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MARIA DA CONCEIÇÃO PINTO DA ROCHA

Cronologia da vida

1
de Maria da Conceição Pinto da Rocha1
Etapas

1889 - Dezembro, 16: Nascimento em Viana do Castelo


1901 - Junho, 29: Primeira Comunhão (Viana do Castelo)
1903 - Apelo a consagrar-se a Jesus (Barroselas) (Rep. Exp., 29)
«Votos» privados junto às grades do Carmelo (Viana)
1908 - Vida de S. Teresinha leva-a a oferecer-se como ela (Rep.E,30)
1913 - Doença de pulmões e espinha (Rep.Exp. 30)
1914 - Setembro, 18 Morte da mãe, D. Olímpia Pinto
1917 - Outubro,17: Voto de «vítima» a pedido de Jesus (Rep.Exp., 30-31)
1921 - Escreve o «Tratado de Direcção das Almas Vítimas»
Começa um Movimento de almas vítimas previsto por ela (p35)
1922 - Escreve a Autobiografia, a pedido do irmão Padre
1923 - Fevereiro, 19 Morte do pai, Herculano da Rocha
1930 - Dezembro, 27 Apresentação do «Memorandum» a Pio XI
1931 - Abril, 14 Morte da irmã Joaquina da Assunção (solteira)
1937 - Junho, 14 Morte do irmão Francisco Xavier (solteiro)
1938 - Outubro, 16 Morte do irmão Domingos (casado)
1950 - Escreve o «Memorial a SS. Pio XII»
1955 - Julho, 24 Morte da irmã Maria Luísa (solteira)
1958 - Setembro, 28 Reunião com o Grupo de continuadoras do ideal (RE, 42)
Outubro, 2 Morte da Maria da Conceição Pinto da Rocha

1965 - Fevereiro, 21 Início da Obra em Lisboa (Rep.Exp, 43)


Agosto, 22 Aprovação oficial como «Pia União» e dos Estatutos (RE, 43

RESUMO DA EXPOSIÇÃO FEITA


NA 1ª REUNIÃO DE DOMINGO2
21 DE ABRIL DE 1940

1. A Irmã que recebera de N. Senhor a missão de chamar as almas a esta Obra pediu perdão
a todas as presentes e ausentes, incluindo a seu Irmão (que desejaria ver ali), das faltas de que
houvesse sido causa no passado3.
2. Declarou que, olhando às almas, as via todas como se fosse pela primeira vez, apagando-
se diante dela o passado, bem como a sua pessoa, para aparecer só como alma4. O que era,
morreu...urge nascer para uma vida nova, vida de virtudes, através das quais se revele a
Humanidade Santíssima de N. Senhor. A perseverança neste caminho, depende da
correspondência plena às graças, o que somente se poderá verificar com a morte do "homem
velho."

1º.- ESPÍRITO DA OBRA


1
Esta Cronologia é para ser completada por alguém que conheça melhor a vida, pessoas e acontecimentos relativos à
Fundadora e às suas Obras. Seria muito útil colocá-la antes das Circulares, para orientação dos leitores que não
conhecem a pessoa e assuntos
2
História desta 1ª reunião: Finalidade? Quem a convocou? Onde? Quantas pessoas participaram? A que grupos
pertenciam? História desses grupos? Etc.
3
Quem foi a redactora desta Acta?
4
Usa muito esta diferença entre pessoa e alma. «Pessoa» parece ser a pessoa exterior (a do bilhete de identidade e
da classe social, etc); «alma» parece ser a pessoa interior (a pessoa espiritual, baptismal, etc). É uma linguagem
parecida à de S. Paulo, quando distingue o «homem interior» e o «homem exterior» (Cf. 2Cor 4,16; Rom 7, 22)

2
3. O espírito da Obra é o espírito de vítima5.
4. Ser vítima é " incarnar Nosso Senhor, padecendo e morrendo."6 - " é a morte a tudo, a
todos e mormente a nós próprios."
A nós próprios porque não somos vítimas inocentes, mas sim culpadas. Antes de reparar
pelos outros, devemos expiar7 os nossos próprios pecados, pois entramos no rol dos pecadores
por quem outras almas se imolam. A alma vítima é um pó que todos têm o direito de pisar, sem
que possa reclamar, aliás sairia do seu caminho.
Reparar os pecados do mundo inteiro e das almas de todos os tempos, consiste em oferecer-
se a Nosso Senhor, renunciando a todo o gozo dos sentidos, ao seu juízo, vivendo unicamente no
gosto de fazer bem aos outros, na humildade e mansidão...na caridade perfeita...
Estará cada uma disposta a nada recusar a N. Senhor? A entrar nesta clausura onde não há
desculpas?... É de crer que sim, dado o Noviciado longo que tiveram.

2ª.- PESSOA ESCOLHIDA - SUA MISSÃO

5. Nosso Senhor põe à frente desta Obra " Uma alma pobre e ignorante." Apenas poderá
falar como alma. Deste modo, quer Nosso Senhor assim ensinar a humildade, fazendo curvar o
talento natural perante a sua pobreza. Esta sofre menos; sofre mais o talento porque, consciente
das suas luzes, terá de se sujeitar no meio de grandes lutas. " Vão ter muitas dificuldades. Não
para a alma, mas sim para a natureza, que terá horas muito aflitas pela luta entre a alma e o
próprio juízo." " Esta obra não quer cabeça."
6. Disse ainda que seria instrumento de provação, mas que ninguém desanime, porque antes
de provar, foi provada, passando pelos maiores desamparos de fora e de dentro, pelas mais
penosas privações. Assim sucedeu para poder presentemente estender a mão a todas as almas,
sem espanto, sem repugnância.
7. Declarou que tomava um lugar que até ao presente havia rejeitado, constituindo-se serva
de todos, não sendo digna de trabalhar na vinha do Senhor. Que aceitava mais este Purgatório,
pois que " recolhendo a dor de todas as almas, nem a todas poderá dizer toda a sua própria dor
porque nem todas a poderão compreender."
8. " O meu papel, a minha missão é de um trapo: sou um trapo velho, sou pó, cinza e nada,
mas ao mesmo tempo posso tudo n'Aquele que me fortifica, suplicando a Deus para esta Obra a
sabedoria, a santidade, o bom discernimento dos espíritos. O " trapo " é para limpar a casa,
enxugando a água. " A minha casa são as almas." Irá pois entrar até aos defeitos mais subtis, às
imperfeições mais insignificantes para as limpar, aconselhando o mais perfeito. " Estais dispostas
a aceitar o " trapo velho "?

5
Conceito de vítima e seu espírito: é o da oferenda do próprio Jesus logo ao entrar no mundo (Hebr 10,5-10), isto é,
oferecer-se não tanto para sacrifícios e holocaustos, mas sobretudo para a Vontade de Deus em vez dos que a
recusam. Ou como diz a epístola aos Romanos, oferecer-se para a obediência de Um só, pela desobediência de
muitos (Rom 5,19). Ver também Rom 12,1-2: «Oferecei vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus…
E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos renovando a vossa mentalidade, a fim de poderdes
discernir qual é a Vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito»
6
«Padecendo» o que Deus quer e não o que nós queremos; «e morrendo» ao nosso querer para querer o que Deus
quer. É o que significa evangelicamente: «quem me quiser seguir, abnegue-se a si mesmo («morra» a si mesmo),
tome a sua cruz («padeça» a sua cruz) e siga-Me»
7
«Expiação» é a parte negativa da «reparação». Reparação, teologicamente é «a participação dos fiéis na obra
redentora de Cristo». No seu aspecto positivo, pode ser, segundo os casos, de restauro, ressarcimento, satisfação. No
seu aspecto negativo, é a expiação do pecado, a parte de pena: a parte de castigo de quem não consegue compor todo
o mal feito. Que a reparação seja uma tremenda necessidade, toda a Bíblia e toda a história o demonstram, desde o
pecado de Adão até aos nossos dias. Na tradição cristã, assume particular relevo a partir da Alta Idade Média (cf. S.
Boaventura, S. Matilde, S. Gertrudes) e passa a maior divulgação com S. Margarida Maria. O documento que a
tratou mais longamente foi a encíclica de Pio XI, Miserentíssimus Redemptor (1928) (Cf. Max Taggi, Messaggio del
Cuore di Gesù, Jun 2007) Cf também a doutrina da satisfação ou penitência do Sacramento da Reconciliação.

3
9. Responderam todas com um " sim." Este " sim ", que no dia seguinte seria colocado por
escrito no altar, foi o início desta Obra que, a essa hora, 7 e 45 minutos (hora de Verão), foi dada
como fundada.
10. Manifestou a sua consolação por a todas ver bem dispostas. " Nasçamos de novo de um
estreito abraço de umas às outras. Abraço de alegria, de confiança e de paz.

3º.- MEIOS

11. Para conseguir este espírito impõe-se a prática das virtudes próprias //l// desta Obra:-
humildade - caridade - paciência - mansidão e obediência.
12. 1º.- Humildade - é o abandono, à imitação da infância de Nosso Senhor, no tocante à
inteligência, coração e vontade. É o caminho de renúncia total de si mesma, formando em nós
como que uma segunda natureza. À medida que se efectua este despojamento completo, a luz de
Deus vai inundando a alma e o esforço é cada vez mais suave.
No princípio somos noite: as lutas são dolorosas e o auxílio parece quase nulo. Em seguida
somos noite com estrelas: começamos a ter uma compreensão mais nítida das coisas de Deus. O
odioso da luta abranda. Vem depois a noite com luar: embora ténues sombras da natureza ainda
se espalhem sobre a alma, esta goza da luz de Deus e o sacrifício é suave. Por fim sucede-se à
noite o dia radioso em que, dominada pela natureza, a alma goza o Céu na Terra.
13. 2º.- Caridade - Caridade com o próximo. Este próximo mais próximo é a nossa alma.
Caridade pois para com a nossa natureza. Educá-la e aos nossos pensamentos e juízos, com
firmeza suave pela persuasão do bem a fazer. Só saberemos e poderemos fazer bem aos outros,
formando a nossa pessoa com caridade que nem violenta nem cede.
14. – - Paciência - É o efeito natural da humildade e da caridade. A natureza deve respeitar
a alma e obedecer-lhe com paciência. A alma por sua vez imporá com calma a sua vontade à
natureza. Assim a paciência será de dentro para fora. Não se alarmará com os movimentos menos
rectos da natureza. Saberá suportá-los dominando-os.
15. – - Mansidão - É a paciência no íntimo da alma nas relações com as pessoas; afastando
perturbações nos nossos pensamentos, juízos e desejos. Ela vem do desprendimento calmo e
resignado, sem nunca ser escrava de nada, nem de ninguém. O coração deve ser independente,
deve estar acima de tudo e só abaixo de Deus. Deste modo a alma não tem desgostos que vêm de
separações impostas.
16. – - Obediência - Ao falar desta virtude, declarou a Irmã que a sua própria obediência a
Deus é a mais custosa porque a sujeita a cada alma em particular. É a serva de todas e como tal
será para todas Amor e Caridade. Mas por seu turno, as almas têm de se submeter inteiramente.
Compreende-se. Exige Nosso Senhor que administre as Suas propriedades (as almas), e o
feitor para conhecer os seus poderes e os trabalhos a fazer, não consulta os operários, mas sim o
proprietário ou a procuração que recebeu. Sendo assim exige de todas as almas a promessa de
obediência diante de Nosso Senhor, a Quem todos os dias renovarão o Oferecimento. "Prometem
obedecer a um trapo, renunciando à sua liberdade, assim como eu renunciei à minha? Estais
decididas?"
Todas, cada uma por sua vez, prometeram obediência. "As nossas almas imoladas devem
olhar para o Sacrário, para viverem a vida simples e oculta que Nosso Senhor nos ensina e mostra
naquele silêncio." Se o demónio vier com dúvidas e tentações, não dar ouvidos e... se por ventura
sucumbirem, serem prontas em o manifestar.
17. Confiar em Nosso Senhor, confiar umas nas outras, na paciência, na caridade e na
obediência, suportando-se mutuamente, edificando-se pela virtude. Não voltar ao passado, mas
esmagar a serpente desse passado, a exemplo de Nª. Senhora. Só assim se salvam as almas, não
com palavras mas com o exemplo. Deitar fora os trastes velhos e mobilar de novo a casa."
18. Dirigindo-se à M.A. mostrou-lhe a sua missão junto dela. Queria-a a seu lado para a
ajudar junto das almas, nela delegando a sua alma para falar a todas, sempre que fosse necessário,
pois não podia estar sempre presente. Portanto que lhe confiava essa missão para a qual devia ter

4
coração de mãe, bondosa e carinhosa; sem esperar que as almas venham ao seu encontro, fosse a
sua ao encontro delas, chamando-as ao dever. Que seriam muitas as lutas e as provas que sentiria,
mas N. Senhor a ajudaria a vencer. À imitação de N. Senhor como Bom Pastor, deixará as
noventa e nove para ir ao encontro da ovelha tresmalhada.
19. "Agora entro para a agonia com as suas almas.
Adeus ó mundo, adeus ó terra, adeus tudo o que em vós se encerra.
Doravante só quero a Cruz.
Morra o meu "eu" e viva Jesus." 8

NORMAS PARA O REGULAMENTO

20. A alma desejosa de viver o espírito desta Obra, renovará diariamente o seu
oferecimento de imolação total de si mesma em expiação e reparação pelos próprios pecados e de
todo o mundo.
21. Seguirá os exercícios de devoção comuns às almas piedosas. São eles:
Orações da manhã e da noite
Meditação
Saudação Angélica
Terço do Rosário
Leitura espiritual
Visita ao SSmo
Exame de consciência
22. Como práticas próprias a esta Obra:
1º.- Oferecimento diário;
2º.- Ao bater das horas renovação do mesmo oferecimento
3º.- Consagrar cada dia da semana com as seguintes devoções:
Ao Domingo Acto de reparação
Às segundas - feiras De profundis
Às terças - feiras Miserere
Às quartas - feiras Oração e ladainha a S. José, Patrono da Igreja
Universal.
Às quintas - feiras Hora Santa, Consagração e ladainha ao S. Cor. de
Jesus.
Às sextas - feiras Via Sacra, Stabat Mater.
Aos Sábados Magnificat.
23. Virtudes essenciais ao espírito desta obra:
A Humildade - renunciando a si própria constituindo-se serva de todos.
A Caridade - no desprendimento total pela completa doação ao próximo.
A Paciência - aceitando as fraquezas do nosso próximo que também são as nossas.
A Mansidão - vencendo em nós todos os movimentos revoltos da natureza, tornando-a
dócil à graça.
A Obediência - na submissão completa à Vontade SSma de Deus manifestada pelos
Superiores. //l//

∗*****∗*****∗
" Se alguém quiser vir após Mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua cruz,
e siga-Me! " ( S. Mateus 16, 24 )

8
- Eram 8,30h da tarde, hora de Verão //2//

5
RESERVADO AO 1º. GRUPO9

24. A consagração de obediência será renovada 3 vezes ao dia: ao acordar, ao meio-dia, ao


deitar. A fidelidade ao regulamento parte da fidelidade da alma à vontade de Deus. No dia em
que voluntariamente não renovar o acto de obediência comunicará a razão do sucedido à Irmã.
25. Afastando o perigo de as almas se desviarem do cumprimento disciplinar das " normas "
e sobrevindo a tentação consentida contra os Superiores ou Irmãs, além de três vezes. Observarão
o que a seguir se indica:
- é exigido absoluto segredo sobre toda e qualquer pessoa ou documento desta obra que lhe
seja confiado.
- às reuniões mensais do "conselho" só podem assistir as que se consagraram.
- dos assuntos tratados na reunião nada podem revelar, mesmo às do 2º grupo.
- às reuniões mensais do 2º grupo devem procurar assistir as do 1º.
- o Evangelho ser o livro espiritual por excelência, aonde a alma deverá conhecer cada vez
melhor a Humanidade Santíssima de Deus.
- estas " normas " não podem ser alteradas.
As almas escolhidas para viverem este espírito são exclusivamente aceites pela Irmã.
- em qualquer dificuldade imediata podem recorrer à M.A. como delegada da Irmã
21 de Abril de 1940 //2//

NORMAS DO 2º GRUPO10

26. lº.- Renovar diariamente o oferecimento de imolação total de nós mesmas, em expiação
e reparação pelos próprios pecados e de todo o mundo.
2º.- Rogar a Deus pelas necessidades da Santa Igreja e do Sumo Pontífice.
3º.- Sufragar as almas do Purgatório.

27. Segundo estas características, observar os exercícios de devoção comuns às


almas piedosas. São eles:
oração da manhã leitura espiritual
meditação visita ao Santíssimo
Saudação angélica exame de consciência
terço do rosário oração da noite

28. Como práticas próprias:


Consagrar cada dia da semana, da seguinte forma:
Ao Domingo ou dia santificado Acto de reparação pelos pecados do mundo inteiro em
especial pela profanação deste dia
À segunda – feira " De Profundis " de manhã e à noite sufragando as almas do Purgatório
À terça - feira " Miserere "
À quarta - feira Oração a S. José pelas necessidades da S. Igreja
À quinta – feira Hora Santa em desagravo das blasfémias contra a SSma Eucaristia
À sexta – feira Via-Sacra, 7 Avé Marias às Dores de Nª Senhora para alcançar a graça da
humildade
Ao Sábado Visita a Nª. Senhora implorando todas as graças sobre nós e as nossas famílias,
o Santo Padre e o mundo inteiro.
Renovar o oferecimento diário ao bater das horas.
29. Virtudes essenciais:
A Humildade - renunciando a si próprias, constituindo-se servas de todas.
A Caridade - no desprendimento total pela doação completa ao próximo.

9
Quem são as deste 1º grupo?
10
Quem são as deste 2º grupo?

6
A Paciência - aceitando as fraquezas do nosso próximo que também são as nossas.
A Mansidão - vencendo em nós todos os movimentos revoltos da natureza, tornando-a
dócil à graça.
A Obediência- na submissão completa à Vontade SSmª de Deus manifestada pelos
Superiores. //13//
30. OFERECIMENTO

" Padre Eterno, aceitai-me em união com Jesus Vítima,


pelas Mãos de Maria Santíssima, Mãe do Divino Redentor
e Mãe dos Homens junto à, Cruz, em expiação pelos meus
pecados e em reparação pelos pecados de todo o mundo.

Rogo-Vos pelas necessidades da Santa Madre Igreja e, em


especial, do Sumo Pontífice.
Abençoai a nossa Pátria, santificai as nossas famílias,
assisti aos moribundos e concedei às Almas do Purgatório
o alívio de suas penas." //4//

" Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! "
(Mat.16,24 )

31. Humildade - É o conhecimento da própria miséria que devemos ter sempre presente,
aceitando e até desejando ardentemente as humilhações, os despresos como graça donde nasça a
verdade e a luz para as nossas almas. Descobrir as subtilezas da nossa soberba, do nosso amor
próprio que por vezes se esconde debaixo das aparências de virtude.

32. Caridade - Caridade para connosco, imprimindo em todas as nossas acções o princípio
da nossa criação à imagem de Deus. Respeitar em nós mesmas a pureza da nossa alma e os seus
direitos, na delicadeza de maneiras, de gestos, de olhar. Caridade que eduque os sentimentos
naturais e sobrenaturais numa profunda humildade.
Caridade para com o próximo nas palavras, nos pensamentos e juízos para quando falarmos
com as pessoas, nos inspirarmos sempre nos sentimentos de compaixão - chorando com os que
choram, consolando e confortando-os nas suas penas e dores, visitando-os ainda, na doença e na
aflição, falando-lhes de Deus e por ela rogando ao Senhor.

33. Paciência - A paciência deverá vencer em nós os movimentos da própria natureza,


ensinando-a a suportar-se a si mesma para suportar as penas dos outros. Habituará a nossa razão e
a nossa inteligência a ver tudo com paz e em paz, sem exaltação, tornando-a sujeita e reflectida,
sem contudo lhe tirar a acção.

34. Mansidão - Mansidão de coração que regule todos os movimentos da alma


comunicando-lhe agilidade para todos as sacrifícios. Sem ela não existirá o apostolado da
caridade perfeita. Abrandando os impulsos imperfeitos do temperamento fortalecê-lo-á no seu
zelo pronto e perseverante. Receberá com facilidade as luzes da graça. A alma que vive esta
mansidão não se inquieta, mas trabalha e luta em paz.

35. Obediência - " Obediente até à morte e morte de Cruz." Submissão completa de
pensamentos, desejos, aspirações e acções, ainda as mais insignificantes. Vivê-la com espírito de
Fé e Amor, vendo nas indicações dos Superiores a Vontade do próprio Deus. Assim:

7
36. em família: ser anjo de união e de paz na vida oculta da família onde praticarão os
deveres de estado com perfeição, indo até aos actos mais heróicos do sacrifício, imitando a N.
Senhor na Sua vida submissa e laboriosa de Nazaré.
Muita vigilância na maneira de nos apresentarmos em família e diante de todas as almas
pelas quais nos oferecemos a Deus. O maior respeito e modéstia no vestir, seriedade e singeleza;
nada que vá contra a pureza da nossa alma, do nosso coração, dos nossos afectos para com Deus,
dos nossos sentimentos cristãos para com as almas. A nossa própria consciência nos falará à alma
avisando-nos e censurando-nos simples coisas que os caprichos do nosso coração querem ver
bem intencionados.

37. em sociedade: - vigiem a sua atitude em sociedade, nas relações com pessoas de
diferente sexo. Seja o olhar simples, nada afectuoso, puro no seu zelo, cândido na sua
simplicidade. Em todas as nossas relações sermos servas de Deus na pureza das nossas almas,
sem afectos sensíveis. Os sentimentos do coração humano, mesmo sobrenaturalizados, trazem em
si germens de morte que nos tornam inconstantes.
As tempestades dos tempos que correm exigem almas fortes na virtude, na renúncia a toda a
criatura, nas lutas e provas, prontas até para o martírio. A morte da nossa sensibilidade é da nossa
vocação na renúncia ao agradável. Ver nas pessoas não as pessoas, mas as almas em Deus e Deus
nas almas.

38. relações com os sacerdotes: - É do nosso espírito procurar os sacerdotes apenas para
nos instruírem ou examinarem a nossa consciência, e nunca para nos apoiarmos, buscando
acolhimento ou consolação, que é de todo contra o espírito desta Obra.
Procurar o Sacerdote pela Fé e separar-se dele como pessoa, vendo nele //1// só a parte que
representa a dentro disso: respeitá-lo e considerá-lo. Fora disto fugir das intimidades que trazem
imperfeição, dissensão e perturbação de espírito. Em todas as nossas relações com os Sacerdotes,
sejamos servas de Deus, na pureza do nosso olhar, na pureza das nossas palavras, sem afectos
sensíveis, na pureza da nossa maneira de ser, na pureza da nossa abertura de consciência, sem nos
excedermos de modo que a sensibilidade do nosso coração desperte afectos, porque a nossa
formação não é para corações afectuosos, mas para almas abrasadas de Fé, Esperança e Caridade.

39. Resumindo: a alma procurará a sua perfeição santificando-se nas virtudes aconselhadas
acima, sem se apoiar nas criaturas, nos confessores, nas direcções de consciência; nestas só
procurará luz para fugir do erro.

DO ESPÍRITO:- A alma consagrada a esta Obra:

40. 1º.- Identifica-se com Cristo, continuando a Sua missão redentora na imolação total da
sua vontade. Procurará viver imitando fielmente a Humanidade Santíssima de N. Senhor na
submissão perfeita a seu Eterno Pai de que nos deu exemplo na agonia do Horto: " Pai, não se
faça a minha vontade mas sim a Vossa."

41. 2º.- As almas terão como missão especial orar e sofrer pelo Vigário de Cristo na terra,
unindo-se às suas intenções.

42. 3º.- Sendo o sufrágio das almas do Purgatório uma das características desta Obra,
devem as suas orações, esmolas e boas obras serem aplicadas às mesmas almas do Purgatório
para alívio das penas. Quando não puderem dar a esmola material que lhes for pedida, darão a
esmola da oração, pedindo ao Senhor as graças para aqueles pobrezinhos e que deparem quem os
possa auxiliar. Animadas do mesmo espírito terão sempre uma palavra de conforto, um conselho,
levando as suas almas a confiar em Deus.

8
43. CONSAGRACÃO DE OBEDIÊNCIA

Padre Eterno em união com Jesus Cristo, Vosso muito Amado Filho no Horto, nós
repetimos - n'Ele e com Ele - o acto de aceitação à Vossa Santíssima Vontade: - " Pai, não se
faça a minha vontade mas sim a Vossa."
21 de Abril de 1940 //2//

44. FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Convido todas as nossas Irmãs para honrarem este dia com uma novena preparatória, cheias
de fé e confiança, suplicando ao S. C. de Jesus, por intercessão de Sua Mãe Santíssima, todas as
virtudes que as façam verdadeiras discípulas e apóstolas do Seu divino Coração. Intenções
recomendadas:
1º.- pedir a graça da realização desta Obra para maior glória de Deus e salvação das almas.
2º.- pedir pela paz.
3º.- pedir a assistência do Divino Espírito Santo com todas as graças de fortaleza para o
Santo Padre. Que N. Senhor o conforte nas Suas angústias.
Dentro da novena que cada uma fizer segundo a sua devoção, incluirão a ladainha do
Sagrado Coração de Jesus e a Consagração do género Humano ao Sag. Coração de Jesus,
ordenado por S.S. Pio XI: " Dulcíssimo Jesus, Redentor do género humano, lançai sobre nós..."
No desejo de as entregar especialmente no dia da festa às misericórdias do Seu divino
Coração, não só as que hoje conhecemos mas todas as almas que virão a fazer parte desta família,
mando celebrar no templo do S. C. de Jesus, no monte de Sta Luzia, uma missa solene seguida de
Ladainha do S. C. de Jesus e acto de consagração próprio deste dia., a que assistirei consagrando
esta família ao Seu divino Coração. É do meu desejo que aí se celebre também o S. sacrifício da
missa em união de intenções procurando assistir todas as que puderem. As despesas da Missa
aqui celebrada serão repartidas por nós todas, cada uma segundo a sua vontade e os seus
recursos, para que cada uma também tome parte activa nesta cerimónia.
20 de Maio de 1940 //1//

45. No dia do SSmo Coração de Jesus, para o qual todas nos preparámos pela novena para
solenizar as misericórdias do Seu Amor Divino, devemos fazer as nossas promessas de fidelidade
inteira, dando-Lhe não só o coração mas mais ainda, a nossa vontade toda. Dar sem ficar nada
para nós próprias. Dar-Lhe tudo pelos que nada Lhe dão; pedir pelos que nada pedem; suplicar
pelos que estão esquecidos do Seu Divino Coração, todo amor. Oferecer-Lhe as dádivas
generosas duma alma generosa que sabe ver, segundo as virtudes que são o estandarte da nossa
fidelidade e fortaleza, todo o género humano pelo qual Ele derramou o Seu Preciosíssimo Sangue
e o redimiu. Transformemos a nossa vontade numa submissão perfeita, como Ele Se submeteu a
Seu Eterno Pai. Submissão de coração, de inteligência, tornando a nossa alma um só coração com
Cristo, Senhor Nosso.
46. Transformemos o nosso coração no Coração Santíssimo de Jesus, que na sua
Santíssima Humanidade ensinou aos homens o Amor: " amai-vos uns aos outros como Eu vos
amei." Amor que saía do coração, da transformação do olhar humano num olhar puro, divino,
caritativo, acolhedor, misericordioso e compassivo. Olhar do Céu que se espalhe pela terra como
bálsamo suavíssimo da Caridade, que não conhece criaturas mas a Deus nas mesmas criaturas.
Olhar misericordioso que não conhece receios, impressões, desinteligências fora ou dentro da sua
alma, que esta só conhece a Deus e n'Ele a alma só ama aqueles que Ele ama, a quem perdoou, e
está sempre pronto a perdoar, a esquecer, chamando como Pai aos filhos para junto de Si.
47. Assim a nossa alma neste dia deve olhar melhor para o Coração Divino do Redentor, e
não olhar mais para si, para se dar como Ele ao mundo dos que sofrem e não O conhecem,
privados da doçura da Sua misericórdia infinita. " Vinde a Mim vós todos," disse N. Senhor no

9
Seu amor infinito por todos nós. Vamos a Ele neste dia para sermos d'Ele e só d'Ele. Para sermos
d'Ele temos de ser como Ele é, e foi sempre: A Caridade e o amor pelos homens nosso irmãos.
48. Neguemo-nos a cooperar no imperfeito de nós mesmos para continuarmos a oração
perfeita de N. Senhor no Horto: "Pai, que se faça em Mim a Vossa Vontade." Que a nossa
vontade unida à Sua, seja a oração contínua da elevação do espírito para Deus, vivendo do mais
perfeito, e o mais perfeito é renunciar a nós mesmos, e a todos os pensamentos e acções que Lhe
são desagradáveis dentro e fora de nós. Renunciar ao nosso " eu " vivendo a humildade, caridade,
paciência, mansidão, obediência.
49. Que as bençãos do Seu Divino Coração desçam sobre nós neste dia, em que as nossas
almas no altar Lhe são oferecidas, consagradas. Que o Seu Divino Coração lance sobre nós as
Suas divinas misericórdias e nos apresente ao Coração Amantíssimo de Sua Mãe Santíssima,
como lâmpadas acesas que nunca mais se apaguem para orar, sofrer e amar pelos que A não
amam, não A querem e A expulsam do seu coração, pedindo-Lhe ainda que lance sobre o mundo
um olhar compassivo, suspendendo a Justiça Divina merecida pela revolta dos homens contra
Deus.
50. No seu mês rezemos com devoção durante o dia a jaculatória: " Jesus manso e humilde
de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso." Que N. Senhor lance sobre nós as Suas
Divinas bençãos, sobre as nossas famílias, e sobre a Santa Igreja, na pessoa do Seu Vigário na
terra e no mundo inteiro. Orem por mim, por caridade. Peço que durante o mês de Junho todas
rezemos diariamente a Ladainha do Seu Divino Coração pela paz no mundo e pela conversão dos
pecadores. (Isto farão sempre que puderem).
A todas me recomendo muito.
a) Maria
30 de Maio de 1940 //1//

51. FESTA DOS SANTOS APOSTÓLOS S. PEDRO E S. PAULO


Acompanhando a voz da S. M. Igreja na pessoa do seu Vigário na terra, nesta hora em que
a sua alma chora pelas desditas do mundo e se prostra na oração, no dor aos pés de Deus Todo
Poderoso, a suplicar perdão para os homens ingratos; luz para os cegos que não acodem aos
chamamentos da sua voz paternal; a pedir aos duros de coração que se tornem misericordiosos e
justos; nós, dado o espírito e fim desta Obra que é dar-se imolando-se dum modo particular pelo
Sumo Pontífice, devemos acudir pressurosas ao seu apelo e lançarmo-nos aos pés de Deus Pai
Omnipotente, rogando-Lhe olhe com amor para o Seu Divino Filho, Redentor do género
humano, e conceda à Santa Igreja o dom da fortaleza e Lhe restitua os filhos desgarrados
apresentando-lhe as lágrimas e sangue derramado, todos aqueles que sofrem e se imolam ao
Amor infinito do Coração de Jesus, Salvador dos homens.
No dia dos Santos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, fortalecidas com a sua poderosa
protecção, animemo-nos dum espírito de fé redobrado, tendo presentes a coragem e amor com
que deram a sua vida pela Igreja. A seu exemplo, demos gota a gota aquela vida que eles deram
pelas suas palavras, suas mortificações, seus sacrifícios, esmagando no coração todo o respeito
humano e armando-se da fortaleza de Deus para renunciar a toda a criatura.
52. Ofereçamos ao Senhor, pela paz, o nosso coração para ser a sua morada feita de pureza,
de reparação e expiação através de todas as provas da Providência que devem levantar o nosso
espírito até Deus sem se manchar com as misérias da terra. Para isso, façamos e dêmos tudo com
espírito de fé, de aceitação e amor. Deste modo viveremos não só no pensamento mas nas obras e
em verdade, o nosso acto de oferecimento.
53. Peço a todas as almas, animadas do desejo intenso de interceder pela paz do mundo e
pelo Santo Padre, recitem, no dia 29 do corrente, o acto de oferecimento que vai incluso. Não é
uma imposição; é apenas um pedido.
ACTO DE OFERECIMENTO PELA PAZ
Divino Coração de Jesus, que tanto amastes os homens até dar a vida por eles; por quem
ainda continuais a interceder junto do Vosso Eterno Pai; nesta hora de luta e de trevas em que

10
tantos filhos Vossos erram pelos caminhos da impiedade, da discórdia e de toda a espécie de
iniquidades - a minha alma entristecida pela dor do Vosso Amantíssimo Coração e do Coração da
Vossa Santíssima Mãe - ofereço o meu coração para que se transforme numa morada permanente
de desagravo e de súplica pela paz do mundo, pelo regresso ao Vosso redil das almas desgarradas
que desafiam a Vossa justiça.
Não olheis, Senhor, para os seus crimes, mas sim para o sangue que por elas derramastes;
para as lágrimas da Vossa Mãe junto à Cruz; para os rogos angustiosos do Vosso Vigário na
terra; para o sacrifício de tantas vítimas; para os gemidos de tantos inocentes; para as almas puras
da terra que suplicam perdão e misericórdia...
Fazei que todas as palpitações do meu coração sejam a renovação contínua do meu
oferecimento, implorando pelos infinitos merecimentos da Vossa Paixão e Morte, paz, perdão e
misericórdia para o mundo culpado.
25 de Junho de 1940 //1//

54. Em pensamento assisto hoje, como sempre, a todas as reuniões – que nos devem ter
unidas no espírito de caridade e humildade – sem ver pessoas mas (vendo) o fim e aspiração que
nos uniu para dar culto à glória de Deus e bem fazer ao mundo. Nosso Senhor imolou-Se por nós
ensinando-nos que, seguindo o Seu exemplo nos devemos dar uns pelos outros. Dar é fazer bem;
dar tudo é fazer melhor; renunciar ao coração e aos sentidos é fazer o mais perfeito. Renunciemos
a nós próprias, dentro de nós mesmas ao agradável.
55. Olhemos para tudo, em todos, com olhar de bondade, de misericórdia, de caridade.
Sejamos rectas nos nossos juízos, para sermos justas nas nossas acções. A rectidão que, vendo o
imperfeito não se levante contra a pessoa mas corrija o imperfeito com caridade, com humildade,
com bondade. Este pensamento seja o bater da nossa alma diante de Deus às portas do Seu
Divino Coração, suplicando-lhe que olhe para o mundo, que se compadeça dos homens, pois nós
como criaturas Suas, somos também uma parte do mundo culpado. Culpados somos todos de
tudo, porque nunca demos tudo, daquele todo que Deus nos pede a cada hora, em cada dia.
56. Entremos em nós mesmas, que lá encontramos esse vazio a que chamamos desamparo
de Deus. Nem sempre esse desamparo é desamparo de Deus, mas sim nós que não
acompanhámos os pedidos de Deus para O seguirmos sem discutirmos. Encha-se a nossa alma de
verdade, de caridade, de rectidão e o nosso coração ficará cheio de Deus. Deus sacia o coração
humilde, bondoso, manso, cheio de caridade, de suavidade. Nesta hora em que o mal desafia para
o mal, é necessário viver a virtude com todas as virtudes heróicas, ter pisado aos pés a soberba e
como pobres sem nada, nada do " eu," avançarmos cada uma só com Deus para toda a sorte de
combates fora e dentro, confessando a Fé por Deus. Se dentro não somos fortes com a nossa
própria natureza negando-lhe o agradável, não podemos vencer fora a noite escura das misérias
da fraqueza humana.
57. Que os nossos oferecimentos não consistam em palavras, em desejos que não fizemos
realizar, porque não quisemos o desprezo de nós mesmas. Se não amamos o desprezo do mundo
das criaturas, se não desejamos a solidão do coração para o encher de Deus só, imolando-o pelo
mundo, não podemos compreender nem amar as máximas e conselhos do Evangelho. Muitos
serão os chamados e poucos os escolhidos. Chamados todos fomos por Deus, mas nem todos
quiseram corresponder ao chamamento. Corresponder é morrer a nós mesmas; é não procurar as
consolações de Deus, mas a Deus das consolações, procurá-lo no Horto que os nossos pecados
Lhe prepararam.

58. Que o dia de hoje seja dia de luz e de graças.


Peço encarecidamente que peçam para cada uma em particular a protecção dos Apóstolos e
que a eles se entreguem suplicando-lhes a virtude da Fé, todas as virtudes que nos são necessárias
e numa grande súplica roguemos pelo Sumo Pontífice a quem a dor despedaça a alma pelos

11
flagelos da guerra. Seja a nossa súplica, um pensamento contínuo, dos filhos que choram a dor do
Pai.
Peço-lhes a todas, que nas suas orações, roguem ao Senhor por esta alma que lhes fala no
desejo de as ver a todas verdadeiros membros de Cristo Senhor Nosso.
28/6/1940 //1//

59. O Sagrado Coração de Jesus nos encontre sempre unidas à Sua Santíssima Vontade
aceitando com alegria tudo que vier d'Ele, através de todas as contrariedades e revezes, no
caminho da nossa vida sobre a terra. Como ver a vontade de Deus nos acontecimentos? A alma,
que escolhe o caminho da virtude e da verdadeira piedade, tem de se tornar simples e pequenina,
vendo e aceitando com docilidade tudo quanto possa contrariar o agradável da sua própria
vontade. Para vencer em nós o desagradável, tornando-o agradável, é ver nos acontecimentos um
desígnio da Providência, sem interrogar a mesma porque assim sucede ou irá suceder. Procurar
vencer esse " eu " curioso da nossa razão que discute ou acaba por discutir o futuro com vãos
raciocínios que só acabam por fazer da nossa razão uma razão independente que acabará por não
se submeter aos mesmos desígnios de Deus.
60. A SSma Virgem deu-nos o exemplo. Submeteu-se ao desígnio do Céu, guardando
segredo da Incarnação do Verbo Divino que se fez carne por Vontade do Pai para salvar os
homens. Transportemos o nosso espírito a esse lugar bendito quando a SSma Virgem ao receber a
revelação do Anjo se prostrou como escrava do Senhor, aceitando com doçura a missão, bendita
Mãe de Dores. Guardou segredo para nos ensinar e d'Ela aprendermos, que a submissão ao Pai é
submissão completa, profunda, de todas as nossas potências postas ao seu serviço, para Lhe
prestarmos honra e glória por todos os séculos. A Sua Alma Santíssima começou a via dolorosa
desde a Incarnação porque conhecera quem trazia nas Suas Puríssimas Entranhas de Mãe cheia
de amor puríssimo, santíssimo, e o amor quanto mais puro, mais sofre de amor porque tudo lhe
parece pouco para oferecer ao seu Deus e esse amor puro é aquele que vê em Deus todas as
coisas e que vê todas as coisas em Deus.
61. Formemos a nossa mente em pensar em Deus presente em tudo, em todos os
acontecimentos e destes tiremos para nós luz, verdade, conhecimento e humildade. Os
acontecimentos, que se fazem suceder uns após outros, se tornam benefício do Pai que, velando
pelos filhos, procura para estes os melhores conhecimentos para instruí-los na verdade. Se os
filhos corresponderem, o Pai Se consola no sacrifício levado por eles, encontrando-os dóceis à
Sua Divina Voz, cheia de poder para os ajudar a vencer a própria fraqueza e fragilidade.
62. Procuremos conhecer a vontade de Deus, fazendo a Sua Santíssima Vontade que é:
amar a renúncia total do nosso amor próprio; da nossa soberba, do nosso orgulho, da vaidade que
muitas vezes procuramos, sem darmos por isso nem nos esforçamos por examinar, nas obras de
apostolado, nas mais pequenas acções, tornando sem fruto todo o esforço que nelas empregamos.
Chega a hora em que os acontecimentos da nossa vida nos vão revelando as disposições da
Providência; mas se nós estamos cheias de nós, vazias de amor de Deus – amor ao nosso nada –
recebemos as provas queixando-nos de quem nos prova e, tantas vezes, sem sentimento de
compaixão, de caridade e de amor de Deus.
63. Aproxima-se a novena da Assunção de Nª Senhora, façamos a sua novena com
sentimentos de profunda humildade, de caridade e roguemos-lhe a graça de imitar as suas
virtudes, o Seu amor à Cruz, aos desprezos e humilhações que como Mãe de Deus junto à Cruz
nos soube dar exemplo. Aprendamos n'Ela a dar o exemplo de todas as virtudes, na família, fora
desta ao mundo, para que a nossa oração chegue até Deus como hoje nos ensina o Evangelho do
dia: a oração do humilde chegou ao céu e do soberbo ficou com o soberbo e não deu fruto.

12
Lembramos a todas as nossas companheiras a quem chegar esta circular que, no dia de Stº.
Inácio, supliquem a este Santo a Sua grande protecção contra os demónios, não só para conhecer
as ocasiões perigosas de fugirmos do mal, mas sobretudo daquele mal com aparência de bem.
Encomendo a minha pobre alma à caridade de todas as suas orações.
a) Maria

SETEMBRO 1940

64. Nosso Senhor, fonte de todas as graças exige de nós uma boa disposição para as
recebermos: disposição de vontade, por parte da nossa alma, que em tudo deve respeito e
submissão a Deus. As graças são benefícios imerecidos, porque nunca nos tornamos assaz dignos
de os merecer.
65. E, meditando bem, cada alma terá de confessar o sem número de ingratidões para com
Ele. Ingratidões lhe chamaremos involuntárias, quando nos julgamos sem consciência delas; mas
a minha alma hoje, nos laços que a todas nos unem, queria avisar que são em parte conscientes,
porque abafamos a voz de Deus na nossa alma, que não se cansa de nos chamar ao bem e de nos
avisar para fugirmos do que não é perfeito. Desde que nos desculpamos a nós próprias, não
queremos ver, para não ouvir o convite da graça a chamar-nos à correspondência dos seus
benefícios. Se todas meditássemos nos dons recebidos, como seria mais dócil a nossa
inteligência, inclinando-se à caridade, à humildade e a todas as demais virtudes!
66. Nunca nos examinamos, nos desvios, a nossa razão e, deixando-lhe certa liberdade de
proceder por si mesma, daí muitos movimentos irreflectidos com consequências bem sérias por
vezes. É preciso reflectir em tudo, harmonizando todo o nosso ser de alma a uma cedência
generosa a Deus que, reinando Ele só, domine pelo poder infinito que exerce na alma, todas as
outras partes contrárias; e nunca N. Senhor pode reinar como Senhor de tudo na alma, quando
esta Lhe põe condições. Entremos em nós mesmas e vejamos se, por respeito humano para
contemporizar com o nosso " eu " e com o " eu " do mundo, não temos oposto a Deus condições,
que Deus N. Senhor não pode aceitar; e então, que podem fazer os Seus divinos dons dar na
medida em que recebe? Contemporizamos com o " eu " do mundo, que nos põe condições ao
poder de Deus sobre a nossa alma, no vestir, no olhar, no andar, no calçar, no assentar, no receber
as pessoas, nas conversas, em tudo ? Examinemos bem se temos contemporizado com o " eu " do
mundo e se pusemos condições a Deus na nossa alma e se impedimos que Deus Nosso Senhor
reinasse nesta, com todo o Seu poder. Convido a todas as almas que este mês seja de exame a
todos os dons recebidos, a todas as resistências à luz que Deus lhes tem feito e se não haverá a
corrigir, a emendar uma vida que nem sempre correspondeu ao fim a que nos comprometemos e
que nos é exigida pelas promessas feitas.
67. Não vamos com a corrente da imodéstia, quando falamos com as pessoas, quando
estamos sós, quando nos recolhemos aos nossos aposentos. Lembremo-nos que a alma é sacrário
de Deus. E de nós falarão um dia diante do divino tribunal acusando-nos os vestidos que
vestimos e, como digo acima, tudo o que foi a nossa vida exterior. Nosso Senhor, a divina
pureza, exige da alma que todos os gestos sejam puros, muito perfeitos, e se a alma for
cuidadosa, ela prepara a Nosso Senhor maior liberdade para Ele entrar e habitar num coração
puro. Quero apelar para a generosidade de todas que venham a Nosso Senhor com pureza,
daquela pureza que todas as almas, que de nós se aproximem, a sintam, a respirem. Não devemos
dar ouvidos às condições impostas pelo " eu " do mundo, porque este ainda chegará a mais; e,
antes que ele vá até ao máximo, devemo-nos dispor para lhe pôr desde já um termo, que venha a
ser o modelo da modéstia do amanhã.

13
68. Peço e aviso todas as almas, que o mundo há-de entrar pelas portas dum convento, sem
ruído de palavras; e para que não entre em nós, demos com os seus enganos e não nos deixemos
enganar. A paz e a consolação de Deus só podem descer sobre os que temem a Deus em tudo; e
nós, parecendo-nos que desejamos viver em santo temor, nem sempre vivemos, porque
facilmente nos desculpamos e, na desculpa, muita vez há cegueira. Dir-me-ão que não conheço
bem as dificuldades no meio //1// da sociedade, por pertencer à classe humilde; mas nós temos de
ver o que Deus exige de nós e, dentro dessa exigência, examinando os perigos que corre a virtude
da santa pureza, olhemos a esta e tudo façamos por ela. Os puros farão que outros se façam puros
e os que não são levarão outros com eles. Portanto examinemos a pureza dos sentidos e se
encontrarmos nestes alguma coisa que não nos deixe de todo tranquilos, contentes de que Deus
nos pode chamar de noite, de dia se estaremos sempre prontos a partir sem pedir tempo para
reparar alguma coisa que não está bem na perfeição de pureza, de modéstia, vamos a corrigir e a
fazer reparação das nossas faltas. Muitas vezes nos queixamos que N. Senhor está ausente e
quantas vezes acontecerá porque nos encontrou ocupados de negócios que não nos pertenciam.
69. No mês de Setembro dedicado aos devotos de Santa Teresinha, supliquemos-lhe que
nos ensine a viver a sua humildade, a sua pureza, a sua candura: que nos ensine a vida de Fé, vida
de abandono, a graça da inteligência sobrenatural que regule os movimentos do coração para
Deus, ardendo em caridade para com o próximo. Acompanhemos com espírito de devoção todos
os dias que a Santa Igreja indica como mais solenes em devoção e nesses dias renovemos as
nossas promessas, suplicando as graças de conversão dos defeitos, das nossas infidelidades e
resistências às graças de Deus. Somos pecadores e como tais reparemos a N. Senhor porque as
faltas cometidas de infidelidades causarão bem amargura no Seu divino Coração que, muitas
vezes, nos devera ter olhado com tristeza aflita, encontrando-nos mais ingratos do que o mundo
que O não conhecia. Que a morte de Santa Teresinha, no meio de tanta agonia interior, nos
ensine a amar as cruzes pequeninas e a morrer ao mundo, a todas as coisas e a nós mesmas.
Pesam a Deus Nosso Senhor por mim.

a) Maria //2//

70. Demos princípio, no dia 21 de Abril, à ideia de vivermos umas " Normas " que, da parte
de todas, tantas vezes foram pedidas. Essas " normas " foram entregues a cada uma em Maio, a
título de experiência. São passados cinco meses e hoje venho pedir a cada uma, que diante de
Deus, com inteira liberdade, que sempre tenho dado a todas, me digam com sinceridade e
lealdade o que pensam sobre as " Normas " que lhes foram distribuídas.
1º.- Se estas " Normas " satisfazem a aspiração de cada uma.
2º.- Se vêm nas suas almas algum proveito na circular mensal.
3º.- Se é da vontade de cada uma ter a " folha mensal " e se ela as tem ajudado à prática
da vida de piedade.
4º.- Quais os benefícios tirados das reuniões mensais e se é da vontade de cada uma
que elas continuem.
Peso mais uma vez às suas almas o maior escrúpulo em dizer a verdade do que pensam,
com a liberdade que sempre lhes dei, no desejo de conhecermos e cumprirmos a vontade de
Deus.
29 de Setembro de 1940.//1//

CIRCULAR

71. Neste mês, em que nos propomos continuar a seguir as Normas, segue também esta
circular que será sobre o dom da Fortaleza. Não podemos seguir a N. Senhor sem sermos fortes
de vontade e a vontade só é forte e generosa quando procuramos viver a Deus Nosso Senhor no
nosso coração, na nossa inteligência, e que todas as potências da nossa alma – sem discutirem,

14
sem quererem dar ordens à própria inteligência, em tudo humildes e simples – vivam, nas
potências, as potências divinas do amor, da submissão, da simplicidade e caridade.
72. A fortaleza é uma virtude que não vem só pela oração, mas também vem e, sobretudo,
pela convicção do dever para com Deus, para connosco e para com o próximo. Para com Deus,
dando-Lhe tudo sem guardar nada para nós; para connosco, procurando viver o mais perfeito; o
mais puro nas nossas potências, em todas as nossas faculdades, de modo a que todo o nosso ser
por inteligência, seja verdadeiro templo vivo de Deus. Para com o próximo, vivermos para este,
dando-lhe vida, vida de Deus, por meio da palavra, mas sobretudo do exemplo, fugindo de todo o
género de morte que venha dele para as nossas potências.
73. A fortaleza só pode habitar numa alma que não só conheceu a Deus, mas sobretudo que
compreendeu com a sua inteligência o dom de Deus. Porque quando se procura a Deus, mas não
se faz por compreender o dom de Deus, a luz que é Deus, está longe da nossa inteligência. E
então começamos nós a querer entender com o nosso próprio juízo, julgando a Deus nas suas
obras que muitas vezes, estas, feitas por nós mesmos, de Deus só terão a intenção, também feita
por nós, mas nunca que Deus Nosso Senhor fosse Ele a obrar em nós. Porque não tendo nós
querido compreender a Deus, na nossa alma, Ele não pode fazer em nós como devia ser feito e
passamos nós a fazê-lo em tudo, buscando para a nossa vontade só o nome de Deus. Daí a
fraqueza de vontade, que nos inclinamos a ir mais pelo nosso próprio entendimento, por não
querermos contrariar o que nos parece, por esse meio, mais fácil de conseguir e de vencer a nossa
própria vontade.
74. Ao recomeçarmos a vida mais activa do que nos propomos seguir, faço um apelo a
todas as almas para que se lancem no conhecimento das coisas de Deus, entrando pela porta da
humildade, de compreenderem o dom de Deus; que dessa disposição suave e humilde conhecerão
melhor a Nosso Senhor, que resiste aos soberbos de coração duro e se dá aos humildes que
compreendendo as Suas misericórdias foram verdadeiros templos de Deus vivo, aonde o Seu
amor não sofreu resistências. O humilde é forte porque se apoiou no Deus de toda a fortaleza, não
temendo os homens com suas ciências e tempestades do seu poder temporal.
29 de Outubro de 1940 //1//

1 DE NOVEMBRO DE 1940

75. Estamos no mês especialmente consagrado aos sufrágios pelas almas do Purgatório. E
porque todos temos lá pessoas que nos são queridas, este mês devemos especialmente consagrá-
lo a esse dever de gratidão, lembrando-nos de todos, porque todos são nossos irmãos. Sejamos
generosas para com as almas do Purgatório.
76. No dia 24 deste mesmo mês, unamo-nos às intenções do santo Padre, consagrando este
dia ao que ele pede a todo o mundo: que os Padres seculares e regulares, celebrem a Santa Missa
segundo as suas intenções, que são estas: sufragar a alma dos mortos desta guerra, pedir a Deus a
paz para o mundo e para todos os aflitos, atribulados e dispersos pela mesma guerra. Foi este o
pensamento de sua Santidade em dia de Cristo-Rei. É pois nosso dever, de filhas da Santa Igreja,
unirmo-nos às suas intenções.
77. Sendo, também, do espírito da Obra socorrer os pobres envergonhados, vou dizer o que
penso, sem que isso se torne obrigação para qualquer alma, que neste caso seguirá a indicação
que N. Senhor lhe der e só a essa deve ser fiel. Sufragando as almas do Purgatório em geral, uma
vez por mês, oferecermos uma estampilha para uma família envergonhada, na intenção de
pedirmos a N. Senhor também a graça do espírito de pobreza e o desprezo das coisas do mundo.
Por se encontrarem junto à casa aonde se reúnem, para descansar, dois velhinhos na maior
necessidade, por serem vizinhos, por agora, os devemos preferir. O que acabo de expor, não é um
pedido mas sim uma ideia que cada uma, livremente, poderá ou não seguir.//1//

15
78. Continuamos nesta circular a preparar a nossa fé para receber do Pai celestial os dons
do amor que nos deu no Seu Divino Filho, pelo nascimento em Belém, depois (pela) morte de
cruz os seus méritos infinitos, para sermos, com Ele e por Ele, instrumentos de amor e caridade
para com o próximo.

79. A novena de Nª. Senhora nos prepara para purificar as nossas intenções, para dar à
nossa alma a docilidade de bom entendimento, para que, na meditação das Suas virtudes de
humildade, de submissão à voz do Anjo, ( para ser Imaculada pelo nascimento do Divino
Salvador)11, nos ensine a submissão, a confiança de acreditarmos, não nos nossos juízos mas nos
exemplos que nos deixou. A nossa alma por Ela, com Ela, suba submissa aos pés de Deus a
confessar-Lhe a mesma fé e confiança de acreditarmos na sua palavra que é amor, perdão e
misericórdia!
80. Amor! O amor nasce da fé e a fé não tem outro quadro de imitação senão crer. Quem
crê ama, e o amor é a vontade firme de não vacilar, nem para o mal nem para o imperfeito,
conhecido como tal. Portanto o amor, a sua prova está na vontade e a vontade é Deus na fé. Nª.
Senhora na Sua Puríssima e Imaculada Conceição deu-nos o exemplo do amor e da
confiança, //1// porque acreditou no Anjo (que ficaria Imaculada)12. Acreditou porque era um
coração puro; porque amava e o seu divino amor não a fazia duvidar, porque era amor forte,
capaz de todos os sacrifícios do martírio e (de) oferecer-se no nascimento do Divino Salvador a
ser a Rainha e Mãe da dor! A fortaleza foi seu arrimo; o seu amor, a Sua vitória divina,
santíssima, puríssima e perfeita em toda a extensão da palavra.
81. Bendita entre todas as mulheres! Porque deixou o exemplo perfeito de filha submissa,
de Esposa e Mãe junto à cruz. Como filha na obediência a seus pais, aprendamos a caridade, a
paciência, a humildade precisa para com os que nos pertencem. Como Esposa do Divino Amor,
contemplemo-l'A na sua Pureza Imaculada, revestida do divino sol que os nossos olhos não
podem contemplar sem ficarem sem ver, porque não se pode ver o que vai acima de todo o
criado. Mas deixou-nos ver13 o que Ela nos ensinou a ser: amor e fortaleza. Como Mãe ensinou-
nos o amor aos homens nossos irmãos, o amor de caridade no trato com o mundo culpado ao qual
nós também pertencemos14, (o amor em) imolarmo-nos por nós e pelos outros: não numa vida
para os outros verem, mas (vida) no silêncio junto à cruz, como se cada um existisse só no
mundo sem contacto com qualquer outro que15 nos viesse desviar, distrair, perturbar desse
silêncio só em Deus! Junto à cruz foi a Mulher Forte, a Mãe da Dor no seu divino silêncio, a que
se imolou, com Seu amado Filho, numa agonia suprema de amor forte de Filha do Eterno Pai, de
Esposa do Divino Espírito Santo, e Mãe do Verbo feito Homem por amor aos homens16. Ela
também teve um coração como o nosso: sentiu, angustiou-se na soledade para nos dar exemplo
de fortaleza nas maiores dores. Mas meditemos que a fortaleza nasce duma alma que não resiste
ao dom de Deus porque foi humilde, duma humildade da extensão dos mares da terra e dos céus!
82. Honremos a Mãe que, pelo Seu amor e dor, aceitou em Belém (e) junto à cruz, todos os
homens, como filhos Seus e depois lhes disse: " Eu sou a Imaculada Conceição. " Sou Imaculada,
que não posso ver mancha no amor que dei ao Eterno Pai, de Quem sou Filha, que dei ao Divino
Espírito Santo de quem sou Esposa, que dei a meu amado Filho de quem sou Mãe. Imolei-me
sem condições. Dei-me, sem perguntar ao anjo para que (é que) me ia dar. Mas dei-me porque
amei, amava e //3// não recusei nada. Fui pura e Imaculada porque os meus olhos não podiam
sofrer mancha e o meu coração só amou a verdade! Meditemos nesta novena o que foi a pureza

11
Este inciso não faz sentido e parece errado
12
.«que ficaria Imaculada»: confusão popular de ser «Virgem» na geração e parto do Filho, com ser «Imaculada»
na conceição dela mesma; confusão igual à do inciso anterior.
13
Lit. «para vermos».
14
Lit. «do qual nós também pertencendo a esse número»
15
Lit. «como se cada um ser fosse um só a existir no mundo sem participar doutro ser que…»
16
Lit. «Junto à cruz a Mulher Forte foi a Mãe da Dor no seu divino silêncio, quem imolou depois de seu amado
Filho, a agonia suprema do amor forte de Filha do Eterno Pai, de Esposa do Divino Espírito Santo e Mãe do Verbo
feito Homem por amor aos homens»

16
do Seu puríssimo Coração, a gloriosa ascensão do seu amor ao amor sempiterno. Nunca vacilou
junto à cruz porque era forte, e forte porque amava. O amor do Seu puríssimo Coração foi sempre
a agonia duma alma Santíssima, que da terra só conheceu as belezas do Criador. Na terra, o seu
martírio elevou-se aos confins do firmamento, chamando, clamando, pela sua dor e pelo seu
amor, Àquele que disse17: vinde a mim todos, que convosco estarei até ao fim dos séculos!

83. A Ela, que nos leva ao cumprimento das verdades da Fé, peçamos-Lhe o dom da
caridade, da humildade, da fortaleza e do bom entendimento. Peçamos-Lhe um amor puro, sem
mistura de humano, que nos torne fortes no cumprimento de todas as demais virtudes, na morte a
nós próprias, e duma inteira submissão à voz de Deus, que nos chama pelos caminhos da
humilhação e dos desprezos à re-(...) //4//
( Incompleto )

DIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO


8 DE DEZEMBRO DE 1940

84. Sendo do dever de filhas reconhecidas e gratas ao amor de tão boa Mãe na dor que por
nós levou desde a Encarnação do Verbo de Deus, feito homem nas Suas puríssimas entranhas,
honrá-La e Coroá-la de glória num preito de amor filial dos nossos corações, convido a que cada
uma de nós se prepare convenientemente, por meio da sua novena, com orações e sacrifícios, a
renovar, no Seu dia, a consagração dos nossos corações ao Seu Imaculado Coração, suplicando-
Lhe que do bálsamo da Sua pureza imaculada desça sobre nós a graça dum coração generoso e
puro. Cada uma de nós renovará, no dia da Sua festa, a consagração total da sua vocação, para ser
serva humilde e fiel na cruz e no calvário, acompanhando o Seu puríssimo e imaculado coração
na dor das afrontas recebidas, prontas com o auxílio da sua graça a defendê-la em toda a parte
como nossa Mãe e nossa Rainha.

85. Nesse dia peçamos-Lhe muito pela paz do mundo, segundo as intenções do Santo Padre.
Estendamos o nosso pensamento de compaixão e de caridade pelo mundo inteiro e dele
colhamos, pela dor que o aflige, o desprendimento do mundo e das criaturas para vivermos da Fé
pura, sem misturas de humano. Oh, Maria, refúgio dos pecadores, consoladora dos aflitos, olhai
Senhora, para este mundo culpado e, pelo Vosso puríssimo Coração que ardeu em chamas de
caridade pelos homens e ainda nos olhais misericordiosamente lá do Céu, lançai um olhar
salvador sobre nós: pelo Vosso puríssimo Coração, dai-nos a paz segundo as intenções do
Vigário de Jesus Cristo na terra! Salvai-nos, Senhora Nossa, pela Vossa Puríssima e Imaculada
Conceição. //l//

CIRCULAR

86. Estamos (ainda) na novena de Nossa Senhora. Ela nos deve preparar para a Novena do
Menino Jesus que, como Salvador, desceu sobre as palhinhas de Belém para nos ensinar a sermos
pequeninos e desprendidos dos bens da terra. Nossa Senhora, aceitando os trabalhos e sacrifícios
de Belém, nos ensinou todas as virtudes que uma alma generosa e forte podia jamais fazer como
Ela própria fez. Deve ser o seu exemplo e o de S. José o modelo divino a imitar na nossa vida de
piedade para aqueles que querem cumprir bem os seus deveres de estado, para aqueles que
querem ser perfeitos, que querem santificar-se no grau mais elevado de santidade.
87. No recolhimento de uma alma que tem fé, subamos, pelo conhecimento do nosso nada,
até ao todo de Deus, até onde possa nossa alma, na morte a si mesma, contemplar e viver aquela
vida que nos ensina a SSma Virgem e S. José no presépio de Belém, em adoração ao nascimento e
infância de Jesus. Como Stª Teresinha, que nos diz na sua vida que foi lá aprender a infância
17
Lit. «aquele vinde…»

17
espiritual, pois vamos lhe pedir que nos dê aquele amor de meditação profunda que a esclareceu e
abrasou na terra, tornando-a grande nos Céus, que nos ensine a adorar o Divino Salvador indo a
Ele pelo exemplo que, nos dá a SSma Virgem e S. José. Peçamos-lhe que nos apresente ao Divino
Infante, como presente pobre sim, mas cheio de desejo de O amar, servir e louvar. Que nos
ensine a sermos pobres dos bens da terra, daqueles que impedem a generosidade do sacrifício e a
desnudez do espírito. Que nos ensine a dar não desejos e afectos sensíveis, mas nos torne capazes
de dar a nossa vida na renúncia ao agradável. Que nos dê uma inteligência esclarecida, não como
nós a queremos fazer mas segundo os ensinamentos do Evangelho. Que nos ensine a ver Deus
nos homens e os homens em Deus, não como nós o imaginamos e por nós próprios o
raciocinamos, mas sim segundo o Evangelho, como Nosso Senhor o ensinou. Que nos ensine a
compreender a Cristo, Senhor Nosso, como Ele se quer compreendido e amado, não por
sentimentos sensíveis mas pela Fé que crê nos que Ele disse, amando-O sobre todas as coisas.
Que nos ensine pelo seu exemplo a perfeita humildade não só em palavras mas em sentimentos
humildes que se revelem através das obras que praticamos.

