Geraldino Brasil
Recife, 2010
Copyright© by Geraldino Brasil
Revisão
Beatriz Brenner
Capa
Produção Gráfica
Edições Bagaço
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PeR – BPE 09-0229
ISBN: 978-85-373-0719-9
Impresso no Brasil – 2010
Foto: Trish Oliveira. Recife, 2010.
Título: Troncos
Técnica: Acrílico sobre tela
Artista: Creusa Maurício
agradecimentos
Um forte abraço,
Beatriz Brenner
beatrizen@hotmail.com
Apresentação............................................................................... 11
Geraldino Brasil.......................................................................... 15
Entrevistando um poeta por Creusa Maurício....................... 17
Poética . ....................................................................................... 21
O dever do poeta........................................................................ 23
A dificuldade dos versos............................................................ 24
Nada além do portão do pátio.................................................. 26
Poema da insipidez natural e da insipidez adotada............... 28
A honradez e a mansidão, o caos!............................................ 30
Aprendi nos campos ................................................................. 32
A paz............................................................................................ 33
Os peixes...................................................................................... 35
Poema do não e do poético . .................................................... 37
Nada mais lindo do que uma mulher...................................... 39
Poesia de Pessoa ........................................................................ 41
Classe média................................................................................ 42
Problema na família .................................................................. 43
Todos os dias, todas as horas.................................................... 44
Pessoa de Whitman.................................................................... 46
Vila do sertão de Pernambuco.................................................. 47
O povo......................................................................................... 49
A primeira palavra da vida........................................................ 51
Amar mais do que posso........................................................... 52
Palavra terra, palavra céu.......................................................... 53
Transfusão................................................................................... 54
O poema teima em querer o livro............................................ 55
O poema ..................................................................................... 56
O poeta........................................................................................ 58
A poesia....................................................................................... 59
Não carrego gelo ao sol.............................................................. 61
Com o poema.............................................................................. 62
Condenação do meu tempo...................................................... 63
Não contrario minha canção.................................................... 64
Posição......................................................................................... 65
Identificação com o senhor ...................................................... 66
Os amantes.................................................................................. 68
Rua................................................................................................ 69
Manhã sem José.......................................................................... 70
Outro que fui............................................................................... 71
Na sua sorte, no seu medo........................................................ 72
Natureza morta com maçã........................................................ 73
Momentos com meu pai............................................................ 76
Frutos do cesto............................................................................ 77
Navio que partes para longe...................................................... 78
O rebanho.................................................................................... 79
Céu sem nuvens.......................................................................... 81
A casa do não.............................................................................. 82
Homem da praça........................................................................ 83
Momentos do homem................................................................ 84
Luta de boxe................................................................................ 85
Por ninguém................................................................................ 86
Companheiro de calçada........................................................... 87
Poema do amor........................................................................... 88
Cabelos negros............................................................................ 89
Lâmpada acesa............................................................................ 90
As ondas mais altas.................................................................... 91
Semana do povo......................................................................... 92
Um soneto de sol para Cézanne............................................... 93
Sortimento de lembranças......................................................... 94
O copo.......................................................................................... 95
Bodas de prata............................................................................. 96
Da poesia..................................................................................... 97
Cada momento está numa bolha de ar.................................... 98
A ovelha....................................................................................... 99
Um pássaro, uma ovelha, uma flor......................................... 100
Noite estrelada.......................................................................... 101
Rosa antes da palavra rosa....................................................... 102
Definição de poesia.................................................................. 103
O riso era geral quando eu falava poesia............................... 104
O intrépido Témeraire (um quadro de Turner)................... 105
Teu amoroso sorriso................................................................. 106
O louco....................................................................................... 107
Para tranquilizar o meu garçom............................................. 108
Apoio moral.............................................................................. 109
Praça dos namorados............................................................... 110
A primeira metáfora................................................................. 112
Bar do Gracy............................................................................. 113
Amantes da ante–sala do ar.................................................... 114
Metáfora do poema.................................................................. 115
Adorável momento................................................................... 116
Sextina da alvorada.................................................................. 117
Talvez amanhã ainda................................................................ 119
Poema do amor......................................................................... 120
Morte no hospital..................................................................... 121
Implosão.................................................................................... 122
Antemanhã................................................................................ 123
Dor, ah se fosses um gato........................................................ 124
Lembrança de minha mãe....................................................... 125
Pai velho..................................................................................... 126
Casa única da estrada............................................................... 127
Ave dos bosques........................................................................ 128
Pela estrada................................................................................ 129
O sobrevivente.......................................................................... 130
Homem da terra....................................................................... 131
Manhã........................................................................................ 132
O equilíbrio do mundo............................................................ 133
Menino de pulos de lebre........................................................ 134
Recife do povo.......................................................................... 136
Pessoas e coisas......................................................................... 137
Palavra paz................................................................................. 138
Os círculos crescentes.............................................................. 139
Poema das duas naturezas....................................................... 140
Elegia.......................................................................................... 141
Liberdade................................................................................... 142
Apoio nas nuvens..................................................................... 143
O pequeno pássaro................................................................... 144
Água da fonte............................................................................ 145
Noite de 1973............................................................................ 146
No tempo do teu corpo............................................................ 147
Ouvi que devia deixar de lamúrias......................................... 148
Saudação.................................................................................... 149
Poema para os que estão chegando........................................ 150
Momento do homem............................................................... 152
Humanidade do Recife............................................................ 153
Ai, eu não poderia ser um ex-poeta....................................... 156
Caderno de imagens................................................................ 161
Antologia Poética | 11
Apresentação
Mário Hélio
Antologia Poética | 15
Geraldino Brasil
Entrevistando um poeta
por Creusa Maurício
CM – O último poema?
