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Folhetim n 006, 27 de fevereiro de 1977
(3) Por que trs fadas moas conduzem Tamino Lua, e trs espritos de
luz meninos at Sarastro, o Sol? Porque na doutrina hermtica (de
Hermes Trimegisto), assim como em cima embaixo, ou seja, os vrios
planos da realidade no caso, o plano da natureza e o plano do esprito tm
um certo jogo de correspondncias mtuas. Assim, aos trs elementais (que
(4) Por que o filsofo que freia os mpetos hericos de Tamino quem o leva
depois ao Templo onde, findas as provaes, ele receber finalmente a
revelao da verdade? Porque a passagem do estgio lunar ao estgio solar, da
infncia maturidade, do estgio natural ao estgio racional, requer a
interferncia de um terceiro elemento: o deus Saturno, simbolizado
tradicionalmente num velho sbio eremita, e que representa o tempo, as
privaes, a solido, o esforo, o mundo da verdade nua e dura como a pedra
do calabouo onde Tamino, paciente, aguarda a libertao. desta verdade,
que contradiz todas as iluses infantis e mpetos juvenis de Tamino, que o
sbio do Templo se faz porta-voz, indicando os caminhos rduos que
conduzem liberdade.
E assim por diante, numa riqueza simblica que abrange cada detalhe (a
travessia do fogo e da gua, o voto de silncio, a luta contra as tentaes da
covardia e da dvida, as fases da lua que muda de cara, o soldado
Monostatos, fora cega do deus Marte, a prpria flauta, evidentemente, est
tudo no livro de Born, na tradio manica e astrolgica). A essa riqueza,
Bergman no cometeu o supremo ridculo de acrescentar o que quer que fosse
da a aparente pobreza do filme enquanto filme.
NOTA: Esta ltima frase de A. Boschot, no livro Mozart (Paris, Plon, 1935,
pg. 195). As demais informaes deste artigo esto em: Edward J. Dent, Las
operas de Mozart (trad. argentina, Buenos Aires, Huemil, 1965) e sobretudo
no monumental La pense de Mozart (Paris, Le Seuil, 1958). Para detalhes da
simbologia astrolgica, Andr Barbault, Del psicoanlisis a la astrologia (trad.
argentina, Buenos Aires, Ddalo, 1975).