88. Peçamos o dom da fortaleza que nos ensina a SSma Virgem e S. José em Belém e olhando
para este exemplo vivo da nossa Fé, teremos coragem para caminhar para Deus através das
dificuldades do caminho, ainda no meio do silêncio dos amigos e conhecidos, sofrendo-se e
lutando-se apoiada em Deus que é ele a nossa fortaleza. Quem levou a SSma Virgem e S. José aos
maiores sacrifícios foi o Divino Salvador e Eles, não olhando a nada, procuraram tudo para fazer
a vontade do Pai dos Céus. Nós também devemos fazer a vontade de Deus que é que cada um
Lhe dê conta dos talentos recebidos. E se cada uma recebeu mais ou menos, uma parte é igual
para todas: é que todas desejam ser chamadas ao mesmo fim que nos agrupou a todas. Segundo a
correspondência, assim será a vitória alcançada, a graça recebida. Que Nosso Senhor nasça em
nossos corações para a vida da fé, do amor e da fortaleza do coração de tal modo que possa cada
um dizer com verdade: ninguém me possuiu porque eu toda me dei à Verdade e a Verdade é o
meu Deus que habita num coração puro, manso e humilde sem afectos imperfeitos. Que o nosso
coração se dobre em Belém ao dom de Deus, sem olharmos aos sacrifícios do caminho para lá
chegarmos, renunciando à satisfação completa da nossa vontade que impede a luz da Verdade e
do completo esquecimento de nós mesmas.

89. Lembremo-nos dos que sofrem e oremos por todos pedindo a paz para o mundo junto
do presépio de Belém. Na novena que precede a festa, comecemo-la com máximo fervor e
segundo as nossas intenções e do Santo Padre por toda a Igreja militante. No dia de Natal
peçamos a Nossa Senhora e a S. José que se dignem lançar um olhar de compaixão para o
Purgatório e pelo nascimento glorioso de Jesus Menino, libertar de suas escuras prisões tantas
almas quantas lágrimas Eles choraram sobre a terra e que a paz do Senhor desça sobre nós e
sobre o mundo inteiro.
Dezembro 1940 //1//

CIRCULAR DE JANEIRO DE 1941

GENEROSIDADE - BONDADE - MISERICÓRDIA - AMOR

1. 1º.- Generosidade: Dar sem voltar a pedir o que demos por condescendência, por dever,
por caridade, por amor. A generosidade é própria do coração que se torna grande, contemplando

18
a grandeza de Deus e, à vista da grandeza do Seu amor18, se torna capaz19 de ser grande para com
todos. Tanto se fala da grandeza como grandeza infinita e tão pouco nos aproximamos do que
essa grandeza pede dos nossos corações20 para serem grandes na generosidade para com Deus,
para connosco, para com o próximo! Encontram-se, ainda nas almas animadas de boa vontade,
corações tão pequeninos, tão pobres em generosidade, pesando o que fazem, o que dão, o que
desejam possuir! Imitemos a grandeza de Deus, fazendo-nos grandes na generosidade para com
Ele, para connosco, vivendo a Deus em nós, e para com o próximo, vendo este em Deus.

2. 2º.- Bondade: A bondade de coração é viver a caridade, arder em caridade para com
Deus, fazendo tudo por Ele, em acto de amor, de acção de graças, repartindo pela nossa
inteligência os sentimentos delicadíssimos da bondade divina, que (nos) suporta com os nossos
defeitos, com as nossas culpas, porque Deus é infinitamente bom, sempre pronto a suportar por
amor os pobres filhos de Eva. Bondade que procura dar tudo, pensando em todos os que sofrem,
amando-os sem procurar imagens de pessoas, mas na sua mente tendo presentes todos os
homens; (que) se compadece da dor alheia e tem presentes a seus irmãos na oração, na caridade
que lhes deve, na esmola, no bom conselho, em tudo que se chama um coração bondoso à
imitação do Divino Mestre. Quantos corações que se dizem viver a Deus e desconhecem a
bondade divina de N. Senhor, porque a não sabem pedir para a viverem, à sua imitação,
derramando-a por todos sem escolha de pessoas!

3. 3º.- Misericórdia: (Ser) misericordiosos para com todos, olhando às desgraças que
sempre caíram sobre o mundo; (fazer) expiação de pecados e, sem nos encontrarmos isentos de
faltas, reconhecermo-nos piores do que os outros; darmos-lhes dos nossos juízos com
misericórdia; (isto é), ver o mal para o reparar e fugir dele, mas dar, aos que são infelizes e
desgraçados da graça de Deus, misericórdia; orando, suplicando com lágrimas aos pés de Deus,
misericórdia para o mundo. Misericórdia no vosso olhar; misericórdia no vosso falar com os
infelizes deste mundo sem altivez, sem pensamentos duros de coração, sem repugnâncias que
vençam em nosso coração os actos bons, de bondade e de compaixão para com o próximo.
Misericordiosos no repartir os afectos santos pelos pequeninos, desprotegidos de todo o amor de
seus pais, de seus amigos, de suas famílias; olhando com misericórdia os velhos abandonados
que nos passam pela nossa vista e se estendem pelo mundo.

4. 4º.- Amor:- Amemos o desagradável em tudo, porque o agradável nem sempre é


alimento para o coração puro, mas é por vezes o trago amargo para a alma que quer ser pura;
porque, sem essa pureza em tudo, se tornará a alma um lugar triste em que Deus habita. Amor
que nasça dum coração cheio daquelas virtudes que a preparem para a luta por Deus, pela família
e pelo mundo inteiro. Amor que possa tirar, a todo o instante, a palma do martírio, isto é, que21,
vivendo para Deus e n'Ele para todos, possa dar a vida sem sacrifício de separações, não
querendo jamais separar-se de Deus. Amor que vença dificuldades, que transponha montanhas
sem que seja necessário buscar apoio, mas sim ser apoio para todas as almas, não se apoiando nas
criaturas. Ser, à imitação de Cristo Senhor Nosso, Rei e Senhor de todo o mundo e o mundo
nunca nos possuir.

5. Sejam estas as considerações do Ano-Novo. Só Deus sabe o que trará a cada uma de nós.
Mas em tudo devemos aceitar os desígnios de Deus. //1//

18
Lit.: «na grandeza do Seu amor…» A esta imitação do coração de Deus, «que faz nascer o sol sobre bons e maus e
chover sobre justos e injustos», nos exorta o Evangelho: «Sede, pois, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito»
(Mt 5,43-48)
19
Lit.: «o coração é capaz…)
20
Lit.: «de nós os nossos corações…
21
Lit. : «para que…»

19
CIRCULAR DE FEVEREIRO

- GENEROSIDADE EM BEM SERVIR A DEUS -

6. Servir a Deus como Senhor nosso, cheio de poder e majestade, que se é todo amor, é
também justo em fazer justiça a todos os nossos pensamentos e acções: se foram rectas as
intenções, como Ele ensina22. A generosidade deve entrar em todos os nossos pensamentos, não
tornando mesquinhas as nossas acções, mas cheias de amplitude (generosa) que se estenda a
todas as nossas potências23 e, estas, possam sem obstáculos livremente trabalhar a alma, sem esta
ser vencida pelas dificuldades.

7. As dificuldades vêm24 muitas vezes, para ela, da mesquinhez dos nossos juízos
particulares, olhando-se mais ao efeito, fora das nossas acções, do que verdadeiramente à glória
de Deus. A glória de Deus nasce duma alma humilde e apagada às exterioridades: às
exterioridades dos seus pensamentos, do agradável aos outros e não entregue puramente à glória
de Deus.

8. É que muitas vezes a generosidade da alma não chega ao seu fim desejado, para o qual
ela foi criada, especialmente quando se deu toda a Deus; porque antes de ir primeiro a Ele, vai
primeiro com os seus juízos ver o efeito das suas obras no juízo dos homens. Depois de colher
impressões de agradável, é que vai com toda a generosidade da sua própria satisfação, do seu "
eu," esforçar-se por empreender todos os sacrifícios, toda a generosidade do seu sentir, dando a
Deus Nosso Senhor um pouco desse puro " nada, " porque se cansou para se ver a si mesma,
ficando vazia diante do seu Deus. A generosidade verdadeiramente sobrenatural é um acto
heróico da alma que, apagada para si mesma, não olha25 aos juízos dos homens – sabendo
desculpá-los na sua ignorância das coisas de Deus que se escondem aos soberbos, à vaidade.

9. (Nem olha) à complacência em si mesma, procurando a alma dar-se ao amor de desprezo


por si própria. A generosidade abraça toda a sorte de humilhações e, nestas, descobre a ciência de
se conhecer a si mesma e todas as coisas que não eram dignas de Deus. O seu coração ficou
pacífico na tribulação porque nas potências da alma, esta não escondeu nada e, nelas todas,
habitava só o amor de Deus e não o agradável que entretém os sentidos e engana as vontades,
ainda as melhores. A generosidade é um alcance de vistas da alma que conheceu e compreendeu
a linguagem de Deus, ensinada na Sua vida Santíssima, entre os desprezos e ameaças dos maus
juizes que o condenaram.

10. A generosidade é, (pois), um acto heróico que nasce da simplicidade das almas
pequeninas, às quais a humildade fez descobrir26 a vida apagada aos elogios mais subtis do seu "
eu"; das (almas) que27 souberam ver em si o seu nada e que, só engrandecendo a Deus,
procuraram o desagradável, porque tudo para elas era pó que sacudiram dos seus juízos, dos seus
sentidos, do seu coração, das suas potências.

11. A generosidade da alma só é generosidade pura, sobrenatural, quando ela se levanta da


terra e, pondo os olhos na Verdade do Calvário, avança para este sem receios, sem temores. Só
fechando28 aos sentidos todas as portas, sem impedimento ela cresce no conhecimento dessa
verdade e a verdade defende a alma da guerra dos sentidos. Vencidos estes, a alma fica com o seu
22
Lit.: «pensamentos e acções, se forem rectas as intenções como Ele ensina»
23
Lit.: «mas cheias de amplitude que se estendam…»
24
Lit.: «dificuldades que vêm…»
25
Lit.: «olhando…»
26
Lit.: «foi quem descobriu…»
27
Lit.: «que…»
28
Lit.: «sem temores, porque, fechando…»

20
olhar fixo no Divino Mestre, seguindo-O no heroísmo e (na) generosidade de Maria Santíssima,
junto à cruz, naquele silêncio pacífico e resignado, no meio das Suas grandes dores, que lançam
para todos nós a expressão divina da Sua Infinita Misericórdia!
Fevereiro de 1941.//1//

CIRCULAR DE MARÇO

GENEROSIDADE DO SERVIÇO DE DEUS

12. Continuemos a pensar nos29 nossos deveres para com Deus: no amor que Lhe devemos
e na generosidade que nos pede. Toda a prova de amor, já por termos de o provar, é um
sacrifício. E um sacrifício custa sempre. E porque custa, pede sempre muita generosidade. E esta
no-la ensina uma cruz levantada no cimo do Calvário com Jesus Cristo, Senhor Nosso nela
pregado. Transportemos o nosso espírito a esse lugar de imolação. Contemplemos bem como
essa imolação pediu o máximo de generosidade que a nossa inteligência ainda não pode conceber
por sermos tão limitados.

13. Mas quantas de nós, fugindo da luz de Deus que nos vem da verdadeira felicidade,
humildade e caridade, não aceitamos o sacrifício, dando crédito a razões que nascem da fraqueza
da nossa vontade. A generosidade está em que nos desnudemos de nós mesmas, vendo que na
caridade está a simplicidade que nos faz ver nas coisas a permissão de Deus e30 nos dá o
conhecimento do abandono que devemos pôr nas mãos de Deus, no meio de todo o sacrifício e
desamparo. O abandono confiante aumenta a generosidade e dá fortaleza à alma.

14. O desalento é um deserto, em que devemos fazer um exame da nossa fragilidade.


Quando fugimos de colocar a nossa alma aos pés da Cruz, vamos em procura de alguém que nos
fale, não das verdades de que precisamos, mas dalguma coisa que satisfaça o nosso sentir. Esta
procura de algo que nos console é mais um olhar para a terra, fugindo de olhar para a Cruz, que
lá está no cimo do Calvário. Este indica, na Vítima Jesus Cristo imolado por nosso amor, que o
caminho é a morte ao agradável; que é necessário olhar mais alto, subir a montanha, longe de nós
mesmos, procurando na criatura somente a Deus e não a consolação de Deus.

15. Desamparo é outro deserto, no qual a luz da razão nos diz que não será possível subir
mais alto sem alguém Esta luz, quando nos leva a desejar sair desse mesmo desamparo em
procura duma palavra que nos console, é outro olhar para nós mesmas, afastando voluntariamente
o olhar daquele alto onde está uma Cruz, onde está31 a Vítima adorável, N. S. J. C, cheia de dor,
sem amigos, na maior amargura, mas cheia de generosidade que lhe nasce do amor, (mesmo) em
tão grande desamparo... Procurou amigos e não os encontrou.

16. A nossa generosidade para com Deus deve ser pronta, simples, prudente, isto é32, não
efeito da imaginação que se deixa impressionar; que procede por impressões e não segundo o
conhecimento que lhe dá a fé para obrar, faltando-lhe por isso33 a fortaleza para se vencer a si
mesma e ser sempre a mesma na prática da virtude. A simplicidade deve estar em tudo, desde os
mais pobres pensamentos da alma até aos actos mais heróicos que ela pode, com a graça de Deus,
levar a efeito.

29
Lit.: «diante dos…»
30
Lit.: «que…»
31
Lit.: «em que…»
32
Lit.: «e…»
33
Lit.: «assim…»

21
17. O fruto do nosso trabalho para Deus nasce dum coração recto que não tem preconceitos,
porque não tem amigos nem conhecidos; (que) procura dar-se às almas, em Deus, com
generosidade, com caridade, conformando-se à Sua imagem; (conformando-se) a Ele, o Bom
Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas, não nos podendo dar maior prova do que dando-Se a Si
mesmo por nós! Assim nos devemos dar nós a todos, por Ele e n'Ele.

18. Nesta Quaresma, seja o nosso pensamento um olhar fixo no Calvário, acompanhando
N.Senhor na Sua cruel Paixão. Com Maria Santíssima, Nossa Mãe junto à Cruz, acolhamo-nos ao
Seu Puríssimo Coração, pedindo que nos dê, dos seus sentimentos maternais, uma centelha da
Sua caridade; que nos transforme a vida na do Bom Pastor, o qual Se deu por amor, desde as suas
puríssimas entranhas até à Cruz e à Paixão, fazendo-Se Homem para nos salvar.

19. Que nos conceda a graça dum espírito recto, cheio de luz e de verdade que esmague e
desfaça em pó o que não é digno de Deus, desde a nossa inteligência até à nossa razão, desta até
aos afectos imperfeitos do nosso coração que não quer viver no deserto, no desamparo, na dor,
sem cireneu que ajude nas horas de tristeza, não lhe chegando o olhar fixo no Calvário onde está
o Divino Modelo.

20. " A Minha alma está triste até à morte, " disse N. Senhor.
Vamos caminhando sem olhar para nós mesmos que somos fraqueza, mas apoiadas debaixo
do manto protector de Nª. Senhora junto à Cruz. Ofereçamos-lhe34 o nosso espírito para35 velar
junto do coração de Jesus em agonia pelos nossos pecados e (pelos) de nossos irmãos espalhados
por toda parte, suplicando-lhe perdão e misericórdia para o mundo culpado.

21. Não desviemos o nosso olhar do Calvário e aceitemos a vontade de Deus, que nos pede
a nossa cooperação generosa em tudo que Ele nos pede. Cada uma terá a sua montanha a subir e
o seu sacrifício a imolar com Cristo Senhor Nosso.
22. Peçamos a S. José, neste mês a ele consagrado, seja o nosso guia. Ele, que tão de perto
viveu com a infância de Jesus, nos leve a Jesus em cada dia da nossa vida. Honremos Nossa
Senhora no dia da Sua Anunciação, pedindo-Lhe a graça de anunciar a paz ao mundo e dar a
vitória à Santa Igreja. //1//

GENEROSIDADE NO SERVIÇO DE DEUS


A QUEM DEVEMOS VER NO PRÓXIMO

23. Ainda continuamos, segundo os tempos, na meditação da Paixão de N. Senhor Jesus


Cristo. Vendo neste mistério a nossa redenção e salvação da humanidade, continuemos a
acompanhar a Sua dolorosa crucifixão. Junto à cruz, com Sua Mãe Santíssima, de olhos fitos na
Sua Santíssima face, nas lágrimas de sangue, na espada de dor que atravessou o coração de Sua e
Nossa Mãe Santíssima, não fujamos aos golpes da Sua misericórdia infinita nas provações que
nos enviar. Não sejamos do número daquelas pessoas que só querem assentar-se ao banquete das
núpcias, mas não querem das núpcias os espinhos que se lhe seguem.
24. Não sejamos do número daquelas almas que numa hora de fervor têm para com Deus N.
Senhor palavras, afectos e promessas de heroínas na Fé e, quando chega a hora de o provarem,
não só não cumprem o que prometeram mas não querem reconhecer Aquele Senhor que recebeu
a sua promessa, porque vem cheio de desprezo e humilhações dos homens. Nesse caso as suas
promessas ficaram no coração, mas não em toda a sua //1// alma. Ficaram no coração, porque a

34
Lit.: «junto à cruz, oferecendo-lhe…»
35
Lit.: «que deve…»

22
alma36 não quer ser esmagada pelo desprezo de si mesma, não quer ser nada diante de todos, mas
sim pretende ser alguma coisa e, por isso mesmo, não se conforma que a ponham de lado.

25. A alma que faz as suas promessas a Deus Nosso Senhor por ser Ele Quem é, a Quem
devemos tudo, a Quem vamos pedir tudo, essa alma não esquece as lágrimas de sangue, a agonia
da Sua cruz, na qual lhe pede: segue-Me! Quem prometeu, deu tudo o que promete. E tendo dado
tudo, não pode fugir de aceitar a Sua SSma vontade. E a vontade de Deus é que faça cada uma, da
sua promessa, o seu altar, na qual imole a hóstia pura das suas oferendas.

26. A sua promessa37 deve ser um acto contínuo de oferecimento de si mesma, na renúncia
a tudo que não é digno de passar do seu coração para Deus, (nem) dos seus olhos, dos seus
ouvidos, das suas mãos, dos seus pés. Quando a alma se recolher em si mesma, encontre sempre
em si o desejo máximo de pureza, com que deve imolar a hóstia pura da sua //2// vontade doada a
Deus, para que Ele habite nela e nela se cumpra a continuação do mistério de ajudar a que os
homens se voltem para Ele. Este mistério não pode admitir que a alma procure fazer-se agradar a
si própria, nos actos bons que praticasse, porque, nesse mesmo instante, a sua complacência será
expulsa do santuário de Deus na alma. E esta ficará (então) mais débil na prática da virtude de
renúncia a si mesma.

27. Não queiramos entrar por esse caminho de ilusão e de engano: N. Senhor só admitirá a
esse pensamento de O acompanhar no Calvário aos espíritos que aspirem a viver de Fé pura; que,
não olhando para si, não desviam o olhar dos desprezos e insultos que por nós Ele sofreu na
Cruz! O pensamento que nos leve a dar-nos e (a) cooperarmos com o nosso Bom Deus na cruz,
com Sua Mãe Santíssima junto à cruz, esse pensamento só vai ao calvário quando a alma vai só:
só no silêncio das criaturas, escondida, não querendo ser vista nem conhecida. Porque todos os
olhares do mundo perturbariam, manchariam o seu ir recolhida, silenciosa, para essa montanha
aonde a alma só com a dor, esta só com //3// Ele na cruz, (e) se fará38 compreender e viver numa
só alma com Ele.

28. Ressurreição e vida. Nem sempre a nossa alma compreendeu que devemos39 viver o
mistério da ressurreição e vida; que sobretudo nós, que pensamos no desejo de viver a vida que
convida à imitação de Cristo Senhor Nosso no Calvário, acompanhando a nossa Mãe Maria
Santíssima, devemos viver da Paixão e Ressurreição. Da Paixão como já vamos meditando; da
Ressurreição contemplando. Quando a vontade estiver fraca, chamemo-la à vida. Demos-lhe
vida, vida de fortaleza (sobretudo), pois quando fugimos de nós mesmos e mais nos perdemos
nos braços da divina misericórdia, mais alto subimos, defendendo-nos da nossa fragilidade e
portanto das criaturas que comunicam fraqueza e (...) //4//
( Incompleto )

CIRCULAR DE ABRIL DE 1941

IMITEMOS A NOSSO SENHOR, NOSSO DIVINO MESTRE

29. Continuamos ainda dentro do tempo que nos convida à meditação da Paixão. Dela
devemos aprender a sofrer, a amar-nos uns aos outros como Deus nos amou na Cruz, dando-Se
por cada um de nós a Seu Eterno Pai. Esta dívida de amor temos nós também de a pagar à Sua
divina justiça. E para satisfazer tanto amor por nós imolado, temos de ser prontas na
generosidade, reflectindo no dever de cumprirmos a Sua SSma vontade.

36
Lit.: «este…»
37
Lit.: «oferendas, que deve ser…»
38
Lit.: «farão…»
39
Lit.: «compreendeu, que viver…»

23
30. Não nos podemos desculpar de que não podemos fazer o que todos podem n'Aquele que
fortifica o espírito e o torna capaz, n'Ele mesmo, de todas as coisas. O espírito forte recebeu, pela
humildade com que obrou, o dom de Deus de tudo fazer n'Aquele que, não só é a fortaleza, mas a
ciência de aprender40 a obrar. Do alto da cruz, no meio dos algozes, ensina-nos N. Senhor como
se sofre e se aceitam os sofrimentos. Em Maria SSma, Nossa Mãe, encontramos o modelo que
devemos seguir: simplicidade angélica, humildade profunda, prudência santa.

31. Simplicidade angélica: Requer-se para que a alma seja dócil a todo o género de graças;
para que não resista aos convites da bondade Divina, mesmo naquelas graças que muitas vezes
não temos como graças; mesmo nos avisos e conselhos que nos vêm daqueles que desejam o
nosso bem, para nos corrigir e exortar, e porque ferem o nosso amor próprio, buscamos nós
razões para que se calem. Aqui descobrimos em nós mesmas a falta de simplicidade que faz a
alma dócil e acessível, à imagem duma criancinha nos encantos da sua angelical candura, o que
fez dizer a N. Senhor: " Deixai vir a mim os pequeninos."

32. Humildade profunda: Temos de ser humildes no sofrimento, como no-lo mostraram N.
Senhor na Cruz e Sua Mãe Santíssima junto à mesma, amando aos que nos desprezem,
procurando fazer bem aos que nos fazem mal, vendo que o que nos fazem foi o que nós fizemos a
N. Senhor e já fizemos nós uns aos outros, nos pensamentos e sentimentos de censura escondidos
em nosso coração, sem compaixão, sem misericórdia, sem perdão. Sem perdão porque não nos
queremos aproximar do nosso próximo com aquele olhar de N. Senhor do alto da Cruz para os
Seus próprios algozes. Estamos no momento em que só podem acompanhar a Mãe de Deus, junto
à Cruz de Seu amado Filho, os de coração simples, aonde está o olhar puro e cândido dos
pequeninos, que não sabem mostrar razões, mas só amor aos que neles pegam pela mão. Nosso
Senhor, quantas vezes, nos vem pedir, em tantas pequeninas coisas, que Lhe demos a nossa
vontade e não aceitamos! Assim, como poderemos dizer-Lhe que estaremos com Ele junto da
Cruz com a sua Mãe Santíssima? " Deixai vir a mim os pequeninos!" Não queremos ser do
número dos pequeninos, porque estes vivem só de Deus, encerrados no sacrário bendito do Seu
divino Coração, falando só a sua linguagem divina e imaculada, que não tem contacto, nem pelo
lado da inteligência nem do coração, com os homens, a quem falta 41 a vida da alma pequenina,
imolada ao Senhor.

33. Prudência santa: A nossa alma, à imitação de N. Senhor, deve impor a si mesma esta
virtude em todos os seus actos, não procedendo pelo que sente, mas pelo que ora, pelo que
experimenta, aconselhando-se, reflectindo e observando na sua vida o que a sua consciência lhe
pede. Não ter precipitações. Ser reflectida nas mais pequeninas objecções da sua inteligência, da
sua consciência. Não proceder por sentimentalismo, mas, reunindo tudo que somos, tender
sempre para aquilo que mais possa beneficiar o próximo e a glória de Deus. Nem sempre os
entusiasmos e cálculos intelectuais foram o melhor governo e direcção de vida, mas sim a luz
procurada e ensinada no Evangelho, que guiou os Apóstolos: só esta faz a Igreja e os povos.
Muitas vezes procedemos segundo o nosso juízo e agrado e não segundo o que de nós espera
Deus.

34. Ao humilde Deus exalta. Porque foi sempre prudente e, estudando-se a si mesmo,
destruiu o orgulho imprudente, que se engana a si mesmo, pensando conquistar-se a si e aos
outros. Na vida apagada aos olhos de todos e de nós próprios, procurando ver o dom de Deus, em
Deus nos levará a viver a vida simples, humilde e prudente.

40
Lit.: «ensinar…»
41
Lit.: «homens, a este fala ...»

24
35. A prudência ensina a corrigir os próprios defeitos, ainda no zelo das coisas de Deus,
mesmo exteriores, propondo-nos42 indicações para não irmos irreflectidamente, nem darmos43
sentido diferente (às coisas) pela impetuosidade no proceder para cada caso. Na virtude da
prudência está o leme para guiar as nossas acções dentro e fora de nós, nos casos de ordem
temporal ou espiritual. A reflexão convida a alma a pedir a Deus luz antes de julgar, de
aconselhar e de proceder.

36. Em N. Senhor na Cruz, copiemos toda a nossa vida. Em sua Mãe Santíssima, o modelo
da virtude escondida, junto da Cruz de seu amado Filho, sofrendo tanto com tanto heroísmo, num
silêncio profundo. O nosso caminho de imitação deve ser aquele que N. Senhor nos aconselha a
todos que O //1// querem seguir: " cada um negue-se a si mesmo; tome a sua cruz e siga-Me."

37. Depois das lutas desta vida chegará o dia da ressurreição e da vida eterna. Essa vida que
todos nós pedimos ao céu, a graça da nossa salvação eterna, já cada uma na terra irá provando da
sua felicidade, na medida em que viver a vida de N. Senhor na sua alma: negando-se a si mesma
em todas as coisas, para que só Ele viva, só Ele reine na nossa inteligência, na nossa vontade
imolada em Seu nome ao Eterno Pai.
25 de Março de 1941.//2//

CIRCULAR DE MAIO DE 1941

A CAMINHO DO ABANDONO

PELAS MÃOS DE MARIA SANTÍSSIMA

38. Convida o Santo Padre, neste mês consagrado aos louvores de Nossa Senhora, a
redobrarmos de fervor e amor, aos Seus pés, implorando a paz para o mundo; procurando por
dever – numa vida mais perfeita de aceitação do sacrifício e (de) abandono nas Mãos de Deus –
tudo quanto aprouver à SSma vontade de Deus enviar-nos, para repararmos por nós e pelo mundo
inteiro; dando-nos a toda a ordem de sofrimentos, como súplica contínua a interceder pela paz no
mundo.

39. O abandono ao sofrimento deve ser pronto, generoso e puro. Pronto, para que,
dominadas todas as tendências imperfeitas da nossa natureza, nos elevemos de contínuo para
Deus, como único descanso para a alma, como fonte de luz44 para compreender todo o nosso ser
de criaturas, imperfeitas e fracas na vontade de se dar aos sacrifícios a fazer, a bem de nós
mesmas e pelos outros.

40. Abandono é uma palavra que devemos ouvir muitas vezes, no silêncio mais profundo
do nosso coração, quando este, cansado e inquieto por encontrar em quem se apoie, levanta o seu
grito. E, quantas vezes (este grito) – se não vamos ao seu encontro com espírito de fé e amor de
caridade – se converte em desespero, em revolta de todas as potências contra os acontecimentos,
dentro e fora de si, semeando discórdia pela diversidade de ideias, provocando dentro de nós o
barulho da soberba, do egoísmo, da vaidade e de tudo o mais, de que cada uma de nós deve já ter
exemplos na sua vida particular, íntima e exterior!

42
Lit.: «pondo-lhes indicações…»
43
Lit.: «irreflectidamente dar-lhes…»
44
Lit.: «e nos dê luz…»

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41. A palavra " abandono " deve ser um eco do céu da própria alma que a pronuncia.
Quantas vezes, dentro de nós, porém, nem um reflexo há dessa palavra que, devendo ser bem
compreendida para ser vivida, nem sempre mostra esse Céu de quietude de todas as potências
submetidas ao império da vontade de Deus em nós! Devemos ser o céu da paz, do abandono,
como a SSma Virgem no-lo ensina nos passos mais admiráveis da Sua vida, toda de abandono ao
Eterno Pai: (quer) recebendo Seu Divino Filho nas Suas puríssimas entranhas, (quer) abraçando
n'Ele, com amor generoso, todas as angústias do Calvário.

42. Abandono é não ter vontade própria, mas (ter) Nosso Senhor a viver na alma como num
sacrário. Abandono é como uma flor delicada, a qual não pode estar exposta ao vento que bem
depressa a levaria pelos ares. Também a falta de generosidade perseverante (nele) leva, num
momento, a paz e alegria do espírito para lugares de tristeza, de angústias, que perturbam e
escurecem toda a luz da alma. A generosidade deve ser fruto da presença de Deus, sofrendo por
nós; não a presença do gozo, porque neste, muitas vezes, nem sempre nos conhecemos a nós
mesmas.

43. A generosidade é um campo árido que só tem vida de Fé. Esta, sem imagens, pede uma
vontade decidida. Encontra-se no amor à cruz, acompanhando a presença de Nosso Senhor
crucificado, e Sua Mãe SSma sofrendo por nós. Abandono puro que caminha seguro de haver
compreendido que este é necessário à vida da fé para a perfeita imolação a Deus da nossa
vontade. Caminhar só, como N.Senhor foi só para o jardim das Oliveiras; caminhar só, como
Nossa Senhora se viu só, sem o seu Amado Filho. Meditemos no Seu desamparo e abandono
silencioso e crucificado: este é o desamparo e abandono puro, mas amado pelo Seu amor imolado
por nós, que devemos imitar sem desânimo e sem queixa, reproduzindo os Divinos modelos da
nossa vida: aqueles Corações Santíssimos de Vítimas imoladas ao eterno Pai pelos nossos
pecados.

44. Caminhemos firmes nos nossos propósitos. Não sejamos infiéis às graças recebidas,
pelo conhecimento que temos de que o nosso amor a Deus deve ser crucificado, desamparado,
abandonado, apoiado só na fé. (Apoiado) na verdade pela Stª Igreja, nossa Mãe que nos mostra
onde está a luz para seguirmos; a confiança para esperarmos na misericórdia divina; a fortaleza
para vencermos a nossa fraqueza; a palma da vitória para o bom combate; a alegria do martírio
para dar glória a Deus; dar a nossa vida pela imolação contínua da nossa vontade, para salvação
dos nossos irmãos em Cristo.

45. Aos pés de Nossa Senhora, vivamos este mês a Seu exemplo, num abandono perfeito da
nossa vida, toda consagrada a Ela em actos de Fé, de Esperança e de Caridade, reparando o Seu
Coração de todas as afrontas dos homens, suplicando-Lhe a Sua misericórdia e compaixão para o
mundo. //l//

CIRCULAR DE JUNHO DE 1941

O AMOR QUE SE CRUCIFICA


POR AMOR AO CORAÇÃO SSMO DE JESUS

46. Neste mês, consagrado às Misericórdias infinitas do Coração de Jesus, Lhas devemos
suplicar para nós e para o mundo inteiro. Para nós, para que o nosso coração se transforme no
Seu, que Se deixou crucificar por nós. Deve ser esta transformação feita pelo sacrifício de nós
mesmas, fazendo com que o nosso coração seja puro. Nesta pureza, faça subir ao Céu as suas
súplicas cheias da mesma pureza. O coração puro nega-se a si mesmo, no prazer ou satisfação do

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agradável dentro e fora de nós, em tudo que possa ser sombra para a pureza. Tal pureza deve
respirar toda a nossa alma, toda a nossa pessoa, que seja o espelho no qual o próximo veja a
imagem de Deus, pelas obras que praticamos e nos dermos. Deve portanto ser cuidada como
sacrário vivo de Deus. Como tal, muito puro (deve ser) todo o nosso exterior. Quando o mundo
se arrasta para o abismo do gozo dos sentidos, nós devemos crucificar estes, para que não vão na
corrente do mal com virtude só aparente, sem que até ao fundo o coração esteja vencido pela
graça duma negação total a si mesmo. O coração só é grande quando se eleva acima de tudo o
que na terra é fragilidade vã. Estas fragilidades estão escondidas dentro em nós, nas pequeninas
satisfações humanas, procuradas por nós com o melhor sentido de recta intenção.

47. Só o Coração de Jesus deve ser o nosso modelo a imitar. Façamos (tudo), neste mês, por
fazer um exame diário às nossas afeições de toda a ordem e espécie: se amamos mais a Deus ou a
nós mesmas, ao procurarmos que outros nos queiram muito, tanto pelos seus afectos como pelos
bons juízos a nosso respeito. Examinemos se ao nosso coração vêm sentimentos de desgosto ou
de gosto, quando nos sentimos deitadas para um deserto de desamparo. (Se aí) só encontramos a
Deus, porque tudo o mais, fora d'Ele, já nos não compreende nem mesmo nós o compreendemos.
Enquanto o nosso coração não se sentir em paz na oração, nesse deserto, é porque alguma coisa
de terreno nos prende a nós mesmas. Por isso mesmo, devemos ir vencendo (tal coisa), cortando
sem ser com revoltas, mas oferecendo ao Coração SSmo de Jesus esses sacrifícios.

48. (Esses sacrifícios são) tão agradáveis ao Seu amor, como a melhor prova de que O
amamos e de que reconhecemos os Seus direitos sobre nós, as almas que Lhe dão tudo. Demos-
Lhe tudo, porque ao darmos-Lhe a nossa alma, o nosso coração, todo o nosso ser, Lhe damos
também os afectos da nossa família, dos amigos, dos conhecidos, para ficar a dar a estes só o
afecto do Seu divino Coração. Que seja não o nosso amor a amá-los, mas sim o Seu amor que se
faça derramar sobre todos. Só à medida que a nossa alma for cortando com o imperfeito de nós
mesmas, ela poderá conhecer melhor a Deus e compreender melhor tudo o que a Ele nos leva: o
sacrifício, o desagradável aos sentidos, o silêncio dos mesmos no meio dos debates do amor -
próprio e de todas as razões humanas.

49. Sejamos atentas a todos os movimentos da nossa razão, para a exortar à prática de todas
as virtudes, mostrando-lhe as verdades da nossa fé, pois nem sempre pode praticar o bem, vencer
as suas inclinações só por formas escritas impostas por estes ou por aqueles. Só com muita
humildade rogando ao Divino Espírito Santo que nos esclareça, por meio dos Seus santos dons,
da maneira de nos admoestarmos a nós próprias. Convençamos a nossa razão de que o ser da
nossa alma é um só para Deus e sendo Ele igual para todos nós, somos contudo diferentes por
carácter, por temperamento. Daí a diversidade de feitios. (A partir deles) é necessário haurir
fontes de humildade para compreender a santidade que devemos a Deus, (quer) como sacrários
vivos da Sua misericórdia para connosco, (quer) como devemos levá-lo ao próximo, nossos
irmãos, sendo a alma para com eles a imagem de Deus na Sua SSma Humanidade Redentora.

50. Pedir só paz para o mundo, não é súplica completa. Não bastam sentimentos de
compaixão para com os que sofrem; a súplica que nós devemos e prometemos a Deus N. Senhor
no nosso oferecimento de cada hora, é dar-Lhe tudo o que faz parte do nosso ser, de vontade. E
essa vontade deve ser (a de) imolar tudo, dentro e fora de nós. Sejamos fiéis ao oferecimento das
horas, em honra do SSmo Coração de Jesus, consagrando-Lhe as deste mês, dum modo especial,
pela paz no mundo e por Portugal para que nos livre da guerra. Sejamos prontas e generosas na
penitência dos sentidos e recatadas na maneira de vestir. //1//
51. Sendo, desde há anos, celebrada a festa do Coração SSmo de Jesus, no templo -
Monumento de Santa Luzia, pelas intenções da Obra, venho recordar e rogar a todas que,
aproximando-se o dia da Sua festa, nela tomem parte, concorrendo com as suas esmolas para a
Missa solene, cantada pelo Seminário, e Exposição solene com os actos próprios deste dia.

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Confio na generosidade de todas em concorrer para honrar o SSmo Coração de Jesus neste dia, no
seu templo-Monumento. //2//

CORAÇÃO POR CORAÇÃO,


AMOR POR AMOR

52. O nosso coração deve ser imitador fiel daquele Coração que Se deu a nós e por nós Se
imolou ao Eterno Pai. Deve ser o nosso amor à imitação daquele Amor de Deus puríssimo e
santíssimo que Ele viveu por nós, desde as puríssimas entranhas da Santíssima Virgem até se dar
na cruz. Na cruz nos remiu e salvou, ficando sempre connosco, estando-nos sempre presente e
nós sempre presentes ao Seu amor. O nosso coração deve estar sempre cercado de espinhos.
Esses espinhos fazem a presença do amor.

53. Na troca que fizemos do nosso coração pelo Coração Santíssimo de Jesus, Ele se
tornará a nossa vida, a nossa luz, desde o nascimento até ao Calvário. A Sua dor foi um sol que
iluminou toda a terra e nós que queremos andar nessa luz. Não fujamos dela, procurando agradar
ao mundo de qualquer modo, fugindo dos espinhos que são guarda para os sentidos, luz para
aquela vida, que cada qual de nós deve levar, de vigilância sobre si mesmo no exterior e no
interior.

54. As cruzes que nós próprias fazemos com os nossos caprichos, são espinhos que nós
trabalhamos com as nossas mãos. Estes espinhos não nascem da presença do amor que demos e
recebemos de Deus. Estes espinhos são, sim, os que nos desviam da Sua presença. Os espinhos
que cercam o coração de Nosso Senhor e que dão vida à alma, são aqueles que a nossa vontade
aceita por amor. Com amor, são alimento necessário à vida do espírito, escada para subir até Ele,
Ele que morreu crucificado por nós.

55. Olhemos mais alto. Não fiquemos na baixeza de nós mesmos, nos actos perfeitos da
própria inteligência, os que ela compreende. A quem Se deu a nós por amor e nos deu o Seu
Coração, o nosso amor tem de se dar na mesma proporção de fidelidade. Fidelidade no olhar,
fidelidade no vestir, fidelidade no andar, fidelidade em tudo o que é próprio de quem tem sempre
presente o Coração pelo qual se deu inteiramente. Sempre que fujamos desta presença,
entristecemos Aquele Amor que vive só para nós e ao Qual prometemos dar amor por amor.

56. Esse Amor que conhece a nossa fragilidade, vigia sobre nós afastando-nos os perigos.
Manda-nos as provações para que não demoremos no mundo o nosso olhar, não nos possamos
prender ao que passa, mas nos mantenhamos presos à cruz. Esta é a única que nos ajudará a
vencer este mundo de misérias, que somos nós mesmos no meio das mil e uma ocasiões que
nascem de todas as nossas inclinações. Vigiemos sobre estas, exortando-as à virtude com a
esperança do Céu. Falemos-lhes da Eternidade. Mostremos-lhes os cuidados de Nosso Senhor
por nós. E, sem as fazer exasperar, transformemo-las em servas do bem. Falemos aos nossos
movimentos de impaciência, da paciência de Nosso Senhor na cruz. Mostremos às nossas invejas
o nada deste mundo. Mostremos às vaidades as preocupações que estas nos causam.

57. Como é mais feliz aquele que, vendo em si a presença de Deus, procura só adornar-se
do necessário e só para Lhe dar glória. Mostremos ao insatisfeito do nosso coração que este só
pode ser saciado por Deus, que é infinito, que tem tudo n'Ele para nos dar. Mas, para isso,
procuremos os meios de o conseguir, amando o desprezo de nós mesmas. Quando combatermos
as inclinações, levemos estas ao conhecimento do mais perfeito, do mais sublime de Deus.
Combater sem ensinar essas inclinações à submissão ao bem, é deixá-las sempre, cada vez mais

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prontas a atacar-nos, a vencer-nos, porque são ignorantes. Se eu falar ao meu " eu " e lhe disser –
" tens razão em te melindrares do próximo " – este como não ficará cada vez mais melindrado,
buscando mil pretextos para dar razão a si mesmo? Quantas vezes perdemos a luz, metendo-nos
por esse caminho de perturbação sem saída! Amar a Nosso Senhor, é gravá-Lo em todas as
nossas potências, em todos os nossos ideais. É compreendê-Lo, não com a nossa razão, mas
segundo a fé, seguindo o Evangelho, Luz e Verdade.
Julho de 1941 45

O CAMINHO É SÓ UM:
VER A VERDADE E SEGUI-LA

58. Ver a verdade dentro da voz da consciência, e que esta esteja com a doutrina do
Evangelho: quem a vós ouve a Mim ouve. Sigamos a voz do Vigário de Cristo, agora mais do que
nunca, num mundo corrompido, cheio de luz das trevas: à mistura com a palavra de Deus, entra
tudo quanto pode ir contra Deus. Isto, por falta de fortaleza na virtude de praticar a doutrina de
que N. Senhor nos avisou pelos Seus Apóstolos. Ele próprio ensinou que não seguíssemos os
falsos profetas. (Seguir) falsos profetas será, para nós que queremos seguir o Evangelho, darmos
crédito a preconceitos fúteis da sociedade moderna; deixar-nos arrastar por ideias filhas da
ignorância dos sábios, sem sabedoria de Deus.

59. O nosso caminhar para a verdade deve ser por cima dos espinhos, pisando aos pés o
respeito humano. Seguir, com Maria Santíssima e as Santas Mulheres, o Divino Salvador,
crucificado em Seu Coração e em todos os membros da Sua Santíssima Humanidade, para nos
mostrar que não houve um bocado da Sua Carne Santíssima que não fosse esmagada pela
crueldade dos homens.

60. Nós meditamos nas lágrimas de Nosso Senhor e não temos coragem para cortar em nós
com os olhares menos puros e santos, impróprios da alma que diz e afirma querer segui-Lo. Esses
olhares são, muitas vezes, revendo (se) a nossa pessoa se encontra bem ou mal posta na
sociedade. Passar pelo mundo como se o mundo não nos pertencesse, é o caminho da alma que se
propõe consagrar-se a Deus. É necessário primeiro aborrecermo-nos a nós mesmos.

61. Depois de revestido o nosso ser de virtude necessária para poder aparecer no meio da
sociedade, que os vestidos que cubram a mulher levem a virtude da pureza, da inocência e da
candura. Transpareça (desse ser) um olhar salvador de nova redenção de modéstia, para uma
sociedade modernizada para combater a Deus nos próprios que querem ser habitação d'Ele. Da
pureza da alma vem a pureza do coração; da pureza do coração vem a pureza do porte exterior; e,
deste, a reparação e o desagravo à humanidade de N. Senhor, crucificada por nós pecadores.

62. "A minha alma está triste" - disse N. Senhor no Horto. Com certeza, daquela tristeza de
quem apelava e não era ouvido. Agora apela a Santa Igreja para que sigamos o Seu apelo. Este
não é ouvido, (nem) dos que seguem o mundo, nem dos que querem seguir a Deus. E N. Senhor
continuará a queixar-se de que está triste até à morte. A Sua dor é a dor do Vigário de Jesus
Cristo. E nós não seguiremos a Sua voz ?

63. Levantemos o nosso espírito ao Céu e peçamos luz para seguir o que Deus nos pede.
Sem dúvida, Ele dirá o que quer de nós. Do que nos mostrar, sigamos como os mártires para
confessar a Fé. Não poderemos seguir a dois senhores, mas a Deus só. E tendo Ele direitos sobre
nós, pelas nossas promessas de querermos pertencer única e exclusivamente à Sua bandeira, não
podemos recuar. Podemos sim deixar de seguir o caminho que nos propusemos, porque nenhuma
45
- Recomenda-se a todas a novena de Santo Inácio pelas intenções da Obra. //1//

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de nós fez (ainda) voto de estar debaixo da bandeira deste grupo; mas as que estiverem, têm de
rasgar um caminho de verdadeira reparação contra a epidemia dos tempos modernos. Para isto se
exige amor à verdade (do que prometemos).

64. Por (causa) desta, devemos estar prontas a dar a vida por Deus. Dar a vida na luta de
hora a hora, de momento a momento. Uma vida crucificada, que se vá gastando como conta-
gotas de um sangue imolado a Deus minuto a minuto. Neste campo de acção escondida, está
Deus N. Senhor, com Sua Mãe Santíssima, com S. José, com todos os Santos, contemplando esta
Obra das Suas divinas mãos, que são as (nossas) almas, membros dos Seus membros, vida da Sua
própria vida, imolada até à última gota do Seu Sangue. (E não só contemplando, mas) ajudando a
fortalecer, a acompanhar a Sua própria vida (em nós), Ele mesmo a viver na (nossa) alma, com o
sopro da Sua graça, com o auxílio do Seu amor.

65. Caminhemos por vias direitas. Não nos percamos no meio de tanta interpretação do
bem, mas sigamos sim aquela que nos parece mais certa, mais a verdade: nega-te a ti mesmo,
toma a tua cruz e segue-Me. Segue-Me, dirá Nosso Senhor a cada uma de nós, pelo caminho por
onde Eu fui até à morte de cruz para te remir e salvar. Não há outro. É este o verdadeiro.

66. Deus por Deus. Mas, Deus por Deus, na prática austera da renúncia ao apoio humano.
Deste, servir-se apenas para instrumento do bem a fazer, mas tendo sempre presente que tudo o
que vem do homem é pó, cinza e nada. Só Deus permanece até ao fim.

67. Aproxima-se a festa da Assunção de Nossa Senhora, que me leva a pedir para que todas
nós nos preparemos com uma novena fervorosa, a pedir a paz para o mundo e o triunfo da Santa
Igreja: que o Papa seja conhecido e amado, que a sua luz, luz da verdade e //1// da Fé, se espalhe
por todos os cantos do mundo e, assim, se possa estender a Realeza de Deus sobre os homens.
Não esqueçamos de rogar a Nª. Senhora pelas almas do Purgatório. E (também) por uma intenção
particular e especial, para que se digne, por misericórdia, fazer luz num caso que entregamos à
Sua poderosa intercessão. //2//

A VIDA DEVE SER UM ALTAR

68. A vida da nossa alma é uma eternidade com Deus, porque n'Ele somos eternos e por Ele
chamados à eternidade. Por isso, devemos estar atentos aos pensamentos e aspirações que
correspondem ao nosso fim último. Tudo nos mostra, dentro e fora de nós, que nascemos para a
eternidade, para aquela vida que não terá mais fim.
69. E porque assim é, devemos aproveitar os dias e horas da nossa vida, consagrando-as,
oferecendo-as no altar. O altar deste sacrifício é a vida inteira que viemos encontrar neste
mundo. Cada uma de nós tem de convencer-se que a sua própria vida tem de ser levada por si
mesma, ajudada pela graça de Deus, vivendo as verdades eternas. É um engano nós pensarmos
que temos de ir buscar quem nos ajude. Esse auxílio é transitório, porque todo ele está sujeito a
tantas mudanças, nos próprios que procuramos, que não perdura por nós, por nossa vontade. Esta
deve obrar por si mesma, com responsabilidade própria. O verdadeiro auxílio está em Deus, Ele
que pode tudo, Ele que vê tudo fora e dentro de nós. As pessoas são meios de nos animar a irmos
para Deus. Mas nunca elas fazem a fortaleza da (nossa) vontade. Essa só nasce da fidelidade da
alma para com Deus, que O tem presente diante do altar da sua vida. Ele o seu Cristo vivo:
Hóstia Imaculada. A alma deve viver o que Ele vive nesse altar da sua vida.

70. Vive (o que Ele vive), quando ela quer viver as verdades eternas, na dor que o Seu amor
sofreu por nós, desde o nascimento até à morte de cruz. O silêncio da Sua dor, foi fruto da
paciência infinita, fruto do amor por nós (e) a seu Eterno Pai. A nossa vida deve ser um altar

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vivo, sempre acompanhado pela lâmpada acesa da vontade pronta a seguir Aquele Senhor da
Vida. (Esse Senhor da Vida) que está sempre presente nos nossos movimentos, que vê o que
fazemos, a quem procuramos, para quem olhamos. Quantas vezes essa lâmpada se apaga (e em
vez de a alma ir) para Ele, vai em procura de alguém que fale mais ao sentir e à razão. Se
trazemos desengano, lá nos voltamos para Ele. Ele, sempre no silêncio da Sua dor, nos indica a
eternidade, para lá nos mostrar o que desperdiçamos no altar da nossa vida.

71. Este mês meditemos na eternidade, sempre presente e nós presentes a ela. Diante desta
verdade tudo passa como o nada. Deve a nossa alma viver como se não vivesse neste mundo,
desprendendo-se das criaturas, de todas as coisas que a impedem de ser toda de Deus, não
cedendo ao respeito humano. A lâmpada da nossa generosidade, que deve ser Deus presente em
nós e nós sempre presentes às verdades eternas, está por vezes apagada diante do altar da nossa
vida. Meditemos nas palavras de N.Senhor: "a Minha alma está triste até à morte." A causa da
sua tristeza somos nós, com a nossa falta de fidelidade às Suas graças.

72. Desejo pedir para que, neste mês, não esqueçamos a novena a S. Miguel Arcanjo, para
que interceda por nós nos combates da nossa vida e pelas várias intenções deste mês. Para que o
Divino Espírito Santo se digne fazer luz sobre vários assuntos que interessam à glória de Deus.
No mesmo sentido venho pedir a novena a Santa Teresa do Menino Jesus, procurando, cada uma
de nós, tirar da sua vida aquelas lições de humildade, generosidade e espírito de sacrifício que ela
tão bem soube viver para Deus, seu único fim em todas as coisas. Como ela aprendamos a amar a
Deus sobre todas as coisas, pela Fé que a guiava e animava a imolar a sua vida a N. Senhor. É o
caminho a que devemos aspirar: viver de Fé sem apoio nas criaturas.

Circular de Setembro de 1941 //1//

A VIDA É UM CONTÍNUO SACRIFÍCIO

73. A falta de convicção de que a nossa vida tem de ser uma contínua imolação da vontade,
faz com que, muitas vezes, depois de termos conquistado vitórias, nos julguemos já seguras do
dia de amanhã. E assim vamos pensando, perdendo todos os recursos da verdadeira humildade,
esquecendo a realidade de que temos de vigiar sempre, para não entrarmos em tentação. A
humildade é a luz que guia a alma. Quando se não faz por esta, tudo são trevas, dentro e fora de
nós. Daí, a noite escura do amor próprio e de toda a sorte de razões humanas, que fazem com que
a nossa vontade seja vencida pelos melindres da soberba.

74. Nem sempre descobrimos a fonte desses melindres. Quando a nossa alma não vai pelo
caminho da simplicidade, do desprendimento e da morte a si mesma, todas as inclinações
imperfeitas e más da nossa natureza se levantam como leões para nos vencer. E quantas vezes
somos vencidos! Os melindres matam a alma. Formam uma natureza imperfeita, daquela
imperfeição que obscurece a luz da graça e, depois, julgando-nos pelas nossas boas intenções,
sem melindres, estes matam todos os bons princípios de simplicidade e pureza da verdadeira
intenção.

75. Nosso Senhor mostrou-nos na cruz o desprezo a que os homens O lançaram. Nós
sentimos muito o que Ele por nós sofreu, mas este sentimento só é sincero e verdadeiro se,
quando nos ferem, nós dizemos com Ele, "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". O
espírito de que devemos viver e ter sempre presente é o espírito que nos foi pregado e ensinado
desde o nascimento do Senhor até à Sua crucifixão. Quando a nossa natureza não quiser aceitar,
examinemos as razões que ela dá e, no fim, veremos como estamos cheias de nós mesmas.

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76. Desçamos aos pobrezinhos e esfarrapados e olhemos para a cruz de N. Senhor, Ele a
Vítima Santíssima, despido na cruz. Fujamos das repugnâncias que nos inspiram os menos
cultos, os pobres, os ignorantes, porque esses sentimentos nascem da nossa miséria, do nosso
orgulho, da nossa soberba, da nossa vaidade. O espírito desta obra é incarnar em nós o Evangelho
de Cristo, Senhor nosso. Não é cultivar a inteligência que foge do contacto com os desgraçados,
mas ir ao encontro destes e com Cristo Senhor nosso na nossa alma e no coração chorar à mistura
com eles as nossas próprias misérias que eles não vêem em nós.

77. Nós temos de viver a mansidão do Divino Mestre, a caridade que não exclui os
ignorantes, os desgraçados, os infelizes. À mistura com as suas desditas, temos sim de dar-lhes,
pela imolação da nossa vontade, dos nossos gostos, aquela boa vontade que os leve de contínuo a
fazer connosco, por meio duma vida cristã, uma prece ao céu de perdão e misericórdia, para as
nossas manchas e para as do mundo inteiro.

78. Temos de fugir dos pensamentos de grandeza, inspirada pela vaidade de que sabemos o
que os outros não sabem, nem são capazes de conhecer pelo lado da cultura que trabalhamos em
nós. Temos de fugir da ostentação, que se esconde no amor próprio e só é sentida por cada uma
por si mesma. Daí a fonte de conceitos errados para (nos) discriminar dos outros, pois estes só
sabem o que fazem por conhecimento tirado dos seus próprios actos bem intencionados e
dirigidos só a Deus, portanto com o discernimento que lhes dá a vida que vivem, mostrando-se
simples na interpretação que fazem de tudo que julgam à sua maneira de fazer.
79. A pobreza voluntária é uma fonte de riqueza para a alma. Nenhuma coisa chama sua,
mas tudo dirige só a Deus como Senhor de todas as coisas. Da alma que se vê templo de Deus
que respeita em si mesma, e O vê no próximo feito à sua imagem e semelhança, nasce a caridade.
A nossa falta de caridade e de amor ao próximo vem do orgulho de nós mesmas, que chamamos
nosso ao que não é, e é apenas dom de Deus.

80. A nossa vida deve ser um sacrifício contínuo de fazer morrer em nós tudo aquilo que
não nos leva para Deus e para o próximo. Pelo próximo devemos dar a nossa vida como Nosso
Senhor na Cruz se deu por nós. Dar a nossa vida a cada instante, dando-nos em sacrifício
contínuo pela sua salvação eterna, darmo-nos a nós mesmas. Que o espírito de N. Senhor entre
em nossas almas e nos conduza ao caminho do dever, esclarecendo as nossas potências.

81. Que neste mês, dedicado ao SSmo Rosário, prestemos esse culto de louvor a Na Senhora
do Rosário de Fátima, pedindo-Lhe, em união de intenções com o Santo Padre, pela paz do
mundo. Pedimos igualmente que nos preparemos para a festa de Cristo Rei, suplicando que
venha a nós o reinado do Seu Amor misericordioso, perdoando os crimes que foram a causa desta
guerra.
Circular de Outubro de 1941 //1//

CARIDADE E COMPAIXÃO
PARA COM AS ALMAS DO PURGATÓRIO
82. Neste mês, dedicado às almas do Purgatório, procuremos corresponder ao dever de as
sufragar. Neste sufrágio, teremos ocasião de meditar nas verdades eternas e também no
aproveitamento do tempo que N. Senhor nos concede de vida, não desperdiçando os sacrifícios
de todo o instante, com os quais podemos ir diminuindo as nossas penas no Purgatório,
purificando a nossa alma das suas manchas e dando glória a Deus.
83. Tão pouco pensamos nos que sofrem nesse lugar de purificação, sendo tão proveitoso
transportar o nosso espírito a esse lugar desconhecido e só compreendido pelas verdades da nossa
fé! Lá, temos aqueles que nos são queridos, que esperam da nossa gratidão a generosidade de

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lhes pagarmos as suas dívidas, orando e sufragando as suas almas. Neste dever de caridade para
com os que partem, sejamos perfeitos. Estendamos as nossas vistas por esse lugar de eternidade
que nos espera, e no qual um dia esperamos também de todos que se lembrem de nós.
84. A caridade deve estender-se a todos os que vivem e aos que partem. Na falta de
praticarmos esta virtude, nos encontramos vazios diante dos olhares da misericórdia de Deus, que
deseja ver aqueles que O amam arder nessa caridade. Estendamos a nossa caridade pelas chamas
do Purgatório e amemos estas almas benditas que, junto de Deus, um dia serão reconhecidas ao
que fizermos por elas. O olhar da nossa alma deve ser, para as dores da humanidade, como o sol
que, alumiando a terra, é igual para as mesmas. A nossa alma deve ser, na generosidade e no
olhar fixo em Deus, como um outro Deus, que ama a todos sem excluir a nenhum porque,
enquanto à sua SSma Humanidade, morreu por todos nós.
85. Trabalhemos, na nossa alma, pela virtude da caridade. Não só daquela que se irradia
em obras, mas sim daquela que (se) está fazendo, pelas obras, numa vida interior de abnegação,
de renúncia a tudo, de morte a si mesma. Muitos actos de caridade, que por vezes levamos a
efeito, podem nascer de vários motivos, mas muito pouco da verdadeira caridade em si. É preciso
que a caridade nasça, dentro da nossa alma, da verdadeira luz de Deus, a qual traz a humildade
para nos sujeitarmos aos desprezos, que o bem-fazer, muitas vezes, traz consigo. Se, nos
desprezos, não diminui o nosso zelo, é certo que essa caridade que praticamos nasceu do
verdadeiro amor de Deus. Se, ao contrário, nos sentimos feridos, essa caridade nasceu de nós, das
nossas simpatias, do nosso gosto pelo agradável de nós mesmos, fazendo o bem à medida dos
nossos desejos e nunca da verdadeira caridade, cujo fim é dar-se a si mesmo a cada um, só por
Deus, amando as humilhações e abraçando-as com a Sua luz. Esta luz, que faz amar o
desagradável, que se dá aos outros morrendo a si mesma, é (que é) a fonte da verdadeira
caridade.
86. Nas obras que pedem a nossa cooperação, nunca vejamos nelas as pessoas, mas Deus
em cada uma delas. Assim possuiremos a humildade. Sem esta, não há a verdadeira caridade.
Nem luz, porque, entrando o nosso próprio gosto, entra a soberba, o orgulho. Este, que se infiltra
duma maneira subtil, vai ao mesmo tempo, também sem ninguém dar por isso, derrubando as
mesmas obras. A luz de Deus é prudente, como N. Senhor aconselha no Evangelho: "sede
prudentes como as serpentes". Essa prudência nasce da fonte da humildade, que modera todos os
temperamentos e governa todas as nossas acções pela oração da presença de Deus em tudo. Esta
presença faz-se pela delicadeza com que a alma deve dirigir tudo a Deus, fonte de toda a ciência,
que faz a fortaleza e a perseverança no meio das tribulações e perseguições que vêm das mesmas
obras de Deus.
87. Quem não ama o desprezo das criaturas, não pode trabalhar com fruto nas obras de
Deus. Não podemos fazer o bem, sem que compreendamos que, primeiro, é preciso, em todos os
instantes da nossa vida, matar o germe do mal em nós mesmos, que é o orgulho e a soberba, com
que nos sentimos melindrados, quando alguém vem contra o que nós fazemos. Quando o nosso
coração acusar este sentimento, devemos cair de joelhos diante de Deus e dizer: " Senhor, eu sou
a miséria das misérias. Lavai-me das minhas manchas e fazei-me expiar o meu pecado, pois sou a
causa de que as Vossas obras não floresçam! "

Circular de Novembro de 1941 //1//

QUE O NOSSO OLHAR

ESTEJA SEMPRE FIXO NA VERDADE

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88. A nossa vida deve ser, como almas que procuram a Deus, viver da Verdade. A verdade
é Deus, em todas as coisas. A nossa vida é como um espelho no qual (se) deve ver essa Verdade.
Para nós a conhecermos, temos de fugir primeiro de nós mesmas, do nosso " eu, " para mais
facilmente nos aproximarmos de Deus. Fugir de dar, a esse "eu", satisfação do que é imperfeito,
pois só o que é imperfeito e imaginação do amor-próprio o satisfaz. Mesmo quando fazemos o
bem, não só a alma sente gozo, mas o "eu", se este se dirigiu na sua satisfação às criaturas. A
primeira criatura somos nós mesmas e, depois, todas as outras.

