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Dp 1 Anti ce Hicardo Antunes A DESERTIFICACAO NEOLIBERAL NO BRASIL (COLOR, FHC E LULA) Brasil, de Ricardo Antunes, traz fotografias ¢ fragmentos de uma dé- A desertificagito neoliberal n cada de devastagao social em nosso pais, Década iniciada com Fernando Collor de Mello, em 1990, que nos legou um brutal processa de privatizagao, um amplo leque de desregulamentagdes, um inten- so processo de reestruturacio, um vasto movimen- to de financeirizagao e um enorme e desmesurado ritmo de precarizagao social. Em sintese, como apre- senta o autor, for uma era de imformuatizagado imserider aeunea épocer de iformal 5 aventureira, foi, entretanto, com Fernando Henrique 0, essa década se iniciou com Collor de modo. Cardoso que a década do soctul-liheralismo deslanchou, ao comandar o pais por aite anos. Tratava-se, como ol dentro do mesmo ideario desenhado pelo. Consen- ry apresenta, de outra racionalidade, porém, so de Washington, Como principal conseqiiéncia da década neoliberal, o Brasil viu desmoronar qua- se toda a arquitetura construida no pertodo getu- lista. Se a vitéria de Lula cm 2002 sinalizava, em al- guma dimensio, o principiar da desmontagem da fase neoliberal, um ano € meio depuis, pode-se cons latar que os elementos de coulinuidade suplantaram em muito os tracos de desvontinuidade, abafando as possibilidades de ruprura. O Brasil ajudava a refe- rendar uma tese que tem sido freqiientemente reeditacda; as forcas que se credenciaram para de- mover © neoliberalismo, quando chegam ao poder, tornam:se prisioneiras da cngrenagem neoliberal ‘Os textos presentes em A desertificrgaio neoliberal a Brasil, de Ricardo Antunes, publicados em varios jornais ¢ revistas, no Brasil ¢ no exterior, oferecem elementos para a compreensio desse movimenta E, desse modo, colaboram para a busca de cami- nnhos para a sua superagio. A COPIA ILEGAL MATA O LIVRO NAO SETA COMPLICE DESSE GRIME ESCOLA SEM tivro NAO £ Escota, DENUNCIE BP AUTORES — e ASSOCIADOS wetabdrorg. be Itoresassociadas,com. br abdrwa hde.org.br editoraG? antoresasvociados, com. br A DESERTIFICACAO NEOLIBERAL NO BRASIL (COLLOR, FHC E LULA) EDITORA AUTGRES ASSOCIADOS LTDA. Uma editora educative a service da cultera bra Aw, Albino |. B. do Oliveira, 901 - CEP 13084-008 ‘Campinas - SP — Pabx/Fax: {19} 3289-5930 eomail; editora@autoresassociades.com or Cardloge on- linc: www.autcresassociados.com.r Conselho Editorial “Prof, Casemire dos Reis Filho” Gilberta 8, de Md. Jonnuzzi Aparecida Motte « E Garcia Direror Executive Flavia Baldy dos Reis Coordenadora Editerial Erica Bambara Assistente Edi Aline Marques Revista Cleide Salme Ferreira Really Diagramaggo © Arte-final Cringe de caps ¢ leiaute baseados em agédia, Kline, 1887 Erica Borbard) eso © Acabamento A DESERTIFICACAO NEOLIBERAL NO BRASIL (COLLOR, FHC E LULA) RICARDO ANTUNES AUTORES ail Dades Internacionais de Catalogac¢o na Publicacao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Antunes, Ricardo Addesortificagae neoliberal ro Brasii (Coller, FHC = Luls} / Riearce Ancunes ‘Campinas, SP: Autores Asociados. 2004. ISBN 85-7496-099-3 |. Brasil — Polities e governs 2, Cardoso, Fernande Henrique, 1931- 3. Melic, Fernando Collar de, 1949- 4. Silva, Luiz Inacio Lula da, 1545- I 04.3789 CDD-320 98106 indice para carilogo sistemanice: |, Brasil: Politica e governa 320,98 106 Impresso no Brasil - julho de 2004 Copyright ©: 2004 by Editora Autores Assaciadas Bepésico lege! na Biblioteca Nacional conforme Decreto nt |.825, de 20-de dezernbre de 907. enhuma parte da public. poderd ser rearoduzida ou trensmitida de qualquer mode ou por qualquer meio, soja clecrénico, mectiaica, de foracopia, de gravaggo. ou outros, sem prévia autorizacao por escrite da Editora. © Codigo Fo odetermina, no amiga 18d “Dos crimes contra a propricdade intelectual des aliratites austorl Violagh Are, 184. Yielar dirsite autoral multe, Pana - detencio da trés mates aum ano, o| produgic, por qualqucr mew, de obra ntelecwl, no todo ou or ou de quem a represente, ou m0 * Se a violacia consistir na r ent pata, para fine d= comarcio, sem autorzacéo expressa do consistir na reproducio d2 fonograma e videograma, som autorizagiu da pinutor au ce a represente Fena—reclusie de urn a quatro anos e mula." ‘Tanlos pissim este chao gue ele talvez sin dia se bumanize SUMARIO | Apresentagae PARTE | DA AVENTURA BONAPARTISTA DE COLLOR A RACIONALIDADE EXACERBADA DE FHC Collor ¢ a aventura bonapartista © duple fracasso do Projete Coller Collor ¢ a crise Brasileira As ambigiidades do Governo @ do Plano ltamar Madernidade ou produgde destrutival As desventuras de Leone! Brizola Ligdes da greve no Governa FHC FHC — 2! ate - 0 bico do tucano A plumagem ¢ 2 carne FHC, o espetho eo diluvic Acreforma da imprevidénc'a 64 ey As tragédias da Petrobrax multifuncional Qual € 0 espaco do Brasil? PARTE 2 NO LIMIAR DO SECULO xx): SOCIAL-LIBERALISMO. OU ALTERNATIVA SOCIALISTA? No limiar do séeule XX! O significado des nowas movimentos sociais Primeire de Maio: resgatar © sentido de pertencimento de classe © Primeiro de Maio e seus novos broletdrios do mundo: fim Gu recomeco? O trabalho na fonte misteriesa Os sindicatos estao na encruzilhada Entre o fetiche © a realidade As eleicdes plebiscitarias A divida externa e © plebiscite As bases sociais das mazelas e seus mitos recentes A prefeitura as dilemas do desemprogo. Desemprego: come enfrenta-[o? A “tereeira via": uma via de continuidads do neoliberalismo fa Inglaterra O sécule atormentade a Alguns desafios da alternativa social A légica destruriva na era do extremo ir acionalismo {29 134 | PARTE 2 LULA E OS [DES}CAMINHO$ DO SOCIAL-LIBERALISMO O Brasil no século XXI: a witéria de Lula ¢ os desafios da esquerda social © pérdulo ce Lule Saldria minime: dignidade do trabalho ou continuidade de arroche? Algumas razées de fundo para impedir a (contra)reforma da (im)previdéneia A vinganga inesperada da historia © flagela do desemprege no Governo Lula O tucano e o orniterrinco Atrajetéria (ea tragédia) do PT Deu no New York Timest Sobre o aurer Apresentagao Quanda Fernandy Henrique Cardoso inicivu seu governo. em 1995, deparou-se com uma greve geval dos petroleiros que abalou de o pats’. A viruléncia com que FHC enfrentou aqucle meviment: resisténcia marvou definitivamente sen governa, sua fisionomia, enfim, os interesscs que estavam dominande cm sen governa, © neoliheralismo, iniciado com Collar’, de modo aventurciro, eacen- fe que exigia uma dura dere trava com FHC uma nova racionalida rola ao movimento sindical dos wrabalhadores, visando pavimentar gs caminhes do neoliberalisme ne pais Ha poco mais de uma década, alyo similar ocurria na Inglaterra ralisme bri- de Margaret Thatcher Para consolidar 9 nefasto nex nandu Henrique Casduse fe! cleito presilerive oar 1M resleito em 1 MSD. Par- oe em segunda or 2 se cacesrouem 2002: gly Melly tos ¢ empussade cl PRN, Partide da Re eu processn di el em 195 1990, Fru seme subscituida gelo vice amar Dranea, Cojo mandate see re tanico recem-iniciado. seu gowerno vilipendiowa herdica greve dos de 198 neoliberais naquele pais, Como coube a histéria fotografar estes tristes episddios, ambos, FHC ¢ Thatcher, o princi de ferro, 0 lembrades com minein A, aprofundande o idedrio ¢ a pragmatica do Real @ adam nimigos dos trabalhadores, Co Su cessar de Thatcher, a ln a Tory Blair’, seu glaterra vivencicu a fai Now Labour ¢ a jocosa “Lerecira via”. Como sucessar de FEIC, 6 Brasil presenciow a vitéria de Lula’ Pa da da politica cconémica, contraditando os interesses do Funde ra aqueles quy csperavam pelo principiar da mudanga profun- Monetirio Iaternacional (FMD, dos organismos multilaterais, das finangas c¢ das transnacionais; pela contencao do fluxo de capitais que migram para o sistema financeiro internacional esgotande a pro- dugdo da nossa riqueza; pelo combate ao nefasin projero da Area de Livre Comércio das Américas (ALCa) (que, se implementada conselidara o dominio ecandmics, politico, cultural ¢ da proprie- dace intelectual norte-americana sobre a América Latinal cuperacao da dignidade do saldrin minim, contra a politica de ar- roche salarial; pelo combate aoe transgénicos que Lantos risegs podem trazera nossa saricle; pelo inicio da refarma agriria, impres- cindy tia f para desmontar am dotlrn: pela recuperacao da res ibliea Contre a secular privatizagao do Fstade brasileiro; entim, pele jnivie de um programa efetive de mudangas, com prazes e caminhos construides com sélida impulsio social, foi pesaroso ver que a mei a “reforma” do Governo Lula fei agendada pelo FMI, imposi- Gao que o governoucciton sem resistencia, desestruturando um se- tor importante da classe trabalhadora brasileira, composta pelos tunciondrios publicos, e que sempre foi um dos pilares de susten- * Ts é uma alasau ao Partide Conservadar ** Luiz Indcio Lula da Si res), com mandate até 206 a cxpressé a ini eleite racao do Partido d. Trabalhadores (PT), particularmente no dili- cilimo periodo da Ditadura Militar. s, 0 Governe Lula teve de derrotar cabalmente, E, ao fazer is exemplarmente, como nos episécios a e Thatcher, a aco dos trabalhadores publices, escolhides pelo go- emento causal da tragédia brasileira. Sua forga, a po- leriormente citades de FHC vero COMO Ul de seug 33 milhdes de votes, ¢ sua trajeréria respaldada énc: décadas de luta ¢ resisténcia social nfo se voltaram contra os capl- asnacionais. mas contra tais financciros, nem contra as Ca as trabalhadores de espago publi Por que tal fenémeno se etetivon? Por que, em vez do inicio fesuvrtiritd da dee ruptara com © necliberalisma, 9 Governa daula tanidade? Ag explicagaes postou-se como expressao forte de sua ver sao, por certo, complexas, mas se encentram em grande medida na contextuahdade vive: ina década de 1990, qué venho ja hi al- gum tempo dencminaada ada da desertificagde social € politica neali- beral Os cextos que compreendem este livra, escritos durante a cro- runs elementos nologia dos acontecimentos, procuram oferecer aly que permitem compor o cenaria ¢ o contexto yeracor das respos- tas. Eles reproduzem artigos publicados (sendo que alguns perma- neceram indditos) desde o inicio dos anes de 1990, artigos que Les- temunharam tanto o periado. cm que a aberragao Collar loi imposta ap nosse pais quanto a sua majcstusa ¢ fragoresa deposigao, ¢ que também relataram o curto iiterredic do vice amar Franco. Curte periody que possibilitowa vitdria do Real de FHC e de seu decor- ia p oe meio de seu govern, em jun flica cardia de Lula, em de 2004. para estumpar ¢ ofe- renle reinade, até chegarmos & vile 1002, € a0 primeiroa Eles foram mantidas conforme a ese fis eoliberal. 0, Estado rceer uma fotografia desse periode de desert Fles foram publicados nos jornats Foila de S.Pa § Paulo, Jornal de Brasil, Q Globe, O Mercantil, Jornal de Reserbas, Pl ye em revistas como [atin mente, Brasil ve Fate, o Papa w American Perspectives (EULA), L'Pucontee (Suiga), Pr Journal af Latin Amerie (Tealia}, siidies (Coréia do Sul), Carré Rouge (Franga), Tempo Exterior (Espanha), Herramienta, Cua Sure Nos Otres (Ar- gentina), dentre outras no exterior, além das rev Sindical, Cader ian dormos i stas nacionais a Maceo Esquerda, De NV P, Revista Antsy & xismo Vino, ans quais, a todos, agradecemos A sua publi¢agag, agora, foi uma pequena cxigéncia do tempo, das nossos dias. Lra preciso rememorar, buscar no passado recen- te, nas fotografia apresentadas, um pouce dos cl enous explica- tivas para a virtncia de nossa tristes mazelas soci PARTE 1 Da aventura bonapartista de Collor @ racionalidade exacerbada de FHC Collor ¢ a aventura bonapartista” Quando s¢ langa o olhar para a campanha cleitoral ¢ para este periode posterior 4 passe, pareccm evidentes 05 traces gue apre- semtam similitudes entre Collor € 6 bonapartismo. Nao, naturalmen- te, aqueles tragos que remetem a persona do primeira Bonaparte, 9 Napoledo. Este for um desdobramente de uma revolugio decisiva o Luts Bonaparte, 0 s0- Collor remete-nos ao segundo Bonapar brinho, que se celebrizou na Franga por ter side responsavel por um golpe de Estado identidade entre singula- Nao se trata, entreranto, de bus ilo pas- tidades muito distintas, como a Franca de meados do sé sado ¢ 0 Brasil dos anus de 1990, Este caminho - recurso metade- Isgico duvidoso — résultaria em algo muito pouco fértil, sendo ag go ‘o, wma dimensdo unrversalizante, presente yrotesco, Ha, entrelanco, no fenomeny social ¢ politico de bonapartisme ¢ que, par isso. faz rom que este conecita, origindric da contextualidade francesa, cm muitea transcenda, Cremos que somente neste plane ge torna pos- * i Guacta Mercantil, 4 jul 19 sivel fazer alusfio as concxées existentes entre Callor eo bonapar- tisma. Ap ao fato de que nos projetos homapartistas os interesses ver imeita dimensao intrinseca ao hon; bartismo remety-nos da ordem sao sempre prevalecentes, mesmo quando, em alguns pec- los contingenciais, os setores dominantes sao atingidos, O Plano Collor é exemplar a este respeito. Tem um téles que visa a moder- ardade do grande capital c, para alcuncar tal objetivo, implementa algumas medidas que, em sua imediatidade, c sé neste plang, fe- rem aspeclos de setores do capital. Voluaremos a este pontg mais adiante Uma segunda di nensda advém do lato de que a persona do Bonaparte carece de uma massa de manobra que permita calibrar a sua autonomia relativa ante os interesses dominantes, Na Langa dd: Luis Bonaparte, o campesinato ¢ o lumpemproletariade prestarem- se a éste papel. Aqui allora a representaciio mais difusa, mas real das “descumisados", dos “pés-cdescalgns”, este cnorme contingen- te que vivencia em sua cotidianidade condigdes das mais adversas F que eré na figura du presidente, dandy-Ihe apoio muilas vezes vandicional. F Collor usa com enurme sabedoria politica esta “re- Jagao direta com as massas”. Lembre-se aqui da fala presidencial no Parlutério, no dia da posse, quande jurou dar “a vida", se necessa- rig, para defender “os pobres’ Mas o bonapartismo nao para af. Tende a uma constante regres- sic de poder parlamentar. Neste sentido, a forma pela qual Collar encaminhou ao Congresso as medidas provisorias (muitas delas, como ja s¢ falow a exaustio, claramente anticonstitucionais) expres- sa limpidamente a dimensao anteriormente aludida. E ja h4 outros exemplas: os velos presidenciais, Depois da aprovacao da medida provisérian, 168, Collorvetou praticamente todos os acardos fei- tos pelos seus represent, s parlamentares, Nao pode haver maior despreze ao Parlamento ie a sua pura c simples desconsideragao. léneia autoeritica ¢ ditarorial foi traga comum a todas as manifestacdes bonapartistas. Veja-se, além da experiencia franee- sa, a Alemanha da era bismarckiana. Nao se pode deixar de considerar, nesta aproximagaa entre Collor eo bonapartisme, a sua dimensdo “aventureira”, Era a sada possivel de uma ordem, num guadre eleitoral em que seus repre- centantes, de Maluf a Ulysses, passando pelo ensaio da candidatu- 1a Janio, nao conseguiam decolar. Em cantrapartida, as opgHes pela como Lula e Brizola, assustavam crescentemente os de- esquerd fensores do stalus qua. Collor foi a expressaia (bem-sucedida) de um improvise necessarie da Ordem ante ns riscos presentes nu ¢ uadro eleitoral Ha, entretanto, pontos originals que conformam 9 nosso bo- napartisme recente. Eo entendimento do significado do Plano C yerno recentemente empossad ¢ com um periado de mandato que, or auxilia-nos enormemente, uma vez gue se trata de um go- obviamence, pode permitir indicagdes © nao analises conclusivas, Duas consideracécs preliminares sao imperiosas: € precise apreender o Plano em sua essencalidade, em sua dimensa globa- lizante, em seu iéles, endo sé perder na sua dimensao contingencial, fenoménica, epidérmica. O que implica captar as articulagoes re- ciprocas entre as dimensdes econdmicas ¢ politicas, presentes ne Plane. Obviedade que, uma vez desconsiderada, tem Iewado a re- sultados tristes, A fratura destes niveis ajuda a entender, por exem plo, aaproximagio tdo grande entre os economistas da ordem eos da oposiedo", clusives com a “coeréncia técnica” do Plano O seu sentido essencial, muitos jd o disseram, é dar um novo salto para a modernidade capitalista, Lim “negjuscelinismo” mes- do pos- 1964, contextualizady para os anos de para exportagdo, compe- titive ante as economias avangadis, 0 que supdc a franguia da ne clade com o idea 1990. Ee acentuar de modelo pre sa producao aos capitais monopdlicas externas. Tudo cm clara integracdo com o idedrio neoliberal. A privalizagée do Estado preenche outro requisico imprescindivel desse idedrio. Os proce- 1a dimentos para a obtencSo deste télas seguem, em dose tnica, 0 es rio do Fundo Monetiaria Internacional (FMI). 