Realização
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária – CENPEC
Coordenação
ENTREVISTA Sônia Madi
Marisa Lajolo
2 Equipe de Edição
Luiz Henrique Gurgel (edição de texto e consultoria)
RECADO DO LEITOR Maria Aparecida Laginestra
4 Regina Andrade Clara
QUESTÃO DE GÊNERO Leitura Crítica
“Ofício de poeta” Anna Helena Altenfelder
5 Maria Estela Bergamin
Marta Wolak Grosbaum
Revisão
Sandra Miguel
Edição de Arte
PÁGINA LITERÁRIA Eva Paraguassú de Arruda Câmara
“O poeta como deseducador”, José Ramos Néto
texto de Ferreira Gullar Camilo de Arruda Câmara Ramos
6 Ilustrações
Suppa
Criss de Paulo
Equipe de Apoio
Edileuza Alves Santana, Elisângela Alencar de
ESPECIAL Almeida, Ivani Alencar, Maria Antonieta Rizzotti
“Atendimento personalizado” Oliveira, Marina Brant de Carvalho Martins, Tathyane
8 Fernandes Tudda.
Mensagem do Cenpec
E d iittori
oriaal E m 2005, o Cenpec completa 18 anos. Des-
de o começo voltado para a ação na educação
À procura da poesia e básica pública, tem trabalhado na escola, pensan-
do currículos, produzindo materiais voltados à ace-
da qualidade leração da aprendizagem, intensificando progra-
Na primeira edição de Na Ponta do Lápis, mas de formação de professores e gestores em
educação. Educação não pode estar dissociada das
publicamos trecho de um dos mais belos poe-
políticas sociais relacionadas à cultura, à assistên-
mas de Carlos Drummond de Andrade sobre o cia social e ao desenvolvimento local sustentável.
fazer poético. O autor sugere: “Penetra surda-
Foi comungando com esses princípios que a
mente no reino das palavras. Lá estão os poe-
Fundação Itaú Social trouxe a idéia do Escrevendo
mas que esperam ser escritos. Estão paralisados, o Futuro. Um projeto que vai muito além do prê-
mas não há desespero, há calma e frescura na mio. Dentro de suas características, é um autênti-
superfície intata”. A recomendação do poeta co programa de formação em que todas essas ques-
bem que pode ter inspirado mais de 3 mil pro- tões estão envolvidas e articuladas. O que nos
fessores do Brasil a motivar seus alunos na cria- motiva ainda mais é saber que ele continua cres-
ção de poesias. Nesta edição trazemos uma cendo, ampliando a cada edição o número de pro-
mostra do que produziram as crianças. Traze- fessores e alunos participantes, atuando junto com
mos também um texto inédito de outro dos mai- as comunidades na busca da qualidade.
ores poetas brasileiros, escrito especialmente Em 2006 nossa ação continua. Queremos atin-
para nosso almanaque. Trata-se de Ferreira Gullar gir metas que garantam melhores condições de 1
falando do ofício do poeta. Segundo Gullar, o aprendizagem e solidifiquem novos padrões de qua-
lidade no ensino público brasileiro.
poeta está próximo da criança que “vê o mundo
com olhos virgens e que, por quase nada saber, Maria do Carmo Brant de Carvalho
está aberta ao mistério das coisas”. Coordenadora-geral do Cenpec – Centro de Estudos e
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
Também conversamos com a professora Ma-
risa Lajolo, que fala da melhor forma de o pro-
fessor aproximar seus alunos da poesia.
Mensagem do Canal Futura
E aproveitamos para dizer que, depois de três F oi na escola que descobri – eu e grande par-
edições, ficou a certeza de termos atingido o ob- te da humanidade – a poesia.
jetivo de abrir um canal de comunicação privi- No meu tempo as garotas mantinham cader-
legiado com os professores, levando informações nos onde as amigas escreviam poesias, de própria
relevantes e experiências que podem ser multi- autoria ou que achavam em revistas. Até porque
ali o que mais importava não era o verso e sim a
plicadas. Nossa publicação transformou-se em
amizade a que o poema era dedicado.
