A DISTOPIA EM ADMIRVEL GADO NOVO MSICA DE Z RAMALHO

Admirvel Gado Novo

Z Ramalho
Vocs que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro,
duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber,
E ter que demonstrar sua coragem
margem do que possa parecer,
E ver que toda essa engrenagem
J sente a ferrugem lhe comer.
, vida de gado...
Povo marcado,
Povo feliz...
L fora faz um tempo confortvel,
A vigilncia cuida do normal;
Os automveis ouvem a notcia,
Os homens a publicam no jornal,
E correm atravs da madrugada,
A nica velhice que chegou;
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.
, vida de gado...
Povo marcado,
Povo feliz...
O povo foge da ignorncia,
Apesar de viver to perto dela,
E sonham com melhores tempos idos,
Contemplam essa vida numa cela,
E esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar;
A Arca de No, o dirigvel
No voam nem se podem flutuar.
, vida de gado...
Povo marcado,
Povo feliz...

Jos Ramalho Neto um cantor e

compositor brasileiro, nascido em
1949. Iniciou sua carreira em 1974 e
possui 21 cds gravados desde ento.
A msica Admirvel Gado Novo
pertence ao lbum A Peleja do Diabo
com o Dono do Cu, de 1980, ainda
durante a Ditadura Militar.
A comear pelo ttulo, temos uma
referncia clara ao livro de Aldous
Huxley, Admirvel Mundo Novo,
clssico da literatura distpica, de
1932.
A primeira estrofe mostra-nos o
homem como parte de uma massa
maior, tendo sido pr-condicionado e
perdendo sua identidade e apenas
fazendo parte da engrenagem, do
sistema.
E dar muito mais do que receber
mostra a explorao humana e a
felicidade forada

A submisso e o conformismo
aparecem enfaticamente em , vida
de gado... / Povo marcado, /Povo
feliz...
A
condio
de
manipulao
e
explorao a que se submete este
animal ocorre desde a vida at a
morte e neste caso, aplica-se aos
seres humanos.
Na segunda estrofe temos o controle
externo, quer seja do sistema ou de
foras governamentais sendo exercido
atravs da disciplina em a vigilncia
cuida do normal, quer seja atravs
da censura.
A coisificao do homem na primeira
estrofe coaduna com a humanizao
do carro na terceira, ao dar aos
automveis atribuio humana e com
a representao do controle da mdia.

A ltima estrofe mostra-nos um povo

que anda em crculos, achando estar
avanando, e no enxergando estar
preso numa cela.
Apesar da priso e do controle, este
mesmo povo ainda contempla o fim

necessrio
para
um
recomeo,
sintoma de reao, subverso.
A citao Arca de No mostra uma
religio ineficaz no novo modelo de
sociedade, em que o homem no mais
humano.