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Livro 2, Parte 3, Segio 1 ral, eno a tome como um fundamento razoével para suas acSes, tan- to na especulagao como na pratica. Ora, a evidéncia moral nao é mais que uma conclustio acerca das ages dos homens, derivada da consi- deracdo de seus motivos, temperamentos e situag6es. Assim, quan- do vemos certos caracteres e figuras tracados sobre o papel, inferi- ‘mos quea pessoa que os produziu queria afirmar certos fatos: a morte de César, o sucesso de Augusto, a crueldade de Nero; e, lembrando-nos de muitos outros testemunhos coincidentes, concluimos que um dia tais fatos realmente existiram, e que tantas pessoas, sem nenhum interesse, nunca se uniriam para nos enganar ~ sobretudo porque, 20 tentar fazé-lo, afirmando que esses fatos eram recentes e univer- salmente conhecidos, apenas se exporiam ao escdrnio de todos os seus contemporaneos. O mesmo tipo de raciocinio esta presente na politica, na guerra, no comércio, na economia; de fato, est tao com- pletamente entranhado na vida humana que é impossivel agir ou sequer subsistir um s6 momento sem recorter a ele. O principe que impée uma taxa a seus stiditos espera sua aquiescéncia. O general que co- ‘manda um exército conta com um certo grau de coragem. O comer- ciante confia na lealdade e na habilidade de seu gerente. © homem que dé ordens para seu jantar nfo duvida da obediéncia de seus cria- dos. Em suma, como nada nos interessa tanto quanto nossas prdprias ag6es e as dos outros, a maior parte de nossos raciocinios € empre- gada em jutzos a respeito delas. Ora, afirmo que quem raciocina des- sa maneira cré ipso facto que os atos da vontade decorrem da necessi- dade, e se o nega nao sabe o que diz. Considerados em si mesmos, todos 0s objetos que chamamos de causas ¢ efeitos s40 to distintos e separados uns dos outros quanto de qualquer outra coisa na natureza; jamais poderfamos, nem sequer pelo exame mais rigoroso, inferir a existéncia de um da existéncia do outro. Somente pela experiéncia e observacao de sua unio constante somos capazes de fazer essa inferéncia; e, assim mesmo, aiinferéncia no passa de um efeito do costume sobre a imaginacao. Nao devemos, aqui, nos contentar em dizer que a idéia de causa e efeito decorre de Tratado da natureaa humana objetos constantemente unidos; temos de afirmar que ela éa mesma coisa que a idéia desses objetos, e a conexio necessdiria nao & descober- ta por uma conclusao do entendimento, sendo apenas uma percep- do da mente. Portanto, sempre que observamos a mesma unido, e sempre que a unio age da mesma maneira sobre a crenga e 2 opinio, temos uma idéia de causas e de necessidade, ainda que as vezes possa: mos evitar essas expresses. Em todos os casos passados que pudemos observar, o movimento de um corpo é seguido, por impacto, do movi- mento de outro corpo. E imposs{vel a mente penetrar além disso. Dessa unio constante, ela forma a idéia de causa e efeito e, por sua influén- cla, sente a necessidade. Ora, como hé a mesma constancia e a mesma influéncia naquilo que denominamos evidéncia moral, nao precisamos de mais nada. O que resta sé pode ser pura discussdo verbal. De fato, quando consideramos quao adequadamente as evidén- cias naturais e morais se aglutinam, formando uma cadeia tinica de ar- ‘gumentacdo, nao hesitaremos em admitir que tém a mesma natureza ederivam dos mesmos princ{pios. O prisioneiro que nao tem dinheiro ow influéncia descobre a impossibilidade de sua fuga, tanto pela obs- tinagao do carcereiro quanto pelos muros e barras que o cercam; e, em todas as suas tentativas de alcangar a liberdade, prefere trabalhar a pedra e o ferro destes & natureza inflexivel daquele. © mesmo pri- sioneiro, quando conduzido ao cadafalso, prevé sua morte com igual certeza pela constanciae fidelidade de seus sentinelas como pela ope- rac do machado ou da roda. Sua mente percorre uma certa seqiién- cia de idéias: a recusa dos soldados a consentir em sua fuga, a ago do carrasco, a separacao da cabeca ¢ do corpo, o sangramento, os movimentos convulsivos, a morte. Temos aqui uma cadeia em que se conectam causas naturais e ages voluntarias; mas a mente no sente nenhuma diferenca entre elas ao passat de um elo ao outro; no esté menos certa do resultado futuro que se este estivesse co- nectado com as impressdes presentes da meméria e dos sentidos por uma cadeia de causas aglutinadas