espaço para que educadores relatem suas ações
e expectativas de forma divertida e ao mesmo No entanto, nada foi mais decisivo na minha
formação do que a poesia em particular e a litera-
tempo consistente. E tudo isso teria sido inútil se
tura em geral. Poderia ter sido na escola mas foi
não fosse a certeza do diálogo. Não foi à toa
principalmente através da escola, de uma querida
que recebemos cerca de 4 mil mensagens, en- amiga de colégio, que enveredei pelo mundo das
tre cartas-resposta, cartas comuns, e-mails e te- leituras para nunca mais ser a mesma.
lefonemas com sugestões, comentários, solicita-
Quem é professor e participa do prêmio Escre-
ções e relatos de como professores utilizaram vendo o Futuro (como nós que fazemos o Futura)
Na Ponta do Lápis em sala de aula. Até crianças está em posição privilegiada para libertar e expan-
escreveram contando situações em que se di- dir a poesia da grade curricular para convertê-la
vertiram e o que aprenderam com a leitura da em insumo de transformação. Porque a escola é
revista feita pelo professor. um imenso território afetivo onde não só cumpri-
mos a trajetória da aprendizagem e da escolarida-
São por notícias como essas que a equipe
de mas onde podemos selar destinos.
do Programa Escrevendo o Futuro, seus idealiza-
dores e realizadores – a Fundação Itaú Social e o O gosto pela leitura (das poesias e das prosas) se
instala menos por razões explicadas na pedagogia e
Cenpec – já estão com as baterias ligadas e pre-
mais por aquilo que é intangível, por aquilo que nos
parados para o próximo ano, quando teremos o toca, por “sua capacidade encantatória”, como a
Prêmio Escrevendo o Futuro 2006. Sabemos que descreve o poeta Ferreira Gullar. Se, no mundo de
iremos ampliar a parceria com professores e ges- hoje, a beleza (de parâmetros tão discutíveis) é fun-
tores de todo o Brasil para continuar aprimoran- damental para tantos, para nós que fazemos educa-
do a qualidade do nosso ensino público. ção, não há o que discutir: poesia é essencial. Por-
que é matéria prima de nossa própria humanidade.
A todos uma boa leitura e um bom trabalho!
Lúcia Araújo
Gerente geral do Canal Futura
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
Marisa Lajolo
Qual sua opinião sobre o fascículo “Poetas da
Escola” do Kit Itaú de Criação de Texto? Os textos que foram
O fascículo “Poetas da Escola” é importante por
produzidos são preciosos pelo
várias razões. Mas duas são – de meu ponto de vista que mostram das hipóteses que
– as mais importantes. A primeira delas é que ele as crianças constroem sobre o
materializa o resultado do trabalho do professor. A que é e como se faz poesia.
outra é que ele documenta textos infantis, constituin-
do assim um material muito útil para professores e
pesquisadores. E é importante “materializar” o traba-
lho do professor. Acho que no trabalho escolar com a Como o professor pode começar o trabalho com
leitura e com a escrita, fica sempre no horizonte a poesia?
questão das materialidades dessas práticas. Um livro Acho que o trabalho com poesia pode ser muito
– e um fascículo é um livro, apenas um pouco mais divertido e agradável. Desde, é claro, que o professor
magrinho – é uma das formas assumidas por essa ma- goste de poesia. Acho que o professor pode começar
terialidade, talvez a mais valorizada socialmente. Daí – antes de iniciar o projeto de trabalhar poesia na sala
a importância de um projeto que culmina com a pro- de aula – pelo resgate de sua história de leitor/ouvinte
dução de um livro. Meio que eleva a auto-estima de de poesia. Qual foi o primeiro poema do qual se re-
todos os envolvidos. corda?