89. Não nos guiemos pelos sentimentos naturais do coração, mesmo quando fazemos o
bem, mas sim façamos todas as coisas com o sentimento que teríamos se fosse a última coisa da
nossa vida que estivesse diante do tribunal da verdade a ser julgada por Deus. Se assim fizermos,
com certeza que nós próprias, nesses sentimentos de verdade, não queremos que nenhuma
criatura tome parte, nesse momento, nos nossos actos; com certeza que então só os queremos
dirigir a Ele, com aquele espírito de Fé e de amor que, vendo o nosso nada, a nossa insuficiência
e as nossas ingratidões para com Deus, nos fará chorar os nossos pecados. Naturalmente, seremos
levadas a dizer: "Senhor, nunca fiz nada na minha vida que Vos pudesse ser agradável e pudesse
apagar o peso que eu sinto dos meus pecados. Por isso, Senhor, tende misericórdia de mim, das
obras que eu faço, porque talvez todas estejam misturadas de mim mesma, eu a miséria das
misérias!"

90. Os nossos actos sempre imperfeitos – perfeitos só para o olhar do amor-próprio – (é


que) fazem com que as obras de Deus não tenham vida, porque a alma está cercada de gérmens
de morte. Esses gérmens, nascem dos sentidos, das inclinações da natureza. N. Senhor não pode
operar livremente, porque Lhe fechamos as portas da nossa alma, com as liberdades que damos
ao amor-próprio, fonte de todas as perturbações do espírito. A alma desapegada, que trabalha
continuamente recolhida (dos sentidos), fazendo da Verdade o centro das suas atenções e
aspirações, ainda que longe do mais perfeito, vê, contudo, mais longe. Compreende que os
caminhos do Senhor são tapetados de estrelas, que brilham na noite desta vida. Essas estrelas são
tudo aquilo que, fazendo sofrimento na nossa alma, se converte em luz. Por isso, devemos desejar
que se faça luz no nosso caminho. Essa luz só vem das tribulações, do desprezo de nós mesmas,
que nos custará uma vida inteira de contradições. Nunca devemos fugir da luz, que nos aparece
falando à nossa alma, de que a nossa vida é um poço sem fundo de Imperfeições e faltas.
Examinando tudo, acreditemos na luz que tudo nos mostra e fujamos de procurar nas pessoas a
sua explicação.

91. Termina mais um ano. Olhando ao que foi a nossa vida, para com nós mesmas e para
com o próximo, no exemplo que lhe demos, preparemos a nossa alma para que, ao principiar um
novo ano, este se inspire na vida de N. Senhor no presépio de Belém: humilde e apagada aos
olhos de todos. Que tudo o que façamos seja n'Ele e por Ele, sem mistura de interesses, mas
destes unicamente a glória de Deus. Demos a morte a vaidades escondidas, a complacências, a
ostentações de bem parecer, nas obras de Deus e em todo o apostolado. Na vida de piedade,
morte a nós mesmas, sem nos querermos mostrar fora o que dentro não somos para Deus.
Comecemos o ano com um olhar fixo na verdade. Com docilidade, deixando Deus operar
livremente, sem escolha de caminhos, de provações, de acontecimentos. Vendo em tudo o Seu
poder governando as almas e, estas, postas ao Seu divino serviço, podendo o Seu amor dizer a
cada alma: " na verdade pertencem-Me, porque nada peço que não o cumpram generosamente,
sem interrogar porque faço assim, esmagando o coração, a alma a inteligência e a vontade! " Só
no esmagamento do coração, centro do bem e do mal, a alma se eleva para Deus, conhecendo-O
como seu Senhor e seu Pai. A alma que foge a esse martírio não pode compreender a luz de
Deus, porque está cheia de trevas e estas escondem a verdade que só pode estar na alma humilde
e simples. Cada uma de nós é um abismo de soberba. Se não for esmagado de contínuo, a
própria alma se engana, não só a si mesma mas ao próximo e a todos quantos, só olhando às suas

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boas intenções, não descobrem também a raiz das suas imperfeições. Que o novo ano seja de um
olhar fixo na verdade, na humildade interior, no desapego de tudo, na submissão a Deus, nos
acontecimentos dentro e fora da nossa alma. Que o Senhor nos faça pressurosos no Seu caminho,
simples e prudentes; recolhidas, com espírito de fé, prontas a vencer as dificuldades, generosas
em abraçar as contrariedades, //l// fiéis e gratas pelos dons recebidos.

92. Aproxima-se o dia de Na Senhora da Conceição, nossa Rainha e nossa Mãe, a Mãe de
Misericórdia, a quem suplicamos, com dobrado amor, pela paz no mundo, pela glória da Santa
Igreja, pelo Sumo Pontífice, por tudo e por todos. Também pelas almas do Purgatório que
também A amaram e Lhe tributaram louvores. Que Ela desça o Seu olhar de Mãe de Misericórdia
sobre aquele lugar de purificação e, pela Sua Imaculada Conceição, as leve a gozar a face do
Senhor.

93. Celebremos o nascimento do Menino Jesus, preparando-nos com a Sua novena. Para O
honrar e agradecer os Seus benefícios, cada uma de nós, as que puderem fazê-lo, mande celebrar
uma missa em reparação das nossas infidelidades – podendo ser durante a mesma novena ou no
dia 25, oferecida por meio de Maria Santíssima ao Eterno Pai, em nome de Seu amado Filho
imolado sobre o altar – renovando assim o nosso desejo de estarmos prontas a ser servas
humildes, da Sua santíssima vontade.

Circular de Dezembro de 1941. //2//

FIXAR O NOSSO OLHAR NA VERDADE

94. Tudo passa, só Deus fica. Passa mais um ano e a alma fica, na reflexão e meditando, a
interrogar-se a si mesma: mais um ano que passou, e a minha alma não pensou que ele, aos juízos
de Deus, se pode tornar em muitos mil anos de purificação? Olhando a um instante de tristeza e
desamparo, lhe chamamos muitas vezes uma eternidade. À eternidade, não se lhe contam os
anos. Nesta vida, nós chamamos muitas vezes ao sofrimento do nosso espírito um nunca acabar.
Como quem sentisse já neste mundo, nesse sentir tão escondido, que ainda nos está daquele da
eternidade. A nossa vida, como almas, não é a de fazer da nossa vida de sacrifícios um sentir
dessa eternidade. Não lhe queiramos pôr o título de eterna, de que não se acaba mais o que cada
uma de nós sofre. O amor da alma para com Deus não chama a si mesma: " esta cruz nunca mais
se //1// acaba! " Mas sim chama à cruz o pão da vida, a vida de Fé.

95. Quer dizer, a cruz, quando é amada, faz luz na vida de Fé. E esta faz com que a alma vá
crescendo no conhecimento de Deus, porque é o prémio do bom combate. A nossa vida na terra é
como uma luz que faz luz quando dela não fugimos. Quer dizer, a verdade é luz que faz nova luz
na medida em que dela nos aproximamos amando-a. Essa luz da verdade resplandece desde o
Nascimento de N. Senhor até ao Calvário, morrendo na cruz. Nenhuma alma pode ignorar na
vida de Fé que a luz nasce dessa Verdade que é Deus, e quem dessa Verdade se desvia, vai-se
afastando, fugindo da cruz. E essa luz da verdade também se vai apagando em nós na mesma
medida. Para possuir a Verdade é necessário o espírito viver desde a pobreza de Belém até ao
cimo do Calvário!
96. É amar o nada elevando-se ao conhecimento da verdade. //3// A verdade é a convicção
de que sendo nós um nada aos olhos de Deus, conservar esse conhecimento olhando-nos a nós
próprias no íntimo, como ao serviço de todos, de tal forma que nunca possamos fazer desaparecer
da nossa mente: " sou um pobre servo de todos, posto ao serviço de todos por amor d'Aquele
Senhor que nasceu e morreu por mim, pregado numa cruz, despido e escarnecido! " Mas, porque
não amamos a verdade que nos ensina o desprezo de nós mesmos, por isso lá no íntimo nos
melindra tudo que passa pela imaginação, que está longe de ser a verdade. Quero dizer que

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muitas vezes a alma dando liberdade de imaginação, esta, tomando todo o pensamento e o sentir,
daí nos deixamos desviar de Deus, da Sua Divina Imagem desde o Seu nascimento até à sua
crucifixão (...) - ( incompleta )

Dezembro de 1941 (?) //4// 46

ANO 1942

PAZ E BEM

1. O Novo Ano deve ser para nós de paz e de bem-fazer. Paz na nossa alma, paz nas
famílias, paz no próximo. A paz nasce da imolação da nossa vontade, dos nossos gostos. Todos
nós sentimos a satisfação ou o gosto das coisas. Em senti-lo, não entra o desgosto de Deus; mas
sim quando fazemos mau uso dele. A alma para ter paz não procura o gosto das coisas que
passam; mas procura tê-la através do desgosto das mesmas coisas. O gosto de Deus está em nos
separarmos de tudo quanto agrada aos sentidos e que não é segundo o Seu divino agrado.

2. Uma alma só faz o bem aos outros quando não descura o bem a fazer à sua própria alma.
O bem à nossa alma é vigiarmos sobre nós mesmas, porque o demónio espreita e aproveita as
ocasiões de nos iludir com imagens de bem, se o nosso coração tem alguma porta aberta por onde
o demónio entre. Quando essa porta se abre de par em par, pela sensibilidade, pela tristeza, pelo
desânimo, não procurando ir à fonte de todo o Bem, que é Nosso Senhor, mas procurando ir
primeiro às criaturas, então à volta da alma faz-se uma noite sombria que esconde toda a luz. A
alma sai das criaturas sempre com um vazio doloroso e ainda com a noite na inteligência, não se
sabendo compreender a ela mesma; pois a paz só existe no Bem que é Deus.

3. Estes pensamentos são para as almas que, de si mesmas, fizeram promessa de dar a Deus
amor por amor. Nas nossas relações com as pessoas, com a família, com as amigas, com os
sacerdotes e com os confessores, sejamos cheias de Paz e de Bem. De Paz, enchendo-nos do
Deus da Paz; de Bem fazendo o bem com os olhos em Deus, como uma oração que sem cessar se
eleva ao Altíssimo, Rei e Senhor das almas.

4. Entramos num Novo-Ano, ano que para cada uma de nós prepara uma nova vida que
devemos abraçar, procurando a luz que nos guie mais para Deus. Essa luz deve nascer das
disposições com que começarmos a olhar à nossa santificação, a qual pede muita perseverança no
Bem. Para perseverar no Bem, temos de regular todas as nossas acções e estas devem nascer
duma grande humildade e desapego do coração.

5. Humildade que aceita bem a exortação, que se submete e inclina ao bom conselho.
Quando este, vindo dos outros, nos pareça enganarem-se, oremos para que desça sobre eles mais
luz, mais verdade e experiência. À alma que aceita bem, N. Senhor a encherá de virtude, a qual
fará luz aos que a aconselham. Não podemos, muita vez, ser luz para nós mesmas. Outros o têm
de ser. Se, da nossa parte, não houver humildade para ver assim, pouco a pouco irá
desaparecendo a disposição para o Bem, porque vem meter-se a soberba. Esta, fazendo-nos julgar
ver mais claro, deixa-nos (então) frios e abatidos, sem nos deixar levar simplesmente, como os
pequeninos.

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- NOTA:- Não foi enviada ao grupo. A página 2 está em branco.

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6. Paz e Bem nas famílias: caridade para com todos, cheia de verdade, de docilidade, mas
sempre firmes nos pensamentos e sentimentos mais nobres da alma em Deus. Darmo-nos
inteiramente, sem que nos possuam o coração, pois este só deve arder em divina caridade.

7. Paz e Bem com todos que são nossos irmãos em Cristo Senhor Nosso: que nunca, ao
condenarmos as suas más obras, que a própria Igreja condena, vamos contra a caridade cristã.
Para todos tenhamos indulgência, misericórdia, procurando sempre, com as nossas palavras,
espalhar a luz da caridade, da compaixão, pensando que também nós estamos sujeitos a perder a
graça de Deus, pois todos somos filhos da mesma fragilidade. Que na nossa alma esteja sempre
presente a misericórdia para com o próximo e seja contínua a oração em nome de N. Senhor ao
Eterno Pai, pela salvação do mundo. A misericórdia, inspirada em Deus, faz pedir-Lhe
misericórdia.

8. Paz e Bem, dentro e fora da nossa alma, nas relações com todos e com os sacerdotes:
vendo nestes a Hóstia viva sem mancha, Deus que representam na terra. Todos os actos da nossa
vida devem respirar Paz e Bem, sem que de nós saiam, pelo nosso procedimento, actos de
irreverência para o que eles representam. Mas, (para isso), é necessário não afastar de nós o
pensamento de que todo o ser criado é frágil. Estamos sujeitos, todos nós, às mesmas fraquezas e
misérias, expostos à infidelidade para com Deus. Guardemos a nossa alma e a nossa razão.
Devemos ser prudentes. E, sobretudo, reverentes aos dons de Deus no sacerdote, porque a falta
de reverência a esses dons, afasta a alma da pureza devida ao trato com os mesmos. Daí, as
infidelidades à graça, as perturbações do espírito, o escurecimento da inteligência, a //1//
inquietação da alma, o apego do coração, a derrocada final, esquecendo-nos do sacerdócio para
ficar a ver uma criatura como nós.

9. Paz e Bem, pureza e prudência, humildade e respeito, docilidade e caridade, e,


finalmente, temor de Deus. Adornado o porte de cada uma, com o brilho destas virtudes, o
apostolado será frutuoso. Sem elas, semeamos mais joio do que trigo. Que Nª. Senhora nos
ensine a humildade de que foi modelo. Abraçada, cada uma de nós, ao dever, caminhemos com
perseverança, contando sempre com duros combates contra o nosso " eu " e contra o mundo. A
nossa vida será sempre a dum mar agitado em que todas estamos em perigo. Nunca esqueçamos
que o orgulho é a fonte de tanta morte de virtudes e, daí, todos nós sempre inclinados a ceder à
nossa miséria. Esta só poderá ser vencida pela perseverança na cruz, na humilhação e desprezo de
nós mesmas. Que o Novo-Ano seja para nós abençoado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito
Santo. Como servas humildes, deixemo-nos pregar por amor de N. Senhor na Sua Cruz.

Circular de Janeiro de 1942 //2//

A PAZ DA ALMA

10. A paz da alma é fruto da correspondência à graça. É fruto da fidelidade às promessas


que fizémos, de seguir a Deus Nosso Senhor, por Ele ser quem é. Essa correspondência nasce da
generosidade. Esta vem, por sua vez, do amor à Verdade. Nos tempos que atravessamos, vê-se
que todos querem a verdade. Por isso, uns fazem esforços para a conhecer, pondo a inteligência
em campo; outros, a sua acção, guiada só pela razão. Tudo isto leva a que dêem liberdades ao
coração humano e, do que ele sente, façam a sua luz, livres os sentidos de tomarem o que lhes dá
a razão, bem ou mal esclarecida. Daí a variedade de interpretações, que afastam as pessoas do
verdadeiro espírito de Fé e levam a vontade para onde lhes parece mais suave, mais fáceis de
aceitar os ensinamentos que recebem, até que o campo do bem se converte em outro de confusão.

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11. Tudo isto faz entrar a alma em perturbações e ficar sem fazer nada de perfeito e de bom,
porque tudo quanto faz é mais sujeito aos caprichos da própria vontade do que à vontade de
Deus. Como havemos nós de fugir dum caminho desses para seguir o caminho da verdadeira luz,
que é a vontade de Deus? Guiar a nossa alma por Ele. E como poderemos conhecer que é Deus
quem nos está guiando e que é Ele que nos está mostrando o que quer? É que sendo Deus luz na
noite da Fé, a Fé é (a) que crer em Deus, o Senhor do amor e da paz. É a paz o guia mais seguro
para O conhecer e fazer a Sua Vontade.

12. Trabalhar nas obras de Deus com desejo de viver a Deus, o Deus da Paz e do amor, sem
se deixar perturbar querendo fazer obras suas. Nessa paz bendita, que faz brotar, da terra de
espinhos, pão e vida de luz e de fortaleza para a alma, nesta paz, sairá por toda a parte, como o
bom semeador, a lançar obras de salvação das almas, pela sua vida em Deus. Esta alma é o bom
operário da vinha do Senhor, que mereceu que Ele lhe pagasse bem. A recompensa é a paz
interior, que nasce da presença de Deus numa alma, que vive sem outros interesses senão o de
Lhe agradar. A paz é que conforta e suaviza o coração, no tempo da provação, pois é fruto do
amor ao desprezo de nós mesmas.

13. A paz é abandonada, é confiante, fruto de quem vai afastando o seu olhar da terra e
aproximando-se mais de Deus.
A paz é cheia de resignação, fruto de a alma procurar a luz de Deus, não se apoiando na que
vem das criaturas.
A paz é doce, suave, e branda, fruto da paciência nas lutas interiores, com que a alma chega
a vencer as exteriores.
A paz é cheia de misericórdia, fruto da caridade com que a alma, vendo-se a si mesma na
sua miséria, se compadece das faltas alheias.
A paz é esclarecida, porque bebe da fonte da Verdade, fruto da renúncia aos caprichos da
inteligência e da razão humana.
A paz é um castelo fortificado, fruto dum coração puro que não deixa entrar nele afeições
inúteis.
A paz é luz que alumia nas trevas, fruto duma vida pura dos sentidos que renuncia aos
pensamentos da própria satisfação para os transformar na presença de Deus.

14. A paz é o farol que indica, no mar tormentoso da vida, onde está Deus. E como n'Ele
está tudo, como devemos procurá-l'O, até O encontrar nessa paz, porque é o Deus da Paz, do
Amor e da Misericórdia, dos que n'Ele confiam e tudo Lhe entregaram da sua própria vida! Que a
paz do Senhor, vida da alma, seja o laço de união das almas em Deus. Tanto nas obras, como
fora das obras, na família, como fora da família, em toda a parte, espalhemos o Deus da paz e da
misericórdia, sendo misericordiosos com tudo e com todos.

15. Preparemo-nos para celebrar o Santo Tempo da Quaresma, dentro deste espírito (de
paz), com penitência interior, penitência do coração, penitência dos sentidos, pois Nosso Senhor
estará com os olhos postos nas almas que prometeram fidelidade e dela não dão provas
suficientes. Que a paz de Deus seja a nossa vida n'Ele e com Ele.

Circular de Fevereiro de 1942 //1//

A MINHA VIDA DEVE SER EM DEUS

16. Nossa vida é um momento que passa. Durante desse momento, é Deus, sempre presente
à alma, quem fala à consciência recta e esclarecida. Recta, porque só quer a Deus; esclarecida
porque procura conhecer o caminho. Não olha aos espinhos, nem às dificuldades, para conhecer
Aquele que é luz no meio das trevas. A luz de Deus não aparece no meio dos regalos que

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procuramos, mas no meio das provas que abraçamos, e estas são: os desprezos, as humilhações,
as lágrimas, as dores, as angústias e as aflições.

17. Todo o coração que procura esquecer-se da presença de Deus, fugindo à aceitação do
sofrimento, esse coração tende para a terra. E esta acaba por cavar o seu abismo, o abismo da
tribulação, da perda da paz interior. Quem se entretém a dar ouvidos aos sentidos, foge da
presença de Deus, vivendo para si mesma. N. Senhor é luz, mas luz que vence, luz que esmaga,
luz que desfaz em pó a natureza rebelde quando esta tem fome de verdade.

18. Queremos conhecer por que caminho vamos? Olhemos para o Calvário, no qual N.
Senhor foi Vítima inocente e vejamos, ao mesmo tempo, qual tem sido a inclinação principal do
nosso amor para com Deus. Se é pelo caminho do desprezo de nós mesmas, ou se procurando o
agradável em tudo. N. Senhor mostrou, nos sofrimentos da Paixão, que não olhava à dor, mas ao
amor. O amor levou-O a abraçar todas as humilhações e desprezos.

19. Meditemo-lo nesta Quaresma. Para subir a montanha é preciso ter amor. O amor é feito
de tormentos, de golpes profundos no coração. É dar sem receber. É morrer à sensibilidade. É
esmagar o coração, não o deixando viver para si, ou para os outros, mas só para Deus. O coração
é inclinado ao afecto? Pois não deixemos que ele se apoie e viva do imperfeito, mas só de Deus.
N. Senhor, no excesso do Seu amor por nós, mostrou ao mundo esse amor, vertendo sangue por
todos os poros. E, quando esse sangue corria pela terra, o Seu divino Coração chorava, pedindo
misericórdia a Seu Eterno Pai.

20. O coração é o centro da vida dos afectos. Matemos estes, cortando pela raiz com as mil
preocupações e mil nadas que nos cercam. Com fortaleza, à semelhança dos mártires, digamos:
deste-te a Deus, para consumires a tua vida na negação de tudo e, assim, te elevares até Deus,
para que Ele possa descer até ao teu coração e fazer nele um lugar de descanso, segundo a pureza
do teu viver.

21. Nesta quadra do ano, tão própria para entrarmos dentro de nós mesmas e ouvirmos as
queixas de N. Senhor no jardim das oliveiras, demo-nos pressa à preparação do nosso coração,
para ouvir a voz triste dos salmos e gemidos da Santa Igreja, lembrando-nos que fomos nós os
autores dessa via dolorosa do Senhor. E, sem desculpas, cortemos com os embaraços que se
opõem à nossa santificação, que se opõem às queixas que cada uma de nós ouve na sua própria
consciência, sem testemunhas. Por isso mesmo (por ser uma voz sem testemunhas), é que nós nos
sabemos mostrar sempre inocentes diante dos outros, e tudo resolvemos, nos nossos escrúpulos,
com o juízo próprio, que formamos para nos desculparmos a nós próprias.

22. O tempo passa, a vida desaparece e as forças da vontade vão perdendo o vigor dos
primeiros dias da nossa conversão. Que seja o nosso propósito, nesta Quaresma de penitência,
olhar para o Coração ferido de N. Senhor e prometer-Lhe ver nas criaturas só a Sua imagem, não
nos servindo delas pelo que tenham de agradável, mas sim por amor de Deus. Que no nosso olhar
brilhe a limpidez do coração puro que, morto para as criaturas, deve ser templo vivo de Deus.
Entreguemo-nos à meditação da Paixão de N. Senhor. Peçamos ao Senhor crucificado que nos
crucifique o coração no Seu amor puríssimo.

23. Consagremos o mês a S. José, pedindo-lhe a graça da humildade. Não esqueçamos o dia
25 de Março e roguemos à SS ma Virgem a mesma graça.

Circular de Março de 1942 //1//

O MEU APELO AO CÉU

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24. Caminha a alma sozinha, através da noite escura da Fé, e de olhar fito no Céu. Diz, de
contínuo, ao seu Senhor e seu Deus, no exemplo que dá da sua vida só em Deus, ao Seu serviço e
do próximo: " Senhor, a minha alma é mais pobre do que os pobrezinhos que passam lá longe. É
que só longe, até aqui, os tenho querido ver com os meus olhares; tenho-me afastado da miséria
alheia, porque esta me parece sempre feia e repugnante; não olho para mim própria, mais
repugnante aos Vosso olhos do que esses, que na alma são mais puros, mais dignos do Vosso
olhar."

25. Procurei os olhares dos grandes. Daqueles que pudessem dizer que eu era alguém, que
passava pela rua coberta de loiros. Na fantasia da imaginação, ouvindo-me a mim mesma,
julgava-me algo do apreço dos outros. E assim, caminhando, Senhor, vejo o que sou pelo que já
fui. E continuarei a sê-lo, se sair da noite escura da Fé e me procurar a mim mesma, apoiando-
me, pelo caminho, no que julgo ter feito já de bem, nesta terra de míseros mortais. Bem
aventurados os pobrezinhos; aqueles que, pela condição da sua pobreza ninguém olha, mas que,
no fundo do seu coração, têm afectos puros; aqueles cujos gemidos de dor se convertem em
verdadeiros actos de amor, que se elevam como nuvens de incenso até ao trono do Senhor.

26. Nesses colóquios de amargura, o Céu rasga-se-lhes. E, essas almas apagadas – que não
se ligam importância a si mesmas, que não se encontram com o seu " eu " senão para o
esmagarem, essas almas desfeitas no pó da tribulação, sem outro arrimo senão o Calvário, senão
o silêncio com Deus – essas almas fazem soprar sobre a terra o aroma duma paz conquistada a
troco de vitórias contínuas, dolorosas, mas levadas alegremente, porque o seu confidente é Deus,
que as sustenta e as transforma n'Ele mesmo. Foi para isto que nos demos. Para isto prometemos
fidelidade a Deus. É este o espírito em que devemos viver, dentro do cumprimento do dever de
cada uma de nós. Descobrir o Céu na nossa alma, que é Deus. Ele só no-lo dará, à medida que
nos dermos. Quem dá pouco, recebe pouco; quem dá muito, recebe muito; quem dá tudo,
receberá tudo. Demo-nos em tudo, numa renúncia total.

27. Não liguemos importância a nós mesmas, no que fazemos, no que pensamos, no que
queremos, pois mais pobres que os andrajos dos pobrezinhos somos. E seremos mais miseráveis
do que esses, aos olhos do Senhor. As tribulações nascem nas almas da soberba oculta, do desejo
de aparecer, e de querermos ser vistos, apreciados e estimados. Enquanto esses sentimentos
mesquinhos tiverem em nós preponderância, somos mais miseráveis que os mais miseráveis deste
mundo, porque, conhecendo o que Deus quer de nós, não queremos o que Deus quer. Então nós
parecemos como os sepulcros caiados de branco por fora e negros por dentro. Devemos ter
presentes aquelas palavras do Evangelho quando fala do publicano e do fariseu, pois o nosso
espírito e a vida prática devem ser a do publicano no meio dos deveres e obras de cada dia.

28. No dia 21, segundo aniversário da fundação do nosso grupo, como preparação para
esse dia, vamos todas fazer uma novena de orações e, podendo ser, de Sagradas Comunhões,
pedindo por várias intenções particulares e especialmente pelo Santo Padre, e também
agradecendo ao Senhor todas as graças recebidas, desde que este grupo se entregou à Divina
Providência. A novena deve ser consagrada ao Divino Espírito Santo e a Nossa Senhora de
Fátima.
Circular de Abril de 1942 //1//

PARA TODAS NÓS


ESTE PENSAMENTO DE VERDADE

29. Ao celebrarmos o 2º. aniversário do nosso grupo, que cada uma de nós procure
conhecer, em si mesma, se realmente vai continuando a sentir o desejo de lhe pertencer. N.

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Senhor quer que as almas sejam fiéis à Sua graça, aproveitando a luz da sua misericórdia infinita
para connosco, que nos indica os meios mais seguros de até Ele chegarmos com mais facilidade.

30. Esses meios são aqueles que N. Senhor ensinava aos Apóstolos: que devíam aprender
d'Ele, que em tudo fazia a vontade de Seu Pai. Essa vontade divina era de que o Filho de Deus
amasse os homens até dar a vida por eles. Assim nós, seguindo a vontade do Pai, em nome de
Seu bendito Filho, devemos dar a nossa vida imolada. Não imolação de palavras, mas sim de
obras. Não devemos ser como a estátua, em que o pintor pode pôr as cores que lhe dá a
inspiração. Somos mais do que isso. Nós somos vasos, em que é depositado o sopro da graça
divina, que vive e faz viver. E, quando a alma vive a vontade de Deus, essa vida transforma-se
em vidas, fazendo viver na Fé os nossos irmãos.

31. A nossa vida é, e deve ser, na acção, um campo fértil, mas escondido, visto somente
pelo céu, e (por olhares parecidos aos das) aves, que pairam mais alto do que o mundo pode
atingir com seu olhar. É que os pensamentos da alma devem andar longe dos sentidos, que nos
levam para a terra e os transformam em pó. Os nossos pensamentos devem subir mais alto. E só
no alto se conservam, quando a alma se esconde a seus próprios olhos. Escondamos das vistas
dos homens a nossa vida em Deus, para que não seja manchada pelos sentidos, manchada pelos
afectos imperfeitos, pelas afeições sem pureza de coração. A pureza de coração é um vaso de
cristal, que um olhar nosso menos perfeito embacia; cristal puro, no qual Deus tem postos os
Seus olhos, velando a Sua imagem na alma.

32. É o meu apelo, o meu clamor neste aniversário: que sejamos puras, puras nos
pensamentos de afeição, sem deixar entrar neles a sensibilidade; sem deixar viver desta, mas
fugindo dela como do demónio. Só assim poderemos ter esperança de atravessar este mar
impiedoso que passa pelo mundo. Cegamo-nos com o pensamento de que, para ser virtuoso e
puro, basta a intenção de o ser. Essa Intenção só não chega. Se não estou em erro, é essa falsa
intenção, que há-de derrubar os castelos mais fortes e submergir o mundo num caos sem remédio.
Entra essa falsa intenção, nos tempos actuais, dentro mesmo das almas que se querem dizer
perfeitas, mas que não vêem que, elas próprias, se deixam arrastar pelo mundo que passa,
adornando-se de imagem e fantasias dentro da própria maneira de praticar a virtude, consolando-
se a si mesmas pela forma como procedem dentro e fora de si. O demónio triunfa do êxito
alcançado, tendo vencido a inteligência, a vontade fraca em ceder aos caprichos de um mundo
que crucifica a verdade, a unidade das almas.

33. Sejamos unidas nos laços do dever, da virtude praticada com rigor. Não nos deixemos
arrastar pela vaidade que leva à soberba. Lembremo-nos que a vaidade pode estar nas coisas mais
pequeninas como nas grandes. Basta pensar que estamos na presença de Deus porque nos demos
e seguimos este espírito, já somos por isso mesmo almas diferentes das outras, almas com mais
responsabilidades, almas com mais deveres. Miséria das misérias! É sempre a miséria da vaidade,
que derruba as almas mais fortes, que faz o aborrecimento de Deus, que embacia o cristal mais
puro da pureza em que devemos viver. Toda a nossa vida de piedade, que se quer rever nos
outros, é vida sem viver, é vida que fará morrer toda a virtude.
21 de Abril de 1942. //1//

CONFIEMOS TUDO A NOSSA SENHORA

34. Aos pés de Nossa Senhora, no Seu mês de graças, juntemos as nossas preces às da Santa
Igreja, em união com o Sumo Pontífice, suplicando com Ela os dons do Espírito Santo, para que
a nossa vida seja digna imitação das suas virtudes santíssimas. Que essas virtudes não sejam
como as flores que adornam o seu altar, mas sujeitas a murchar. Antes se tornem virtudes sólidas

41
e perseverantes, adorno verdadeiro do Seu amor. Confiemos (para isso) ao Seu puríssimo
Coração a consagração dos nossos afectos, as nossas intenções e as nossas famílias.

35. Procuremos imitar a SSma Virgem no lar, num espírito de abnegação e de verdadeira
caridade cristã. Devemos ser na família o exemplo da alma que se dá por Deus a tudo por todos,
para que todos venham para Deus. Amor à vida oculta, que esconde aos olhos dos outros os
sacrifícios que faz de si mesma, vendo, na família, Deus Senhor Nosso a quem serve nos seus
membros. Como Nossa Senhora, que se imolou sempre dentro dum silêncio de amor, assim nós,
à Sua imitação, nos deixemos guiar da Sua luz – a da glória das suas virtudes – escondendo-nos
aos olhos do mundo. Não ligando importância nem admiração aos actos da nossa vida interior,
mas deixando-nos levar pelos caminhos da humildade, que nos mostra o nosso nada e o nada de
todas as coisas. Este caminho nos irá revelando que tudo, de que somos capazes, é sempre nada,
pois somos cheios de miséria.

36. Lancemo-nos nos braços de tão boa Mãe e, cheios de confiança, acolhamo-nos ao Seu
puríssimo Coração que nos espera, para nos dar da Sua compaixão e misericórdia. Pedimos a
todas as nossas companheiras que intercedam junto de Nª. Senhora de Fátima, nas suas bodas de
prata, para que, pelo Seu puríssimo Coração, conceda a cura da nossa doente. Ela confia que nos
lembremos, com todo o interesse, da sua alma tão dedicada e abnegada por todas nós.
Circular de Maio de 1942 //l//

A NOSSA VIDA DEVE SER UM SOL


FAZENDO LUZ SOBRE A TERRA

37. Do Coração SSmo de Jesus, copiemos, durante a nossa vida inteira, o amor que esse
Coração divino revela aos homens de boa-vontade. Os que no Seu amor buscam a luz, em luz se
transformam pela rectidão, pela verdade, pela caridade. Devemos ser luz nas trevas que vêm do
erro, para que este não venha contra a luz da Fé e, ofuscando a Fé, a alma perca o brilho que deve
ter nas boas obras que fizer. A luz da vida, que é o SS mo Coração de Jesus, essa luz deve ser
seguida, adivinhada e engrandecida por uma acção de graças contínua.

38. Essa acção de graças deve consistir em que o nosso coração palpite só por Deus, pela
verdade, pelo amor, na aceitação da contradição entre a natureza e a vida da alma. A natureza,
inimiga da verdade e do amor que nos sujeitam à lei de Deus, serve-se dos sentidos para impedir
a nossa alma de se encaminhar para o único fim a que somos chamadas. Não devemos dar-lhe
ouvidos, mas amar a Deus cumprindo os nossos deveres por amor. O amor só é forte e perfeito
quando sabe pôr cada coisa no seu lugar.

39. Quando a alma é dócil, a lei do Amor, impregnada de Verdade, vem ensinar-nos e
dizer-nos onde está Deus: no Céu, na terra e em toda a parte onde O procuremos. Procuremos o
Senhor na habitação da nossa alma, falemos com Ele, choremos com Ele e Ele nos falará sobre o
amor que nos tem, e como deve ser amado pelos corações puros. Não pondo os olhos nos
homens, mas contemplando neles só a Imagem de Deus, passa a alma pelo mundo sem tomar
contacto com o mesmo mundo. Fujamos do mundo que os sentidos nos revelam, dizendo que está
em nós mesmas – deste mundo do nada da terra que encerra os afectos e defeitos e imperfeições
do coração humano – e elevemos mais longe as vistas da nossa alma, criada para as belezas do
Céu, para a beleza de Deus na plenitude dos Seus divinos atributos.

40. A nossa alma deve seguir o caminho que nos mostrou em toda a sua vida N. Senhor
Jesus Cristo, o filho de Deus feito Homem, para nos remir e dar exemplo. Esta vida santíssima,
cheia de silêncio e de glória, na dor e imolação por nós que nos ensina o Evangelho, todos a
devemos aprender. Imitando na nossa vida essa mesma vida, a alma que quer copiar em si a vida

42
de N. Senhor crucificado, tem de aceitar e desejar ser crucificada com Ele. Enquanto este desejo
não viver na alma, enquanto a alma não compreender que, para viver a Deus, é necessário ser
desprezado e açoitado, pelas provas de que outros sejam o instrumento, a luz de que deve estar
cheia a vida da nossa alma é uma luz (mortiça) no meio da escuridão, em que esta escuridão faz
com que a alma não veja o que ela própria precisa de ver, não querendo abraçar o caminho
crucificado das provas e dos desprezos. Como as almas do Purgatório privadas da vista do Céu,
assim a nossa alma na sua relutância pelas humilhações e contradições, está privada da vista de
Deus no mistério da vida sobrenatural da alma. Nessa vida sobrenatural, Deus só transforma a
alma n'Ele formando com ela um só, quando a alma se dá toda à Vontade de Deus. Que a nossa
vida seja como a luz do sol, não recusando nada a Deus, para que ele habite na nossa alma, na
fidelidade à graça, na adesão completa da vontade, na submissão total da razão.

41. Peço que todas celebrem o dia do Sagrado Coração de Jesus e, onde possam, assistam
em comum à Santa Missa, orando pelas intenções da Obra. Recomendo igualmente que se
preparem para a Festa dos Santos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo com uma Novena em que
roguem ao Eterno Pai, por meio do Imaculado Coração de Maria e em nome de N. S. Jesus Cristo
e pelos méritos e virtudes dos Santos Apóstolos e Mártires, que conceda a paz ao mundo, livre
Portugal da guerra e a graça da criação da Diocese. As que puderem mandarão celebrar uma
Missa segundo estas intenções, durante a Novena ou na Festa dos Santos Apóstolos, a cuja
protecção está entregue a nossa causa.
Circular de Junho de 1942. //1//

VIGIAR OS NOSSOS PENSAMENTOS

42. O nosso pensamento percorre o mundo, entra no mundo e nem sempre foge dele.
Mesmo quando os acontecimentos nos dizem que devemos fugir. Dentro de nós mesmas o
mundo dos sentidos leva-nos a crer no que passa, percorrendo nós sem dar por isso, caminhos e
atalhos para encontrar o que julgamos será para nós a explicação de todas as coisas que
desejamos. Não podemos nem devemos dar liberdade aos nossos sentidos seja no que fôr, sem
examinar com a nossa consciência se, do que nos apresentam, podemos tirar ou não fruto para a
nossa salvação eterna.

43. Muitas vezes sucede que nos encontramos com excelentes ideias de irmos fazer bem ao
próximo, o que nem sempre é prudente, nem conveniente. Primeiro devemos olhar para dentro de
nós mesmas, e ver e rever os esconderijos do nosso sentir procurando saber se o móvel dos
nossos actos é Deus só; e quando assim for, a graça nunca faltará para irmos ajudar o próximo
para que aumente em graça diante de Deus. Mas para conhecermos se realmente o dom de Deus
chama uma alma a fazer o bem, mas aquele bem em que tenha de entrar mais em contacto com a
própria pessoa, no seu íntimo - que isso pensa necessário - muita prudência! Que cada uma use
de muita prudência e vigilância sobre si mesma, para que não fique sem ver, que é sempre difícil
e espinhoso entrar em contacto directo com o próximo, sem ficar mais próximo dele e, nesta
proximidade, sem dar por isso, deixar-se levar a alma de alguma imperfeição que não devia
aceitar nem consentir.

44. Se não formos humildes, pobres, muito pobres no nosso nada, não poderemos encontrar
luz bastante, não só para sobrenaturalizar as nossas acções, mas sobretudo para vermos os
perigos que nascem das mesmas acções quando não actuamos com espírito de Fé. A nossa vida,
quanto mais se aproximar da luz sobrenatural, que mate o nosso sentir pessoal, imperfeito, mais
se eleva para Deus. A luz, quando queremos ver por nós mesmas e nós próprias a procuramos,
converter-se-á em trevas, mesmo julgando que vamos caminhando pela luz verdadeira.

43
45. Não nos afastemos dos trabalhos que nos humilham, nem fujamos à verdade que nos
contraria e esmaga o nosso "eu"; mas, sem procurar o agradável, aceitemos o desagradável e
ofereçamo-lo a Deus pela nossa própria conversão ao mais perfeito e agradável a Deus. Cada
uma de nós, ao encontrar espinhos no nosso caminho, procurará compreendê-los e aproveitar-se
dos mesmos, porque muitas vezes, deles vêem remédios para os males de que enfermamos:
afeições, sentimentos imperfeitos que perturbam e obscurecem não só a inteligência mas a
própria alma.

46. Não devemos perder o nosso tempo com coisas vãs, pois é precioso aos olhos de Deus.
Saibamos aproveitar-nos dele, para glorificar a Deus, reparando pelas nossas faltas e pelas dos
nossos irmãos em Cristo Senhor nosso. Neste mês consagrado ao Preciosíssimo Sangue,
lembremo-nos de todos os que sofrem pelo mundo fora, aplicando os infinitos méritos de N.
Senhor, não só pela sua conversão, como também para que sejam confortados no seu sacrifício e
nas suas dores. Apliquemos também todo o mérito do Preciosíssimo Sangue pelos nossos irmãos
que padecem no Purgatório, para que nos alcancem de Deus misericórdia, usando nós de caridade
para com eles.
Circular de Julho de 1942 //1//

A CARIDADE É FONTE DE LUZ

47. N. Senhor chama-nos todos a sermos modelos de caridade. Mas esta deve ter
primeiramente o seu exercício de aperfeiçoamento na nossa alma, pois estamos sujeitos a uma
lei, dada por Deus, que manda que nos transformemos em amor por Ele, n'Ele amemos o mais
perfeito, e com Ele nos demos (depois) ao próximo, vendo neste a Deus. A caridade é amor de
generosidade e de sacrifício. Começa por aceitarmos os nossos próprios trabalhos, vencendo-nos
a nós mesmos, aceitando o dia conforme se apresenta, abraçando as vicissitudes de cada instante
com ânimo forte – fruto47 de docilidade e do próprio juízo que se submete sem resistências.

48. Ao ajuizarmos de nós mesmas, devemos manter como princípio a imparcialidade, a


rectidão e assim a caridade falará à nossa alma como devemos manter, entre a razão e a
consciência, aquela colaboração em48 todas as mais pequenas coisas – tal como irmãs na mesma
casa, (que) todas se dão bem porque vivem a mesma vida, o mesmo fim que é Deus, e em todas
as coisas vêem Deus. Reinando assim a paz e a ordem absoluta. Se nos deixamos arrastar mais
pelo coração do que pela razão, esta põe-se contra aquela (caridade) e daí a desordem de todas as
coisas, dentro deste mundo imenso de nós mesmas.

49. Temos de viver no mundo como se este não existisse para nós. Este mundo que está à
volta da nossa alma e entra pelos sentidos e toma as potências, é o mais terrível, o mais difícil de
vencer. Vençamos o mundo dos nossos sentidos com caridade, paciência e mansidão. Quando a
nossa razão se levanta contra o que passa fora de nós, nunca adiantemos o nosso juízo sem
ouvirmos a voz da nossa consciência. (E não ouçamos) esta, sem escutar os gemidos das nossas
misérias. Só depois de vermos o que somos, (a razão) nos deixará sair para a luta contra nós
mesmas, esmagando o que somos no nosso "eu", não estranhando o que se passa fora de nós, nos
outros, falando então em transportes de caridade.

50. Colheremos nas nossas lutas pelo bem, o fruto da graça que actua quando sai da fonte
da verdadeira caridade e humildade, porque nesses rasgos vamos em procura de Deus que é
Verdade, Amor e Docilidade e a Sua misericórdia virá ao nosso encontro e nos guiará pelos
caminhos rectos. A caridade é uma palavra cheia de Deus que diz à nossa inteligência: submete-
te ao Senhor teu Deus de todo o teu coração. A caridade é um acto de submissão à voz da nossa

47
Lit.: fonte. Parece-nos que «fruto» faz mais sentido
48
Lit.: aquele equilíbrio de…

44
consciência que nos diz: Se não compreendestes o que passa por ti, ora e confia, aceita e louva ao
Senhor na tua escuridão. A caridade é aquele acto de virtude que no meio da confusão de muitas
ideias, nos faz dizer. " Basta que eu ame a Deus de todo o meu coração, para que o que se passa à
minha volta me não perturbe, porque só Deus me basta". A caridade é aquele acto de humildade
quando não somos compreendidos e dizemos: Senhor, serei compreendida de todos e por todos
quando Vos amar deveras. Porque então, Senhor, tudo será suave em Vós que por amor à minha
alma me ensinaste a esquecer-me de mim mesma.

51. A caridade é aquele acto de paciência, que quando dentro da nossa alma tudo se levanta
contra ela mesma, lhe dizemos: não desanimes, minha alma, mas louva ao Senhor na expiação
dos teus pecados, porque todo o tormento que sentes é consequência da tua soberba mal vencida.
Quando com amor choras as tuas culpas nada te perturbará, porque encontras merecida a dívida
que tens para com a justiça divina e acharás sempre pouca toda a expiação. Dulcifica a tua dor
usando de caridade com a tua alma, não alimentando o orgulho, a soberba, pois destes defeitos
vêm a perturbação e tudo o mais que se transforma em noite tormentosa para os sentidos, na
insubmissão à própria alma.

52. «Procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado por acréscimo», diz o
Evangelho. Procuremos primeiro vencer em nós mesmas o que nos faz impressão ver nos outros.
Em todos os passos da nossa vida, sejamos enérgicos em fazer morrer o nosso "eu", mas brandos
em obrar para que nos não falte a reflexão no momento. Enérgicos em vencer a soberba, suaves
em nos elevar para Deus – suavidade cheia de delicadeza, de pureza, de respeito e de amor puro,
cheio de santa unção, de filial ternura, respeitosa ao máximo para com Deus. Este respeito vence
os sentimentos imperfeitos do coração humano, prepara e dá à alma vida de Fé, constância em
suportar o amor à cruz. O excesso de ternuras do coração na oração pode nascer da sensibilidade.
Quando passa à alma, esta fica vazia. O fruto da oração é aumentar o nosso amor ao dever, por
Deus, pela Igreja, pelo próximo, dando-nos a todos com igualdade de ânimo.

Circular de Agosto de 1942 //1//

AMOR AO BEM

53. O bem que se faz (a si mesmo) e o bem que se deseja fazer aos outros devem ser como
dois círios a arder diante da hóstia consagrada a Deus: luz pura, que na sua chama é como outra
alma que vivesse ali só para Deus. Em tudo ela só quer ser de Deus. Assim o bem que devemos a
nós mesmas e ao próximo, deve ser cheio de Deus, puro só para Deus. Esse bem não pede
recompensas, senão (a de) que, aqueles a quem fazemos o bem, sejam todos de Deus. Nem
sempre o bem é bem recebido, por ser mal compreendido. Nem sempre o fazemos só por Deus,
nem aqueles que o recebem conhecem a Deus nesse bem que lhes é feito.

54. N. Senhor ensinou-nos do alto da cruz a derramar o bem pelo esforço do sacrifício e da
agonia. Mas porque a dor, nesse caso, faz na nossa vida uma noite de trevas, não sentimos a
coragem necessária para nos darmos pelos outros. Assim, perdemos nós o fruto da caridade e
perde o próximo a luz de Deus, que nos falta49 (a nós) sempre que fazemos o bem assim como ao
próximo que o recebe. Quando se faz bem ao próximo, somos nós os primeiros a receber uma
graça e nela nos santificamos. Mas desviamo-la de nós mesmas quase sempre, pois somos
levadas pelo nosso "eu" a distribuir o bem segundo o nosso desejo e não somente no desejo de
ver a Deus em tudo e em todas as coisas. Daí já não fazemos o bem à nossa alma.

55. Amar o bem é converter em luz as nossas trevas, quando estas não querem ver com luz
de Deus. Ele estando em toda a parte, igualmente está em toda a criatura, nossa irmã. Abracemos
49
Lit.: fala

45
o bem. Supliquemos pelos nossos actos de bem-fazer (para) que Deus nos guie e ilumine na noite
escura desta vida, pois as trevas de tantos erros abundam para apagar a nossa confiança em Deus
– a nossa Fé, que deve ser intrépida e cheia de boa-vontade, sem respeito humano.

56. Façamos o bem a nós mesmas, quando o dever nos chama seja a que lugar fôr, na
maneira de nos apresentarmos, respeitando a Deus presente em nossa alma e no próximo.
Olhemos a que, no grande dia da nossa morte e já neste mundo, as obras que fizermos (não) estão
sujeitas aos juízos dos homens! Para que havemos de ter respeitos humanos? Caminhemos
seguras na senda da virtude, vencendo o nosso "eu", a nossa miséria, o nosso orgulho que se
encontra de cabeça erguida. Procuremos o caminho que humilha e esmaga o "eu" dos homens. A
nossa alma deve trabalhar por ser modelo de modéstia, de honestidade a rigor, sem respeito
humano.

57. Ter virtude que dê exemplo e repare pela imodéstia, pela falta de pureza exterior,
mesmo das pessoas que frequentam os Sacramentos. N. Senhor está presente à nossa maneira de
ser, quer quando estamos sós, ou diante das pessoas. Pelo que, serão mais rigorosos os juízos de
Deus sobre a nossa maneira de proceder. Somos almas pecadoras que devemos expiar por nós e
reparar e desagravar pelos outros. A melhor reparação que temos a fazer é que a vida exterior
condiga com a vida interior. A vida interior deve ser aquela que N. Senhor nos ensinou na sua
SSma Humanidade, passando pela terra só a fazer bem aos homens e, na cruz, remindo-nos com o
Seu Preciosíssimo Sangue.

58. No presente mês é a festa de S. Miguel Arcanjo e a 3 de Outubro a de S. ta Teresa do


Menino Jesus. Lembro para que se façam as respectivas Novenas preparatórias, pedindo graças e
bençãos do Céu para o mundo. Que a paz nos seja de novo restituída pelos infinitos
merecimentos de N. Senhor Jesus Cristo.

Circular de Setembro de 1942 //1//

DEUS SEJA CONNOSCO

59. São muitos os caminhos, nos tempo que vão correndo, que nos levam para Deus quando
a alma sinceramente deseja ser toda d'Ele, assim como são muitos os meios que, na mesma
proporção, nos afastam de Deus sem deixarmos, no meio de toda a onda que passa, de pronunciar
o Santo Nome de Deus. No meio da vertigem do mal, em que se vai infiltrando o erro, mesmo
nos melhores e nas melhores intenções, poderemos dizer: Senhor, quem escapará nesta copiosa
chuva, verdadeiro dilúvio de ideias a que arrasta a pouca Fé, vivendo-se do que só se quer ver e
nada mais? E o que vemos? Tudo a desmoronar.

60. Deus seja connosco, é o que cada uma de nós, no meio da confusão e desorientação que
passa, tem de suplicar com viva Fé, com amor, com firmeza de carácter e de convicções, sem se
deixar levar pelo que passa. O nosso espírito deve ser forte na Fé. Crer que o Senhor vela, ainda
que nos deixe sós no meio da procela. Vela pelos pequenos, por aqueles que não se vêem a si
mesmos em nada, mas tudo dirigem ao Senhor de todas as coisas.

61. Ser pequeno é ser simples, puro, prudente para guardar o seu coração, a sua inteligência,
dos enganos que passam pelo mundo e que vêm ter connosco e nos querem arrastar consigo.
Guardemos a nossa Fé nessa muralha da humildade, que é a alma com Deus, e passaremos ilesas
por essa onda de contágio, que é o mundo. O humilde, diz o "Magnificat". Eleva-se à medida que
se abate e canta ao Senhor um hino de louvor contínuo engrandecendo a Majestade infinita. (A
alma humilde), ao descer a ela pequenina, irrompe no seu louvor ao Senhor dizendo: "eis aqui a
escrava do Senhor, faça-se em mim a Sua vontade". Escravas do Senhor seremos todas, se todas

46
compreendermos que nada valemos e que os que hoje nos louvam serão os próprios que amanhã
nos aborrecem. Guardemos a nossa alma do erro, encerrando-a nas muralhas da humildade e da
caridade. As tendências naturais são acompanhadas de imagens muitas vezes boas. Examinemos
nelas, pois, se há humildade: não de intenção, mas vivida pelo coração e compreendida pela
inteligência.

62. N. Senhor é fonte de toda a Sabedoria. Todo o sábio, diante dela, é ignorante. Por isso é
que os pobres, os pequenos, os desprezados pelos grandes, serão muitas vezes os que poderão de
todo o coração cantar aquele louvor ao Senhor: " Senhor, eu que sou pobre e pequeno da terra,
mas que de todo o coração Vos amo na minha pobreza, estou pronto a seguir a minha
peregrinação pela terra, mendigando o pão da Vossa graça, do Vosso amor. Senhor, eu não tenho
medo dos homens; temo sim, Senhor, a minha miséria, o meu nada, o que sou!" N. Senhor vendo
o pobre humilde, dirá: "destes é o reino de Deus".

63. Se (deles) é o reino de Deus, Deus velará pelo pobre e humilde que sabe fugir das
sabedorias da terra onde encontrar o erro. Vai aos sábios, como pobre ignorante, e diz no seu
coração humilde: " Deus seja comigo! " A vida é a imagem da eternidade. Tudo o que se passa
em nós está a ser gravado no livro da eternidade que nos será apresentado no grande dia do juízo
particular, quando deixarmos este mundo. Então Nosso Senhor dirá ao pequenino: "tu, que eras
pobre na terra, que fizeste bom uso do que te mostrei nela, vem ver como em Mim são grandes as
obras dos pequenos. Deus foi contigo!"

64. Temos a consolação de poder dizer que Deus chamou a si uma dessas almas
pequeninas, modelo de humildade. Soube viver na terra a vida oculta e cantar os louvores do
Senhor com tanta simplicidade e candura, que lhe foi dado ver aquela promessa do "Magnificat":
aos humildes Deus exalta. Que ela, lá do Céu, vele pelas suas irmãs na vocação, que ficaram a
chorá-la na terra e esperam na sua intercessão. Lembremo-nos sempre da sua alma nas nossas
orações, como dever de gratidão. Neste mês do Santo Rosário, em que devemos honrar Nª.
Senhora nos Seus mistérios, peçamos-lhe a paz e a graça de nos guardar na Fé.

Circular de Outubro de 1942.//1//

ACEITAÇÃO DA VONTADE DE DEUS

65. Preparemos a nossa alma, levemo-la a meditar sobre as verdades eternas; mas
meditação profunda, que entre bem em nós e nos transforme, pois todas temos que emendar e
nem sempre damos por isso. A falta de atenção, da nossa parte, aos movimentos da graça e da
luz do Espírito Santo, faz que não vejamos o que devíamos ver: os defeitos em que caímos sem
nos levantar.

66. A fraqueza da vontade vem da pouca docilidade à graça que nos não deixa generosidade
e facilidade em cumprirmos o que Deus pede e, por isso mesmo, o que N. Senhor, que tanto
espera de nós, nos envia: a dor e a cruz, para nos purificar e crucificar daquilo que a nós
próprias desculpamos e do qual não nos emendamos. Bendita seja a cruz em que Ele crucifica os
sentidos que nos levam para o agradável! Bendita seja a dor que não nos deixa ter alegria no que
é passageiro e vão! Bendita a tempestade que sopra aos nossos ouvidos para deitar fora o que por
eles entrava de agradável e prejudicial ao coração. Bendito seja o desprezo a que os homens,
amigos e inimigos, nos lançam neste mundo, porque serão esses despresos a fortaleza para vencer
as fragilidades da natureza humana. Bendita seja a humilhação que esmaga e arranca lágrimas
para curar os movimentos de soberba que saem da nossa inteligência, do nosso coração e da
nossa vontade. Bendito seja, Senhor, o caminho pedregoso que fazeis pisar aos que querem
servir-Vos de todo o coração. Só eles podem saborear a paz a tranquilidade de quem conheceu e

47
compreendeu que, neste mundo, só é livre e feliz quem ama a Deus sobre todas as coisas. N'Ele,
vendo a todos como Seus filhos, de nada se espanta, de nada se admira, mas, orando ao Senhor
pelos seus irmãos, ama a todos, compreendendo que a sua ignorância é menos culpável do que a
nossa própria infidelidade.

67. Preparemos assim o nosso exame de fim de ano e pensemos se estamos dispostas a
continuar a viver nestes sentimentos para o futuro. O espírito a que nos demos é de viver a vida
de Cristo Senhor nosso, tal como Ele nos ensinou na Sua vida SSma de Homem-Deus e morte por
nós na cruz. Se nos afastamos destes princípios, não estaremos dentro do espírito da Obra. Para
viver a vida de Cristo Senhor nosso, devemos, primeiro que tudo, procurar cumprir o nosso dever
de estado, aquele a que Deus nos levou e (onde) nos colocou. Foi isto que N. Senhor nos ensinou
na Sua vida SSma. Fugir deste caminho é procurar caminhos de soberba, de vaidade que, só por si,
farão morrer todo o germe de virtude.

68. Há a virtude aparente e a virtude real. A virtude aparente alimenta-se de falsos afectos,
da imaginação, e é praticada enquanto encontra o agradável, dentro ou fora de si. A virtude real
não se deixa levar nem guiar pela imaginação nem pelos afectos do coração. Guia-se pela luz que
lhe dá a Fé. Esta é sempre escura para o sentir, mas é luz para quem obra de boa-vontade, não
precisando ver para crer. Crê sem ver, guiando-se pela Fé, nessa Fé bendita que, através de toda a
tempestade, a alma conserva sempre na mesma.

69. Nesses mesmos sentimentos (de Fé), devemos pensar nas pobres almas do Purgatório,
de quem Nª. Senhora em Fátima recomendou que nos não esquecêssemos. Lembremo-nos de que
padecem muito e para nós virá o dia. Oxalá que mereçamos ir ao Purgatório, porque será sinal de
que N. Senhor nos livrará das penas do inferno. Quando lá nos encontrarmos, então veremos a
caridade dos nossos irmãos em Cristo. Sejamos caritativos, lembrando-nos do Purgatório.
Meditemos naquelas dores, naqueles gemidos e, com generosidade, façamos sufrágios por todas
com orações, Missas, sacrifícios e penitências. Assim verá N. Senhor e sua Mãe Santíssima que
atendemos ao Seu pedido. Lembremo-nos dum modo especial as nossas companheiras que, por
ventura, no Purgatório intercedem por nós.

Circular de Novembro de 1942 //1//

REGULAMENTO DA OBRA

70. Nota introdutória: Este resumo limita-se a dar uma noção do espírito da O. e da sua
aplicação prática, adaptada à situação actual de cada alma. Este trabalho levará as almas a uma
compreensão mais nítida do ideal da O. e, consequentemente, a uma união mais intima e efectiva
dentro do mesmo espírito e fim. Divide-se em duas partes:
lª. Parte: o espírito da O.
IIª. Parte: a sua aplicação prática.

******
lª. PARTE
O ESPÍRITO DA OBRA

71. A O. nasce da necessidade urgente de opor, às máximas do mundo, as máximas do


Evangelho, tão profanadas e mesmo perseguidas nos nossos dias. O espírito de Fé arrefeceu nas

48
almas, para dar lugar a excessos revoltantes, obra do orgulho, do egoísmo e da corrupção que
lavra na humanidade inteira. Esta desorientação só poderá ser contida e rectificada pela
generosidade dum grupo de almas que, apoiadas unicamente na graça do Senhor, tudo
sacrifiquem à glória de Deus e salvação do próximo, inclusive a própria vida. Só assim poderá
renascer no mundo o verdadeiro espírito do Evangelho.

72. Por isso, às lides do apostolado exterior corresponderá sempre a vida de oração e de
penitência de que N. Senhor é o modelo perfeito. A oração é a respiração da alma. Não é o efeito
duma multiplicidade infinda de exercícios de devoção, mas sim o hábito que mantém a alma
abandonada inteiramente à vontade de Deus e unida a Jesus, orando e oferecendo-se a Seu Eterno
Pai pela salvação dos homens. Completamente submissa aos desígnios do Céu sobre ela, passará
para a sua vida a parte da vida mortal do Salvador que lhe for destinada, desde as humilhações do
seu nascimento em Belém até às ignomínias da Sua Paixão e Morte. Poderá então dizer de
verdade que a sua vida é a vida de Jesus Cristo, porque tem o mesmo pensar, o mesmo sentir, o
mesmo querer.

73. Todavia, a chama da oração só poderá subir até Deus, iluminar a alma e aquecer o
mundo, na medida em que for santa, pura e imaculada. Esta purificação é obra da penitência.
Entre os muitos benefícios da penitência há dois sobretudo: a expiação e reparação. Pela expiação
lavamos a nossa alma das próprias culpas; pela reparação suprimos o que falta a Paixão de J.
Cristo na aplicação da Redenção às almas. Com esta substituição voluntária, Jesus continua
nestas almas a merecer e a prolongar através dos séculos a Sua missão de Salvador e Redentor e
elas participam na vida de sacrifício da Vítima do Calvário, cada uma segundo o chamamento de
Deus.

74. A base desta imolação está no aniquilamento de todas as tendências malignas do nosso
"eu". Com efeito, os caprichos da nossa natureza irrequieta e desequilibrada, as subtilezas do
amor-próprio e os artifícios do demónio não podem ser descobertos, combatidos e dominados,
sem existir nas almas a convicção profunda do seu nada. Sem procurar em tudo viver
crucificadas para o mundo e o mundo para elas. Será no Evangelho que irão buscar aquela
suavidade austera e santificadora que faz correr o sangue do sacrifício, sobretudo no
cumprimento integral dos deveres de estado. E isto fará com o contentamento duma alma que se
dá com alegria, sem condições e sem arrependimento.

