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IncriD FARIA GIANORDOLI-NASCIMENTO. ‘Zeid ARAUTO TRINDADE Marta DE FATIMA DE Souza SANTOS MULHERES E MMILITANCIA Encontros e confrontos durante a ditadura militar LUNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Rerrox Clélio Campolina Dinie ‘VrcrRerrona Rockaane de Carvalho Norton EDITORA UFMG Dineron Wander Melo Misanda ‘View-Diatrom Roberta Alexandre do Carmo Said (CONSELHO EDITORIAL ‘Wander Melo Miranda (enestonsre) ‘Ana Maria Caceano de Faia Flavio de Lemos Carsalade Heloise Maria Margel Starling ‘Miecio Gomes Soares ‘Maria Helena Darnasceno e Silva Megale Roberto Alexandre do Carmo Said Belo Horizonte Editora UFMG 2012 vas para sua superagio, E certo que ido no texto é nublado para grande parte da Lidio de Souza INTRODUCAO ‘A reconstituigio da trajet6ria de vida de nove maulheres que se engajaram em movimentos de oposiglo ao regime militar foi | a base para a elaboracio deste livro. Sua relevancia situa-se na necessidade, sob nosso ponto de vi ‘i :profun- dada, no ambito de géneroem sua recente do nosso pais. Esse nos parece set o caso da mil politica de mulheres durante o regime de ditadura mil Brasil, quando jovens assumiram um papel inédito, campo da politica quanto no das relagoes de género, rompendo com os cédigos de sua época. Portanto, investigar a participago ‘mulher nesse contexto pode oferecer importantes informagbes da identidade feminina, que, a partir dessa época, passa fensas transformagies. acontecimentos desse ico de excegio. Por mais de 20 anos, uma grande parcela 1s sujeitos no pode, por motivos diversos, assumir e contar s, 0 que, segundo Ferreira,’ mostra que a producio iogrdfica ¢a propria constituigio da meméria situam-se em ‘um mesmo campo de relagoes de poder, no qual o discurso oficial «, conscquentemente, a meméria oficial, sobrepiem-se a outros discursos e memérias. E possivel, ento, que um aconteci ou um perfado histérico s6 possam ser mais adequadamente recontados numa rede de discursos parciais, com seus atritos, pontos de contato e independéncias. Para que isso seja possivel, no nosso entender, € necessario valorizar, cada vez mais, 08 depoimentos dos individuos cujas vozes se enconteam fe historiografia dita oficial. Dentro desse quadro, para 0 periodo cima citado, alguns autores? apontam a escasser de informagdes sobre a participagio das mulheres nos movimentos de resistencia algumas delas tiveram em varias agbes desses moviment A partir desse quadro, acreditamos ser relevante com depoimentos de mulheres qu narrativas, com suas lembrangas ea consequente reconstrucao de suas hist6rias de vida, haverd possi parte do repert6ri lidade de se rentar resgatar uele perfodo no estado do Espitico Santo, contribuindo para a construgio de uma meméria histérica ainda pouco contada. Vale acrescentar que, a partir da década de 1980, vem sen- do cealizado um esforco por parte da sociedad ci produzindo uma maior circulagio de relatos sobre esse periodo, ‘0 que certamente permite uma maior democratizagio do acesso a informagies relevantes sobre a histéria brasileira recente. A veiculago em diversos meios (cinema, tlevisio, literatura fic- ional ou nao} dio visibilidade a diferentes versdes da historia da época, Contribuindo para essa democratizacao esté a produgio académica, que, através de um esforgo interdi cempenhado em produzir pesquisas ¢ reflexdes teéricas com os “objetivos de alargar 0 entendimento sobre 0 perfodo e de avaliar ‘08 seus ainda perceptiveis desdobramentos no cotidiano do pais. © CENARIO POLITICO-SOCIAL: OS ANOS DE 1960 E 1970 Os dois maiores centros urbanos do Brasil (Rio de Janeiro & Sio Paulo), além de outros como Belo Horizonte, Salvador, Re- cife, Porto Alegre, Goiinia e Vitoria, presenciaram, na segunda metade do século XX, uma mobilizacio que deu intenso vigor A vida estudantil do pais. Segundo nos conta