por aquilo que costumamos chamar ‘uma nevessidade fisica. A experiéncia da mesma unido tem o mesmo 442 DOMME CRHRGERS RES E Livro 2, Parte 3, Segao 2 efeito sobre a mente, quer os objetos unidos sejam motivos, voligGes e acdes, quer sejam figuras e movimentos. Podemos mudar 05 no- ‘mes das coisas, mas sua natureza e sua operacio sobre o entendimento nunca mudam. uso afirmar, com toda seguranga, que ninguém ha de tentar re- futar esses raciocinios, a menos que altere minhas definicdes ¢ atri- bua um sentido diferente aos termos causa, efeito, necessidade, iberdade e acaso, De acordo com minhas definig6es, a necessidade é parte es- sencial da causalidade; conseqiientemente, a liberdade, ao suprimir anecessidade, suprime também as causas, e € 0 mesmo que 0 acaso. ‘Como normalmente se pensa que 0 acaso implica uma contradi¢a0, ‘ou ao menos que é diretamente contrério A experiéncia, os mesmos argumentos podem sempre ser utilizados contra a iberdade ou livre- arbftrio, Se alguém alterar as definig&es, ndo posso pretender argu: mentar antes de conhecer 0 sentido que atribui a esses termos. Segio 2 Continuagdo do mesmo tema Creio que podemos dar trés razGes para a prevaléncia da doutri- nada liberdade, por mais absurda que ela possa ser em um sentido, ¢ ininteligivel em outro. Primeira razéo. Apés termos realizado uma acto, mesmo que reconhegamos ter sido influenciados por conside- ragoes e motivos particulares, € dificil persuadirmos a nés mesmos de que fomos governados pela necessidade e de que nos teria sido inteiramente impossivel agir de forma diferente — pois a idéia de ne- cessidade parece implicar algo de forca, violencia e constrangimento, coisas de que nao temos consciéncia ao agir. Poucos so capazes de fazer uma distincdo entre a liberdade de espontaneidade, como € cha- mada na escolistica, e a liberdade de indiferena, ou seja, entre aquilo que se opée a violéncia e aquilo que significa uma negacao da neces- sidade e das causas. O primeiro sentido da palavra é 0 mais comum; fe, uma vez que é somente essa espécie de liberdade que nos interessa 443 Tratado da natureza humana preservar, nossos pensamentos tém-se voltado sobretudo para ela, confundindo-a quase sempre com a outra. Em segundo lugar, hé até mesmo uma falsa sensagao ou experiéncia da liberdade de indiferenga, que é vista como um argumento em fa- vor de sua existéncia real. A necessidade de uma acdo, seja da maté- ria, seja da mente, nao é, rigorosamente falando, uma qualidade do agente, mas sim de algum ser pensante ou inteligente que possa con- siderar de fora a ago, consistindo na determinacao de seu pensamento a inferir a existéncia dessa ago a partir de objetos preexistentes. Em contrapartida, a liberdade ou acaso nao é sendo a falta dessa deter- minagGo, e uma certa indefinieao [looseness] que sentimos em passar ou ndo passar da idéia desses objetos 3 idéia da ago. Pois bem, pode- mos observar que, embora, a0 refletir sobre as ages humanas, nés raramente sintamos uma tal indefinico ou indiferenga, é muito co- mum acontecer que, ao realizarmos nossas préprias ages, sejamos sensiveis a algo semelhante. E como todos os objetos relacionados ou semelhantes sao facilmente tomados uns pelos outros, isso tem sido utilizado como uma prova demonstrativa, ou mesmo intuitiva, da liberdade humana. Sentimos que nossas ages, na maioria das ve- es, esto submetidas a nossa vontade; e imaginamos sentir quea von- tade ela mesma nao est4 submetida a nada porque quando, diante da negacdo disso, vemo-nos incitados a pé-lo & prova, sentimos que nossa vontade se move facilmente em todas as direc6es, produzindo uma imagem de si prépria até mesmo ali onde ndo se estabeleceu. Convencemo-nos de que essa imagem, ou movimento fraco, poderia ter-se completado na prépria coisa; porque, se isso também for nega- do, descobrimos, ao tentar uma segunda vez, que este é realmente o caso. Mas esse esforco é todo em vio. Por mais caprichosas e irregu- lares que sejam as ages que entio pratiquemos, como o desejo de mostrar nossa liberdade é seu tinico motivo, nunca podemos nos liber- tar das amarras da necessidade, Podemos imaginar que sentimos uma liberdade dentro de nés, mas um espectador comumente ser capaz de inferir nossas ages de nossos motivos e de nosso carater. E, mesmo 444 quando na vesse perf nossa situa de nossa c necessidad Umate bem-aceita desnecessa cas, ndo ha