6 sencial do reccity enxugamento da liquidez, o quadro recessive decorrente, a redu cao do déficit publico, a “modernizagin” (privatista) do Estade, 0 eslimulo as cxportagées e, é claro, a pratica do arrocho salarial, s¢- cularmente utilizada em nosso pais. E um desenho ecanémico ni- tidamente neoliberal. O “intervencionismo exacerbado” presente no Plano ¢ que desagradou acs s€lores mais a dircita lembraa tlti- ma medida necessaria para uma logica de um Estado que se qu todo privatizado. E asimbiose entre a proposigae politica autoera tica ¢ a essencialidade de fundo neoliberal. © caso chilenn, entre muites outros, mastra que nie ha nenhuma incompatibilidade en- tre estes planas Neste sentide, o confisco de recursos financeiros, o aumente da carya tributéria sobre os ganhos de capital, a punigao avs abu- sos do pader ccon&mice, as crimes contra o Fstade ete. atimgem tancialidade somente na imediatidade, na contingéncia, na cire os intcresses do grande capital, pois a horizonte aberta cam o Plano “| Om dito em relagdo ao pequeno c médio capital e 8 chamaca economia Jhes € francamente lavoriv smo, cntretanto, ndo pode ser informal, Tudo isso possibilitou a oscilagao inicialmente cxistente no sig empresarial entre uma adesao total ao Plano e a tentativa de “relasi-lo”, “sem perder a sta esséncia”. Idéia que se expressou lapidarmente na frase: "o remédio esta correto, mas a dase ¢ exa- gerada’. Essa ambigdidade €, alids, a expresso dos limites da cons- ciéncia da ordem em nosso pais: cla tem seus pés muita presos ac hic eb rie ¢ ica sempre temerosa ante projetos que impliquem perdas iniciais, visando ganhos posteriores. A resisténcia da burgue- sia industrial ao varguismo, ao longa da década de 1930, € a reagiio ao Plano Cruzado, explicitada na escassez de produtos, sao alguns exemplos deste temor. As nossas classes dominantes nao gostam Aqui e agora (Noda E.} nem mesmo da tatica de empatar no primeira tempo para ganhar o 1 feriria os interesses dominantes — nenhuma referéncia a uma mu- en no segundo. E veia-se que o Plano nao taz — porque, ai sim danga radical na politica econdmica e no padrdo de acumulagao, visancle erradicagao da miséria ¢ aa fim do arroche salarial; ne- ara a Pri- nhuma alusdo & enorme sucedo de capitais, qac migram ¢ tiro Mundo; nenhuma referéncia séria a reforma agraria e nenhu- ma referencia a desprivatizagan do Estado. Estes, sim, pontos que valho, Neste interessam decisivamente aqueles que vivem de seu tra pélo, podem-se prever momentos de extrema dificuldade. Os tarcs mais organizados, que constituem a base secial do sindicalis- mo combativo, estao canalizando inicialmente suas agées na forma mais delensiva de todas as suas lutay: a preservagig do emprega, manter-se enquanlo “ser-que-vive-do-seu-trabalho”, Eo fazem por meio de um sindicalismo de confronto, uma vez que suas reivindi- caghes Lem encontrada resisléncias no interior do mundo patronal ao de fabricas, na Vord de Sao anda, sao exemplos nitidas do que estamos As recentes greves, Com ocupag Bernarde ¢ em Volta K indicando. © “sindicalismo de resultados”, este, sim, viverd seu primeira momento de crise: nao colherd resullados e vera aumen- tar o descontentamento em suas bases, Ficard entre a adesdo ao projeto neoliberal do Governo Collar e a espontancidade tensa das bases. Os segmentos mais desorganizados, que conterem base so- 49, arracho, cial a Collar, colherao as agruras oriundas de rece desemprego etc. Para concluir este artigo, que ere similitude eo bonapartismo, vale a pena apontar uma diferenga, entre muitas outras existentes. Uma diferenga bisica, elementar, mas decisiva quando s¢ trafega no mundo da politica: Luis Bonaparte vivenciou uma crise social no universo do Primeirs Mundo, aqui, o bonapar- titmo de Collor cncentrou uma situacdo social muito mais grave & nstiivel, que nde da margem a mmitas previsdes i O duplo fracasso do Projeto Collor’ Prestes a completar seu primeiro aniversario, o Governo Collor jd amarga algumas agudas perdas. O seu prajeto, expresso nos Planos Collor 1 € 2, vivenciou até @ presente uma dupla derrota Expliquemo-nos. © Projete Collor, substancia e ess caminha. Ao contrario, retrocede e desorganizi o pais. Sonha ncia das Planos | e 2, nio m1 uma nacdu que participe, come filhote erescido, do clube dos pai- ses ricos, de fotografia neoliberal, uma espécie de grande Coréia no Adlantico Sul. Dacil ac grande capital externa, aproveilanda da concerréncia intramonopdlica, vislumbra a modernizagao capi- talista sucateanda o capital estaral, destruindo o pequeny ¢ médio capital, implodindo a tecnologia nacional, substituindo-a por uma tecnologia fordinea ¢ abrinda nossa parque produtive para o capi- tal que detém esta tecnologia. E, claro, tornando ainda mais mise- raveis O enorme contingente de assalariados que vivem a brurali- zacio mais aguda de sua histéria republicana. lo, Sau Paul, i991, Tercle jo ne juenal Fel Apesur desta prop fo, o alual governa nao conta coma ple- na confianga do capital foranco, que ore tem areas de investimen- to mais estavcis ¢ avidas destes capitais. Na divisao internacional dog investimentos, nosso canto esta em baixa. Vive uma contextua- lidade muito diferente, por exemple, dos anes de 1960 c 1970 Este quadro ¢ agravade ainda mais pelas contradigacs que obs- tam este projete de desenho neoliberal para este Terceira Mundo industrializade ¢ pauperizado. O Plane Collor 1, todo: lembramos, objerivava, através da recessdo violenta, do arrocho salarial, do enmetgamento da ligeidez, da reducao do deficit publica, da priva- tizagdo do Estado, estancar o processo inflaciondrio para abrir ca- minho para um real segundo momento, mais clensivo, do Plano. F fala, portanto, quando se diz que o Plano Collor 2 ¢.a continuida de natural do plano anlerior. Nao é. O Plana Collor 2 ¢ 0 reconhe- cimento da [aléncia das medidas imediatas ¢ contingenciais do Plano Collor £. Este empobrecenu ainda mais o pais, desestimulou a par- que produtivo, achatou barbaramente os salarios, manipulou inten- samente a consciéncia dos setores populares, € a inflagdo passou dos 20%, indice hoje ja insuportivel. O Plano Collor 2 €a lentativa, um o Feito pelo plano bocado desesperada, ce arrumar o pais do estr anterior. Com o mesmo remédio, como se pode exemplificar: con- selamento de precos ¢ salarios. Ja se sabe, a exaust@o, o resultado. disto. Um “tarifago” que joga os precos do Estado ld para cima De do Tesouro Nacional (BTN) ecria um simile, que logo dira a que veio, A "tinica” novidade diz indexagde que acaba com o Banu respeito 4 unificacda das datas-base, para janeiro e julho, para os reajustes de todos os trabalhadores. Sem nenhuma consulta ao mo vimento sindical, ¢ consideranda dois momentos sintomaticos (ja- neiro é julho) é nia 1° de maio, como sempre reivindicaram os trabalhacores, o governo, com isso, ponderou pelo menas dois as- pectos. Primeiro: aprisionada a visao miope de que saldrio causa in- flagao, quer ter o controle pleno, absoluco (uma vez mais!) dos indices de aumentos salariais semestrais, como forma de “contra- 13 lar” a inflagdo. Segunda: contia na docilidade e subserviéncia da Confederagao Geral dos Trabalhadores (CGT), até ontem dirigida por Magri, eda Forca Sindical de Medeiros, que sempre atuou cama faixa de apoio ao atual governe. Estes seriam [atores intrinsecos a divisie do movimento sindical que impediriam, entao, agovy mais abrangentes do conjunty de sindicalismo Vé-se, pois, qué, & exces econdmica neoliberal combinou-se uma vez mais i pritica bonapar- tista. E, findo quase um ano de governn, é possivel visualizar, para ste perindo, um dupla fracasso: dos Planos e do Projeto que os sustenta. Este, em clara sintonia cam o grande capital na onda neo- lib Vale a pena lembrar aqui a destruicdo do parque industrial arygenti- no, jd visivel hé bons anos. Os Planos | ¢ 2, que na imediatidade ¢ al, no decola. Av contrano, estd causanda grandes ¢3tragns contingéncia expressam as medidas que, passo.a passe, viabilizariam o Proieto Collor, amargam derrotas atrés de derrotas, O primeiro plane ceve adesio acritica de parcelus expressivas da populagdo trabalhadera. E, mesmy assim, fracassou, © segunda conta com absoluto descrédito, passou quase desperecbido, tal a descrenga da populagao. L repete praticamente ¢ mesmo reccitudrio des planos anteriores, cujo final todos sabemos. Quem quiscr esperar, que espere E vale atentar, uma vez mais, para o aspecto politicy anterior- mente aludido. O desenho do Plano ¢, economicamente, neolibe- ral. A forma da sua proposigae politica ¢ mais que autocratica, Tem Desconsidera o poder parlamentar ao limite; tracus bonapartist reina acima da sociedade civil, com excessiva dose de autonomia, ainda que com um projete que benelicia, no fim da linha, os inte- resses da ordem. Mas nao abre miu deste excesso de autonemia que nem sempre agradou nossos estratos dominantes Nema épo ca do benapartismo militar do paés-14964 essa autonomia foi tao in tensificada, ainda mais por um soverno civil O Plano Collor 2 acentua esta tendéncia. E isse sem falar dos assalariados, que véem tude isso com muito mais ceticisme ¢ vivenciam um arroche sem precedentes na histéria recente. Difi- cil, portanto, de nao se visualizar no atual Plano a repetigag tra ca do episédio anterior, a expr versario de governo, do duplo fracasso dos Planos ¢ do Projeta fu, Neste quase primeira ani- Collar Collor e a crise brasileira’ © Governe Collor viveu, com base nas dentincias de Pedro ca, dramaticidade Collar”, seu momento mais agudo. Crise econdm descontentamento militar, dissensao empre- sucial, crosia politic sarial, asperas tensGes ¢ até possibilidades de fratura institucional, Ha sinais criticos em todos os poros da socicdade civil ¢ da socie- dade politica. Cam um quadro muite menos conturbado, na nossa tensa Republica, um presidente foi levado an suicidio e outro a re- mtncia, Entender os contornos essenciais ca crise envalve uma andlise complexa, da qual aqui sé € pussivel apontar algumas dimen sOes. Collar elegeu-se com base em um projeto de “modernizagao’ do pais. Em seus contornns mais gerais, essé projet contempla uma integragie subord: cada. Fundado num idedrio neoliber ada de Brasil nos marcos do mundo capitalista avan- de Terecire para um pai ulo, S80 Paulo, rm iemay dy Fersande Cu Paulu Cesar Farias Publicado ne jornal Fallne de § Pi ** Pedro Coll uerias dle ch pr de Mellin, acuse. esq rrupgao co Mundo industrializade ¢ intermediario, tal projeto opera uma bru- tal reestruturagie do pais, levando a desindustrializacao inimeros setores que se expandiram nos fillimos trinta anos da a euforia inicial que avlutinou as setores da ordem, percebe-se que a implementacio do Projeto Collor, além de bru- talmente nefasto para as classes trabalhadoras, tem tido coma con- seqtitncia a destruigao © o sucateamento de parcelas do capital industrial privado. Uma fatia do empresariado vé-se na iminéncia da extingdo, incapaz que é por razGes estruturais, de se igualar ae seu parceiro avangado. Teme, com razio, que aabertura paraa tec- nologia foranea leve a sua climinacio. Muiros setores vinculados av urande capital comecam a perceher que a aventura eleitoral trou- mente do nesso parque produtive ainda atinge, de mancira aguda, o pequeno e médio ca- xe conseqiténcias catastralicas,., O sucat pital e destrdi o capital produtivo estatal. Suas conseqtténcias sao, portanta, arrasadoras. Neste sentido, o Projecto Collor opera uma mudanea de curso em relacao ao perfodo juscclinista ¢ até mesmo ada fase ditatorial, Esta foi marcada em relagio a politica econénmi: por uma moder iZayde consereudora que, cmbora socialmente nefasta e politicamente autocritica ¢ perversa, permitiu uma enorme ex- vio ¢ um intenso salto industrial. A pansao do padrao de acumula madernizagdo contemplada no Projeto Collor acarretard a elimina de elementos nucleares deste parque industrial. Fla é essencialmen- te destrutiva em relacdo a varios segmentos da industria brasileira Tudo isso faz com que a voz de Pedro Collor acabe encontranda alguma ressanancia cm sctores do grande capiral, que nao tém sido direta ¢ imeciatamente beneficiaries do esquema Collor, Nao ¢ demasiado lembrar que a modernizagio neoliberal para vo Tereeiro Mundo penaliza de manéira muito mais brutal e nefasta o mundo do trabalho. Despossuide, dilapidade, desqualiticado, « scr social nao consegue nem mesmo viver do seu trabalho. Con- da $ que permanccem no mer- verte-se, em largas faixas, numa classe sem trabalho, que viv mis¢ria da economia informal, Aquel {8 cado de trabalho formal vivenciam niveis de subtragao salarial, d superexploracao do trabalho que tornam sua cotidianidade mareada pela escassez ¢ pela reducio crescente da satisfagdo de suas ne- cessidadcs, Qualitativamente distinta do descontentamento de se- cores do capital, a rebeldia do mundo do trabalho encontra-se, en- tretanto, moldada por uma ago ultradefensiva, que se deve tamb a incapacidade e paralisia dos seus organismos de representagio sindicais e politicas, que nda sabem por onde caminhar. © descomtentamento de setores do capital ¢, como dissemas, distinto, uma vez qué se insere dentro da ordem, Comegam a per- eeber que a aventura cleitoral, desencadeada para derretar uma o leque de Forgas candidatura na esquerda ¢ fundada em expres’ sociais ¢ politicas, levou a uma situagao inusitada ¢ cata asimultancidade ¢ intensidade com que despontou: crise econa ta, recessao intensificada, crise social brutal, corrup¢ao compulsiva, tensio militar, desequilibric ¢ instabilidade politica, com passili- lidades de fratura institucional. Em um quadro destes, o confronto na familia imperial tem conseqiiéncias imprevisfveis. Pode ter a mesmo efcito que leve para a candidatura Lula, quando as demtn- cias atingiram sua vida privada. Coma diferenca que agora a