Publicações de
Marisa Lajolo
–R –a
+T – cô +i
4
Entramos em contato com a ECT e o re-
torno foi que este tipo de carta não tem
garantia de chegada. Se não há garantias,
pensamos: Qual o motivo de sua existência?
o
Alunos do 2 ciclo da E.M. Francisco de
– cô –a
+i t +m
( )
Sales Barbosa – Betim (MG)
Resposta RESPOSTA NA PÁGINA 21
A CARTA SOCIAL não chega ao destina- Carta do Escritor Boas e novas idéias
tário se não atende às características es-
Recebi o almanaque Na Ponta do Lápis. Na E. M. Prof. Guitil Federmann, estamos
pecíficas desta correspondência, divulga-
Ele é bonito e tem uma linguagem colo- desenvolvendo um projeto de resgate cul-
das no primeiro número do Na Ponta do
quial, capaz de criar uma relação afetuosa tural, descendências e saberes dos avós dos
Lápis... Quando isso ocorre, ela é devol-
com os leitores. Seu conteúdo é substanci- nossos alunos, chamado “Novos tempos,
vida ao remetente com um anexo explican-
al e necessário, sem se distanciar dos lei- eternos saberes”. Continuem com essas
do por que a mesma não está de acordo
tores. É uma publicação que vai fazer os propostas de atividades tão criativas e prá-
para esse serviço.
professores mais amarem seu trabalho. ticas. Adorei o almanaque inteirinho!
Encaminharemos um funcionário do Cor- Muito obrigado pelo carinho com meu tex- Marie Desirré Ribeiro,
reio, da cidade de Betim, à E.M. Francisco to. Fiquei feliz em estar com vocês. Ponta Grossa (PR)
de Sales Barbosa, para conversar com os
Bartolomeu Campos Queirós,
alunos e esclarecer as possíveis dúvidas.
Belo Horizonte (MG) Seguindo o exemplo
Osmar Piedade, da Agência de Correios
Franqueadas (ACF) No segundo número do Na Ponta do Lápis,
Jardim Paulistano (SP) Novo ânimo gostei muito da Página Literária. Fiquei
O Na Ponta do Lápis serviu como uma in- emocionada, pensativa... Até desejando
jeção de ânimo, estimulou a escrita da mi- exercer a mesma influência em algum alu-
Elo entre gerações
nha classe, porque os textos são produzi- no meu, assim como a professora persona-
O tema “memórias” veio em um bom mo- dos por crianças da mesma faixa etária. gem do texto exerceu sobre o escritor.
mento, pois estou trabalhando a questão da
Meus alunos ficaram encantados com a Julieta de Souza,
migração e, através da seção, surgiu a idéia
Página Literária e imediatamente pediram- Divinópolis (MG)
de solicitar às crianças uma entrevista com
me para escrever sobre o relaci-
os familiares sobre sua origem, possibili-
onamento que eles tiveram com
tando desta forma o resgate da história outros professores. Foi ótimo!
da família, estabelecendo assim um elo
maior entre as gerações. José Carlos do Nascimento
Santos, Salgado (SE)
Tânia Medrado de Souza,
Taboão da Serra (SP)
Referencial teórico
Além da entrevista, destaco a Pá-
Relembrando antigos
gina Literária, uma verdadeira
professores poesia, uma lição de como a pos-
Fiquei encantada com a história “Uma de- tura do professor é importante
finitiva presença” e viajei no tempo relem- para o “despertar” do prazer da
brando meus antigos professores, analisan- leitura. Maravilhoso também o
do o que cada um deixou em mim. Alguns, texto da Profa Conceição Cabri-
saudades, afeto; outros, receio. Mas disso ni, bem como o relato das crian-
tudo posso aproveitar os exemplos, pois ças e professoras. O almanaque
hoje sou eu que estou fazendo a minha his- tem unidade e coerência, o que
tória com a dos meus alunos. Que lembran- mostra o referencial teórico de
ças deixarei? quem o elaborou. ESCREVA PARA NÓS
Rua Dante Carraro, 68
Emília Elizabet de Carvalho Rocha, Beatriz de Castro da Cruz,
05422-060 – SÃO PAULO – SP
São José dos Pinhais (PR) Curitiba (PR)
Questão de Gênero
Ofício de poeta
Anna Helena Altenfelder*
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor.