dendvel, gu cias perigo a absurdos falsa port portanto, d nada na de pessoa doz tender tira exame des gundo mig religido ea Defi definigoes necessida Ihantes, § os sent mente, caracter Livro 2, Parte 3, Segio 2 quando nao pode fazé-lo, em geral conclui que o poderia, caso esti- vesse perfeitamente familiarizado com todas as circunstancias de nossa situacio e temperamento e com os mecanismos mais secretos de nossa constituicao e disposisao. Ora, tal é a esséncia mesma da necessidade, conforme a doutrina anterior. ‘Uma terceira razo por que a doutrina da liberdade é em geral mais, bem-aceita que a doutrina antag6nica provém da religiéo, que tem sido desnecessariamente envolvida nessa questéo. Em discuss6es filoséfi- cas, nao ha método de raciocinio mais comum, mas também mais con- dendvel, que tentar refutar uma hipétese apretexto de suas conseqiién- cias perigosas para a religiao ea moral. Quando uma opinio nos leva a absurdos, é certamente falsa; mas no é certo que uma opiniao seja falsa porque tem conseqiiéncias perigosas. Argumentos como esse, portanto, deveriam ser rigorosamente evitados, porque nao ajudam em nada na descoberta da verdade, servindo apenas para tornar odiosa a pessoa do adversério. Fago essa observacao de maneira geral, sem pre~ tender tirar dela nenhuma vantagem. Exponho-me francamente a um ‘exame desse tipo, e ouso afirmar que a doutrina da necessidade, se- gundo minha explicagio, é nao apenas inocente, mas vantajosa para a religido ea moral Defino a necessidade de duas maneiras, de acordo com as duas definicées de causa, da qual ela é um componente essencial. Situo a necessidade seja na unio e conjungao constante de objetos seme- Ihantes, seja na inferéncia da mente de um ao outro. Ora, em ambos os sentidos, a necessidade tem sido universalmente, embora tacita- mente, reconhecida nas escolas, no puilpito e na vida comum, como caracterizando a vontade do homem. Ninguém jamais pretendeu ne- gar que podemos fazer inferéncias concernentes as ages humanas, € aque tais inferéncias se fundam na experiéncia da unio constante de acdes semelhantes com motivos ¢ circunstancias semelhantes. Sé ha ‘duas maneiras de alguém discordar de mim: ou recusando-sea chamar aiisso de necessidade ~ mas enquanto compreendermos seu sentido, a palavra, assim espero, néo pode causar mal algum -; ou entéio afir~ 445 ‘Tratado da natureza humana mando que hé algo mais nas operac6es da matéria. Ora, se de fato € assim ou nao, isso nao tem nenhuma relevancia para a religido, mes- ‘mo que seja importante para a filosofia da natureza. Posso estar erra~ do ao afirmar que nao temos idéia de nenhuma outra conexdo nas agées dos corpos; e ficaria contente de aprender um pouco mais so- bre isso. Mas tenho certeza de que nao atribuo nada as agbes da men- te além do que se deve prontamente admitir. Que ninguém, portan- to, venha deturpar minhas palavras, dizendo de maneira simplista que afirmo a necessidade das acdes humanas e as coloco no mesmo pla- no das operaces da matéria insensivel. Nao atribuo a vontade essa necessidade ininteligivel, que se supde existir na matéria. Ao contra- rio, atribuo & matéria essa qualidade inteligivel, quer a chamemos ou no de necessidade, que atéa mais rigida ortodoxia reconhece, ou deve reconhecer, como existindo na vontade. Portanto, nao estou alteran- do nada nos sistemas estabelecidos no que diz respeito 4 vontade, mas apenas no que se refere aos objetos materiais. E vou além. Afirmo que essa espécie de necessidade é to essen- cial a religio e & moral que sua auséncia acarretaria a total ruina de ambas; e qualquer outra suposi¢ao destruiria por completo todas as leis, divinas ¢ humanas. De fato, como todas as leis humanas esto fun- dadas em recompensas e punigdes, admite-se certamente como um principio fundamental que esses motivos exercem uma influéncia sobre a mente, produzindo boas agGes e impedindo as mas. Podemos daraessa influéncia onome que bem entendermos; mas como, usual- mente, ela ocorre em conjungdo com a ago, o bom senso requer que a consideremos uma causa, e a vejamos como um exemplo dessa ne- cessidade que pretendo estabelecer. Esse raciocinio se mostra igualmente s6lido quando aplicado as leis divinas, enquanto se considerar Deus um legislador que supos- tamente impde punigGes e concede recompensas com propésito de suscitar obediéncia. Mas afirmo também que, mesmo quando Deus no age na