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Notas sobre a tipificação das pessoas (II). Reflexão sobre a validade de analisar as tipificações de personalidade fora dos contextos legal e jurídico. Se é válido fazer perfis para criminosos, por que não o é para todos nós? Haverá razões metodológicas ou éticas/culturais?
De: João Miguel Cunha, 2016
Notas sobre a tipificação das pessoas (II). Reflexão sobre a validade de analisar as tipificações de personalidade fora dos contextos legal e jurídico. Se é válido fazer perfis para criminosos, por que não o é para todos nós? Haverá razões metodológicas ou éticas/culturais?
De: João Miguel Cunha, 2016
Notas sobre a tipificação das pessoas (II). Reflexão sobre a validade de analisar as tipificações de personalidade fora dos contextos legal e jurídico. Se é válido fazer perfis para criminosos, por que não o é para todos nós? Haverá razões metodológicas ou éticas/culturais?
De: João Miguel Cunha, 2016
Num pequeno texto antigo (O corte e o perl),znotassobreatipicaodepessoas.
Dentro do mesmo tema, questiono-me agora por que razo relativamente s investigaes judicirias que mais validade se atribui aos pers de personalidade? Por que no aplic-los a qualquer um de ns? Quer na realidade quer no universo ccional, a criminologia e a psicologia legal assumem-se como oreinodatipicaodeindivduos(excluindoaquiconscientementeareada psicopatologia onde isso tambm se faz). nesse contexto criminal que o conceito de perl de personalidade se assume como mais vlido, sobretudo pelo seu grau de funcionalidade, entre outras coisas, na resoluo de crimes e compreenso de certos tipos de criminalidade. A credibilidade cientca da construo desses pers totalmente legitimada e metodologicamente comprovada. A questo que isso me faz levantar exatamenteaopostada inteno de problematizaressavalidade.Aminhaquestoproblematizarosmotivosquelevam a construo de pers de personalidade fora do contexto criminal no ter o mesmo tipo de validao e aceitao. Se em todo o mundo, as diferentesinstnciasjudiciaisconamnospersdepersonalidade dos criminosos, ento, por lgica simples, porque essas construes de facto representam elementos relevantes sobreacaracterizaodessaspessoasenquantoindivduos.Etambmque essa caracterizao tem utilidade prtica em ser feita. Noutro exerccio de lgica simples, o funcionamento mental de um criminoso, apesar de todasassuasparticularidades,operadonumamatrizbiopsicossocialcomumatodasaspessoas. Nenhum dado comprova que,namaioriadoscasos,umcriminosopossuaalgumtipodeanomalia orgnica responsvel pelo seu funcionamento mental ser regido por mecanismos existentes apenas na mente criminosa. Desta forma, podemos assumir a legitimidade de construir pers de personalidade igualmente vlidos para qualquer pessoa. Se, no caso dos criminosos, a utilidade desse perl pode ser o estudo e preveno de crimes, bem como auxiliar as aes judiciais, no caso de qualquer outra pessoa, a utilidade podeseroestudosobresiprprioou,porexemplo,estudare
melhorar a gesto dos recursos humanos. Contudo, muitos exemplos da utilidade de se
construrem pers de personalidade podem ser acrescentados. Uma das razes mais signicativas para a construo de pers de personalidade em criminosos mas no em outros, de ordem cultural. Fazer um perl depersonalidadeumacto de certa forma intromissivo. considerado um exerccio abusivo, analisar e descrever caractersticas internas de funcionamento mental que s ao prprio dizem respeito. Compreendendo e at partilhando esse argumento, no posso deixar de questionar a forma como utilizado enquanto modelo de pensamento sobre a tipicao de personalidade. Normalmente surge em declaraes quando, numa atitude defensiva contra essa aco de anlise sobre algum, se declara que tais construes de pers so invlidas e no servem para nada. Efetivamente so vlidas e teis, e a criminologia assim o comprova. No se pode armar os pers serem vlidos para criminosos e invlidos para qualquerumdens.Adisputadaminha anlise na