Origem: 7.º Juizado Especial Cível de Curitiba Recorrente: IBI ADMINISTRADORA E PROMOTORA LTDA Recorrida: VIVIANE NAVARRO BIANCHINI Juiz Relator: HORÁCIO RIBAS TEIXEIRA
RECURSO INOMINADO - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA
DO JUIZADO ESPECIAL DEVIDO A COMPLEXIDADE DA CAUSA AFASTADA - DESNECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL - AUTORA QUE NÃO CELEBROU NEGÓCIO JURÍDICO COM A RÉ - UTILIZAÇÃO FRAUDULENTA DE DOCUMENTOS POR TERCEIROS - DÍVIDA INEXISTENTE - INSCRIÇÃO INDEVIDA - ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO - DANO MORAL CONFIGURADO - APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N.º 8 DA TRU/PR - QUANTUM (R$ 5.000,00) ARBITRADO DE ACORDO COM AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO - CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Ausência de complexidade da causa: Inexiste a complexidade da causa a
afastar a competência do juizado especial, bem como a produção de prova pericial grafotécnica. Os documentos acostados às fls. 12/15 corroboram a alegação da parte Autora relativamente ao furto e que um terceiro, na posse de seus documentos, teria contraído a dívida. Inexistência de contrato entre as partes: Não restou comprovado tenha a parte Autora celebrado negócio jurídico com a Reclamada, o que torna o débito inexistente e indevida e abusiva a inscrição do seu nome nos cadastros de órgãos de restrição de crédito. Anote-se que, no caso, descabe impor ao Reclamante o ônus de provar que não contraiu a dívida, pois não tem como fazer prova de fato negativo. Vulnerabilidade do sistema de contratação: A Reclamada instituiu um sistema de contratação débil em suas atividades, revelado pela formalização de contrato com terceiro que não a Autora e nem por este autorizado. Isso constitui falha da segurança do serviço prestado, pela qual responde a Ré de forma objetiva. Não há se falar em culpa exclusiva de terceiro, por fraude deste, como eximente de responsabilidade pelo dano, porque esse fato de terceiro é previsível em todo negócio jurídico, havendo evidente falta de cautela da Ré. Excludente de responsabilidade - afastamento: Se a Reclamada admite a contratação com a utilização de documentos de outra pessoa, sem conferência da veracidade das informações, é dela o risco de suportar as fraudes daí decorrentes, devendo assumir a responsabilidade de conferir os dados e as próprias alegações de quem deseja contratar. Dessa forma, os fatos alegados pelo consumidor não podem ser considerados como excludentes de responsabilidade, eis que cabe à prestadora de serviços acautelar-se para que fatos como o ocorrente não se implementem, devendo responder pelos danos causados ao nome daquele que, embora conste como contratante, jamais manifestou sua vontade de figurar na relação jurídica. Dolo do terceiro: Não diminui a culpa da ré o dolo com que se houve o estelionatário, a qual, no entanto, poderá ser acionada por aquele, em ação de regresso. Responsabilidade objetiva: A responsabilidade civil da Recorrente é objetiva, quer porque (a) a Autora é vítima do evento, sendo, por isso, consumidor por equiparação (art.17 do CDC), quer porque (b) há, in casu, a incidência da teoria do risco do negócio (art.927, § único, CC), segundo a qual o empresário pode explorar o mercado, auferindo os lucros das suas atividades; devendo, no entanto, suportar, também, os riscos do seu empreendimento. Desse modo, pode-se dizer que a responsabilidade objetiva está lastreada em um princípio de eqüidade, existente desde o direito romano, a saber, aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda, ibi incommoda). Isso equivale a dizer que, quem aufere os cômodos (ou lucros) deve suportar os incômodos (ou riscos), pelo que, enquanto o negócio é favorável, estando o empresário lucrando, não lhe é legítimo transferir para o consumidor, ou sequer dividir com este, os riscos do negócio, caso ele se torne desvantajoso. Dano moral - presunção: “É presumida a existência de dano moral, nos casos de protesto de título e inscrição e/ou manutenção em órgão de proteção ao crédito, quando indevidos” (Enunciado n.º 8 da TRU/PR).
Confirmação da sentença por seus próprios fundamentos: A respeitável
sentença foi bem fundamentada pelo i. Julgador, que deu escorreito termo à lide, atento ao conjunto probatório colacionado aos autos, compromissado com a lei e os valores que ela consubstancia, especialmente com o valor do justo, inexistindo qualquer desencontro entre a argumentação expendida e os elementos constantes no feito. Restaram observados in casu, o disposto no artigo 131 do CPC, que elenca o Princípio da livre persuasão racional do juiz, que dá ao mesmo liberdade para examinar os resultados da prova segundo sua própria capacidade perceptiva, bem como o artigo 93, inciso IX, da Carta Maior, atinente à motivação dos julgados. Assim, não verifico qualquer vício ou falha na sentença vergastada, que por isso deve ser mantida pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, o que se faz na forma do disposto no art. 46, da Lei nº 9.099/95, que assim estabelece: “O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão”. Acordam os Juízes da Turma Recursal Única dos Juizados Especial Cível e Criminal do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e negar provimento ao recurso. Sucumbência: Condena-se a Recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, arbitrados em 20% sobre o valor atualizado da condenação, tendo em vista o tempo decorrido, a natureza da demanda, o local da prestação do serviço e o grau de zelo do advogado da parte contrária. O julgamento foi presidido pelo Juiz Alexandre Barbosa Fabiani (sem voto) dele participaram os Senhores Juízes Telmo Zaions Zainko e Helder Luís Henrique Taguchi. Curitiba, 30 de maio de 2008. _______________________________ HORÁCIO RIBAS TEI