75. Ao apostolado da oração e do sofrimento corresponde o apostolado da acção: é o eco


do primeiro. A despeito da sua miséria, a alma que fez seus os sentimentos do Coração SS mo de
Jesus, não poderá conter em si o zelo das almas e arderá na ânsia de comunicar aos outros o fogo
que Jesus veio trazer à terra. A sua pobreza será um título a mais para confiar na graça e na
fortaleza vinda de Deus, persuadida que tudo poderá n'Aquele que a conforta.

76. Esta vocação, muito embora tenha por fim reproduzir os diferentes passos da vida do
Salvador, mormente da Sua Paixão e Morte, nada tem de especial ou de extraordinário, como se
costuma dizer. O extraordinário – basta-lhe o nome – não entra no programa normal da vida
cristã: é obra exclusiva e gratuita da vontade do Senhor. Com efeito, a aspiração ao
extraordinário denota nas almas uma deficiência que provém da ignorância, da soberba ou do
demónio. É tudo o que há de mais contrário ao espírito da O. que consiste em desprender-se,
desaparecer e morrer a si mesma. Para não cair nos erros tão lamentáveis da ilusão, urge implorar
do Céu o verdadeiro discernimento dos espíritos, desconfiando das próprias luzes e fortalecendo-
se sempre mais na humildade verdadeira. //1// As almas que, ingenuamente, se julgam chamadas
a grandes coisas, não compreenderam a humildade do Evangelho e estão na ilusão. Todavia é
fácil rebater os impulsos da nossa miséria natural: basta um pouco de reflexão sobre as verdades
eternas. Veremos sem custo quem é Deus e quem somos nós.

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77. ALGUMAS VIRTUDES EVANGÉLICAS. A seguir, a título de ilustração sobre o que
fica exposto, vão algumas considerações acerca de algumas virtudes evangélicas, que se
apresentam como indispensáveis à alma que aspira a uma vida perfeita.

78. 1º. - Espírito de Fé. É condição exigida pelo Divino Mestre, sempre que Lhe pediam
algum favor. Com efeito, só a luz da fé pode corrigir a luz da nossa inteligência, purificá-la e
levantá-la para Deus. Quantas vezes a acção da graça é sufocada e esterilizada pelas trevas
"luminosas" do nosso "eu"! Quão fácil e frequente é a infiltração nas almas dos cálculos e
ambições humanas, da sede desenfreada de gozo. É insensata e sacrílega a pretensão de tudo
querer definir e subordinar às luzes frouxas da razão, excluindo praticamente a luz da Fé. Esta
mentalidade submete Deus ao homem: nisto está tudo explicado. Pelo contrário, o princípio
orientador deve ser: crer para ver. E se sentimos escuridão na nossa alma, que a nossa súplica ao
Senhor seja a do Evangelho. " Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé! "

79. 2º. - Simplicidade e Humildade. Nunca o Divino Mestre Se mostrou tão severo e
categórico como quando condenou a hipocrisia e o orgulho. Aos apóstolos que disputavam entre
eles o primeiro lugar, Jesus dá-lhes como modelo a candura duma criança e ameaça excluir do
Céu todos aqueles que se não parecerem com ela. Não foi a Sua vida uma humilhação contínua e
amor a tudo o que era pobre e desprezado dos homens? Para Se fazer acreditar nunca recorreu a
outros processos. É também o nosso caminho. Embora nos assista o direito e o dever de guardar
os limites da prudência cristã, jamais nos é permitido usar expedientes humanos que encubram ou
comprometam a verdade. Sofra-se uma humilhação muito embora, mas vença sempre em nós a
verdade. As grandezas e ambições do mundo são pó e nada. O que distingue as almas não são os
talentos naturais ou dignidades pessoais, mas sim a virtude simples e generosa por ser a
expressão mais pura de Deus na terra. Deus não pode trabalhar nas almas com as almas cheias de
si mesmas.

80. 3º. – Obediência. Se a alma é guiada pelo Espírito de Deus, não só procura o último
lugar, mas ainda se submete espontaneamente e sem reservas àqueles que são para ela a
expressão autêntica da vontade de Deus. A obediência torna-se então o alimento de cada instante,
mesmo e sobretudo nas mais pequenas coisas. Esta obediência, longe de tolher a actividade
pessoal, intensifica-a e ampara-a. Pelo facto mesmo é tida como suspeita toda a iniciativa que não
tem a aprovação da obediência. Não se fia nem se satisfaz com a rectidão das suas intenções,
porque podem ser rectas e não serem prudentes, nem oportunas. Esta submissão parecerá talvez
exigente para a nossa independência e é-o, com efeito, porquanto seja o maior sacrifício que nos
pode ser pedido. Mas se atendermos ao exemplo de N. Senhor, esta exigência torna-se uma
necessidade. Ele podia viver e agir sem estar sujeito a ninguém, por ser o Senhor de tudo e de
todos. Contudo, ciente da nossa fraqueza neste particular, fez-Se obediente até à morte e morte de
Cruz!... Não admira pois que Ele exija das almas a Ele consagradas, ou que a isso aspiram, uma
submissão sem limites. Quer almas que não tenham palavras ou aparências de obediência mas
que saibam dizer um "quero" decidido e inteiramente sujeito aos Seus eternos decretos, que
corresponda em todas as emergências da vida às palavras de Nª. Senhora: "eis aqui a escrava do
Senhor! Faça-se em mim segundo a Vossa palavra!"

81. 4º. – Caridade. A caridade é o sinal dos filhos de Deus, o laço que os prende a todos e
deles forma uma só família que tem a Deus por Pai. É o preceito muito querido do Senhor:
"amai-vos uns aos outros como eu vos amei". É um preceito novo porque não pertence ao homem
velho do pecado, mas sim ao homem novo da graça. O amor humano tem barreiras; o amor de
Deus não as tem. Para evitar equívocos, que tão facilmente nascem do nosso egoísmo, o Divino
Salvador marca a medida deste amor: "amai-vos como eu vos amei". Não nos amou por simpatia,
por admiração pelos nossos talentos. //2// Amou-nos porque éramos Seus irmãos, filhos de Deus,

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destinados ao mesmo prémio no Céu. Amou-nos pois, apesar das nossas culpas, dos nossos
pecados; amou-nos até ao fim, dando a vida, que é a maior prova do amor. Foi ainda mais longe:
amou os próprios inimigos. É este o espírito de caridade e abnegação que nos é imposto. Aliás
poderá N. Senhor dizer-nos como outrora aos Judeus: "Se amais aqueles que vos amam e fazeis
bem a quem vos faz bem que mérito tereis vós"?
Esta caridade terá o seu primeiro, reflexo dentro da família, onde devemos ser anjos de paz
e apóstolas da caridade. Há tantas ocasiões de semear a caridade de Cristo nas almas que nos
rodeiam!... Ter caridade só com os de fora ou mais facilmente com os de fora, não é indício de
virtude sólida. Nunca a nossa família nos acuse de cuidarmos mais dos estranhos e deixarmos os
de casa...
Há ainda outra família formada por todas as almas que vivem o espírito da 0bra – nunca o
demónio consiga semear entre nós a cizânia da desunião, da inveja, do melindre. Não desçamos a
esta baixeza; mas que a caridade nos faça ver em cada pessoa o próprio Jesus Cristo. Sobretudo
nunca manchemos com a nossa língua o bom nome do próximo e, dum modo especial, tratando-
se de almas consagradas a Deus, daqueles que têm em suas mãos o governo da Igreja. Poderá
haver motivo para discordar, mas nunca para criticar e semear discórdia no rebanho do Senhor.
Que haja da parte de todas um respeito e uma veneração profundamente filiais para com a Pessoa
Augusta do Sumo Pontífice. Devemos sentir sempre com a Igreja. Sim, usemos sempre da
caridade e que a nossa justiça seja ainda...caridade...

82. 5º. – Pobreza. O Salvador exige de todas as almas o desapego dos bens da terra. Quer
que o nosso espírito não esteja devorado pela cobiça dos bens materiais. E para melhor inculcar
esta verdade, Ele insurge-Se contra os ricos em tom ameaçador de maldição. É que as riquezas
são, de facto, a origem ou ocasião dos males que escravizam as almas. S. Agostinho diz com
muito acerto que somos o que amamos. Amamos a terra? Somos terra. Que loucura, quando
corremos atrás de bens que nos abandonam se os não abandonamos! Uma alma presa às riquezas
é semelhante a uma ave que tem as asas sem acção e não pode tomar voo, subir até Deus: Cristo
Senhor nosso procurou com ânsia as riquezas da pobreza. Foi pobre desde o nascimento até à
cruz e amou tanto a pobreza que parece ter deixado o Céu para vir à terra desposá-la. Pobres
também devemos nós ser, se aspiramos sinceramente a realizar, na nossa, a vida de N. Senhor.
Não é questão de pobreza somente exterior, que nem sempre se torna possível, em razão da
situação em que cada uma se encontra; trata-se, sim, do amor da pobreza. Ao jovem do
Evangelho, o Senhor responde: "se queres ser perfeito vai, vende tudo, vem e segue-Me". –
Vender tudo? – Sim, vender tudo. Isto é, viver como se tudo houvéssemos vendido, porquanto
nada tem quem nada deseja. Fujamos de todo o apego neste particular porque o coração ávido
dos bens terrenos endurece-se e fica cego. Se o nosso desejo de servir é perfeito, que o nosso
coração não deseje, nem procure senão a Ele...

83. 6º. – Pureza. As advertências de Nª. Senhora em Fátima vieram confirmar, uma vez
mais, a necessidade desta virtude. A fúria com que o demónio tenta manchar e embotar a
limpidez da alma, mostra de sobejo a sua importância e a sua beleza. Com ela, a alma torna-se
superior a si mesma, um anjo vestido de carne: é a virtude angélica. Sem ela o homem é um
farrapo repelente, um joguete das paixões mais abjectas. Neste particular a doutrina de Jesus é
formal, intransigente. Ele sonda até ao pensamento mais recôndito. Sendo esta virtude frágil e
delicada, cumpre-nos pedir a Deus, com uma humilde insistência, que nos guarde e nos defenda
deste leão que ronda sem cessar a nossa alma. Da nossa parte haja uma vigilância e mortificação
contínuas, nas coisas mais insignificantes, pois neste ponto a mínima faúlha pode dar origem a
grande incêndio. Vigiemos mormente os movimentos do nosso coração, tão traiçoeiro e sempre
hábil em colorir com os seus arrazoados o mal encoberto. Arranquemos, sem dó nem piedade, a
sensibilidade que nos rouba a paz, mesmo com a família e os amigos. Amemo-los, sim, e com a
sensibilidade permitida por Deus, mas que o nosso amor, antes de se dar, vá previamente
purificar-se no coração de Deus. Há intimidades que Deus permite e quer: no entanto o sinal da

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Sua vontade está na disposição da alma que faz de Deus a fonte e o modelo dessa união. Mesmo
assim, quantos desenganos, quantos passos em falso! Vigiemos e oremos e, sobretudo,
meditemos frequentemente as palavras do Senhor: "Bem-aventurados os puros de coração porque
eles verão a Deus". E vê-lo-ão já neste mundo! //3//

84. 7º. – Penitência. A penitência é um instrumento de purificação e de merecimento. De


purificação, porque só ela pode restituir à alma a sua beleza primitiva; de merecimento, porque só
ela pode obter de Deus para as almas renitentes a sua conversão e salvação. É uma necessidade
para todos: "se não fizerdes penitência, morrereis todos". N. Senhor não exclui ninguém, nem
sequer aqueles que não querem saber da penitência. Se a não fazem, outros terão de a fazer por
eles, a exemplo do que N. Senhor fez por nós. A penitência não tem prazo. Teremos de combater
enquanto sentirmos em nós o espinho das más tendências, isto é, até à morte. Não basta, porém,
atingir a sua necessidade.
É mister alcançar o seu verdadeiro sentido. Sucede a algumas almas consultar não a
vontade de Deus, mas o próprio paladar e lançam-se em iniciativas imprudentes, aventureiras,
inoportunas e ruinosas. Perante as narrativas maravilhosas da vida de certos Santos, julgam-se
também chamadas a penitências extraordinárias. São almas " borboletas " e nada mais. É bem
triste verificar o entusiasmo destas dum lado e, do outro, um desleixo condenável da verdadeira
penitência, que está, antes de mais nada, no cumprimento perfeito e corajoso dos deveres de
estado. Tudo o resto é fogo de palha...que só serve para alimentar o amor-próprio ou servir de
espectáculo ridículo aos olhos do mundo, que escarnece Deus...//14//

*******
IIª. - PARTE
A SUA APLICAÇÃO PRÁTICA

85. Atendendo às circunstancias em que vivem as almas, ainda que todas tendam para o
mesmo fim e dentro do mesmo espírito, nem todas poderão seguir o mesmo regulamento. Umas
poderão ter um quadro de vida exterior mais rigoroso; a outras será impossível a sua execução.
Por isso mesmo, pelas conclusões do que fica exposto, formarão dois graus.
86. PRIMEIRO GRAU – As almas do Iº. grau fazem o seu oferecimento à Obra conforme a
fórmula que vem em apêndice e contraem livremente a obrigação de observar as normas
seguintes:
87. A) Todos os dias:
1º. - a) a oração da manhã, à qual acrescentarão a Ladainha de S. José, modelo de vida
interior;
b) o " De Profundis " pelas almas do Purgatório;
c) a oração pelo Santo Padre.
2º. - uma meditação de meia hora, podendo ser distribuída pelo dia fora. Ter sempre um
pensamento sobre a Paixão de N. Senhor e dores de Nª. Senhora.
3º. - a assistência ao Santo Sacrifício da Missa e Comunhão em espírito de reparação,
sempre que fôr possível. Por esta ocasião ou em casa, renovarão o seu oferecimento. Na falta da
comunhão sacramental, não deixar de fazer a comunhão espiritual.
4º. - a recitação diária do terço e da Ladainha de Nª. Sa, da Ladainha do S Cor. de Jesus,
com a consagração do género humano.
5º. - a visita ao SSmo Sacramento sempre que possa ser.
6º. - o exame particular.
7º. - a leitura espiritual ( Evangelho ou Imitação ).
8º. - a oração da noite e o exame geral de consciência.

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N. B:- Aconselha-se instantemente o exercício da presença de Deus, recordando-o ao bater
das horas.

88. B) Todas as semanas:


1º. - a Via-Sacra nas quartas e sextas-feiras. No fim o " Stabat Mater " em honra das Dores
de Nª. Sª. Não a podendo fazer, pode ser substituída pela Ladainha de Todos os Santos.
2º. - a Hora Santa todas as quintas-feiras, à hora que preferirem, pelas necessidades da
Santa Madre Igreja e pelo Santo Padre
3º. - a visita aos pobres e enfermos ( no hospital ou a domicílio ).Ao passar por um pobre,
por mais repelente que pareça, devemos ver nele o próprio Jesus Cristo e, na falta da esmola
material, nunca esquecer a esmola espiritual da oração, dum bom conselho.

89. C) Todos os meses:


1º. - dar conta da maneira como cumpriu o regulamento, a quem de direito
2º. - aconselha-se o retiro mensal, num dia à escolha.//5//

ALGUMAS ADVERTÊNCIAS
90. 1º. - No tocante à pobreza:
a) - não ir além do necessário e do que convém, atendendo às exigências da sua posição;
b) - a administração dos bens próprios ( e não dos estranhos ) pertence a cada uma, como
melhor entender. Não é lícito adquirir bens por meio de negócio ou processos semelhantes;
c) - do rendimento líquido, cada uma disporá à sua vontade, dentro do espírito de pobreza;
não esquecendo os pobres, sobretudo envergonhados e os doentes.

91. 2º. - todas concorrerão para o "Fundo da Obra" com uma esmola segundo o que lhes
ditar a consciência. Esta destina-se à conservação da casa e outras necessidades semelhantes.

92. 3º. - acerca da modéstia cristã, observe-se o que segue:


a) - os vestidos não devem ser demasiado curtos, cingidos, transparentes ou de cores que
chamem a atenção das pessoas;
b) - abster-se de qualquer leitura que, sem ser má, é todavia inútil e tendente a alimentar
uma sensibilidade doentia;
c) - abster-se igualmente de todos os divertimentos profanos, impróprios de almas
consagradas a Deus;
d) - banir das conversas e atitudes tudo o que revele falte de delicadeza e dignidade.

93. 4º. - quando alguma cair doente todas devem visitá-la na medida do possível.

94. 5º. - o apostolado que pode ser exercido por esta categoria refere-se exclusivamente à
Acção Católica e Obras Auxiliares de todo o apostolado aprovado pela Igreja para bem das almas
e sempre debaixo da orientação da obediência.

95. 6º. - considerem a vida de família como um dos pontos essenciais das suas obrigações.
Nela viverão como se fora em Comunidade, com respeito às disposições de alma. Aceitem com a
mesma resignação e amor os seus espinhos e sujeitem-se de boa mente e até com alegria à
autoridade doméstica competente.

96. 7º. - tratem como irmãos os criados e demais pessoal da casa. Sem nunca deixar de
manter a autoridade e guardar a sua dignidade, terão para com eles uma caridade acolhedora e
sobrenatural, exercendo dentro de casa, em primeiro lugar, o seu apostolado. Amá-los a todos
como a si mesmas, como manda o Senhor.

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******
97. Ao bater das horas - Mentalmente ou vocalmente, recitemos este pensamento: "Ó
Jesus, eu Vos amo por todos aqueles que Vos não amam, esquecem, caluniam e desprezam".
OFERECIMENTO - "Em união com todas as Missas que se celebram em todo o mundo,
ofereço-Vos, Eterno Pai, em nome de Jesus, Vosso Amado Filho, pelo Coração Imaculado //6//
de Maria, a minha vida, de momento a momento, em união de sacrifício, pelo Santo Padre, por
toda a Igreja militante e purgante, para satisfazer à Sua Divina Justiça pelos meus pecados e do
mundo inteiro, e em acção de graças por todos os favores recebidos das Vossas Mãos." //7//

*****
98. SEGUNDO GRAU – Estas normas são de conselho e só serão obrigatórias na medida
em que cada alma, de acordo com o seu director de consciência, assim o desejar.

99. A) - Todos os dias:


1º. - a oração da manhã e um quarto de hora de meditação, à hora mais conveniente.
Qualquer que seja o assunto da meditação, haverá sempre um pensamento sobre a Paixão de N.
S. e as Dores de Nª. Sª.
2º. - a assistência ao Santo Sacrifício da Missa e comunhão, quando puderem. Por esta
ocasião ou em casa, fazerem o oferecimento do Apostolado da Oração.
3º. - a recitação diária do terço e da Ladainha de Nª. Sª. e, na medida do possível, diante do
mo
SS Sacramento.
4º. - a oração da noite e o exame geral de consciência.
5º. - aconselha-se muito o exercício da presença de Deus.

100. B) - Todas as semanas:


1º. - na terça - feira rezar o "De Profundis" pelas almas do Purgatório e na quarta-feira, a
Ladainha de S. José.
2º. - na sexta-feira, Via-Sacra, no fim da qual se deve rezar as sete A. M. em honra das sete
dores de Nª. Sª.
3º. - fazer uma leitura no Evangelho e outra na Imitação de Cristo

101. C) - Todos os meses:


1º. - na véspera da primeira sexta-feira de cada mês, Hora Santa pelas necessidades da S.
M. Igreja e pelo Santo Padre, à hora mais conveniente.
2º. - no dia da primeira sexta-feira, Comunhão Reparadora, Ladainha do S. C. de Jesus e
Consagração do género humano.
3º. - visitar os pobres e enfermos ( no hospital ou a domicílio ). Ao passar por um pobre, ver
nele a imagem de Jesus Cristo e, na medida do possível, assisti-los materialmente e
espiritualmente, dando-lhes uma palavra de conforto e mormente dando-lhes a esmola da oração.

ALGUMAS ADVERTÊNCIAS

102. lº. - No tocante à prática da virtude da pobreza, cada uma se limitará ao necessário,
ao que convém, atendendo às exigências da sua situação;

102. 2º. - Quando algum membro do grupo adoecer, assiste a todas, na medida do
possível, a obrigação de lhe fazer uma visita;

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103. 3º. - A vida de família constitui um dos deveres essenciais da vida da Obra. Viverão
no seio da família como se fosse em comunidade, aceitando com o mesmo amor os seus
espinhos e sujeitando-se com humildade à autoridade doméstica.

104. 4º. - Os criados e outro pessoal da casa merecem um cuidado particular. Muito
embora tenham a obrigação de se fazerem respeitar, imponham-se sobretudo pela sua caridade
acolhedora e sobrenatural, o que por certo em nada prejudicará a sua dignidade. É dentro de casa,
em primeiro lugar, que se deve exercer o apostolado. Amar a todos como a si mesmas como
manda o Senhor.

105. 5º. - O apostolado que pode ser exercido por esta categoria refere-se exclusivamente à
Acção Católica e Obras Auxiliares de todo o apostolado aprovado pela Igreja para bem das almas
e sempre debaixo da orientação da obediência.

106. 6º. - Acerca da modéstia cristã, observe-se o que se segue:


a ) - os vestidos não devem ser demasiado curtos, cingidos, transparentes ou de cores que
chamem a atenção das pessoas;
b ) - evite-se com o maior cuidado toda e qualquer leitura que, sem ser má é no entanto
ociosa e tendente a despertar ou desenvolver uma sensibilidade deprimente e perigosa;
c ) - banir das conversas e atitudes tudo o que revela falta de delicadeza e dignidade. //8//

107. 7°. - Parece ser para todas uma obrigação concorrer para o "Fundo da 0bra" com a
esmola que a sua consciência lhes inspirar. Esta esmola destina-se à conservação da casa e outras
despesas que se relacionam com a Obra. //9//

*****
108. VIRTUDES - Na "folhinha mensal" vêm mencionadas nos números 18, 19, 20, 21 e
22 as virtudes recomendadas. Tendo surgido dificuldades na interpretação e na prática destas
virtudes, venho esclarecer o assunto como devem ser doravante compreendidas. Cada uma
deverá mencionar apenas as disposições, facilidade ou relutância no exercício das mesmas
virtudes, mostrando assim os sentimentos de que estão animadas, e a virtude ou virtudes para as
quais sentem maior inclinação. Este pedido é feito para o conhecimento da disposição e esforço
de cada uma em se dar à prática das virtudes, base do espírito da 0bra em que nos temos de
formar.

109. NORMAS E CIRCULAR - As Normas deverão ser lidas uma vez por mês. Esta
leitura deverá ser mencionada na folhinha, no nº. 24. A Circular mensal deverá ser relida uma
vez por semana, para melhor nos recordarmos do espírito em que devemos viver. Esta leitura será
igualmente indicada na folhinha no nº 25.

110. HORA SANTA - Peço encarecidamente a prática da Hora Santa. Fidelidade a esta
oração que, de preferência, deve ser feita diante do SSmo Sacramento. Quando isto não for
possível, mesmo em casa ou no nosso trabalho, recolhendo-se ao menos em pensamento,
acompanhando assim a N. Senhor reparando pelos nossos pecados e pelos pecados do mundo
inteiro, unindo-se às intenções recomendadas mensalmente. Não devemos portanto faltar a este
exercício.

111. FOLHINHA MENSAL - Deve esta ser enviada pontualmente todos os meses, pois
este exercício nos levará a procurar maior fidelidade e perfeição na prática do que nos
impusemos cumprir.

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112. REUNIÕES - Para que se afervorem mais e mais no espírito que todas devemos viver,
torna-se necessário que além destas reuniões, procuremos encontrar-nos, trocando impressões,
pedindo-se mutuamente auxílio e conselho. Para isto é necessário estabelecer desde já o local, dia
e hora. Sendo as reuniões mensais de grande benefício e um dos meios de melhor conhecer e
alimentar o espírito da Obra deverão estas reuniões ter o primeiro lugar sobre todo outro qualquer
trabalho ou apostolado, não devendo faltar a elas senão por motivo grave.

113. CARTA DE CONSCIÊNCIA - É do nosso dever dar exemplo em tudo. Devemos


portanto dispor o que é da nossa própria consciência com todo o cuidado e prevendo todas as
eventualidades. Assim devemos acondicionar toda a nossa correspondência íntima e da O. de
forma a que pessoas estranhas não venham ao conhecimento daquilo que nos pertence. O mesmo
devemos prever quanto a outras disposições que sejam do nosso desejo e livre vontade e que para
cada uma terá a sua resolução e portanto deverão ser tratadas de viva voz.

114. FUNDO - Foi alterado o uso estabelecido nas nossas reuniões de todas lançarem o seu
donativo na caixa do fundo, destinado às despesas da Obra. Doravante os donativos deverão ser
enviados mensalmente para Viana. Para este fundo é necessário e até natural que todas
contribuam livremente e de boa vontade.

115. PELO SUMO PONTÍFICE - Peço que todas as semanas se ore especialmente pelo
Papa a Ladainha de Todos os Santos e a do Coração de Jesus, o que deve ser anotado na "
folhinha " no nº. 23. //10//

PREPARAÇÃO PARA A VINDA DE JESUS

116. A nossa alma deve preparar-se para a vinda do Messias com preparação condigna,
própria de almas que compreenderam o chamamento do Mestre. Durante a Novena da Imaculada
Conceição, meditemos na Sua pureza em tudo. A Ela, toda bela e cheia de graça aos olhos do
Verbo de Deus feito Homem, por amor dos homens supliquemos-Lhe que revista e adorne o
nosso coração dessa virtude, por excelência grande e digna de tornar a alma morada da SSma
Trindade.

117. No espírito da nossa formação, somos chamadas a dar graças ao Altíssimo, que é cheio
de misericórdia, para que derrame pelo mundo essas mesmas graças (de pureza), sobre os
homens de boa vontade. Nós somos convidadas a ser mensageiras de paz e de misericórdia, num
mundo com Deus apenas nas palavras, mas sem Deus nas obras, as quais deveriam ser em Deus,
puras como Ele, o Deus de toda a pureza. A pureza de intenção é uma coisa; a pureza do
coração é outra. Na elevação das duas para Deus, está um outro grau de pureza, tanto mais alto
quanto se elevar para Deus, não tendo qualquer apoio nas criaturas.

118. N. Senhor foi nascer numa manjedoira, longe de todos, escondido das perseguições.
(É) exemplo para nós, para que tudo o que pudermos fazer, o façamos escondido aos olhos das
nossas próprias misérias: é que, sem darmos por isso, olhando só à intenção e para sermos
agradáveis aos outros, deixamos entrar o imperfeito nas nossas potências, que facilmente se
deixam levar pelas imagens.

119. Quando digo mensageiras de paz, quero dizer que toda a nossa vida deve ser
coordenada para a pacificação dos sentidos. Quando são bem governados e sujeitos à potência da
alma, que é toda luz na Fé, levam ao bem. (Doutra forma levam) ao mal, pois são naturalmente
levados a tudo.

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120. A misericórdia deve ser aquela virtude que se não deixa cair nas sombras da morte,
mas em procura da verdade se lança, pelo exemplo e fruto da virtude própria, em luz sem trevas,
para todos aqueles que passam por nós e em nós põem os olhos.

121. A subida a esta montanha, imagem da alma que procura encontrar-se com Deus e só
d'Ele viver, pede muita fortaleza de vontade, sem nada de extraordinário, mas apenas a
generosidade que se não recusa a dar a Deus tudo quanto Ele pede.

122. O trabalho da graça na alma é feito às escuras, sem luz dos sentidos, mas com a luz da
Fé. Esta ensina que devemos ser como os pequeninos, sem isso não entraremos no Reino dos
Céus. Esse reino começa já neste mundo, não possuindo nada, mas vendo tudo em Deus e
permitido por Ele. Para ver tudo em Deus, devemos trabalhar por termos muita submissão de
vontade, submetendo (até) a nossa própria inteligência, sem resistência, de forma que, como os
pequeninos, a graça entre em todos os recantos da alma. A graça conhece-se pela humildade sem
revoltas com que nos submetemos.

123. As almas que querem subir para Deus têm de sofrer a contradição. Nesta, darão provas
se estão capazes de se elevarem mais alto, isto é, de descerem ao mais baixo de si mesmas. Nosso
Senhor tem muitas moradas. Mas, muitas vezes, quando nos mostra o caminho, recusamo-nos e,
desta recusa, vem a perda da graça para subir mais alto. Quando falo nestas alturas, refiro-me à
alma que sai de si mesma, se deixa a si mesma e entra na luz da Fé, e não se separa dela; porque a
Fé não vê, mas obra, fala e conhece e segue sem se deter no caminho. A Fé mora num deserto
sem sombras, sem temores, porque se aparta das criaturas. Destas apenas se serve para as ver
como imagens de Deus, e em Deus não há trevas, mas solidão e paz para os que estão animados
de boa vontade.

124. Caminhemos pela estrada que levou Nª. Senhora e S. José a Belém, e esperemos a
hora da nossa redenção, pedindo as graças necessárias para vivermos em tudo modeladas por
aquela (virtude) que nos ensinaram Nª Senhora e S. José na vinda do Menino Jesus. Imitemos a
sua solidão bendita nos primeiros instantes de Belém. Acompanhando a Mãe de Deus no Seu
desamparo, elevemos com Ela o nosso pensamento para Deus e louvemos a SSma Trindade por
todos os Seus dons e favores recebidos.

Circular de Dezembro de 1942 //11//

125. Virgem Imaculada, Salvadora da Humanidade, prostrados aos Vossos pés, neste dia de
glória para Vós e para a SSma Trindade, imploramos ao Vosso Imaculado Coração um olhar de
misericórdia para nós, para a nossa Pátria e para a nossa família. Prostrados aos Vossos pés, os
membros desta família, aqui presentes e ausentes, se consagram neste dia, solenemente, ao Vosso
Imaculado Coração, com todas as pessoas que nesta hora se encontram também diante de Vós.
Que este acto de consagração seja um penhor de eterna salvação, nos momentos decisivos da
nossa vida, na hora do nossa morte. Acompanhamo-lo com hinos de acção de graças, cânticos de
louvor, de amor, assim como de desagravo ao Vosso Imaculado Coração, pelas ofensas que de
nós e do mundo inteiro tendes recebido. Pedimo-Vos, como filhos Vossos, perdão e misericórdia
para nós e para o mundo inteiro e alívio para as almas do Purgatório, apressando o momento de
elas se verem face à face com Deus, especialmente as daqueles que nos pertenceram. //l//
Renovando todos os nossos votos e promessas de filial amor, imploramos do Vosso
Imaculado Coração uma fonte de luz que guie os nossos passos para Jesus, Vosso Amado Filho.
D’Ele provém toda a glória e louvor para o Vosso Imaculado Coração, entre todos o mais
digníssimo templo da SSma Trindade. Por isso, sois a glória e felicidade do Vosso povo.

57
Ó Virgem Bendita, nossa Mãe Imaculada, diante de quem se prostram os Vossos filhos e
Vossos servos, dai a salvação ao Vosso povo, a paz ao mundo, toda a assistência à Santa Igreja e
ao Soberano Pontífice. Com acção de graças por todos os favores recebidos, imploramos do
Vosso Imaculado Coração uma benção especial que não deixe que o nosso coração seja jamais
separado do Vosso para sempre.
Assim seja. //2//

Natal de 1942

BOAS COMPANHEIRAS

126. Quis N. Senhor dar-nos, como presente das Santas Festas do Seu bendito nascimento,
a graça de sermos chamadas por Ele e convidadas pela autoridade da Igreja, a darmos princípio à
fundação da Obra. Pelo que, devemos regozijar-nos diante do Presépio de Belém. Diante dele, eu
venho saudar a todas, desejando-lhes, de todo o coração, umas santas alegrias. Que se passem
dentro daqueles sentimentos de fidelidade e amor à Sagrada Família, exemplo de humildade e
edificação, que nos ensina a viver de Deus, para Deus, longe do bulício do mundo, na pobreza e
renúncia às grandezas efémeras da sociedade de hoje e de todos os tempos, onde predomina o
egoísmo.

127. Vamos todas ao Presépio de Belém. Sem palavras e sem discursos bonitos, ajoelhemos
aos pés benditos da SSma Virgem, a Mãe do Amor Puríssimo. Contemplemos, na doçura do seu
olhar maternal, no Seu regaço imaculado a Jesus Menino, encanto dos pastores, alegria de S.
José, o qual, no silêncio dum colóquio contínuo com Deus, adora o grande mistério da SS ma
Trindade. Não falam; amam. Não pedem nada; aceitam o Rei dos reis e seguem-n'O para toda a
parte, Ele que vem para a salvação dos povos. Entremos nesta consideração se nos é dado
acompanhar os Pastores a Belém. Meditemos, em santo recolhimento, o que deviam ser esses
momentos de felicidade dos Sagrados Esposos, contemplando a Jesus Menino. Sem palavras,
sem interrogar, olhar para esse lugar que O rodeava e ver a simplicidade e a pobreza, que foram o
berço da Redenção.

128. Nós também nos preparamos para fazer nascer uma Obra. Esta não pode, se vem de
Deus, nascer noutras condições senão nas que vimos na vida da Sagrada Família. É em Belém
que está o nosso modelo. Ocorre-me agora aquela passagem (da vida) de Santa Teresa do Menino
Jesus, na qual primeiro pensou que a sua vida seria de se abraçar a grandes austeridades, mas viu
que não era esse o seu caminho. Então, foi ao Presépio de Belém e lá encontrou tudo a que
aspirava: fazer-se pequenina em tudo, para ser grande no amor. Do amor lhe veio toda a
sabedoria com que nos ensina o caminho da " Infância Espiritual. "

129. Também eu devo – nesta hora em que venho bater à porta das minhas companheiras a
saudá-las, agradecendo tudo quanto por mim têm feito – convidá-las a virem como almas ao
Presépio de Belém acompanhando os pastores, para vermos e ouvirmos a voz do Messias
prometido e contemplarmos, no silêncio recolhido, o que Ele vem pedir a cada uma de nós. Os
pastores, guiados pela estrela, foram seguindo o seu caminho, fiéis à inspiração do Céu; e nós,
fiéis à voz da nossa consciência. Venho, em nome dessa estrela que guiou os pastores, dizer a
cada uma o que nos pede Deus no conjunto, o que espera de nós; (e nós), o que temos por dever
dar-Lhe, confiar-Lhe e esperar d'Ele.

130. A fundação desta obra é a pobre manjedoira de Belém. Ela, que outrora viu nascer nos
seus muros o Rei dos reis, (diz-nos que) também nós não devemos olhar para a pobreza do
instrumento de que Deus Se serve, pois todos somos apenas servos e não senhores, mas servimos

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ao Senhor dos servos. Os pastores, guiados pela estrela, também não pediram a esta que lhes
encurtasse o caminho; abandonaram-se e seguiram-na, para nos mostrar que, do amor pronto e
generoso, será capaz a alma de chegar muito longe. Também eu peço, caras companheiras, que
desviemos da terra o nosso olhar – aquele que marca distâncias, que marca pessoas, que marca
lugares, que marca aspirações – mas olhemos para o alto, como os pastores, e vivamos da fé e do
amor que os levou a procurar só o Rei dos reis. Não nos façamos aproximar da porta de Belém
por espírito curioso, espírito de ostentação, espírito de pretensão, de pertencermos a uma
fundação nova, mas com espírito de fé e de amor de Deus.

131. Permitam-me que chame a esta fundação uma nova Belém, Belém do amor
desinteressado, do amor generoso e crucificado, pois N. Senhor veio ao mundo para morrer na
cruz para nos salvar. A minha alma, pobre escrava do Senhor seu Deus, não pode fugir ao dever
do servo fiel que não tem que olhar para si próprio, mas olhar para o dever de cumprir as ordens
do seu Senhor. Preparou Ele para cada uma das almas que baterem à nova Belém - a fundação -
umas pobres paredes do mais pobre que tinha, despidas de tudo, pois eu nada tenho desde a
cultura até ao nome. Mas, alegre como os pastores de Belém, caminho desde os 14 anos, guiada
pelo desejo, que animou Stª. Teresinha, de que no presépio estava o que havia de mais perfeito,
de mais nobre e digno de ser imitado.

132. Não posso pois deixar de ser o que sou. Mas bendigo ao Senhor, que fez da minha
pobreza a minha riqueza, pois me encheu de bens: daqueles bens (a) que, agora, pela mesma via,
venho convidar a todas as companheiras, se me quiserem seguir. Esses bens, de que falo, são (os)
de grande liberdade interior, de nenhum cuidado do que se pense, do que se diga, do que se
pretenda. O meu cuidado é de servir ao Senhor meu Deus, de todo o meu coração, com toda a
minha alma. Eis o dever do servo fiel, que pensa dar a Deus o que é de Deus, para chegar ao
tribunal de Deus dando conta dos talentos do Evangelho. Na minha pobreza, encontrou a minha
alma a salvação, contra tantos perigos que ameaçam os talentos da inteligência, guiada pela
soberba, levada pelo orgulho, pelo melindre, pelo amor-próprio. Não tenho nada e o meu nada
pede-me tudo e esse todo é Deus, o Único que enche o vazio da alma que caminha pela fé. Dirão
talvez as minhas companheiras: " porque fala assim tanto de si? " Falo da minha pobreza e falo
do Bom Pastor que deu a vida pelas Suas ovelhas, mas antes de a dar mostrou e ensinou-nos a dá-
la.

133. Eu também quero dizer que se aproxima o momento, de que o Evangelho fala, quando
o Senhor mandou convidar para o banquete: uns aceitaram, outros recusaram. Então, o Senhor
mandou de novo que trouxessem consigo todos os que encontrassem. Vieram aqueles que
acudiram ao convite. Foram esses de coração humilde que, olhando para o Céu como os pastores,
foram ao encontro do Rei dos Céus. Também eu sou a voz daquele criado, que sai ao caminho
por ordem do Senhor, a fazer o convite. Mas, como o criado é pobre, só leva consigo por único
valor o de cumprir as ordens do Grande Rei e Supremo Senhor. Portanto, se lhe ficam a olhar
para o traje e para o nome, ficam naquela passagem do Evangelho. Então sairá de novo o criado e
dirá: " vinde comigo, se estais prontas a dormir numa pobre manjedoira! É tudo pobre, mas está
lá dentro o Rei e Senhor do mundo.

134. Ele não nos oferece um berço de gala, mas pobres palhas e, no fim, uma cruz em que
cada uma das que aceitam o convite será estendida com Ele e n'Ele, por Ele crucificada. Quem
nos crucificará? Os instrumentos de que Deus se servir. Mas de todos, qual será o mais custoso?
Aquele que fará sangrar o meu coração. O nosso próprio coração, que terá de se encerrar dentro
de duas paredes mais altas que as montanhas, mas que, pela sua altura, tocarão os Céus, para nos
vedarem o olhar para a terra. A terra será a imagem da cruz e do Calvário, como o foi para N.
Senhor Crucificado e maltratado pelos homens e por nós próprias. Na terra, na qual vegeta tudo

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que Deus criou para o homem, é o homem quem profana as belezas de Deus. E profana-as, com a
liberdade que deu ao seu coração humano, centro de todos os afectos sem Deus.

135. Os sentidos, dispersos pela terra, distraindo-se nas suas mil coisas, quando vêm ter
com Deus, já vêm muitas vezes sem aquela unção do amor são, que se encontra na passagem de
Belém. É que, à volta da Sagrada Família, é tudo despido de todas as coisas. Absortos os
Sagrados Esposos no Seu Deus feito Homem, não sentiam necessidade de coisa alguma. Por isso,
nada os distraia da presença real de Jesus. Também a nossa vida terá de se despir de tudo, de
todas as coisas. E custa tanto caminhar para este género de morte a tudo! Mas também custou a
Nª. Senhora, a S. José, deixarem tudo, caminhando sós para Belém. E que dor silenciosa! Mas
para lá os mandava a vontade de Deus-Pai, que fielmente seguiram.

136. Nós também vamos como peregrinos caminhando ao encontro (da vontade) de Deus-
Pai, que nos chama à glória do Seu bendito Filho. Feliz daquele que compreende o chamamento e
o segue, sem olhar ao que vai ficando após si. Mas, com a coragem de quem vai para o martírio,
confia no seu Deus e diz: "Senhor, eu venho; mas, custando-me sacrifício, não desanimo, porque
confio em Vós. Mas...é noite e a minha alma está triste até à morte.

137. Dir-me-ão: "Mas, se é que vamos ao encontro duma fundação religiosa, não será isto
um engano, uma ilusão?" Se for engano, se for ilusão, nunca será engano nem ilusão obedecer
aos superiores e, em obediência a estes, fazer por que tudo em nós seja virtude sólida e perfeita
como N. Senhor diz no Evangelho: "sede perfeitos como Meu Pai é perfeito".

138. Não vamos procurar glórias para nós; vamos procurar, sim, dar glória a Deus e só dá
glória a Deus o pobre que se fizer pobre por amor de Deus. Pobre de bens temporais, pobre de
bens espirituais: dar tudo, não querer nada para si, dar até o bom nome para ser tratado por louco,
por visionário… Deixemos, à imitação de N. Senhor, vir tudo isso, porque tudo isso é necessário
à nossa soberba para ser humilhada a alma. Mas que nunca se torne ilusão a vida sem Deus a
viver em nós, ainda que //2// pobres e miseráveis.

139. Olhemos para as ruas do Calvário que nos mostram a Santa Vítima de Jesus,
arrastando a Cruz, tratado por louco, por tudo. E tudo sofreu para nos salvar. "A minha alma está
triste até à morte": N. Senhor esteve sempre triste, mas nunca deixou o Calvário, a Cruz, até dar o
último suspiro por nós. Todas as almas, que se sentirem chamadas, vêm deparar com uma grande
cruz. Cruz, em que devem reflectir se estão prontas para a viverem e morrerem crucificadas.

140. A minha pobreza, o meu nada, me deixa, como a S. Pedro, mostrar receio de lançar as
redes para o mar revolto. Mas, confiada naquelas palavras do Divino Salvador –" Homens de
pouca fé" – eu venho, como S. Pedro, meter-me na barca da Divina Providência, a lançar as redes
e buscar para o rebanho do Senhor almas de boa vontade. No mar revolto dos sentidos,
inconstantes e hesitantes, governados pelo sentimentalismo e fantasia, que ora querem, ora não
querem, sem firmeza varonil, a alma cede, ora cai ora se levanta, ora vem ora se afasta. Nestas
ondulações, dum mar sem calma fixa, não estão dispostos os espíritos, prontas as vontades para
se vencerem a si mesmas. Não sentem energias para ir ao deserto, passar aquela quadra de tempo
em que também N. Senhor, retirado, foi passar quarenta dias e quarenta noites, preparando-Se
para a suprema imolação.

141. Assim se deve preparar a nossa alma para o supremo ainda que simples passo, de
aceder cada uma de nós, ao que de nós depender, a marcar o nosso destino, se no dia de amanhã
vier ordem para tomar o caminho de Belém – a abertura da casa. Cada uma verá e dirá, quais as
dificuldades, qual o chamamento: para ficar fora ou para entrar para dentro. Com lealdade, com

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verdade, exponha tudo. Cada uma receberá indicação correspondente. É a hora de dizermos o que
queremos e como queremos. Depois, aceitarmos o que vier.
142. À minha alma ninguém me chamou. Não sei dizer como aqui me encontro. Há 25
anos, dentro duma escola que cada alma, no seu íntimo, também mais ou menos conhece, (a
minha alma sabe) por onde passou e o que passou. Nestes vinte e cinco anos em que vi, senti, e
compreendi o que hoje vejo e compreendo com o auxílio de Deus, vejo que tenho para dizer que
o caminho é íngreme e a ladeira a subir escorregadia. Mas, lá no cimo, está sempre uma mão
poderosa que, ao mesmo tempo que chama, defende. Contudo, defendendo, não deixa de fazer
caminhar só, à custa de muito sacrifício.

143. É dever de lealdade, de verdade, falar aos companheiros das dificuldades do percurso,
para que estes não digam ao guia: "porque não nos desenganaste, pois temos vontade de voltar
atrás?" Assim eu, pobre pessoa, quero com essa lealdade e verdade dizer às minhas
companheiras: no dia em que cada uma decida do seu caminho, nesse mesmo dia o nosso destino
já é outro, porque outro é o fim a que se destinam os actos e acções de cada hora. Quero dizer:
não seremos livres, não poderemos dispor da nossa vontade, como seja a nossa vontade à
vontade, porque daí pode resultar ir contra o espírito que, dentro do Evangelho, nos dispomos a
seguir. Portanto as nossas acções, os nossos actos exteriores – bem entendido dentro das obras
que se tomarem – marcarão o bom ou o mau carácter na função das mesmas. Toda aquela pessoa
que assumir responsabilidade do bom ou mau governo duma associação, é essa mesma quem
concorre para levantar a obra ou deitá-la a terra.

144. O Evangelho nos eleva, no espírito de fé em Deus, para Deus. Nele encontramos toda
a verdade e fundamento necessário para fundar as nossas obras em Deus. Em Deus todos somos
irmãos, servos e amigos, pois eu também me considero serva de todos. Bendigo ao Senhor por
me ter feito tão pobre, mas na minha pobreza terei por dever cumprir a vontade de Deus. (Quero)
não hesitar, mas aceitar a coroa de espinhos, qual seja ela a de ser firme no que pense, no que
diga, dentro da doutrina do Evangelho, modelo de verdade religiosa a seguir até ao sacrifício da
própria vida.

145. Neste estreito abraço de almas, que caminham em direcção ao mesmo fim, demos o
ósculo da paz. Daquela paz de quem já vive na paz de Deus, deixando impressões, deixando
melindres, deixando-se cada uma a si mesma, começando por se ver cada uma a si mesma como
templo vivo da Santíssima Trindade.

146. Quando falo da alma segundo a doutrina de S. Paulo, é para dizer que devemos seguir
a voz do Divino Mestre: "sede perfeitos como o Meu Pai é perfeito". A perfeição do sacrifício, da
imolação da vontade. Assim como num cântaro de barro se pode deitar um precioso licor, assim
não esqueçamos também, mas tenhamos sempre presente, que somos um pobre barro que num
instante pode fazer perder o licor, se nos deixamos cair em tentação: perdermos as graças de
Deus por infidelidade à graça. Nessa hora, não consultemos a nossa sensibilidade no fervor duma
oração. Consultemos, sim, a vida de cada hora, o //3// leito de morte, sem advogado de defesa
senão a pureza das boas obras. E obras, sem amor crucificado, serão plantas que não resistirão ao
tempo, mas que desaparecem quando pareciam viver.

147. Alerta, boas companheiras, para o martírio do coração, da vontade, e sem desculpas
para o dia de amanhã. Eis-me aqui, diante do Presépio de Belém, a pedir os presentes de boas
vontades, para as que se sentem chamadas a virem para dentro. E, para as que se sentem
chamadas para ficarem fora, no apostolado, a pertencerem como terceiras. Cada uma, segundo o
que vir diante de Deus e aceitar, terá a sua obediência a seguir. Não procurei fazer esta
comunicação, antes de ser recebida esta obra por um Prelado, a quem a bondade divina inspirou.
Agora estamos autorizadas a dar-lhe princípio. Que a infância de Jesus se imprima em nossas

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almas, para sermos dóceis à voz do Senhor e não confiarmos cada uma em seus talentos, porque
iremos fazer voto de pobreza no desejo de sermos pobres por amor a Deus, nosso Pai e nosso
Senhor.

148. Muito Boas Festas. Chovam do Céu, para todas as famílias que nos pertencem e para
todo o mundo, as bênçãos de Jesus Menino, Príncipe da Paz. São estes os votos, da alma que
conhecem, a Deus e que fica a pedir as luzes do Divino Espírito Santo e a intercessão do
Imaculado Coração de Maria e de S. José, para que todas conheçam a vontade de Deus e Lhe
sejam fiéis. //4//

ANO 1943
A PAZ,
FRUTO DA JUSTIÇA E DA CARIDADE

1. Depois da leitura da carta de boas-festas, parece-me oportuno entrar mais íntimo nas
almas de boa-vontade, sendo estas onde melhor podem germinar os frutos de justiça e de
caridade. Ao entrarmos num novo ano de redenção, em que N. Senhor continua a imolar-se nos
nossos altares, peço para que todas entremos no sacrário da nossa alma e escutemos a voz de
Deus. Não a voz do coração levado pela imaginação fantasista, mas por aquela voz do coração
que assenta sobre as bases da fé.

2. Deus fala ao coração e este fala com Deus. Deus comunica-lhe a Sua graça, o desejo da
Sua vontade Santíssima. Esta (Vontade de Deus) conhece-se pelo eco que faz no convite à
renúncia ao amor natural. O amor natural é inquieto, é cioso de recompensa, é perturbação da
consciência, ainda a mais pura. O amor natural é a escravidão da liberdade, é ambicioso de bens,
é vaidoso, é orgulhoso e impaciente. Este amor não pode produzir frutos de paz, dentro da justiça
e da caridade.

3. Assim como um bom rei governa bem o seu povo se for justo (por si mesmo), assim uma
alma deve ser justa para consigo mesma, dentro da justiça e da caridade, para poder sê-lo para
com os outros. Somos (como se fôssemos) duas pessoas numa só: a (da) alma pertença de Deus;
a (da) nossa pessoa livre na vontade para ser o que quiser ser. Mas, ainda que livre, não foge dos
juízos de Deus, do que Lhe deve e tem de Lhe restituir, no grande dia da Eternidade. A alma pois,
que depois de escolher o seu fim não é fiel a Deus, é como um país sem senhor, entregue a si
mesmo, ao seu querer, sem poder vencer-se.

4. Pensemos no que Deus quer de nós. Na paz, fruto da justiça, entremos dentro de nós e
demo-nos à caridade, sendo caridade para com todos. A caridade é aquela flor que nunca murcha
e que nascendo por si, sem ninguém a plantar, desabrocha na montanha do amor de Deus. É Ele
que lhe dá a grandeza, a beleza do reflexo do Céu, dos raios de sol e da luz das estrelas, com
quem passa os dias e as noites, longe do reboliço do mundo. Nesta montanha, defendida dos
homens, ela torna-se pura, eleva-se e canta as misericórdias do Senhor.

5. Quero dizer que não é no meio das mil e uma coisas dos sentidos – que ora nos levam,
ora nos afastam, ora nos aborrecem, ora nos alegram – que uma alma é firme nos seus propósitos.
É preciso ser firme em Deus. Para isso, é necessário fugir de tudo que não seja fruto da justiça e
da caridade. Nunca devemos dar um passo, sem consultar todos os obstáculos, vencendo as
dificuldades de ordem natural, dentro da nossa vontade pessoal. Depois consulta-se com clareza,
clareza que não vá obscurecer a luz daquele que deve guiar-nos. Muitas vezes a luz que Deus lhe
quer dar, (é diferente) daquela que nos convém, segundo o nosso capricho, um nada escondido lá
no fundo da alma, a qual devia ser antes simples como os pequeninos. Como nos sabemos

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desculpar tantas vezes, a alma, pedindo-lhe Deus alguma coisa do que quer dela, consulta, não
com a clareza do que Deus lhe pede, mas com as mil dificuldades que nós pomos a esse
chamamento. Não quero referir-me ao chamamento de entrar na Obra, porque isso é livre para
cada uma. Refiro-me às virtudes necessárias às que pretendem ficar dentro ou fora como
terceiras.

6. Que o novo-ano seja de luz, de paz, dentro da justiça e da caridade. Sejamos justas para
sermos caridosas. Os íntimos de cada alma, do carácter de cada qual, têm reciprocidade sobre a
forma de organizar e de proceder de cada uma. Carácter franco e leal, ainda que despido de
valores, mas que tenha o valor do espírito justo e cheio de caridade.

7. Somos livres na vontade de cada uma trabalhar no campo de acção que escolher. Mas há
a ver que, quem dá a sua palavra a Deus, toma depois a forma que Deus lhe pedir, por essa
simples doação da vontade. É mais fácil trabalhar e orar, do que subir um rochedo pedregoso e
íngreme, no silêncio de quem se vence expondo-se a morrer. Não é só orar trabalhando, fazer o
que quer a sua vontade, que é o melhor trabalho. O melhor trabalho é, sim, o daquele que
trabalha em deitar abaixo o seu " eu," no silêncio, sem ter vontade própria. Esse trabalha com
grande mérito e pode ajudar a seu irmão, porque conhecerá os espinhos do rochedo. Somos livres
na vontade e nesta não temos que ter receios. A escolha é fácil e o campo de acção é livre para
cada uma se dar ao que lhe fôr mais próprio e conveniente à sua salvação, e segundo as
circunstâncias em que se vir na família e na sociedade.

8. Que N. Senhor nos encha da Sua graça para que – quando os sinos de Belém nos
chamarem a ver a vontade de Deus, em Deus-Menino que em Belém nasceu – cada uma se
encontre //1// em paz, dentro da justiça e da caridade. Não nos perturbemos. Entreguemos tudo a
Deus e Ele lá dará a cada uma o que cada uma Lhe pedir e d'Ele quiser receber. A todos custa
subir a montanha do Calvário, mas ninguém vive que a não tenha de subir. Portanto, agora é o
momento de cada uma ficar em paz e, na paz, Deus encontrará a alma com luz para O
compreender e seguir, seja para onde for. Demos graças a Deus por tudo; a Nª Senhora e a S. José
peçamos que nos guiem e salvem.
Circular de Janeiro de 1943 //2//

COMO DEVEM SER PARA COM DEUS


NA DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA

9. O Padre representa para nós a mesma autoridade de Jesus Cristo. Nele devemos ver a
Deus, na luz que d'Ele vem e que nele vamos buscar, só para seguir a Deus na Fé que nos obriga
a crer no que Deus disse: " Quem vos ouve, a Mim ouve." Entremos nesta parte, tão necessária à
formação do espírito em que Deus nos quer. Todo (este espírito é) fundado na doutrina do
Evangelho, livro de Verdade e vida para a alma que quer seguir a Deus. Bem sei que entramos
numa parte tão íntima que, pela mesma razão, é mais necessária e importante.

10. Sem querer entrar na alma de nenhuma, entro e falo de mim própria, sujeitando o meu
juízo aos que melhor julgam da doutrina de que se fizeram mestres, para ensinar as gentes. A
alma que procura viver só da verdade, entra dentro doutra cidade na qual tudo é diferente. Sem
mudar a pessoa de ser o que é, muda sim na directiva interior do espírito. Nós também temos de
mudar em tudo porque, segundo o que for a alma, sê-lo-á a pessoa nos seus actos externos. Se
não ardermos em caridade, não sairão dos nossos lábios senão o que estiver no coração. Se o
coração arder em caridade, os nossos lábios falarão da caridade, que é verdade, e esta verdade é
sempre Deus.

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11. Para se ter caridade perfeita, é preciso amar a Deus sobre todas as coisas; e para ver a
Deus em todas as coisas é preciso crer; e para crer, sofrer. A nossa alma, antes de procurar a luz
na direcção de consciência, não deve amar as trevas nem caminhar em trevas. É preciso sim, que
ame a luz; a luz nasce da verdade; a verdade é Deus; e Deus faz-Se representar no Padre. O Padre
é, ao mesmo tempo, homem com a sua forma pessoal, e Deus com o seu carácter sacerdotal. A
alma deve ir ao Padre porque representa a Deus. Dá a alma a Deus o que é de Deus, e ao
homem o respeito, a humildade, a paciência, a caridade que deve resplandecer nas obras e na
conduta da dirigida. Não avançará mais além, para que o Padre não deixe de ser Deus quando
fala em seu nome, mas dos seus lábios saia Deus só, para que em tudo o Padre seja a Sua imagem
fiel.

12. Se a nossa alma não procura encontrar-se só com a luz de Deus que vem ao encontro
da alma pelo sacerdote, qual será o resultado da direcção que vamos buscar? Uma virtude
exposta a todos os ventos que sopram da tribulação. Buscando os mais pequeninos porquês de
tudo, terá sempre como resultado o seguinte: "o Padre não me atende, o Padre não me
compreende". Assim as almas vão formando a sua virtude num certo sentimentalismo oculto, que
o amor-próprio procura esconder aos olhos da própria alma. Ora está contente, ora está triste, ora
impaciente, ora atribulada. Daí: "não tenho vocação", diz a alma. "Deus deixou-me, Deus não
quer nada comigo". Almas irmãs, se correis por este caminho, afastai-vos dele: a vocação está no
amor à verdade que é Deus. A vocação está no espírito recto, esclarecido pela própria rectidão. A
alma que segue a doutrina santa do Evangelho não se desvia da verdade: compreende-a, porque a
ama; procura-a, porque a quer viver.

13. Lá do cimo da montanha santa do Calvário – onde estão as Santas Vítimas, Jesus
Crucificado e Sua Mãe Santíssima junto à Cruz – no seu amor a Deus, diz: "Deus me basta, Ele é
a minha luz, em tudo O encontro, tudo me fala d'Ele, porque Ele é o Senhor de tudo." Se
pensamos que o espírito da Obra está nas elevações somente – sem fundamento em Deus só –
com misturas de bem-estar que procuramos na direcção de consciência, nesta ou naquela amizade
particular, estamos na ilusão. Não só não conseguiremos o fim, mas morreremos no princípio das
obras que Deus exige de cada uma de nós. Aquelas que procuram a satisfação pessoal (espiritual)
mesmo na melhor das intenções, não podem contar em se vencerem a si mesmas, em face da
virtude heróica que Deus exige delas dentro do espírito desta Obra, que é de morte para a parte
sensível e se guia apenas pela Fé.
Circular de Fevereiro de 1943. //1//

COMO DEVEMOS SER PARA COM DEUS


NA DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA

( Continuação da circular anterior )

14. O ponto principal da nossa formação deve ser – a Verdade. E como esta, nas dúvidas e
temores, se vai procurar nos sacerdotes, nós devemos ir junto deles com a mesma pureza e
reverência com que nos devemos preparar e ajoelhar diante de Deus, para O recebermos em
nossos corações. Se toda a alma fosse nestas disposições buscar a direcção, podíamos bem dizer
que não haveria uma só que não trouxesse muita luz. Porque da mesma tribulação que lhe viesse
da direcção – por esta nem sempre quadrar com o que nós pensamos e julgamos e assim se
transformar em perturbação e inquietação – (brotariam) actos de Fé e de abandono que
(resultariam em) luz e paz no seu caminhar para Deus.

15. O caminho da direcção espiritual é uma luz no meio das trevas. Mas pense a alma que,
por vezes, as trevas dessa luz somos nós próprias que as fazemos, com as nossas razões, faltas de

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submissão do nosso juízo nos acontecimentos que Deus vai permitindo no nosso caminho. Eis
como saímos do campo perfeitamente espiritual, para entrarmos e seguirmos numa direcção de
consciência, que não vem da luz do Director mas de seguirmos a nossa própria luz. Suponhamos
que se encontram duas almas seguindo o mesmo caminho, e o mesmo Director de ambas, e em
casos iguais, mas diferentes na maneira de raciocinar de cada uma. Uma pensa assim: eu dei-me
a Deus sem querer compreender mais do que Deus me deixar entender e, portanto, quando vou ao
Director digo o que penso, o que sinto, o que discirno das coisas. A cada resposta do Director,
ainda que venha ao contrário do que penso, fico sempre em paz a reflectir assim: " N. Senhor lá
sabe o que é melhor e portanto inclino-me, aceito e fico em paz, porque o Padre é Deus e é Deus
Quem n'Ele fala à alma. Se de entre todos escolhi este Director, o meu caminho é a obediência
sem discussão. Se, porém, tenho a consciência a obrigar-me a dizer ao Director que me parece
que não posso aceitar aquela direcção que me deu, vou de novo levar-lhe as minhas dúvidas, os
meus receios, para que de novo examine. Vou mais uma vez ouvir o que Deus quer que eu faça e
mais uma vez louvar ao Senhor porque assim teve por bem determinar”. Esta alma ficou em paz,
fruto da luz que procurou na Verdade. Esta (verdade) foi o seu caminho, o seu guia e fortaleza:
Deus só no Director.

16. A segunda expõe o mesmo caso ao Director, mas não concordou com este: sofre e cala,
não quer dizer o que pensa, porque isso pode desgostar o Director e porque já prevê que ele não
vai aceitar o que ela diz. Perde a paz. Perturbações de espírito e aflição são a consequência.
Nestas (perturbações de espírito) recorre a alma a este e àquele, a buscar luz. Isto é permitido e
por vezes aconselhado, porque a alma tem inteira liberdade; mas examinemos os frutos que daí se
seguem. Quem lucra mais? Aquela outra alma que fica em paz ou esta que perde a paz? Esta
perde-a porque o mal entendido partia dela e não do Director; e partia dela porque não queria ver
a Deus no Director, mas antes que este pensasse como ela.