forma como se arma a invalidade dos pers de personalidade, usando esse argumento como substituto camuado de uma postura defensiva que nos faz noquererexpor as nossas caractersticas internas, e por vezes menos ainda, sermos confrontados com elas. Poder haver um espao amplo para discutir eticamente e moralmente a elaborao de pers de personalidade, mas, tal como comprova a criminologia, no me parece haver espao para armar a sua inutilidade ou invalidade objetivas. Por outro lado, a mesma razoculturalemoralquemotivaaoposiovalidadedospers de personalidade no parece ser ter relevncia quando se trata de criminosos. compreensvel na medida em que, num contexto de crime, osprocessosdeinvestigaonecessitamdequebrar as fronteiras da privacidade. Tal como um suspeito de um crime pode ser detido preventivamente, e um qualquercidadonumacircunstncianormalnopodeveroseudireito liberdade negado. Novamente, uma troca de argumentos que me parece no merecer grande oposio. Outra vez, o que me motiva oposio a forma como os argumentos em torno dos pers de personalidadeserfeitoemfunodesovlidosseforemdecriminosos,masseforomeu, invlido. Mal comparando como utilizar expresses como por exemplo,os portugueses no tm cultura nenhuma, ou qualquer outra do gnero. Estas expresses, so ditas maioritariamente por pessoas que no momento em queasdizemseestoaexcluirvirtualmente do grupo a que pertencem, criando a iluso de poderem caracterizar um grupo(poracasoaque pertencem), mas que essa caracterizao no os afeta a si. Pode ser a mesma pessoa, que perante uma caracterizao de si prprio manifesta uma recusa de aceitao da validade desse tipo de exerccio. So para mim compreensveis algumas questes de tica ou moralidade no exerccio de construir pers de personalidade. A construo de um perl de personalidade, numa certa perspectiva sempre uma anlise e/ou avaliao. Ser-se avaliado de forma compulsiva e sem a nossa concordncia eticamente, no mnimo, questionvel. Por esse motivo, entendo a validade da elaborao de pers de personalidade num contexto diferente de, por exemplo, o contexto legal/judicirio. O contexto em que os entendo como vlidos so contextos de concordncia do indivduo do qual trata o perl.
Dando um exemplo hipottico:
Uma possvel utilidade dos pers de personalidade pode estar na gesto de recursos humanos de qualquer empresa. Conhecendo o funcionamento mental/personalidade de cada pessoa, um gestor de recursos humanos poder ter condies de rentabilizar muito mais o capital humano sua disposio. Pode eventualmente chegar concluso de quais so as pessoas cujo trabalho ser muito mais produtivo e rentvel trabalhando sozinhas e at sicamente mais isoladas, e pelo contrrio quais so as pessoas cuja personalidade e funcionamento mental favorecem maior produtividade em espaos comuns trabalhando em meios que envolvam mais contacto com outros, e com que outros. As aplicaes neste exemplo relativa a recursos humanos poderiam ser muitas diferentes. No entanto, ter esse hipottico gestor de recursos humanos autoridade tica para procederelaboraodeanlisesdepersonalidadedosseuscolaboradores?Pensoqueno.Mas tem autoridade para propor a esses mesmos colaboradores a sua participao voluntria nessa elaborao do seu perl. Perl esse que eticamente tem de ser do conhecimento do indivduo em causa. Portanto, a elaborao de um perl de personalidade pode ser encarado como uma prestao voluntria de um servio. Assim, a limitao de apenas se aplicarem em contextos onde existe legitimidade tica para o fazer sem o consentimento do indivduo, deixa de existir. Ao mesmo tempo, a anlise da personalidade de algum ca apenas acessvel queles que aceitam e querem ver o seu funcionamento mental analisado, deixando de haver razo para a resistncia de nos revermos num perl se transformar em argumentos contra a validade dos mesmos. Numa frase: s tem perl de personalidade quem o aceita ter. Devo agora regressar premissa inicial que arma no se elaborarem pers de personalidade sem ser a criminosos. A