pessoa dirctamente atingida nao é a do candidato, mas a prdpria figura presidencial. E, desse modo, atinge-sc o nticleo do poder. E mais que visivel que o rearranjo ministerial, acao decisiva arquitetada por Collor para dar nove [élego ao scu gaverno, fracassou complera- mente. Paralisade com a avalanche de denuncias, tem-s¢ a sensagao de que um governo j4 pouco solido se desmancha no ar... E verdade que a politica brasileira sempre foi marcada, no universo das classes que dominam, por um intrinseco processo de conciliagde pel alla. Em que medida este componente sera preponde- rante mais uma vez, ou se Lenlard uma saida constitucianal marcada por um poueo de ousadia politica, que culminaria com o impeachment? Eis a questao! Se o olhar se volta para o nosso Parlamento, em sua timidez ¢ escassa autonomia, a tendéncia ¢ que. uma vez mais, haja um deom gamete devtra da eraem, Goma preservacio de Callor. Porém, 0 valu- me ¢adimensio das demuncias sdo lay arrasadores que abrem mar- gem para um rearranjane seio de bleve de poder, Um elemento dificultador desta saida adwém do fato de que o vice — Itamar Franco — parece Nao parlicipar do mesmo esquema de interesses que foi base de m™ Lorne dele uma arti- sustentagac a Collor. Serd possivel soldar culagao true preserve os inleresses dominantes que estao a frente deste processo? Ha, pois, mais dividas do que certezas na presente crise bra- silea. Até quando a base governista no Parlamento. sustentada pelo Partido da Frente Liberal (PFL) ¢ aliad apoio ao governo? Sera possivel encontrar, no esy conseguird car base de clro mais a di- reita, condigdes de melhor sustentagao para um governo atraves- sado por uma onda arrasadora de dentincias, ainda mais em um ano cleitoral? E as oposigdes? Conseguirio sir da paralisia que as atin- gc? Serao capazes de aglutinar um leque de foreas sociais ¢ politi- cas democriticas e de esquerda capazes de, pelo i peachutent cons- titucional, buscar saidas para a bru As ambigiiidades do Governo e do Plano Itamar” Desde sua posse o Gaverne Itamar vem caracterizando-sé por uma ambigiiidade congénita, Herdow um governo marcado por um bonapartismo politico, um neoliberalismo econdmico subordinado e uma Corrupcio compulsiva, qué penctrava todos os pores da su- ciedade politica, Herdou um acentuado process de desindustria- lizagao, uma tecessao intcnsificada ¢ uma privatizagao dilapidadora do capital produtive estatal, Herdou ainda uma crise aguda, eco- némica, social, politica e ética, caracterizada por uma simultanei- dade sem precedentes em nossa historia republicama, o que th conferiu am traga singular. io contexte do ttime perioda Collor, o Governo ye este ltamar Franco assumiu o poder, entretante, num quadro palitica que Ihe era enormemente favoravel. Amplos setores, até mesmo do espectro mais & esquerda, mostraram-se (equivocadamente) gene- rosns em relagde ao nove gaverno, @ que heou estampade no seu Ministério, que aglutinow desde o centro-dircita, por meia dc mem- * Publicada no jornal Baling eS. bros do PFE. até o centro-esquerda, chegandso ao Partido Detmo- cnitico Trabalhista (PDT) de Brizola c ao Partido dos Trabalhado res (PT) de Barelli Desde 9 inicio, entretanto, o Governo Itamar foi marcado por distinti alidade que te uma d pautado sua atuacdo como o trag wo de seu govern: sua aceitagao e assimilagan pelos interesses da jcto de mod ordem s6 seria possivel se abragasse o “+ ermizacia. da fase Collor. Itamar era, come se sabe, oriunde de uma escola politica com um passado pontilhacde por traces refarmistas e nacia- nalistas que os interesses dominantes hoje vociferam contra. Foi por it se tarnou demorada € essa disjungao que o processa de tinpeac samente fui concluide porque impulsionado, de um lado, pela pres- s40 popular c, de outro, pela aceitagao, por parte de Itamar, daque- las pressées oriundas dos setores dominantes, © politica Itamar teve de amoldar-se ao Governe Itamar. Ao aceitar ser vice de Collor, quando até Brizela o cortejava, mostrou que. as distancias nao eram tio longas Da sua posse até o plebiscite de abril — que Antonio Callado, a sua feliz ¢ sensivel tirada, nesta Folba, qualificou de plebiscite sem plebe —Itamar praticou, sobre pretexto da interinidade, aquela ambigiiidade que o caracterizou desde 9 infciv de seu governo: mente de milhdes quanto mais fala no “social”, na “miséria ¢ cle compatriotas”, conforme a pega final do discurso em que anun- cion seu plano econémica, mais implementa um projeto com tra- cos de continuidade do Projeto Collor: critica a fome ¢ concede mais de um bilhde de ddlares aos usineiros, [ala em um projcto autonoma ¢ independente, mas dd continuidade as privatizagées escandalosas, como a da Companhia Sidertiriica Nacional (CSN); chama Luiza Erundina para um ministérie fraco ¢ recruta Eliseu zenda, em vez de um imposte para Resende para o Ministério da F; 0 ¢apital financeiro, tributa o assalariado que reecbe pelos bancos Propaga um “reformisme social” para os assalariados, que se exaure no plano mcramente discursive ¢ realiza, de fate, um programa a modernizador” para os proprietarias do capit ndo se anali- saa concretude de sua politica econémica. Na sua primeira varia le, reencantra-se, no plano lico, com o seu passade, r gunda, que é a essencial, insere-se no universe eno [luxo dos interesses dominantes. E assim vai levando o seu governy O Plano ftamar— teriormente s¢ disse: propoe crescime uéa pifia consubstanciacée do que an- oda economia — como se ela fosse o antidoto cssencial contra a mistria — mas intensifica a privatizacao; fala em combate a tome através de um assistencialis- mo estatal minguadg, mas nem longinquamente tora no padrao de acumulagae que gera uma sociahilidade atravesseda pela pauperi- zacdo absoluta, Nada sobre uma reorganizagao do sistema de ducdo ¢ de consumo, para comecar a erradicar na raiz a miséria; nada sobre a implementacao de uma politica salarial que cvibisse a superexploracio daqueles assalariadas que estado empregacos; nada sobre Lranslormacécs cstruturais no mundy agrdrio; nada sobre tributi a mudanca de curse, com um minimo de ousadia, na questae da ci- vida exrerna; nada sobre a preservagde ¢ @ lortalecimente do capi- cao efetiva sobre os ganhos de capital; nada sobre u | para que um pais de Terceira tal produtivo estatal, imprescindi N parega de vez do mapa econdmico Nu dangas tecn tundo industrializade € intermediarie, como o nosso, nao desa- 2 contextualidade marcada por azudas ¢ profundas mu onfigueam agudamente a Agicas e produlivas, quer divisdo internacional do trabalho, néo se encontra nada sobre os contornos basicos de um projeto ccondmico alternative que nao aceite uma globalizagdo imposca pela légica do capital foraneo, o. Falar seriamente inteyraclora para fora ¢ desintegradora para den em transformar estrucuralmente o pais sem conlemplar em alguma reicio de retérica, civada de NAO estas questdes € puro dim sentidg manipulatério, Estas, em verdade, sig tarefas para um ou tro yoverno, com outra densidade social ¢ politica, Por isso 0 Pla- no Itamar, embora anuncie come prioridade uo enfrentamento de problemas escruturais, no fundo quer tao-somente dar consistén- cia asa wiidades do seu governs, Lentande buscar oxigénio para © periodn restante. Fala em mudar muito para, em verdade, mudar muito pours. Modernidade ou producgao destrutiva?” A recente e explosiva crise no México expoe o fracasso do modelo neoliberal, na sua versay latine-americana. A Argentina ¢ outriexpressao desta tragédia, c aqueles que pensavam que o Brasil cstava imunizado ante esta crise perceber que ela ndo sé bate é nde desigualmen- nossa porta, como atinge tantas partes deste wos do Tercei- te globalizado. Além ce desestrucurar paiscs expres ro Munde industrializady, ela atingiu o Leste Europeu, onde o su- caleamento russo ¢ expressig mais pungente, ¢ agora penetra no coragdo do Primeire Mundo Impulsionado pela légica neoliberal, o sistema produrar de jorias, ag intensificar a concorréncia entre blocos € paises merea capitalistas avang consolidou seu grande tento. gerou uma descomunal socicdade dos excluidoy, espacramada mundialmente e para icado.no jo: crise ¢a exclusio social, antes “privilégios” do Sul, caminham agora com maior intensidade ¢ fustigam os paises do Norte: O salto tecnoldgico, metar da disputa entre os paises avanga- dos, a0 visar centralmente a produgio de mercadorias e nao as cte- uyas necessidades humanas c saciais, Lem como conseqiténcia dircta a desmontagem de parques produtivos inteires, que sao incapazcs de acompanhar essa logica da competigin @ da concorréncia, A desindustrializagao de paises coma Argentina, México, Brasil, ‘a, laboratério eure- Russia ete. é nitida evidéncia disso. A Inglater peu de neoliberalismo, talvez seja.o exemple mais gritante, no uni- verso dos paises centrais. Os EUA também sentem diretamente este Robert Kurz, mesmo o Japao ca Alemanha, considcrados “vitorigsos’, ndo conseguem escapar desta processo. E, como nas lem ofinanciando, em propergécs ercado m destrutiva, uma vez que €s altissimas, suas exportagdes para 0 abusivamente as economia: da Oryanizagae para Cooperacao ¢ odial, endividando Desenvelvimento Econémico (OCDE}, que estan perdendo sua competitividade, Caréia, Cingapura. Tarwan e Heng Kong também nao podem mplos positives para o Terceiro Munde: sao. cuja industriahzagao é intei- ser Lomados camo @ em grande medida, paises pequene ramente voltada para fora e incapaz de canstituir um efelive mer- cado interno. Estado, porcanta, inteiramente sob dependéncia do Ocidente ¢ ndo se constituem em modelo para os continen- tais do Tereeiro Mundo. Isso sem falar das precarfssimas condig: de vida da sua classe trubalhadora Na Indonésia, por exemplo, mulheres trabalhadoras que fabricam ténis ganham 38 dolares ao h, empresas ame- més, por tonga jornada de trahalho. Em Banglad ricanas utilizam-se de mulheres trabalhando cerca de 60 horas por semana, na confeceae de roupas, recebendo menos de 30 délares par més (conforme fore fairs, janflew. 1994). Nem bem se apagivam as velas comemorativas do apologético tim da histdria” ¢ o centre vin a crise alingit profundamente o seu interior, depois de desestruturar o Leste Europeu ¢ o que havia de Mais posilive no lerceiro Mundo. De expecuador privilegiado da crise, osdes de Los Angeles 4 bancarrota do bance Barings festacécs de rebeldia dos assalariaslas ¢ excluides, muitas s40 omngu-se o seu cendrio principal. Das exp passando pelas intimeras ma as-cvidéncias que mastram, de urn lado, a dimensao destrutiva deste “admiravel mundo nove” ¢, de outra, a brutal descontentamento social que cle gera, E isso sem falar em Chiapas e nos desronten- lamentas deste canto do mundo: Brasil, México, Argentina, India, Russia, entre tantes outros paises industrializados que nao estia no centro do sistema, ou rom- pem agudamente com este proicte destrutive ou sentirao, de for- ma ainda mais avassaladora, os efeitos nefastos e perversos desta crise que, como ¢ sempre bom entatizar, aletaintensa e centralmen te aqueles que vivenciam sua cotidianidade ac mundo da trabalho. E, no caso do Brasil, se nie formos capazes de evitd-la, restara o consolo de presenciarmos esta crise regada a tequila e ao som nos- tiluico de um tango de Gardel As desventuras de Leonel Brizola’ Poucos politicos tiveram, na histdria recente do Brasil, presenga © controvertida. Leonel de Moura Brizola, o engenhciro politi- co, encontra afelos e desafetos em tants: cantos. Dotade de sig- nilicativa dose de sensibilidady social, Brizola teve participagio 1964. Foi um dus responsaveis pela Campanha da marcante na p) Legalidade em 1961, contra as iniciutivas golpistas que queriam impedira posse de Goulart, apds a deste perfode — em gue foi governader « endncia de Janio. Datam ainda » Rio Grande da Sul — sses populares € varias medidas ousadas que o aproximaram das cl é se chocivam com os interesses dominanies. As ¥ésperas de tends como lema a conhecido sega “cumhade nao ¢ paren- ve’, sonhava com cua candidatura a Presidéncia da Republica, na sucessin de Joao Goulart, que o golpe militar acabou por impedir Participou de combate 4 ditadura, chegando até a ter vinculos com aresixténcia armada, Os anos rebeldes foram derratados pela © Publigado no jornal Felind: S.Jinda, Sau Pan’o 22 owt. 1992, Tendéncias & bues te ~t 28 truculéncia militar. Brizola. o engenheiro politico, como tantos autros, padeceu de um longo exilio. Quande voltou, ao final da década de 1970, parecia politicamente sepulrado. O pals nao era mais o mesmo. Um nova corpo social havia sido estruturado: um lariados mé- novo opeérariado, um expressivo contingente de as ma nova sociedade jos, umL_emergente parque industrial civil havia cmergido. Brizola deu a volta por cima e, a partir da nas clvicdes para gaverna- politizado Rio de Janesro, saiu vitori dorem 1982, derrotando todas as variantes do oficialismo vigen- tes naquele estado, Recomava assim sua atuacao visando, de maneira aro sonho que nao fai possivel persistente ¢ obstinada, real anos de 1960. Combinava entio, de maneira comtraditéria, duas praticas: eco- nomicamente, era um critica dspero do modelo brasileiro, dos zado Polilicamen primciras a desmistificar o engoda do Plano Cr te, re izava as mais ésdritwulas aliancas, com vistas a clevar seu cacife eleitoral, pagando para tanto qualquer preco. Chegou até a coneiliar com o general Figueireda € cam varios segmentos das ehgarquias do Nordeste, Mas, apesar desta ambigtiidade, mantinha- se predominantemente no campo das oposigdes, priorizanda sua Idgica no combate 4 politica ccondmica. As aliangas pouco éticas # politicamente insustentavcis acabavam subordinando-se aquela diretriz mais geral. E, claro, visavam dar-lhe suporte politica para executar seu prajeto pessoal de chegar 4 Presidéncia do pais. Mui- toa mais moderado do que no pre-1964, preservava, entrelania, tragos de continuidade cm relagao a sua trajetdoria anterior. Na histéerica eleicao presidencial de 1989, viu, uma vez ma evaporar seu sonho ohstinado. Perdeu no primeiro turno para Lula, o politico metaldrgico, a conducao e lideranca do campo das opo- sicdes democraticas e populares no embate elcitoral cantra Collor. De maneira desprendida ¢ ate surpreendente apoiou Lula no segun- do turno, participande da frente popular que somente née se tor- nou vitoriosa pela delingtténcia eleitoral praticada pela ordem nas vesperas da cleicio. Brizola via na lotografia de Collor a expressia da barbarie predatéria que tante curacteriza aossas classes dumi- nantes, Anlecipou a perversidade que significaria a sua politica eco- nomica, Preservava uma vez mais, apesar de tuela, seu compromis- 30 com @ campo das oposicdes meri Foi repulsive vé-lo, até poucas semanas antes do impure como o “braga esquerda” de Collor, num cendrio ondy auxiliava na sustentacdo da farsa do Bonaparte de Maccié, aguela épaca ja to- do. Que obra de engenharia talmente exaurido, isulado e enges politica maveu o controvertide Leonel, que o fez dar prevaléncia, durante um hom perioda, aquela alianga cepiria, politicamente ecuivocada ¢ desastrosa? Que légica o conduziu, que o fez defen- sor do governe mais predatéria e dilapidador de nossa histdria re publicana, cuja politica econémica estave levande ao sucatcamenta do pais e am