Era uma vez um violino. Tinha msica azul. Tocava-o um msico de cabelo muito
negro e longo e mos longas e brancas. Pegava no arco e todo o azul se desenrolava no ar.
Quando a msica era mais triste, o azul ia ficando roxo e depois vermelho cor de sangue. Se
a msica era mais alegre, o azul ficava claro, verde, s vezes at amarelo.
Diro os meus amigos: isto uma histria. No . Ou ser histria, talvez, mas uma
histria verdadeira.
O msico tinha um co. Que se chamava Jaguno. Era preto e branco o Jaguno. Um
rafeiro. O seu olhar meigo, como um luar castanho, todo ternura.
Um dia, o dono, o nosso msico que se chamava Joaquim sentou-se junto de uma
janela de sua casa. Uma janela aberta. Era outono, as folhas das rvores estavam castanhas,
quase douradas, como o olhar do Jaguno.
E Joaquim sentou-se com o seu violino. E comeou a tocar. Triste. Azul, roxo,
vermelho. Vermelho igual rosa da primavera? No. Um vermelho triste de uma ferida na
nossa mo.
Jaguno olhou o dono. Olhar triste o do co. Castanho-dourado das folhas de outono.
Perguntando sem ladrar, sem palavras da sua fala de co:
Que te apoquenta? Eu estou aqui e sou teu amigo.
Os sons continuavam. Azuis, roxos, vermelhos.
Joaquim estava triste. E Jaguno tambm.
E o violino tocava, tocava, tanto azul, tanto roxo, tanto vermelho