é peça fundamental da produção e dinâmica do

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conhecimento. É onde está estabelecido o pensamento que não
evolui.

A economia por ser especialidade e não generalidade pode


não ser tão dócil e aquilo que pode parecer incrivelmente lógico
como: “Os juros são altos e o culpado é o Banco Central que é
associado dos rentistas”, pode ser simplesmente uma leitura
enviesada. Pode até ser extremamente eficiente como discurso
político, mas, tendo em vista a economia, sua prática e teoria, é
falha e equivocada. Por ser falha e equivocada interfere nos
processos de avaliação e planejamento da ação política. Por
exemplo, desconhece que não existe apenas um padrão de juros.
Que os juros cobrados pelo bancos são articulados em outras
lógicas que não a da taxa básica da economia. Que é o oligopólio
bancário o viabilizador dos altos spreads bancários. Olhar para os
juros altos e culpar o BC nos leva a não debater a urgência de uma
Política Nacional de Crédito que possa romper com o oligopólio
bancário, talvez fundada num projeto de nos deveria ser muito caro,
Cooperativas de Crédito. Romper o oligopólio bancário por sua vez
é democratização da oferta de crédito. A democratização no
mercado deveria ser plataforma nossa. Ou não deveria?
Bater no BC por que os juros são altos é um ótimo atalho, mas nos
afasta de debates essenciais para o nosso projeto de
desenvolvimento. Visto o crédito barato como viabilizador dos
investimentos que sustentem o crescimento econômico.
Jogamos no lixo dois projetos fundamentais em nossa lógica
política: Cooperativismo e democratização do mercado.
Para não parecer que se está desviando o debate, do lado do BC
se esquece que não é a instituição que dita os juros reais. Ela dita
os nominais. Os juros reais são resultado de um conjunto de
elementos que não estão no controle do banco. Críticas pontuais
sobre se o banco subiu 0,75 e poderia ter subido 0,50 não podem
ocultar o simples fato de que os juros reais são altos por questões
estruturais. São essas condições que alteradas nos levarão na
direção de juros reais menores. Até a Dilma já se deu conta disso. E
verbaliza.

Uma história do pensamento econômico

Nossa convivência com a economia jamais foi harmoniosa ou


pacífica.
Lá trás, nas décadas de 60, 70 éramos marxistas convictos.
Nosso projeto passava pela destruição do Estado burguês. Nosso

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pensamento econômico estava todo nos manuais de marxismo-
leninismo. Nosso sonho de consumo era ler, e entender?, o Capital.
Todos éramos economistas. Era a economia da crítica ao
capitalismo. Apenas uma coisa nos interessava: Encontrar a
contradição final que levaria à derrocada do modo e abriria o
caminho para o socialismo.
Mas, bons marxistas que éramos não nos contentávamos em
esperar o modo capitalista “cair de maduro”. Abraçávamos a teoria
do elo mais fraco de Lênin e acreditávamos que era a política e não
a economia nosso foco. A economia apenas servia para construir a
crítica ao modo e “orientar” a leitura política. Claro, fortalecer
convicções...
Enfim, não havia a intenção do uso do pensamento
econômico como gestão, como técnica de condução de políticas
públicas. Nesse campo o que nos interessava era a economia do
socialismo. Nada que uma leitura do Oskar Lange não resolvesse.
Na campo acadêmico nossa briga era com o keynesianismo, que
víamos como um instrumento para a perpetuação do modo
capitalista via mecanismos para a superação de suas crises.
Nos debates sobre o desenvolvimento instaurava-se um
problema. Ficávamos obrigados a olhar para as oposições entre
termos e não composições entre termos. No campo internacional a
grande questão era o imperialismo e a tensão latente entre centro e
periferia. Algo opunha o Brasil aos EUA e nos colocava em lados
antagônicos. Da mesma forma com relação aos outros países
desenvolvidos. Dentro da teoria da determinação do núcleo
dinâmico sobre as partes do sistema eram os americanos nosso
alvo, mas isso não eximia o restante.

Muito parecida com a lógica atual da políticas internacional


brasileira nossa proposta era forma uma ampla frente de países que
lutavam por seu desenvolvimento para contrapor ao bloco central.
Pobres contra ricos. Internamente e externamente.
Nossa inserção na economia mundial como exportadores de
matéria-prima e importadores de produtos de valor agregado ou
tecnologia, nosso absurdamente insipiente mercado interno eram
culpa “deles”. Nós éramos soldados dessa luta contra a aliança
entre a burguesia entreguista, corrupta e rentista e o imperialismo
norte-americano.
Eles eram os responsáveis e nosso pensamento econômico
só comprovava nosso acerto.