dentes de nossa classe t dora? abalha- Nao é crivel que a alianga se devesse somente 4 (roca de faveres: ¢ vil anterior em Lraca cle alguns nlig Gre tica anterior: quis Jegitimar-se, a qualquer prega, peranty ay cl rig muita mesquinharia e obtusidade politica abandonar sua histd- atne dé lentilhas. Leonel Brizela, em verdad, incorreu ne e ere de toda sua crajetéria poli- ag dominantes, como paladino da defesa da ordem de um governe apo- drecide e necrosado. Parecia envergonhar-se do que de positive teve seu passado politica, Desse modo o outrora “incendiarin” Brizola de jacobing metamorloseava-se num girondino. Tudo isso para ten tar, pelo pior © mais arriscady atalho, viabilizar sua ohsessam pela Presidéncia da Republica, Pela via da conciliagdo pelo alto, E conci lianda com ninguém menos que Collor. Nefasta ¢ profundamente equivocada loi a atilude politica de passado, sua “campanha da Iegalidade”, em 1992, teria dy ter coma finalidade ad do as luzes daquele geverno se anagavam Pressionade por ua ituigao de Collor desde a primeira hora ¢ nao quan 30. os lados, aderiu tardia e timidamente av impeachment, O tamanho real do desastre politico que cometcu talvez ainda seja diticil de men- surar. As rotundas derralas eleitarais que sofreu no Rio de Janei e em Porto Alegre forum, entretanto, de tal intensidade que per mitem percebér que nic sera facil a Brizola recuperar-se desta il - tima desventura que cometen. Licées da greve no Governo FHC’ Corta vez, tecendo consideragdes sobre um movimento srevie- portante, disse um autour: “o que é uma greve, senio uma pe- qutna crise ma sociedade capiralista?” Essa frase, cuja validade universal pode ser discutida e questignada, é magnifica para ilus- Uo pais por 31 dias, trara recente greve dos petralciros, que abi entre maio ¢ junho de 1995. Ista porque ela nas permite desven- dado dar tantos aspectos de um governe recém-c ao monumental ay de massa, com a relativa “aceitagdo” de parcela expressiva di cha- ito que conta io de todos ws grandes veiculos de comunicagan mada opiniao publica. A greve nacional dus petroleiros originou-se por tres oti clementas causais da cate. primeiro, a enorme dilapidagao salar goria, que vem amarganc: cho salarial, paeticular- 2 expressive arro mente desde o Governo Collor. Segundr ao cumprimento de um acerde anterior, aprovado pelo Governo Itamar, cam finalidade tos Thucentes da Un Pauly; Assnciagie jul Logs 34 claramente politicista, para garantir um transito es stavel para oO seu herdcira é, pata corraborar a farga, por este tillimo rechagado E como se, uma vez cumprido seu papel de abrir bom ¢ calme cami- ado como se fosse um bilhece nho para principe, pudesse ser r travesso de sera. Tereciro, a necussidade de comecar a s€ preparar para um ma crhanga que escreve uM palavrao para sua profes- embate que scria mais diffcil, contra a privatizagdo do monepolio jue os pelroleires tinham plena cons- estatal de petrdleo, uma ve: ciéncia da importincia da preservacia do papel piiblico ¢ estatal da Petrobras Econgmica na sua caus mais profunda, dotada de significative apgio orga sindicatos estaduais e de uma entidade nacional, a Federagio Uni- a signiticacaa Sao primeira, po! uciemal dos ca dos Petroleiras (FLIP); defensinw na sua pauta de reivindicagdes ¢ dotada de elensividade na forma assumida pelo embate grevisca, bem como pela contextualidade politica em que ela se inseriu; dotada de enorme respaldo na base assalariada petroleira, causa primeira da radicalidade ¢ longevidade assumidas pelo contronto, a greve encontrou, entrecanta, no governo do Planalto uma previa ¢ areui- telada disposigao para o pior e mais dificil dos conlrontos Fernando Henrique Cardoso contra-atacou com tal viruléncia que sc tornou possivel vincula-lo, numa das pontas, ao Conservan- tisma “nobre® ¢ truculenta da ministra da rainha da Inglaterra, @ senhora Thatcher (talvez buscando uma certa linhagem palaciana) , na guira ponta, av autocratisme ilegitime do pequene bonapar- le peruano, o Fujimori. Esta duplamente triste inspiragae fez com que o Geverno FHC "recorresse” ao Tribunal Superior do ‘Traba- lho (TST), herangi criticacda pelos “liberais” e, ag mesmo lempo, ta das mais nefastas do pior do varguismo, tao ) Citada come exem- plo de justiga a ser cumprida, quando cumpri-la camvém aos inte- resses da ordem. Ecoube ao TST dar o * espaldo juridico” para que © governo militarizasse 0 confronto € 0 convertesse ita primetro anbate ¢ para viabilizar o seu projet. Eva preciso quebrar os petro- de leiros — c, com eles, o nose ilismo — pura passar sobre o con- junto dos trabalhadores, 0 servil ¢ submisso neoliberalismo dos tré- picos. FHC usou o tribunal quand quis ¢ a desconsiderou, coma isso foi no episdudio da condenagaa de Humberto Lucena, quan necessario para garantir seu traco clientelista-pefelista. E tornau evideute, uma vez mais. a simbiose que une os “dois paderes”, um como nicleo ¢ o cutre como apéndice E verdade que os petroleiros sabiam que o Governo PHC iria tratd-los de maneira dura; mas, acreditanda na forga ¢ na golidarie- dade desta pujante categoria, ousaram cobrar de PHC um acorde asainade pele sme que o pariu. A respesta foi, entretanto, muito mais violenta A manipulacae global for monumental, nao permitindo que a populacao pudesse discernit com um minimo de isengao e de in- formagdes — que qualquer regime minimamente demacraticn deve oterecer —, era preciso impingir e inculcar, por lodos os poros da seciedade civil’, a cese do cardter antipopular da greve e, com a, abrir caminho para desmomtar a mais importante empresa leira, resultado de décadas de luta e trabalho, Come a da Rede Globo de Telewisaa esratal bra opumida piblica & a opinui que se pubic ao muis reles programa de radio, o tom era palacianamente unis- sono, Chamou-se de corporativista um movimento que deauncia- va, em verdade, o verdadeire corporalivisma, vindo da Shell, Esso, ‘Texaco etc. ¢ dos seus representantes no aparelho de Estado, ou seja, 0 corpyrativisme do capital mundializade que quer, como na Argentina de Menem, apoderar-se do petrélee brasileiro, Chamou- se de “extremada” um movimento que queria ¢ sé contentava, ao menos nesta sua primeira fase, com um simples cumprimento de deu-se vender a ima- um avordo com chancela presidencial. Pret fem verdade saliddinia ¢ combating) coma se sem de uma catego’ fosse uma “massa de privilegiades”, “dependentes ¢ parias do Ds- tado", omitindo-se a grande imprensa de dizer, salvo honrosas cx- cegdes, que o saldrio inicial de wm petroleire ¢ algo cm torno de ad 600 reais... c que a Petrobras € uma empresa modelo, cientitica ¢ tecnologicamente falanda, ajesar da conslante sweateamenia gus o seu ca- ar pel ado. Em suma, tratou-sé de amma campanha adienta, que fez o “cordato” FHC (quando se tra- ta de ouvir o Antonio Carlos Magulhaes - ACM —, o Roberto Marinho, o PFL, o Partida Progressista Reformador — PPR —, os grandes capitais, os grandes proprietarios de Lerras ete.) tyrnar- : co sofre deste Estado todo feria se mais duro que Figueiredo, o general da ditadura, quando em 1980 quebrou a memor dos 41 dias, realizada pelos tra- rél gre’ » dado para o balhadorcs metalirgicos do ABC Paulista, Mais u polpudo curriculum extra-académice de FHC: foi mais ripido e mai inflexivel que o gencral de Serviga Nacional de Informagdcs (SND ne trate de uma greve de trabalhadores Mas hii, ainda, muitas outras lige: a serem extraidas desta gre- roo sindica- ve_ © projeto neoliberal erigiu com seu maior ini lismo combativo ¢ reivindicative. Sua expectaciva ¢ instaurar, mun- dialmente, o que chamei em outra texto de sindicalisine de enveleimento # voojla . proprig do modelo toyetista, o charnado “sindicalismo de empresa”, aquele que pensa, labora ¢ age exclustramente para o capital. Qu se escolheria esta alternativa, ou entéo restaria imple- mentar a modelo (anu) sindical inglés, que quer destruir o sindi- calismo imputando-lhe “lega forma de obstaculizar dé fata o sindicalismo autOnoma, Para pre- nente” multas manumentais, como servar a Lodo custo a propriedade prirada do capital, destroi-se a propricdade social do trabalho, tendo a farsesea € mais que corrup- ta Forga Sindical como ariete. E tem mais: ¢ caminho contratualista, de tipo socialdemocraticn, ora mais negocial, urs mais “canilitivo”, mesmo nas suas variantes mais moderadas, também esta em des- sintonia com a ordem de capital neoliberal dos nossas clias ¢ tem sido por ele duramente reprimida. ©) que imaginar, enti, de um apitalista ¢ soc conlemporaneo deve merecer uma upro- sindicalismo classista, combative, an ista? Este contexto sir fundada e densa discussig por parte do sindicalismo combative oo Brasil, que nos tiltimos anos, através de alyumas de suas principais ista ce na wia parcelas, acreditou em demasia nu caminhe purinipacion das negociagdes, c imaginou que com FHC estas possibilidades cstariam incly ampliadas. Fnquanto uma parcela do sindicalis- siv mo da Central Unica dos Trabalhadores (CUT) quis negaciacao e foi maderada cm demasia, FHC respondeu com confrontagao dura € militarizada. Atuou inspirade em ainguém menos que a dame de ferro THIC nao conseyuit ( nem conseguird) quebrar 9 nesses me- lhar sindicalismo. Mas o alertou para os novos embates: a CU! precisa preparar-se melhor, capacitar-se mais, resgatar o que de melhor apresentau nos anos de 1980, quande lutava contra a dita sta, dura, para enfrentar os embates mais diliceis ¢ cutis da era nels manipulatéria. destrutiva ¢ servil do necliberalismo eomaio é punhe de A greve dos petreleiras, dos 31 dias, ¢ 1995, mostrou cocvao, solidariedade, furca ¢ combatividade. Poi {parcialmente) derrotada neste primeira embate, Mas sabera exerair todas as ligGes dessa histérica greve. E ubriu uma fenda na atual estrutura de poder vigeate no pais. Desnudou o werdadeira sigai- ficady do Governn FHC. Mostrou um governa que ascendeu fa- lande em socialdemocracia ¢ vem implementando, sem o aventu- reirismo de Collar, mas x gesas, 9 mesmo projeto nealiberal do Fernanda day Alagoas. FHC ym “competéncia” ¢ “racionalidade” bur- Propugnava moderagao ¢ vociferou autocratisme ¢ tirania, prega- va equanimidade ¢ mostrou-sé muitu servil para os proprietdrics do tidores do seu capital ¢ bastante truculento para os que sido po trabalho. Defendia o democratismo civil e curvou-se desde loge & tutela militar, inte aqui novamenté muito além de Collar, que sé ameacou colucar tanques nas refinarias FHC fol incapaz de negociur, sem recorrer ao poder muito mais ilitares, a pretexto de preservar que simbélico des tangues € dos n um patrimdénio que seu yroverno esta dilapidande. Usou de uma he- ranga arcaica, que diz respeito ao poder normative da justica do bra balho (em verdade, do capital) ¢ desconsiderou um acorda formal- mente licito, feito entre as partes ¢ ¢nvolvendo a prépria Presidén- " réncid mas, na realidade, tem cia da Repttblica. Parecia coneiiador na ab. se mostrado truculente wa esstncia. Décil ¢ cordato para os interesses da ordem e bravio ¢ mesmo selvagem para os que vivem do Lraha- Iho. Mas foi ineatoz de impedir que uma pequena crise fosse instalada em seu projeto de dominagio e que o significada mais profunda de seu govern [osse desvendade por amplos continyentes que antes viam em FHC aluma positividade. ©) que nos faz concluir lembrando novamente as gregos: Tiresias o sibio ancido, ao conslalar as metamorfoscs operadas pelos que valgam o poder ¢ nele se chafurdam, dissc, referindo-se a impru- déncia dos governantes: "...0¢ tiranos adoram os proveilos, por mais vergonhosos que seiam” (Séfocles, Antigone}. Que triste ligdo, para o Planalto, da histdrica greve dos petralciros FHC — 2° ato - 0 bico do tucano’ JAlomoctamse de pequeios fruts, ¢ uae suo hay aly guetras ees. Sag sociais, ive! bequenas bay 0 Dice Vitoriasa, ainda que em medida e dimensio muito aquem da- quela que cra espcrada e divulgada pela midia da ordem, o Gover- no FHC prepara-se para o seu segunde ato. Que tivemos no pri- meire periodo? Quais faram suas principais realizagdes? FHC inicieu, cm 1994, simultaneamente ao processe de esta- hilizagay monctaria, um receituario provramitico que reve como conseqiéncia mais nelasla o inicio da desmontagem do pardue pro- dutive no pais. Programa Cellor, climinado seu trace aventure: re ¢ bonapartista, foireimplementade pelo outro Fernando, com a racionalidade burguesa de um pais cuja burguesia foi sempre desti- tuida de qualquer sentide progressista, © resultado foi um monu- mental processo de privauizagao, desindustrializagdo, “integragio” servil e subordinada @ ordem mundiali convertendo-nos em pais do cassino financeira internacional. O Mexico, que até fing de 5 val 1993 era “exemplo de modernidade” dos capitai Eels © SCTES ti, Sho Pale, tina, ante 2, rh. 1, fe yuk 1998. ¢ também 6 201 sac jue ros, Bueno Aire 37 3H bancos mundiais, viu sua dignidade comegar a ser resgatada no ini- cio de 1994, com acclosia do movimento zapatista. Coube, cntao, ao Brasil de FHC, para nao falar na Argentina de Menem ou no Peru de Fujimori, mostrar sua docilidade e subservitneia, Um pais imenso, dotada de expressiva base real, similar (quan- Coréia, do nao em condigdes de superianidade) & India, Reiss entre tantos quires, tornava-s¢ ainda mais um quintal colossal da ciranda financeira mundial. Apés a desmontagem de tudo ou qua- se tudo que fui criado desde o varguismo, por meio da agac de rodutive décadas de trabalho operario sob comanda do capital 7 estatal — uma vez que nosso capital prrvado sempre viveu a rebo- que do Estado -, cra chegada a hora de entregar tudo funcionan- uesias nativa € fora do, estruturado e rentaycl ds be nea. Claro que em alguns casos foi necessarig realizar um “servicn” anterior de desorganizagaa destes setores, para depois justificar sua privatiza- Gio a prego avillade, Mas isso fai sé no cumece, Depais que o relo compressor fernando-henriquista, sob a batuta real de / tae nhou dinamica, ai a velacidade aumentou. Privatizar, ou talvez dar mais vida as privadas, era o que importava, E foi o que ocorreu com ay empresas de energia elétrica, as telccomunicagics, ay estradas a previdéncia, a Vale do Rio Doce, anteriormente a CSN, enfim, com tude que fora criado sem {e muitds vezes contra! «i participagio do cr pital pripada E quanto mais se desestruturava ¢ s¢ fragilizava internamente o pais, mais ele se tornava dependente do casting finaneeiro inter- nacional, FHC foi servil para os de fora e teuculenta para os de baixo aqui de dettro, para lembrar expressia de Flore semprego em escala explosiva, que s@ em Sao Paulo chesga a qua- scan Fernandes. [de- se 20% da sua torea de trabalho, precarizagao cos direitos (a bastante restritos) do trabalho num pais que sempre cuidou bem do scu capital, desmontagem da previeléncia dos assalariados etc Deslanchava, entig, o processe de desregulamentagao do traba- a, a reengenbaria, a Iho, cocrente com a flexibilizagao produti reduction, este idedrig © esta pragmatica cue quanto mais benefi- Cia os capitals, mais destrdi ou preeariza os homens @ as mulheres que vivem do trabalho Mas os quatro primeiras anos se passaram. Period que, para a insuspeita revista inglesa The eonnueist, ¢ comparavel a Era Thatcher. », PHC realizou em quatro anos para 9 Aqui, ainda segundo a publica quas¢ © mesmo que a dame