UM ENIGMA CHAMADO BRASIL 29 INTERPRETES EUM PAIS André Botelho Lilia Moritz Schwarcz (oncawaanones)NINA RODRIGUES: UM RADICAL DO PESSIMISMO La rite SenwarceNina Rodrigues legou uma imagem paradonal. A despeito de ser frequentemente destacado como o primeiro antropéloga brasileiro a fazer um levantamento dos povos africanos res sdentes no pas, ele € também lembrado como aquele que de fendeu a existenia de diferengasonolicas entre a8 raas aqui resdentes, © em especiel pr considerar a mestigagem como um snal de degenetescacia. As teses deste médico maranhense, professor da escola de medicna de Bahia, mesmo em sua époce, foram entend- das como radia ede difitdomay Deum lado, é evidente ‘adogio das terias do darwinismo social e da antropologia eriminal Be outro igualmence clara sa tentative de clas sia sdiferenas entre os grupos; temas epropostas hoe, ‘de ceta mancira,datads. No entento, a andliseculdadsa de certas obras deste centsta revelard impasses ainda pre- sents, ia. no debate acerca das potenciadades ds grupos eras, seja na questo da diferenga e-em sua defesaabso- ‘uta Nina Rodrigues fi, mesmo, um grande litre traduor le se prépro tempo; mas nos DFERENCALEVADAA SERIO mene (© momento em que 0 médico Nina Rodrigues viveu, esre- veu e pesquisou era dado a determinismos de toda ordem: racias, bioldgeose sociais.Além do mais, em fins do x @ cléncia era entendida quase como uma misso, zal a maneira como ela se vineulava ao Bstado e is suas necessidades, ‘Nina Rodrigues seria um dos intelectusis mais coerentes de seu periodo, ao adotar 0 darwinismo de forma literal, ao negar o evolucionismo social e inclu a eriminologia de Lombroso como modelo} Diferente de seus colegas da Escola de Recife — especial ‘mente Tobias Barreto e Silvio Romero —, Nina Rodrigues ‘opis-se ao supostoevoluconismo social de que a "perfect Iidade” era possfvel para todos os grupos humanos. ainda: fo confetti rags 0 estaruto de realidades estanques, de fendew que toda mistura de espécies seria sindnimo de dege era, Com esse tipo de posicao extremada e pessimist, Rourigues antagonizou com os colega de dtet, que erar, {ustamente, os responsves pela conformacio do Cdigo Pe- nal de 1894, Para ele, sos médicosteiam 0 arbiro sobre (0s corpos doentes,e na sua inerpretagioo dirito, nomea ddamente o jusnatualismo, apostava em concepgbes “ultra passadas” — como a igualdade e o live-arbitrio| Usilizou ) ‘assim uma ideia bastante “moderna” da relatvidade do cri- ne € associou a questo da imputabilidade: de certs racas se esperava responsabilidade; de outras,ndo se podia cobrar ‘0 que no possviam, Mas 0 importante era anotar a nogio ‘de diferenca: de diferenca racial Conforme cen ‘ist: "se um pais no & antigo para se fazer conhecer por sa radio; reo para se destacar por sua economia; precisa ser diferente’. Para Nina éramos diferentes e essa diferenc] ddeveria ser levada a MEST AGEM E DECENERESCENCAA Parte da “maldigho” que reaiu sobre Nina Rodrigues aavém de seus livros e estudor sobre criminalidade, que se concen: ‘aram no final do séeulo Xe inicio do. As rages huranas a responsabilidade penal do Brasil (1894), "Negros crimino- sos” (1895), “O regicida Marcelino Bispo" (1899), “Mestca ‘gem, degeneresenciae crime" (1895), entre outros enslos, Fepresentam um novo momento a cateira desse médico que ‘6 na eriminalidade mestga uma particularidade nacional. (O suposto era oda “desigualdade” e, portant, da neces- sldade de criagio de c6digos penas dstintos que permitis- sem estabelecer responsabilidades atenuadas. Pautado por ‘tios “estos de caso", Nina procurou fazer de suas tsesuma questi pessoal, mas uma matéria de ciéncia, fr ‘amente amparada na bibliografia da época. E 0 contexto ‘Go poderia ser mais revelador. Afinal, nesse momento @ ‘Brande pergunta, que restava sem resposta,girava em tor ‘no do lugar que ocuparia a populagio negra reeém-saida da excravidio sujeita a arblro da Republic, e sa igualda de cidad. © modelo adotaco impliaré, por sua ver, ex plicitago da tese inical — a diterenga de imputabilidade entre as ragas —, combinada com a emonstracio dos ‘easos clinics que comprovavam a existéncia da degeneracio, ex Posta nos exemplos de epilepsia,neurastenia(fadiga, hist: "ia, alienagdo, quando néo eriminalidade. 0 conjunto per Imitiria demonstrar a doenca e a inviablidade do préprio ‘digo penal, enganado pelo principio voluntarista da lis: tragio: uma “ilusio da jgualdade”, conforme expressio de [Nina e titulo do livro fundamental de antropéloga Marisa Correa sobre o autor. Em As raga humans ¢ a esponsabiidade pena, al ar ‘sumento é desenvolvido & exaustio, No livo esta presente a ‘nogio de “grupo racial’, cntrapesta ao conceito de indiv- ‘uo, prisioneiro do seu grupo e origem. O préprio ensaio prieipia aflrmando seu objeto: o estudo das modlficacbes ‘que as condigbes de caca imprimem & responsabilidade pe nal eas alteragdes na imputabilidade. Para sedimentar suas hhipéteses, Rodrigues opde-se is concepgdes que chama de “enganosas” A primeira delas seria a espiritualiste, que pressuporia uma mesma natureza pata todos os poves. O ‘édico, como especialisca, decreta que esse era um modelo condenado: nao seria possivel exit de um povo uma evolu ‘gio incompativel com seu desenvolvimento intelectual gualdade vira, assim, um "dogma", com todas as implice. ‘bes que esse rermo possa ter. A concep espiritualista & ‘entendida como modelo metafisio, cua compreensdo passa Jonge da experimentagio cientifica. Usiizando, pos, dos su ostos da criminologia moderna, Ni ‘ontologias raciais € a permanéncia de variagdesrelevants, tanto orginias como bioligieas ou cerebras. ‘Mas seu segundo alvo de ataqueéo dieito, mais precisa- _mente a legislagbes penais em que “ainda reinam com pri etre Be agata Pui, srs oer Ss re mare Bc ack rear er vena unr opm ca, Nei te, 1 _ apnea emeitpirapemnes ova i ma Ras orl ec, es tov n "Orme ern de i en srg hamanes ea responsaiiad pal Bras Carta Men Alps oe am eee lee a tr depen er aflenes Bras. ed rs, Es Un, 198 tov, stern rr Na in ‘ar ease ta rk: Oe ae mr Some ee ee eae Gin rear alegre Deere oracineas ona ee rn ob Sap tn