Alberto Caeiro
O ofício do poeta é mostrar ao leitor um olhar Além de ser percebido pelo ouvido, um poema
próprio, inovador, uma visão diferente das coisas, pode ser identificado pelo olhar, pelo modo como
que surpreende, inspira e desperta emoções naque- o texto é disposto na folha de papel. Alguns poetas
les que lêem seus versos. O poeta escreve para brin- dispõem os versos nas páginas de forma tão especi-
car, emocionar, divertir, convencer, fazer pensar o al que criam uma imagem concreta, dando ao lei-
mundo de um jeito novo. tor a idéia do que vai ler, antes mesmo de ler as
Para conseguir encantar seus leitores, transmitir palavras.
suas idéias, experiências e emoções de forma origi- Mas poesia não é só aquilo que rima, tem síla-
nal, o poeta usa a linguagem de maneira diferente bas contadas, musicalidade, ou um esquema defi- 5
da que usamos habitualmente. Para conseguir fa- nido de composição. Não é só a forma que impor-
zer isso, utiliza-se de recursos poéticos. Ao compor ta, mas principalmente a maneira de ver as coisas,
um poema, pode, por exemplo, explorar a musica- como nos revela Alberto Caeiro (heterônimo de Fer-
lidade das palavras, criar imagens com elas, brincar nando Pessoa) no poema que usamos na epígrafe.
com os sons, ou dispor as palavras no papel de for- Um modo diferente do comum, como se o mundo
ma inusitada. fosse visto pela primeira vez.
Algumas vezes os poetas jogam com a sonori- O poeta, para exprimir seu olhar próprio e ori-
dade das palavras, buscando sons similares, riman- ginal, muitas vezes usa comparações. Pode ir além
do as palavras no final dos versos, ou repetindo sons e transmitir a impressão que algo lhe causou, crian-
parecidos ou iguais em várias palavras, fazendo com do imagens. Quando faz isso, usa o recurso da me-
que elas ecoem ao longo do poema. O interessan- táfora, dando às palavras um sentido mais rico, como
te é que brinca com os sons sem deixar de transmi- se elas quisessem dizer alguma coisa a mais.
tir ao leitor uma idéia, sentimento ou sensação. Concluindo, não é fácil o ofício de poeta, é preci-
Os poetas preocupam-se também com o ritmo, so muito trabalho. Para comporem seus poemas,
ou seja, com que o poema tenha uma os poetas, mesmo aqueles já consagra-
cadência como um tambor dos, ficam muito tempo arruman-
batendo em intervalos do, organizando, mexendo
regulares, o que com as palavras, experi-
faz com que mentando vários jei-
o leitor perceba tos de deixar o lugar-
o texto poético comum, romper clichês
pelo ouvido. e encantar o leitor com
É por isso que sua maneira própria
tão gostoso de ver o mundo.
quanto ler poemas *Mestre em Educação,
é ouvi-los sendo autora do fascículo Poetas da
declamados. Escola do Kit Itaú de Textos.
poesiapoetapoemapoesiapoetapoemapoesiapoetapoema
o Cada palavra tem sua história...
m
e Poesia, poíesis em grego, significa criação, fabricação, confecção.
e
s Poeta, do grego poietés, significa autor. Era o indivíduo que compunha letra de dramas das
o
i epopéias e dos outros cantos sentimentais. p
a Poema em latim significa composição em verso; companhia de atores, comédia, peça teatral, a
p e do grego poíema “o que se faz, obra, manual; criação do espírito, invenção”. i
o Na Grécia Antiga, os poemas eram sempre declamados em público. Os próprios versos eram s
e musicais, com ritmos diferentes em cada tipo de poema e apropriados para cada ocasião, e
intimamente ligados à dor ou à alegria do poeta.
t o
a meopateopaiseopameopateopaiseopameopateopaiseop
O POETA ESCREVE PARA BRINCAR, EMOCIONAR, CONVENCER.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
Página LITERÁRIA
É mais fácil o poeta se per- O mesmo acontece com se, sabe que o ato de escre-
guntar para que serve a poe- as outras pessoas: para que ver só se completa na leitura,
sia do que o leitor. O poeta às se inventem, necessitam as- quando o outro lê o que ele
vezes se pergunta por que tem similar o que já foi inventado escreveu.