utilizao desta premissa foi para reforar um raciocnio mas objetivamente errada, visto que se fazem mltiplos pers de personalidade e funcionamento mental. Numa entrevista de emprego feito um perl de personalidade e funcionamento mental. Na prtica clnica da psiquiatria e psicologia fazem-se pers de funcionamento mental (por vezesocultosemavaliaespsicolgicasediagnsticosquesoalgo diferente). Academicamente, o estudo dapersonalidadealvodemuitasanliseseoestudodas tipologias de personalidade amplamente realizado. Portanto ilusria a ideia de quem pensa estar imune a ser tipicado. como a iluso da ideia de privacidade quando todos os nossos movimentos podem facilmente ser analisados. A questo , quando comparando todas estas situaes com a elaborao de pers de criminosos, vericamos como os destes ltimos, so muito mais preditores e descritivos do carcter geral do indivduo. Em caricatura, chegando ao ponto de armar se em criana preferia comer massa ou arroz, ou se atualmente gosta mais de calar botas ou sapatos. esta qualidade preditora e descritiva que rejeitada sem fundamento objetivo quando se elaboram pers de personalidade fora do contexto legal. Porqu? Porque, entre todas as coisas que possumos como nossas, o nosso funcionamento interno que mais mantemos como privado, ocultando-o mesmo de quem nos mais prximo, e muitas vezes, da nossa prpria anlise. E neste ltimo ponto que para mim reside uma das maiores utilidades da elaborao de pers de personalidade: no acesso a uma perspectiva metodolgica que nos caracterize enquanto indivduos. A utilidade aqui contida, resumo-a num conceito: auto-compreenso.
Em grupos ou empresas, a utilidade outra: encontrar o melhor lugarparacadaelemento
desse grupo. Mas, as utilidades dos pers de personalidade cam na mo de quem os utiliza. E novamente a questo tica se levanta, que me leva a armar que, excepo dos contextos legais, os persdepersonalidadedevemserdeacessoexclusivodapessoaquetipicadanessa anlise. No entanto, o facto de assim pensar sobre essa questo tica, no se pode armar que so invlidos. Em muitas situaes podem ser eticamente incorretos, mas isso no signica que sejam objetivamente invlidos. como espiar um vizinho e testemunhar um acontecimento da sua vida privada. Esse exerccio eticamente condenvel, mas isso no torna aquilo que se testemunhou menos real. Considero que elaborar pers de personalidade tem muitas utilidades e pode ser muito pertinente para ns enquanto indivduos, mas tal como milhares de outras coisas, deve car reservado exclusividade da relao entre os intervenientes diretos (quem analisa e quem analisado). No caso de existir interesse, por exemplo, na sua aplicao em gesto de recursos humanos, ento essa questo tica passa para o nvel da relao interna desse grupo. Pode, eticamente, um gestor de recursos humanos analisar ou ter acesso anlise do perl de personalidade de outras pessoas? A minha resposta que no. No deve ter acesso a essas caracterizaes, como no deve ter acesso aos diagnsticos mdicos dessas mesmas pessoas. So elementos do foro privado e ntimo. A nica forma quantoamimticadeelaborarpersde personalidade para gerir um grupo, tendo o consentimento de todos os implicados, havendo interesse na utilidade que esse processo pode ter para si mesmos. Empromoodoexercciodetipicarpersonalidades,defendoasuautilidade,emprimeiro lugar, para o prprio indivduo. Mesmo num contexto de grupo onde exista utilidade para os gestores desse grupo, as maiores vantagens podemserrecolhidaspelaspessoasalvodeanlise. Desta forma, podemos armar com simplicidade que, num contexto de grupo, cada indivduo estar melhor e recolher mais frutos da sua pertena a esse grupo, se a dinmica do conjunto tiver em conta as dinmicas internas individuais. por isto que me entusiasmo o estudo eaplicaoprticadatipicaodepessoas.No pelo voyeurismo que lhe possa ser associado, mas pela contribuio que a compreenso das nossas dinmicas de funcionamento mental, pode oferecer ao bem estar geral e particular.