qualidade de magistrado, quando o vemos como puro vin- gador de crimes em virtude do carater odioso ¢ repulsivo destes, seria 446 Livro 2, Parte 3, Sedo 2 impossivel, sem a conexiio necessaria de causa e efeito nas arses hu- manas, nao apenas que as punigdes infligidas fossem compativeis com a justica e a eqiiidade moral, mas também que algum ser sensato ja- mais pensasse em infligi-as. O objeto constante ¢ universal do édio ‘ou da raiva é uma pessoa, uma criatura dotada de pensamento e cons- cigncia; e quando uma agao criminosa ou nociva desperta essa pai- xo, ela o faz somente por sua relagdo ou conexdo com essa pessoa De acordo com a doutrina da liberdade ou acaso, porém, tal conexéo se reduz a nada, e 0s homens so tao pouco responsavels pelas aces planejadas e premeditadas quanto pelas mais casuais eacidentais. As ages so, por natureza, temporirias e pereciveis; e quando nao pro- cedem de alguma causa no carter e na disposigo do agente, nao se implantam firmemente nele, nem podem redundar em sua honra, quando boas, ou descrédito, quando més. A aco em si mesma pode ser condendvel, pode ser contréria a todas as regras da moral e dareli- ido, mas a pessoa nfo é responsével por ela. E, como a ago nao re- sultou de nada duradouro ou constante na pessoa, nem deixou atras de si nada dessa natureza, é impossivel que, por causa da a¢do, a pes- soa possa se tornar objeto de punigao ou vinganca. Segundo a doutrina da liberdade, portanto, um homem continua tao puro e imaculado apés ter cometido o mais terrivel dos crimes, como no momento de seu nas- cimento; suas acbes ndo atingem em nada seu caréter, pois ndo deri- vam dele; de modo que a perversidade das ages nfo pode ser usada como prova da depravacao do caréter. Somente segundo os principios danecessidade alguém pode adquirir mérito ou demérito por stias goes, por mais que a opinifo comum se incline para a afirmagao contraria Oshomens, entretanto, sao tao incoerentes consigo mesmos que, ‘embora afirmem com freqiiéncia que a necessidade destr6i intei- ramente todo mérito e demérito, perante a humanidade ou perante os poderes superiores, continuam a raciocinar com base nesses mes- ‘mos principios da necessidade em todos os seus juizos relativos aesse assunto. As pessoas nao séo condenadas por aquelas ms ages que praticam sem saber e casualmente, sejam quais forem suas conseqtién- “7 Tratado da natureza humana cias. Por qué? Porque as causas dessas aces sdo apenas momenta- neas e se esgotam nessas mesmas agdes. As pessoas so condenadas menos pelas mds aces que praticam apressadamente e sem preme- ditagao que por aquelas que resultam de reflexao e deliberacao. Por que raz4o? Porque a impetuosidade, embora seja uma causa constante na mente, opera apenas a intervalos e nao contamina todo o carater. Mais ainda. O arrependimento apaga por completo qualquer crime, sobretu- do se acompanhado de uma evidente reforma na vidae nos hébitos. Como explicar isso? Afirmando que as a¢Ges s6 tornam uma pessoa criminosa por serem provas da presenga de paixGes ou principios criminosos na ‘mente; e quando, por alguma alteraco desses principios, deixam de ser provas legitimas, deixam também de ser criminosas. De acordo com a doutrina da liberdade ou acaso, porém, elas nunca chegaram a ser pro- vas legitimas; conseqtientemente, nunca foram criminosas. Volto-me agora, portanto, para meu adversério, e pego-Ihe que libere seu proprio sistema dessas conseqiiéncias odiosas antes de acu- sar os outros. Ou, se preferir resolver essa questo junto aos filéso- fos, por meio de argumentos legitimos, em vez de tentar convencer 0 povo pela retérica, peco-lhe que torne a considerar aquilo que apre- sentei para provar que a liberdade e 0 acaso séo sinénimos, e tam- bém o que eu disse a respeito da natureza da evidéncia moral e da regularidade das ac6es humanas. Quando tiver examinado cuidado- samente esses raciocinios, sem diivida alguma ha de me conceder a vitoria. Portanto, tendo provado que todas as ages da vontade térn causas particulares, passo agora a explicar quais so essas causas e como elas operam. Segio 3 Dos motivos que influenciam a vontade Nada é mais comum na filosofia, e mesmo na vida corrente, que falar no combate entre a paixdo e a razdo, dar preferéncia 4 raziio e afirmar que os homens s6 sio virtuosos quando se conformam a seus 48

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