que entregar-se a ela e aí é e, então, transformá-lo. Todos Esse leitor tanto pode ser
natural indagar se vale a pena nós, ao nascermos, já encon- um adulto como uma crian-
uma tal opção de vida. Mas tramos a sociedade criada pe- ça, e o resultado da leitura,
se ele é mesmo poeta, a tal las gerações anteriores, com feita por um ou por outro, de-
indagação é retórica, porque seus valores e normas – um pende de muitos fatores. Mas,
ele já sabe de antemão a res- mundo mais cultural que na- no fundamental, é a capaci-
posta: pergunta para reafir- tural, que é o habitat huma- dade encantatória da poesia
6 mar-lhe a necessidade. De no. Somos mais seres cultu- que conta, uma vez que o
fato, para o poeta, a poesia é rais que naturais. E é dentro poeta visa sobretudo tornar
a maneira que tem de inven- deste universo cultural que mais rica a vida, mais presen-
tar-se como ser humano. vamos nos inventar como in- te o mistério e o encanto da
divíduos e entes sociais. Por existência. Neste sentido, po-
A verdade é que todos nós
isso mesmo, deve-se concluir der-se-ia dizer que o poeta é
somos uma invenção de nós
que é nos demais integrantes um deseducador, se se enten-
mesmos. Ninguém nasce pron-
da sociedade que encontra- de que educar é transferir para
to, nem com um destino pre-
mos o sentido de nossa exis- o aluno o conhecimento já as-
determinado. É verdade que
tência. O homem é um ser similado pela sociedade. O
aquele que se tornar poeta ou
para o outro. Tanto mais um poeta, ao contrário do educa-
pintor ou jogador de futebol já
poeta que, se escreve antes dor, questiona o estabelecido,
traz consigo, ao nascer, as qua-
de mais nada para expressar- põe à mostra o inusitado, o
lidades que lhe possibilitarão
tornar-se uma coisa ou novo, e assim reinven-
outra. Mas é preciso ta o real.
que ele descubra isso e Nisto, contraditoria-
decida dedicar a vida a mente, o poeta se
um tal destino. Portan- aproxima da criança,
to, quando o menino – que vê o mundo com
ou a menina – se des- olhos virgens e que,
cobre poeta, terá que por quase nada saber,
entregar-se à poesia, está aberta ao misté-
terá que ler os poetas, rio das coisas. Para a
mergulhar em seu criança – como para o
mundo imaginário e, poeta –, viver é uma
assim, enriquecer o seu incessante descoberta
conhecimento da poe- da vida. Esta identifica-
sia. É a partir da leitura ção entre o poeta e a
dos outros poetas – dos criança constitui um
bons poetas e especial- paradoxo da existên-
mente dos grandes po- cia, que se alimenta
etas – que ele vai inven- tanto do conhecimen-
tar a sua própria poe- to estabelecido quan-
sia, porque ninguém to de seu questiona-
parte de zero. Biblioteca de Ferreira Gullar mento.
“O homem não faz poesia para sair da vida, ele faz poesia
Gullar e sua imagem em
para ter coragem de viver.” miniatura
“(...) a poesia está na janela, na paisagem, na música,
em qualquer coisa. Poesia é um sentimento, uma emoção.
Conhece-se poesia através da música, do teatro, da
pintura, do cinema. Em tudo isso há poesia. Agora, o
Traduzir-se
gênero literário chamado poesia, que existe no poema, Uma parte de mim
somente se expressa através do poema.” é todo mundo:
“O poema é escrito por ser necessário. outra parte é ninguém:
O nascimento de um poema será sempre um fundo sem fundo.
acontecimento inusitado. Será sempre uma espécie de Uma parte de mim 7
explosão que salta da boca. A poesia sempre estará é multidão:
presente na vida das pessoas. Porque as pessoas sentem
outra parte estranheza
necessidade de valorizar a própria vida.”
e solidão.
“O poeta vive a ‘dialética do prosaico com o poético’,
Uma parte de mim
explicando que o poema é o lugar onde a prosa vira
poesia, porque a prosa é o nosso falar, o falar de todos pesa, pondera:
nós, da boca de todos.” outra parte
delira.
“O poeta é alguém que está sempre em busca de
algo que não sabe o que é, porque, para ele, ‘o poema é a Uma parte de mim
invenção de alguma coisa que ainda não existe’. almoça e janta:
Nisso, ‘não há fatalidade alguma, mas uma aventura’, outra parte
explica o poeta, para quem ‘escrever poesia é inventar se espanta.
poesia, sempre’, como a vida que, segundo ele, também
Uma parte de mim
‘é inventada’, e não, uma fatalidade.“
é permanente:
Ferreira Gullar é poeta e recebeu vários prêmios como Machado outra parte
de Assis, maior homenagem da Academia Brasileira de Letras, se sabe de repente.
