e o Cosmopolitismo
das Relações de
Consumo na
Sociedade Moderna:
Problematização
de um Paradoxo e
Perspectivas para
o Novo Século
Thr Role of Durability and Cosmopolitism
in the M odern S ociety : P roblems and
Perspectives for a New Century
L a D urabilité et le C osmopolitisme des
Relations de Consommation Dans la Société
Moderne : Problématique D’um Paradoxe et
Perspectives Pour le Nouveau Siècle
Hiroshi Togashi*
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1. Introdução
1
ANNAN, Kofi. Relatório Nós os Povos – o Papel das Nações Unidas
no Século XXI. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO (PNUD). Disponível em: http://www.pnud.
org.br/ [acesso em 21 mai. 2009].
295
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2
SILVA, 2003, p. 3-5. LEITE, 2003, p. 47, nota de rodapé n. 15. MAZZILLI,
2003, p. 137.
3
MAZZILLI, 2003, p. 136.
296
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4
A Lei n. 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
5
Art. 226, Constituição da República: “A família, base da sociedade, tem
especial proteção do Estado”.
6
Art. 225, § 1º, Constituição da República: “Para assegurar a efetividade
desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) II - preservar a diversidade
e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético”.
7
A Lei n. 8.974/95 regulamenta os incisos II e V do parágrafo primeiro
do art. 225, da Constituição da República, estabelecendo normas para o
uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de
organismos geneticamente modificados, autorizando o Poder Executivo a
criar, no âmbito da Presidência da República, a Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança. A Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005, Regulamenta
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10
No item 2 do Parecer, que cuida das limitações do PIB, reza o seguinte:
“Atualmente, o PIB (Produto Interno Bruto) é o instrumento mais
utilizado pelos governos para medir e ficar a saber como vai a sociedade
(...) Mas, ao mesmo tempo, não diz nada sobre o bem-estar (felicidade)
das pessoas ou sobre o grau de sustentabilidade do desenvolvimento da
sociedade. O PIB per capita nos Estados Unidos é um dos mais elevados
do mundo, mas isso não quer dizer que os americanos sejam mais felizes
do que os habitantes de outros países. (...) Felicidade é o objetivo último de
todos os seres humanos. A tarefa mais importante dos governos é, pois,
criar as premissas que permitam a cada cidadão alcançar essa felicidade.
Isso significa que os governos terão de sondar constantemente a sociedade
para recolher informações sobre a situação em que se encontra. Medir é
saber. Só depois de saber qual o motivo e qual o objeto da insatisfação
sentida em dado momento é que se poderá tentar remediá-la”.
11
Ao tratar do ecological footprint, o Parecer dispõe que seu ponto de
partida é “[...] a possibilidade de calcular o consumo de certos produtos
com base na área necessária para a sua produção. É, deste modo, possível
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300
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14
SILVA, 2003, p. 132.
301
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15
BRASIL. Senado Federal. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento. Brasília, Secretaria Especial de Editoração e
Publicações do Senado Federal, 2003.
16
“De fato, ao decidir uma disputa comercial entre os Estados Unidos e a
União Européia sobre a comercialização de carne de bovinos submetidos
a técnicas de crescimento induzido por hormônios, o Órgão de Apelação
da OMC entendeu que a demonstração pela última de que a administração
de hormônios do crescimento genericamente considerados pode
causar câncer não era suficiente para legitimar sua decisão de proibir a
importação de carne norte-americana. Para o referido órgão, a aplicação
do princípio da precaução exigia, ao menos, a demonstração específica
de que os hormônios de crescimento utilizados pelos pecuaristas norte-
americanos poderiam causar câncer”. LEITE, 2003, p. 18.
17
COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO, DE 2 DE FEVEREIRO DE 2000
– COM (2000) 1 FINAL, Relativa Ao Princípio da Precaução. Disponível
em: http://eurolex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:
52000DC0001:EN: HTML [acesso em 15 mai. 2009].
302
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18
Merece ser feita ressalva quanto ao uso habitual da expressão ônus da prova,
visto que ônus é a consequência do descumprimento de um encargo, na
hipótese, o probatório. De tal sorte, Parece ser mais adequado empregar
a terminologia encargo probatório, porquanto somente haverá ônus caso
seja previamente descumprido algum encargo.
19
LEITE, 2003, p. 61.
20
Em despacho na Ação Cível Originária n. 593: “Trata-se de Ação
Declaratória Negativa proposta pela Agência Nacional de Energia Elétrica
- ANEEL e Itapebi Geração de Energia S.A. contra o Estado de Minas
Gerais em que se requer a declaração de inexistência de qualquer relação
jurídica valida, decorrente da Lei Estadual n. 13.370, de 30 de novembro
de 1999, que impeça o prosseguimento das obras do Aproveitamento
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Art. 225, § 3º, Constituição da República: “As condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados”.