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O debate sobre o desenvolvimento era uma contradição nos
seus termos. De um lado, embora o marxismo pregasse o fim do
Estado, o leninismo nos levava a acreditar que o Estado e não nós,
seres humanos e pensadores, era o condutor do processo.
Nesse caso nenhuma dificuldade de olhar para o Estado brasileiro e
ver nele o mesmo papel. O partido falava e polemizava, mas cabia
ao Estado a gestão do desenvolvimento.
A contradição se estabelecia quando nosso projeto pregava a
necessidade de mais capitalismo, para...sair do capitalismo. Era o
projeto da revolução nacional e democrática. Aqui nosso
pensamento econômico se cindia. Permanecia a linha de crítica ao
modo e a questão centro-periferia nos documentos. No mundo real
o instrumento era um keynesianismo fortemente estatizante. A
economia enquanto gestão ficava guardada num escaninho, mas o
Estado forte, condutor do processo, ligava as duas visões de
mundo: A socialista e a nacional democrática com papel único para
o Estado.

O mundo mudou

Com a queda do socialismo real e a desconstrução do projeto


socialista a lógica de poder muda. Já não queremos mais a tomada
violenta do poder. Não acreditamos mais no uso do poder como
garantia de hegemonia. Não queremos mais o Estado autoritário.
Não achamos mais que o socialismo se imponha à sociedade.
Sequer sabemos ir além do papel de utopia do projeto socialista.
Entendemos que a única forma de mudar o futuro é mudar aqui e
agora. Diferentemente do passado em que podíamos jogar os
problemas para o futuro, tudo ficava para depois da revolução,
nossos compromissos mudaram.

Hoje nos vemos compelidos a entender que não iremos


destruir o Estado ou transformá-lo violentamente. Criam-se novas
responsabilidades, pois devemos olhar para o Estado como gestão
possível. Não dá mais para criticar apenas. Estamos obrigados a
prestar nossa contribuição dentro do Estado.
Nosso projeto de poder hoje é incremental. Não há mais a lógica
dos grandes saltos. Semelhantemente ao pensamento social-
democrático imaginamos que são as transformações dentro do
capitalismo que nos levarão ao socialismo. Não dá para quebrar,
jogar fora e botar outra coisa no lugar.
Essa gestão possível tem que ser compatível com tudo que
avançamos na política e na lógica de poder. No nosso atual

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conceito não há um grande condutor e também não é mais o
Estado o único condutor do desenvolvimento. Ou fazemos um jogo
a três ou não há jogo.

Uma das questões mais evidentes na derrocada do socialismo


real foi o fato de que o mercado, enquanto instituição que aloca
recursos, não pode ser suprimido por decreto. A lógica do mercado
é pertinente às economias modernas e a dinâmica dessas
economias prescinde dele. Então, até que possamos formular um
outro conjunto de propostas viáveis, a eliminação do mercado como
alocação eficiente dos fatores e a eliminação da propriedade
privada dos meios de produção está fora de consideração. E com
isso teremos de conviver. Apesar de nossa cultura anticapitalista
mais que centenária.

Nosso jogo a três envolve o Estado, o mercado e a sociedade


civil. Nossa leitura não é mais de uma tensão insolúvel entre
classes sociais que só se resolveria pela chegada ao poder do
proletariado. Lidamos hoje com uma diferente compreensão de
processo e percebemos questões que vão muito além das classes
sociais ou de projetos de classe, que aliás cada vez mais se
transformam em projetos corporativos.

Conciliações

Em realidade hoje nosso pensamento retoma um debate que


foi suprimido pela lógica leninista/stalinista. O debate com o
liberalismo. Por mais que assuste alguns é nesta fonte que
buscamos nosso discurso da democracia e da democratização do
aparelho do Estado. Os estudos mais avançados de Economia
Institucional são tocados pelo liberais e é deles que emergem
conceitos como o de accountability.
Aqui o liberalismo é visto basicamente como uma oposição entre o
Estado e o indivíduo e o indivíduo precisa garantir seus espaços
contra a lógica hegemonizante do Estado utilizado como poder de
determinados grupos, alianças de poder, para utilizar um termo de
FHC.
Mais uma conciliação a fazer.

Outro aspecto importante dessa nossa realidade é a


substituição da tensão latente entre centro e periferia pela noção de
que a globalização econômica é uma inevitabilidade do
desenvolvimento.