Martins Filho,* tudo comecou, de certa forma, nos anos de 1962-1964, quando ‘o movimento estudantil universitério se inseriu nas campanhas reformistas do final do perfodo populista. Logo apés,com o golpe de 1964, ni ama fase de silencio forgado aos movimentos cde massa. A partir de entio, lutas estudantis renasceriam em resist{neia ao projeto de reforma educacional da dicadura © na lta contra a repressio policial-militar por ela fomentada. Em 1968, conhecido como 0 “ano dos estucantes”, os interesses do movimento jé nio estavam mais voltados apenas para as causas educacionais, A situagio interna do pais, que dispds os jovens a cexigicem mudancas que difundissem a justiga social a todas as ‘camadas da populago, fez com que estes se aproximassem dos mais diversos grupos que também questionavam o regime militar. De forma geral, os jovens dos anos de 1960 presenciaram um Intenso movimento de renovacao cultural que atingiw os meios de difusio cultural, da mesica popular ao Cinema Novo, passando pelo teatro e pela literatura, abordando alguns dos problemas soci fundidos pela esquerda. A partir de 1965, 0 teatro brasileico, por exemplo, apresentou textos des- bravadores, engajando-se na deniincia de questdes cruciais que abalavam a realidade brasileira, tornando-se um dos meios de maior resistencia ao regime militar ‘Ainda no campo da producdo artistica, para Zuenir Ventura,’ jem 1967, apés os atentados contra o Centro Popular de Cult: (UNE), apareceram ientos técnicos. Para Ve esse primeiro movimento do arbitrio traduziu o fim da cultura de esquerda pré-64. O ano de 1968 representou o fim dda sua in¢ Grupos identificados como de esquerd: desses grupos se m¢ projeto revoluciondrio. Nesse momento,a participacio estudantil se intensificou, e as organizagbes clandestinas ganharam adesio de outras categorias que também se posicionavam contra a di- tadura, tanto no campo quanto nas cidades.” Esse proceso vai de 1964 até 1968, ano que, segundo esses autores, representa tum marco na historia recente do Brasil. ‘Acontecimentos internacionais também tiveram consideravel influéncia no panozama politico brasileiro da época. A Revolugao Cubana, ocorrida na década de 1950, traduzia 0 dedcio que ins- pirava parte da juventude e stores da esquerda. Particularmente, ‘ano de 1968 parece ter sido também marcado por um “tulio cestudantil” que “varreu democraticamente todos os quadrantes ‘da geografia mundial”. Os jovens estadantes dos quatro cantos do mundo iniciaram nesse perfodo um movimento intenso, em- bora houvesse, para cada caso ¢ nagio, motivagées e inimigos de diferentes ordens. O movimento estudantil se espalhou por iversos paises, entre eles, Franga, Alemanha, México, Espanha, Senegal, Estados Unidos, Canad, Argentina, Venezuela e Peru? Segundo Martins Filho, essas foram algumas entre as dezenas de nnagdes onde eclodin esse moviment rum “a indignagao provocada pela violagio, por parte das forgas do espago até entao respeitado das Universidades”."° ., ano também foi de radicalizagio, de posigbes. lectual e artistico, contando com a forte adesio ‘estucantil, o pensamento da esquerda se propagava. Discusses, debates e passeatas demonstravam 0 espirito de engajamento. Os seguimentos politicamente atuantes no Brasil, 0 se encontrarem na Passeata dos Cem Mil, “expressaram o ponto culminante desse breve processo de unificagio valentemente em todos os grandes centros urbanos do p: Segundo Dirceu ¢ Palmeira, “nesse momento o pais parecia set todo de esquerda”. ‘nos conta que o Governo Costa e Silva parecia temer .c@o desse movimento. O “golpe dentro do golpe”, rucional n? 5, 0 AI-S, de 13 de dezembro de 1968, io a0 periodo que ficou somo “os anos de chumbo”. lecretou a suspensio de todas as garantiasindividuais confronto safa do campo armada, ¢ a0s pores, segmento intelect impossibilitado de ser conjugado com a ideologia da seguranga (© regime militar declarou verdadeira gue ‘6s grupos considerados de esquerda. A clande ser opcional pata muitos ¢ tornou-se obrigatéria, na medida ‘as ideias que inspiravam 0 movimento de reconstrugio politica do pais, em conjungio com a transformacio de lores e de costumes, tiveram que encontrar novas formas de a res anos apés 0 ALS foram mareados por uma forte cen- ‘com considervel impacto sobre a sociedade do periodo; impacto que, segundo alguns autores, ainda nao foi suicien- temente analisado.!