17. A alma deve viver atenta às mais pequeninas coisas. Portanto, não são os
acontecimentos que se deram em tal dia ou a tal hora, que deixaram trevas; foi, sim, quem as
procurou, porque não se quis humilhar, deixando-se levar pelo amor-próprio. Da direcção de
consciência nascem tantos bens, como podem nascer muitos males se a alma (a) não procura e
segue, com igual escrúpulo.(É essa) alma que se quer ver no dia da Eternidade, face a face com
Deus, porque foi sempre recta, procurando a sua santificação no que desse maior glória a Deus.
Nosso Senhor é glorificado naquela direcção de consciência que é (de) Deus (e) por Deus, (onde)
não se vê a pessoa do Padre, nem se quer o Padre senão pela santidade (de) Deus nele. Entremos
num trabalho perfeito na direcção, em que nos façamos fiéis por ela a Deus e, em Deus, o Padre
seja luz que nos guie a sermos perfeitas. Olhemos para as consolações que procuramos na
direcção, como se olhássemos para uma ocasião de nos apegarmos ao que passa e do qual não
fica virtude de fortaleza para os dias de desamparo.
18. Façamos o mês de S. José com o devido fervor e imitemos as suas virtudes.

Circular de Março de 1943. //1//

COMO DEVEMOS SER PARA COM DEUS


NA DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA

19. Nós demos a Deus a nossa vontade para sermos servos dos servos, e o servo é o nada
diante de todos. Só não deve ser servo para servir um afecto que não deve ser servido, como seria
o de olharmos para o valor de alguém que nos agrada, sem ver esse valor só em Deus. O
sacerdote é um valor em Deus, a Quem representa. Deus é glorificado nele, e nós glorificamos a
Deus, vendo nele a Deus.

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20. Assim como ninguém se aproxima de Deus senão com santo temor, guardando (puros)
os pensamentos e afectos como o mais precioso dom de Deus, do mesmo modo (deve aproximar-
se do) sacerdote. Não olhemos à sua pessoa senão com santo respeito e temor, não consentindo
no nosso coração ou na nossa alma o despertar sensível e afectuoso, por aquele que também é
homem, embora cuja palavra seja de Deus. O mal não vem do que vem de fora para dentro. Vem
do que estiver de imperfeito dentro de nós, despertando inclinações que vão profanar o que foi
dito em nome de Deus, pelo sacerdote. Os nossos afectos não devem desabrochar, porque são
perigosos para o nosso coração, para a nossa alma. Um simples sopro (desses afectos) embaciará
o cristal puríssimo em que deve estar a pureza duma alma que prometeu fidelidade a Deus

21. Nunca me esquecerão umas palavras que li e diziam assim: "se tu, alma fiel, pudesses
compreender o valor e a dignidade sacerdotal, o que deve ser um sacerdote do Senhor, com
certeza ele seria mais santo e a tua alma mais de Deus." Se a nossa alma se compenetrasse deste
pensamento, não perderia o fruto duma só palavra do Director. Até o próprio silêncio dele a
levaria mais para Aquele a quem procurou no Padre, pois só por amor ao seu Deus, se ajoelhou
diante dele. Só N. Senhor, a quem procurou no Sacerdote, para a guiar, lhe basta naquela hora.
Então dirá: " porque me perturbo, se não encontrei o que procurava ouvir, se a vontade de Deus
assim o dispôs, por este ou aquele acontecimento? Abandono-me nas Suas divinas mãos,
esperando outra ocasião. Se estou em pecado, confesso este seja a que Padre for; mas para
consultar espero, confio e abandono-me a Deus. Ele que pode resolver este caso, que me tem
nesta dificuldade."

22. Na nossa direcção de consciência, devemos ser espíritos fortes: na rectidão, na liberdade
de alma, na pureza de intenção. Mas pureza desinteressada da própria opinião de nós mesmas, da
pretensão do bom ou mau juízo dos outros, (dependente) unicamente do bom juízo de Deus. Só
Deus é o Senhor e mais ninguém. Se não vamos compreendendo assim, quantas direcções sem
fruto, quantos Directores enganados porque os enganamos sem querer enganar!

23. Esse engano nasce da falta de bons princípios que ficam escondidos nos afectos
imperfeitos do nosso "eu", do nosso amor-próprio. (São tais afectos imperfeitos que) consigo
trazem tantas perturbações de alma e aos Directores. É ver como custa tanto aos Directores
discernir o bom do mau espírito, quando se escondem certos enganos do demónio. São eles
próprios a confessá-lo. Porque é que esses enganos são mais frequentes entre mulheres que entre
os homens? Porque nós, mulheres, somos mais difíceis, por uma habilidade natural, em deixá-los
descobrir.

24. Só com espírito tenaz e forte pode a mulher vencer em si e cortar o que de perigoso há
nela para si própria e para os seus Directores, porque com o nome de humildade, esconde o
orgulho. Eu falo assim porque a experiência o mostra. Ninguém mais do que nós próprias,
quando temos força de vontade e somos ajudadas pela graça de Deus, pode entrar dentro desse
mundo imenso e desconhecido de nós mesmas. Então, se pudéssemos fazer sair aos olhos de
todos as imperfeições e caprichos, tantas coisas que pareceriam feitas tão santamente e não o
foram, com certeza ficaríamos envergonhadas diante dos nossos próprios olhos.

25. Essa imagem de nós mesmas deveria converter-se em foco de luz de graça divina, para
cortar tudo o que não é bom e só fazer vingar, desabrochar, o que agrada a Deus. Não nos
devemos desalentar por conhecer os nossos erros, porque são deste mundo; mas, humilhadas,
alegrar-nos por esse conhecimento, donde nasce a luz para o futuro, pela qual devíamos dar
glória a Deus.

26. Sacrifiquemos os nossos afectos, para que sejam mais puros, mais de Deus.
Alcancemos, por meio da penitência do coração, relações santas, como um dia serão no Céu para

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aquelas almas que viveram na terra a felicidade de seguir a voz de Deus, amando- O sobre todas
as coisas. Que neste mundo nos ajudemos mutuamente e vivamos todas, naquele espírito de
união que Deus exige de cada uma de nós, pois dessa união santa brotará a paz, a luz e a
concórdia.
Circular de Abril de 1943.//1//

COMO DEVEMOS SER PARA COM DEUS


NA DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
(Não foi enviada ao grupo, sendo escrita em Março ou Abril de 1943)

27. Como o espírito da Obra é entrar em tudo o que nos possa indicar meios de santificação
pessoal para cada uma de nós e como a entrada na vida mais perfeita desse espírito está sujeita a
muitas maneiras de a doutrina desse mesmo espírito ser interpretada, nós começamos agora pela
parte principal antes de chegarmos ao fim de tudo o que nos é dado conhecermos. A própria
experiência tem mostrado que, quando a vida de piedade não começa em nós pelo
desprendimento das coisas a par dos afectos para com Deus, deixando de olhar apenas para a
pureza de intenção, muitas vezes nos enganamos no caminho que levamos, se não nos ensinaram
a bem interpretar.

28. Neste mundo, quando a alma se dá inteiramente a Deus, sucede, especialmente à


mulher, ser levada a pensar que, entrando na vida mais de Deus, já chegou por esse mesmo
desejo à perfeição. Não olha aos perigos que a rodeiam fora e, dentro de si mesma, (quando)
arrastada por um fermentozinho de vaidade que ela a si mesmo esconde, olhando só ao desejo de
pureza de intenção. Julga-se a si mesma superior a outras almas. Mas, se é verdade, quem quiser
conhecer-se a si mesma, deixe tudo e aproxime-se de Deus, d'Ele só, e verá logo aquele sudário
de misérias, diante das quais ela quereria esconder o seu rosto para não ver.

29. Por causa dessa imagem de si mesma, ela foge de tudo, o mais que pode: não só daquilo
que de si pode ser mal para os outros, como do que dos outros possa ser mal para ela própria.
Então não se nega a morrer aos seus afectos; mas vendo (só) a miséria que se arrasta neste
mundo, penitencia-se (por ele) sem ninguém descobrir o que ela faz. Vai aos sentidos, esmaga-os
e crucifica-os. Pensa que, tendo abandonado a vida natural que qualquer outra pessoa no mundo
leva, tendo-se dado já a Deus e atendendo apenas ao cumprimento dos seus deveres que contraiu
neste ou naquele estado, por isso se elevou mais, e elevando-se ficou com direito a julgar (só) dos
outros.

30. Ora o espírito que nós seguimos não é assim. Nós demos a Deus a nossa vontade para
sermos servos dos servos e o servo é sempre o nada diante de todos. Só não deve ser servo na
parte que diz andar a servir o amor que não deve ser servido. Este amor, vejo-o eu, quando
olhamos para o valor de alguém que nos agrada pelo que vale, sem ver esse valor só em Deus.
(Por exemplo), o sacerdote é esse valor, enquanto representa Deus, cheio da glória de Deus,
porque Deus é glorificado pelo sacerdote e nós damos glória a Deus se nos aproximamos dele,
vendo-O em Deus. Dele, como pessoa, fugimos: do seu olhar, das suas palavras, de tudo o que
seja a sua pessoa. Porque devemos fugir? Fugir, não é fugir da sua imagem, pois ele tem de falar
a palavra de Deus. Fugir é não aceitar no nosso coração, na nossa alma, todo e qualquer despertar
sensível e afectuoso. Porque o mal não vem do que ouvimos, vem de nós mesmas que, fazendo
despertar as inclinações do coração, profanamos a palavra de Deus que foi pronunciada pelo
sacerdote. Os seus lábios são puros; mas os seus afectos não devem desabrochar, porque são
perigosos para o nosso coração, para a nossa alma.
31. Como se há-de fazer, então, para vencer no que temos por mais santo, se nós só
desejamos o máximo de pureza em toda a nossa alma e em toda a nossa pessoa? Encontrando-me

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um dia com uma alma, ouvi-lhe dizer assim: "se nós compreendêssemos a dignidade sacerdotal,
se nós pudéssemos conceber a ideia do que é um sacerdote, com certeza ele seria mais santo e
nós mais de Deus." Se, no encontro de duas almas que se dá na direcção de consciência, ao abrir-
se a penitente e ao falar o Director, a alma se compenetrasse desses dois pensamentos da
elevação do sacerdote, a alma não perderia o fruto de uma só palavra do Director. Até do seu
próprio silêncio ele lhe falaria à alma, que viria recolhida dos seus pés e diria a N. Senhor: //1// "
hoje não precisei de mais nada."

32. Deus N. Senhor, a quem procurei no Director para me guiar, Ele só me basta. Se é Ele
que pode a qualquer hora, a todo o instante, falar à minha alma pelos acontecimentos, pelos
sofrimentos, guiar-me em tudo sem que eu ouça a voz de ninguém, porque me perturbo? Porque
me perturbei naquele dia, em que me pareceu não ter feito caso, nem prestado atenção, ao que eu
lhe dizia ? Esqueci-me, nesse dia, nessa hora, de que o Padre é Deus, e como tal eu não devo
querer nada mas em tudo ver a Mão de Deus guiar os acontecimentos.

33. Olhemos para uma alma nos últimos momentos. Se ela está lúcida e tem fé, o que é que
a sensibiliza mais nesse momento? Não será a presença do sacerdote ou o que ele diz? O clamor
da alma, que se sente prestes a ir à presença de Deus dar contas, é este: eu só queria um Padre,
que é o representante de Deus, a quem eu diga tudo, porque quero o perdão das minhas culpas e
quero ir tranquila. Esta alma já não quer amigos nem conhecidos, quer a Deus só. Já não vai pelo
que sente, só vai pela Fé: dizer o que tem ao Padre e esperar o que Deus lhe quizer dar de paz e
de perdão.

34. O espírito da nossa formação é viver da doutrina da Igreja. É viver de fé, apagando
pessoas como imagens e vendo nelas só a Deus. Deus N. Senhor falará à alma na falta de toda a
pessoa, de todo o sacerdote, se tivermos Fé. A nossa vida de piedade não pode ser formada do
visível, quero dizer, do que dão os sentidos, mas do invisível, do que dá a Fé, do que N. Senhor
ensinou aos discípulos. Portanto a alma deve viver de Deus, vendo no Director a Deus. Ele, por
grande misericórdia, suprirá o que nos possa faltar no que nos vem pelo Director.

35. Quando a alma entra num caminho de examinar melhor as suas aspirações, o seu
primeiro pensamento é sempre o de fugir para os pés do Padre para lhe confiar tudo. Se o não faz
sempre que se lembra, anda o espírito inquieto. Isto é sinal de que procurou a sua consolação e
não a de Deus. Esperemos a hora da abertura da consciência em paz, em grande abandono e
confiança em N. Senhor. Este abandono será como a luz do dia que, não só guiará a alma, mas
dela tirará luz o próprio Director, vendo no seu desprendimento a paz da alma que só espera
atender à voz de Deus, não pensando em si própria.
36. N. Senhor é Deus de paz. Olhemos para a Jacinta. Como ela subiu os caminhos da
perfeição! Guiada por quem? Pelo Senhor. Imitemo-la sempre. Que N. Senhor nos leve pelo seu
caminho de abandono a Deus. //2//

AOS PÉS DE NOSSA SENHORA


SEJAMOS HUMILDES E GENEROSAS

37. Acabamos de celebrar o 4º aniversário da fundação do Grupo. Demos graças, por todas
as graças recebidas. Ajoelhemo-nos aos pés de Nª. Senhora, neste seu mês de graças e
misericórdias, suplicando-Lhe, em união de intenções com o Santo Padre, a paz para o mundo,
dentro da justiça e da caridade. A paz nas almas, voltando-se elas para Deus, dentro da justiça e
da caridade. Que Ele lhes dê luz para as inteligências para que se dobrem à Verdade. Nª. Senhora,
Rainha da Paz e do Amor pelos homens, Seus filhos, viveu a paz em subida grandeza, porque
toda a sua vida foi um acto de aceitação de todo o sacrifício. Do sacrifício nasce o amor à cruz.,
que será na Céu a glória de toda a alma que, à sua imitação, amar assim a cruz, fonte da redenção

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de todo o género humano. Numa só alma, com todos os nossos irmãos em Cristo Senhor nosso,
espalhados pelo mundo, em Seu nome e numa só súplica, lançemo-nos aos pés de Nossa
Senhora, a pedir por todos ao Seu Coração Imaculado.

38. Ofereçamos à SSma Trindade aquele rio de lágrimas que brotaram dos Seus olhos
quando, junto à cruz, chorou as dores de Seu Divino Filho, de que foram causa os pecados de
toda a humanidade, para que as suas dores e lágrimas santíssimas voltem a aplacar a justiça
divina, que pede reparação e desagravo. Para reparar e desagravar o Coração Santíssimo de Jesus,
vamos oferecer ao Eterno Pai, pelo Coração Imaculado de Maria, e em nome do Seu Divino
Filho, o Santo Sacrifício da Missa, diariamente, durante todo o mês de Maio, a pedir o perdão dos
nossos pecados, dos das nossas famílias e do mundo inteiro. Todas nós contribuiremos para que
Nª. Senhora e nossa Mãe seja honrada, desagravada e amada pelo nosso obséquio, o mais perfeito
e mais digno d'Ela (que nos for possível, e mais digno) de honrar ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo de Quem Ela foi na terra templo vivo, pois alcançamos, pelas Suas dores, a nossa salvação
eterna.

39. Que neste mês de graças consideremos o dever de sermos, à Sua imitação, escravas do
Senhor e servas de todos os que sofrem, de todos os que padecem tribulação, de todos os que
gemem na cruz das suas doenças e angústias. Que à imitação da SSma Virgem, que a todo o
instante está atenta aos clamores angustiosos dos que a Ela recorrem, também nós, com as nossas
súplicas, acompanhemos e sigamos essa via dolorosa da caridade e do amor pelos filhos que Lhe
são queridos – as almas que estão espalhadas pelo mundo – atentas ao seu luto e à sua dor.

40. No silêncio da nossa oração, recolhamos o nosso pensamento e, aos pés do altar,
meditemos como a Mãe de todas as dores, na Sua dor sente a dos Seus filhos, que imploram que
os salve. Roguemos: "salvai, ó Mãe das Dores, aqueles que são fracos como eu, e eu, como eles,
ingrata! Salvai-os, ó Mãe das Dores, pelas Vossas dores junto à cruz de Jesus Redentor. Dizei
uma só palavra ao Vosso amado Filho e o mundo será salvo por vossos rogos, ó Mãe dos
Homens e Mãe de Deus!”

41. A SSma Virgem, lá do Céu, olhando para o mundo, como sentirá dor ao ver como os que
A amam, muitas vezes se esquecem de seus irmãos que sofrem, esquecendo-se do que Ela sofreu
por todos! Então, se nos pudesse mostrar como o nosso coração é duro, sem aquela perfeita
compaixão, Ela, que só pede amor, misericórdia e compaixão para com os homens culpados, far-
nos-ía conhecer como não somos do número dos que se dedicam por esses outros nossos irmãos.
Procuramos o agradável na oração e no sacrifício, dedicando-nos de preferência aos desejos e
sentimentos que nos inspiram as nossas inclinações naturais, levadas pela própria vontade e não
só pela Fé escura que se dá, que crê e ama sem interesses, sem ver, para se dar e para acreditar.
42. Basta à nossa Fé crer no que Deus disse e nos ensina. Assim fez a SS ma Virgem: deu-se
ao Senhor, sem quer ver a grande dor do Calvário que Lhe estava reservada, quando o Anjo Lhe
anunciou que ia ser a Mãe de Deus. Eis-nos no mês de tantas graças. Que estas sejam
aproveitadas, servidas e amadas. O amor conhece-se pelo sacrifício e este está em tudo e em toda
a parte.
Circular de Maio de 1943. //1//

CIRCULAR DE JUNHO DE 1943

44. A minha doença tem-me privado de fazer a circular. Mas, quando o motivo é a doença,
nela devemos ver a Vontade de Deus. Dirijo algumas linhas a todas as almas amigas e
companheiras, agradecendo as caridosas orações e sacrifícios oferecidos, pois sinto bem a
necessidade desse auxílio. Nesta doença tão prolongada, na qual cheguei a convencer-me que

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estavam terminados os meus dias, vendo agora esperanças de melhorar, ainda que essas melhoras
as reconheça muito lentas, espero, se N. Senhor quiser, escrever a circular de Julho. Nela tocarei
os pontos principais do que pensei e resolvi fazer e que será de satisfação para todas.

45. O nosso caminho é feito de espinhos; mas devemos encará-los sempre com coragem.
Ainda que a carne seja fraca e pareça que vamos cair, o espírito deve ser pronto em se levantar
com Fé, confiando na misericórdia de Deus. Na doença encontram-se grandes avisos de Deus que
nos ensinam o que nós precisamos de saber. Nela frequentamos uma escola em que o Mestre é
severo para o discípulo aprender. Eu também vou aprendendo, para contar às minhas
companheiras como a alma, maior que o mundo, tem poder de esmagar, quando Deus o quer, esta
natureza tão pobre.

46. Esta só se tem por grande quando ninguém a aflige, ninguém a contraria nem perturba.
Por isso mesmo, devemos ter muita compaixão e misericórdia para com aqueles que, estendidos
pela doença, não podendo nada, têm fome e sede de caridade, tanto em palavras como em
conselhos. Como? Oferecendo-lhes actos de Fé, inspirando-lhes amor e confiança no Céu. A
linguagem que devemos usar para com os doentes, é aquela mesma que N. Senhor tinha para com
os pobres e abandonados.

47. A doença é a grande mestra da vida que hoje, mais uma vez, me faz dizer diante de
Deus e diante de todos: "Senhor, fazei que eu (veja) o Vosso Santíssimo Corpo estendido e ferido
na Cruz, vendo nesse desamparo a Vossa imagem nos pobres, nos abandonados, nos enfermos e
desprezados de todos”. Só o amor de N. Senhor, como Pai, conhece e sabe compreender as
necessidades e fragilidades da nossa pobre natureza. Só dentro dessa chama de caridade em que
todas as almas devem arder, se podem tirar frutos de caridade a exercer para com todos. Que N.
Senhor nos dê esse espírito. Sem ele, não há virtude capaz para dar a nossa vida pelo próximo, na
generosidade duma caridade imolada no sacrifício.
1 de Julho de l943.

48. Pedimos que se faça a Novena de Santo Inácio, honrando-o o mais possível no dia da
sua festa. //1//

NOTA INTRODUTÓRIA

A casa de que se fala na circular é a casa


da Rua Cândido dos Reis, nº 83.

Ficava pegada à da Fundadora e tinha passagem


pelo corredor de uma casa para outra.

Nesta casa ficavam as pessoas da Obra e algumas


pessoas que lá passavam de visita.

Estava alugada em nome da Guilhermina Vasconcelos.


Por morte da Fundadora entregou-se ao senhorio.

ABERTURA DA PRIMEIRA CASA DA OBRA

( 2-7-1943 )

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49. No dia de S. Pedro e S. Paulo, foi benzida a nova casa e entregue à protecção destes
Apóstolos do Senhor, que tão bem souberam levar a doutrina de Cristo Senhor Nosso a todos os
povos do mundo, operando Deus sobre eles verdadeiros prodígios da graça. Assim também, neste
dia escolhido por Deus, abrimos a 1ª. casa da Obra, conforme Deus o proporcionou. Não fomos
nós quem a escolhemos. Mas as diversas circunstâncias, em que as coisas se vão dando, assim o
determinaram, sem ser preparado nem calculado antes. Portanto, só tenho como dever meu
comunicar que, para nós, que fazemos parte do pequeno grupo da Obra, Deus N. Senhor já nos
mostrou uma pobre casa. Sem comodidades, é verdade. Temos de (a) aceitar conforme os casos e
acontecimentos no-la apresentam nesta altura.

50. Mas cabe nela a virtude de todas. Mais ainda (pode) torná-la maior, aos olhos de Deus,
a santidade a que cada uma deve aspirar. Para que assim seja (este) o seu primeiro alicerce,
propunha a todas as minhas companheiras o único modelo a seguir: imitarmos o Sagrado
Coração de Jesus que, como Homem-Deus, ensinou com a Sua vida santíssima o caminho que
leva até Ele e, por Ele, até Seu Eterno Pai. Amou e padeceu por amor. O Seu amor por nós
esmagou-Lhe o coração até derramar a última gota do Seu sangue. Porque deve ser Ele o único
modelo das nossas almas, foi no dia do Seu Sagrado Coração, depois de termos mandado celebrar
Missa solene com Acto de Consagração, Ladainha e Benção, no Templo de Santa Luzia,
precedida duma Novena de Missas a pedir as bençãos de Deus que, na tarde desse mesmo dia, foi
inaugurada e feita a consagração da 1ª. casa da Obra ao Coração de Jesus e Imaculado Coração
de Maria. Pelas Mãos de Nª. Senhora, entregamos Também a casa à SSma Trindade, para que as
almas vivam cheias do espírito de Fé, de verdade e de claridade divina.

51. A casa já não é nossa; é propriedade onde reside agora um fim, que é procurar fazer o
que Deus quer de nós, o que Deus pede a cada uma no segredo da sua própria vida, que deve ser
a aspiração de corresponder à graça, trabalhando pelo mais perfeito. Devemos santificar os
lugares por onde passarmos, dando bom exemplo. Mas que esse venha de dentro, da alma, e não
seja imitação só de fora. O alicerce fica escondido quando se levantam os grandes monumentos.
Tal alicerce deve ser, na alma, a vida interior. Esta, que se esconde, é a única que pode elevar o
edifício até aos céus, suportando as grandes tempestades da " Via Crucis. "
52. Que o mesmo pensamento una as nossas almas na conquista da Verdade. Que a nossa
vida seja outro farol, fazendo luz no mar tempestuoso da nossa jornada de peregrinos sobre a
terra, não deixando apagar a luz da Fé, embora sempre em luta com os três inimigos da alma. A
paz é fruto da vitória. Esta só se encontrará na sua plenitude no céu, quando se acabarem os
trabalhos desta vida. Não esperemos descanso nem sonhemos vitórias sem sacrifícios antes, ainda
que por vezes estes sejam extenuantes e levem a vida.

53. Louvando a Deus N. Senhor por tantas misericórdias. Comecemos a nossa vida de
recolhimento sincero e de vontade generosa e pronta a avançar por cima dos espinhos. Estes não
estão fora de nós, como se julga; as maiores dificuldades a vencer encontram-se dentro de nós
mesmas, na variedade de tudo o que faz formar ao mesmo tempo a mudança de juízos, de
sentimentos e de impressões, sem sabermos qual o movimento da vontade que se aproxima mais
da luz da Verdade que é Deus. Obedeçamos ao fim que nos uniu sem olhar à forma por onde
foram os seus caminhos. Estes serão como aprouver à Providência guiá-los. Que a paz de Deus
seja connosco até ao fim dos séculos e por toda a Eternidade, pois só em Deus há perfeita morada
e descanso para sempre, sem noite, mas em perfeita claridade.
15 de Julho de 1943.//1//

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

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54. Que o divino Espírito Santo desça, com a Sua Luz e com a sua graça, sobre cada uma de
nós, neste dia em que a minha alma se dirige a todas e a cada uma em particular. Em particular,
para que cada alma, que segue o seu caminho, não se desvie das moções da luz que Deus lhe tem
dado para que corresponda à graça da sua vocação. A vocação representa uma vida inteira cheia
de trabalho, de sacrifícios, de renúncias, onde pode entrar o desalento e a perda de forças da
vontade. Esta (vontade) sofrerá (tais) tempestades que quererá deitar a alma para o abismo do
nada da infidelidade à graça da perseverança.

55. Os acontecimentos vão-se dando uns após outros e, como sempre tenho falado a todas,
devemos ver neles a manifestação da vontade de Deus. Sua Vontade nos manda aceitar os Seus
desígnios, ainda que pareçam caminhos tortos. Destes nascerá sempre uma luz nova em que o
próprio Deus manifesta claramente o que quer de nós. O nosso caminho será feito de surpresas.
Alguém que empreendesse uma longa peregrinação e, encontrando a certa distância um ponto de
apoio, aí descansasse para elevar o espírito até Deus, num acto de amor e acção de graças, esse
descanso seria sempre curto para recomeçar os sacrifícios da longa peregrinação. O seu fim, em
cada dia, é corresponder a tudo o que, nesse mesmo dia, Deus dispõe à alma seguir. Todos
sabemos: o fim dos nossos trabalhos é no dia da Eternidade.

56. O nosso caminho, segundo o espírito desta Obra, é de grandes sacrifícios, trabalhos e
desprezos. Uns que se passam dentro da própria alma, outros enviados pelos homens. N. Senhor
assim sofreu e nos deixou o exemplo a seguir. " Muitos serão os chamados " - diz o Senhor - " e
poucos os escolhidos," porque o número dos escolhidos tem de se parecer com Ele, que Se fez
homem para sofrer e morrer por nós. Não é necessário consultar muito, nem fazer muitos exames
sobre a vocação característica do espírito desta Obra. Sempre tenho dito que ele está no Horto das
Oliveiras e no Calvário, com Jesus e Maria junto à Cruz de Seu Divino Filho.

57. ACTO DE CONSAGRAÇÃO AO SSmo CORAÇÃO DE JESUS


Eterno Pai, neste dia consagrado ao Coração do Vosso Amado Filho, nós, aqui presentes,
(em nome próprio) e em nome de todas aquelas almas que em espírito estão e venham a estar
connosco, consagramos (ao seu Coração) esta casa e todas as outras casas e lugares por onde
passem, habitem ou residam essas almas, quer como família religiosa, quer como associada ou
agregada ao mesmo espírito desta Fundação, que hoje solenemente iniciamos. Fazemos esta
consagração à Sua Santíssima Humanidade, como Redentor e Salvador nosso. E fazemo-la pelas
Mãos de Nossa Senhora, pedindo ao Seu Imaculado Coração se digne apresentar a Seu muito
Amado Filho, em louvor da SSma Trindade, esta família, para que venha a ser, em cada um dos
seus membros, um altar de desagravo, de reparação e expiação à justiça divina, realizando-se,
nesta família, todos os desígnios de Deus. Suplicamos ao Divino Coração de Jesus, neste dia 2 de
Julho de 1943, que Se digne encher a nossa alma de luz, de fortaleza, de ciência e santo temor,
para que conserve as nossas almas sempre dentro do conhecimento do seu nada. Luz que
confunda, esmague a soberba. Ciência que compreenda os dons de Deus. Fortaleza que aumente
e fortifique a fé dentro de toda a ordem de sacrifícios e martírio. Temor que conserve o nosso
sentir e razão na sua pequenez, à luz da pureza de consciência, da humildade, vendo cada uma a
sua pequenez na presença dos juízos de Deus.
Julho de 1943. //1//

DEVOÇÃO ÀS ALMAS DO PURGATÓRIO

58. Em união com as intenções do Santo Padre de sufragar as almas dos nossos irmãos,
vítimas da cruel guerra, não esqueçamos que este mês é de todos o maior, nos sentimentos que
deve despertar na nossa alma, de caridade para com aquelas almas tão sujeitas ao esquecimento
da própria gratidão que lhes devemos. Não olhemos só aos pobres sem pão; olhemos também aos

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que pedem, com gemidos de dor, o alívio das suas penas. Ofereçamos por elas a Santa Missa,
orações, sacrifícios e tudo quanto possa provar a nossa dedicação e caridade perfeita. N. Senhor
espera da nossa generosidade aquele amor para com as almas do Purgatório, que é fruto do
amor-perfeito para com Ele mesmo. Lembremo-nos de que a SSma Virgem, em Fátima, pediu aos
pastorinhos essa mesma caridade para com as Almas do Purgatório. Semeemos misericórdia para
com os nossos irmãos, para alcançarmos um dia a mesma misericórdia para nós e para os nossos.

59. Durante os primeiros dias de Novembro (até ao dia 2 à meia-noite) podem ganhar-se
indulgências plenárias aplicáveis às Almas do Purgatório. Como é do nosso programa a devoção
especial às almas do Purgatório, peço que este mês lhe seja de todo dedicado com especial
devoção e generosidade a maior. Tudo que se faça em seu favor – Missas, orações
indulgenciadas, esmolas e sacrifícios – tudo é pouco e é dever nosso. Nós procuramos as
consolações dos amigos. Também as almas do Purgatório nos pedem, desse lugar bendito de
purificação, um olhar amigo que se condoa das suas dores. Sejamos generosas para com elas.
Essa generosidade nos alcançará de Deus virtudes de perfeição.

60. Se o seu alívio depende da nossa caridade e generosidade, como temos nós
correspondido a ela? Talvez com muita dureza, muita frieza, muita escassez. No dia em que o
juízo de Deus nos chamar à Sua divina presença, talvez seja essa uma das queixas de N. Senhor,
mostrando-nos que não amamos aqueles a quem ama e que o Seu amor queria ver depressa livres
daquelas penas para os receber no Paraíso. Pela nossa falta de caridade, lhe retardamos esses
momentos felizes.
61. Daqui para o futuro, cada membro desta Obra procure generosamente aprofundar a dor
e desamparo em que se encontram as almas do Purgatório. Sendo para com elas generosas, essa
caridade se converterá para nós próprias em grande misericórdia. Quando nas mesmas penas do
Purgatório nos encontrarmos, cumprir-se-á aquela promessa: aos que usarem de misericórdia,
Deus será para eles misericordioso. Devemos durante o mês rezar diariamente o " De profundis "
assistindo à Santa Missa o mais possível, se não poder ser diariamente.
Circular de Novembro de 1943. //1//

CIRCULAR DE DEZEMBRO DE 1943

62. A nossa vida, da qual Deus espera uma grande generosidade e fidelidade, deve estudar o
caminho que mais depressa e mais suavemente nos leve a realizar em nós mesmas aquele plano
da Providência que é sempre o cumprimento do nosso dever. Não segundo só o que ele em si
representa, mas também como Deus o pede da nossa parte, em grande cooperação com a Sua
graça.

63. Assim como Nª. Senhora se foi apresentar no Templo, para se consagrar ao Senhor,
assim neste mês – tão dedicado por tão soleníssimas festividades que estão tanto com o espírito
da nossa vocação – cada uma de nós se prepare, como Deus o deseja e pede, para se apresentar
no presépio de Belém, não com oferendas que o mundo louva, mas com aquelas que ele não vê e
que devem subir acima de todo o sentir humano: oferenda dum coração humilde que se esconde
a seus próprios olhos, para que só Deus o veja e só Deus Se goze (dele) na plenitude da SS ma
Trindade. (Oferenda duma) alma pequenina, como o foi a de Santa Teresa do Menino Jesus,
escondida na sua cela, fechada no seu convento, vista só de Deus, (mas) estendendo a sua mão
benfeitora por todo o mundo, com os sacrifícios da sua vida, que foi aprender e estudar no
presépio de Belém. Ela foi grande porque se fez pequenina aos olhos de todos.

64. A alma que assim souber compreender – que só na solidão do pensamento e do


coração, dando-se ao sacrifício e desprezo de si mesma, considerando o seu nada e querendo que
este nada seja o espelho em que se vê, para abater a sua soberba – só esta alma terá fortaleza de

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vontade para morrer a si mesma. Custa tanto! Custa muito mais quando fugimos aos golpes que
Deus nos oferece para sentirmos a morte de nós mesmas, pois sem esta, não há vitória completa.

65. Se o caminho de Deus é suave, também se tornará tormento se não compreendermos


que se não pode amar a dois Senhores. Amemos o mais perfeito e gozaremos de grande paz, sem
que este nos tire a dor; mas esta (dor) tornar-se-á suave pelo desejo de O possuir e por não
esquecermos o que somos e que não é aqui a nossa morada, mas lugar de penitência para
merecermos o Céu. //1//

________* * * ________

PARA LER NA REUNIÃO

66. Dando princípio às reuniões, que estas comecem, tendo por fim o fervor do espírito em
que devemos trabalhar – em união de vontades – sem o menor arrefecimento nesse fim com que
nos propusemos dar a Deus por meio do espírito desta Obra. O seu espírito é principalmente
aquele que ensinou N. Senhor aos seus discípulos, dizendo-lhes:" Ide e fazei isto é memória de
Mim." Mandou-nos dar o exemplo mais perfeito do Mestre, dentro do cumprimento do nosso
dever.

67. Se o dever é dar exemplo, também este está dentro das normas das reuniões: pela
assistência a estas, pela maneira como a elas se assiste e (como) se comporta no exemplo que
deve dar cada alma, nos sentimentos mais perfeitos de piedade. Não se obrigue cada uma a
comparecer às reuniões (só) porque tem de comparecer; mas sim pelo exemplo que deve dar se,
de verdade, se sente a este grupo ligada. N. Senhor, presente em toda a parte. A Ele devemos
estar presentes e só para Ele devemos voltar a nossa alma, na certeza de que Ele vê o que
fazemos, o que pensamos. Quando a nossa pessoa for perdendo o interesse pelo exemplo de
assiduidade, devemos ter isso como sinal de que nos vamos afastando. Até que chegaremos a
desistir sem dizer que desistimos. Mas lá virá Deus mostrar que, por uma ou outra razão, já não
há coragem para continuar.

68. Dentro deste pensamento, deve também cada alma julgar-se livre, muito livre, de tomar
sempre outro rumo se, neste exemplo de assiduidade e recolhimento, não vê campo de acção a
que se sente chamada, dentro do espírito que se vai manifestando da Obra, dia a dia. Nas reuniões
não deve existir outro pensamento, senão a presença do fim a que nos destinamos.

69. Espírito de união, de santificação, sem entrar nada que vá desedificar umas às outras,
considerando-se cada uma a última de todas. Mas que este sentir não fique no erro de não
dizerem o que pensam e de não se disporem a receber a exortação que Deus lhe permitir enviar,
por esta ou por aquela pessoa, sem escolha. Ao começar as reuniões cada uma deve tornar-se o
exemplo das outras, sem respeito humano.
28 - XII - 943 //1//

ANO - 1944

O VERDADEIRO DISCÍPULO IMITA O MESTRE

1. Esta circular tem por fim conservar nas obras a que nos dedicamos, o espírito com que
devemos trabalhar nelas: espírito de apostolado segundo o Evangelho. Para isso, é necessário
vivê-lo; e, para o viver, é preciso uma Fé ardente e cheia de confiança ao mesmo tempo que de

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temor passivo. O espírito em que N. Senhor formou os Seus Apóstolos, para levar a Verdade a
todos os cantos da terra, tirou-o de Si mesmo. D'Ele vem todo o amor e toda a força da Verdade.

2. É preciso vencer em nós o que é contra Deus, contra o Seu Espírito de Verdade. E, contra
o Seu Espírito de Verdade, é o amor de nós mesmas, (contrário ao) desprezo e repugnância pelos
desprezos do mundo. Quem não ama e procura ser desprezado e aborrecido de todos, ainda não
compreendeu o verdadeiro amor de Deus. E, sem este, não se pode ser discípulo verdadeiro de tal
Mestre. Ele é luz que ensina, que guia o espírito da alma, mas daquela que vai buscar a luz ao
amor e desprezo de si mesma. Verá então que todos os acontecimentos que Deus proporciona são
para a alma ter o meio de encontrar os sofrimentos que necessita para descobrir mais e melhor a
luz de Deus, que ensina sem ruídos de palavras.

3. O discípulo fará conhecer, pelas suas obras, o mestre a quem segue. Se este é o orgulho e
soberba, as suas obras serão estéreis e, por onde se mostrarem, deixarão perturbação, desgosto,
sem nenhum aroma de paz, de amor, de luz e fortaleza. É bem aquela passagem do Evangelho
que a árvore se conhecerá pelo fruto. Que, no espírito desta Obra, se veja o fruto do verdadeiro
discípulo que quer seguir o Mestre verdadeiro.
Circular de Janeiro de 1944 //1//

CIRCULAR DE FEVEREIRO

4. No pensamento de união ao fim a que nos propomos trabalhar pela glória de Deus,
devemos começar por nós: que o nosso exemplo pregue e ensine mais do que a nossa palavra.
Devemos ser modelo para o nosso semelhante. Para o ser, a cópia perfeita tira-se de N. Senhor
Jesus Cristo, que a todos nos ensinou na Sua SSma Humanidade. Não serve de nada a palavra, se
esta não sai do coração e se o coração não está em Deus, na prática perfeita da humildade.
Pratiquemos a humildade. Não a humildade vista aos olhos de todos, mas vivida desde o coração
até à inteligência. Quem não procura vivê-la não conhece perfeitamente a Deus, porque a soberba
e o orgulho escondem a luz que revela à alma o que será a pessoa de N. Senhor.

5. Essa luz, que não é dádiva gratuita. Exige que nos desnudemos de nós mesmas. Para isso
é preciso não ter nada nosso. É preciso ser, na ordem espiritual, como os mais pobres que batem
de porta em porta, vivendo do pão que mendigam com tanto sacrifício, com tanta dor, com tantos
desprezos recebidos, com tantas lágrimas que se choram. A nossa miséria é tão grande como a
nossa soberba. Esta só com as humilhações e desprezos recebidos, quebra a força com que se
levanta diante da nossa razão. Para Deus, a razão perfeita é amar o que Ele amou, na cruz,
fazendo-Se por amor o último de todos.

6. O nosso exemplo tem por modelo o silêncio com que a SSma Virgem na Sua Soledade
sofreu a maior dor. A Sua dor deve ser o nosso caminho. O seu exemplo a nossa vida. Como
filhas, busquemos no coração da Mãe, que se imolou por nós no alto duma montanha junto à
cruz, aquela confiança silenciosa, aquele amor sem palavras, aquela coragem sem igual, aquele
silêncio falando só o Seu exemplo. O Coração Imaculado deve ser o livro de meditação da nossa
vida. Para Maria devemos voltar o nosso coração sempre dócil à voz do Seu exemplo.

7. Tudo o que por nós passa é vaidade e respiramo-la em tudo, pois quando tudo o que nos
vem de todos não nos alegra, não nos satisfaz, não nos reanima, não nos consola, não nos leva
para Deus, é porque o fundamento das nossas acções ainda está cheio do amor a nós próprios.
Amemos o desprezo à nossa pessoa. Subamos mais alto, para que das alturas desse desprezo a
nós mesmas, possamos descobrir melhor o sol da verdadeira luz: Deus na alma.

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Fevereiro de 1944 //1//

8. Nesta reunião pedimos que N. Senhor faça luz sempre em tudo às almas, para que tomem
fielmente o caminho em que Ele nos quer. Este caminho será sempre o traçado por Ele na
doutrina do Evangelho. Não deve ser outro que se nos afigure seguir. O Evangelho é a fonte do
Espírito da Obra. A Obra deve ser Deus nas almas e estas a viverem nesse espírito (evangélico)
com Ele. Para haver essa vida verdadeira, não precisamos de entrar ou de aprofundar, desde o seu
início, noutra doutrina que não seja a doutrina vivida do Evangelho.

9. Seguir a Deus por Deus, sem contar com o apoio humano, mas servir de apoio a cada
alma: ao pobre, ao rico, ao infeliz batido pelas tormentas do espírito de desamparo ou
desesperado pela falta de Fé, trazendo-o a Deus. Este espírito de caridade, de união, custa a
adquirir; mas nunca Deus faltará com a sua graça, com a Sua luz, para indicar os meios de o
alcançar. Um deles, é o caminho das humilhações de dentro e de fora. Deste caminho nascerá a
fortaleza de vontade e predisposição para a santidade. Querer ser santo sem amar as humilhações
e os desprezos, será o mesmo que lançar um passarinho a voar, tendo-lhe atado primeiro as asas.
O Senhor nos ensine a caminhar para Ele nas asas da humildade.
Fevereiro 1944.//2//

CIRCULAR DE MARÇO

10. Estamos no tempo de penitência, na santa Quaresma em que a nossa alma deve viver
mais perfeitamente o espírito da vocação: (o espírito) de sacrifício, de renúncia e de amor,
daquele amor que não fala, (mas) pratica e dá frutos para o Céu. Daquele amor à imitação de S.
José que soube acompanhar a dor da infância de Jesus ao lado da SSma Virgem. (Daquele amor de
S. José) que soube sentir as agonias do espírito e, em perfeita contemplação, orava, esperava e
amava.

11. O amor que só desperta sentimento, nem sempre dá o fruto da perseverança; mas aquele
amor simples que vê com olhos de pureza, sem interesse. Esse amor é aquele que sobe
montanhas e é capaz de enfrentar o próprio martírio. Deste amor é que Deus espera a reparação e
o desagravo dos pecados do mundo. É do amor que sabe conhecer o cumprimento do próprio
dever, que sabe amar o próximo como a si mesmo, que sabe meter a paz e ser anjo dócil à voz de
Deus, que Deus se sentirá reparado dos nossos pecados e dos do mundo.

12. Mas do amor que se quer mostrar a si próprio – como tendo feito alguma coisa de bom,
de louvável aos olhos dos outros, e se compraz em si mesmo, no seu próprio esforço – não é
deste amor que Deus se sentirá reparado na Sua perfeita justiça. A reparação a Deus, fonte
infinita de perfeição, é necessário que, no espírito da Obra, seja perfume de humildade e de
caridade. Humildade da própria inteligência que, se muito conhece e muito sabe, deve ver que,
aos olhos de Deus, é sempre pobreza e ignorância. Porque a verdadeira sabedoria está em
compreender (que tudo é) dom de Deus e Deus mostra-se aos pequeninos e esconde-Se aos
grandes, aos grandes que pensam ter feito alguma coisa de grande e louvável aos olhos dos
outros.

13. Como a violeta com seu aroma, S. José ensina-nos como se ama, como se sofre, como
se trabalha na vida humilde de Nazaré. Seja o Seu exemplo, neste mês de Março, o modelo da
nossa vida. (Seja ele) a glória da alma fiel, que deve tê-lo como protector especial para que lhe
ensine a merecer a misericórdia de Deus, a viver do espírito de Deus que é este o da Obra.

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14. A Obra não procurará levantar castelos ou monumentos de preponderância; mas
levantar montanhas de sacrifício, de abnegação, que resistam às perseguições, às tempestades e
se elevem em virtude até ao Céu. Para isto é preciso sofrer, ser desprezado, crucificado e amar
aos que nos fazem sofrer como sendo estes os melhores amigos, os maiores benfeitores da nossa
vida, dos quais não podemos prescindir no nosso caminho.

15. Façamos a novena da graça de 4 a 12 de Março, a S. Francisco Xavier, para que nos
alcance a graça da antiga residência dos S.J. seja de novo entregue aos mesmos, na cidade de
Viana. //1//

16. Que N. Senhor abençoe esta reunião, dando a cada uma o espírito em que deve viver: o
da mais perfeita e completa sujeição a todas as surpresas do caminho, por mais duras que elas
sejam.

17.O espírito da Obra tem como fim principal a santificação das mais pequeninas acções
dentro dos deveres do nosso estado, sendo esse o que Deus escolheu para cada uma para nele se
santificar. Não procuremos que nos vejam praticar as nossas acções. Mas a Deus, presente como
juiz de todas as coisas, só a Ele e diante D'Ele, tudo Lhe estando presente, deve ser dirigida a
atenção dos nossos pensamentos. Ponhamos os nossos olhos naquele que, fazendo as vezes de
Jesus Cristo na terra, é bem para toda a Igreja militante segui-lo nos seus ensinamentos e,
sobretudo, no exemplo que nos dá da mais inteira sujeição e imolação pelo próximo, seus filhos e
nossos irmãos.

18. Não procuremos caminhos de santidade fora daqueles que Deus nos marcou. Muitas
vezes vamos dar fora o que está fora de nós mesmos. Vamos dar o nosso esforço pensado e
ajuizado (à nossa maneira); mas não damos a nossa alma com todas as qualidades de que Deus a
enriqueceu para cada qual cumprir a sua missão sobre a terra.

19. Sejamos, acima de tudo, mensageiras da caridade para com todos e da humildade para
com Deus, especialmente no meio das nossas famílias, aonde o sacrifício sobe montanhas,
embora parecendo um mar de flores. É na família que devemos fazer o sacrário escondido da
virtude, o exercício da humildade e do bom exemplo.

20. Acompanhemos a N. Senhor na paixão de olhar fito em Sua SSma Mãe Dolorosa, junto à
Cruz e peçamos-Lhe a paz. Paz nas almas; paz nos corações; paz nas inteligências para que
cedam à voz do Sumo Pontífice. Peçamos por tudo e por todos. Nunca esqueçamos (as almas) do
Purgatório, que esperam os nossos sufrágios. Nem esqueçamos que Deus N. Senhor é
reconhecido à nossa caridade para com os que sofrem. Recomendo e peço, nesta reunião, para
que todas peçam ao Senhor, durante duas novenas, por uma intenção particularíssima, para que o
Divino Espírito Santo ilumine e guie.
24 - III - 1944 //1//

ACEITEMOS A CRUZ

21. Entrámos no caminho da Paixão para nos alegrarmos na Ressurreição. Na Paixão de N.


Senhor vivamos, neste tempo, meditando na Sua dor e pedindo a Sua misericórdia para o mundo.
O nosso pensamento deve ser pronto, generoso e simples em mostrar a nossa (gratidão e)
fidelidade ao dom recebido pela imolação de N. Senhor Jesus Cristo na Cruz, para a salvação e
redenção de todos nós.

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22. A generosidade não pede recompensa, senão a retribuição do amor. Por isso, a nossa
vida deve ser amor em tudo: nos trabalhos por Deus, no cumprimento do dever, no amor ao
desprezo de nós mesmas, que nada somos e nada valemos. Amor às humilhações como mimos do
Céu, como graças sobre a nossa alma para nos tornarmos dignos da glória de Deus. Amor que se
esconde e apaga o seu nome aos olhos de todos, nos seus sacrifícios, para se gloriar só em Deus,
como fonte de vida e de perfeição. Amor que compreende que a maior felicidade na terra é ser
esquecido e desprezado e tido em pouco para só se apoiar em Deus. Amor que saiba reconhecer
que tudo passa neste mundo e, desfazendo-se em pó toda a vaidade, só é glória ter conhecido a
Deus e ter seguido o Seu caminho crucificado para os sentidos.

23. Depois de termos acompanhado a Paixão dolorosa de N. Senhor e de Sua SS ma Mãe


junto à cruz, durante este santo tempo da Quaresma, voltemos à vida a que Deus chamou aqueles
que sentiam que Ele era Rei e Senhor, tornando-nos servos fiéis, confessando a Sua Realeza
divina em toda a parte, pelo nosso exemplo. Que Deus nos encha das Suas graças, fazendo nós
delas bom uso para Sua maior glória e salvação das nossas almas. Que a nossa vida se torne,
pelos caminhos da humildade, um cântico de louvor à SSma Trindade, num eterno " magnificat "
de reconhecimento pela misericórdia de Deus em levantar-nos do nosso nada para fazer-nos com
Ele membros do Seu SSmo Corpo imolado no Calvário, da Sua SSma Humanidade flagelada e
maltratada pelos nossos crimes e do mundo inteiro.

24. Nunca nos consideremos bons ou melhores que aqueles que não conhecem a Deus.
Porque esses são pobres e ignorantes e nós conhecemos o caminho de Deus mas somos infiéis à
Sua misericórdia para connosco, pela repugnância da natureza que não quer o caminho de
humilhações e de apagamento, mas só quer ser louvada e bem considerada por todos. A vã
complacência entra em toda a parte. Nem respeita o sacrário da alma, que deve ser límpido como
o céu. Só cai por terra diante duma torre forte a qual é feita do amor ao desprezo e humilhações,
do amor ao nosso nada.

25. Só tendo-nos por nada, encontramos o todo em Deus, na mesma cruz em que foi
pregado, açoitado e o Seu SSmo lado rasgado pela espada dos nossos pecados, das nossas
maldades e faltas de delicadeza para com o Seu amor puríssimo. Que o Seu Preciosíssimo
Sangue nos toque os corações e nos deixe ver e conhecer que a verdadeira ciência de subir a
montanha santa da salvação eterna, está em amar o desprezo da nossa pessoa, ainda que para isso
seja necessário que o mundo se levante contra nós. Foi também o mundo da injustiça que Se
levantou contra N. Senhor sentenciando-O à morte que Ele aceitou por amor, para nos salvar.
Nesse Amor bendito que se glorificou na Cruz e junto da Sua Mãe Santíssima, abracemos a nossa
cruz.
Circular de Abril de 1944.//1//

PARA A REUNIÃO DE ABRIL 1944

26. Só é grande quem se faz pequenino e quem conhece que nada vale.

27. (Quem sabe) que tudo neste mundo é fragilidade e (que é) crueldade não querer o que
Deus quer, só esse venceu o mundo. Ora, dentro do espírito da Obra, também nós devemos
combater o mundo, vencendo-o em nós pela caridade e generosidade para com o próximo. Pelas
repugnâncias da natureza, somos levados a olhar só para o que nos dá gosto e agrado, suportando
o desagradável só daqueles para quem nos inclinamos. Se não formos perfeitos na caridade não
entraremos em cheio nos oceanos da verdade. Devemos pensar no próximo, rogar por ele, chorar
por ele, sofrer por ele e amá-lo. Foi esta a vida de Jesus sobre a terra, foi este o martírio da SSma
Virgem no Seu vale de lágrimas. O coração, centro dos afectos, se não são puros, não

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correspondem ao que Deus nos pede. Os afectos puros são os que se purificam na dor, são os que
se compadecem dos que sofrem e rogam pelos que fogem do aprisco //1// do Senhor.

28. Este Coração, que tanto sofreu pelos homens, revelou-Se na Cruz no maior dos
silêncios; mas disse-nos tudo pelo sangue derramado, pelos cravos pregados no Seu Virginal
Corpo Santíssimo. Também nós temos de seguir e ver que a dor dos sentidos, as palpitações da
amargura são para Deus que as conta, são para o silêncio da Sua Cruz que as vê, e são para os
lábios da SSma Virgem que as guardou no Seu Coração Imaculado, no Seu silêncio junto à Cruz.

29. O sofrimento da vida é um túnel por onde se entra e não se sabe quando acaba. Tudo se
passa nessa escuridão que não quer revelar-se, para não sofrer dos juízos dos nossos próprios
juízos, os quais fugiriam do sofrimento. Por isso o silêncio cerca a alma e esta não sabe dizer o
que quer dizer, para aceitar o que Deus de si pede: calar e sofrer. Quando se aceita a cruz e se
cala, a alma é mais levada para Deus, sentindo a necessidade do Seu auxílio. Temos de trabalhar
pela solidão do coração para este se desprender das criaturas, aprendendo a tratar com elas
sobrenaturalmente. Fugindo delas a nossa pessoa, é para nos darmos inteiramente pela alma, pois
é nesta que Deus pôs o Seu divino olhar chamando-a a Si. //2//

30. Pedir na reunião para que o irmão do Sr. Pe. Cabral que este foi acompanhar a Londres,
fique bem na operação melindrosa que foi fazer. 50

IMITEMOS O CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA

31. Os filhos são herdeiros das bençãos dos Pais. Ora, nenhum Coração como o de Maria
Santíssima amou tanto e sofreu tanto para nos deixar as Suas bençãos na terra, para se
estenderem em glória por toda a eternidade dos Céus. Só Ela que vê no Coração Puríssimo e
Amantíssimo de Jesus as almas que aproveitam e correspondem às suas bênçãos. Quantas dores e
quantas lágrimas voltaria a chorar, de novo, neste vale de lágrimas, pelas ingratidões, mesmo dos
Seus filhos que se dizem filhos do Seu Amor, que não aproveitam das Suas bençãos!

32. Com o Seu Coração Puríssimo e Imaculado, espelho dum amor fiel e generoso até ao
martírio dos mártires, clama a toda a hora para que Lhe peçam amor e misericórdia, sem ser
ouvida nem amada. Bem aventurados os pobres, os pequeninos de coração puro que, longe das
grandezas da terra, numa vida simples e apagada, compreendendo o exemplo de Sua Mãe
Santíssima, sabem falar como Ela, porque a amam no apagamento, no desprezo de si mesmas,
lembrando-se que tudo passa neste mundo e que só é glória servir ao Senhor de todo o coração,
com profunda humildade.

33. Caminhamos na nossa vida para o martírio pelas lutas interiores e exteriores. Quando
não nos queremos compenetrar de que foi este o caminho traçado para todos nós, saímos do
verdadeiro espírito em que devemos viver, tornando-se a vida da alma, sem Fé, sem fortaleza de
vontade, aspirando só ao descanso, ao apoio e alívio humano que nunca mais se encontra porque
N. Senhor não teve descanso na cruz. Aos pés de Maria Santíssima, olhando o Seu Coração
Imaculado, seja o nosso esforço imitá-l'O, esmagando os pensamentos e sentimentos que não são
do Seu Coração, o qual nos mostrou a grandeza na dor e no amor.

34. Sendo o nosso ser um abismo de misérias, se não nos elevamos acima de nós mesmas,
somos vencidas pela natureza e não procuramos a emenda das nossas faltas. À medida que a
própria moleza da vontade não é levantada pelo espírito de renúncia ao agradável, caminhamos
sempre no mesmo e para o mesmo. A montanha da vida de Fé para amar mais e mais ao Senhor,
50
- Escrito horizontalmente ao cimo da página 2.

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aproximando-se a alma mais da verdade, é cheia de lutas e agonias do espírito, cheia de
tormentos dos sentidos. Quando esta tormenta se faz sentir, é sinal de que caminhamos na
esperança de encontrar o que procuramos – Deus em nós. Mas se, desanimados, fugimos a essas
mesmas lutas para encontrar repouso em alguém ou nas coisas, é sinal de que recuamos por falta
de vontade, por falta de amor, de correspondência que devemos às bençãos de Deus. Por isso
mesmo fugimos aos rogos suplicantes da Mãe Santíssima junto à Cruz para que acompanhemos o
Calvário de Seu Filho nas dores de desamparo e do abandono dos homens.

35. Amar e servir ao Senhor de todo o coração é tomar a Sua Cruz e caminhar para o
Calvário. Mas este Calvário é iluminado pelos clarões da Fé, como sol faz com Seus raios, a cuja
luz resplandece a paz e a alma sente o que sentiu N. Senhor: todo misericórdia e bondade,
acolhendo e perdoando, compreendendo e amando até à morte de Cruz. Da Cruz veio a
Redenção. Também do nosso sacrifício pode vir sobre nós o Céu da paz interior e exterior.
Sejamos pela paz, unindo as nossas súplicas às do Sumo Pontífice. Num rogo contínuo ao
Coração Imaculado de Maria, (peçamos que) nos mande a paz, poupando a Cidade Eterna aos
rigores das almas sem Deus, sem amor, sem compaixão. Que N. Senhor converta o mundo
dando-lhe a luz da Fé e do Amor de Deus.
Circular de Maio de 1944. //1//

JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO,


FAZEI O MEU CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO

36. A nossa vida deve ser, na humildade e na prática da caridade, como o sol que alumia e
espalha os seus raios com o brilho do seu poder.
37. A graça de Deus que não for cultivada com fidelidade ao espírito de perfeita abnegação
no amor ao próximo, de renúncia ao mais agradável, não poderá vencer as dificuldades que se
opõem à obra de santificação da nossa alma.

38. Ser santo, é ser filho perfeito das virtudes do Pai celeste. É no coração santíssimo de
Jesus que está o sol resplandecente da caridade e o perfume da humildade. "Jesus manso e
humilde de coração fazei o meu coração semelhante ao Vosso". Neste mês, todo cheio de graça,
seja o preito da nossa gratidão e da nossa fidelidade desagravar o Seu divino Coração por uma
vida cheia de caridade e de humildade.

39. O filho bom tem a consolação de sentir na sua alma a paz daquele olhar do Pai sobre
ele, abençoando os seus passos, ajudando-o no cumprimento dos seus deveres. O filho, para dar
consolação ao Pai, sacrifica-se em tudo, com outros tantos actos de amor que são prova da sua
gratidão para com Ele. Assim a nossa vida deve ser um acto contínuo de acção de graças na
generosidade do sacrifício.

40. Mesmo que o nosso coração sofra, na sua natural sensibilidade por tudo e por puros
nadas, se recebermos com paz e aceitação generosa a própria cruz com que nos crucificamos a
nós mesmos, essa (paz e) mansidão no sofrimento, essa paciência heróica, apesar de num coração
pequenino e de vontade frágil, serão grandes. Sobretudo se unidas à Vontade do Pai dos Céus, em
culto de reverência e de acto de amor e louvor pelos favores recebidos.

41. Não pesemos as nossas acções, mas examinemos se as fizémos só por Deus. Devemos
ser pobres de espírito, trabalhando sem interesse de ver amontoados ao nosso redor grandes
feitos: tenhamos sempre presente que, por mais santas que sejam todas as nossas obras, todas
sofrem mancha aos olhos de Deus. Devemos ter sempre presente que os juízos de Deus são
imperscrutáveis e vêem os recônditos da alma: conhecem todas as sombras da nossa miséria.

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Diante dos juízos de Deus, quem poderá confiar nas suas obras, ainda que cada uma delas seja
feita no meio da amargura, com todos os poros escorrendo sangue? Sejamos pobres de espírito,
dando a Deus em reparação das nossas faltas, o que nos falta de perfeito a seus olhos.
42. Trabalhemos sempre sem cessar, sem contar as horas e os segundos do sacrifício do
Calvário que, neste mundo, cada qual tem de subir, custe o que custar. Aceitando os desígnios de
Deus ou recusando-os, o que tem é de sofrer sempre, seja com vontade de levar a cruz ou contra
sua vontade. Ninguém foge ao que é devedor a Deus ou neste mundo ou no outro.

43. Imitemos a Sabedoria divina que desce aos mais pequeninos para lhes ensinar que a
grandeza (aos olhos) de Deus está em cumprir a Sua SSma Vontade e que esta está no
cumprimento do dever. Não é ir buscar o caminho da perfeição no que agrada, mas sim no
desagradável à natureza. " Sede como um desses pequeninos " – mostrava N. Senhor aos homens
de boa vontade. Também é este o nosso caminho: sermos pequeninos para sermos grandes no
Seio de Deus. Amai o desprezo, quer dos grandes quer dos pequenos, como oiro em pó que do
Céu caísse sobre nós. É N. Senhor quem no-lo pede: sede pequeninos neste mundo, para serdes
grandes na glória de Meu Pai. Para ser pequeninos, vivamos desde o presépio de Belém até ao
sepulcro como N. Senhor que, sendo Rei, Se fez pequenino para nos dar exemplo.

44. Preparemos a nossa alma para a Festa do SSmo Coração de Jesus, purificando o nosso
coração por uma oferta pura, digna d'Ele, que aplaque a agonia do Seu Divino Coração ferido
pelas nossas ingratidões e do mundo inteiro. Peçamos-Lhe pelos nossos irmãos, espalhados pelo
mundo, que sofrem porque ainda não encontraram a luz de Deus. E também pelos que a
encontraram, para que tenham força no seu martírio. Peçamos ao Senhor que aumente a nossa Fé
e nos faça filhos fiéis da Santa Igreja, em obediência ao Sumo Pontífice. Que N. Senhor guarde
S. Santidade dos terríveis flagelos que ameaçam a Cidade Eterna. Supliquemos ao seu Divino
Coração se digne apressar a hora da paz tão desejada no mundo. Confiemos na sua infinita
misericórdia!
Circular de Junho de 1944 //1//

CIRCULAR DE JULHO DE 1944

45. A nossa vida é como um mar, que se perde (de vista) pela sua imensidade diante dos
nossos olhos. É um mar de sacrifícios, mas onde a imensidade da misericórdia de Deus nos
bafeja a toda a hora, a todo o momento. Procurar descanso, seria procurar limitar as nossas
esperanças em Deus. Nem devemos fugir dessa imagem, com olhos na vida futura, nem devemos
aceitar limites nas nossas aspirações ao mais perfeito.