Jabuti, Molière e Príncipe Claus.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
Poemas de
Ferreira Gullar
ESPECIAL
Participantes do Programa
A te nd im en to Escrevendo o Futuro em
Minas e Pernambuco
ficaram agradavelmente
Arquivo pessoal
gestões de atividades e encaminhamentos ao
trabalho que ela desenvolve com os alunos. “Já
participei de muitos concursos, mas nunca tive
retorno nenhum, foi a primeira vez”, disse Equipe da professsora Maria da Graça da Costa
Maria. A surpresa da professora tem se repeti- Val reunida para análise dos textos de Minas.
do em várias cidades de Minas Gerais e Per- tos do texto, algo que pudesse contribuir com
nambuco. Um projeto piloto criado pelo Pro- a prática dele”. Em Minas Gerais são quase mil
grama Escrevendo o Futuro, com especialistas professores que receberão a correspondência.
das Universidades Federais de Minas Gerais e Cada membro da equipe de Maria da Graça
de Pernambuco, está possibilitando a quase escreveu 100 cartas. “À medida que esse pro-
1.300 professores dos dois estados receberem fessor comenta com o colega o retorno que
avaliações pessoais sobre o trabalho com tex- teve, passa informações e isso multiplica”, ela
tos desenvolvidos com seus alunos. explica.
Poucas vezes especialistas e pesquisadores Marcuschi chama a atenção para a novida-
da área de Educação puderam estabelecer um de do projeto: “É uma estratégia inédita, des-
intercâmbio tão direto com professores do en- conheço propostas de formação em que se dê
sino básico na área de leitura e escrita. um retorno individual ao professor. No caso des-
se trabalho, dentro do Escrevendo o Futuro, é
Estratégia inédita um retorno à pessoa do professor”. Ela ressalta
Em Minas o trabalho é coordenado pela pro- a valorização do trabalho do educador e do alu-
fessora doutora Maria da Graça da Costa Val, no também, já que é importante mostrar que o
do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita texto do aluno teve leitores. “Na rotina escolar,
(Ceale) da UFMG. Em Pernambuco, pela pro- em geral, fica uma incógnita para o aluno: ‘para
fessora doutora Elizabeth Marcuschi, coorde- quem eu estou escrevendo?’. Nesse retorno, a
nadora do Núcleo de Avaliação e Pesquisa Edu- professora vê que aquele texto teve leitor e,
cacional da UFPE. As equipes das duas pesqui- além de darmos indicações de uma prática pe-
sadoras receberam textos dos alunos semifina- dagógica, de como superar as dificuldades iden-
listas de 2004 em seus respectivos estados e tificadas no texto do aluno, estabelecemos um
fizeram as avaliações. diálogo, pois se a escrita não tiver interlocuto-
Segundo Maria da Graça, “a análise dos tex- res, não faz sentido.”
tos dos alunos é detalhada”. A preocupação é E foi isso que chamou a atenção da profes-
qualitativa, “pensamos no retorno que pode- sora Maria José de Oliveira Camilo, da E. M.
mos dar ao professor, abordando vários aspec- Prof. Dalmir Santos Maia, em Ouro Preto (MG).
O retorno ao professor
As cartas enviadas aos professores que
participaram do Programa Escrevendo o
Futuro contêm comentários citando os
próprios textos dos alunos. Veja abaixo
trecho da que foi enviada à professora
Maria Tadéia Rafael Batista,
Rodrigo Shimizu
de Tabira (PE), com a análise do poema
criado por seu aluno José Antônio.
LOGO QUE RECEBI A CARTA, FUI CONVERSAR COM OUTRA PROFESSORA PARA PLANEJAR O PRÓXIMO ANO.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
OLHANDO EM VOLTA, AS CRIANÇAS DESCOBRIRAM QUE TUDO PODE SER MOTIVO DE POESIA.
NA PONTA DO LÁPIS – ALMANAQUE
11
Canto aos meus lugares
“Em Minas Gerais, meu estado,
Cidades históricas é o que há,
como São João Del Rey,
Ouro Preto e também Sabará.