23
Como, por exemplo, a Lei n. 3.206/99, do Estado do Rio de Janeiro,
ao determinar, em seu art. 2º, que as garrafas e embalagens plásticas
comercializadas no território do Estado do Rio de Janeiro terão impressa
orientação ao consumidor sobre os riscos para o meio ambiente sobre
o descarte de forma inadequada, e que esta orientação deverá informar,
expressamente e com clareza que os referidos objetos de plástico não
são degradáveis ou absorvíveis pela natureza, devendo ser separadas para
coleta e destinação final adequada. Disponível em: http://www.alerj.
rj.gov.br/processo2.htm [acesso em 15 mai. 2009].
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O ser humano do século XXI vive numa sociedade que converteu a máxima de
René Descartes, cogito, ergo sum, para consumo, ergo sum. Torna-se utópica a concepção
de vida em sociedade dissociada da idéia de consumo. O útil e o supérfluo tomam
conta do imaginário do homem moderno. O avanço das tecnológicas, a propagação
dos meios de comunicação de massa, as técnicas de merchandising, enfim, todo o
desenvolvimento da era atual modela sua personalidade.
Com o aumento do consumo, aumentam também os riscos de degradação
ambiental. Por falta de políticas públicas voltadas para a prevenção da escassez dos
recursos não-renováveis, bem como pela ausência de coordenação no gerenciamento
de resíduos, a produção e o consumo desmedidos numa sociedade de massa trazem
sérias consequências à preservação dos ecossistemas.
A emissão de dióxido de carbono e demais poluentes na atmosfera, que
provocam alterações climáticas como o efeito estufa e o descongelamento das calotas
polares, a esgotabilidade dos recursos não-renováveis, como combustíveis fósseis
e água, e a quantidade de lixo produzida pelas grandes metrópoles são questões
diretamente relacionadas aos padrões de consumo da sociedade moderna. A Agenda
XXI, em seu capítulo 4 (itens 4.5 e 4.6), dispõe o seguinte:
mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que
cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos
as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram,
como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do
que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres
do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas
trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas,
enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia
seja nossa. Só nossa”. Disponível em: http://www.cristovam.org.br/index.
php?option=com_content&task=view&id=546 [acesso em 15 mai. 2009].
307
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25
Além da Adbusters, existem também a Buy Nothing Christmas, Global
Exchange, Fair Trade, Anti-Consumerism Action e a Christmas Resistance.
26
O programa Buy Nothing Day encontra-se presente em países como
Finlândia, Alemanha, Noruega, Itália, Dinamarca, Suécia, Portugal,
Japão e Nova Zelândia.
308
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27
A ISO 14000 foi a segunda norma de gerenciamento empresarial, editada em
1996. A primeira foi a ISO 9000, em 1987. Estão sendo realizados debates,
nacionais e internacionais, a respeito da elaboração de uma terceira norma
de gerenciamento, que irá tratar da responsabilidade social das empresas.
28
Para obtenção da certificação ISO 14000, são apontadas como forma de
gerenciamento ambiental das empresas questões como o controle e a redução
dos impactos da produção sobre o meio ambiente, o cumprimento das normas
ambientais, o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para a eliminação dos
resíduos, a eliminação ou redução dos riscos ao meio ambiente e ao homem,
assim como a utilização de tecnologias limpas, objetivando a redução de energia
e materiais e o relacionamento com a comunidade e com o Governo.
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estarão aliados à ética empresarial. Mas para que seja possível a conscientização do
consumo, devem ser oferecidas informações aos consumidores a respeito do nível de
comprometimento econômico, social e ambiental das corporações, para que possam
ser privilegiadas aquelas que maiores retornos tenham dispensado à sociedade.
Um dos instrumentos utilizados para a prestação de contas sobre o empenho
empresarial com o bem-estar coletivo tem sido a divulgação do chamado balanço
social. Modernamente, jornais e revistas contam com a publicação das diferentes
ações sociais empreendidas por grandes empresas. Isso se traduz, na verdade, numa
releitura do próprio conceito de publicidade, visto como são apresentados não apenas
produtos ou serviços; também em razão do novo marketing corporativo é divulgado
o portfólio sustentável desenvolvido em favor da sociedade.
Como consequência, ainda que o ato de consumo esteja se transformando em
consumismo29, no novo século, os produtos passarão a ser escolhidos não apenas
em função de suas qualidades intrínsecas. Pela nova relação consumidor-empresa
que se estabelece, diferentes fatores serão sopesados, pois, mesmo contando com
produtos de alta qualidade e grande aceitação no mercado, empresas que, na era da
transparência, proporcionada pelas inúmeras fontes de comunicação, são destaque
na mídia pelo uso de mão de obra infantil em suas linhas de produção, ou por
comportamentos ambientalmente destrutivos, tendem, com o novo século, a oscilar
diante da crescente conscientização dos consumidores.