46. Atentos às mais pequenas coisas, devemos trabalhar pela perfeição dos nossos
sentimentos, para que sejam mais puros, mais sobrenaturais. Quando o abismo da nossa miséria
choca com o abismo da bondade divina, a majestade de Deus acusa a nossa insuficiência. Mas,
assim como a nuvem do incenso é grande e se eleva para o altar de Deus, assim a nossa contrição
deve, de contínuo, elevar-se para a misericórdia de Deus, aplacando a Sua divina justiça.

47. Não há ninguém que não se encontre diante da cruz e que, nesta, não venha a ser
crucificada. Mas, se virmos que da cruz saem raios de luz – que são Fé, Esperança e Caridade –
inclinamos a nossa inteligência para nos não afastarmos da verdade (crua e dura). A verdade só
se dá, de braços abertos, àqueles que, de braços abertos para ela, aceitam o que a verdade traz de
espinhoso e doloroso para o coração, para a vida neste mundo. A verdade é como o sol que
alumia a terra, mas que não podemos fitar senão através de vidros foscos.

81
48. Assim a verdade da nossa Fé nos levará por caminhos escuros para os sentidos e para as
razões humanas, mas que serão luz - sempre luz do dia - para a alma que não olha para si, que
não procura a consolação nem apoio nos outros, mas só a verdade dentro da justiça e da caridade.
Não é na verdade, segundo o nosso sentir pelos casos que passam, pelos acontecimentos que se
dão, mas sim naquela verdade pregada no alto duma cruz, no meio dos desprezos dos homens, de
olhar fito na agonia de Jesus e de Sua Mãe Santíssima junto à cruz, que está a luz da verdade da
nossa Fé e Caridade.

49. Hoje procura-se a virtude segundo o agradável e não segundo a verdade. Como custa a
atravessar os caminhos deste mundo, sem encontrarmos exemplos de almas heróicas que
realmente vão para Deus por Deus só, sem apoio no humano, no agradável! Os caminhos de
Deus dentro da verdade são como uma montanha íngreme. Só a sua vista faz esmorecer a
fraqueza da nossa natureza. É preciso ter Fé e Esperança, para vencer essa ascensão dolorosa
duma vida sem dia, sem noite, na imensidade do pensamento sempre em luta com a vontade, com
as fragilidades da natureza. Só o coração manso e humilde, compenetrado da presença de Deus,
levado pelas verdades da Fé, compreenderá a linguagem esclarecida das mesmas verdades e //1//
subirá, passo a passo, ainda que vagaroso, a montanha do sacrifício, dizendo sempre com
pretextos firmes à sua fraqueza e fragilidade: Deus por Deus! Não me pertenço, caminho pelas
verdades do Evangelho, por ele dou a vida morrendo a mim mesma a toda a hora. Custa muito
esta subida; mas todos temos de subir esta montanha da negação inteira do nosso " eu."
Ponhamos os nossos olhares na Santa Face de Jesus agonizante e agonizemos com Ele, para
ressuscitarmos, no grande dia da eternidade, depois de termos alcançado a palma do martírio,
pela paciência e abandono a Deus! //2//

QUE A LUZ DE DEUS ILUMINE A NOSSA FÉ

50. No meio das confusões que vão aparecendo, por todos os lados e de todas as maneiras,
pela diversidade de juízos, julgando cada qual à sua maneira, para que não venha a ser o caso de
fazermos parte dos que julgam bem ou mal, bem no sentido das melhores intenções, eu venho
aconselhar o melhor caminho a seguirmos, por ser esse o espírito da Obra. Estudemos e
copiemos em nós a palavra do Evangelho e sigamos pelo caminho da sua verdade, sem errar. Não
discutamos princípios, mas entremos no espírito da verdadeira piedade e da vida de Fé.
Limitemos os nossos princípios a serem, em tudo, só verdade, caridade, humildade, amor a Deus.

51. Nas obras de Deus, aonde está a Sua verdade, está a luz51, semente segura dos sãos
princípios do Evangelho. Para não irmos com os erros da actualidade, firmemos a nossa
consciência dentro do alicerce da verdade do Evangelho. Se primeiramente não deixamos o
homem com seus juízos e nos não submetemos inteiramente ao que transcenda caridade e
santidade, de que serve ir atrás do que se apresente florido, se tudo isso murcha e nada fica para a
glória de Deus e Vida Eterna? Que seja sempre o princípio e fim das nossas acções a glória de
Deus e a salvação das almas.

52. Não pensemos em salvar o mundo, se primeiramente nós não correspondermos à nossa
própria santificação. Quando menos pensarmos, ao levantar fortificações para boas obras dos
outros, damos conta de que a obra da nossa santificação se encontra na ruína. Olhemos com
atenção para a nossa alma, para que não lhe falte o clarão da Fé, nem murche nela a virtude da
caridade e generosidade para Deus.
53. Ter sempre presente que vivemos rodeados de inimigos e que estes não têm descanso
para nos tomarem de surpresa. Esses inimigos são as sete inclinações para o mal. Sempre
vigilantes, não deixemos o Evangelho da nossa mão.
51
Omitimos: «e deste o fruto». Não se entende o sentido.

82
Lida na reunião de 25 de Julho 1944.//1//

CIRCULAR DE AGOSTO DE 1944

54. Encontramo-nos na festa de Nª. Senhora, acompanhando a Sua novena. Nela devemos
pedir toda a sorte de graças, que elevem o nosso pensamento para Deus. Foi Nª. Senhora o
modelo vivo da correspondência perfeita ao dom de Deus, merecendo ser Mãe de Deus e dos
homens. Assim a nossa fé nos deve levar para Deus, num acto perfeito de submissão e de amor
sem receios, e sem procurar a nossa vontade. A recompensa, deixemo-la a Deus. Ele no-la dará
na medida em que Lhe possamos ser agradáveis. A nossa acção de graças seja o sacrifício de nós
mesmos à Sua SSma Vontade.
55. Que o nosso pensamento se eleve e não desça. À medida que descemos, na mesma
medida perdemos a luz que nos guiava antes. Sem esta luz não é possível que a nossa fé aumente,
e sem fé viva não há esperança verdadeira. Não podemos viver daquela Fé que sente, e (só)
quando sente crê em toda a verdade. Procuremos viver sim, daquela Fé que N. Senhor diz no
Evangelho: " bem aventurados os que crêem sem ver." Também o caminho que percorremos da
Obra é para os que têm Fé, mas daquela Fé de que N. Senhor fala. Se procuramos crer vendo,
então que podemos ver, senão o que nos faz crer? Nada encontramos. Cada vez mais o caminho
será escuro; mas também N. Senhor diz: «o espírito está pronto, mas a carne é fraca». Assim nós
devemos sentir.
56. Assim como só o espírito que não tem corpo se pode transportar pelo pensamento a toda
a parte, assim o nosso espírito se deve elevar para Deus e só n'Ele pôr toda a sua esperança.
Quanto mais nos elevamos na Fé, mais os seus clarões iluminam a inteligência da alma e esta
mais se aproxima do fim para que foi criada: Deus. A nossa aspiração deve ser de viver duma Fé
viva que, crendo em Deus, não foge de Deus quando esmaga e abate a nossa soberba e orgulho.
A Fé deve ser como a luz do sol com seus raios: assim como estes nos não deixam ver o mesmo
sol (senão pelo sol), assim a Fé só nos deve deixar ver a Deus por Deus, sem desejarmos mais do
que a Deus.
57. Assim como Nª. Senhora foi o sol do amor, que está de contínuo a pedir pelos homens,
assim a nossa alma, tendo n'Ela o modelo de todas as virtudes. À Sua imitação, trabalhemos para
nos elevar na fé, na assunção gloriosa dum amor a Deus sem descanso, na morte da natureza que
impede essa elevação para Deus.

58. A Fé só é grande quando procuramos em Deus e, só n'Ele, encontramos apoio e


descanso. Soltemos o nosso coração das amarras da afeição ao gosto próprio, ao que mais nos
agrada. Vivamos daquela Fé que, querendo só Deus, (até) o mesmo desagradável lhe agrada, pois
só tem em vista a Pessoa divina de N. Senhor a quem procura e encontra.
59. Supliquemos a Nª. Senhora a graça da paz, segundo os desejos do Santo Padre.
Supliquemos também para que as nossas famílias se transformem em famílias tementes a Deus,
sem abusos de ordem moral. Que reine a pureza nos lares, nos vestuários //1// e nas conversações,
sendo nós as primeiras a dar o exemplo, vendo na Santíssima Virgem o modelo de Filha, de
Esposa e Mãe. //2//

CIRCULAR DE OUTUBRO DE 1944

60. Aproveitemos o nosso tempo com a mesma disposição com que procuramos o sol num
dia de frio. Aproveitando o tempo para o consagrar ao bem, este tempo será recompensado com
graças abundantes, porque é o mesmo que ver a Deus presente em tudo.

83
61. O tempo passa, levando consigo o bem e o mal. Tanto o bem como o mal se tornarão
presentes nos momentos mais difíceis da nossa vida. Mas, se soubermos aproveitar o tempo que
N. Senhor nos dá, tudo será aos nossos olhos, à nossa consciência, suave bafejo do olhar de
misericórdia do Senhor, sempre compassivo para os que n'Ele confiam e só n'Ele põem os seus
olhos. Quando, (a partir) do sofrimento, vemos a velocidade ou rapidez com que o tempo
desaparece deixando, da ilusão da vida, o desengano, (é) que nos espera a verdade para ver, à luz
da eternidade e da experiência, que não vale a pena viver o que mais agradou à nossa natureza,
assim como às criaturas. Tudo passa neste mundo, para aparecer a realidade que é o sol que
brilha na Fronte divina de N. Senhor: Ele nos ensinou o caminho da cruz, que tem por fim uma
montanha íngreme que se não pode subir com outro Cireneu senão a generosidade da nossa
vontade unida à de Deus.

62. Deus vê as nossas acções. Ele conhece as nossas intenções e julgará do fim em que
pomos cada uma delas. Enquanto predominar em nós o pensamento ou preocupação da nossa
pessoa, nem os pensamentos serão tão perfeitos como desejaríamos, nem as nossas intenções
serão tão rectas que a sombra de amor-próprio não tenha embaciado o cristal transparente da
pureza que nós queríamos pôr em todas elas. O sinal da aproximação da alma desses sentimentos
mais puros que devem existir dentro dela, como preparação para melhor conhecer o que Deus
quer de si, é a disposição de amor ao desprezo de nós mesmas e dos juízos dos homens,
procurando em tudo só agradar ao Senhor dos Senhores sem outros senhores para nós.

63. A montanha é íngreme; mas, na subida, o mundo vai ficando cada vez mais debaixo dos
nossos pés, à medida que fomos esmagando a serpente dos caprichos da nossa natureza. Quando
Deus encontra uma alma com esta coragem para subir, dirá com o Evangelho: "sempre encontrei
quem cresse que Eu era verdadeiramente o Filho de Deus, porque Me segues". N. Senhor sofreu
enquanto homem e conheceu as dores do desamparo e do desprezo, mesmo daqueles que Ele
mais amava; mas subiu sempre a montanha íngreme do Calvário e chorou lágrimas de sangue. Na
Sua Ressurreição gloriosa cantou hinos de glória a Seu Eterno Pai, naquele Sangue preciosíssimo
por nós derramado. Que a nossa generosidade, e a renúncia aos pensamentos e caprichos da nossa
vontade própria, cantem de contínuo um hino de glória ao Senhor, como o bom servo que,
reconhecendo os benefícios do seu Senhor, só a Ele serve e só a Ele ama. //1//

CIRCULAR DE NOVEMBRO

64. No dia em que a Santa Igreja comemora o dia em que a SSma Virgem se apresenta no
Templo, também as nossas almas se devem apresentar assim generosas aos pés do Senhor. Que
Ela nos leve ao Coração do Pai, por meio do seu coração misericordioso52. Que nos leve a haurir
forças para amar a cruz: a cruz da nossa fraqueza, do nosso nada. Somos sempre o nada diante de
Deus e dos homens. Este pensamento nos deve levar a darmos tudo a Deus com sentimentos de
profunda humildade e generosidade no apagamento de nós mesmas.

65. Seja a SSma Virgem o nosso modelo, a alegria na nossa vida, no louvor à SSma Trindade
pelos dons e graças com que nos chama a darmos tudo ao Pai, no mesmo amor com que Ela se
deu53. Que a nossa vida seja um eterno cantar a humildade e grandeza com que, (mais tarde),
junto ao Calvário, no silêncio mais generoso, Ela se imolaria hora a hora, momento a momento,
escondendo nas Suas lágrimas a grandeza do Seu Coração Imaculado. Apresentemo-nos assim
também no Templo das Suas glórias, no qual viveu e abrigou, no seu Puríssimo Coração, aquela

52
Modificamos o texto, por nos parecer que confundia a Apresentação de Maria no Templo (festa em Novembro),
com a Apresentação de Jesus no Templo (festa em Fevereiro). Cf. texto original.
53
Omitimos: «como Mãe da graça ao amor de Seu divino Filho». Continua a confusão com a Apresentação de Jesus,
em que Ela era já Mãe do Senhor.

84
humildade com que não procurou outro nome senão o de "escrava do Senhor", quando já nos
desígnios de Deus Ela era Rainha do Verbo feito Homem para salvar-nos.

66. Também nós, temos um templo em que nos apresentar. É o templo da SSma Trindade
(em nós), onde nos está vendo, conhecendo e sentindo as pulsações da nossa vontade quando é
generosa. (Mas também) quando é frouxa para nos pouparmos aos golpes profundos da
sensibilidade, porta de todas as infelicidades e infidelidades da alma. Heróica na Fé (é) a alma
que procura sempre o dever. Custe o que custar, vai sempre de olhar fito na verdade que é o
cumprimento desse dever. Sacrifica-se, imola-se e não se arrepende do caminho da humilhação,
mas procura-o e aceita-o, não lhe foge, abraça-o.

67. Sendo o nosso modelo a SSma Virgem, peçamos-Lhe que nos ensine a não fugir destes
ensinamentos, venham donde vierem e sejam quem forem os seus mensageiros, pois vêem
destruir o nosso orgulho. Só este, por si, basta para derrubar o castelo das melhores virtudes. Só
este basta para tirar a luz de Deus. Só este basta para lançar ao mais profundo abismo as melhores
virtudes.

68. Uma alma humilde deve ser generosa. Com grandeza de espírito, deve ficar superior a si
mesma, vencendo o amor-próprio, elevando-se até ao Céu. Do Céu descerá a Luz, a graça que
tudo alcança, que tudo vence, e da alma irradiará a Luz, embora se sinta sempre nas trevas.

69. N. Senhor resiste aos soberbos. A soberba está sempre em nós, e só as humilhações são
o remédio para tão grandes males: bem-aventurado o que as sofre por amor da justiça, porque
dele será o reino dos Céus. Benditas humilhações! Se as não amamos, não as desejamos. Se as
aborrecemos nem podemos amar ao próximo como a nós mesmos, porque nos faltará a caridade
perfeita. Todas as dificuldades (a essa caridade) surgirão, não haverá luz para vencer, nem
misericórdia para esquecer e perdoar, nem doçura para suavizar, nem amparo para dar,
endurecendo-se o coração. A própria inteligência ficará assim mais senhora de si para julgar,
impor-se, mandar.

70. Suavizemos a nossa cruz pela docilidade da vontade misericordiosa, simples e aceitável,
dada desde os pequeninos aos grandes, com sentimentos de humildade. Sendo o nosso "eu" um
nada diante do próprio nada, bendigamos ao Senhor em tudo. Seja este o eterno cântico de louvor
à SSma Trindade pelos Seus dons e divinos favores.
Novembro 1944.

Virtude: compaixão para com as almas do Purgatório.


Intenções: as mesmas, mas em especial pela vinda da Companhia. //l//

CIRCULAR DE DEZEMBRO DE 1944

71. Encontramo-nos próximos ao dia da nossa redenção, pois a vinda de N. Senhor é só


para encher o mundo de esperança e de paz. Vem para nos salvar, amando-nos! Assim
corresponda também a nossa vida ao fim para que viemos à terra: para amar e salvar a nossa alma
e a dos nossos irmãos em Cristo Senhor nosso.

72. Amamos? Salvamo-nos e N. Senhor está pronto a receber-nos nos Seus divinos braços,
cheios de misericórdia infinita! Para amar muito, o Presépio bendito de Belém (ensina-nos que) é
preciso ser pobre, amar a pobreza. A nossa alma há-de sentir o mesmo carinho que N. Senhor, ao
descer ao Presépio: o mesmo carinho e amor por aqueles que Ele amou, fazendo-Se com eles
uma só alma na caridade, na verdade que está acima de todas as incertezas do juízo dos homens.

85
73. O nosso espírito deve ser, nestes dias sobretudo, de profunda meditação e santa alegria,
como outros candelabros suspensos nessa bendita manjedoira que teve a dita de ser o palácio do
grande Rei dos Céus. Ali veio ensinar que só é grande o que se faz pequenino e se confunde com
os pequeninos. Ofereçamos, com os pastores, cânticos de alegria pela vitória (ali) alcançada
contra a soberba e orgulho nossos.

74. A condição dos pequeninos é como a cruz despida de conforto, da qual está suspenso o
Corpo Santíssimo de Jesus sem túnica, exposto às injúrias dos homens sem amor, sem caridade
cristã. Olhemos para essa cruz do Salvador. Parecendo compadecer-nos da confusão e compaixão
que ao nosso olhar apresenta, bem depressa esquecemos a imagem da realidade: a dor dos nossos
irmãos pequeninos, desprotegidos de aconchego e da caridade do nosso olhar. Diferente é o olhar
de Cristo N. Senhor54, pobrezinho no Presépio e no Calvário, sem ter uma túnica que cubra o Seu
Santíssimo Corpo Virginal, para nos mostrar: "eu fiz-me tudo para todos; mas, para aqueles que
se fizeram comigo pobres, por esses, Eu dei tudo. Num só olhar conheceram-Me e Eu me
converti em amor para com eles. Esse amor espalha-se por cada um dos meus membros – as
almas – em centelhas de caridade. As almas, por sua vez, levam por si mesmas a espalhar pela
terra esse amor de caridade. A sua oração chega até aos Céus e no Céu intercede junto do trono
da SSma Trindade pelos que souberam amar e viver esse amor de verdadeira caridade. Esses
possuirão a Deus"55.

75. Também nós vamos pedir, junto do presépio de Belém, uma parcela dessa virtude, por
ser dela que nasce o verdadeiro amor a Deus, Deus que amou os pobres e pequeninos. Demos por
amor aos que estão despidos de agasalhos do corpo e da alma. Dai e tudo vos será dado por
acréscimo. Peçamos ao (Menino do) Presépio para sermos mensageiros dessa misericórdia, pela
imolação da nossa vontade à vontade de Deus, a qual nos pede para deixar tudo, para assim
encontrarmos tudo. Deixai os bens deste mundo. Servi-vos deles apenas como empréstimo, que
Deus vos fez por poucos dias que se vivem na terra.

76. Deixemos o nosso juízo, o nosso gosto, a nossa vontade, o nosso capricho, as nossas
regalias e tomemos, para o futuro, o olhar misericordioso de N. Senhor, despido de tudo desde o
Presépio de Belém até à morte de cruz. Usemos dos benefícios materiais com esse
desprendimento de verdadeiros filhos de Deus. Ele, como Pai de todos nós, chora as desditas dos
Seus filhos cheios de fome, sem pão para o corpo e para a alma. Somos irmãos deles. Devemos
interessar-nos pelos negócios do Pai do Céu e esse negócio é a salvação de nossos irmãos.

77. Bem-aventurado aquele que conheceu a Deus; mas aquele que O seguiu, esse é que
possuirá em si o reino de Deus que é feito de verdade, de justiça e de caridade. Sejamos justos
diante de Deus e dos homens e possuiremos o reino da paz neste mundo sem paz, sem ordem.
São estes os votos que devem subir dos nossos lábios até ao Presépio de Belém e de Belém até à
cruz em que todos devemos ser crucificados ser por Ele. Cada alma prestará a sua acção de
graças, segundo a sua devoção neste dia tão grande do Nascimento do Divino Salvador.
Virtude: Amor aos pobrezinhos.
Intenção: as mesmas. //1//

ANO - 1945
PAZ NO SACRIFÍCIO

54
Modificamos o texto: «que dve ser o do reflexo de Cristo
55
Todo este parágrafo é muito complicado. Não sei se fica bem interpretado.

86
1. A paz, fruto da vitória alcançada, pede uma luta constante contra o nosso eu. Nem
sempre a generosidade da alma fiel sobe até Deus para compreender que só (da ajuda) d'Ele vem
essa paz. Há actos que parecem perfeitos porque o são no exterior; mas dentro a vontade nem
sempre foi tão perfeita que (a intenção) subisse pura (para Deus), isto é, que (fosse aquela)
intenção puríssima que só vê a Deus, despido e ferido numa cruz, sem amigos nem conhecidos,
(e que) reconhece esta verdade: tudo passa neste mundo com o que passa; só Deus é sempre o
mesmo em todas as coisas.

2. A paz (é também) fruto da humildade. Nem sempre as nossas palavras traduzem esse
perfume, porque é a vontade que mostra essa virtude. Damos por medida, mas julgamos sem
medida. Damos pedindo recompensa neste mundo, porque julgamos aqueles a quem damos,
querendo ser cheios de justiça, exigindo o bom juízo, o louvor, a consolação. A humildade,
virtude dos eleitos de Deus é despretensiosa e reveste-se de desprendimento, fazendo renascer o
espírito de Fé, de Caridade e de santidade.

3. Ser santo é ser alma sem corpo que manda e se impõe pelo orgulho. É ver-se igual ao
desprezado, amar o humilhado e o abandonado, correr atrás do infeliz para o consolar, fazer
superabundar no coração a compaixão, a oração e as lágrimas pelos que sofrem, pelos que
morrem sem Deus e sem pão!

4. O espírito da obra não é de viver de perfumes aparentes; mas de martírio do coração, da


inteligência, da vontade. O espírito da Obra é de pobreza em tudo, como a de N. Senhor despido
na cruz, sempre com os braços estendidos, com lágrimas de sangue nos Seus divinos olhos,
chamando à compaixão e ao amor! Os pobrezinhos abandonados, quando entram num templo,
contemplam o Rei, o Pai carinhoso que não encontram no mundo, o seu coração de Pai. Então,
nas suas confidências, feitas entre lágrimas, dizem: «Senhor, eu não tenho a quem recorrer. Sou
pobre, tenho fome, tenho sede de amparo e ninguém me conhece! Choro e ninguém se
compadece de mim!». Na sua dor, o Pai dos Céus, ao ouvir estes gemidos dos Seus filhos
abandonados, dirá também: «Olha para mim, que morri na cruz sem ninguém. Confia, que eu
mandarei alguém em teu auxílio: serei Eu mesmo, naquela esmola que recebes do pão do corpo,
do pão da alma».

5. Bem-aventurado aquele que ouve a palavra do Senhor e a segue. Mas, para seguir o
espírito de verdade a que Deus nos chama pela palavra do Evangelho, é preciso ser pobre,
desprezado. Ser pobre de tudo e de todas as coisas. Como Santa Teresa do Menino Jesus, que
trabalhava pela glória de Deus, santificando-se sem querer ver as suas obras, nem que ninguém se
lembrasse dela. É este espírito de humildade que devemos imitar para dar glória de Deus, nestes
tempos em que o incenso do louvor passa pelas ruas, pelas almas melhores, sem que Deus possa
colher na seara das almas o trigo sem joio.

6. O espírito da Obra é N. Senhor despido na Cruz. Ele morreu para tudo enquanto Homem,
por todos os que n'Ele não creram, e ressuscitou como Rei para todos os povos do mundo. Como
Salvador, foi amor e espera que alguém O siga e O ame. Mas o amor verdadeiro é aquele que
imita o do Mestre.

7. Virtude:- paz no sacrifício.


Intenção:- as do Santo Padre e, em especial, uma da Obra.
Apelo a todas as almas para que se dignem subscrever um Trintário de Missas a celebrar,
no mês de Maria deste ano, pelas intenções da realização da Obra, se ela vem para dar glória a
Deus e salvação das almas. Esta intenção tem de ser entregue nos primeiros dias de Abril e
segundo as esmolas recebidas se poderá celebrar o trintário.
Circular de Fevereiro de 1945 //1//

87
O ESPÍRITO DA OBRA

8. Nosso Senhor chamou a nossa alma para O servir e amar, sem procurar medir o amor, a
generosidade e a fidelidade. Assim como o espaço dos Céus não tem medida, assim a nossa alma
não deve estar a medir se os seus actos de amor e generosidade foram grandes, mas sim dar a
Deus sem medida.

9. Assim como as estrelas brilham no Céu e com a sua luz mostram aos nossos olhos a
grandeza de Deus, assim também as nossas acções, sem procurar o sentir das coisas, devem ser
luz que guie a nossa alma na sua fidelidade a Deus56. A sensibilidade só serve para animar ou
desanimar a vontade: com ela, ora se afervora, ora desanima. Guiando-se por ela, nesta oscilação,
a Fé obscurece-se e falta a fortaleza de vontade para avançar na noite escura da tribulação.

10. Nem todas as almas vão pelo mesmo caminho, como nem todas as consciências foram
formadas da mesma maneira. Daí acresce a diversidade de compreensão e de interpretação do
verdadeiro espírito de Fé. Por isso, temos de nos aproveitar de todas as mil e uma coisas, para nos
formarmos no verdadeiro espírito da Igreja, que é aliás o espírito da Obra. O plano da
providência é sempre traçado segundo as necessidades do tempo e este, que passa, pede Fé
intrépida! Não podemos ir só por aquilo que passa, mas sim pelo que há-de permanecer até ao
fim dos séculos: a Igreja na pessoa do Sumo Pontífice. Sigamos a Sua voz, os Seus conselhos e
exortações. É ali que está a Verdade!

11. Os tempos farão passar, na nossa frente, os falsos profetas. A nossa Fé será assaltada
por aparências de Verdade, de virtudes não inspiradas na verdadeira doutrina de Jesus Cristo
Nosso Senhor. Por isso alerta! Para encetarmos os caminhos da verdade e da Fé, sem
fingimentos, sem respeitos humanos, cada alma deve ser um soldado da Igreja militante,
apagando-se diante das vaidades, das pompas e dos cortejos do mundo católico e profano.
Vestidos de penitência, de saco e de cilícios, devemos ver só a Deus com Maria Santíssima.

12. Maria Santíssima é o modelo da nossa vida, desde a apresentação do Menino no


Templo até à morte afrontosa de Seu bendito Filho. Ela, a Rainha dos Céus e da terra, vivia como
a mais simples das mulheres, escondendo a sua glória. Templo vivo da SSma Trindade, escondia a
glória e honra de tão divino sacrário de virtudes excelsas, para viver amando e merecendo a
salvação do mundo com a Sua dor de Calvário: essa dor mil vezes silenciosa. Assim também nós
não devemos ouvir a voz da natureza para seguir os seus movimentos, as suas razões que estão
fora destas verdades, mas em tudo seguirmos a voz de Deus que nos ensina tudo o que é caminho
recto e cristão. Não vale a pena procurar o que agrada aos homens, por mais justos e santos que
sejam, se nisso nos desviamos dos ensinamentos do Calvário. É em vão que passaremos o nosso
tempo a fazer oferendas, porque essas mesmas nos acusarão diante de Deus pelo imperfeito dos
nossos actos e dos nossos juízos.

13. O Pai dos Céus deu-nos o Seu amado Filho para ser contínua oblação da nossa vida,
para merecermos a vida eterna pelo sacrifício e méritos do Seu preciosíssimo Sangue derramado,
de contínuo oferecido sobre o altar de Deus. É este sangue que continua a pedir perdão e
misericórdia para o mundo culpado.

14. Tudo em Deus é pureza imaculada e nós fugimos tantas vezes do Seu divino olhar para
não trabalharmos na nossa santificação. A Obra, que Deus Nosso Senhor tem para a revelar ao
mundo, é a renovação do Calvário nas almas generosas e fiéis à verdade da nossa Fé. Todas nós
somos Seus membros oferecidos para serem sacrificados.
56
Comparação muito embrulhada. Tentamos interpretar.

88
Circular de Março de 1945.
Virtude:- meditar nos benefícios de Deus.
Intenções recomendadas:- as do Sumo Pontífice e uma especial da O. //1//

CIRCULAR DE MARÇO DE 1945

15. O atraso das circulares deve-se a que não são quando quero, mas quando a graça de
Deus me ajuda, pois o meu desejo é que sejam pontuais. Hoje, dia de São José, a ele consagro
esta e lhe peço que ela produza nas nossas almas o melhor fruto de bênçãos e graças. Em São
José, o grande protector das almas pequeninas, que conheceu os segredos do amor puro por N.
Senhor, que contemplou, na Sua alma puríssima, a honra e glória da Mãe de Deus, Sua Esposa
Imaculada, a grandeza que de Deus nos quis mostrar foi que só é grande quem se eleva na
grandeza da virtude. As riquezas de São José foram as virtudes que Deus Lhe concedeu. O Seu
nome, foi o que recebeu pela virtude que praticou, pela santidade a que Se elevou.

16. Assim, à Sua imitação, a nossa vida deve ser cheia de simplicidade e de humildade.
Simplicidade afável para com todos, humildade acessível no trato com o próximo. Apagamento
da nossa pessoa, vivendo o nosso espírito numa paz interior que se sobreponha às dificuldades do
amor próprio. São José deve ser o nosso modelo por ser aquele a quem foi confiado à sua guarda
N. Senhor. A grande devoção de Santa Teresa foi São José. Não Lhe pedia nada que Ele não lhe
fizesse. Procuremos ter para com Ele a maior devoção também. Imitando as Suas virtudes,
façamos por simplificar todo o nosso exterior de modo que neste transpareça a bondade, a
compaixão, a caridade para com todos: para com os pequeninos e para com os grandes.

17. Olhemos para o Santo Padre, como Pai de todos e Bom Pastor que dá a vida pelas suas
ovelhas. Com que ternura se compadece, à imitação de N. Senhor, da pobre humanidade! É
espírito da nossa obra encarnar em nós aquelas virtudes que os Apóstolos ensinaram e que tanto
amavam. Se a nossa vida não for uma seara fértil de bons sentimentos, de virtudes praticadas,
aquelas almas que de nós se aproximam ir-se-ão cheias de fome e de tristeza.

18. Para isso, é preciso cultivar no coração a bondade e compreendermos que a natureza é o
grande obstáculo a essas virtudes, porque só quer viver dos caprichos da sua vontade própria. As
almas têm por obrigação educar a vontade e conhecer o que Deus quer delas. Abra-se o
Evangelho e lá está a palavra de Deus ensinando. É simples, mas clara e persuasiva. Não
poderemos ter desculpa diante de Deus. Ele, que vê tudo, conhece as nossas misérias e fraquezas.
O amor próprio esconde-se, ainda no que há de mais perfeito. Porque se esconde, devemos dar-
lhe a morte. Nenhuma alma se encontra isenta desta enfermidade, mas também se encontram
almas cheias de boa vontade e de luz, que procuram a cura desse mal.

19. Somos peregrinos pobres, neste mundo, sem pousada certa, a quem o Senhor, dum
momento para o outro, pede mais, pede contas e tira a vida. Por isso, devemos compreender que
vivemos dum empréstimo. Tudo deixamos ao deixar a vida. Mas tudo encontraremos em Deus se
vivermos realmente o espírito de Deus. Que São José seja o nosso Mestre e o nosso guia nesta
peregrinação a caminho da eternidade, alcançando-nos a glória do Céu.
Virtudes:- devoção a São José.
Intenções:- as do Santo Padre e em especial as da O.//1//

UMA FLOR A DEPOR AOS PÉS DE NOSSA SENHORA

89
20. "A minha alma está triste até à morte", disse N. Senhor. Agora também digamos nós:
«Senhor a minha natureza está triste, triste até à morte, porque nela vive só gérmen de morte e eu
não devia deixar viver esse gérmen, o amor-próprio, a minha soberba. Eu queria, Senhor, viver as
alegrias do vosso altar de imolação, oferecer-Vos uma flor pelas Mãos imaculadas e puríssimas
de Maria, pelo Imaculado e Puríssimo Coração de Maria. Como Ela, eu queria contemplar o Céu
límpido do sobrenatural, viver do sobrenatural, dar-me ao sobrenatural. Como Ela, eu queria
contemplar a N. Senhor no Horto e, como Ele, dizer: ‘faça-se, não o que me agrada, mas sim o
que vos agrada a Vós’. Como Maria Santíssima, eu queria dizer: ‘eu não vim do Seio do
Altíssimo para fazer a minha vontade; vim para imolar-me ao Pai dos Céus unida aos sofrimentos
dolorosos de Seu divino Filho e, por Ele e com Ele, ser vítima para salvação dos homens’».

21. Viemos a este mundo para alcançarmos o Céu onde Deus tem a sua morada. Nesse céu
tem morada a alma que compreende a missão para que veio a este mundo: glorificar ao Pai em
nome de Seu divino Filho que morreu crucificado57. A SSma Virgem ofereceu-Se como Vítima e
imolou-Se com Jesus, Seu amado Filho na Cruz, nessa cruz de dores e espinhos silenciosos.
Caminha para o Calvário, com o Seu puríssimo Coração ferido por todas as amarguras e por toda
a sorte de ingratidões dos homens, pelos quais chorava e se fizera vítima com Jesus. Caminhemos
para esse altar, para o altar de Deus e, uma vez ali, cerremos os nossos olhos a tudo o que neste
mundo é curta passagem e vão apoio, pois é sem fruto o cuidado de coisas que em breve
deixaremos e que só tomamos por empréstimo.

22. Mês de Maria, mês de graças, mês de bençãos, mês de amor, mês de luz e de fervor,
mês bendito de glórias cantadas aos Pés d'Aquela que pisou a Seus pés o mundo, tudo o que não
era digno de Seu Amado Filho, para cantar com Ele as glórias eternas do Pai. Desse Filho fora
Ela trono puríssimo e sem mancha! Trono de amor, de vitórias alcançadas na via Crucis 58. Hoje,
Rainha e Mãe de Deus, passam pelo seu olhar puríssimo todos os filhos, (irmãos) de Seu Divino
Filho e Ela, para todos se inclina com amor de Mãe cheia de misericórdia.

23. Por isso, a nossa alma deve ir aos Seus pés depor aquela flor de virtude, cheia de graça
aos Seus Olhos: aquela flor sem mancha dum coração que, ao conhecer que o mundo é pó impuro
que penetra todos os nossos sentidos, do mundo se despe para encher a alma do olhar puro dos
pequeninos, que encanta o Coração de Deus! Diz N. Senhor que enquanto não formos como um
desses pequeninos, não teremos entrada no Seu Reino. Custa a ser pequenino, depois de a
natureza ter entrado na inteligência e no coração, porque representa uma morte constante a tudo.
Mas essa flor de vitória é a que vamos depor no altar de Deus pelas mãos benditas da SSma
Virgem.

24. Ela, que conheceu todas as dores da humanidade, amparará a nossa fraqueza, dará
alento às nossas dores e, uma vez mais, à nossa alma dócil, o caminho se tornará suave, embora o
coração tenha de ser cravado de espinhos, como o fora o Seu Puríssimo Coração! Continuaremos
a dizer, até ao fim da nossa vida, como Ela: vós todos os que passais, vede se há dor que se
compare à minha dor! É a natureza que faz a dor. Mas a dor é como um cântico de louvor que se
eleva a Deus, quando a alma se torna pequenina. É então que Deus põe nela o Seu divino olhar,
dizendo: " deixai vir a mim as criancinhas." Os pequeninos sorriem, mesmo quando os
repreendem. Também a alma pequenina fica dócil, fica em paz, compreende o que merece pelas
suas infidelidades e de tudo se serve, elevando a Deus um pensamento, um sentimento de acção
de graças.

25. Ao contrário a soberba, o orgulho da natureza mal vencida, perde a paz, só ela se julga
com razões. Enchendo-se de si mesma, procura elevar-se à luz de raios da sua soberba que mais

57
Pensamento muito embrulhado. Procuramos interpretar.
58
Suprimimos: «daquele monte de Getsemani». Não parece ter sentido, falando da via-crucis de N. Senhora.

90
a fazem encher-se de amor próprio. Julga ser, muitas vezes, luz de Deus, amor de Deus, graça de
Deus, o que só é filho da própria soberba e orgulho. Vamos pedir ao altar de Deus, da Mãe de
Deus, que nos faça pequeninos como Jesus Menino na Sua Infância, entregue aos cuidados dos
Pais benditos de Belém a quem obedecia como se fosse filho dos homens.
20/IV/1945 //1//

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, SEDE NOSSA LUZ

26. A nossa alma, como o servo que se alegra em servir o seu Senhor, deve procurar dar
glória ao Coração que, ferido pela lança, derramou o seu sangue até à última gota, em transportes
de amor pelos irmãos. A festa do Sagrado Coração de Jesus é a (festa da) bondade divina. Com
essa bondade o divino Coração se aproxima de nós para irmos ter com Ele a pedir que seja a
nossa vida, a nossa alegria, a nossa paz e felicidade.

27. A nossa vida é lançar a nossa alma para o mar imenso da Sua misericórdia 59 para que
seja purificada e santificada pelo seu Coração trespassado de espinhos. De espinhos semelhantes
é feita a vida de todos nós, que viemos à terra para merecer o Céu. Vamos pedir ao Sagrado
Coração de Jesus que cerque o nosso coração de espinhos que O glorifiquem, espinhos que nos
preservem das manchas da iniquidade, de espinhos que nos levem a agradecer as misericórdias
do Senhor. A dor é o perfume com que Deus é glorificado, como incenso derramado diante do
Seu altar de misericórdia.

28. Fugir da dor e dos espinhos é fugir da luz. Ora esta luz é a alegria das almas, porque
melhor vêem a Deus, O conhecem e O amam. Devíamos compreender que só é feliz aquele que
conheceu e amou esta verdade. Vamos pedir ao Seu divino Coração a Sua luz, a verdade, a
esperança, a caridade. Que é preciso sofrer para conhecer a Deus. Que o nosso coração procure
esta verdade, aquela que viveram os Apóstolos, aquela verdade de que nos deu exemplo Maria
Santíssima e os Santos.

29. "A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador".
A nossa vida deve ser, ainda que no meio da nossa miséria, um hino de louvor e de amor.
Louvemos ao Senhor no meio das nossas tristezas, das nossas penas interiores, no meio dos
revezes da nossa vida, confiadas que foi um coração de Pai que nos permitiu a dor e as amarguras
que Seu Filho, na Sua Santíssima Humanidade, provou. A nossa vida à Sua imitação deve ser
crucificada na dor, na renúncia ao agradável.

30. A soberba que aparece escondida em todos os nossos pensamentos e acções, como
combatê-la senão pelos caminhos da humildade! "Jesus, manso e humilde de Coração, fazei o
meu coração semelhante ao Vosso!" Que o pão da dor seja o pão reconfortante da Fé e do amor
e, por este alimento, seremos preservados dos efeitos funestos da soberba e do orgulho. Que Deus
desfaça em pó o meu coração, quando este se inclina para o imperfeito, para o que não seja só
verdade, luz e caridade.

31. Celebremos a novena do Sagrado Coração de Jesus como bons filhos, bons servos e
irmãos dos nossos irmãos espalhados pelo mundo sem pão do espírito, sem pão do corpo.
Lembremo-nos de todos e por todos oremos ao Sagrado Coração de Jesus, pelo Coração
Imaculado de Maria, refúgio dos pecadores. Oremos pelo Santo Padre, ao Coração ferido pelos
horrores desta guerra e agradeçamos a paz que nos deu. Oremos também para que esta paz seja
justa e duradoira. Esta novena vai ser celebrada com a Santa Missa oferecida ao Eterno Pai na
imolação de Jesus Cristo sobre o altar, pela salvação do mundo. No dia do Sagrado Coração de
59
Suprimimos: «e esta que é purificada por toda a eternidade é…». Não percebemos o sentido que faz.

91
Jesus, todas nos uniremos à Missa Solene que será celebrada, pelas nossas intenções e as do
Congresso do Apostolado da Oração, no Templo do Sagrado Coração de Jesus, em Santa Luzia,
às 8 horas da manhã. Nesta união de orações teremos sempre presente as intenções da Obra, para
que se venha a realizar no momento que aprouver à vontade de N. Senhor, guiando-a pelos
acontecimentos. Sagrado Coração de Jesus venha a nós o Vosso Reino.
Circular de Junho de 1945.

Virtude:- procurar a luz de Deus que vem pelo sofrimento.


Intenção:- o bom resultado do Congresso do Apostolado da Oração. //1//

CAMINHO, VERDADE E VIDA

32. O caminho para a verdadeira vida em Deus é de montanha íngreme que é preciso subir
com ânimo e confiança. A vida é uma luta pelo bem, para alcançar a vitória sobre o mal. A
natureza opõe-se à graça. A soberba vence a luz de Deus; por isso, para ir para Ele, é preciso ser
pequenino, manso e humilde de coração. Nessa montanha, lá ao cimo, está uma cruz e, nessa
cruz, um sol radiante que se espalha pelo Céu. Ninguém poderá discutir com essa Luz. Quando a
alma sai cá de baixo, da terra, quer dizer, de si mesma, vencendo a natureza, compreende que foi
feita para a luz, para a verdade que sai dessa Cruz da Redenção.

33. A Cruz, quando é amada e compreendida é Luz, é verdade, é Fé, é Amor. Nem sempre é
dentro do sentir sensível do bem que está o conhecimento dessa verdade. Não devemos ir pelo
sentir das coisas, mas pelo conhecimento que traga a verdade do Evangelho à nossa Fé. Para crer
não é preciso sentir o que cremos; mas crer que Deus o disse e o ensinou pela boca dos Seus
Apóstolos. Portanto vamos ver o que nos diz o Evangelho e como é que os discípulos do Senhor
cumpriram a Sua palavra, neles próprios, vivendo da fé e dos ensinamentos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, e como é que o fizeram viver aos outros, aos seus irmãos em Cristo Senhor nosso. A
Luz da Fé, irradiando da montanha da Redenção, espalhou-se salvadora pela humanidade inteira,
sobrepôs-se à soberba dos homens e ensinou a estes o seguinte: "se não fordes como um destes
pequeninos não tereis entrada no reino dos Céus". Se, na vossa alma, a Fé não for pura e sem
véus, não podereis conhecer a Deus.

34. Deus é um oceano infinito de luz, de amor e de verdade, e só se pode revelar nesses
prodígios de amor aos que estão vazios de si mesmos: aos que dando tudo por Seu amor, se
deixaram a si mesmos, tomaram a sua Cruz e O seguiram Calvário acima. Esse Calvário está
dentro de nós, fora de nós, em toda a parte onde a luta com o nosso "eu" faz a Cruz e o Calvário
da nossa vida. Esse Calvário é como montanha que, caindo sobre a nossa soberba, a esmaga.

35. Quando, porém, o nosso "eu" quer ser grande e ter nome no meio do mundo, levanta-se
e diz:"tudo posso, tudo quero, a tudo tenho direito, nada direi contra a minha vontade e ficarei a
triunfar no trono da minha vontade própria". Esta luz obscurece a razão e lá vai desaparecendo do
sol bendito da montanha santa da Redenção, aquela luz da verdade que se esconde aos que à
verdade fecham os olhos da submissão a Deus. Deus esmaga o coração no que ele tem de
defeituoso e, para o salvaguardar dos perigos que por toda a parte o cercam, mostra-nos que a
verdade é luz, e a luz está naquele que compreende o seu nada e nada quer senão o Deus da
verdade.

36. Caminhemos para o Calvário, apoiados no crucifixo que só diz à alma: «crê e só isso te
basta para seres fiel». "Eu creio, Senhor, que morreste pregado na Cruz, que foste o Salvador da
triste humanidade, que para ser vosso discípulo é preciso deixar tudo, todos, para me dar por
amor de Vós a tudo e a todos! Eu creio, Senhor, que no dia da eternidade Vós, Senhor, direis à

92
minha alma:"De tudo o que fizeste por Mim, em Mim encontraste a recompensa. Agora, que
saíste das trevas de ti mesma, olha para a luz já sem trevas! Olha para Mim, a Verdade, a Vida!
Diz-me se não foste mais ditosa em subir o teu Calvário para não saíres da luz do Sol da verdade,
e se esta verdade não era já o conhecimento do Céu em tua alma!» Este Céu esconde-se aos
grandes, para ser revelado aos pequeninos de coração puro: àqueles que, neste mundo, se
consideravam pobres, àqueles que o quiseram ser para, no desapego das coisas, se tornarem os
mais pobres dos pobres, os servos dos servos, para serem o bom servo e escravo do Senhor,
reconhecendo-O como Rei e Senhor de todas as coisas.
Circular de Julho de 1945.
Virtude:- fixar o olhar no crucifixo.
Intenções:- as do Santo Padre e uma especial da O. //1//

QUERIA SER TODA DE DEUS

37. É este o apelo das almas diante dum desejo que lhes nasce e pede o mais perfeito. Este
desejo quantas vezes bate à (porta da) alma e esta lhe foge quando isso lhe pede uma humilhação.
Assim como a luz do relâmpago num momento ilumina o lugar e logo deixa o mesmo em
escuridão, assim também a graça mostra nesse desejo o caminho, a verdade e a vida à alma, mas
logo a deixa em trevas quando ela não se aproveita da luz e prefere guiar-se pela escuridão do
amor-próprio, julgando guiar-se pela luz de Deus. A luz de Deus, quando bate (às portas da)
alma, pede o máximo de fidelidade, de humildade, e de generosidade. É uma graça de graça e,
com N. Senhor, toda a delicadeza e docilidade é nada da nossa parte. Quanto Lhe devemos e Ele
espera também da nossa gratidão e amor para com Ele! Esquecemos as delicadezas de N. Senhor
para connosco e deixamo-nos arrastar pelos sentimentos imperfeitos da nossa miséria para com
Ele.
38. O espírito que N. Senhor quer de nós é aquele que a Santa Igreja nos ensina e aconselha
ser luz e verdade: como soldados de Cristo Senhor nosso, não só vivermos o Evangelho, amando-
o, mas levando-o pelo exemplo a que seja conhecido e amado. Nem sempre esta vivência se dá:
não porque seja preciso revelar as confidências da nossa vida, mas porque o que devia sair de
cada um de nós como bons cristãos nem sempre se encontra. Somos como árvore sem fruto.
Damos a morte àqueles que de nós e do nosso exemplo esperavam vida: vida de Fé, de Esperança
e de Caridade.

39. N. Senhor acompanha os nossos passos, os nossos sentimentos, os nossos desejos. Dde
contínuo nos está presente, pedindo que O não percamos de vista. Contudo quantas vezes
ignoramos a sua presença, para não seguir a Voz da Sua luz que nos pede: "sede mansos e
humildes de coração". Esmaguemos a nossa soberba para vencermos o mundo de nós mesmos.
Se formos perseverantes, alcançaremos do Senhor a mansidão e a humildade.
Circular de Julho de 1945. //1//

40. O caminho do sacrifício é uma estrada longa que só tem o seu termo ao abrirem-se à
alma as portas da eternidade. Esta estrada que se chama a vida, é também (banhada de) luz e
felicidade para a alma compreender os dons de Deus. Compreender os dons de Deus é conhecer a
Deus e, para O conhecer, é preciso sofrer, vencer e lutar pelo bem que Ele é: a perfeição de todas
as virtudes. Pensar em aceitar hoje o sacrifício para o deixar amanhã, pensar em amar o sacrifício
hoje para não contar com ele até ao fim da vida, é parar no caminho. Além disso, sem que o
sacrifício nos deixe, deixamos nós a Deus – de O conhecer e de O amar.

41. As lutas não estão fora de nós; estão dentro de nós. É dentro de nós mesmos que tem de
haver combate entre a luz da verdade e as trevas da nossa vontade própria. Vençamos o "eu" de

93
nós mesmas, vençamos os nossos juízos imperfeitos, para bebermos na fonte do bem a luz da
verdade e da caridade e aceitarmos cada um de nós os caminhos do Senhor. Aceitemos a luz que
Deus nos manda pelos acontecimentos, abracemos os desígnios da Sua Vontade Santíssima e
inclinemo-nos aos sacrifícios que ela nos impõe.

42. O mundo de nós mesmos é feito de tanta injustiça dos nossos próprios juízos, que temos
de ser justos dentro da vida sobrenatural. Para o sermos, deixemo-nos a nós mesmos e às
criaturas, amando-nos a nós mesmos dentro do preceito da lei de Deus. "Amai-vos uns aos outros
como a vós mesmos". Este preceito é para que sejamos perfeitos dentro da justiça e da caridade,
as quais encerram o sumo da verdade e esta se torna em luz que guia as almas para verem a Deus.
Virtude:- viver da verdade.
Intenções:- as do Santo Padre e. em especial, uma da Obra. //1//

30 DE SETEMBRO DE 1945

43. Passa hoje o aniversário da morte de Santa Teresinha, modelo de tantas virtudes e de
espírito de sacrifício, cujos exemplos devemos imitar. Não será de obras grandes que será feita a
nossa vida (espiritual); mas, à imitação de Santa Teresinha, do amor ao sacrifício nas coisas mais
pequeninas, mais insignificantes. No interior da nossa alma, cultivemos o espírito de renúncia a
tudo o que não é de Deus, a tudo o que Lhe não agrada. Não agrada nada a N. Senhor, a
satisfação da nossa vontade que procura o agradável dos sentidos. Santa Teresinha, pela renúncia,
em curto tempo encontrou o Céu dentro da sua alma e gozou da paz da vitória alcançada.
Também na nossa alma podemos encontrar o Céu. Mas, para isso, é necessário deixarmos o
mundo do gosto e da satisfação dos nossos desejos imperfeitos. Avancemos em linha recta para
esse Céu da nossa alma, dispostos a receber a graça da sua luz e da verdade! Caminhemos para a
fonte do bem, sem olhar à montanha íngreme que se nos apresenta e que todos temos de subir.
Nosso Senhor lá nos espera, com ternuras de Pai carinhoso. Ele nos anima na ascensão que lá nos
conduz60.

44. Neste mês de Outubro, dedicado ao SSmo Rosário, seja fervorosa a nossa prece. Sem
deixar o nosso tributo de amor à SSma Virgem, a nossa alma cheia de confiança na sua protecção,
caminhe segura de que o seu amor será o nosso alento, a nossa paz e felicidade para sempre! A
Santíssima Virgem nos ensinará, na meditação dos mistérios do Rosário, a que na nossa vida,
com o seu auxílio, abracemos o nosso dever, a missão que Deus confia a cada alma neste mundo.
É nesse dever que devemos dar bom exemplo.

45. É do espírito da Obra, procurar o reino de Deus para todos os nossos irmãos em Cristo
Senhor nosso, vivendo o Evangelho. À imitação de Santa Teresinha, devíamos trazer o
Evangelho sobre o coração, vivendo-o! Sem respeitos humanos, procuremos vencer, cada um de
nós, a onda que passa de impiedade e infiltração do espírito do mundo, (não o deixando entrar)
dentro do nosso espírito. Este espírito do mundo entra sem ser notado, mas faz em nós estragos
como se o quiséssemos viver por nós mesmas. Vençamos esse mau espírito, estando alerta contra
a onda que ele espalha por este mundo de misérias e ignorância.
Virtude:- a humildade.
Intenções recomendadas:- as do Santo Padre e as da Obra. //1//

DEVOÇÃO ÀS ALMAS DO PURGATÓRIO

60
Desde «avancemos em linha recta…» até aqui, mistura ‘Céu da alma’, de que estava a falar, com ´Céu lá de cima´.
Por isso procuramos interpretar coerentemente o seu pensamento, mais que transcrever à letra.

94
46. Entramos no mês dedicado às almas do Purgatório, as quais esperam a prova da nossa
gratidão – a caridade! Essas almas, já na posse da verdade, só esperam encontrar-se face a face
nos esplendores da SSma Trindade. À nossa alma, pede o Filho de Deus que, unindo os nossos
pobres merecimentos aos Seus, imolemos pelos nossos irmãos a caridade mais generosa.
Levemo-los, pelos nossos sufrágios, a gozar da bem aventurança celeste!

47. Se pensássemos o que é o Purgatório, no qual se expiam as mais pequeninas faltas,


como nós amaríamos o purgatório deste mundo, abraçando a nossa cruz e desapegando-nos de
tudo e de nós mesmos! Entremos com o nosso espírito na meditação dessa verdade: o amor com
que Deus, por amor, nos quer purificar para nos tornar presentes a Si por toda a eternidade. Ele
vê-nos, espera-nos, escuta-nos e ouve-nos a todo o momento! No Purgatório, os nossos juízos
serão destruídos pelas claridades desse lugar de amor, onde, às almas que aí se estão purificando,
lhes parece nunca estarem tão puras como a pureza que as chama ao gozo da celestial Jerusalém!
Sendo assim, onde estará a pureza dos nossos sentimentos, dos nossos desejos, das nossas
aspirações, se não forem fruto duma caridade perfeita, simples, generosa, mas franca e dada a
todos por amor d'Aquele que Se deu todo por nós?

48. Se fosse dado às almas do Purgatório virem mostrar-nos porque foram as dores da sua
purificação, com certeza que entraríamos dentro de nós mesmas e, quem sabe, a reforma a fazer a
tanta coisa que elas nos mostrassem seria mais bem feita. Assim, dentro da verdade bendita da
eternidade, vivamos servindo-nos do que já temos, ou do que pudermos vir a ter, como um
empréstimo da Providência para fazer o bem. Iremos dar as mais estreitas contas pelo bem que
não fizermos, contraindo grandes dívidas de expiação, de purificação na Eternidade.

49. Dai por amor e recebereis, do amor perfeito que é Nosso Senhor Jesus, a abundância
dos Seus bens. Toda a alma que não é dada a este amor do bem-fazer, que não arde em caridade,
que não se imola nessa caridade, é como uma fonte que no tempo de grande seca não chega para
saciar a sede, porque a mesma fonte sofre da mesma sede. Assim a alma, tendo sede, vai
morrendo à sede61. É a caridade que faz correr o manancial de todas as graças. O coração que não
arde em caridade é como uma árvore que nem sempre dará fruto e, se dá, não chega para saciar a
fome e sede de Deus que é amor e caridade! Até a inteligência ficará mais dura para se amoldar e
se dar à plenitude dos dons de Deus.

50. Deus é um rio de graças e de amor que passa pelas almas. Mas, quando a alma não está
disposta para ser banhada nessas águas vivas da caridade de Deus, Ele passa por ela mas não
deixa nela a abundância dos Seus dons. Deus é amor e por amor fez tudo por nós. Nós, pelo
contrário, não queremos fazer senão o que mais nos agrada e, como a caridade tem repugnâncias
a vencer, fugimos muitas vezes a praticá-la. Preferimos ir para tudo o que mais nos agrada.

51. Benditas almas do Purgatório, ensinai-me a praticar a virtude da caridade: dai ao meu
coração compaixão, amolecei a dureza do meu juízo, firmai o meu sentir em crer na verdade do
que Vós sofreis, quando nos pedis uma esmola de amor, de sufrágios, de Missas, de esmolas aos
pobres em vosso favor! Ensinai-nos a amar os pobres, os desprotegidos, os que têm fome do pão
do corpo e da alma.

52. Senhor, fazei que eu veja que Vós viveis nas almas dos pequeninos como nas dos
grandes. Fazei-me amar a verdade, crer em Deus de todo o meu coração, na plenitude de toda a
verdade ensinada pelos Apóstolos, pregada pelo Evangelho. Fazei que a minha inteligência se
abisme no que é eterno e se desengane do que é passageiro e vão neste mundo! Senhor, fazei que
eu veja, porque nem sempre ando no caminho da verdade! Vós, Senhor, quereis a verdade das
Verdades da nossa Fé e eu, vou muitas vezes por aquela que me dita o meu sentir, o meu juízo
61
Omitimos: «de virtude, que dilatando o coração no bem…». Não vemos o sentido que faz.

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próprio, sem (preocupar-me por) mais nada que por boa intenção. Mas a boa intenção, //1//
muitas vezes, é como uma árvore frondosa que só faz sombra e não dá fruto, escondendo os raios
do Sol. Assim como o sol natural é o criador da natureza a cuja luz as próprias plantas se
inclinam e a seguem, assim também na vida da alma Deus é o Sol cuja luz devemos seguir. Essa
luz está no sacrifício, na humilhação. Não havendo amor ao que humilha, ao que dói, ao que
custa, fugimos do sol. Procuramos a sombra que faz sombras à verdade e não sabemos distinguir
a luz de Deus. Senhor, sede a minha luz na Cruz!

****
53. A partir deste mês desaparece a " folhinha " e cada uma de nós apresentará o seu
apontamento do que cumpre e é indicado para cada mês.
Mês de Novembro:- Diariamente, de profundis.
Às sextas-feiras a Via-Sacra e, na impossibilidade de a fazer, cinco minutos de meditação
sobre um passo, à escolha, da Via-Sacra. Não precisamos de contar pelo relógio se o não
tivermos à mão. Recolhendo o nosso pensamento, acompanhemos N. Senhor a caminho do
Calvário, unindo as nossas dores às Suas, implorando a Jesus que se digne derramar o Sangue
Preciosíssimo sobre o Purgatório, levando ao gozo do Seu amor as almas dos nossos irmãos que
esperam a Sua suspirada vinda.
Do Oferecimento das horas bastará dizer neste mês: "Ó Jesus, eu renovo nesta hora, por
amor, todos os oferecimentos de mim mesma por todos os benefícios recebidos." Na folhinha que
cada uma fará pela sua mão, bastará dizer se, ao menos uma vez ao dia, fez esse acto de
oferecimento das horas. Nas indicações que derem por escrito, fica à disposição de cada alma em
particular, explicar-se como sentir ou entender. Cada alma fará mensalmente o seu apontamento
num papelinho que mandará, com liberdade de expor o que quiser. As almas que tiverem a
devoção de gratidão de oferecer as horas, deverão continuar e poderão apontar. As almas que não
se lembrarem do oferecimento (por horas), ao menos uma vez ao dia o devem fazer, como um
obrigada a N. Senhor por todos os benefícios de cada dia e de cada hora.
Circular de Outubro de 1945. //1//

54. A mudança que fiz nas obrigações de cada mês, obedecia a um fim. A outro fim
(obedece o que vou expor acerca das circulares e) ao qual cada alma, por si, corresponderá. Às
circulares de cada mês fará cada alma o seu comentário, dando-me as suas impressões por
escrito. Quais as impressões que dela colheu, quer sejam de pensamento que a leve para Deus,
quer sejam dúvidas, quer sejam faltas de compreende-la neste ou naquele ponto em que eu não
tenha sido tão clara, pedindo-me que explique62. O comentário deve vir numa folha à parte que
não conste da carta. Cada alma irá dizendo tudo o que vai sentindo do espírito da Obra, no que
vai sendo exposto e quais as dificuldades da vocação, da correspondência a esta. É esta parte
agora a mais importante para todas nós. Nenhuma está dispensada. (Porquê?). Agora trata-se da
formação do espírito e, para isso, é necessário que cada alma mostre por si o que pensa, o que
sente e quais as suas dificuldades. Será nesta abertura que cada alma começará a compreender o
fim para que se prepara e se sente a confiança precisa no espírito desta Obra que vai sendo
explicado. Por isso, desobrigada de dar contas das outras obrigações até aqui, dará agora do
espírito em que deve viver, estudar o seu fim, segundo o que as circulares forem apresentando.

55. Dizendo-se que estão desobrigadas da folhinha, não quer dizer que suspendam as
devoções anteriores, porque essas, que se dirigem à perfeição da alma, pertence à alma continuá-
las: são um acto de amor de Deus e de acção de graças que fazem sempre parte do espírito de
reparação. Devemos continuá-las, mas desobrigadas de dar contas. N. Senhor presente aos actos
62
Conservam-se estes «comentários» e reacções às Circulares? Seriam muito úteis para esclarecer passagens mais
obscuras e de redacção mais complicada…

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da nossa vida, (é que) vê a nossa alma e (se) para Ele se dirigem os nossos afectos. Por isso, que
continue cada uma de nós, a ter a vida que corresponde ao fim.