de ferro levou doze para fazer. tucanato, preslar um servico desta envergadura bem que merecia inde objetiaa do capital com a uma recompensa: Somou-se a reves naidade subjetioa do tucanato. Torjou-se, entao, um leque d mecands pela extrema direita malufiana, pela condugao firme de ACM (afinal, no Governo FHC o péndulo sempre fi je Forgas da ordem, deste lado}, chegando ate os mereadares dos a nvidia monopelica yletal, em sua hont of ual da Brasil, mostrando a importincia de preservar as aves @ outros aros nas Ihas Molucas, onde habitaa espécie dos molucanos., pa Tudo muito paliticamente vorrelo se 9 pals real ndo estivesse se atulanda ite al, Da nossa.crise pouce ou nada na crise global «1 no, sem dis- se falava, Fra precise primeira venc no primeire t cuur ¢ debater, Depois, agir. Agora s¢ inicia o segundo ato: subordinacao arregacada aca FML. o Provisdria sabre Mo aumento dos impastos (a Contribu: yimen- Valores ¢ de Crédito e Dircitos de Natu- do ou Transmissio ¢ reza F nceira— CPMF -, provisoriamente criada para suprir as de- ficiéneias da satide, deve ser aumentada pois também os bancas mais precarizagiia do tra- ficam doentes...). Teremons mais rece: losive, mais desindustrializagio, mais balho, mais desemprega ex] destruicaa dos direites soc que eles quase nunca num pais © stica formula da flexib realmente existiram. A cufem! zacao da jor- nada de trabalho, a acintosa “demissdo temporaria”, a perseguida privatizigio da previdéncia combinunds « modelo menemista da Argentina com tempcro pinochetiang do Chile, tudo issa é mos- tra do que a Governa FHC quer impor, © tucanate, com o hbico 40 cada vez mais colleride, quer continua veando prussianamenle sobre o desmonte econdmico e social de pais. Mas nao se esqueca o tucanace que ainda Lemos 9 Mowimento dos Trabalhadores Rur: Sem Terra (MST), o mais importante ma- vimento social ¢ politica do pals, ainda temos sindicatos de esquer- da, ainda Lemos partides de esquerda (e esquerda nos partidas) di ainda que necessitemos de wma esquerda de esquerda, como lembrou re- centemente Rourdieu, no Le M Nao estamos ciranda Marx ow ainda a Rifondazione Comunista na [talia, mag um iminente si Ainda temos lutas sociaig nas cidades, ainda temos manilestacécs de re loge progressista frances, professor do Colégia de Franga beldia, ainda temos desconfianca sacial, algumas claramente estam- padas nos mapas desta recente eleicdo. Nao se esquega 9 tucanato que o segundo ate esta 6 comecando: a praporgda ¢ as conseqtién- cias da crise sao de dificil tangibilidade, alé mesmo imprevisiveis. Mas a rachacura em nosso canyon social € tao profunda due € grande ilusdo achar que o tucanato real podera fazer vans rasantes nesta enorme fenda social sem correr 0 riseo de espatilar o seu bico. E, sem ele, o tucano vira um passaro qualquer, até mesmo pareci- do com o corvo. Para nde falar no urubu A plumagem e a carne’ Q Governo FHC tem sido exemplar em exercitar sua dupla lace: a primeira, da manutengite de uma politica ccondmica destru- tiva, em conformidade com o que interessa aos capitais globais. A segunda, a de resgatar, com plumagem nova, seu solene trago re- pressivo, Talvez seja a dupla face corgérea dos Cardoso: a quy se- iéncia aos di- gue a orientacay do proprio Fernanda, o da subse tames financeiros globais do capital-dinheiro, escudado na apurada sensibilidade de Malan, e aquela sob a batula do outro Cardaso, 9 Alberto”, que s¢ preocupa cada vez mais com a manuteneao da or- dem repressiva ou, de acorda com a verve tucana, comas tarelas ditas de “inteligéncia”. Dupla faceta. com significado univoca O primeiro trago ¢ aquele que destaca o participante dos (deslencontros da terecira via, em que se é capaz de detectar epidermicamente uma parcela de nossos problemas (por exemplo, a exclusdo, a pobreza, a d. a), Mas ao mesmo tempo se I por sua intensificagaa. Faz- plementa uma pragm: fe, S80 Paulo, | sna pela seguranga # intehyénets * Publicada no ine ** © gencral Alberto Card de Governo FHC o resp dt 4 fica-se no receituaria, Ao se referir i su a fragil diagnose ¢ intens june: recente reuniao de Berlim, escreveu FHC, nesta Polbe (1° a de 2000, p. A3 preciso tornar educagau ¢ satide acussiveis a todos; ¢ preciso ga “L.] é precis ridade aas sastos socials; ¢ dar pri rantir uma distribuicdo mais justa da renda ¢ ap mesmo tempo es- timular teabalho [...]"°. A plumagen & que afirma que € preciso combater a pobreza, » salario minima cs- tabelecido entre nds ¢ de RS151,00, aquém ducquele praticado no Paraguai. Propugna auconomia c fortalecimento dos paises “em de- 4, Mas ao mesmo tempo em senvolvimento”, ¢ implementa um monumental processe de priva- tizacaa, de desindustrializagaa, de desmonte nacional e de inteyra- cin servil c subordinada a ordem mundializada, PHC diz, ainda ne econ. contexto da festanga tropical de Hannover, que a “a mica lem limite”, ¢ sua pragmatica é responsavel por uma ilimita- da degradagao da sade publica, desmesurada quebra dos direitos previdenciarios, enorme desmonte do ensino superior, além da bru tal penalizacdo salarial dos professores € dos funcigndrios publicos Fala em “desafoge no plano social” ¢ aqui deslancha 9 processo de desregulamentagao dy trabalho, cocrente com a Hexibilizagaa pro- iza dutiva, a reesgenburit, récvitudrio que beneficia os capitais e preval os direitos sociais dos homens c das mulheres que vivein do traba- lho, intensificande ainda mais a precarizagao social, Pala em desen- volver a pesquisa cientifica ¢ colora a universidade piblica em rut nas. Propde o refortalecimento e a qualificagaa de Estado e tercei de Estado. za atividedes, envercdandy par um toyotism: Mas ba também o outre lado do Governo FAC que esta em destaque: o que resgata a viruléncia ¢ a truculéncia contra os mo- vimentos sociais, contra os que lutam por preservar ou conquistar um minima de dignidade humana. Seria interessante um estuda comparative do que hi de continuidade ¢ de descontinuidade en- lre a concepeao “atrasada’ de seguranga militar da época da dlita- dura, com a dcfesa “moderna” da repressao do tucanato. Poder-se-ia comecar tracande as similitudes entre as lembran- gas de como a ditadura militar com gua Tei de Seguranca Nacional (LSN} tratau o enti B lista, entre [978 ¢ 1980, © compard-las com a “modernizagao" da au y yigoroso movimento grevista do ABC LSN ¢ a satanizacau cm curs pela “inteligéncia’ do poder ante a mbranda d muar! eacdo ditatorial perante puianca do MST. E co oressurgimento do movimeata cstudantil em meados dos anos de 1970 e compara-la com a agdo repressiva dos governos tucanos cm relagao ans professores ¢ aos funcionines publicos Ou ainda solicitagio de abrandamento/exclusdo do noticidrie das TVs cordar a censtra explicita dos anos de 1960 € a“ su- quando di brutal repressio aos indies, aos negros, aos trabialhade- rus Turais, aps estudantes, ans que resistiram ¢ recompuseram 6 real significade dos 500 anas de demi oe de exclusao, na ocasiiia da comemoragao elitista ¢ curacéntrica de 23 de Abril Seria enor- acrescentar que nos Anos de Chumbe foi desencadeada a Operagio Condor x, agora, nos anos do tucanaro, me a lista, bastando aq FHC: nao hesitou em respaldar Fujimori, a pequena e igndébil bo- naparte peruano. Em nosso pais ha varios exemplos de descontinuidades que coftrastam com as fases dominance: de autocracia ou conciliag: Estamos presenciands o afloramento de um destes momentos de rebeldia, das lutas e aga balho e das vitimas desse sistema destrutiva ¢ excludente. A ordem § gue emergem das forgas seciais do tra cia e viruléacia, tentan- responde, uma vez mais, allernando arre do nao perder a plumagem. Mas, por detras dela, a dupla tace do Governo FHC se mantém ou, como diriam os latinos, & suapiter tu mode, fortiter irre”, Q que contere viva atualidade a escrita voraz ¢ critica de Herman Melville, om © rigarista, quando antecipou o sig- nificada politico do tucanato, ao indagar: “E de que especie de bom camarada o senhor é membro? Dos Brasis, nao é7 Um tucano: bela plumagem © carne ruim” rave ro muda, forte na gia 43 44 FHC, 0 espelho e o diltivio” Em seus primeiros ¢ longinquos momentos de eldéria, o tuca- nate palaciane, wo mesmo tempo em qué sé olhava no espelho (talvez imaginade estar em Versailles ou, em um momento de rar: singelo da familia Tudor), sonhava controlar o Brasil por um perioda de modeéstia, no Hampron Court, o palacio um pouco ma 20 anos. Encantados ¢ deslumbrades com o poder, nao se conten taram, no primeire mandato de FHC, em fincar a: anduimes da desmontagem do pais, eufemisticamente chamada de “moderni- acho”, através de privatizagan, da “integracae” subordinads 4 ordem, da destruigée do que fot criado desde o varguismo, como as empresas de siderurgia, encrgia elétrica, telecomunicagées, a previdéncia ete. Isso sem falar no destrocamento social que se acentua crescentemente, na desregulamentagao e na precarizacdo do trabalho, no desemprege explosive, conferinda-nos a titule de quarte pais em desemprego absoluto mundial, como nus mastrou recentemente a Folba * Tendincias & Pubheada no jarnal Poll Dretaress Mas o Lucanato palaciano queria muilo mais. Queria duas dé- cadas, pois tal (desjeonstrugao nao poderia durar pouco. Prestar um servico desta monta ans capitais bem que merecia um periado (quase) asscmelhado ao dos absalutistas. Em menos de onze me- ses da posse, entretanto, comegou o dildvio... FHC! amarga indi- ces de rejeigao que deixam Sarney ¢ até Collor lisonjeados Encontra-se descontrolado e mesmo descompensado: ora elogia o Congressa, ora o desqualitica, para em seguida desculpar-se, Dis- cursa ¢ reclama, mas acaba quase sempre sob a batuta de ACM A crise desestabilizou de tal ordem o tucanato, que cle esta mais recolhido € menos arrayante em sua cantoria e, em alguns casos, em franca debandada. Alguns até jf mudam de galho, mi- erando para o Partido Popular Socialisra (PPS) que, como se sabe, repuciou o que havia de melhor e ficou com ¢ pior do oportunis- ileire (PCIB). Os tucangs cm migracao nao querem herdar 6 espdlio eleitoral de moe maneirismo do velho Partido Comumista Br FHC. que hoje parece capaz de sepultar qualquer sonhe cleitoral E, nesse novo quadro, a que se vé; ACM, este mestre da do- parda’, se utiliza do arcaico para em- minagao politica que, coma lea hrulhar o "novo", tenta sensibilizar coraches ¢ mentes sem rumo. Depois de décadas de co-responsabilidade pela miséria mais bru tal ¢ degradante vigente no Nordeste brasileiro, ACM quer se con- verter no paladin da antipobreza. E cAmico, se nao fosse tragico! Mas nao ¢ s6 isso. Ouvimos sensibilizados, comovides mesma, o FMI dizer, nas tillimas semanas, que é preciso climinar a pobre- preocupante’. As novas “hordas de Za, que comega ase tornar perigosas”, que sc expandem crescenLemen- te pelo munda, agora sensibilizam o PML. Em breve poderemas ver clas miseraveis” principe de Lampedisa, nasceu em 1898, de uma rica ¢ poderosa familia da istocracia italiana, e faleceu em 1957 46 Malan dizendo gue talvez ndo scia o caso de esperar tanto tempo af, 56 Deus sabe. o bolo crescer, pois ax massas podem fiear iradas Até Delfim esta espantado, pois levaram longe demais seu receitua- rio do crescimento do bolo para uma comilanca somente entre us “de cima’ © pais da Fra FHC ¢ hoje um pais socialmente devastado Desindustrializade. submisto ao sistema financeiro internacional, paraiso produlivo das transnacionais que freqientemente se apo- deram dos recursos ptiblicos dos estados, com a excegaa corajosa c louvavel do Rio Grande do Sul de Olivio Dutra. Um pais cuios rra civil despoli- indices de criminalidade nos inserem em uma g tizada, conduzida pela criminalidade ¢ pelo narcotrélico, num sub solo social adocicado pelo coro das [grejas Universais de um uni- verso desencontrado e socialmente destracado Para pagar a conta de uma politica econdmica ¢ social sub: yiente, cam suas dividas interna c externa explosivas, FHC e Co- Como eles yas esconiuram € exorcizam os funcionarios publices. corajosamente se recusam c resistem a mais esta hrutalizacao & como a Justiga, num momento de dignidade, mostrou ha pouce lempo a inconstitucionalidade do saque aos seus direitos -, vem al mais penalizacdo ¢ mais vilipéndio contra os assalariados em geral para pagar a contac 6 rombo de uma politica econdmica servil € subs ienle aos capitais, especialmente ao financeira, scguida a risea por FHC. Veja-se a nova invescida da (contra)retorma da (im) previdéncia de Waldeck Orndlas (ministra da Previdéncia Social) €a politica cconémica de verdadeira lioflizacia sual do ascctice Pedro Sampaio Malan (ministro da Fazenda), para citar as mais du- ras exemplos de uma longa lista PHC continua impl¢mentando uma praymaltica profundamen- ve destrutiva, cuja “racionalidade” econdmica tem como resulta Le uma irracionulicdade social completa, pela qual o “enxugamento” das empresas acaba gerando uma descomunal irracionalidade do ardenamento social, pela qual afloram o desempreyo estrutural € a precarizagdo sem limites dos trabalhadores. F fazem isto também dentro do Rstado, dentre do espaga tuiblicg, come se sua gica fosse ado hut ¢ a do just ii time de um supermercade, Mudox muito, entretantu, » quadro politico co pais, ¢ esta su binds a temperatura social, nesta época de intempéries as mais cs- (ranhas. Aqueles que sao os mais vilipendiades comegam também uu descon a sairas ruas € expressar 5 entamento. Vale lembrar que © premeiro alo contra Collor teve pequena nitmera de participan- tes, O primeiro ato das oposigdes em Brasilia contra FHC ¢ a M1 chegou perto da casa dos 100-mil, As acées do MST, lutando péla dhamidade humana e pela busca de uma vida dotada de aleum sen lide, seguem-se em tuntas partes do pats. As recentes greves dus trabalhadores metaliirgicos contra as demissdes ¢ por saldriog na- cionalmente equanimes saa também mostras de que © espelho do tucanato pilaciano comegou a trincar, Ou melhor, a estilhacar, pois para FLIC 9 dilvio parece ter chegado antes... 