Por ser óbvia, essa concepção está manifestada, com maior intensidade, nos
países desenvolvidos, onde a distribuição de renda acontece de forma mais equânime,
o que oportuniza o maior acesso aos bens de uso e consumo. Nos países em
desenvolvimento, como as diferenças sociais, em regra, são extremas, a vontade de
ter um determinado bem se encontra tão distante da real possibilidade de o conseguir,
que toda e qualquer oportunidade que permita a aproximação entre o imaginário e
o concreto torna-se superior à conscientização do consumo.
29
Entenda-se por consumismo, expressão difundida a partir do século
XX, a distorção do ato de gastar, ou o gastar como ato substitutivo
e compensatório a outros valores mais elevados e relevantes ao
desenvolvimento humano.
310
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30
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
reunida em Estocolmo, Suécia, durante os dias 5 a 16 de junho de 1972, que
contou com governos de vários países, estimulou a criação de ministérios
governamentais relacionados ao meio ambiente perante os governos
mundiais, como também criou o Programa das Nações Unidas para o
Ambiente (PNUA).
31
Art. 66, da Constituição da República Portuguesa: “1. Todos têm direito a
um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever
de o defender. 2. Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um
desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos
próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos: a) Prevenir
e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão;
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34
De acordo com o Relatório Nós os povos – o Papel das Nações Unidas
no século XXI, que precedeu a Conferência do Milênio, “[...] sem o
Protocolo (de Montreal), os níveis das substâncias prejudiciais à camada
de ozônio seriam cinco vezes superiores aos de hoje em dia, e os níveis
de radiação UV-B à superfície teriam duplicado nas latitudes médias do
hemisfério norte. De acordo com as estimativas atuais, espera-se que a
concentração de CFC na camada de ozônio regresse aos valores anteriores
a 1980 até ao ano 2050”. ANNAN, Kofi. Relatório Nós os Povos – o
Papel das Nações Unidas no Século XXI, PROGRAMA DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Disponível em:
http://www.pnud.org.br/ [acesso em 21 mai. 2009].
35
PROTOCOLO DE MONTREAL SOBRE AS SUBSTÂNCIAS QUE
DETERIORAM A CAMADA DE OZÔNIO. Disponível em: http://
ozone.unep.org/Ratification_status/montreal_protocol.shtml [acesso
em 15 mai. 2009].
313
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36
O Protocolo estabelece o chamado Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo, que permite aos países industrializados obter créditos de emissões
através de investimentos que permitam reduzir os níveis de emissões de
gases de efeito estufa nos países em desenvolvimento.
314
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7. Conclusão
37
Cite-se a Lei n. 1838/91, do Estado do Rio de Janeiro, que determina,
em seu art. 1º, que o Poder Executivo promoverá, no prazo de um ano,
a substituição gradativa de todo seu material institucional e de uso diário
(envelopes, cartões, formulários, blocos, notas, recibos, papéis timbrados,
processos, boletins e publicações) por similares confeccionados em
papel reciclado. Disponível em: http://www.alerj.rj.gov.br/processo2.
htm [acesso em 15 de mai. 2009]. No mesmo sentido, o Projeto de Lei
Federal n. 1760, apresentado em 20 de agosto de 2003, que prioriza os
produtos oriundos da reciclagem de resíduos sólidos nas compras de bens
de consumo e duráveis, realizadas pelos órgãos da Administração Pública
Federal. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/prop_detalhe.
asp?id=129146 [acesso em 15 de mai. 2009].
315
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8. Referências Bibliográficas
ANNAN, Kofi. Relatório Nós os Povos – o Papel das Nações Unidas no Século XXI.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO
(PNUD). Disponível em: http://www.pnud.org.br/ [acesso em 21 mai. 2009].
BRASIL. Senado Federal. Agenda 21: conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento. Brasília, Secretaria Especial de Editoração e
Publicações do Senado Federal, 2003.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cível Originária (ACO) n. 593. Meio
Ambiente. Exploração de potencial hidráulico. Geração de energia elétrica
– Permissão. Relator: Gilmar Ferreira Mendes. 2ª Turma. Brasília, 30 de
junho de 2000. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/diarioJustica/
listarDiarioJustica.asp?tipoPesquisaDJ=AP&numero=593&classe=ACO [acesso
em 15 mai. 2009].
316
VoxJuris | Ano 2, v. 2, n. 1, pág. 293-319, 2009
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MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa de Interesses Difusos em Juízo. São Paulo: Saraiva,
2003.
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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,
2003.
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