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Enfim, o comércio mundial, o resto do mundo fazem parte de
nosso projeto, seja do ponto de vista do comércio
importação/exportação ou seja do ponto de vista dos investimentos.
Nosso lugar no mundo tem um outro tipo de reflexão.
Tradicionalmente a economia brasileira é mais fechada que aberta
e assim continua. Foi muito fácil para nós ignorar o resto do mundo
quando tratava-se de algo mais simples: Nosso alinhamento estava
errado. Tínhamos que pular do bloco capitalista para o bloco
socialista. Não tem mais para onde pular.
Não se trata mais de formar uma ampla aliança anti-imperialista das
nações exploradas. Percebemos uma inserção no mundo onde as
estratégias de desenvolvimento são resultantes de nossas vontades
e não das imposições de um dado contexto.
Nossa atual política externa parece voltada para construir novos
blocos de oposição quando nossa disposição deveria ser a de
discutir governanças possíveis, mas acima de tudo, interações
possíveis.

O que fazer?

De fato vivemos mudanças profundas em nossa estratégia de


poder e em nossos projetos mais longos. Fomos capazes de captar
essas mudanças e, na política, de formulá-las. Mas como a
economia pode captar essas mudanças?

Podemos elaborar uma formulação bem simples, em parte já


estabelecida: O desenvolvimento que queremos, que não é este
que ai está, é que determinará a macro e a microeconomia que
precisamos e serão essas coisas que nos informarão o Estado que
operará a gestão pública.
O debate tipo heterodoxia versus ortodoxia é falso. Não se trata,
nunca se tratou de “adotar” uma lógica ou outra, mas de saber
lançar mão de instrumentos que nos levem lá.

Claro, temos pontos de partida:


a) Ou estamos na gestão, presentes em áreas estratégicas
inclusive, ou nosso projeto será só vontade. Claro que isso remete à
nossa baxíssima vocação executiva, falta de quadros qualificados,
falta de políticas de qualificação de quadros etc...;
b) Existem um conceito de estabilidade já consagrado e que não
tem nada a haver com a hegemonia de classes da burguesia e sim
com a condição de condução de políticas econômicas que por
serem estáveis são eficientes e dão resultados. Fundamental

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clarificar este debate pontual num país onde vivemos, durante toda
a história republicana, diferentes governos que buscaram atalhos de
crescimento na formação da dívida pública, com históricos, e
registrados, problemas;
c) Da mesma forma que a macro e a microeconomia falam de
instrumentos de gestão pública que respondam a sustentabilidade
de projetos de desenvolvimento o Estado não é o fim. É o meio de
mobilizar recursos, inteligências e capacidades.
Não existe um tamanho ideal de Estado. Existe uma gestão que
tem uma tarefa a cumprir, mas que deve cumpri-la de forma
eficiente. Eficiência aqui nos remete à finalidade da própria ação,
mas também nos remete à liberdade das famílias disporem da
renda que auferem. Existe um grau de responsabilidade em lidar
com a apropriação imposta pelo Estado. Existe um outro grau de
responsabilidade em não compartilhar com a noção de que o
Estado é antes de tudo a confirmação de uma hegemonia que deve
se perpetuar e o papel que a capacidade de gastar joga ai.

Podemos agora retornar à indagação inicial: O que pode o


PPS querer ou esperar da economia?

O que podemos querer e o que podemos esperar dependerá


basicamente de percebermos que essa nossa concepção de mundo
tem que ser coerente com o nosso pensamento econômico.
Precisamos urgentemente politizar a economia e isso não se fará
sem um amplo e profundo debate sobre o papel de nosso
pensamento econômico na gestão pública de formas que possamos
alcançar o desenvolvimento que queremos.
Não há como o pensamento político estar descasado do
pensamento econômico.

Por menos que se goste, e certamente os defensores da


“grande política” detestam, o fato é que a gestão tem que partir de
um dado pensamento econômico e não faremos gestão, pelo
menos uma gestão diferenciada e compatível com nossas
formulações se não formos capazes de delimitar e estabelecer esse
pensamento.

O debate do pensamento econômico do PPS não pode ser


uma questão de especialidade e deve ser coerente com nosso
pensamento político. Projetos de partido são projetos de poder com
finalidade de transformação ou manutenção. O nosso se diz
transformador. Projetos de poder se concretizam na gestão pública.

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Não se faz gestão sem uma clara definição de pensamento
econômico.
É isto que o PPS deve esperar da economia.

Demetrio Carneiro

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