ELEIÇÕES DEIXARAM de ser uma ocasião em que a comunidade designa representantes para
perseguir alguma agenda significativa. Quase tudo se passa no imaginário. Quando não se trata disso,
a tendência é que se discutam desimportâncias.
Diferentemente de outros países, no Brasil não se discute ideologia em eleições. Só o PSOL faz isso.
No mais, quem se diz de esquerda não o é e quem é de direita afirma não sê-lo.
Assim é que ganham proeminência assuntos como a união civil entre homossexuais e o direito de
aborto, os quais, por mais importantes que sejam para alguns públicos, a rigor dizem respeito ao plano
privado.
Há, porém, uma série de protagonistas importantes, em particular na área empresarial, para os quais a
única coisa que de fato importa são os temas de fundo. Como candidatos não podem ignorá-los,
dirigem-se a eles privadamente. Opera-se assim uma inversão: o que é privado se discute em público e
o que é público se discute em privado.
Como é assim que as coisas são, assim continuarão a ser. Isso não significa que não deva haver
preocupação sobre o que os candidatos oferecem quanto ao futuro. Vão aí três temas que precisariam
constar de sua agenda, ainda que oculta.
Distribuição de renda. O Brasil tem uma das piores distribuições de renda do mundo. Melhorá-la
significa retirar renda futura dos mais ricos. Isso não acontecerá por benemerência destes últimos, mas
por políticas específicas, tanto tributária quanto de desenvolvimento.
Além de constituir uma usina de corrupção, o compromisso dos agentes públicos (concursados ou não)
com interesses partidários se superpõe a seu compromisso com o público. Não há serviço público que
resista a isso.
Questões como essas três (e existem muitas mais) são as que impactam sobre o futuro da comunidade.
O resto é ilusão.