# Embora algumas organizagées esquerdistas ja viessem, antes mesmo de 1968, defendendo a reagao pela forga e jé assem para tal, as divergéncias internas existe diversos movimentos esquerdist expressivo partido de esquerda até entZo, i se encor dido entre os grupos pacifistas ¢ os adeptos da uta armada, O segundo grupo ganha corpo, ¢a tese de que era preciso reagir mais se diferenciavam entre as de estudantes ¢ as de operarios, por exemplo, Tal movimentagio se consolidou nos anos de 19; vyindo a compor 0 que passoua ser denominado como “esau alternativa”.!” ‘A-crenga de que a luta armada poderia ter éxito, contando, com a adesio do restante da populacio, unin velhos ¢ nov litantes em diversas organizagoes que se espalharam por todo 0 Comandos de Libertacao Nacion: foram se originando de dissidéncias de: ages urbanas e rurais. ‘Os anos de 1970, como consequéncia, foram marcados por de otras organi achassem que poderi siderados subversivos. Havia verdadeira “caga as bruxas”. Esse se tornou, portanto, um periodo de intensa repressio. ‘As cassagées de mandatos ¢ a suspensio de direitos politicos, as demissées nas universidades, entre tantas outras formas de 28 perseguicao, apontaram, em diversos casos, a clandestinidade ou 0 exilio como garantias de sobrevivéncia. Por outro lado, para alguns segmentos, particularmente da classe média, era © momento de “melhorar a vida”. “Coinci- dentemente”, acompanhando a exacerbagao do autoritarismo, «6 festejado “milagre econémico” amplion as oportunidades de trabalho em diversos setores, alargou as bases da diversificada sociedade de consumo, permitiu a ascensio social dos setores ‘médios ¢ “concentrou renda a ponto de ampliar, em escala iné- dita no Brasil urbanizado, a distdncia entre o topo ¢ a base da piramide social”.” Logo, que se deu foi uma vivencia de contradigoes nas fami- m-se do crescimento econo 770 e passaram a ter seus filhos perseguidlos e mortos pelo mesmo regime, o que que prevaleceu até meados A isso, agregava-se ainda a forte censura as artes em um periodo de intensa produglo cultural. Por outro lado, se dava a expansio do mercado de trabalho com novas profissies € atividades bem remuneradas para quem tinha um mit cera uma sucessio de contfltos morais, impulsos, sentimentos ¢ tos contraditrios.”** politizado Movimento Estudantil de 1968 se esvaziou e dew lugar a outro que buscava afrontar 0 conservadorismo do regime no plano dos costumes. Surge uma outra forma de oposicio: 2» aqueles que foram do movimento como se dizia na época. 0 movi hostilizado pelas esquerdas desse periodo.2* .Nesse momento estava em plena marcha 0 movimento de rruptura de regras morais relacionadas a alguns comportamen- tos ndo vinculados tdo diretamente, supunha-se, 20 campo das Incas politicas. As mudancas na direeo de uma reduc da de- sigualdade, por exemplo, entre homens ¢ mulheres, teriam, nesse G. Velo Subjatividadeeociadade-uma expesiicia de eras, Rind Jaci, Siecle renee 6, p 138, maiden. 1997, “idem, p. 138. Jorge Zahar, 1989, p. 80. Ale, Quand cles cram jovens reylucionsrios. * Martins Fh, Rebelo eat, p18 S. Carmo, Calta da rebeldia: 3 juventude em questo, 0 2001. 2002, ¥. 4, p. 383, 30 orignal de 1970. (Alma e Weis, Car * J.C. Guilebaud, A consolago da revolosgo sexual, em Gov © camtestadores,p. 173-1805 Carmo Calturas da rebel 4

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