GB – De anteontem.:
Na Ante-sala do Ar
Eles não se conheciam e se olharam
sobraçando presentes natalinos
e possivelmente não se verão jamais.
Antologia Poética | 19
Creusa Maurício – 11/02/1974
Antologia Poética | 21
POÉTICA
O DEVER DO POETA
O dever do Poeta
para com a Poesia,
a sua alma,
os pósteros,
é tentar o poema que vá aos que virão
(nada de ondas que passaram e morreram),
A HONRADEZ E A MANSIDÃO,
O CAOS!
A PAZ
OS PEIXES
POESIA DE PESSOA
CLASSE MÉDIA
Um médico.
Ótimo na família.
Um executivo.
Ótimo.
Um arquiteto
um engenheiro
um magistrado.
Ótimo.
Um poeta.
Melhor na família dos outros.
PROBLEMA NA FAMÍLIA
A família ia bem
mas o filho mais novo.
A família ia bem,
quebra a casca do ovo.
A família ia bem,
vê a rua olha o povo.
Um problema, surgiu
um poeta na família.
(Fragmento)
PESSOA DE WHITMAN
Recife, 1989
(in Todos os Dias, todas as Horas)
Antologia Poética | 49
O POVO
O povo vive
o povo sobrevive
trágico,
cômico,
mágico,
lírico,
épico,
infinito,
povo.
Recife, 1986
(in, Bem Súbito)
Antologia Poética | 51
TRANSFUSÃO
O POEMA
O POETA
A POESIA
à mesa calada,
à luz que se apaga na janela do quarto de dormir
do amor conhecido, do abraço provisório.
COM O POEMA
Não poderia ser poeta na URRS, não faço poemas para a Ordem.
Não contrario minha canção, não contassem comigo contra
o poema.
Na URRS ou no EUA, no Paraguai ou na Suíça,
ou entre minhas tias, meu poema seria condenado, olhado
de soslaio.
Não faço poemas para a Ordem, faço poemas para a Vida.
Minhas tias se aborreceram quando fiquei ao lado do poema,
fui a favor de Severina, a que olhou para o pedreiro
da construção.
Pensou: eu posso trabalhar e amar José.
Não querem assim os que têm uma filha, que ela estude
e se apaixone por um estudante?
POSIÇÃO
Desconfio que,
morto, recusarei o céu,
antes da minha
condenação.
completa identificação,
de tal modo que ele me dissesse:
OS AMANTES
RUA
Um poeta
Um poeta não saberia inventar de novo os seus poemas.
Como foi?
Os meus, tão fáceis, não saberia mais fazê-los.
Quando os leio, parece que foram de mim outro,
outro que fui e tive aquele momento de cada um.
Se alguém os elogia, porque não os seis mais, doi-me.
Porque o homem que está tão longe que não mostra o seu rosto
se torna o homem que o observa e se sente no seu destino,
na sua tentativa, na sua sorte, no seu medo.
Um quadro de Cézanne
não é um momento da natureza;
é um momento do artista.
MATISSE
Descubro-me criador
e por um instante
vejo na criatura cor
mais excitante
e possivelmente com
melhor sabor.
(Cézanne, fora bom
oferecê-la a meu amor)
Recife, 1978 (in Cidade do Não)
76 | Geraldino Brasil
FRUTOS DO CESTO
O REBANHO
Meus vizinhos,
o Departamento de Trânsito, o Cartório Eleitoral, o Fisco,
certificaram salvo-condutos ao homem municipal.