Da culinária mineira
não posso me esquecer.
Vou falar do pão de queijo, uai!
Que gostoso de comer.”
Bruna Dias do Carmo Costa,
10 anos – Belo Horizonte – MG
Entre lagoas e
florestas
“Linhares, minha cidade
Paraíso sem igual.
Tem a lagoa Juparanã
Verdadeiro cartão-postal
Tem ainda maravilhosas
Reservas florestais.
Vale do rio doce, goitacazes,
Verdadeiros paraísos de
plantas e animais.”
Lucas Augusto Buzato,
10 anos – Linhares – ES
Vida rurbana
“O clima é variado, Princesa da serra
às vezes amanhece quente,
“Minha cidade é tão bela
outras vezes está nublado.
A princesa da serra
Sem falar na geada constante,
Onde o vento canta nos campos
é um frio cortante.
Beijando a Terra
Quando chove muito,
a preocupação não tem fim. Em 1766 Lajes era povoado
Pois acontecem enchentes, Bugres, Bandeirantes e Tropeiros
algo muito ruim.” Chegaram aqui primeiro
Ewerton Luiz Silva dos Reis, 10 anos Ficaram pela terra encantados.”
– Campina Grande do Sul – PR Scheila D. A. Ramos, 11 anos – Lages – SC
De Olho
na Prática
Com quantos textos
Acompanhe passo a passo
Da primeira produção até chegar ao texto final, há muito o que fazer. Como o professor pode
ajudar seu aluno a voltar ao texto, dialogar com ele e encontrar novas possibilidades para melhorar
aspectos de sua produção? Nesse momento, são muitos os questionamentos:
REPORTAGEM
Poesia esparramada
Com experiências e resultados surpreendentes, poemas escritos por alunos
para o Programa Escrevendo o Futuro extrapolaram os muros da escola.
Levaram crianças a outros lugares e foram ouvidos e lidos pela comunidade em
saraus, livros e rádios comunitárias.
Luiz Henrique Gurgel
P oesia foi o gênero de texto com o maior em agosto deste ano, o concurso UPF-Hans Chris-
número de inscrições no Programa Escrevendo o tian Andersen, promovido pela Universidade de
Futuro em 2004. Foram 3.773 poemas, escritos Passo Fundo (RS) e pela Embaixada da Dinamar-
por estudantes de quarta e quinta séries em es- ca. Ela escreveu o conto A bailarina encantada,
colas públicas do Brasil. Os próprios alunos, com baseando-se em A pequena sereia e A pequena
a orientação dos professores participantes, es- vendedora de fósforos, histórias infantis do céle-
colhiam o gênero a ser trabalhado. bre escritor dinamarquês. Como prêmio, Bruna
14 e sua professora Juliana viajam na primeira se-
As oficinas realizadas renderam frutos, am-
pliaram os horizontes, os leitores e os ouvintes mana de outubro para a Dinamarca, onde irão
dos pequenos autores. Escolas organizaram sa- conhecer as cidades de Copenhague, capital do
raus e editaram coletâneas com os poemas dos país, e Odense, cidade natal de Andersen.
alunos; um poema virou rap, chamando a aten- Para a professora Juliana, que também faz uso
ção de um DJ famoso; houve aluna que gostou da poesia em outras disciplinas, “as oficinas do
tanto da experiência de escrever que, participan- programa ajudaram demais, as crianças apren-
do de outro concurso, foi premiada e vai conhe- dem a dar musicalidade ao texto sem precisar
cer a Dinamarca. estar rimando sempre”. Este ano, lecionando His-
tória e falando da escravidão para alunos da quin-
Da poesia ao conto, de ta série, trabalhou com o livro A cor da pele, do
poeta mineiro Adão Ventura. Juliana também uti-
Minas à Dinamarca liza poemas de Elias José, Sérgio Caparelli e Ana
Em Belo Horizonte, Maria Machado.
