Who
fu#$ing cares? Fui morrendo nos ltimos dois anos bocadinho a
bocadinho. J tinha comeado a morrer antes, mas nos ltimos dois
anos tudo se precipitou. Morri nas pessoas que morreram
inesperadamente e levaram o meu corao com elas; morri nas
pessoas que definharam sob os meus olhos e me morreram, enfim,
cansadas, nos braos; morri nas pessoas que partiram (mesmo se
prometeram, se juraram, que ficavam) e me deixaram mais sozinha
do que pude suportar; morri no quanto quis ser melhor
(desesperadamente melhor) e no consegui fazer nada certo; morri
no quanto quis amar-me mais (consolar-me mais) e no pude de
modo nenhum; morri no modo como am-lo tanto (sem nada
receber em troca) matou a minha capacidade de amar outro
qualquer; morri naqueles que nunca me entenderam; morri
naqueles que nunca me acolheram; morri nos espaos onde nunca
pertenci. E eu tentei tanto pertencer. Tanto, tanto, tanto. Fiz tudo por
pertencer. Infelizmente, por culpa minha ou no s, no fcil para
mim pertencer. E morri lgrima a lgrima nos mares de lgrimas
que chorei. Morri; fui morrendo. Definhei; fui definhando. Perdi
qualquer interesse nas coisas, em mim e nos outros. At perdi a
capacidade de ser amiga do meu melhor amigo porque passei a ter
tanto medo de o perder tambm, que o tranquei numa redoma,
longe das coisas que querendo, achei que no lhe podia dizer. E
comecei a viver, a tratar-me e a alimentar-me de forma destrutiva. E
deixei de ter vontade de me levantar da cama. E talvez o mais
assustador que aparentemente ningum reparou, porque ningum
parou sequer nos dias em que no tive como evitar usar toda essa
morte nos olhos vermelhos, nos ombros prostrados e no olhar
perdido no cho e no vazio, para me dizer "ests bem?". Porque, de
completamente
sozinha.
Minha
prerrogativa.
dessa