56. Durante todo o mês de Dezembro e Novena de Nª Senhora, rezaremos o Magnificat.


Todos os dias ler uma passagem da Circular, ainda que seja só uma linha, e nela meditar,
apontando ao fim do mês se cumprimos e quais os motivos pelo quais se não cumpriu. O fim é
este: se nos preparamos para viver o espírito da Obra, devemos fazer tudo por cumprir estas
pequeninas coisas. Com este sacrifício provamos a N. Senhor o desejo de O seguir dentro da
Obra. Podem vir dúvidas se esta Obra se faz, se é de Deus ou não é de Deus; mas, se de tudo o
que fazemos nos dirigimos a Deus num acto de louvor, nunca isso foi contra o Evangelho, o qual
todo o fiel cristão deve trazer sobre o seu coração como Stª Teresa do Menino Jesus, que dessa
fonte de Verdade hauria a santidade da sua vida. É livre, para cada uma de nós, irmos por este ou
por aquele caminho. Mas, se nos determinamos num a seguir, é direito e mais seguro ser-lhe fiel
e não entortá-lo. Todos os dias, a seguir à leitura, ainda que seja só duma palavra, diremos a N.
S.: "Senhor, se esta O. é vossa, alimentai o meu espírito do seu espírito". No mês de Dezembro,
ao bater de qualquer hora do dia, diremos: Eterno Pai, ofereço-Vos em todas as horas deste mês,
pelas mãos de Nª Senhora, o Sangue Preciosíssimo de Jesus com todos os Seus infinitos
merecimentos, (em reparação) dos meus pecados, da minha família, de todo o mundo, das almas
do Purgatório e em acção de graças por descerdes ao Presépio de Belém para Redenção nossa." A
Via Sacra fica, para sempre, a ser feita em qualquer dia da semana, de preferência à sexta-feira. A
Hora Santa fica na devoção de todas nós fazê-la, sem obrigação de dar contas. Os actos de
oferecimento que se faziam, ficam à nossa devoção, sem obrigação de dar contas; mas, querendo
cada uma de nós dizer o que fez, pode livremente usar como quiser. O que fica obrigado a fazer,
venha ao fim do mês numa folha que não faça parte de carta. Cada alma diz, como melhor
entender, quiser e souber. Durante todo o mês, na Sagrada Comunhão, se pedirá a N. S. a
seguinte graça, dizendo: "Senhor, se esta Obra é vossa, sois Vós o Fundador. Senhor, fazei que se
realize, para Vossa maior glória". Disto também daremos contas se o fizemos.

57. Que N. S. desça com a Sua Luz sobre as nossas inteligências e as faça de altivas,
humildes, para receberem a Sabedoria, fonte da Verdade e da Santidade, que é Deus com o
influxo da Sua Luz e do seu Amor. Aos soberbos, Deus os abate e, aos humildes, Deus os exalta.
Na oração do Magnificat é que vemos a luz que guiou Nossa Senhora a ser a Mãe da divina
Sabedoria: Nosso Senhor.
Novembro de 1945. //1//

CIRCULAR DE DEZEMBRO DE 1945

58. Devemos consagrar este mês, com espírito de fé e amor, à SSma Virgem, Ela que nos
ensinou, pela Sua vida santíssima, a amar N. Senhor. Celebremos com reconhecimento a festa da
Sua Imaculada Conceição, com uma novena fervorosa de orações e hinos de louvor e acções de
graças pelos benefícios recebidos. Não esqueçamos também as intenções do Sumo Pontífice, que
se imola por todos nós e pelo mundo inteiro num sofrimento contínuo de caridade e compaixão
de Pai amantíssimo de toda a cristandade.

59. A festa de Nossa Senhora deve preparar-nos para os dias de glória do Nascimento do
Salvador do mundo. Que Ele venha nascer nas nossas almas, em todas as virtudes que devemos
praticar, mas, por excelência, na da morte a nós mesmos. Na pobreza de Belém, veremos o trono
de glória em que encontraremos o Céu na terra. Aí veremos Jesus! A nossa vida tem de encontrar
esse Céu na nossa alma. Mas, para encontrarmos esse Céu é preciso deixar a terra. Devemos dar
o exemplo que deu Nª Senhora em Belém, sujeitando-Se (na pobreza) à cruz do dever, de ser a
Mãe da dor, pois recebia em seus santíssimos braços a Vítima divina a imolar-Se pelos homens!

97
60. Também a nossa vida deve ser imolação perfeita do dever cumprido. O dever é imolar o
nosso gosto, a nossa vontade, na certeza de que uma vez assim, descobrimos o Céu na nossa
alma: Jesus crucificado, o Senhor da paz e da alegria. Não da alegria que faz esquecer a dor, mas
da dor que faz a alegria, porque nos tira de sentir gosto no que passa, no que não é perfeito. A
nossa alma deve fazer todas as coisas como devedora a Deus de se dar por Ele e de se imolar pelo
próximo, mas sem ser por simpatias ou recompensas.

61. Imitemos aquela pureza de caridade com que a SSma Virgem olhou para os pobres
pastores de Belém. Coração acolhedor, olhar puríssimo cheio de mansidão e caridade: Ela amava
já os homens, pelos quais vinha ao mundo Jesus, e os Seus lábios santíssimos guardavam os
segredos do Rei dos Céus! Assim a nossa alma deve, a seu exemplo, ser acolhedora dos pobres,
dos tristes e dos abandonados. Sem caridade não há virtude perfeita, não há santidade. O espírito
da Obra não pede mais do que N. Senhor pede no Evangelho: "sede perfeitos". A perfeição,
segundo o espírito da Obra, que devemos seguir, não pede que nos estejam a ver só obras
grandes, mas sim que a obra da nossa santificação seja o que deve ser: perfeita.

62. Nunca seremos tão perfeitos como Deus deseja de nós. Mas façamos esforços para
sermos cheios de caridade. A caridade dá glória a Deus, leva as almas para Deus, faz gostar de
Deus. É como um aroma que inebria que se respira, que consola e alegra o espírito. A caridade é
perfume que incensa o altar de Deus e chama as bençãos de Deus para a alma que dela enche os
actos da sua vida. A caridade fala a Deus com a simplicidade dos pequeninos. Dá-se não só a
Deus, mas, por Deus, dá-se a todos e a todos leva o aroma de Deus.

63. Foi a caridade infinita de Jesus que o fez derramar o Seu preciosíssimo Sangue por
todos nós. Vendo Aquele olhar agonizante do Senhor amargurado, quem jamais esquecerá a Sua
dor, quem não procurará dar-Lhe tudo?

64. Examinemo-nos a nós mesmas e meditemos se do nosso olhar sai caridade; se dos
nossos pensamentos transborda a caridade; se dos nossos sentimentos superabunda a caridade; se
dos nossos juízos sai caridade. Por fim, examinemos o nosso coração, e se dele saem chamas de
caridade. Se não temos estes sentimentos, se não sai da alma a chama desse incenso que se eleva
até ao trono de Deus, as almas que nos vêem aproximar do Banquete divino dir-nos-ão: «tive
fome e não me deste de comer! Não me deste o exemplo para eu ir para Deus! Os teus actos não
exalavam o perfume da caridade e eu não me sentia atraída para Deus! A minha alma não sentia
vida da vida que dizias imolar por Deus. Morri à sede, porque os teus trabalhos e sacrifícios, no
espírito dessa imolação, não chegaram para ser orvalho que fizesse nascer na minha alma, pelo
teu exemplo, virtudes que me levassem a amar a Deus.

65. O espírito da Obra é espírito de pobreza, de renúncia à vontade própria. Toda a nossa
vontade devia arder só em fazer o bem (que Deus quer). A natureza não quer; mas por essas
vitórias (sobre a vontade própria para fazer a de Deus) é que se dá glória a Deus e ganha sentido
o acto de oferecimento //1// de todas as horas da nossa vida 63. Que cada hora seja uma inclinação
da nossa vontade à vontade de Deus, seja a aceitação plena da vontade Santíssima de N. Senhor
na cruz, com Sua Mãe Santíssima junto à cruz, em toda a vida dolorosa do Calvário num silêncio
profundo.
A intenção deste mês:- pedir a N. Senhor luz para compreendermos e vivermos o espírito
da obra.
Virtudes:- aceitação de tudo que nos possa humilhar da parte daqueles que nos façam luz
nas trevas do espírito. //2//

63
Procuramos interpretar o seu pensamento, que parece muito embrulhado. Cf. texto original.

98
VOTOS DE BOAS FESTAS (DO NATAL)
E DE UM NOVO ANO MAIS ABENÇOADO E CHEIO DE GRAÇAS

66. Nesta reunião, que procede o Natal, desde já envio, a todas as minhas companheiras e
Irmãs no mesmo ideal e aspirações, os melhores votos de Boas Festas, desejando e pedindo ao
Senhor todas as graças para uma santa preparação, baseada na Fé e no amor á Sagrada Família, e
no desejo de seguir o Seu exemplo cheio de lições. Que a nossa vida seja um contínuo acto de
louvor e acção de graças às Três Pessoas da Santíssima Trindade, para que nos encha da Sua luz
divina e nos conceda a fortaleza da vontade, para nem recuarmos diante do sacrifício, nem diante
das dificuldades. A nossa vida tem que ser uma luta constante, luta sem recompensa na terra mas,
pela vitória alcançada, cheia de glória no céu! //1//Lutemos pelo bom exemplo, seguindo aquele
que nos dá a Sagrada Família.

67. Pensemos com verdade, que dentro de nós há um mundo imenso (em luta com) uma
eternidade dentro da qual está presente Deus. Nesta luta, há sempre aquela verdade: Sempre e
nunca! Sempre com Deus, nunca com o mundo!64 Mas, quando queremos seguir o nosso próprio
juízo ouvimos: Sempre a minha vontade, nunca a vontade de Deus! Daí as lutas angustiosas do
espírito, quando queremos encontrar consoladores e não os podemos encontrar porque a
consolação não está fora. A consolação está dentro em nós, na eternidade da nossa alma que,
sendo criada para Deus, só Deus a sabe consolar. A consolação procurada fora da nossa
alma, //2// ao recolhermo-nos a sós com o nosso só, nem sempre nos encontramos a sós com
Deus, mas sim com o mar de impressões e amarguras que fomos buscar nas criaturas.
Procuremos primeiro o reino de Deus e tudo nos será dado em acréscimo. Procuremos viver
recolhidos em Deus, cheios de pensamentos sãos, misericordiosos e pacíficos e possuiremos a
terra, sem que a terra nos possua a nós.
68. Sejamos dóceis e suaves, para sermos moderados nas nossas palavras e nos nossos
exemplos. Nunca procuremos que as nossas obras sejam conhecidas, mas que Deus as faça
frutificar para que participemos dos Seus benefícios e recompensas. Trabalhemos para o Céu,
andando pelo mundo sem que o mundo //1// nos conheça, para que nada possua de nós. Que a
nossa vida seja cheia daquele recolhimento e silêncio que tinha Nossa Senhora e S. José.
Vejamos também como em Santa Teresinha, fechada no seu Carmelo, o perfume da sua virtude
se espalhou pela terra, sem ela possuir o mundo nem o mundo a Ela. Sempre escondida na sua
cela com N. Senhor que vivia n'Ela, irradiou da Sua vida a abundância dos Seus bens, dos quais
todos participamos pelas graças que ela nos alcançou do Céu.
69. Os amigos de Deus devem pairar acima do mundo e das criaturas, contemplando as
visões da Fé! Sempre com Deus! Sempre fazendo tudo por Deus! Sempre deixando tudo por
Deus! Sempre submissa a nossa razão a Deus! Sempre vendo a Deus presente! Assim a alma
espalhará o reino de Deus por todos que foram criados para Deus.
70. Recolhamos o nosso espírito e preparemo-nos para a vinda de Deus no presépio de
Belém. Que as nossas ofertas sejam simples mas sinceras, verdadeiras. Simples: oferecidas com
propósito cheio de pureza e candura, d'aquela que nos ensinou Santa Teresinha, servindo-se das
coisas mais pequeninas para provar o nosso amor a N. Senhor. Que N. Senhor nos lance a Sua
benção. 65
12-12-1945

ANO - 1946
PARA LER NA REUNIÃO

64
A mesma dificuldade da nota anterior. Cf Texto original
65
- Escrito obliquamente ao cimo da página 4.

99
26/1/946

1. Vai ser lida a circular de Dezembro, porque não chegou a tempo nessa data e porque não
devemos suprimi-la por se falar nela do espírito da Obra. Fica, para todos os efeitos, a ser a
circular de Dezembro. A reunião de Fevereiro será, de todas, a que mais importância (para nós)
terá; por isso, espero que N Senhor ajudará a que todas possam assistir, mesmo as do Porto.
Nessa reunião se tratará dum assunto muito importante; por isso, peço e desejo que, uma vez
marcada a reunião, nenhuma deixe de assistir. Não se faz nesta altura, devido mesmo a não
poderem comparecer todas.

2. Enquanto outras devoções não forem indicadas, //1// continuarão a fazer as mesmas e
segundo a explicação da última circular. (Isto), até que nos seja indicada outra forma de fazer.

3. Nesta reunião, pede-se muito encarecidamente para que todas as nossas companheiras
intercedam a N. Senhor pela graça da criação da Diocese e pela vinda da Companhia, graças das
quais pode depender a Obra realizar-se mais depressa. Pede-se este interesse da nossa parte, sem
nos desviarmos dos desígnios de Deus, os quais aceitamos por todo o tempo que aprouver ao
Senhor realizar as Suas Obras. //2//

CIRCULAR DE JANEIRO DE 1946


O ESPÍRITO DA OBRA

4. Começo hoje a fazer esta circular, depois de tantas súplicas que se têm feito ao Eterno
Pai, para que, se a Obra é de Deus, Se digne, como aos discípulos do Senhor, enviar-nos a Sua
luz ditada pelo Seu Santo Espírito, de modo que nesta circular nos venha a verdade do caminho a
seguir: sem olharmos para a terra, nem para as criaturas, mas, sem respeitos humanos e apenas
com respeito por N. Senhor, pelo Evangelho, seguirmos prontas e prontamente aquele caminho
que melhor indique o fim e mais agrade às Três Pessoas da SS ma Trindade. Não sei o que a mão
de Deus deixará ou (me) permitirá (ainda que indignamente seja Seu instrumento) passar para
esta circular; mas, seja o que for e como for, nem que tenha de esmagar o meu coração, o meu
juízo, prometo ser fiel ao Senhor, sem olhar para a terra, nem para as criaturas, mas só para a
vontade de Deus.

5. Tenho atrasado enviar o que pertence a cada mês de devoção; mas todos esses atrasos
devem ser recebidos sem reparos, nem preocupações, nem juízos de parte nenhuma. Nunca vivi
com religiosas, não sou religiosa, mas de religiosas temos as aspirações para conhecer o que
Deus quer de nós e estarmos prontas para seguir à primeira voz. Se houver defeitos a pôr ao
instrumento de que Deus Se queira servir, esse defeito de assim julgar está em nós e não no
caminho por onde Deus foi servido levar-nos. Nosso Senhor não precisa de servos inúteis,
caprichosos e soberbos, mas sim de almas dóceis à Sua voz divina, maleáveis, simples e de
coração puro. É perder o nosso tempo inutilmente, estarmos a medir o espaço de tempo, as
pessoas, a sua maneira de fazer, porque nem somos necessários, se somos inúteis, a Deus e ao
bem-fazer dentro da caridade cristã pelo nosso próximo.
6. Temos de compreender que a nossa vida só dá glória a Deus se todas formos de Deus. Se
o não somos ou não fizermos por sê-lo, somos apenas na aparência proveitosos; mas, na acção,
somos bastante inúteis para as obras de N. Senhor. Todos admiram as obras de arte se conhecem
as mesmas, mas se lhes notam deficiências apontam-lhe esse defeito; assim N. Senhor e as
criaturas procederão da mesma forma para connosco, porque da mesma forma as nossas obras
estarão expostas não só aos olhos de todos, mas ao seu próprio juízo.

100
7. Julgai bem, para serdes bem julgados. Mas (Deus) só pode julgar com misericórdia
aqueles que vivem a louvar e engrandecer a misericórdia de Deus por uma vida inteiramente
cristã, consagrada a Deus, espalhando entre si o amor e caridade das coisas de Deus pelos que
sofrem, pelos que têm fome de verdade e de caridade.

8. O espírito do Evangelho é verdade e vida; mas nem sempre interpretamos essa mesma
verdade como deve ser, nem sempre mostramos que vivemos o que ela nos ensina. As obras de
Deus só são dignas de Deus se as fazemos em Deus, por Ele só, sem caprichos, nem vaidades,
nem ostentações de si mesmas. É preciso vermos bem que nem sempre se vêem ou se respiram,
nas melhores almas, esses sentimentos perfeitos do dever de dar a Deus toda a honra que Lhe é
devida, mas que procuramos, ainda que à sombra das melhores intenções de virtude, a nossa
própria honra e louvor das criaturas. Tempo perdido, graças desprezadas, má correspondência aos
benefícios recebidos! Como sinal de que assim é, examinemos se nas perseguições das criaturas,
lá no íntimo da alma, há paz e doçura, ou desgosto e perturbação! A paz é o farol da esperança, o
sinete da concórdia entre a acção de Deus e a vontade do homem que se dobra a Deus.

9. Esta circular vai sendo feita com muitas interrupções. Mas espero que N. Senhor ajudará
a dizer nela tudo quanto me parece ser da Vontade de Deus, pelo menos o que se vai
apresentando ao espírito dizer, com consciência de dever dizer. Quando se formou o nosso grupo
era um momento difícil e dalguma luta e //1// dificuldades grandes a vencer. Era um momento
que se pode chamar – se é permitido dizer assim – hora difícil: ou de continuar no ideal duma
aspiração a realizar, ou de deixar a ideia duma vez para sempre. Mas, se ao mar sempre se lhe há-
de chamar mar, enquanto à nossa vista como tal se apresente, assim cada um de nós não pode
fazer desaparecer da vida da alma as lutas e tormentos que fazem parte da ascensão do espírito.
Para o bem ou para o mal, todos temos de lutar neste mundo, quer seja de vontade ou contra
vontade. Por isso, esmagando a natureza e o coração, encetou-se um caminho e esse foi de
organizar o nosso grupo.

10. As condições (deste caminho) são:- crer sem ver. "Se alguém quer vir a Mim " – diz N
Senhor – "deixe-se a si mesmo e siga-Me”. Somos livres para crer ou deixar de crer; mas já não
somos livres se prometemos crer e, só por um juízo próprio, deixamos de crer no que
prometemos. Venha esse juízo por não concordarmos, por não aceitarmos o que nos é indicado,
ou por tudo o mais que não é próprio desta circular discriminar. Não se trata de pessoas, mas do
espírito em que as mesmas devem viver. A Nosso Senhor, à sua maior glória, não interessa a
indolência da vontade, que arrasta a imaginação à mercê de todos os estados do tempo, criando
um sentir imperfeito, hesitando e caminhando só pelo que sente e não pelo que crê.

11. Santa Teresinha ensina-nos, na sua vida tão simples, que lhe bastaram, para subir ao
cume da santidade, duas coisas: crer e amar! No Evangelho, vê-se na palavra de N. Senhor
quando nos diz. "bem-aventurado o que crê sem ver!" 66 O que crê em Deus, também O ama de
todo o coração. Segue-O por toda a parte porque lhe basta crer, porque crê no que conhece d'Ele.
Para amar a verdade e crer na palavra do Senhor, basta estar atento à Sua voz e segui-Lo, porque
Ele, a sabedoria infinita, penetra, ensina e ama aquele que o segue escutando com docilidade os
seus ensinamentos.

12. Quem crê não precisa, no mar alto da sua tribulação, de outro leme senão humildade e
docilidade. Assim como a criança inclina o seu olhar para aquele que a acaricia e lhe sorri, assim
também a alma, quando deixa tudo, Deus lhe basta para saciar o seu coração e sustentar a sua Fé:
basta-lhe crer!

66
Cf. Jo 20,29; 4,48; Mt 12,38sgs; Hebr 11,1

101
13. Uma fundação é um acto de Fé, é um acto de Amor, em que o leme da boa Esperança
da sua realização para Deus é crer! Porque havemos de crer numa coisa tão difícil, que pode ser
ou não ser uma vontade de Deus! Crer em Deus, trabalhando por Lhe dar glória, concorrendo
para o bem das almas, procurando o Calvário e seguindo a N. S. na Cruz por uma vida
verdadeiramente no espírito de N. S. no Evangelho, não é repreensível. Não afasta do espírito da
Igreja, nem merece a condenação dos homens, mas sim a aprovação de Deus.

14. Os superiores serão sempre a voz (de Deus) que revela a sua (realização) ou não
realização Ao aprovarem (a fundação), eles próprios terão de (o) sentir na sua consciência, pois
não tendo de antemão revelação do que está por se dar ou fazer, eles próprios têm de seguir o
plano duma experiência. Eis como N. Senhor encaminha, no coração dos homens, os passos dos
mesmos na Via Crucis de que são feitas as obras de Deus.

15. Mas deixa N. Senhor um sinal de que vai provando se as obras (não) são Suas, sinal tão
claro como difícil: é a acção activa e contemplativa da alma que, como membro desse grupo ou
uma vez corpo, se torne, por infidelidade, numa fonte sem água, numa árvore sem fruto. Será,
pois, a vida das almas, das almas com vida de Deus, que hão-de dizer: "procurámos o Senhor da
vinha, e nela trabalhámos; e o Senhor ficou contente, porque trabalhámos com ardor e por amor
ao Senhor da vinha, para que desse fruto". N. Senhor não quer servos inúteis que, ao contrário de
produzirem fruto, vão destruir o mesmo.

16. N. Senhor quer almas pequeninas, almas que trabalhem por difundir o espírito de
conciliação entre Deus e os homens. Almas que compreendam o dever do sacrifício pelos seus
irmãos transviados. Almas de Evangelho no coração, na vontade e na inteligência. Os tempos que
dão outra formação à vontade, não poderão ser enfrentados senão à sombra duma vida pura,
segura no evangelho, pronta para o sacrifício da própria vida em defesa da Fé. Isto é o que vai
mostrando o mundo no sudário triste de tantos acontecimentos(…) //2// (Mas) N. Senhor (nos)
assistirá sempre com uma graça da Sua misericórdia infinita, fortalecendo as bases da Fé, da
Esperança e da Caridade. Caridade que é toda misericórdia e amor para os próprios algozes,
filhos da ignorância e da malvadez de costumes que alimenta ódios, invejas, perseguições e
torturas às suas vítimas. O nosso espírito tem que abraçar e compreender que o espírito de N.
Senhor é o Evangelho com toda a sua sabedoria e verdade.

17. Desviarmo-nos desse caminho é não estarmos dentro do espírito da Obra, é não
cumprirmos a nossa palavra e fidelidade a Deus N. Senhor. A fidelidade é fonte de generosidade
e esta é dever de gratidão para com Deus. Ao ingrato esconde-lhe Deus a fonte das Suas graças; a
" Magnificat " no-lo ensina, cantando os louvores do Senhor! Acompanhemos o cântico da Santa
Igreja não só com os lábios, mas principalmente com o coração, com a vontade, lembrando-nos
daquela passagem do Evangelho: «nem todo o que diz Senhor, Senhor, terá entrada no reino dos
Céus, mas sim aquele que cumprir a sua lei fazendo obras dignas d'Ele». Para nós, que
conhecemos a N.S., porque não só O procuramos mas fazemos protestos de O servir, são estas
palavras, que traduzem uma sentença. Não procuremos pertencer a esta Obra porque tem o nome
de Obra e o seu fim é uma fundação; procuremos sim, conhecer e compreender, segundo a
inspiração de Deus (com) que cada uma se sentiu a ela chamada, se correspondeu ou não ao
chamamento, (ou) se também tem sido fiel e generosa.

18. Poderá dizer-se: quem sabe se tudo isto é obra de ilusão? E responderemos então:
nunca o foi aos olhos de Deus e nos seus bons resultados; nem também aos olhos dos homens (é
ilusão) seguir a voz de Deus, praticar o bem, vivermos sobretudo a doutrina da vida perfeita de
N. S., por ele mesmo ensinada e seguida pelos Seus discípulos. Não é ilusão seguir a Deus N. S.
através duma vida pedregosa que esmaga o capricho da natureza, vencendo o amor-próprio,

102
destruindo as consequências do mal, tal como víbora que envenena e é vencida na luta do mal,
com astúcia de soberba.

19. Será ilusão o fim (a) que nos dirigimos, (isto é), o duma nova família religiosa? – me
dirão todas. Pode ser. Mas como conhecer? – dirão também. Eu penso, como pensaria uma alma
pobre e ignorante sem outra luz mais do que Fé, que ensina e mostra pelas consequências do bem
que se pratica, da esperança que fala, do amor ao sacrifício que inspira maior desejo de sacrifício
e de penitência: que estas potências não poderão deixar de ser esclarecidas pela luz que trazem
consigo os acontecimentos, pelos quais a mão de Deus revela o que quer e pede de muitas
maneiras e variadas formas (e) o modo como realizar os projectos dos Seus altos desígnios. Aos
Magos, deixando-se guiar por uma estrela, foi a fé e o amor que os levou a Belém. Se não
cressem, se não amassem, não teriam esperança de descobrir na Infância de Jesus o seu
verdadeiro Deus! Nós, à imitação dos Reis do Oriente, seguindo a luz do Evangelho, vivendo-o e
procurando pelo exemplo, pelas boas obras, levá-lo ao coração dos homens, descobriremos a
Vontade de Deus e Ele não recusará naquele dia, naquela hora, naquele momento que já Lhe é
presente, indicar, mostrar o caminho, o que quer das almas que chama a Si, por estas palavras que
falam cá dentro, tão claras como o sol do meio-dia, e exprimem tão simplesmente o nosso ver na
inteligência e na própria consciência: deixa tudo, deixa-te a ti mesmo e segue-Me!

20. Foram estes os sentimentos generosos e nobres de tantas almas que, deixando-se a si
mesmas, tomaram a Cruz e subiram ao Calvário. Lá do cimo descobriram as verdades eternas nos
clarões refulgentes do amor ao desprezo e à humilhação. E sem outro leme mais que esta simples
efígie – amor, submissão em aceitar os desígnios do Senhor, obediência, crer sem ver e tendo
como palavra final as verdades da nossa Fé – caminhando passo a passo por uma vida perfeita, a
alma chegará ao compêndio seguro de ter descoberto a Vontade de Deus. //3//

21. A Vontade de Deus sempre se manifestou em todos os momentos da vida humana; mas
escondeu-se também aos que a não querem ver, para não caminharem nos espinhos que
conduzem à verdade. Todos os fundadores, com os seus companheiros, devem ter sentido uma Fé
constante, e (a meu ver) não devem ter hesitado com os seus companheiros nos sacrifícios que
Deus lhes pedia. Também (a meu ver) não os devia ter preocupado muito o temor dos juízos dos
homens sobre as obras de Deus. Não procuravam agradar aos seus juízos porque, temendo para si
próprios os juízos de Deus, se dedicavam a trabalhar na Obra de Deus, deixando a Ele só os
cuidados de sustentar a caridade com que devem trabalhar os bons servos na vinha do Senhor. E,
esperando cheios de confiança, (também) nunca se deviam ter preocupado como Deus regularia
as mesmas bases da fundação.

22. Nós também devemos trabalhar por uma vida perfeita. Imitemos aqueles que nos
deixaram luz, seguindo a N. S., dentro do mesmo fim e aspirações com que também nós
trabalhamos e nos preparamos para conhecer os seus altos desígnios. Neste abandono perfeito e
humilde, deixemos a Deus o que é de Deus. Só a Ele pertence o momento.

23. Sejamos prudentes e sábios naquela ciência da prudência (que consiste em) esperar,
confiar, aceitar sem nenhuma perturbação nem confusão que leve a desorientação na hora de
Deus. Porque Deus N. S. vela pelo que Lhe pertence e sabe mostrar o Seu poder infinito aos
homens, diante das maiores dificuldades, servindo-se de instrumentos miseráveis, pobres inúteis
e ignorantes. Seremos, neste laço de união de todas, a pobreza das pobrezas, a miséria das
misérias, a ignorância das ignorâncias, o pior que N. S. podia vir chamar para trabalhar na sua
vinha, para praticar o que ensina o Evangelho, para ser discípulos da caridade, da humildade, da
entrega total ao bem, da sujeição à caridade para com os pobres, pobres como nós, para com os
desgraçados, (desgraçados) como nós miseráveis criaturas. E assim, como de mistura com toda a
miséria e pobreza do nada, com nossos irmãos em Cristo S. N. crucificado, nos deixaremos

103
crucificar com Ele e por Ele, através de todas as vicissitudes e tempestades (próprias) de todos os
projectos da Divina Providência, para ver realizado, não o que não vimos agora nem
compreendemos, nem conhecemos para de futuro. Crer, sempre crer; e sempre viver, segundo o
que nos foi ensinado pelos discípulos do Senhor, que O seguiram e amaram até dar a vida por
Ele. Eis o caminho, a verdade e vida sem ilusão, sem engano de O seguir. Eis esta a Obra!

24. A minha pobreza e ignorância não me deixam procurar conhecer, não só por biografias
mas também por estudos de fundadores, as principais fontes donde deve brotar a Fé que me guie
e me leve segura até Deus, sem engano. Então penso assim (e) é como vejo, como compreendo a
palavra do Senhor: sujeitar-me à autoridade dos que conhecem e (a quem) cabe o dever de nos
afastar dos erros de doutrina e, numa vida sincera e simples, tranquila e leal, seguir sozinha –
com os conhecimentos que tenho das verdades da nossa Fé – sem apoio humano, os caminhos de
Deus, que são de luz para os que tudo vêm n'Ele, tudo dão por Ele e só querem Deus em todas as
coisas.

25. O respeito humano, na procura do bom juízo dos homens, rouba à nossa alma a
tranquilidade, a seguridade, dos bens de Deus. O homem, diante de Deus, é sempre, como todos
os homens, mendigo de Deus. Dando nós a Deus o que é de Deus, Ele Se dará à nossa alma, na
abundância dos Seus bens. Mas os dons de Deus não são sempre o que nós imaginamos. (Nem)
as consolações de Deus. As consolações de Deus são a paz do bom cumprimento do dever, da
generosidade, da fidelidade a Deus. Esta generosidade custa, em si mesma, a destruição do sentir
como sentir humano de procurarmos nas criaturas o que só Deus pode dar.

26. A verdadeira paz, a consolação para podermos levar a cruz com verdadeira alegria
interior, //4// só está em Deus. A alegria é o descanso da boa consciência, é o sermos pobres por
amor d'Aquele que Se fez pobre por nosso amor: é darmos tudo a todos, é darmo-nos a nós
mesmos, por uma vida perfeita não apregoada mas, à imitação de Belém, desconhecida e
ignorada.

27. É este o fim da nossa aspiração à realização duma Obra, mas para nós na paz duma vida
crucificada, de bem, tanto para os que nos fazem bem, como para os que por ignorância nos
fazem mal. É à imitação de N.S. na cruz, no Calvário e no Tabor. Sempre Ele, nunca a nossa
pessoa em nada. Viverei com Cristo S. N. na Sua SS ma Humanidade, imolando-me; morrerei com
Cristo na cruz crucificando-(me) até ao martírio da paciência, ou mesmo de sangue, como Deus o
exigir de mim. Eis a divisa das promessas para com Deus, feitas no altar do desejo, da aspiração,
de chamamento à vida religiosa. Eis o espírito e doutrina desta Fundação.

28. Se Deus N. S. nos chama a fundar, será por Ele, com Ele e só n'Ele. A divina sabedoria
do Altíssimo sopra do grande mistério da Redenção humana. N. S., que viveu e morreu por nós,
espera que, como bons filhos, O sigamos. Por isso (é) que, nos extremos de bondade infinita, Ele
vai, de porta em porta pelos corações e almas que resgatou com o Seu Preciosíssimo Sangue,
mendigar (com) aquela palavra carinhosa e cheia de dor nas dores infinitas da sua Paixão
Santíssima, (dizendo): "Se Me amas, segue-Me, mas segue-Me crucificada!" Mas quantas
queixas e recusas, quantos juízos e com quantas lamentações é discutida, (direi mesmo, porque
não sei como exprimir o que sinto e penso) regateada, essa palavra: sem delicadeza, sem doçura,
sem bondade para com Deus! Que o digam os secretos pensamentos que ninguém vê, que
ninguém ouve, mas (que) N. S. vê, (que) N. S. conhece! Então será forçado a dizer: "deixai vir a
Mim os pequeninos, porque só destes será o reino dos Céus!" Nenhuma alma estará inocente
diante das lágrimas que N. S. chorou por nós, as que estamos culpadas diante d'Ele; mas, no
grande dia da eternidade, veremos aquelas almas pequeninas, que compreenderam a voz do
Senhor e O seguiram com a generosidade e ligeireza dos Reis do Oriente guiados pela estrela do
Céu, cheias de glória do Senhor. Santa Teresa do Menino Jesus foi grande aos olhos de Deus,

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porque foi tão pequenina, tão delicada, tão infantil nas suas ofertas e trato com N. Senhor que O
prendeu à força de carícias, crucificando o seu próprio coração de virgem prudente na qual
soprou a fonte da Sabedoria divina. Bendita e ditosa entre as almas pequeninas; sigamos o seu
exemplo e, à sua imitação, sejamos profundamente humildes e delicadas, afectuosas em tratar
com a Majestade infinita do Senhor.

29. Oxalá que ao escrever o que penso, o que sinto, o que temo dos juízos impenetráveis do
Senhor, não só como Pai mas como Juiz de todas as coisas, Ele humilhe a minha soberba. Como
sempre Lhe venho rogando desde criança, (Ele) se digne não poupar o meu amor-próprio e
orgulho aos rigores da tribulação, da perseguição, do abandono dos homens, para me não vir a
perder no meio dum mundo de almas, que somos todas nós, que, arrastadas pelo orgulho,
facilmente nos deixamos cegar, sem querermos seguir pelos caminhos pedregosos e espinhosos
da Fé, (a saber): crer sem ver, amar sem temer, dar tudo sem ficar com nada para nós do todo de
Deus; amar os pobres, os desprotegidos, os aflitos, os que têm fome e choram nos seus lares sem
conforto, sem Fé, sem Esperança. Chorar com os que choram, amando ao próximo como a nós
mesmos.

30. (Por) este amor, que trouxe N. Senhor ao mundo para Se dar na Cruz por nós, devemos-
Lhe a nossa vida em gratidão, (pois são tantos) os benefícios recebidos. O espírito da O. é viver e
dar a vida, dentro do amor da justiça e caridade: o Evangelho puro, porque só dele virá a salvação
do mundo. Que Deus N. S. infunda em nós a Sua doutrina para sempre e por todos os
séculos. //5/
Consagrada à Sagrada Família
31. Em certo dia, quando um mar de tristezas invadia o meu coração, se me apresentou ao
meu espírito este pensamento. Falando com o silêncio – deste só do nosso íntimo, que se
compreende e tem um sentir mais perfeito, mais expressivo, porque ninguém o conhece senão a
própria alma e Deus – a alma diz tudo, mostra tudo e entra nos mais pequeninos pormenores dos
sentimentos e impressões da sua própria imaginação. Então, com luz clara e mais verdadeira,
fazendo o exame a si mesma e de si mesma, desabafa tudo, diz tudo a Deus.
32. Sempre me custou, numa repugnância natural, entrar na parte material da obra. Mas, se
a repugnância, muitas vezes, marca os passos, noutros casos é preciso vencê-la e não obstar à
realização dos planos da Divina Providência. Por isso, chegou o momento em que um impulso,
maior que a minha própria vontade e querer, me obriga, por consciência, a seguir aquele parecer,
dentro do dever, de que todas as coisas se organizem no momento próprio.
33. Como digo na Circular, o momento próprio não pertence a nós criaturas. Marca-o Deus.
A nós pertence, sim, "crer" e obedecer à Sua Santíssima vontade. Os Reis do Oriente creram e
seguiram a Estrela do Céu. Eu, seguindo o seu exemplo, creio na vontade de Deus e sigo pelo
caminho direito que conduz a Ela: trabalhar por conhecer essa vontade de Deus, que se irá
manifestando pelos acontecimentos, sendo esta vontade santíssima – a luz segura no meio da
minha pobreza de Belém, no meio da (minha) ignorância e desnudez de trabalhos de cultura – a
(que desejo) apresentar às minhas companheiras. Apresento, pois, a pobreza daquelas palhas
despidas onde nasceu o Rei dos Reis. Como Santa Teresa do Menino Jesus, que escolheu, para
seguir a Nosso Senhor pelos caminhos da perfeição, o presépio de Belém, a minha alma entrega-
se (também) à sua pobreza. Como N. Senhora e S. José (se) apresentam ao mundo (com) o
Divino Messias assim é apresentada, dentro deste espírito da Sagrada Família, a Obra de Deus. A
Obra de Deus nas almas, primeiramente; (depois), em Família Religiosa, esperemos e confiemos
que Deus a fará quando e como Ele o quiser, porque só Ele e mais ninguém é o Senhor e
Fundador verdadeiro das Suas Obras e Família Religiosa. Agora vamos trabalhar dentro do
espírito em que devemos viver e vivê-lo em nós.

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34. Não procurei senão, dentro da oração e do Santo Sacrifício da Missa oferecido muitas
vezes, que Nosso Senhor me concedesse a graça da Sua luz, para passar para o papel tudo o que
se me impunha por consciência dizer. Então, como explico no princípio desta Circular, quando
precisamente me parecia, num certo momento, que a minha vida estava mais preparada e disposta
para descer à sepultura pelos abalos sofridos, do que ter vida para lutar, nessa altura desceu à
minha alma um pensamento que, levantando o meu espírito de repente, como uma luz que
focasse em noite escura e mostrasse o caminho, tomou todas as minhas potências da vontade
como quem vai para ouvir e escutar uma voz estranha que pede respeito e acolhimento. Ouvi
então a voz da minha consciência, onde fez eco pela luz do caminho, que me travava dizendo:-
Confia em Deus. Levanta o teu espírito e crê. Deus nunca faltou aos que n'Ele puseram toda a sua
esperança. Mas para teres confiança, não te apoies nos homens. Vai, levanta o dinheiro e Deus
virá dar-to na medida em que Lhe deste a tua confiança.

35. Não é esta ainda a ocasião própria para deixar aqui, por escrito, o que foram os dias de
amargura daquelas obras para pôr a casa de Deus limpa, como Deus manda e (o) aconselha o
dever de honrar a Sua real presença sacramentada. //l//

36. Obedeci àquele pensamento que falava à minha consciência. Cheia de confiança em
Deus, depois de ter pedido esmolas, depois de derramar lágrimas, de sentir aos pés de Deus toda
a sorte de abalos morais pela incompreensão dos acontecimentos que se faziam suceder uns aos
outros, o meu espírito é levantado. Como ao afogado no mar alto da tormenta se fizesse
aproximar um braço salvador que o tirara da morte à vida, assim a minha alma, nesse momento,
me deu vida para entrar no caminho do dever de olhar e tomar à minha responsabilidade a parte
material da Obra na sua direcção de organização. Não de interesses pessoais, não de procurar
riquezas – porque Deus N. Senhor me ensinou na pobreza a ser pobre – mas de meios
necessários, na paz e tranquilidade dos que não tendo nada tudo esperam de Deus, como Ele nos
ensina no Evangelho, dizendo: "Procurai primeiro o Reino de Deus e tudo o mais vos será dado
por acréscimo". Não é de riquezas que Deus fez o seu Reino, mas de grandezas do Seu amor,
pois vive de esmolas para os Seus templos como pobrezinho na Sua Santíssima Humanidade,
continuando a pobreza de Belém.

37. Nosso Senhor pede-nos, pelos lábios dos pobrezinhos, de comer e de vestir, para nos
dar ainda o prémio da mesma esmola: "tive fome e deste-Me de comer, estava nu e vestistes-Me."
Também o que for dado em nome de Deus e por Deus, voltará a ser retribuído, porque Deus Se
dará a Si mesmo em recompensa. A Obra (está) entregue à Divina Providência, à Sagrada
Família. Será ela quem há-de velar, quem há-de dar a abundância dos bens de Deus. Será a
Sagrada Família, com os dons da Sua divina Providência (e) também (…) com os bens da infinita
bondade e sabedoria da sua misericórdia, que há-de cobrir os bons, os generosos e chamar a Si os
que hesitam, os que não crêem, os que perseguem, os que caluniam, os que fogem e os que
julgam.
38. Por isso, debaixo dos mesmos tetos da Belém da Obra, se encontra, neste dia e a
começar deste tempo, a preparação ou seja a fundação da Caixa do Fundo da Obra, com assento
de entradas e saídas da receita da mesma – no (próprio) lugar onde Deus nos reúne debaixo do
Seu divino olhar e no qual nos reunimos sempre que nos encontramos aqui, desde todo o
princípio da fundação do nosso grupo. A Caixa será assim organizada (como) "Caixa da Divina
Providência sob os auspícios da Sagrada Família", a quem fica a pertencer, para que nos forme e
ensine no espírito de pobreza. As condições são estas:
- Haverá um livro de conta corrente, no qual se darão as entradas e saídas.
- Não terá nomes de quem dá.
- Nem de quem receba do mesmo fundo da Obra.

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- Nem será explicado, no mesmo, para que fim foram as saídas. Se for esmola que saiu, fica
«Esmola saída». Mesmo como esmola saída, ficará sempre o direito de indicar-se, segundo a
prudência e necessidade de ocasião, substituindo-a por retirada.
- Não está obrigada a casa, onde se funda a Caixa da Providência, a mostrar o livro, senão
quando assim o entender e por motivos justificados. Porque, desde que é dada a esmola ao
Fundo, não podem, dentro do espírito de pobreza, pedir-se explicações; ou entrar dentro do que
pertence à responsabilidade (por consciência) da que a possui diante de Deus. Quero fazer
compreender (com isto): esta Caixa entra na posse dum dever sagrado (para a nossa consciência e
membros da Obra) pelo qual se compromete, de futuro e no presente, responder por ela diante de
Deus a alma que fôr obrigada a administrá-la. Portanto não se trata aqui de pessoas; trata-se de
quem se comprometeu diante de Deus, no íntimo da sua consciência, seguir a Obra de Deus.

39. Fica pois fundada aqui a Caixa da Divina Providência. Não por ser aqui, mas porque
terá de ser onde N. S. escolheu e tem mostrado, por certos casos e acontecimentos, que o
indicado deve ser onde está o fim e o princípio da Obra, como até este momento, sem duvidar, N.
S. o vai indicando. Assim, depois dum tempo de prova e de igual experiência, (depois de)
exposto e consultado, (depois de) confirmado pela própria autoridade que Deus nos manda ouvir
e seguir, ficou assim determinado. Quero dizer não me move ou leva a isto outro fim, senão
aquele que por tal motivo me pedem contas diante //2// de Deus. Como conhecem do meu sentir,
traduzido por factos por vezes muito concretos e claros, a minha alma, quando lhe parece ter
ouvido a voz do dever, não pode demorar-se sem avançar à frente, sem receio de outros juízos e
temores senão os do Divino Juiz. Nem vale a pena ceder aos gemidos da natureza, porque esta só
causa abandonos e desamparos, expiação do nosso sentir pelas criaturas fugindo ao sacrifício por
Deus. Também depois de longos anos passados a vencer certas repugnâncias, como esta de tomar
em minha consciência a parte do fundo da Obra, agora não sou eu quem vou (por vontade) ao
encontro desse caminho e dessa esmola. Vou, porque o dever de seguir conselho e a voz da
consciência me obrigam diante de Deus. Deus seja louvado, não no gosto, na consolação, mas
sim na tribulação, no desagrado das criaturas, na fidelidade a Deus pelo cumprimento do dever.

40. Aquele pensamento – que eu falava ao só das minhas potências, à própria vontade que
tinha de determinar-se sobre todos os pontos, mostrando-me o dever, aconselhando a pobreza, a
procura dos dons de Deus – também me mostrava a fraqueza e miséria das nossas misérias e
então seguisse aquelas palavras: Deixa que todos te deixem na prova, na pobreza, no abandono,
porque só Deus basta! Deixa que julguem, porque só Deus vê e vê sem julgar como os homens!

41. Deus nas Suas obras é Ele quem recebe, quem dá. Deram-Lhe por amor, receberão por
amor; não Lhe é dado por amor e por generosidade, na mesma medida ser-lhes-á dado. Dá a tua
vida e a tua humilhação por amor, e Deus te recompensará dando-Se a Ele mesmo na medida que
é d'Ele o que pedes. Dei, quando das obras para limpeza e asseio do lugar sagrado da Sua
habitação, tudo quanto pude dar de mim mesma e quase a própria vida. Cumpri um dever. A
Deus abandono também, numa entrega total, não só o fim como o princípio de todas as coisas
para a realização desta Obra.
42. Nestas bases é fundada a Caixa da Divina Providência, sob os auspícios da Sagrada
Família. Que Deus N. Senhor, não só nos faça compreender os Seus caminhos mas também ser
dóceis à Sua voz, sem a discutir, nem buscar desculpas, nem atenuantes, filhas do nosso sentir
imperfeito e, por vezes, baseado em amor-próprio e soberba. Deus N. S. diz-nos, mostrando-o
por tantos prodígios da Sua Omnipotência divina, que se esconde aos grandes, revelando-se aos
pequeninos. Deus N. S. foge do soberbo para se dar aos pequeninos, àqueles que não ousaram
chamar seu ao que era só propriedade de Deus. Também, no espírito desta Obra, ai de nós, se
vamos tirar a Deus o que é de Deus, chamando-lhe Obra nossa feita por nós.

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43. Servos de Deus pobres e pequeninos, trabalhando com cabeça inclinada para a terra, em
atitude humilde própria e devida à Majestade divina, será este o nosso lugar e (o) fim e princípio
das nossas acções. Ao soberbo, Deus o arremessará da sua presença divina, porque sendo servo
inútil, este não poderá dar-Lhe glória, chamando-a a si próprio. E então, (uma vez) fora do
espírito em que devemos todos trabalhar e reunir-nos à volta da mesa do Senhor, nos expulsará
da Sua vinha, para nos dar o pão da dor, o pão da expiação, que merecemos pelas revoltas da
nossa soberba, pela espírito da inveja, da ambição, do louvor e de tudo o mais que leva à ruína e
destruição das verdades da nossa Fé.

44. Se me encontram em erro, no que fica aqui dito por sentir meu, da minha alma, da
minha consciência, dentro do dever de me mostrar tal como sou dentro e fora da minha pessoa,
procurem os que conhecem e são depositários dos conhecimentos da verdadeira doutrina do
Evangelho e eu me curvarei reverente e em paz aceitarei o que disserem. Só quero, com tudo isto,
dizer que o espírito e compromisso para com a Obra são dentro destes princípios que exponho.
Saíram-me da alma. É isto que eu vivo. É isto que aconselho. É isto mesmo que rogo
constantemente a Deus: - Senhor, fazei que eu viva o que aconselho! Senhor, fazei que eu seja o
que Vós quereis que eu seja! Sempre e em tudo a verdade da nossa Fé: cumprir a Lei de Deus
dentro da verdade, da justiça e da caridade. //3//

DIA DA PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA.

45. Neste dia, que tanto fala à nossa alma, procuramos honrar (Nossa Senhora) mandando
celebrar a Santa Missa (em seu louvor e por sua intercessão) para que (o Senhor) Se digne
conceder-nos todas as suas graças. Ela, que se apresentou às leis da purificação quando
puríssima, nos ensine a obediência e humildade. Assim, diante do Seu exemplo santíssimo,
seguindo o Seu divino modelo, também nós aceitaremos os caminhos do Senhor.
46. Sem poder esconder ou ocultar a primeira linha directa a seguir, quem faz as reuniões
será a alma que tem administrado a caixa, fundo da Obra, fruto de sacrifícios de trabalhos da
"Edição Vita". (Será ela) quem vai, nesta reunião, falar e indicar por esta circular que, doravante
ela, entrega hoje diante de todas tudo o que possuía, como delegada administrando. Para nos dar
o exemplo que nos deve edificar, faz a entrega de tudo, não a mim apenas, a minha pessoa. O
mesmo mandato recebi eu pelo sentir de consciência que a tal me obriga de ficar a administrar
em nome da Obra.

47. De futuro fica assim: Aqui, todos os depósitos; e, na medida em que for necessário (a)
qualquer alma, (ou) mesmo para as "Edições Vita", qualquer coisa muito necessária, serão assim
redigidos os pedidos a fazerem: "pedimos a esmola de tanto ou quanto, para esta despesa a fazer".
Mesmo que seja para viagens, para compras de papel, (para) tudo o que seja ou indique retiradas
de dinheiro, ou também entradas como esmola, tudo tem de ser com a indicação: "pedimos a
esmola de tanto para esta ou aquela despesa."

48. Assim, dentro deste espírito, faremos dentro das nossas almas o primeiro passo para
entrarmos na humildade, tão necessária ao espírito de pobreza. Haverá alguma coisa estranha por
parte da natureza, haverá mesmo pensamentos muito variados, haverá mesmo juízos muito
velozes que, na sua giração pelos escaninhos do coração, lhes porão em frente aquela alma que
tomou a resolução que (aqui) expõe. Mas quero prevenir de que esses pensamentos, quando
vierem, se tiverem entrada será sinal de que estamos ainda fora do caminho e do espírito que aqui
se explica. É vencê-los. E se os não quisermos vencer somos livres, mesmo muito livres para
seguirmos outro caminho. Mas cuidado com a tentação!

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49. Aqui, ao escrever, sou a última de todas, aquela alma que há 29 anos luta e sofre. Mas
não sofro na minha alma, porque sempre gozei de paz. Na paz descanso, sem que os juízos ou
impressões tenham vencido entrada. Dentro da alma, a qual devemos considerar e respeitar, se
encontra o tribunal da verdade, o mais sagrado, onde Deus N. Senhor deve habitar e (onde) virá
pedir, no julgamento, as contas de que Lhe estamos sendo devedores.

50. Generosas em tudo, sigamos o exemplo daquela alma que vai nesta reunião ler e
entregar diante de todas o fundo, declarando por estas palavras: "Delegando-se na minha pessoa,
até esta data, a administração (e) a aplicação do fundo da Obra, dos benefícios usufruídos dos
trabalhos com as "Edições Vita", sempre dentro do espírito de aceitação e submissão ao que me
era indicado, quanto à sua aplicação e despesas necessárias, é hoje da minha vontade e parecer,
segundo as indicações que recebemos, que fique hoje fundada a parte material da Obra e sua
administração, no local onde nós pensamos ou consideramos nasceu a ideia da mesma, o que nos
propomos acompanhar até que N. Senhor mostre por todos os acontecimentos e formas ser a
realidade dos Seus desígnios. Será, assim, por este caminho, que corresponderemos ao fim e
compromissos dos nossos desejos e aspirações para com Aquele a quem nos propomos seguir
dentro do espírito que nos é explicado." //4//
2 de Fevereiro de 1946.

13 DE FEVEREIRO DE 1946

51. Regras de pobreza, que vamos oferecer à Santíssima Trindade para que desça sobre nós
a luz fecunda do Seu Santo Espírito, que desça sobre nós a fonte do Sumo Bem, que foi toda
amor, misericórdia e caridade. O que vamos aqui dizer é apenas conselho; não é uma ordem, nem
imposição, nem obrigação; é, sim, uma devoção, é um apelo a bem nos formarmos num espírito
mais perfeito. É não termos só o nome, mas sim as obras do mesmo nome. Não é para sermos
árvore frondosa à vista de todos e sem fruto, mas (para) sermos o fruto da árvore bendita de
Deus. É (para) sermos dignas do nome do bom servo que dá a vida pelo seu Senhor. É (para)
sermos, em suma, bom e fiel filho da Santa Igreja, bom cristão como os primeiros cristãos. É
(para) sermos em tudo o modelo da verdade vivida e praticada, é (para) sermos o alabastro dos
perfumes da humildade e santidade que Deus Nosso Senhor nos ensina no Evangelho, pela Sua
pregação, pelo Seu exemplo, pelo Seu esforço, pela Sua Cruz de Redenção. É (para) sermos
discípulos do grande Mestre da Vida, do Rei dos Céus.

52. 1ª.- Regra a seguir:- Se somos filhas família e temos obrigação de ganhar para os pais
e irmãos, podemos empregar todos os meios para lhes suavizar (a vida) e ajudar em todo o
necessário. Isto, por um princípio de caridade, seguindo o primeiro mandamento: amar o próximo
como a nós mesmos. E o próximo mais próximo do nosso dever, como preceito de caridade, são
os Pais e irmãos, diante dos quais temos a dar o melhor exemplo. E se o damos a estes em
primeiro lugar, também deste dever cumprido damos exemplo ao próximo.

53. Como devemos entender esta primeira regra:- Se temos negócios, não podemos nem
devemos sair das praxes que manda a lei em vigor; quer dizer, não ir além das tabelas marcadas
em preços.
Se os negócios forem dos Pais, nós, dentro da nossa regra, temos de mostrar, com o devido
acatamento pela autoridade que representam para nós, que não queremos ir contra as suas ordens,
mas com esta clausula: mostrar-lhes que era mais religioso, mais lícito, mais cristão, não ir além
do que mandam as leis. Mas se eles ordenarem, nós obedecemos cegamente, sem julgar dos Pais,
mas pedindo a Deus N. Senhor, para as suas almas, a luz do que seja mais perfeito neste sentido.
O que ficamos obrigadas pelas nossas regras, é, nem ajudar com a nossa palavra, nem com a
nossa vontade, a serem auferidos lucros ou aumentos de fortunas à custa dum negócio menos

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lícito para as nossas regras, que hoje, mercê de Deus, debaixo dos auspícios da Sagrada Família,
aqui deixamos ao coração de irmãs, explicando conforme nos veio ao nosso sentir, depois de
tanto tempo ter suplicado a graça da Sua luz. Esta parte diz respeito aos Pais, os únicos a quem
temos por obrigação obedecer e, na falta destes, àqueles que estiverem no seu lugar e que fossem
uma autoridade para nós, como em nos sustentar, em vestir e calçar, porque só nestas
circunstâncias estávamos obrigados a obedecer. Mas obedecer, debaixo da condição que aponto,
não é ajudando a fazer negócios dessa ordem; mas é, por obrigação, ter de transmitir ordens em
nome dos próprios a quem devo obrigação, pelo que em todo o sentido representam para mim,
um dever de não poder faltar. Esta parte é enquanto a negócios.

54. Enquanto aos ordenados recebidos ou sua maneira de os angariar, podemos procurá-los,
ainda mesmo que não tivéssemos necessidade deles para nossa sustentação ou vestuário.
Como aplicar estes ordenados? Da seguinte forma: Entremos dentro da nossa alma,
coloquemo-nos na presença de Deus e digamos: - «Senhor, o que eu tenho é Vosso. Como
quereis Senhor que eu faça?» Então ouvirá cada uma de nós a voz da sua consciência e aplicará
como quiser. Mas dentro desta obrigação: - Mensalmente tem de dar uma nota de como é que
aplicou todos os rendimentos de que dispôs durante esses trinta dias. Também tem de se explicar
quais os sentimentos que a levaram a dar a este ou àquele necessitado, ou a esta ou àquela pessoa.
Isto tem como princípio examinar as mais pequenas coisas do nosso espírito, se damos dentro
daquelas regras da caridade, da compaixão, da misericórdia e da bondade, que formam as almas
dentro do seu verdadeiro espírito para com Deus e para com o próximo. É para que demos com o
coração e não com a inteligência, com a razão de que dar é dar. //1// Dar, é dar a Deus nas
palavras, nos pensamentos, na caridade, na gratidão, no reconhecimento pelos que nos fazem
bem, pois merecem de nós essa acção de graças. N. Senhor é a perfeição da gratidão, do
reconhecimento, ensinando-nos: - "Tudo vos será dado em acréscimo."
Eis a razão da explicação de tudo que diz respeito a esta primeira regra.

55. N. Senhor, que assiste a todos os nossos actos, Ele que é a inspiração dos nossos
desejos, quando santos, é o juiz justo dos juízos. Por isso (é) que dizemos assim: - «Senhor, que
quereis que eu faça? Como quereis que eu distribua os meus bens? Eu os quero dar em Vosso
nome e para Vossa maior glória». N. Senhor não deixará de ouvir esse gemido da alma, esse grito
de fé e de amor. A nossa alma, enfraquecida pela infidelidade, é como o ser que, querendo
levantar-se, a sua fraqueza não (o) deixa; e então procura, só com o pensamento, enviar os seus
desejos. Como o passarinho que lança os seus primeiros voos volta a cair desfalecido, assim pode
a nossa alma ter belos pensamentos, grandes desejos e aspirações, mas se não está bem forte em
alicerces bons e de humildade, cai, desfalece. (Não é) que Deus a deixe da Sua Mão, mas não
pode voar mais alto, que é o mesmo que dizer que não chega a compreender o que não conheceu.

56. As riquezas infinitas que encerra no Coração Santíssimo de Jesus a caridade, são fontes
não só de luz bendita mas de paz e de doçura. Não só na nossa vida como na nossa morte, nos
hão-de revelar aquela virtude altíssima do Cordeiro Imaculado. Todo o Seu Coração Divino foi
um manancial de graças. Toda a alma que forma o seu coração nesse Coração Bendito, Santo e
Imaculado, se tornará com Ele um manancial de amor, de compaixão e de bençãos para com os
filhos de Eva, para com os pobres, os desamparados, os humildes e simples de coração puro.
Assim se compreende o bom discípulo, o bom servo, o que se faça mestre de todos pelo exemplo.

57. Estes pensamentos são para mostrar o fruto da caridade. 14/2/1946 Se, na nossa alma,
não brotam como da boa terra que o semeador Divino saiu a semear, para dar fruto para a vida
eterna, se não virmos em nós a abundância do amor de caridade e de compaixão, podemos crer,
sem duvidar, que a terra ainda não só não está preparada, mas nem é fértil e sofre à mingua da
falta de propriedades necessárias para dar bom fruto. Essas propriedades, (dependem de) formar
o nosso coração no amor ao bem, ao bem de todos. Isso explica Evangelho que, quando o Bom

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Semeador saiu a semear, uma semente caiu em boa terra, outra não, e alguma caiu nas pedras. As
pedras, para nós, representam aquela inteligência que, vendo segundo a sua própria opinião, se
amarra (a) razões humanas e por estas se deixa não só levar mas guiar. (Por isso), em todas as
suas acções e juízos, não pode produzir frutos de santidade para a vida eterna. Nós, que nos
propomos dar a nossa vida para que Deus N. Senhor semeie o bem – por intermédio do sacrifício
e renúncia à nossa vontade e aos nossos gostos em favor dos nossos irmãos em Cristo Senhor
Nosso – temos de ver como está preparada a seara da nossa alma e como deve ser preparada. Por
isso nos deve levar a formar a nossa pessoa.

58. 2ª. Regra: - É permitido aos membros deste grupo, enquanto estiverem no mundo,
procurar todo o ramo de negócio ao seu alcance, para sua própria sustentação ou de pais, irmãos e
pobrezinhos. Portanto podem tomar todo o ramo de negócio; mas dentro das leis da consciência e
de carácter honrado, nobre e distinto. Honrado, isto é, ter palavra, ser sério nos seus contratos e
não desviar-se das leis da consciência, nunca indo além do que está estabelecido, também pelas
leis. Nobre, isto é, sempre com nobreza de princípios duma alma boa, de consciência segura,
dando a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, nunca querendo nada que não possa
aparecer límpido aos olhos de todos. Distinto, isto é, sempre com distinção em tudo, que marque
em nós e para sempre aquele lema: é pessoa cristã em tudo. Isto, para que não nos suceda como
N. Senhor mostrou, ao correr os vendilhões do templo com azorrague: aqueles que não procedem
com consciência recta e distinta, profanam o templo do Senhor, da SSma Trindade em sua
alma. //2//

59. A forma de prestar contas a quem competir recebê-las. Mensalmente, dão-se contas
da forma como distribuímos os nossos rendimentos: quanto demos aos pais, aos irmãos, a
quantidade em dinheiro ou em vestuário ou em alimentação; quanto demos aos pobres em
vestuário, em dinheiro, em alimentação. Vestuário, se era novo ou usado.
Também explicar a procedência do rendimento: se foi oferecido e por quem. Sendo pessoas
conhecidas ou desconhecidas nunca é preciso o nome. Só se são sacerdotes ou freiras, (ou seja
quem mais for). De todos, não são nomes próprios que se pedem; basta dizer se foram os pais,
irmãos, pessoas conhecidas, pessoas desconhecidas.
Além disso, quais os fins com que ofereceram ou intenção, se no-la confiaram.
De forma que não devemos possuir, nem distribuir (a outros), nem aplicar a nós mesmas,
seja em remédios seja em alimentos, seja em vestuários, seja em viagens, seja em distracções,
sem que ao fim do mês se dê conta de tudo. Não quer isto dizer que se coíbam de fazer não só
todas as suas despesas necessárias, tomar os seus recreios permitidos. Mas dar explicação da
qualidade de recreios, os quais devemos fazer sempre dentro dum espírito de verdadeiros templos
de N. Senhor, desde que nos propomos, as que quiserem seguir perfeitamente o espírito da Obra,
diante da Sua Divina Majestade, segui-Lo através de todos os sacrifícios. A nossa alma deve ser
um sacrário respeitado e, pelo exemplo, impor-se a alma ao respeito dos outros.