48 A reforma da imprevidéncia™ A sociedade contemporines, particularmente nas ultimas duas décadas, presencion fortes transformacgdes. O neoliberalismoa ea reestruturagao produtiva da cra do Loyotismo ¢ da cra da acumu- lacdo flexivel, dotadas de forte carater destrutivo, tém acarretado, entre tantos aspectos nefastos, um monumental desemprego que atinge a humanidade que trabalha em escala globalizada, Do Japgo aos Estados Unidos, da Inglaterra a Fspanha, do Brasil a Argenti- na, quanto mais se avanga na compelilividade e na “integragia mundial", mais explosivas tornam- is taxas de exclusdo e desem- prego Num quadre desta gravidade, 0 sindicalismo esta alurdido: a5 acordas que agudizam as formas de precarizacao do trabalho, como Metalirgt su para os trabalhadores ¢ cs acaba de fazer o Sindicato d os de Sao Paulo ea Por- ga Sindical, 12m um sentido perve tao. em verdadc, totalmente sintonizados com o idedria do cap: . Esta acarretandy, em parceria com a bederagdo das [ndttseras Lal = Tne de Estado de Sao Paulo (Fiese}, uma desmontagem brutal dos di- reitos do trabalho, num pais socialmente perverso hd séculos. Mas ndical €a central da era neo- nao € surpresa, porque @ Forga S liberal, E a neva direita do movimenta sindical Mas o estrago atingin em ch reoidencid, como aval decisive de Vicentinho ¢ da articula- a CUT. Ao participar da refer- gan sindical, entre tantas derrotas @ perdas cle direitos anveriqrimen- te conquistados a duras penas pelos trabalhadores, a CUT cami- nha totalmente na contramay das reivindicagdes do mundo do trabalho que, em escala mundial, luta pela reducdo da jornada c do. tempo de trabalho. Convertidos em novos parceires da cupitdl, os sin- dicates tém obtido resultados nada animadores. QJuanto mais par- ticipam, menos tém conseguido preservar trabalho. CQuanto mais se imaginam codeserhardo processo produtiva, mais a “classe-que- e-do-trabalho” se penaliza com os seus pifios resultados. Inicia ram com as cdmaras sctoriais, come significative exemple. Conce- bidas como modelo para estruturar a parque produtive ca politica econémica do pais, depois de varios ensaios, as camaras sctoriais nao passam hoje de fecaa. Desovados os patios das mantadoras produtividade”, é arrasador o desemprego reinseridas no “mundo da no ABC Paulista Mas o exemplo da ref gesta sutil do Governo FHC, Vicentinhe toi o instrumento que so, entiar-Ihes imprevidaicia ainda mais grave. Nam taltava para desmobilizar os trabalhadres ¢, com goela abaixo um conjunto de perdas enormes. A substicuigao do de trabalhe pelo lempo de contribuigao é, por certo, a seu ponto mais nefasto. Os aposentados gozarao a previdéncia quando a Jus- velmen- tica do Trahalho no Brasil Ihes der ganho de causa. Prov te, embaixo da terra. Isso sem Ielar na exclusao, pura e simples, de mais de 20 milhGes que estio no chamado trabalho precario, sem carleira de trabalho assinada e sem direitos. A estes, nfo resta nada! E basta olhar o cenario mundial para perceber que a precarizacao do trabalho € uma tendéncia explosiva. Hoje, entre 35 e 70% da 49 30 populagao inglesa, francesa, alema é norte-americana encontra-se desempregada ou desenvolvendo trabalhas precarios (conforme A Gorz, Le Monde Diplomatique, n. 22, 1990) Por isso, o que os trabalhadores esperavam da CLIT eva gue ela sé contrapuscss¢ it esla reforma que, entre tantus pontos negacivas, prolonga o tempo de trabalho, acarretando maior desemprego. E isso feito por um governo qué se diz preocupada com o desempre go. Alias, o mesmo governo que adora dizer que nao é neoliberal mas implementa restauragdes que siv neoliberais. Como Felipe Gonziles, Menem, Fujimori ¢ 0 ontem tao admirado Salinas, que agora cain em descrédira. A CUT deveria, primeiro, mobilizar os trabalhadores, como fizeram os sindicatos franceses, mostrar a sua forca, ¢ nao desmobiliza-los, deixanda-os sem saber 0 que fazer. E agora nao adianta criticar a Forga Sindical, porque, na cabega dos trabalhadores, as coisas cstao muito parecidas Numa contextualidade critica desta envergadura, todos aque- les que se contrapdem a ldgica destvutiva do sistema produtor de mercadorias devem buscar alternativas que contraditem fortemen te estas tendéncias hoje dominantes, em vez de fazer core com as interesses da ordem, que estao cm simtonia com o neoliberalisma E é neste contexto que a reducio da jornada ou do tempo de trabalho merece ser discutida A primeira consideraca diz respeita ao fate de que a redu trabalho tem side cfio da jornada didria (ou do tempo semanal) dt uma das mais importantes reivindicagees da munda do trabalho uma vez que se Constitui num mecanismo de Contrapasigio A ex- nese com a Revo- tragdo de sobretrabalho pelo capital, na sua ¢ lugic Industrial, e, hoje, de modo aparentemente mais sefisticado com a acumulacae flexivel da era do toyotismo ¢ da era informa- cional. A redugaa da jarnada/tempo de trabalho ¢ a “precandigia” para uma vida emancipada, Co: num mecanismo imprescindivel para ventar Uitui-se, Contemporancamente, inizur o desemp fo estrutural Mas aqui entramos num outre ponta crucial: a vida cheia de tido denire do tra- di sentido font do trabalha supde uma vida com se balho. Nao € pe Com dempo oerdaderramente [i iehizado « este alibilizar trabalho { fvel com re Lukdes c \dorno jé nos ensinaram que sob o reina da manipulagao do consumo, o “tempo livre” se tarna ambém poluide pela logica coisificada do capital. Como o capital globalizado dos nossos dias abrange, como nunca, também as esteras da vida fora de irabalhe, a desfetichizacao da dade do consumo tem como corolario indispensavel a desfeiichrzagiia soci no modo de producde das coisas. () que Lorna a sua conquista muito mais telite a acao pelo tenna livre diticil. se nao se inter-reluciona decisiva com aluta contra a légica destrutiva do capital, acaba-se ou fazendo ma reivindicagae de funda romantica, visto que se acredila que seja passivel obté-la pela via do comsenso e da in com a ordem, sem ferir os imteress: da capital; ou, o que é ainda muito pior, Porque, ao se apregoar a impossibilidade de lutar contemporanea- mente pelo fim de capitalismo, restaria somente a angio de civilize jo, de realizar a utopia do prvenchimento, ce conquistar consexsualmente o “cempo livre”, em plena era de toyetisme, da acumulaga flexivel, das desregulamentagdes, das terceiizacées, do trabalho precario ntagem de welfare stale e parcial, de desemprege estrucural, da des de culta do mercado, enfim, da (des}sociabilizagia radical des nos- sos dias Desse modo, a luta pela reducdo da jornada ou tempo de tra- balho deve estar na centro das agdes de munde do trabalho hoie, come forma de diftcultar a brutal exclusdo decorrente do desem- prego tecnoldgico. Reduzir a jornada ai o tempa de trabalho para due pralifere ainda mais a sociedade dual, o mundo day ovclufidos, lairte no ceire como enn pines COME @ Nessa. O direito an trabalho é, entretanto, uma reivindicacao ainda alba assalarindoe fetichizade, mas por- necessari nd porque se cailt que estar fora do trabalho significa, para grande parte da humani- dade, uma brutalizacao ainda maior do que arjuelas até entia viven- ciadas pela “classe-que-vive-do-trahalha”. Nesta desordem mundial globalizada, ao desempreyo € sindnimn de pobreza e indigéncia social Porém, esta luta pelo direito ao trabalho em tempo reduzido pela ampliagdo do tempo livre, sem reducdo de salirio — que é muni diferente de flexibilizar a jornada segundo a légica do capital —, deve estar intimamente arliculada a luta contra o sistema produtor de mercadorias, que converte o “tempo livre” em tempo de co-triabalha, no qual o individuo se cxaure, ora sé capacitands, nos infernals cursos de qualificacdo, para melhor “competi” no mercado de trabalho, ora num consumo estranhado, coisificado & felicbizud inteiramente desprovido de sentido. sho.coml rdri seo fundumento da acdo celetina for voltado radicalmente con- lutea imedis cadartas, inaas formas de (des)sociabilizayao do munde jel recugi tev aitioel de do fara com @ direilo ao trabaibo sentids no traklbe tarna-se fundamento para a sida cheia des do trabalho. Duas batalhas obrigatérias no mundo contemporine: As tragédias da Petrobrax multifuncional’ Ainda nao temos uma avaliagdo séria, independente e conclu- siva da trayédia da Plataforma P-36, na Bacia de Campos, que re- sultou cm desaparecimento (e morte} de trabalhadores, Aquela que, poucos meses atras, queria mudar scu logatipo para se tornar mais negacios é das marcas, Len- “moderna” no mundo competitive 4 exportacdo, solreu enorme reves, a Petrobrax, vers tando criar nao sé no plano material, com prejuizos vultosos, mas sebretuda perdas humanas irreparaveis. E, ficou evidente, novas tragédias podem ocorrer. noder- A Petrobrax foi vitima, uma vez mais, da falacia da sua 3¢ nao bastassem as toneladas de petroleo que vém sen nizaga do despejadas nas aguas, em seus sucessivos acidentes contra o meio ambiente, agora esse ultima episddio teve triste propergao vital Desculdo técnico na man heagaéo acentuada do trabalho, resultada do chamado processo de tenga dos equipamentos ¢ intenst- ade, que se tornou a pragmatica terceirizacéo © multifuncion * Inédita. F: itu emt marge ce 2001 54 netasta das empresas ditas “modernas”. E é nesse bindmio que tem bascada a logica gerencial ¢ privalista da Petrobras. eS. Purlo, de 18 de marco de 2001 (p ALS), trouxe um ade por um parente de uma das vitimas dinico. [...] Era am es ¢, Mum momento de depoimento elucidative, sna P-36 surdo. Eles s40 submetidos a multiplas fun feu irmao era me das explos acidente, eylao cansadas e sem o prepara adequado Nao sdo bom- heiras A multifuncionalidade das atividades das empresay tem sua origem num processo ne qual, para sc utilizar ao maximo o traba- lho vive necessirio para a produgdo, em que varios trabalhadores realizavam uma fiica tareta, agora mewos trabalhadores devem exe- sal chama de cutar maltinlas tarefas. Aquilo que o dicionario empresa “nove trabalho polivalente © multifuncignal” €. com muita irequéen- cia, o exercicio de uma intensificagay desmesurada do trabalho Cada vez mais os trabalhadores sao individualizados, responsabili- sados, vivendo o esiressumente cresceate de trabalho, Se nao traba- lham, nao recebem, s¢ trabalham, devem submeter-se a tudo. Trata-se, pois, da implementacdo dacquile que muitus jd chama- yam de iaiagemen! by stress, isto €, da administragao em ritmo exte- ‘lied tha~ nuante de trabalho, intensificado nos scus tempos, responsa des c envulvimentos. E, se og trabalhadores se recusam, nesta sovie- i risce de terceirizagaa etc. dade chamuda de riseo, saa lembrados do risco de desemprego, do E preciso enfatizar cue a multifuncionalidadc, a terceirizagao, tude isso vém constituindo-se coma instrumental basice pelo qual as novas modalidades produtivas estao senda intraduzidas na in- ditstria ¢ nos servigns em geral, e em particular ao rame do petrd- a, da fe len, em nome do chamado “tayotisma”, da empresa production, Menos direitos saciais, menor qualificagao real, meneres cuidados nas condicoes dc trabalho e, em contrapartida, meneres cusros, maior producividade, mais rentabilidade, mais terceirizagay, L exalamente por isso que as recentes estatisticas de aciden tes de trabalho sinalizam na diregao de um signilicative aumento dos acidentes nas atividades terceirizadas e regidas pelas modali- dades crescentes do trabalho informal. E csse processa vem acen- tuando-se enarmemente dentre da recstruturagio produtiva do capital e em particwar no sector petroquimice, O setor de manuren- sao, por exempla, tem sido uma das dreas mais atingidas pela ter- celrizagdo no rama pelraquimicn. Vale aqui o alerca presente no Gra Druck" sobre o competente estuda da socidloya Ma complexo petrogquimice de Cama ‘das emp ava servicus de man corretiva. Em geral, craa propria. empresa fornece- dora que see ade realizar a manus de cquipamen toy, Atualmente (daclos de meaddos de 90) $2% recorrem 4 Lercei~ rizagao desta atividady, veouvend cayus em que @ empresa id terceirizou completamente teda a manucencao E salienta que “a atividade de man Jo ¢ estrategica em in- diistrias de processe cominuo. Esse avango do processo de t ei- rizugag pode comprometer a qualidade ¢ aseguranga do trabalho’ Nao paderiam ter sida evitadas as {lantas) Lragédias da Petrobrax, das destruicGes ambientais & morte de trabalhadores? Nao sera o momento de impedir este netaste proceso de terceirs- 1 do trabalho como da atio, precarizacio € desmo agem, tan Petrobras, contra a lsgica eo seu jocase logatipo Petrobras? of LTUFZa, 1999. Qual é o espaco do Brasil?” Qual ¢ 0 espago do Brasil na neva divisas internacional do tra halho e do capital, comandada pela fade, sob a hacuta das EUA? Para José Luts Fiori, o Brasil estd wo spac, servil, sul descontrolado. Mas nao esta sem rumo, pois a isse & tern wa em Cur so € resultado de uma escolha politica. Nas palavras da autor: [Jima entrada do news milgnin 9 Brasil ngo ¢ uma aave s ruma, Peld contririo, segue uma rota cada vez aiais transparente Sua tiltima meta —a condigao de donivium— parece inalcansavel, ¢ sew problema central € que a riqueva privada se multi caaq mes nig tempo em que se iam as oporlunidades socisis do pave c da nacio brasileira” Eacrescenta que essa opeie “nie é um rumo in Lavel, impos- stint de $Panle, S50 Paulo, 14 abr. 2001. Jornal de Rese- sspeiga, Rio ale Jancire, to pelas ‘leis fisieas’ do universe em expansion da economia politi- caplobal”, Ela ¢ o resultado de uma opgic politica baseada no idedrie ¢ na pragmatica hoje dominan: seguideres em tltima ins- im sintetizar: tancia daquilo que Margaret Thatcher costumava 3 “There #s vo alternatives’ © Brasil noespage & um libelo corajnso e ousado contra essa lor- ma resignada de olhar o mundo haje e suas alternativas univocas. Dando continuidade ao seu livro anterior, Os moedeirus falsos””, Fiori da concretude a uma politica que se moda e se conforma — para néo dizer que segue com convicgae — uo chamado Consenso de Washington. Contra a maré dominante no espaco das letras acadé- micas, scu objective ¢0 de “perturbar os irites € contribuir para a recepydo de novas idcias..” (p. 9) Contra 9 economicismo (presente na ortodoxia liberal e tam- bém em certas variantes do marxismo vulgar, em que tude se resu me as leis térreas da “ecanomia’) ¢ Lambém contra o politicisme: (que reduz o entendimento du politica ao universe estrite do ins- ctucional), Fiori faz um ¢fetive exercicio critico de economia po- litica, buscando suas complexas relagdes coma “anatomia da socie- dade civil ‘Tudo isso da aesse livro um sabor especial: 6 ousado, m hotas conjunturais ¢ indicagdes icas de “longa duracdo”, her- deiro que ¢ das sutilezas de Braudel e Polanyi e dos achados ma- as, Fieri Marx. Leitor voraz da literatura dos nessos gistrais de navega com autonomia ¢ vitalidade nese universa. Na critica di eco it politica do Brasil, espage atualmente bastante reduzido ¢ limi- tado aalguns nucleos (dado o avange jocose dos Chicago boys e seus professores-banqueire tus ensains talvez encontrem um simile nos textos instigantes de Francisco de Oliveira. que também faz, } politica come poucos entre nds, critica da coonemia [ 2 ha outra alter 1 Rin de Janetre Os temas de Fiori, presentes em Brasil ra espace, sao diverse m global. o papel do Fsta- crise econdmica, a chamada nova or de, a denominada “nova cconomia”, o sentide estruturante © cen- inas de seus textos, artigos jornalisnices tral da trabalho etc. Nas pas e entrevistus que compdem o livro, as pistas ¢ indicagées gabun- dantes. O cixo lematico, presente na maioria dos artigos, ¢ dado pel do sistema do capital, na [ase da sua financeirizacia, Crises recor- a busca dos elementos constitutives da crise estrutural global rentes. com epicentros varias, ora asiaticu, ora lacino-americano, OTa TUSSO, Ora NOrle-americang, mas que encontram sua origem nO fendmenn da sobrevalorizacia patrimomal gue vem sc acumulan- do nesses mercados intercomulticades, movidlus, numa panta, pela instabilidaue clo “sistema de cambio Nexivel’ ¢, na vuira, pelos rivalives ¢ bedyes que se acumutam a partir da necessidade ¢ curitivar” as operagies privadas, dada a inslabilidade desse mes- mo sislema [p.86] Numa realidade marcada pela desregulamentagao das linangas globais, desde o fim do padrao-dalar, ay crises saa mutantes quan- to 4 dimensao espacial, mas recorrentes no que concerme a seus elementos causais. O que permite a Fiori dizer que essas crises wie- ram para ficar © para repetir-se de forma ainda mais frequeate, porque ssencial da dinamica da glo jd se transformaram em componence habzacaa financeira, que ver senda sindnimo de uma quase com pleta “dolarizacio” da economia mundial, uma vez que cerca de 80% dos contratos no mundo dos negdcins glahais hoje siv designadns em aldlar |p. 871 Eareiterag3o do sistema imperial norte-americano. A relacdo entre cssu impérioe as outras partes da triade, dadas pela Alemanha # pelo Japao, ¢ particidarmente desenvolvida no ensaia “Ligdes que vem da Asia”, que consta de livro que estamos analisando, Recu- sandy sempre a vatiante economicisia, Fior: conclui o ensaio it dus alertando para e@ dltime dog paradaxos do século XX: v pri sHopias das madernos (a fistocracia!) esta alvangando a sen momento tatalitdeve ica da capital levou, ac fim e ao caho, s do mercado a realizacdo das regras natural Ha um ourro eixo que perpassa todo o livro, que ¢ dado pela forma} ailer Como essa crise estrutural afetae atinge a America [ cia, hoje, a mais recente crise argentina. Fiori mostra, em carne e tina. Aqui ele se Lorna extremamente atual quando se presen- osso, come a politica do Consenso de Washington a pragmalica nente os povos da América Latina: “Nos tempos de globalizagao, s4 cabe ans paises neoliberal vém devastando economica e soci: periféricos — ¢ $6 aos mais bem-sucedidos — ‘consumir’ de manei- ra parcial o progresso da ‘Lerceira revolugao teenaldgica’” (p. 126) endo espago de atuacaa de capital financeiro internacional, resta pura a América Latina implementur as “reformas”, allerands. sua geografia ccondémica, que cstd senda “redesenhada, fazendy surgir aos poucos um nove mapa, onde algumas areas isoladas aparecem Cercadas por enormes uonas caracterizadas por estag naydo ccondmica ¢ desintegragio social”, E acrescenta: ha, de fate, se prope adeixar ntina, México e Bra: a condigie de "mercados emergentes', estimulade: propos: tas nerte-americanas do Narra e da AvcaA. A nova utopia das elites liberais ¢ internacionalizantes [..