MESTRADO EM DIREITO
PROCESSO E CONSTITUIÇÃO
Santo Ângelo(RS)
2007
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
INTRODUÇÃO
1 CONCEITUAÇÃO PROCESSUAL
Pode-se dizer, com LIEBMAN, que a coisa julgada formal e a coisa julgada
material são degraus do mesmo fenômeno. Proferida a sentença e preclusos
os prazos para recursos, a sentença se torna imutável (primeiro degrau – coisa
julgada formal); e, em conseqüência se tornam imutáveis os seus efeitos
(segundo degrau – coisa julgada material).
Isso não quer dizer que a sentença se torne imune, mas sim os efeitos que a
decisão transitada em julgado atinge as partes envolvidas e suas vinculações. A
Constituição assegura (art. 5º, inc. XXXVI) e a lei processual disciplina (arts. 467 ss), a
função social da coisa julgada, seu significado político-institucional de assegurar a
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firmeza das disposições jurídicas, tanto que erigida em garantia constitucional. Uma
vez finalizada, considera-se estável para as partes litigantes.
Nas partes alcançadas pela coisa julgada, somente os litigantes é que são
envolvidos pela decisão. Isso prevalece em relação aos direitos individuais ao qual a
aspiração é extraída em juízo, utilizando como ferramenta a legitimação ordinária, onde
somente aqueles que detêm o direito material é que têm o privilégio de invocar em
nome próprio a tutela desse direito.
O que leva se poder afirmar que – neste momento histórico – a coisa julgada
está diretamente relacionada ao direito afirmado, na medida em que, se este for
individual heterogêneo, àquela se limitará as partes; se o direito for individual
homogêneo nas relações de consumo, erga omnes, nos casos de procedência
(secundum eventum litis); se o direito for coletivo propriamente dito nas relações
de consumo, ultra partes; se for difuso, nas demanda públicas, populares e de
consumo, erga omnes. (1979)
Um transporte desta leitura para a praxis jurídica faz emergir a relação entre
Constituição – por ser a coisa julgada um princípio constitucional – e o processo – por
igualmente constituir o instituto um elemento normativo.
Não se trata de conceber uma nova ordem jurídica, mas apenas traduzir para
dentro do Direito as conseqüências de uma evolução de nossa sociedade, se partindo
das transformações sociais que ocorreram ao longo dos tempos.
É a Constituição que define qual o “caráter” de uma lei. E esta mesma lei na
Constituição se molda. Assim como as decisões que insurgem dela. Kelsen (2000, p.
228) traz considerações a respeito:
[...] não menos importante, tem-se que os princípios caracterizam-se por serem
a base do sistema jurídico, os seus fundamentos últimos. Neste sentido é que
se compreende a sua natureza normogenética, ou seja, o fato de serem
fundamento de regras, constituindo a razão de ser, o motivo determinante da
existência das regras em geral.
Com ênfase o autor salienta a importância que há de ser dada aos princípios
dentro do ordenamento jurídico. A escalonagem de normas em um ordenamento está
seguramente sustentada por este alicerce principiológico fundamental para a existência
e a eficácia das normas. É o oxigênio garantidor da validade normativa.
Os valores estão implícitos na questão dos princípios tal qual a coisa julgada é
abordada nesta esteira. Radbruch (1974, p. 99) coloca:
Por este viés fica a indagação de como relativizar a coisa julgada se esta é
considerada um princípio constitucional antes mesmo de ser um instituto processual.
3 REFLEXÃO CRÍTICA
Não deixa, porém, de ser curioso que o ataque à coisa julgada provenha da
própria modernidade, levando em conta que a instituição fora concebida para
atender à exigência primordial de segurança jurídica, condição básica para o
desenvolvimento econômico, aspiração também moderna. A coisa julgada,
exageradamente abrangente, foi a âncora jurídica que possibilitou a construção
do ‘mundo industrial’. Afinal, cabe perguntar, estaremos ainda vivendo a fase
terminal da modernidade; ou, tendo-a ultrapassado, estaremos no pico de uma
crise paradigmática, sem saber para onde vamos.
Por óbvio que sob o prisma da análise do direito processual e suas tendências,
como a que se pretende dirimir, não se pode adequar ou equacionar relações jurídicas
invocando conceitos sociológicos de forma isolada. Cabe justificar o que está em tela,
entrelaçando idéias. Ainda, nesta visão de paradigmas, Azambuja (1994, p. 77) coloca:
maiores dos intérpretes da lei e dos seus criadores está no pensar, no solucionar. Estes
verbetes são os pseudônimos da norma a serem respeitados. A solução racional de um
litígio é a verdadeira interpretação do direito. Cabe ao operador do direito assumir a
função de observador.
A coisa julgada tida como de interpretação relativa aparece para fazer repensar
os trajetos da solução dos conflitos.
Mas onde a distinção entre regras e princípios desponta com mais nitidez, no
dizer de Alexy, é ao redor da colisão de princípios e do conflito de regras.
Comum a colisões e conflitos é que duas normas, cada qual aplicada de per si,
conduzem a resultados entre si incompatíveis, a saber, a dois juízos concretos
e contraditórios de dever-ser jurídico [...].’Um conflito entre regras somente
pode ser resolvido se uma cláusula de exceção, que remova o conflito, for
introduzida numa regra ou pelo menos se uma das regras for declarada nula
(ungültig)’. [...] Com a colisão de princípios tudo se passa de modo
inteiramente distinto, conforme adverte Alexy. A colisão ocorre, p. ex., se algo
é vedado por um princípio, mas permitido por outro, hipótese em que um dos
princípios deve recuar. Isto, porém, não significa que o princípio do qual se
abdica seja declarado nulo, nem que uma cláusula de exceção nele se
introduza.
Uma pequena noção dessa idéia pode ser visualizada com um apontamento de
direito comparado.
Em linhas mestras, se pode afirmar que qualquer decisão possa ser afastada
pela jurisdição daquele país se julgada violadora aos princípios máximos.
A sentença como premissa básica do estudo foi aos poucos assumindo outro
colorido. A influência da sentença como ato declarativo de um direito
subordinante e subordinado acompanhou os primeiros passos no surgimento de
um conceito de direito processual. No século XVIII, Montesquieu chega a
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afirmar que os juízes não são mais que os inanimados, a boca que pronuncia a
palavra da lei.
Neste mesmo rumo, outro ponto que merece total atenção é o da correção
imediata de injustos. Nascimento (2003, p. 13) exemplifica:
Logo se busca o “topo da pirâmide” das normas jurídicas para dar interpretação
à fenomenologia decorrente do trinômio Direito-Estado-Sociedade. E este topo é a
Constituição e seus princípios.
Isto se poderia explicar pela eficácia natural da sentença invocada para fazer
valer. Santos (2004, p. 48) continua:
Mais uma vez se faz necessário mencionar a importância dos princípios como
garantidores do funcionamento do ordenamento jurídico. São eles que dão força e
sustentáculo material para que as normas se acoplem em seus lugares.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Livraria do Advogado. 1994.
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