60. Unicamente ficamos a prestar esse dever de dar contas mensalmente, para assim
vivermos e nos formarmos no espírito de santa pobreza. A não ser dos Pais e irmãos, não se fica
obrigado a dar conta doutros quaisquer nomes de quem nos tenha presenteado, conforme vai
indicado. Não indica, este espírito de pobreza, que cada uma não ande dentro da sua condição,
convenientemente bem posta, digna do seu nome ou da sua família. Aconselha-se a não haver
excesso, tanto na variedade como na maneira de adornos; como também que se vista sem reparos,
tanto na altura dos vestidos como não sejam transparentes ou excessivamente cingidos. Em tudo
a maior modéstia, recato e decência.

61. É preciso ver que a alma se encontre sempre dentro daquele dever de estar pronta a
ouvir a voz de Deus, a qual não pode fazer-se ouvir onde predomina a vaidade, o bem parecer, a
necessidade ou fome de louvor. O Divino Espírito Santo não pode dar o dom da Sua luz onde

111
existem trevas, as quais nós procuramos pela nossa maneira de ser e de fazer, não reconhecendo
que Deus está presente e nos quer dar os seus dons. Nós (é) que Lhe fechamos as portas.

62. Que seja nosso modelo a SSma Virgem como Rainha do Céu, modelo da santa modéstia
e de todas as virtudes diante das quais se curvam todas as gerações desde os reis aos pobrezinhos.
Ela também estará olhando para as nossas promessas. Nem sempre poderá atender aos nossos
rogos quando não podemos dizer, à sua imitação: «eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim a
Sua santíssima vontade». E a vontade do Senhor é que sejamos exemplo e modelo. Nos tempos
que correm, o erro que grassa é de fazer do espírito da Igreja um certo comodismo de intenções,
na maneira de se fazer proceder. É como diz o Evangelho: ser sepulcros caiados de branco por
fora e negros por dentro!

63. "Edições Vita": Concedendo N. Senhor a inspiração de o nosso grupo ter uma forma de
levar ao conhecimento e alma do nosso próximo e irmãos em N. Senhor uma boa propaganda,
por meio de publicações próprias ou pedidas, (seja) no presente ou seja de futuro, fica assim
organizada a sua maneira de fazer:
- Deve existir a sua conta corrente, com os seus mais pequenos apontamentos, tanto de
despesa como de receita, especificando-se todas as percentagens a que houver direito, dentro da
boa consciência e rectidão de carácter.
- Devemos considerar que as "Edições Vita" são propriedade da Obra
- Nela, (por isso), todas devemos trabalhar dentro do dever de ser membros da mesma,
sacrificando-nos (nisso) como diz N. Senhor: «ganharás o pão com o suor do teu rosto». As
Obras de Deus pedem generosidade, sacrifício e boa vontade. Por isso, todos os membros desta
Obra, seguindo o Evangelho, terão de trabalhar, em todos os seus ramos permitidos, "com o suor
do seu rosto".
- Este livro de contas correntes existirá nas sedes (locais) onde for feito o trabalho de
qualquer edição; e, mensalmente ou quinzenalmente ou oitavamente, será enviada (à sede
principal) uma folha com a nota de despesas e percentagens, conforme for indicado da sede onde
está fundada a caixa.
- Haverá nesta (sede principal) o livro que recebe //3// a nota mensal ou quinzenal ou
oitava, para onde serão passadas as contas remetidas. Nesta sede onde está fundada a caixa,
fundo da Obra, é onde (se) recolhe o capital e donde sai para as despesas. Também é esta sede
onde está fundada que decide do capital a empregar nas mesmas edições.
- Cada membro de que é composto o conselho de responsabilidade das Edições, por sua
vez,
+ terá o seu livro de conta corrente, no qual tomará nota de tudo, sempre igual ao que for
lançado no livro de conta corrente na sede geral onde funcionarem os trabalhos da Edição
+ e cada membro, por sua vez, mandará à sede onde existe o fundo da Obra, uma nota do
movimento, não só das despesas como das percentagens. De cada membro virá mensalmente essa
nota; da sede onde funcionem as edições é que tem de ser enviada à Caixa fundo da Obra, não só
mensalmente mas semanalmente. Esta nota pode ser enviada por qualquer uma do conselho ou
direcção das Edições pois ficam todas incluídas como um só membro. Em nome da sede das
Edições é que tem de vir a " nota," todas as semanas enquanto que cada membro da Direcção a
mandará mensalmente para dar contas, se tem em dia o seu livro de contas. Aquele membro que
for mais escrupuloso neste cumprimento do dever que lhe é aconselhado, dará provas de, no
futuro, saber administrar as obras de Deus.
+ Todas as dificuldades que surgirem no cumprimento das regras, em tudo que aqui fica
explicado, serão resolvidas por quem as escreveu e levou ao conhecimento de todas.
- Membros da Direcção das Edições Vita:
Maria Amélia de Lemos Santos
Maria Virgínia Lobato Guerra
Guilhermina Vasconcelos e Sousa

112
Maria de Jesus Athalaya
Maria Carolina Rebelo de Andrade
Maria Eduarda Vaz da Silva
Maria Bruna Athaíde //4//
******

64. DEVOÇÕES DURANTE A QUARESMA


2ª.- feira Magnificat
3ª.- feira Miserere
4ª.- feira Sete glórias em honra de S. José
5ª.- feira Ladainha do S. Coração de Jesus
6ª.- feira Via-Sacra
Sábado Stabat Mater
Domingo, reunir todas as devoções como hora de desagravo e reparação ao Coração de
Jesus.
- Em caso de impossibilidade de fazerem estas devoções, podem as mesmas ser substituídas
por 7 Avé Marias diárias em honra das dores de N. Senhora.
- Oferecimento das horas durante a Quaresma.
Seria para louvar que pudéssemos acompanhar as horas do dia, oferecendo-as com igual
devoção; mas, na impossibilidade de se seguir esta devoção, passa a ser um só acto de
oferecimento, uma vez por dia, em união com todas as horas de dor de Nosso Senhor na (sua)
Cruel Paixão, em satisfação à Justiça Divina, por todos os pecados do mundo.
- As regras entram a cumprir-se no dia 25 de Março, dia de Nossa Senhora, pedindo a Sua
benção. Assim como N. Senhora (então) Se ofereceu para ser a Mãe de Deus, assim a nossa alma
(agora), aos Seus Santíssimos Pés, se oferecerá com Ela e por Ela, nas dores do Seu calvário de
amor, em nome do Seu Amado Filho, ao Eterno Pai, como escrava do Senhor. Assim, honrando-
A e louvando-A no Coração Imaculado de Seu Divino Filho, continuaremos no Seu Puríssimo
Coração de Mãe a Sua Obra de Amor, dando-nos a Deus em dádiva de amor também, à Sua
Divina Justiça cheia de misericórdia; então diremos para sempre: Eis aqui a escrava do Senhor,
faça-se em mim, para sempre, a Sua SS. Vontade. //1//
II de Março de 1946

65. PROJECTO DE REGRA


sob os auspícios da Sagrada Família
O momento presente parece indicar que chegou a ocasião de traçar um regulamento,
provisório na sua forma, fruto de 22 anos de reflexão e agora proposto a todas as almas que
fizeram a sua consagração diante de Deus, de Sua Mãe Santíssima e de S. José. Que todas o
aceitem com a simplicidade dos pequeninos, suplicando ao Senhor desprendimento de tudo e
abandono total a Deus. É no quadro da Sagrada Família que iremos encontrar o que falta à nossa
formação espiritual. Digne-se Ela encher-nos do Seu espírito de humildade, de caridade, de
paciência, de obediência e de mansidão.

66. Iº.- Humildade - As almas chamadas a observar esta regra, renunciam à sua liberdade
nos pontos seguintes: Não tomarão nenhuma decisão exterior sem a devida autorização. Esta
submissão não impede de modo algum que exponham com simplicidade, verdade e humildade os
obstáculos ou dificuldades que tenham. (Mas) aceitem-na sem discussão. No caso de não
sentirem forças para tanto, que se separem do grupo e continuem fora a imitar as de dentro,
naquilo que estiver de harmonia com os seus deveres.

113
67. IIº.- Caridade - Caridade para connosco, para com o próximo. Para connosco,
imprimindo em todas as nossas acções esta verdade: a nossa criação à imagem de Deus.
Respeitemos na nossa pessoa a alma, pela delicadeza de maneiras, de olhares, exigidos pela
pureza da nossa alma. Caridade que eduque os sentimentos pessoais e espirituais formando numa
humildade profunda os movimentos da inteligência e do coração. Para com o próximo,
lembremo-nos que ele, como nós, foi criado à imagem de Deus.

68. IIIº.- Paciência - Regulemos todos os nossos pensamentos e sentimentos para obter
uma paz muito íntima e assim ouvir com prontidão a voz de Deus. Habituemos a nossa razão a
ver tudo com muita calma, sem contudo lhe tirar a acção. Sofrer com os que sofrem, e suportar as
suas fraquezas, que tantas vezes são também nossas. Ela vencerá em nós todas as revoltas da
nossa má natureza e suportaremos melhor as misérias alheias. Sem isso, teremos desejo no
coração mas impaciência na alma, sem produzir o fruto da verdadeira caridade cristã.

69. IVº.- Obediência - Em tudo: nos pensamentos, desejos, aspirações e acções, por mais
insignificantes que sejam. Obedientes, como N. Senhor até à morte de cruz na submissão plena a
Seu Eterno Pai.Com este fim, vejamos a Deus presente em tudo o que fazemos, pensamos ou
dizemos. Não vivendo o espírito de obediência, como poderão estar sujeitas à alma as potências
inferiores? Governar-se-ão por si mesmas. //1//

70. Vº.- Mansidão - Mansidão de coração, que regule todos os movimentos da alma e lhe
comunique espontaneidade para todos os sacrifícios. Sem a mansidão não haverá o apostolado da
caridade perfeita. Só ela poderá moderar os impulsos imperfeitos do carácter e lhe comunicará
zelo pronto e perseverante, com as luzes da graça. A alma então não se perturbará; trabalhará e
lutará sem ficar presa pelas tendências rebeldes da natureza humana.

*****
71. OBSERVAÇÕES
- Obediência:- Abraçá-la com espírito de Fé e amor. A alma que deseja obedecer a todos
os movimentos da graça deve submeter-se à autoridade. Glorificaremos a Deus e edificaremos as
almas. Por isso: a) - Fora dos deveres da família, ninguém tomará encargos de responsabilidade,
sem o devido conselho e obediência e depois de ter exposto tudo com muita clareza. b) - Não
dispor de dinheiro, nem mesmo de esmolas, de certo vulto, sem a obediência de quem de direito,
excepto no caso de obediência à família. Ao dar as esmolas, lembrem-se das Almas do
Purgatório; sufragá-las é um dos fins desta Obra.
72. Caridade:- Caridade nos pensamentos, palavras e juízos ao falar do próximo.
Compadeçamo-nos das aflições do próximo. Choremos com os que choram, consolemo-los e
alentemo-los nas suas penas e dores. Visitemo-los na doença, falemos-lhes de Deus e rezemos no
nosso coração pelas suas almas. Devemo-nos visitar como irmãs, sobretudo na doença e nas
provações. Guardemo-nos porém de entrar na consciência de cada uma. Santifiquemos as nossas
conversas.

73. Relações - A fim de levar os corações à pureza e à humildade, observarão a maior


discrição e modéstia em casa, em sociedade, com relação a pessoas de diferente sexo e sobretudo
com sacerdotes. Seja o nosso olhar simples e nada afectuoso; puro no seu zelo e cândido na sua
singeleza. Afastemos tudo o que possa, mesmo ao de leve, perturbar a pureza da alma, os afectos
do coração e o sentir pelas almas. Evitemos, neste particular, os caprichos tão escondidos, muito
embora bem intencionados, do nosso pobre coração. Que o nosso exterior não se saliente nem
pelo desleixo, nem pela afectação. Procurar no Sacerdote, não a pessoa, mas a Deus. Fugir de
toda e qualquer familiaridade e intimidade, sempre portadora de imperfeições e de perturbação

114
para a alma. Humildade e respeito. Seremos sempre servas de Deus, sem buscar nunca
consolações e complacências pessoais. Muito cuidado nos afectos nas maneiras e aberturas de
alma, lembrando-nos que os afectos do nosso coração são sempre traiçoeiros e trazem consigo
gérmens de morte, por mais que se sobrenaturalizem. A nossa vocação é a morte da sensibilidade
e a renúncia ao agradável. As tempestades dos tempos que correm, exigem almas fortes na
virtude, na renúncia a toda a criatura, sem apoio em ninguém, nem sequer no confessor; almas
fortes na luta até ao martírio...Ver as almas em Deus e Deus nas almas. Aconselhar as almas para
o bem, não nos imiscuindo nunca nos assuntos que são da alçada do confessor. Com pessoas de
estado //2// diferente do nosso, muita caridade, discrição e prudência, nos casos que lhe são
próprios. Lembremo-nos da nossa fraqueza em frente do que é frágil...

*****
74. Exame diário:- A seguir vêm descritos, com bastante minúcia, os diferentes pontos de
exame sobre as virtudes atrás mencionadas.
75. Regulamento para o dia da reunião:- Neste parágrafo, tratava do modo e pontos a
estudar nas reuniões e cada mês //3//

Nb. O ( G - 7 ) é constituído apenas pelo rascunho manuscrito, e tem como fim declarar o
desfazer do grupo, por vicissitudes do mesmo.
Há confirmação deste facto em acta de 27 de Abril...67
76. Esta reunião é para comunicar, a todas aqui reunidas, que permitindo Deus Nosso
Senhor que no dia 19, dia da morte do Senhor, passasse por esta casa – na qual nasceu a ideia da
Obra e na qual foi fundado o grupo no dia 21 de Abril de 1940 – uma autoridade eclesiástica, e
estando esta (autoridade) informada das dificuldades que assistiam àquelas que assim lho
manifestaram68, teve por bem aconselhar e ordenar que se dissolvesse o grupo fundado com
obrigações e compromissos.
77. A minha alma, à palavra "obediência" que me era aconselhada, caiu de joelhos na
aceitação plena dos desígnios de Deus, que exigiam o supremo sacrifício da imolação duma
vontade, tida até este momento como vontade de //1// Deus. No acto de obediência e submissão à
palavra "obediência" que representa Deus, ao mesmo tempo a minha alma entregava ao Senhor a
Sua vontade duas vezes: a vontade de Deus querendo-nos mais perfeitos, estabelecendo-se entre
nós umas regras; a vontade de Deus na obediência desistindo das mesmas regras.

78. Dir-me-ão quem foi que suspendeu, quem foi que fez com que cada uma fique só no seu
só com Deus? Se cremos que a Obra é de Deus, fomos nós próprias, na nossa infidelidade e falta
de generosidade para com Deus! Fomos nós que dissemos a Deus que não queríamos
acompanhá-Lo pela rua da amargura, nas provas, nas humilhações, na dor d'Aquela Mãe bendita
junto à Cruz, deixando-a só na Sua dor! A minha alma, a mais pobre e miserável das filhas de
Eva, chorou com //2// Ela, por Ela, o desamparo e amargura do Seu desamparo. Recordei nessa
tarde que também a Mãe de Deus, para nos gerar no amor crucificado do Seu coração puríssimo e
Imaculado, tudo dava em holocausto por todos nós. Também a minha alma – à palavra
aconselhada que "obedecesse", acabando o grupo – por amor, por submissão completa, deixou
acabar tudo. Agora recolho o meu espírito, até ao dia que Deus determinar, ao silêncio. Entre nós,
já não existem compromissos, não existem obrigações. Cada alma fica livre, inteiramente livre de
tudo, podendo fazer uso da sua liberdade para tudo o que quiser e como quiser, sem mais
obrigações de o comunicar.
67
Conservam-se as Actas das outras reuniões? Seriam muito úteis para enriquecer Introduções e Notas a esta edição
das Circulares
68
Será possível saber a Autoridade de que se trata e as motivações que apresentou?

115
79. Eu desejava, como pessoa, não dizer mais nada. //3// Mas não posso calar um
sentimento da minha alma, o qual peço, a todas as almas aqui reunidas, que mo permitam
(expor). Fazia ( ou ia fazer) 6 anos, ao segundo dia (a seguir à)69 sexta-feira santa, quando na
tarde desta mesma sexta-feira, morria para nós o grupo como início da Fundação da Obra,
quando lhe queríamos pôr o lema já de regras simples, pobres e pequeninas. Pensando que, ao 2º.
dia deste dia 19, era o aniversário da fundação do mesmo, a minha alma sentira um abalo
profundo. Para minha humilhação devo confessar, para maior bem da minha alma, que, ao pegar
da pena para fazer a circular de anunciar esta triste nova, sem poder conter o choque, lançando os
meus pobres olhos para o sacrário numa chuva de lágrimas convulsas, disse:- "Meu Deus, //4// eu
faço isto, porque obedeço com a Vossa obediência a Vosso Eterno Pai! Vós estáveis inocente e
fostes à morte por meus pecados e Vosso eterno Pai não Vos pôde perdoar essa morte afrontosa
porque fizestes Vossos os pecados que eu cometi e (nós) cometemos. Vós fostes tão suave na
aceitação e eu aceito este sacrifício (com custo). Custa-me muito, não por mim, Meu Deus, mas
por Vós mesmo, que Vos custa! Mas estou pronta: obedeci...obedeço cegamente. Mas fico,
Senhor, convosco, na amargura deste momento!" Uma fundação é um lar abençoado, no qual
Deus N. Senhor procura passar as horas de angústia que atravessou na sua vida mortal. É (onde
pode) repousar das Suas fadigas, dos cansaços que levou por nós pecadores. Quando Ele //5//
pensa encontrar-Se com os Seus filhos e só se encontra com os amigos, não deixa de ser amigo, o
melhor dos Amigos; mas não encontra lugar para fazer confidências das Suas amarguras, das
lágrimas que chorou sobre a terra e que se foram imolar ao Calvário.

80. Nesta hora em que Deus N. Senhor, pela sua divina presença em toda a parte, está aqui
também presente, eu considero-me na Sua presença. Diante dela confesso toda a responsabilidade
de tudo quanto tenha passado, da minha alma para cada uma das almas, da minha insuficiência,
impotência, faltas e defeitos, soberba ou orgulho mal vencido. Se Deus N. Senhor viu, da minha
parte, alguma sombra destes maus e imperfeitos sentimentos que, na sua passagem das minhas
palavras ou exemplo//6// para todas, fez sombra nas almas, que o mesmo Deus N. Senhor inspire,
com o Seu divino olhar, um olhar de misericórdia de todas para comigo, o mais pobre
instrumento de Deus, se é que cremos que a Obra é de Deus. O meu desejo é estar onde N.
Senhor estiver, desde a luz do Cenáculo às dores do Calvário. Desde a pobreza de Belém às
glórias da Ressurreição. Desde a humildade aos desprezos do Calvário. Estar onde Deus estiver.
Por isso mesmo, continuando aos pés da Cruz, nas Mãos misericordiosas de Nª. Senhora, com
Ela, por Ela e na Sua vontade SS. de Mãe da Dor, Lhe está confiada a Obra e a Obra será uma
realidade. Não pelos caminhos do nosso orgulho ou soberba, mas pelos caminhos do desprezo e
da humilhação, por ser neles que a Santíssima Humanidade de N. Senhor viveu e morreu. //7// A
obra será uma realidade nos membros humildes, de quem N. Senhor disse:- "Se estais aflitos
vinde, Eu vos consolarei!" Quer dizer, N. Senhor será a consolação daqueles que O consolam e
será as trevas e a dor daqueles que O não conhecem nem consolam! N. Senhor será o Céu na
terra dos Seus amigos; mas dos amigos crucificados n'Ele e por Ele. Por isso (é) que os mártires
morriam cantando os louvores do Senhor. Também N. Senhor seja a vida eterna dos que ficam
com Ele agora e sempre!

81. Últimas palavras desta data, dentro ainda da oitava da Páscoa. N. Senhor ressuscitou
para os que ressuscitaram com ele na paz e no amor, depois das dores do Calvário. Cada uma de
nós fica nos dias da //8// alegria da ressurreição com Ele, como quiser e entender fazer, porque de
hoje em diante já não me chama Deus a responder pelos seus actos. Ficam inteiramente livres,
sem existir nenhum compromisso. Agora podem ir para onde quiserem, fazer como quiserem.
Apenas posso dizer, diante de Deus aqui presente, que a Obra continua onde estava, até ao
sacrifício da própria vida, ficando sempre unida na ideia àquelas almas que se uniram nela a Deus

69
Assim interpreto o que quer dizer. Sabendo as datas a quem se refere, talvez se esclareça melhor.

116
e por Deus; mas apenas na ideia. Desta, quando verdadeira e sincera nas almas, Deus N. Senhor
fará dela a Sua misericórdia em cada alma fiel.

82. Existe aqui a Casa que era sustentada pelas almas verdadeiramente prontas e dedicadas
à Obra. Como N. Senhor na santa obediência está representando a morte a tudo, eu, pobre, //9//
não podendo sustentar a continuação da mesma, faço a entrega dela a todas as almas, as quais
nesta hora resolvam o que Deus lhes inspirar. Eu dou tudo, entrego tudo em nome de Deus, para
fazer a vontade de Deus, obedecendo ao que me é indicado, como mais necessário e perfeito
neste momento. Todas as esmolas que recebia para a casa e também como fundo da Obra, tudo
hoje entrego em acto perfeito de obediência e de pobreza, confiando-me à Divina Providência,
porque (doravante) toda a alma fica sem obrigação de dar a mais pequenina esmola para a Obra.
A Obra faz de si mesma a entrega total aos esplendores da luz divina que iluminou a casa de
Nazareth e as palhinhas de Belém. Não tem nada de seu. De seu tem o Rei dos Céus, com todo o
seu poder e majestade, que vela pelos que chama seus. Hoje já não fico com o meu olhar fito na
terra, vendo em cada alma a Obra. Hoje fico com ele fito nos céus, //l0// em Deus, que não
precisa dos homens; Deus precisa de almas amantes da sua cruz, de Seu Calvário, do seu
desamparo e da pobreza de Belém! Hoje não temos necessidade do pão dos homens; temos o pão
da Providência. A Providência mandará o pão à Obra para ela dar em Seu nome aos pobres seus
irmãos, o pão do corpo e o pão da alma – a vida perfeita na palavra de Deus vivida e abençoada
pelo Céu. Tudo nos foi dado, ó meu Deus. Se tudo recebi das vossas santíssimas Mãos, nelas
tudo entrego para sempre!

84. As Edições Vita entraram na pertença da Obra no dia 25 de Março e na tarde de Sexta-
feira santa, deixaram de lhe pertencer, porque o grupo que representava //11// a Obra desaparecia,
era dissolvido. Foram-me entregues, das Edições, 676$50. Faço a entrega deste dinheiro, diante
de todas aqui presentes. Mas, para minha humilhação estendo a mão direita diante de todas
(pedindo) que, se N. Senhor lhes inspira, essa quantia seja aplicada ainda ao que eu devia da
limpeza da casa – a limpeza que se fizera em atenção à presença real de N. Senhor nesta casa,
(para a qual), por ser de extrema necessidade, eu pedira uma esmola a todos. (E já) agora, peço
não só a esmola do que falta pagar ser do que me foi entregue das Edições para esse fim, mas o
que sobra ser para uma coberta do altar. //12// Também quero confessar que, sendo oferecido às
Edições Vita, pelo Carmelo de Fátima, uma linda caixa bordada pelas freiras, eu senti gosto na
caixa e servi-me da boa vontade a quem foi oferecida para que ficasse aqui. Mas senti logo a
seguir o remorso de que lhe tive apego e que isto era imperfeito e desagradou a Deus, propondo-
me logo dá-la de novo. Por isso, venho hoje, diante de todas aqui presentes, pedir perdão da
minha falta, pelo apego que tive, pois Deus me obriga a torná-la pública para minha grande
humilhação. Sinto dor e remorso deste apego que tive. Não dei o verdadeiro exemplo que devia
dar, quando tanto peço sejamos desprendidos de tudo. //13// Que N. Senhor, nesta hora, me lave
de toda a mancha e do que tenha sido ocasião de imperfeição para todas as almas que
pertenceram ao grupo.

85. Das Circulares, que cada uma possua desde o dia 1 de Janeiro deste ano até ao dia de
hoje, assim como das regras, também (cada uma) fará a sua entrega directamente aqui. Poderão
possuir as anteriores, enquanto em cada uma continuar a viver a ideia de pertencer um dia à Obra,
pois desde que desistam dessa ideia ficarão obrigadas à entrega de correspondência e circulares
que possuam.

86. Que a paz e a luz de Deus se encontre em nossas almas para sempre. A Acta70 desta
reunião peço seja feita pela Maria Eduarda com todas as minúcias da mesma.
25 de Abril de 1946 //14//

70
Existe esta Acta? Seria útil para esclarecer este acontecimento.

117
A PAZ EM CRISTO SENHOR NOSSO
SEJA A NOSSA VICTÓRIA PARA A VIDA ETERNA

Viana do Castelo, 21 de Maio de 1946

87. Raiou para as nossas almas o grande dia da divina Misericórdia, dia em que as nossas
almas, cantando os louvores do Senhor, devem ir ao templo vivo da SSma Trindade confessar a
nossa gratidão pela Sua divina misericórdia para connosco. No dia 13 de Maio, curvadas as
nossas frontes diante do altar para sempre imaculado da rainha dos Céus, nós fomos também
pedir-Lhe perdão, amor e misericórdia! Nós fomos também dizer-lhe que, ainda que pecadores,
Ela, que se imolou por nós ao Senhor, nos terá perdoado e alcançado o perdão das nossas
infidelidades – de todas, sem ocultar uma – que nos levaram à expiação de ver no dia 19 de Abril
dissolvido o grupo, depois de 6 anos de laços de estreita união. Pensemos e meditemos que,
diante do Senhor, a sua causa foi a nossa infidelidade. Dela nenhuma de nós se julgue inocente,
porque senão mereceremos aquelas palavras significativas de N. Senhor àqueles que, nos seus
juízos, julgavam a mulher adúltera:-"Se estais inocentes, sede os primeiros a lançar-lhe pedras!"

88. A misericórdia de N. Senhor é infinita, é bondosíssima, é cheia dos atractivos de


extremo amor por nós, e nós somos tão pequeninos na gratidão, na delicadeza para com Ele! N.
Senhor sente-se magoado da nossa falta de amor e de generosidade. Cheios de interesses
pessoais, espirituais e temporais, não temos para com Ele a delicadeza que pede o Seu Puríssimo
Coração e que (O) levou a queixar-Se de ter tão poucos amigos! Agora, dos Seus divinos lábios,
puríssimos e amorosos, vai sair, mais uma vez, o convite de Pai desejoso de ver de novo
regressar os filhos ao banquete da humildade, da simplicidade, da caridade, e de ver de novo
reunidas as almas para lhes dizer: " Eu volto, vinde. Eis-me aqui. Espero-vos e amo-vos. Mas não
recuseis o que vos vou pedir! O caminho será áspero, será conhecido pelo caminho do amor
crucificado, pelo caminho do Calvário. Aí vos imolareis na ara da Santa cruz, por vós, pelos
vossos pecados de toda a espécie, que a voz da consciência vos tornar culpadas diante do Pai dos
Céus. Mas, purificadas nas lágrimas que chorei por vós no calvário, na morte de cruz, vós ficareis
puras, limpas como estrelas do Céu»71.

89. Se compreenderdes a palavra do Senhor que dá vida, que dá alegria, que se dará a si
mesmo, que vos dará o céu na abundância de Seus bens, de Suas consolações e de felicidade para
sempre eterna, lá vos espero para cantardes o eterno hossana da vitória alcançada sobre a carne
fraca, sobre o mundo de vós mesmas, sobre o orgulho esmagado, sobre a soberba vencida, sobre
o amor-próprio purificado e morto na hora da vossa morte! Vinde, Eu vos espero. Mas que o
vosso olhar seja puro e simples como o das almas inocentes que, não vendo mais que a pureza do
Cordeiro imaculado, se esqueceram de si mesmas e de tudo. Vinde, não tragais tesouros
convosco a não ser o tesouro de virtudes; (sobretudo o tesouro) de amor puro que, não sentindo
atractivo para o que é imperfeito, só por fraqueza se vê em face de si mesma, puro nada. Mas
desapegada a alma de tudo, olhai sempre para o céu, crendo sem ver! Contemplai as grandezas de
Deus pela Fé, fugindo ao engano de querer ver para crer. Para quem será o Grande Banquete que
Deus nos prepara e a ele nos convida? A nossa alma o vê e prontamente conhecendo, diz:- Será
para a escrava do Senhor, para a alma que, seguindo as pisadas e exemplo de Maria Santíssima,
dirá com Ela: Faça-se em mim a Vossa vontade! //l//

90. Qual é a vontade a Deus para nós nesta hora? É segui-Lo através de tudo, de olhar fito
no céu, crendo sem ver. Se quereis ver para crer, dir-nos-á o Mestre e Senhor: "Chamei-
vos, mas não vínheis preparados. Por isso, retirai-vos porque não sois meus servos, meus amigos,

71
Não se entende se as aspas terminam aqui ou se incluem ainda o número seguinte. No número seguinte parece que
já não é o Senhor a falar, mas ela. Lá verão…

118
mas sim filhos de trevas que, pairando no vosso espírito, não nos deixam crer sem ver! Eu
chamei-vos amando-vos; mas quero o vosso pensamento puro, reverente e humilde! Eu chamei-
vos e peço que o vosso coração não pense no que deixastes; mas que vos deixeis a vós mesmos.
Por isso, ide que eu fico com os que velam noite e dia no Calvário e na cruz, apoiados no
Coração Imaculado e Puríssimo de quem, sendo Mãe de graça e Mãe Vossa, vos deixou como
exemplo aquela passagem da Sua Vida de humildade: Eis aqui a escrava do Senhor! Eu ficarei
com os pobres, com os humildes, que serão a Sua vida de humildade, o cântico de amor e de
louvor contínuo ao Meu Pai que está nos Céus!

91. Neste passo que demos, prostremo-nos aos Pés de Nª. Senhora (e peçamos) que Ela, no
dia do Seu divino Filho – o dia do Sagrado Coração de Jesus – nos ofereça no Seu Puríssimo
Coração de Mãe, ao Seu Sagrado Coração de Filho e, no Seu amor Puríssimo, a seu Eterno Pai,
como uma coroa de rosas de amor, de sacrifícios de nós mesmas, por nós, pelo Santo Padre, por
toda a Igreja militante e Purgante. Por nós, pelos nossos pecados, pois somos pecadores e
cometemos aquela infidelidade tão grave aos olhos do amor puríssimo de Jesus, que se viu
obrigado a dar-nos um golpe, quando precisamente pedia o mesmo que hoje nos pede!
Gravíssimo o confesso, porque para as delicadezas de N. Senhor representa uma ofensa da nossa
parte, uma ingratidão sem nome! Eu não quero deixar de dizer que as minhas lágrimas ainda me
não saíram da alma e que ficarei sempre a dizer:- "Senhor, tende presente as minhas culpas, para
que a minha soberba se não levante contra Vós!" Ai de nós se nos julgamos inocentes, pois o
olhar do Senhor nos ferirá com a Sua ira, cheia embora de misericórdia! Lançemo-nos todas
dentro do nosso coração em espírito, confessando que somos culpadas pelo nosso exemplo, pelo
nosso pouco fervor, por tudo...por tudo...por tudo! Para sempre por tudo! Esmaguemos nesta hora
a nossa soberba, o nosso orgulho, as revoltas da nossa natureza, o nosso " eu," enfim a nossa
miséria que se opôs à graça do momento! "A minha alma está triste até à morte" - disse N.
Senhor na Sua grande dor! Triste pelas nossas infidelidades, pelas minhas, das quais, de joelhos,
Lhe peço perdão, diante dos Céus e da terra: perdão pelo que fui e não quero voltar a ser! Perdão
da minha fraqueza, da minha miséria, de todo o respeito humano. Perdão Senhor, perdão!

92. Anjos do Senhor, que fazeis corte ao Cordeiro Divino, estai também presentes, com
Maria Santíssima e S. José, à nossa promessa diante do Divino Cordeiro Imaculado, a quem
convosco prometemos seguir através da via crucificada, num compromisso de fidelidade e de
amor! Estai presentes aos nossos desejos de enveredar pelo caminho da humildade, da
simplicidade, da caridade, da renúncia ao nosso eu, do apagamento da nossa pessoa, da vitória na
fraqueza, vencendo todas as relutâncias, aborrecimentos e repugnâncias, caminhando seguras
como os discípulos do Senhor, pela Fé, que crê sem ver!

93. Senhor, aumentai a nossa Fé, dai-nos esperança, amor e caridade! Senhor, fazei que eu
veja a verdade sem sombras de erro. E a verdade, Senhor, sois Vós mesmo. Vós (sois) o pão e a
vida. Quem crê em Vós terá a Vida eterna! Senhor, fazei que eu creia que sois a Ressurreição e a
Vida! Senhor, fazei que eu ande, que eu ande sempre pelo caminho do Evangelho, cumprindo os
mandamentos da Vossa lei dentro de todos os princípios de justiça e de caridade! //2// Senhor,
fazei que eu ame sempre O amor abandonado, O amor desprezado, O amor escarnecido, O amor
do Vosso amor crucificado! Senhor, fazei que eu repare por mim, pelos que são meus, pelos que
são Vossos. (Pelos que) para Vós, Senhor, querem ir, pelo exemplo e palavra, Vossa, que eu lhes
der! Ó Pai dos Céus, nesta hora em que nos perdoaste as nossas infidelidades, que essas portas do
Céu se abram para nós, para o mundo que é Vosso, para que venha a nós o vosso reino de amor,
que é todo de Paz e alegria entre os homens de boa vontade!

94. Maria Santíssima, Rainha e Senhora nossa, Mãe dos homens junto à cruz, mais uma vez
abri o Vosso Coração Imaculado aos rios inflamados do (vosso) amor de misericórdia, (fazei-os
passar pelo) nosso coração e levai-os ao mundo, ao mundo sem Fé, sem esperança, sem caridade!

119
Levai-o, Senhora Nossa, aos pobrezinhos, a todos os que pedem o pão do amor, o pão da graça, o
pão da vitória na Fé cristã! Dai-nos, Senhora Nossa, a Vossa benção, o Vosso olhar de Mãe
puríssima! Fazei que os nossos lábios cantem na terra o Magnificat, sempre nas harmonias
angélicas da humildade, da pureza, da simplicidade, dizendo também nós: Eis aqui a escrava do
Senhor, faça-se em mim para sempre a vontade Senhor, que é Altíssima e toda a terra treme
diante do Seu poder e Majestade!

95. Cantai, Anjos e Santos do Céu, as melodias que os Serafins entoam ao trono da SSma
Trindade e dizei por nós: Nós vos adoramos, Vos louvamos, Vos amamos, pelos que não Vos
adoram, não Vos louvam, não vos amam! Nós vos engrandecemos pelos que Vos esquecem na
procura dos louvores dos homens. E, porque Vos reconhecemos Rei e Senhor, nós nos
prostramos por terra, dando-Vos o nosso coração, a nossa vida, todo o nosso ser! Hossana nas
alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade! Toda a glória seja dada ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo. Reinem para sempre nos céus, na terra e em toda a parte!
21 de Maio, aos pés de N. Senhor no SS. Sacramento.

Maria da Conceição P. Rocha //3//

Dia 13 de Junho de 1946

DIA DO DOUTOR DA IGREJA STº ANTÓNIO

96. À imitação deste grande Santo (e de) toda a (sua) inocência e amor por N. Senhor, que
ele nos ajude a imitar as suas virtudes. (Possamos nós) merecer de Deus N. Senhor, (por sua
intercessão), aquela mesma humildade, inocência e santidade que nos torna dignos de imitar
Maria Santíssima e S. José, tão submissos à voz de Deus. Sem acharem (duras) as asperezas do
caminho, mas sabendo guardar os segredos do Rei Divino, deram-nos os exemplos mais perfeitos
e heróicos da verdadeira submissão aos desígnios do Altíssimo.

97. "Eis aqui a escrava do Senhor" - dirá toda a nossa alma ao Pai dos Céus, em nome de
Maria Santíssima, pelos lábios divinos de Jesus Salvador. Que ao apresentar a nossa alma à
Santíssima Trindade, possa dizer com verdade: //l// «Resgatei estas almas com o Meu
preciosíssimo Sangue, sofri para lhes dar a verdadeira vida. Como outras Marias acompanhando
Minha Mãe Santíssima pelas vias do Calvário, Eu venho em Seu nome oferecê-las a Vós, Meu
Pai. Que ao vê-las Vós, não sejam elas mas Eu próprio que me apresento de novo diante de
Vosso poder e amor, para que, pelo seu sacrifício, pela sua doutrina, pela sua generosidade e
actos heróicos, pelo martírio da paciência e do sangue, o mundo venha a Vós e Vós, Meu Pai,
façais no mundo o Vosso reinado de paz e de misericórdia. Se Me ouvirem e Me seguirem,
estarei com eles até ao fim dos séculos e por toda a eternidade».

98. Este reino é de amor e de misericórdia. Dele toda a soberba será banida, todo o amor-
próprio será esmagado. Só a vida de Fé será exaltada e toda a glória será //2// de Deus. Neste
convite não haverá mostras de exterioridades, mas de vida eterna, pelo que a vida de Deus será
dentro da alma e só Deus conhecerá a alma e a alma conhecerá a Deus. Pelo fruto se conhecerá a
árvore. Também pelas virtudes se conhecerá a Deus e Deus conhecerá a alma se foi fiel ao seu
Deus. A nossa alma, ao tomar este caminho, encerrar-se-á em Deus e só a Deus irá pertencer em
tudo, no amor e fidelidade, na culpa e responsabilidade. Os dons de Deus e a graça de Deus são
transparentes: vêem-se, conhecem-se. Assim como a luz do sol, que alumia a terra, descobre o
local (que ilumina), assim a graça faz luz aonde habita. A alma que, ao dar-se e receber a graça,
não acompanha a luz mas caminha para a noite, de noite triste se reveste. (E a noite) é sempre a

120
noite do //3// nada, sem dar fruto nem vida. Esta noite não se esconde, conhece-se: vê-se, porque
não dá fruto, dá trevas e aflição de espírito.

99. A nossa alma deve ver como se aproxima, como compreende a voz do Senhor, como
aceita e conhece o que ele pede, o que quer de nós. Se compreendemos, caminhemos; se não
compreendemos, façamos oração e esperemos que se faça luz. Ao altar de Deus não se vai com
dúvidas: vai-se consciente da responsabilidade do dom de Deus, vai-se porque Deus chama. Mas
pesa-se o que Deus exige, para que no dia das contas não nos encontremos com desculpas, mas
com responsabilidade do que fazemos. Para Deus, só há verdade; não há atenuantes, senão de
misericórdia pela nossa fraqueza.

100. Mas para a soberba e orgulho, que não é esmagado, a //4// palavra do Senhor será dura
e dolorosa: "aos soberbos Deus os abate". Não deixemos entrar no nosso espírito os erros da
época que alastram pelos campos do bem: o espírito de ostentação e vaidade que corrói as
virtudes mais firmes, que faz desfazer em pó e nada as palavras mais belas e divinas que aos
nossos ouvidos tenham sido ditas, (uma vez) que sofreram mancha de nosso sentir de orgulho e
soberba. Nós subiremos ao altar de Deus, do Deus que deve alegrar a nossa alma sempre jovem,
(que é) sempre bela quando ama e respira a beleza do Criador e como Ele a criou.

101. "Afastai-vos de Mim, malditos para o fogo eterno" – tal será, pelo contrário, a sentença
do Senhor ferido pela dureza da nossa soberba, quando cerramos os ouvidos aos gemidos do
Calvário, aos desprezos da cruz, às humilhações dos algozes, enveredando pelas estradas da
liberdade //5// dos sentidos e do coração, até se apagar a fé e entrar o ódio contra o bem. Não
pensemos que a nossa entrada num caminho mais perfeito é simples, porque o não será. Será,
sim, entrar no campo de batalha, para lutar por Deus e pelas almas nossas irmãs, em Cristo
Senhor nosso! Será confessar ao mundo que Deus é Trino em Pessoas, mas que é um só Deus
verdadeiro. Neste mundo sem Deus e ignorante de que o Filho de Deus encarnou como Deus e
Homem verdadeiro, o inferno revoltando-se contra a suma verdade da eternidade, declara-lhe
guerra aberta. Essa guerra entra mesmo dentro do campo religioso, onde se mostra o que não se
vive, se afirma o que se não crê, quais sepulcros caiados de branco por fora e negros por dentro!

102. Que a nossa vida seja realmente a luz da verdade, a //6// Fé segundo o Evangelho. Que
Jesus Cristo seja (a) vida da alma, a nossa vida, a nossa esperança, a nossa confiança, o nosso
amor! Que a nossa vida seja a morte à soberba, ao orgulho, ao amor-próprio, à vaidade. Que a
nossa vida seja aquela que Santa Teresa do Menino Jesus nos ensinou e que (é) a vida das almas
que procuram santificar-se e corresponder à graça da vocação, pela vida interior mais intensa,
sem alarde, nem chamando a si glórias, senão as de serva humilde, proposta à imitação de todos
nós.
103. "Aos humildes Deus exalta". Que no passo que vamos dar, Deus N. Senhor se encontre
de verdade com os pequeninos e humildes (que queremos ser). Destes será o reino dos Céus!
Imitemos a candura e inocência daquela santa pastorinha, a Jacinta, e meditemos nos seus actos
heróicos. Ela, tão pequenina, //7// soube compreender a voz da verdade e do amor da Mãe de
Deus e nossa Mãe! Ela confunde os grandes e exorta os pequeninos a seguirem-na através de
todas as lutas e perseguições de que nos soube dar exemplo. Soube amar e fazer-se desconhecida
a si mesma das grandezas das revelações do céu, pelas quais se fez peregrina de tão grandes e
excelsas virtudes de heroísmo infantil! Deus N. Senhor só nos pede humildade, pureza,
simplicidade e verdade num mundo tão cheio de toda a sorte de ataques do inferno, encobertos
tantos deles com sombras de bem. "Aos humildes Deus exalta e aos soberbos Deus abate".
104. Senhor, fazei que eu veja sempre, como sol de verdade, o Evangelho puro, como Vós
o mostraste e ensinaste aos Vossos Discípulos. Como (em) Santa Teresa do Menino Jesus, Ele
viva no nosso coração e seja o nosso //8// distintivo para sempre, a nossa glória, a recompensa

121
dos nossos sacrifícios, aquele que há-de falar por nós ao Eterno Pai quando se descobrir para nós
naquela palavra do Senhor: -"vinde, benditos de Meu Pai, receber o reino que vos está
preparado desde toda a eternidade!" Esta palavra do Senhor é para a alma, onde caiu em boa
terra; mas não o será para aquele que curiosamente só procura descobrir os caminhos do Senhor
por curiosidade, para ver se encontra repouso sem sacrifício, sem derramar o sangue pela
paciência, pela perseguição, pelo martírio. Para este – que quer entrar nos desígnios do Senhor,
mas não respeita o castelo fortificado do Divino Espírito Santo – para este, o Senhor mandará os
Seus //9// Anjos cerrar-lhe as portas, porque onde está o divino de Deus não pode habitar o
humano.
105. "A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu
Salvador". Engrandece a Deus N. Senhor pela fidelidade e pela humildade. A luz (do Senhor),
que brilha mais que o sol, mais que as pedras finas, mais que as estrelas do céu, fugirá de olhar
para nós quando a soberba disser: "eu posso e quero ver como os que vêem". Aos soberbos Deus
abate. Só aos pequeninos será dado ver o Deus da Verdade. (Também) só a estes será dado
conhecer, já desde este vale de lágrimas, que o caminho, embora seja áspero, é suave, pelo
bálsamo de que Deus o faz envolver. (É) como sonho que, embalando o espírito, diz a este: -
"caminha sem receio, Deus te basta!" //10//

106. É este o espírito que Deus N. Senhor nos revela nas palavras cheias de sabedoria da
Sagrada escritura e do Evangelho, verdades que levaram os heróis da Fé a dar a sua vida por
Deus. Hoje, mais uma vez o Senhor nos chama a nós e ao mundo a que nos voltemos para Ele,
mas dentro dessas grandes verdades: - crê e Deus te enviará o seu Espírito. Senhor, eu creio que
vós estais no presente em toda a parte. E porque creio, Senhor, eis que aqui venho aos Vossos pés
dar-Vos o meu coração, para que o enchais de seu santo Espírito de Fé e de amor! Senhor, eu
creio que Vós enviaste o Filho, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, para que nos reunisse e
salvasse.//11// Eu creio no Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade. E porque
creio, Senhor, enviai-me o Vosso Espírito e será renovada a Face da terra! Vós sois o meu Senhor
e meu Deus. Vós sois a verdade e a vida. Senhor, vivei em mim para sempre! Tomai as minhas
faculdades e reinai na minha inteligência, memória e vontade, enchendo-as da luz da Vossa luz!
107. Maria Santíssima, apresentai-nos ao Pai, em nome do Filho Jesus e do Espírito Santo,
Vós que sois nossa Mãe e Rainha soberana! Dizei-Lhe, por nós, que somos pobres filhos de Eva.
Descansando nos Vossos Braços de Mãe Imaculada, o Vosso Coração puríssimo seja o nosso
coração no amor e na gratidão! Bendita sois Vós entre todas as mulheres e bendito é o fruto //12//
do Teu ventre: Jesus! Dai-nos Jesus e (que) Jesus Se dê por nós, numa vida de Deus pura e
perfeita, aos homens de boa vontade, (e também) àqueles que O não conhecem, O não amam,
mas esperam a hora de O conhecer e amar! Dai-nos Jesus para O levar às criancinhas, ao mundo
sem pão da vida, aos que choram, aos que gemem, aos que prevaricam, aos pobres, aos ricos, aos
velhos, aos novos, para que (todos) venham para o rebanho do Senhor para serem apascentados
pela Sua palavra, pelo Seu amor! Vinde a Mim todos os que tendes fome e Eu vos darei o pão da
Vida! Alimentai-nos, Pai dos Céus, do pão da vida, para termos //13// vida e não darmos a morte
aos que querem viver. Senhor, fazei que eu viva na vida da Vossa vida!
108. "A minha alma estará triste até à morte" Que na minha alma só reinem as alegrias do
Senhor, as alegrias na paz. Na cruz e no sofrimento, a minha alma deve estar triste com a de
Jesus e a de Sua Mãe Santíssima, pelos meus pecados e pelos pecados do mundo! S. José,
modelo das almas recolhidas, ensinai-me a amar Jesus, Vosso amado Filho adoptivo, Vós que O
trouxeste em Vosso Braços, que Lhe confiaste as Vossas penas e dores! Confiai-Lhe também as
das nossas almas //14// e do mundo inteiro. Anjo S. Miguel, dirigi ao trono do Senhor os nossos
apelos. Defendei a nossa Causa e apresentai-a à SS. Trindade, pedindo para ela a luz de Deus, no
bom discernimento dos espíritos. Que esta graça nos seja concedida, pela graça de Deus e dom de
Deus na luz do divino Espírito Santo, concedendo a esta Obra ou Fundação o Seu divino olhar de
misericórdia e a predilecção da Sua protecção santíssima. Que seja o Seu espírito e o seu título

122
verdadeiro, na prática da virtude, a "vinha do Senhor", donde brote a imolação pura e constante
ao Cordeiro Divino e Imaculado. Seja a Sagrada Escritura e o Evangelho o seu testamento, as
suas riquezas, a sua vida, a sua fortaleza, o castelo onde se apoiarem as almas. (Seja) a Pessoa do
Santo Padre, a Igreja o seu sol e luz na terra! //16//

20 de Junho de 1946
Dia do Santíssimo Corpo de Deus
109. REGRAS
Rascunho manuscrito não enviado
lª. - Obediência: a alma faz a promessa de obedecer a tudo quanto lhe for indicado, mesmo
nas coisas mais pequeninas, formando a intenção desta obediência como se estivesse a viver a
vida religiosa. Segundo esta obediência, como é N. Senhor que a inspira, o Superior que nos vê e
recebe os actos da mesma, dá numa relação todos os trabalhos e obrigações na família e em todas
as obras de que faz parte, mesmo fora dos organismos da A. Católica, em tudo a que se dedica.
Esta exposição é para ser entregue agora, como acto de aceitação da obediência a que fica cada
membro sujeito. Nesta promessa de obediência não pode cada membro tomar obras suas, sem as
submeter à obediência completa. //l// Nesta promessa de obediência, a alma (a autoridade) que
recebe a mesma promessa, não só pode levantar essa obediência, como também resolver as
dificuldades ou dúvidas da mesma. Esta promessa de obediência inteira fica a ser renovada
mensalmente, na data do dia em que se fez a promessa. Não se pode fazer parte da direcção de
quaisquer obras, que não estejam debaixo da orientação eclesiástica seja de Prelados ou de
sacerdotes, porque não é (próprio) do fim desta Fundação tomar //2// obras suas, mas dar a estas,
unicamente, o espírito da mesma Fundação, que será em tudo a doutrina do Santo Evangelho.
Obras suas só podem tomá-las toda a ordem de associadas ou agregadas de fora à mesma Obra.
Mas, presentemente, as que fazem agora parte da Fundação da Obra consideram-se membros de
dentro, pelo que não podem desviar-se do seu fim, que é dar só o espírito.//3//
110. 2º.- Pobreza:- em espírito de pobreza, fazendo uso de tudo quanto fôr necessário à boa
compostura e decência da pessoa, procura cada alma evitar tudo quanto represente luxo. Vestindo
segundo a sua posição, será em tudo moderada e honesta. Terá como regra seguir o mais perfeito,
confiando em N. Senhor, como luz e guia das almas - dada a boa vontade e desejo de
perfeição. //5//
*****
Só devemos falar (e estar) de forma que a nossa linguagem seja digna de que Deus a oiça e
(a nossa apresentação digna de que Ele a) veja, no exemplo que devemos dar ao próximo.
Consideremo-nos sempre na presença de Deus. Ele nos vê e nos ouve, penetrando até ao íntimo
da nossa alma. Vestir como vestiríamos, se Deus estivesse presente na Sua Santíssima
Humanidade. Os Anjos, que nos vêem, apontam os nossos movimentos. Como (se estivesse)
presente a nossa pessoa diante da pureza angélica dos Serafins e dos Querubins, assim devemos
de olhar com a mesma pureza, respeito e recolhimento estando diante do céu e da terra, presentes
quando nos vestimos //7// e adornamos. Este respeito por nós mesmas deve-se tornar como
oração diante do templo vivo da SS. Trindade. //8//

*****
111. Obediência - Esta obediência, que a nossa alma aceitará, não pela obediência em si,
mas porque representa a submissão da nossa vontade a tudo quanto nos seja aconselhado (e digno
de) honrar a obediência de N. Senhor a Seu Eterno Pai, por isso prometemos obediência inteira.
Esta promessa de obediência será renovada mensalmente, ficando inteira liberdade, no dia em
que se renova a promessa, de ser levantada. Cada alma que assim o pedir ou lhe fôr aconselhado
ficará livre desta obrigação.

ANO - 1953

123
NOVENA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

1. Devendo as nossas almas tantos favores a N. Senhor, é pela intercessão de Nossa


Senhora e nossa Mãe, que sempre nos tem olhado com tanta misericórdia, (que os temos
alcançado). Procuremos, pois, honrá-la nesta sua novena, agradecendo-Lhe reconhecidas os
grandes favores e benefícios que nos tem feito. Começa esta novena no dia 29. Será por nós
mandada celebrar uma novena de missas, para louvar a Santíssima Trindade, por toda a glória de
que A enriqueceu, fazendo-a Rainha dos Céus e da Terra e sempre Imaculada Mãe de Deus.
2. Vamos-Lhe pedir a graça de aparecer a água em Fátima. (Vamos) pedir-Lhe este
milagre, cheias de confiança no seu poder junto de Deus, seu amado Filho.
3. Ofereçamos, nesta novena todos os dias, ao Eterno Pai, o Sangue Preciosíssimo de Jesus,
unido às lágrimas de Nossa Senhora, em desagravo e reparação das blasfémias proferidas contra
o seu dogma de Mãe Imaculada, pedindo a conversão dos pecadores, a paz para o mundo, a
vitória para a Santa Igreja e as graças que lhe pede o Santo Padre.
4. Entreguemos a Nossa Senhora, nesta Novena, a nossa causa de Fátima, a realização desta
Obra, a resposta da Sagrada Congregação e, sobre todas as coisas, que se realizem em nossas
almas os planos da Providência, sem sermos seus obstáculos.
5. Na medida da devoção de cada uma, concorramos todas com uma migalhinha para esta
novena de missas, aplicadas, na parte dos mortos, pelas almas de quem for da vontade de Nossa
Senhora aplicar. Devemos dar essa migalhinha, no mesmo sentido de esmola aplicada na mesma
intenção, para que Nª. Senhora a distribua segundo o Seu Santíssimo agrado. A nossa comunhão,
sofrimento e sacrifícios destes dias da novena, serão o ramo de flores que iremos colocar aos
Seus Santíssimos pés, como gratidão de humildes filhas Suas. Durante a novena devemos
devotamente rezar a Magnificat, por ser um cântico de louvor em sua honra. Peçamos-Lhe muito
para que nos conceda a graça de começarmos a construção em Fátima no Ano Santo.
Viana, 27/XI/1953

ANO - 1957
40º.- ANIVERSÁRIO DA NOSSA CAUSA
DE 17 DE OUTUBRO DE 1917 A 17 DE OUTUBRO DE 1957
1. Pensei que devia deixar, na memória destes quarenta anos que se foram passando, a
expressão do meu profundo reconhecimento a Deus, num pensamento de louvor à Santíssima
Trindade, porque nos chamou a Si para engrandecer o Seu Poder e o Amor (que) por nós imolou
no calvário. Ainda que pobres almas, nunca deixou de ser agradável a um Pai o amor e louvor
que Lhe dê o filho. Porquê não sermos nós filhos no Seu louvor?
2. Passámos estes anos trabalhando, sofrendo e imolando os nossos desejos unicamente em
servir bem ao Senhor. Mas dirão muitos de nós: ainda não //1// vimos o que queríamos ver: tudo
realizado! Em tudo Nosso Senhor tem desígnios de misericórdia infinita, que não podemos
penetrar. Não (os) devemos querer penetrar, porque seria orgulho grande da nossa parte.
Devemos, sim, inclinar o nosso juízo em submissão perfeita ao Seu Poder, sem palavras.
Devemos crer em tudo o que nos leva para Deus na humildade e sincera submissão aos Seus altos
desígnios. O nosso querer é, muitas vezes, obstáculo às próprias obras de Deus, porque queremos
a nossa vontade e não a de Deus. Conheço por mim própria quanto custa conhecer a vontade de
Deus, porque somos como cegas diante dessa luz que é a verdadeira luz que mostra, falando a
verdade. //2// Eu vejo quantas vezes teremos sido obstáculo à causa de Deus! Quantas vezes o

124
Coração de Nosso Senhor terá olhado para cada uma de nós triste, muito triste, por O não termos
ajudado a realizar em nós o que de nós pede, para que a nossa vida seja o que deve ser.
3. As nossas companheiras, que já nos seguiram no sacrifício da sua vida, imolando-se a
Deus com generosidade, verdadeiras vítimas estendidas na sua cruz de doentes de doenças tão
dolorosas, ao morrer confessaram: "sofremos e oferecemos a nossa vida para que a Obra de Deus
se realize, porque faz falta ao bem das almas!" Um exemplo desses foi //3// o da Guida Mesquita.
Na última vez que fui vê-la ao hospital, com quantas lágrimas me dizia o seu último adeus! Alma
penitente, que soube dar-se em generosidade sem nome! Dessa generosidade nos deixou um
exemplo que podemos seguir, no esforço de vontade. Sempre se mostrou tão simples, tão ardente
no seu apostolado, tão humilde, tão suave, tão terna para os pequeninos, para os que sofriam!
Devo-lhe a maior gratidão, pois sem ela saber, quantas vezes, desabafando a sua alma Deus a
inspirava para dar coragem à minha, tão caída pelas dificuldades que escondia. Todos a viram no
seu sofrimento, todos a admiraram, desde os Senhores Bispos ao clero e povo, deixando a (...)
72
//4//

4. 2ª.- feira da Semana Santa - Era minha intenção deixar, na lembrança de todas nós, o
aniversário que passou no dia 17 de 1957. Fazia então 40 anos que descera para nós, das Mãos de
Deus, aquele caminho que devíamos aceitar e percorrer. Devíamos aceitar aqueles que se sentiam
a ele chamados e como tal comemorar numa acção de graças que continuamente nos levasse por
Deus até Deus da divina justiça como o (...) 73 cheio de infinita misericórdia. O tempo passa, e já
lá vão estes anos todos, e nós continuamos percorrendo esse caminho que nos diz duma vida
melhor, duma vida mais vida para vivermos melhor.
5. Sempre que me dirigi a cada membro, nunca //5// impus uma vontade. Eu, mais pobre
que todas, sentia-me um nada quando a cada uma me dirigia. Mas dentro deste nada, não podia
dizer à voz de Deus, que ouvia pelo impor da minha consciência, que não era nada, que não podia
como o nada dizer nada. Ao contrário, dizia a Nosso Senhor que Ele (é) que era tudo, o meu tudo,
(e que) esperava e contava me ajudaria a fazer tudo por todos. Deus, quando nos criou tirando-
nos do nada, deu-nos tudo, porque foi Ele próprio quem Se deu por Si a nós mesmos. E gerando-
nos nas Suas dores da redenção como filhos Seus, devemos(-Lhe também) como tais aquele amor
(de quem) segue o Mestre. Sem //6// querermos penetrar mais ou melhor, sentimos a docilidade
que deve ser (a) do nosso juízo a um Mestre e Pai. Eu também pensei que, ainda que do próprio
nada, sendo cada vez mais um nada e dentro deste nada filha do Pai dos Céus, Ele o Senhor
Poderoso, só exigia uma única (coisa): segue-Me! Eu segui, sem querer ver. Mas segui, num
silêncio que dobra o próprio juízo a não querer ver, senão que do nada não se pusesse obstáculo à
Mão querida do Senhor (o) que pudesse transportar74. Ele próprio transpôs a todos os recantos da
alma sem lhe encontrar uma recusa, condição essencial para aquele convite de Pai: segue-
Me! //7//
6. Quando se segue o Mestre, um silêncio se faz nos sentidos. Estes não podem ter a
liberdade de interrogar a voz do Mestre, (a) d'Aquele que não pode sofrer o ruído dos sentidos
que se inclinam à terra. (Estes só) pedem trabalho e preocupações, estando mais ao serviço e
capricho da nossa vontade do que atentos e reverentes à voz de Deus. Temos de lhes fechar as
portas. Temos de lhes esconder o silêncio profundo da alma, atenta e recolhida à voz de Deus.
Deus revela-se, mostra-se, aos que tudo deixam e se deixam a si mesmos, através de todo o gosto
e satisfação própria, para darem o sangue //8// do martírio sem sangue, (martírio que se consuma)
pelo esforço da vontade. Esta imola-se com a lentidão duma lamparina que, não se apagando
nunca, ninguém dá por ela em dia de verdadeiro sol. Assim, a vida da alma é essa vida que se
consome na solidão do desconhecimento, do próprio e de todos.

72
- Texto incompleto.
73
- No original falta a palavra.
74
Sentido obscuro

125
7. Nós também, todas as almas, cada uma na sua peregrinação desta vida, tem o seu dia, a
sua noite; (mas) o infinito de Deus sempre presente. Na sua noite, as trevas, a dor do
incompreensível; mas a presença do infinito fala à alma, sem dizer quem é. Mas quem crê, vê que
é Deus que leva a alma através dessas densas trevas, //9// para que ela lute por viver de Fé. É este
o nosso caminho: crer sem ver.
8. Os tempos preparam almas para darem a viver a vida que vem da verdade. Mas nem
todas as almas procuram seguir a voz do Mestre divino, porque custa esta luta de fazer violência
à natureza que nos arrasta para onde Deus não pode ir. Deus Nosso Senhor pede outra coisa e nós
não lha damos: lutamos contra os Seus caminhos e dizemo-nos no Seu caminho. Uma luz nos
guia, por mais densas que sejam as trevas. Essa luz chama-nos ao bem sem procurarmos ver a
nossa pessoa: esta pessoa que somos nós, tão egoísta, tão rebelde aos princípios da verdadeira
virtude, //10// (os do) mundo do bem, (que é) atacado pelo mundo do mal. //11// 75

75
- A página 12 está em branco.

126

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