} passou a ser a de uma integra- nia norte-america. gio mais rita ¢ direta coma propria ce na, como forma de garantir insergao mais var yia5a NO NOVO regi- me Ue acumulacau, que assewure » luxe conseante de capitais indispensdveis a smstentachioe de sua politica ccondmica interna 60 Enquante a média de crescimento na América Latina foi de 5.5%, nas décadas de 1960, 1970 ¢ 1980, “para o decénio liberal deve ticar em menos de 3%" (pp. 126-127). Talvez pudéssemos acrescentar que se trala de uma fitegracia desiniegradera A recente crise argentina mostrou, wma vez mais, o servilismo eo desastre dessa politica, Seus movimentos sociais € politicos, resultantes das forgas socials do mundo do trabalho ¢ dos desem- pregadys, entretanto, tém dade respostas cada vez miis contun- dentes, Em toda Quanto trata do Brasil, a pena de Fiori é ainda mais afiada América Latina, diga-se de passagem. E pa com a maior ahjetiwidade possivel o de so que sempenho do Coverne Cardosn, nfo hd coma nae concluir que se (rata do gowerno mais antinacional da nossa historia republlicana do mais antipopular da nossa histdria pas-Revolugig de 30. Mais da que o governo Dutra [p. 17] Para quem sonha ¢ se espelha em Juscelino Kubitschek, con- venhamos, nao se trata de uma boa perf E «quanto aa Partido da Social Democracia Brasileira (PSD), partide de FHC), arremata: “O partido nasceu, como se sabe, da unigo de um grupo de politicos saidos do PMDE [Partido do Mo vimento Democratien Brasileiro) com um pequeno grupo de tec- nocraras ¢ professores. O que chamaa atengao hoje é a rapidez com f Hoje, dois grupos mantém o PSTB: og que foi perdendo forca e a forma como foi s¢ decomponde eo-soclais’ ¢ os “profes- sores-banqueiros”. Os primeiros “dedicam-se a claborar métodos cada vez mais rigorasas de entrega de sanduiches para miscraveis efamintos cm cstado puro, perfeitamente individualizados e regis- trados nos anudrios da Banco Mundial, ou ocupam seu tempo cs- crevendo planos estratégicus, programas eleitorais, rizorosamen- Le irrelevantes ¢ intite? E acrescenta. mais neste guverna saa oF Os qac mandam de fato ¢ cada prnfcssores-banqueirus, © ludlos os sinaie externos sto de gue o presidente devota desprevn incelectual crescente pelos seus ami- maior em rela- gos “neo-sociaa” wgatra subserviéncia cada vi gan aos “neobangueiros”, E com ri porque sio eles que cone lam ¢ sustentam seu governo nas codes diy invest e das buracracias maleilarerais respons: sls perileria capitalista [p. 20] Parece suficiente para provecar o leitor critico a ler este Livro: ago da in tem receio de procurar o ¢: de um autor insubmisse, que Broil nesta era de desuspacializagac ¢ perda de sentido das coisas FE de encontra-lo. at PARTE 2 No limiar do século XXI: social-liberalismo ou alternative Socialista? No limiar do século XXI" Adécada de 1990 comegou sob o signe apoloxctice do bistéria. A estonteante derrocada do Leste Eurapeu, quando capta- da de maneira epidérmica, parecia corroborar o vaticinio. Afinal, o século que se iniciou cam as transformacdes de 1917 presenciou, nas impossihilidades e detor ces que se sucederam, o desenla- cede 1989, com o fim de toda uma empreitaca de milhdes de indi - viduos. As vazes da ordem, enlao, apateceram com mais ousadia Entoavam a vitéria da sociebilidade do dinheire ¢ do mercado, Tudo global ¢ mundializado, Até a lgreja Universal de Reino de Deus 5 expandiu pelo mundo, de Nova lorque a Moscou. De maneira ain- da mais intensa do que em meadaos do século XIX, depois das re- valucdes sociais de i 48, a ordem ¢ sua edlesra: em plena altima década do século XX, pareciam ter encontrado a eternidade. Mui- tos embarcaram nessa correnteza. Nao esperaram nem mesmo que a década transcorresse. FE, com ela, aluuimas surpresas... A mais importance delas, pela intensidade e abrangéncia, [oi a ampliagdo € generalizacdo da erie para o coracdo do capital. O Hiniaceriemsioctcnaniredinantiae: deportitimeladuratingdows Tees ceiro Mundo e destrufda o Leste Europeu. Quanto mais visualiza- mos o avango da competitividade e da produtividade capicalistas, mais Lransparece o seu cardter destrutiva. Eduardo Galeano brin- dou-nes, em 24 de dezembrn, nesta pagina de © Fetady de § com uma contundente demincia da “ecologia” predatéria do capi- s EWA para arecessdo, dadaa baixa produtividade do fordismo, amarga, com tal. Estamos vendo que u Japao, depois de empurrar ¢ arelativa recuperagan dos ELA, um estancamento de razaavcis proporgoes. Quante mais o seu modelo Loyotista se expande para fora, mais fraturada se mostra por dentro Alemanha do Ociden- oriasamente” scu laclo oriental, nde te, depois de incorporar “v sabe o que fazer com ele. A Inglaterra desindustrializou-se a tal ponte que hoje r de, depois de transitar do social-liberalismo de Mitterrand para o o é mais levada a sério. La Langa esti fervilhan- neoliberalismo anti-social de Chirac. E sem falar nos fundamenta- | fazem cstragos nos EULA, Fri ¢ que, sempre pela direita, intensilicam suas agdes no Japan. inca ¢ Israel, entre ranuns outros can- tos do mundo, lensionam a ordem existente, quase sempre guia- das pur idcdrios prota ou neonazistas ss surpresas nao pararam per ai, Na Russia, depois de ter sida escorracado do poder, o Partido Comunista (PC) volta vilariose nas recentes eleigdes da Duma (Parlamento). Eo herdi de Gdansk (Poldnia), o Walesa. depois de passear de carruagem com a nobre- za britanica, mostrando que soube adquirir habitos lings, fei der- rotade por um ex-ministro do antigo governa do PC. Os nealiberais comegam, cntao, a se perguntar o que nio esté dando certo nessa restauragac, Mas houve mais novidades nessa década. Logo no inicia, os negros excluidos de Ios Angeles rebelaram-se contra instituicoes ventes ou delensoras do racismo. E, duran- P. que sempre foram cont te alguns dias, deixaram Los Angeles sem comtrole. Pouca tempo depois, em plena inauguracgaa do Acordo de Livee Comercio da ARVAY, explode a Rebelido de Chiapas (Md- América do Norte ¢ xico), Sintese de quatro expressivos vimentos, presentes na re neia irremovivel dos campo- ligena, na pers: sisténcia secular ora da esquerda catélica ¢ na ¢experiéncia de pas dis- odos mercados e d meses, na agde co ex-estudantes © militantes maraistas, os rebeldes de C seram doa esse modcle nefasto de globulizag: ‘oga na lata do lixo capitais, que avilta o trabalhador do Mexico e 8, até mesic o direito ao em sas conquistas do traty 30. Lo mexicana Um longo esquecimento por parte do Estade carn naquela regiag possibilicou ags zapatistes ¢xpenmentar praticas ra- dicalmente demacraticas de poder popular plebiscitario. Chiapas embora allore num Estado pobre, indigena c | sue entia, diretamente com todos os trabalhadores mexicanos lizude, di loga, LE, para mostrar que os questianamencos deste final de séculd XX ndo se restringem a América, os (rabalhadores e estudantes tran- ceses acaham de mostrar como se deve responder ao receituaria local onde os neoliberal. Lembraram-nos da antiga Place de Gree. trabalhadores parisienses sem trabalho se reuniem, no século XIX, para fazer suas reivindicagdes. Nao accitam o fim da res publica Tam- bém os trabalhadores alemies, depois de décadas de concuistas socialdemocraticas, dizem nao, com gréeves, a desmontagem dao welfare stale, E as agdes sociais ampliam-se por (oda a Europa. Isso sem Jalar das tensdes na Coréia e nos demais paises asidticos. Os defensores do fin da bisteria comegam a sentir algum desconforte No inicio da década, puderam prever c abalho olha paraiso do mercado. Hoje hemens ¢ mulheres que vivem do para esse cenario e rebelam-sc. No limiar do sécula XXT 68 O significado dos novos movimentos sociais’ Qs nowos movimentos sociais urbanos que emergiram mente na ultima semana, coma “visita” de dezenas de trabalhado- res sem-teto aum shopping cenler, seguide de uma “visita” das traha- Thadores sem-trabalho a um supermercada do Rio de Janeiro, dentre tantos significados ¢ conseqiiéncias, fizeram aflorar, com tranqiii- lidade, forea ¢ organizacde, o sentide de desperdicio, superfluida- de ¢ brutal iniqitidade social que caracteriza a sociedade atual, onde aquilo que muitos Lém em abundancia, que chega a ser repulsiva, wutras, que se contam tos milhdes, nao podem sequer ler acessa visual. $6 mesmo no imaginario, Nesta monumental sociedade dos precarizados ¢ dos excluidos, 9 que os noves movimicntas socials urbanos cstampam é alyo cor que devemos comegar a nos acostumar: a sociedade do consumo destrutivo e supértlio, ao mesmo tempo em que cria necessidades to impossibilita que amphas miltiplus de consumo fetichizadae, de comtingentes de trabalhaderes, os verdadeiros produlores da rique- icial, dela participem sequer come apéndice, nem mesmo come Zils * Publicads ned dur, Campinas, té age 2000 membros das sobras de consumo. Como disse limpidamente um participante do Movimento dos Sem-Teto do Rie de Janeiro: “se demns se- seme nds quem Construimos Gs sboppings, por que nde quer visita-los? Aqui, de mode direto, foi po ta a questio da lagica que pre- side asocicdade utual. quem a constrdi scquer participa nem mces- mo de parte de seus resultados. E, mais ainda, wna parcela cres- a, hoje, sequer encontra cente e explosiva da populagao trabalhade tabalho. E, sem trabalho, torna-se um sem-teto, sem-lerra, sem- consumo, um sem-nada, Qu melhor, quase-nada, pois o que esses 15 Movimeatos sociais urbanus, em relomada explosiva em tan nov 3 partes do mundo, estao a nes mostrar é que eles vieram para ficar, vieram para mostrar a socicdade sua superfluidade, injusti- ga, desigualdacte e iniqitidade. E para reconquistar seu sentido de humanidade ¢ de dignidade Nesta sociedade involueral, geradora do descartavel e do su- re pérfluo, nesta era da sociedade do « amerta, da qual a shapjsing center, este verdadciro templo de consumo do capital, ¢ exemplar, os homens e mulheres sem-trabalho, os despassuidos do campo v das cidades, os assalariados cm geral, sao cnlio convertidos na que agrafia social inglesa chamou de “cla A mesma sociedade que despeja toneladas de descartaveis no lixo, que a histori sts perignsa: torna “supérfluas” suas mercadorias, torna “supérflua” a forcga hu mana de trabalho e, se pudesse, a isolaria do mundo social O que estamos acabanda de presenciar, nessas acs recentes, Gapenas o comeco de uma década tensa, que estamos ainda inician- do. E que tem similitudes com a explosic de Seattle, nos Estados Unidos, camilais curopéias, com a om as manitestagoes do 1" de Maio de 2000, em Lantas agoes do Movimento dos ‘Irabalhaderes Ravais Sem Terra (MST). no Brasil, dentre tantos ourros exemplos qué o mundo, hoje, nos vem oferecendo, em escala global, pelo res gate da dignidade e¢ do sentido de humanidade social daqueles que dependem de seu proprio trabalho para viver. Primeiro de Maio: resgatar o sentido de pertencimento de classe" Acabamos de comemorar mais um 1° de Maio, data histérica para os trabalhadores na luta por seus direitos © conquistas. Quan- do em 1886 a6 “Martires de Chicago” foram condenados 4 morte € 4 prisdo perpeétua, cstavam lutando pela reducao da jornada de trabalho e davam passes sigmificatives na busca da coesao e¢ solida- riedade de classe. A partir de cntdo, o 1° de Maio tornou-se um marco na luta dos trabalhadores. Hoje, mais de um sécule depois, uan- o mundo do trabalho vivencia uma situacao ainda mais dificil, tos sa0 os impasses e desafios presentes na saciedade conlempo- ranea. Mais do que nunca, o sentido de pertencimento de classe coloca-se como fundamental para todos aqueles que vivem do tra- halho. Quais sao, entaa, alguns desses mais agudos desatias? Inicia afirmando que, nos ultimos vinte anos, O MOVIMENLO operanio presenciou a situagao mais critica de toda a sua histch sna Inglaterra. Crise que se de- a desde o nascimento das trade wnic veu, fundamentalmente, a um conjunto de mctamorfoses que ate- Inédito. Escrito em mais de 2001 taram witaneamente tanto a stia materialidade quante a sua ¢sfera mais propriamente subjetiva, Da reestruturagdo produtiva a crise dos organismes de representagio dus trabalhadores, como os sin- dicatas, todas essas dimensd¢s foram de alguma mancira afetadas, igy so os clementos constitutives dessa crise, dos quais podemos sinteticamente destacar a abrupta desmontagem, o des- moronamento do Leste Europeu e dos paises que tentaram uma transigao pds-capilalista. Fese episadig permitiu que se desenvel- vesse, no interior de importantes parcelas do mundo do trabalho e de mavimento operiria, a [alsa idéia do “fim de socialismo”, Eli- minada a pessibilidade dy conguista do secialismy, dizem, restaria para a esquerda somente a busca de um caminhe “civilizado” den- ica foi assimilada por am- = contingentes da esquerda como a unica alrernativa possivel iemocr tro do capitalismo. A via social pl para resislir ao neoliberalismo ¢ a ordem do capital. F, alé agora, a esqquerda anticapitalista néo tem conseguido mostrar que um nova caminhy sneialista é& em verdade, a tinica possibilidade, no limiar do sécule XXI, de operar uma ruptura com a ldgica destrutiva do sistema produtor de mercadorias. Embora a longo prazo as conse- tivas, guéncias do desmoronamento do Leste Europeu sejam p pois se coloca a possibilidade da retomada, em bases inteiramente dé um projeto socialista de nove ipa, no plana mais con- nicial ¢ imediato houve, em significativas parcelas da classe tra- balhadora, a