A CASA DO NÃO
HOMEM DA PRAÇA
MOMENTOS DO HOMEM
LUTA DE BOXE
POR NINGUÉM
COMPANHEIRO DE CALÇADA
POEMA DO AMOR
CABELOS NEGROS
LÂMPADA ACESA
A Domingos Alexandre
SEMANA DO POVO
SORTIMENTO DE LEMBRANÇAS
O COPO
BODAS DE PRATA
DA POESIA
A OVELHA
UM PÁSSARO,
UMA OVELHA, UMA FLOR
NOITE ESTRELADA
DEFINIÇÃO DE POESIA
O INTRÉPIDO TÉMERAIRE
O LOUCO
PARA TRANQUILIZAR
O MEU GARÇOM
APOIO MORAL
A Raimundo Carrero
A PRIMEIRA METÁFORA
BAR DO GRACY
AMANTES DA ANTE-SALA DO AR
METÁFORA DO POEMA
ADORÁVEL MOMENTO
SEXTINA DA ALVORADA
A Rui Medeiros
Pássaro
Valsa
Rosa
Mundo
Sol
Gira
Gira,
Pássaro
sol!
Valsa,
mundo
Rosa!
Rosa,
gira,
mundo
pássaro!
Valsa,
sol!
Sol
rosa,
Valsa!
Gira,
pássaro
mundo!
118 | Geraldino Brasil
Mundo
Sol;
rosa
pássaro,
gira,
valsa!
Valsa,
mundo
gira
sol!
Rosa
Pássaro
POEMA DO AMOR
MORTE NO HOSPITAL
IMPLOSÃO
ANTEMANHÃ
PAI VELHO
A cadeira de balanço
do ancião sonolento.
Seu filho a olha e sem ele
a antevê.
PELA ESTRADA
O SOBREVIVENTE
HOMEM DA TERRA
Ovelhas, vejo-as.
Meu pai as viu. E o pai do meu pai. E o pai dele.
MANHÃ
O EQUILÍBRIO DO MUNDO
Nem sabe que fiquei pensando nele porque viu minha árvore
sem pensar
que do seu não pensar nasceu o meu pensamento.
E o meu sentimento de invejá-lo.
Eu te invejo,
passante sem o passado de minha árvore
vendo-a e já esquecido.
RECIFE DO POVO
PESSOAS E COISAS
PALAVRA PAZ
Queremos a Paz.
E no entanto quando topei com o meu frágil ombro
no ombro sofri o punho do teu duro olhar.
OS CÍRCULOS CRESCENTES
ELEGIA
LIBERDADE
O PEQUENO PÁSSARO
ÁGUA DA FONTE
NOITE DE 1973
Faço meu poema de tal modo que o possas ler aos outros
e pensem que te falo da criança do apartamento espiando para
o sol do bosque,
ou pensem que falo da corça no tempo do seu corpo.
SAUDAÇÃO
Ir para o tempo de cada menino que chega, eis uma das muitas
coisas que faço.
Ou a única, porque as demais daí resultam,
como do gesto da semente a árvore,
as folhas novas e o ar de sol.
Os meninos que estão chegando são os criadores do Terceiro
Milênio.
Eu os espero como o morador da pequena ilha,
na sua estreita praia, aguarda o homem do CONTINENTE;
Eu tenho visto na ante-sala do ar os rapazes e moças das
olimpíadas.
Eles levam a jovialidade, a mente sem nuvens, o espírito sem
opacidades,
os músculos dos exercícios as novas marcas vitoriosas – e quem
não gostaria de ser leve e transparente, para seguir com eles?
Quem não se despojaria de suas roupas de pedaços,
não quereria crescer
para o tamanho das suas túnicas de branco, sol e ar?
MOMENTO DO HOMEM
HUMANIDADE DO RECIFE
Recife. Ao Norte,
a Sé de Olinda
onde é sempre domingo.
Ao Sul, a moderna
praia de Boa Viagem
e ainda algumas jangadas
de antigamente do Pina.
Cidade internacional
vencida nos teus suicidas,
esperta nos teus estelionatários,
inocentemente alegre ainda
na casinha de bairro recebendo
um refrigerador
para o lugar da sala onde
se exibia às visitas
um liquidificador.
E a datilógrafa de Roma
Tem o mesmo sonho lindo.
Recife do Capibaribe
que a leste tem
um mar de marinheiros
que trazem desejos,
que levam adeuses.
Veja então
quanto mudei! Cresci! Já pensava que a grandeza
do coração era abrigar um só amor. Fui pequeno.
Antologia Poética | 157