Mais uma palavra para destacar as particularidades da fase flica, to essencial em relao
s fases precedentes, j que de seu desfecho depender a futura identidade sexual da criana
transformada em adulto. Aqui esto os aspectos a serem guardados. Primeiro, note-se que,
nessa fase, o objeto fantasiado da pulso no se apia, como antes, numa parte do corpo do
indivduo, como o polegar ou os excrementos (e agora o pnis ou o clitris), mas numa
pessoa. O objeto fantasiado da pulso (falo) assume ento a imagem de uma me ou de um
pai eles mesmos s voltas com desejos e pulses. Assim, a me percebida pelo menino da
fase flica atravs da fantasia de uma me desejante; o
Observe-se ainda que, no decorrer dessa fase, a criana, pela primeira vez, tem a
experincia de perder o objeto da pulso, no como seqncia de uma evoluo natural,
como nos estgios precedentes (o desmame, por exemplo), mas em resposta a uma
obrigao incontornvel. O menino perde seu objeto-me para se submeter lei universal
da proibio do incesto. Lei que o pai lhe ordena respeitar,
Por ltimo, observe-se que a fase flica a nica que se conclui pela resoluo de uma
opo decisiva: o menino ter de escolher entre salvar uma parte de seu prprio corpo ou
salvar o objeto de sua pulso. Essa alternativa eqivale, definitivamente, a eleger uma ou
outra forma de falo: ou o pnis, ou a me. O menino ter que decidir entre preservar seu
corpo da ameaa da castrao, isto , preservar o pnis, ou conservar o objeto de sua pulso,
ou seja, a me. Ter que escolher entre salvar seu pnis e renunciar me, ou no renunciar
me, mas sacrificar seu pnis. Sem dvida, o desfecho normal consiste em renunciar ao
objeto e salvar a integridade de sua pessoa. O amor narcsico tem primazia sobre o amor
objetai. Essa alternativa, que apresento como o drama que seria vivido por uma criana
mtica, , na verdade, a mesma alternativa que todos atravessamos em certos momentos de
nossa existncia, quando somos forados a tomar decises em que o que est em jogo
perder aquilo que nos mais caro. Ento, para preservar o ser, freqentemente o objeto
que abandonamos. O ser humano por natureza governado por sua tendncia egosta
autopreservao.