assimilacio da manipulada c equiveca tese do “fim do sacialismo” Portanto, paralelamente ao desmoronamento da esquerda tra- partidos comunistas (PCs) da era (neo} st dicional, vinculada ao linista, deu-se um agudo processe de socialdemoecratizagio da es- querda € a sua conseqiienle aluagdo subordinada a ordem do capital Esta acemedagie soctaldemocratica penetrou no interior da “classe-que- vive do-trabalho”. E, coma crise do welfire state, durante a avalanche fasta do projeto neoliber interior da prépria socialdcmocracia, que passou a atuar de manci- ne |, deu-se um processed de regressdo no ra muito proxima da agenda neoliberal. De Mitterrand a Felipe Gonzales, para néo falar na versao tropical, FHC Ha, entretanto, um ponto que me parece central, quando se procura entender as metamorfoses no interior do mundo de traba- tho: nas tiltimas décadas, como respostas do capitul a crise de acumulacado irrompida @ partir de 1973, incensificaram-se as lrans- formagoes no prdéprio processo produtive, por meio do avango tecnoldgico, da constituigae das formas de acumulacdo Hexivel ¢ dos modelos alrernativos av bindinip taylorismo/fordisma, no qual se destacam, para o capital, o modelo de descancentracaa produ. liva do norte da Italia, as experi¢ncias da Califérnia, do ja truncade modclo succa €, especialmente, da petencialidade e dimensao expansionista du modelo japonés denaminado toyotisme. Muitas foram as transformagdes ocorridas no interior dos pai- ses capitalistas avangadas, com forles repercussdes nos paises do Tereeiro Mundo industrializados ¢ intermediarios, como Brasil, Pocemos sinteticamente tipico do for- México, Argentina, entre tantos outros destacar a diminuigae do operariado manual, falril, dismo; a expansao das intimeras formas de subproletarizagdo do trabalho, decarrentes da expansao do trabalhy Lemporario, “terecirizado” ete, Honve também um aumento expres- ecdria, parcial sivo do trabalho feminine no interior da classe trabalhadera; deu- se uma enorme expansag dos assalariacos médios, especialmente no setor de servigos, e presencia-se a exclusdo dos jovens rece formadas nos paises capitalistas centrais ¢ a sua incluso precoce no mercado de trabalha nos paises subardinados. A classe traba- Ihadora fr Ao contrario, entretanto, daqueles que alardearam a tese do micitte ificon- rogenetzauese € cern) ‘fim do proletariado”, o maior desafio da classe trabalhadora ¢ do movimento operario, bem come dos seus organismos representa tivas, nesta viragem clo s¢culo XX para o XXL. é soldar os lagos de classe existentes entre os diversos segmentos que compoem o mundo do trabalho, procurando articular desde aqueles segmentos que exercem um papel central no processa de criacdo de valores, & sabre as quais o capital joga uma monstruosa carga idealagica e manipulatoria, como nos evidencia o toyatismo, alé aqueles seg- Mentos que estao mais na franja do processo produtive, mas que, pela precariedade das condigdes de trabalho, sao patencialmen pélos de contraposigan an capital ¢ suas formas brutalmente exclu- dentes de sociabilidade Desse modu, o sistema produror de mercadorias, vigente em quase todas as partes do mundo, mostra seu enorme caréter des- mas, a propria forga de Lrutivo: sua Logica climina, entre tantas c trabalho. O brutal desemprege estrutural, que atinge o mundo em ulobal ¢ de forma arrasadore, € uma cvidéncia desse carater escal destrutive, Issa coloca, no final do século XX, um desafio para a totalida- de do mundo do trabalho: & preciso eriar lagos entre agueles con- idad¢ do processo de Lingentes sociais que ainda derém a centra eriacdo de valores. Essa nao ¢ uma cmpreitada simples: 0 resgare do carater de classe dos diverses segmentos que compreendem a “classe-que-vive-ca-trabalho” € o maior e mais imstigante desafio neste fina das classes trabalhadoras até aqueles que vivenciam as formas mais de século. Articular desde os macleos mais organizadas nelastas da cxclusao social. Soldar as lagus de coesdo e solidarie- dade de os com os “Martires de assc, como aprenden icaga’, reswatando, desse modo, o sentido de pertencimento de classe O Primeiro de Maio e seus novos proletdrios do mundo: fim ou recomego?” Por mais estranho que possa parecer, tornou-se freqiente, no pensamento contemporaneo, a idéia de que a classe trabalhadora estd desaparecendo ¢ que o mesmo estaria ocerrendo com o mevi- mento operdrio, Curiosa idéia, gerada no pequeno ¢ helo “cant do mundo” que € 0 Ocidente Europeu e que parece um tanto fora do lugar, especialmente quando remetida a concretude brasileira, pais idesproletariza- cm que sao explosivos os indices de proletarizagal cao do trabalhador. [sso para nao falar dla totalidade da Terceiro Mundo, que abriga palha. © equi- cerca de dois tergos da forga humana global de t voco, aqui. € pelo menos duplo, uma vez que além de nao apreen- der a nossa particularidade social, também nao consegue conceber trabalhadera ¢ de trabalho. E, sem uma nogdo ampliada de cla line de trabalho © ou- isso, so lhe r ly proletaria sta imagi (ros equivocos assemelhados Sabemos que © capitalismo contemparaneo, particularmence + Publicado au jurn fo, Say Pauln, 1-15 mate ¢ Gllimas décadas, presenciou inumeras transformagées. A rees- truturagde produtiva do capital ¢ o neoliberalismy, datados de forte caraler destrutivo, vém acarrctande profundas destruighes das tor- cus produtivas, da natureza, do espago ambiental ¢ particularmen- re em relacde a forca viva de trabalho, que se encontra hoje exer conde trabalhos precarizados ou inteiramente desempregada. Se ¢ wm grande equivoce conceber o [im de trabalho enquanto vigerar a socicdade de capital (uma vez que o processo gredutive resu |tam- interagae entre trabalho pins e trabalho morto), € imprescind hém entender as mutagdes, metamorfoses € ampliagdes que vem acorrendo no universo do trabalhe Muito diferente da idéla de fim dos trabalhadores ¢ das traba- Ihadoras, nas diltimas décadas pode-se presenciar um conjunto de mutagdes que resulcaram numa classe trabalhadera ainda mais he lerogénea, mais multilorme e mais fragmentada. Mas, atengay, ¢ da, tanto de trabalho quanto am precise partir de wna noga de classe trabalhadora, Contraditeriamente, apesar das mutagoes Lecnacientificas, nunca os povos dependeram tanto de trabilhe ¢ de scu salario para sobreviver, pois a privagde do trabalho, para os topes proletirios do mundo, € & primeiro pass para a privacao da dig- e humanidade. Para sua com- liga nidady ¢ da sua propria cor ple dos os cantos do mund Sul destra Tudo isso coloca um enorme desafio para a mundo do traba- ulados resgatar o sentido de per- a desumanidade, portante, Como € possivel visualizar em to- das periferias Norte aos centros do cada lho, nesics lermpos tio desar tencimento de classe desse: os prolett do wunda, reatar os lagos de solidariedade ¢ consciéncia daqueles que vivem do trabalho ou que deles sto excluides, quea era da reestruturacdo do capital eo seu id io apologético © mistilicader procuram fragmentar Antes de sepultar os Lrabalhadores, seria bom tentar compreendé-l apreender sua nova marfelodia seciil, suas potencialidades ¢ navas formas de rebeldia. Os exemplos cstao cm toda parte: ontem em Seattle ¢ Praga, hoje em Quebec e em Porto Alegre. No México: cum os zapalisias, no Brasil como MST e em Los Angeles com os negros, Com os funcionarios publicos grevistas da Franga de 1993 ¢com os operdrios metaltirgicos coreanos em 2001, Com as explo- sds mais ou menus espontincas que germinam em toda a América Latina, da Argentina d Coldmbia, passande também pelo Equader. ‘Tudo isso indica a imprescindivel necessidade de compreender aque éo mundo do trabalho hoje, quem séo, como atuam ¢ come se tebelam esses nonay proletdrios de mundo. Acé porque, antes de di- simento dos trabalbedore: go trabalho e de Lentar sepultar om rer aden pruclente olhar para as recentes batalhas do mundo, nesta nova tase qué o1? de Maio de 200), com tantas manife goes, em tantas partes do mundo, nos ajudou a enxergar. E que se das lutas soci devem repetir ¢ intensificar neste nove 1° de Main de 2001, na busca de uma vida dotada de seatide dentro ¢ fora do trabalho, Ao menos para aqueles que querem ver O trabalho na fonte misteriosa” A socicdade contempordnea presencia um duplo e complexo entide”: par um lady, temos 0 predominio da finaneirizagdo da economia, com suas movimento, que de algum mado lhe da dinamica e “s consegiténcias devastadoras em tantas partes do mundo, De outra, vivenciamos 0 apogeu da sx] dv da produgao de mercadorias Nao ¢ dificil constatar que esse “sentido” € destrutive em sua prd- pria logica: a financeirizagio da economia desmonta adeleos pro- rfid dutives, convertendy-se na forma “mais ahenada, mais fetichizada da relac&o capitalista”, na felicissima caracterizagioa de Marx. E di- nheiro reproduz-se sem passar (necessariamente) pela mediagda masiertosa, produtiva. Comverte-se, portanto, numa verdadcira fort onde dinheiro gera mais dinheiro. A produgdo, por sua vez, na ldgica cla mercadorizagda de mundo, nao faz outra coisa senao ustampar a enorme destrutividade que caracteriza o capitalismo cm nossos clas, com seu cardter involu- fe misteriesa, Edi da Usicamp, * Apresentaoia do livro de Nise Jinki an eral, marcado pelo desperdicio ce pela superfluidade em que, quante mais mercadorias sdo inventadas ¢ csparramadas pelo mercado: mundial (esse frimkenstein sem qina), menor é o tempo de vida util dos produtos © resultado, todos estamos vendo destruigdo, precarizagiv, climinagie de postos de trabalho, desemprego ¢strutural, um mun- do canduzido pela razio ental que nao é outra cvisa seman a fi0 vigéncia da completa d Fetas mutagoes também atingiram em cheio o chamada “sctor ez mais mercadorizade LE ale servigus”, cada vez menos priblice «ca: também vivencia esse quadro tendéncial: cada vez mais “racionali- zido", cada vez mais lfsfilizads, amplia vorazmente seu trilville mor- to. dado pelo maquinario tecnocientifice, desempreganda Irahalbe Se no passado recente ele empregou excedentes do trabalhe vit industrial, hoje também contribui para o monumental exércita de trabalho sobrante que o mundo atualmente presencia F exatamente aqui que reside @ cixo do belo livre de Nise Jinkin: eletrénien ¢ do divbeire (Editora da Unicame, 2002). Dando continui- endo get Trabalho e resisléncia pa “Jonte misteriosn”: og basedrios no azer dineivo. autont dade ao seu feliz trabalho anterior, O muster de J Joe subjetividade vo trabalbe bavcdrio (Boitempo, 1993}, traz um de- senho analitico amplo ¢ claro do que se vem passando dentro dos bancos, quando o olhar ngo é 0 de “rentabilidade”, de “lucrativi- dade”, mas se volta para o mundo dos homens c das mulheres que trabalham dentro do universo (quase escrevia inferno) bancario. Na melhor linhagem (que entre nés tem come estudas pionei- Tos as ricas andlises criticas presentes nos livros de Liliana Segnini, as radiografias de Ary Minella, entre outros), Nise Jinkings mostra como as trabalhacdorcs bancarios, cujo objeto de trabalho é a mer- cadoria-dinheiro, vivenciam o seu cotidiano através da representa- Gio letichizada, na qual o diuheiro parece yerar mais d 5 semmgudl quer mediagin produtiva. ladeadas pelas suas maquinas informatizada muitas vezes separadas por haias (9 que, alids, cstampa a singeleza da “moderr balhadoras rea- dade” putronal financeiya), os trabalhadores ¢ as lizam um conjunte infindavel de operactes de registra e de con trole, de transfcréncia ¢ redistribuic&o dos valores originadas no don mundo produtiva, transformanda a mere: beira em capilal pro- que toma a aparéncia de di 0 dutor de fures, num proces etre aatualidade, diz Nise Jinkir fo ta ys, soba volatil forma de impul- sos eletrdnicos, o capital-dinheiro circula em tempo virtua! de uma parte a-outra do mundo. quanto mais sé desenvolve o mundo (des- trutive) da financeirizacdo. Operando & manipulanda simbolos de valor cada vez mais abstrates, desconhecendo freqiientemente o télas dltimo de suas atividades (que podem estar conectadas com a economia politica do narcotrafice ou com a producaa de armas, para dar dois exemplos}, scccionadas ¢ fragmentadas coma maquinas falantes, os trabalhadores sao compungidos a “vender servigns han- carios de todo tipo”, para poderem “pagar seus préprias saldrios” gestores e as personiticagdes como dizem de modo despudorada c do mundo financeiro Resultado cstampado por Nise Jinkings é que os que vivem de salirio dentra dos bancas vém padecendo de grande parte das balho: Lesdes por Esforga mazclas que atingem o mundo do Repetitive (LER) sao cada vez mais recientes; as Lerecirizagdes as PrecarizagOes, 0 eslressamentos, as incertezas, insegurangas, angtis- Gas, o medo didrio do desemprega, E nado param aqui as conseqiién- cits nefastas: varios estudos ¢ estacisticas tem mostrado o aumen- ta do ndmero de suicidios entre os trabalhadares do meio banedria Depois de anos ou mesmo décadas de dedicacdo integral aos ban “escolhides” para * Es capital financeiro diz que cos, os bancarios/as convertem-se em “eleilos” fo voluntir essa ldgica ¢ inevitavel, Com dose critica certeira, Richard Sennett diz q balho, um processo de corrosin do ¢ og planos de “demis estamos presenciamda, nesse universo de degradagao do tra- ter, que, sabemes, atinge em s0) cnorme ¢scala os perenles, geslores, enlim, as personiticachcs do capital financeiro® Nise Jinkings também demonstra como a teenicizagao & racio- nalizagdo do trabalho vém pessibilitando um monumental aumen- to da produtividade ¢ das lucras bancarios. Cheios de processes olive — que articulam instantaneamente as agéncias — ¢ dos siste- mas howe banking — que conectam diretamente o chente ¢ 0 bance —, quanto mais os “consumidores” tém a ilusao de “interagirem” di- retamente com os bances, maior éo proceso de ligfilizacio, ecugumento, precart: doe desempredo. Mais contribuem, lreqiientemente sem saber (e sem receber nenhuma remuneracao), para que o dinkeira finaieei- nnregande trabalbadores. E, ao cxecutar esse traps ro crie mais dinbeiro dese lho bancdria trausferide, contribuiram para que o ntimero de bancarivs no pais caisse de aproximadamente 800 mil no final dos anos de 1980 para menos de 400 mil em fins de 1990 Mais desemprega para milhares de homens ¢ mulheres Estudanda com sensibilidade ¢ forga analitica 0 que se passa na mundo dos bancos, com o olbar atento para os que vivem do tra- balhe e do salario, Nise Jinkinys m zandy a civisao sexual de trabalho nos bances, seguinde um movi- ystra ainda como se vem reali- mento de [eminizacdo da categoria que. enlretante, nao signitica igualdade de condigtes de trabalho ¢ de salario, Ana- lisa coma os métodos de yestae ¢ racionalizagdo do trabalha c as uma efet eylralégias de poder recriadas nos bancus vém enlraquecends a organizacao dos sindicatos ¢ a resist¢ncia no interior dos bancos, diluindo em srande medida as clivagens existentes entre as bancos priblicos € os privados bem escrito, analiticamente densa c sustenta- as pode- Livro sensiv do em lerte dacumentacao empfrica, no qual os leitor: rin compreender melhor os milagres da fonte misteriosa € coma processo vem atinginda em cheio o munde do trabalho bancariv Record 1999. * Ver liveo de Bic! lo ee. » ard Sennen

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