Bruna Dias do Carmo
Costa, de 11 anos, es- Ritmo e poesia
tuda numa escola com
Também inspirado no lugar onde vive, o cari-
nome de poeta: Viní-
oca Bruno Márcio Moura, de 11 anos, escreveu
cius de Morais. Foi lá
o poema “Paz no meu lugar”. A realidade nem
que começou sua par-
sempre agradável dos bairros pobres do Rio de
ticipação no Programa
Janeiro e a esperança de
Escrevendo o Futuro.
novos e bons tempos
Orientada por sua pro-
para a cidade foram te-
fessora Juliana Bitten-
mas de Bruno. Depois
court Andrade, a garo-
que a sua classe resol-
Arquivo pessoal
Aprendendo
Arquivo pessoal
junto
Na cidade de Caicó (RN), a
Crianças de Caicó (RN) lêem seus poemas. professora Maria da Conceição
Saraiva de Andrade lançou mão
Foi lá que descobriu o ritmo que havia em seu de uma idéia original para trabalhar a poesia com
poema. “Surgiu do nada, sem eu esperar. Com seus alunos. Além de realizar as oficinas propos-
dois colegas que eu conheci na oficina, comecei tas pelo programa, em toda festividade da escola
a cantar o poema. Nem imaginava que podia ela organizou saraus, convidando poetas da ci-
virar letra de rap”, explica. Na premiação regio- dade e contadores de histórias. Nos encontros
com as crianças, os autores eram entrevistados,
nal, Bruno cantou seu rap acompanhado pelo
falavam e liam seus poemas, contavam histórias.
grupo Meninas do Conto – “todo mundo can-
O projeto de Conceição foi adiante e a direção 15
tou, foi mágico”. da escola resolveu lançar o livreto “Portas aber-
Jorge dos Santos, pai de Bruno, entusiasma- tas para a poesia” com os poemas dos alunos e
do com a criação, levou o garoto para gravar um ilustrado por eles mesmos. “Fizemos um sarau à
CD “caseiro” e divulgar o rap em rádios comuni- noite com os pais, direção, supervisão, onde os
tárias dos bairros do Realengo e de Bangu. “Vá- alunos foram apresentados e declamaram seus
rios DJs e MCs começaram a convidar o Bruno poemas”, conta a professora.
para cantar em festas e encontros na rua”, conta Conceição explica que aprendeu ainda mais
Jorge. Mas foi o grupo Malha Funk que resolveu com o trabalho: “As oficinas requerem muita lei-
ir além. Convidaram Bruno para editar e gravar tura, planejamento, debate e pesquisa, mas com-
sua música no Lynk Estúdio, do DJ Marlboro. Ago- pensam, porque aprendem juntos, educador e
ra, enquanto aguarda a produção do CD, Bruno educando”.
continua a escrever: “Estou fazen-
do mais músicas e a experiência
está sendo muito legal”.
Livros e saraus
Em outros pontos do Brasil, pro-
fessores e escolas organizaram e
editaram livretos reunindo os poe-
mas produzidos pelos alunos para
o Escrevendo o Futuro. Em São José
dos Pinhais, cidade próxima a Cu-
ritiba (PR), a professora Emília de
Carvalho Rocha lançou “Vamos
brincar de poesia?”. A sugestão foi
da orientadora da escola e Emília
foi pedir ajuda na própria comuni-
dade para a impressão da coletâ-
nea. “Fiquei surpresa com a reação
das pessoas que leram os poemas.
Um professor de Literatura aposen-
tado me enviou até uma análise do
livro”, conta a professora que há 23
anos trabalha na escola, no bairro
rural da Contenda. O lançamento
teve festa com sarau para os pais e
a comunidade. “Foi importante, as
crianças sentiram que o trabalho Alunos de diversos cantos do país publicam suas poesias.
1a oficina IA
ENDO POES de poesia?”
Cidadezinh
a RECONHEC esia? Gostam
em po 2a oficina
Mário Quint
ana “Vocês conhec s e pedi que BRE POESIA
al un os em equipe al. SABENDO MAIS SO
Di vid i os
ra afixar no mur as. Os alunos
re poem
Cidadezinha escrevessem
poemas pa
se um Provoquei conversa sob
cheia de gr
aça...
us que cada um
es cr ev es
qu e um tex to po ético é mais bonito e
po is pr op viv o” . disseram
qu en ina De
tema “O luga
r onde o qu e notícia de jornal,
Tão pe
a dó! poema com o s seriam guar
dadas desperta mais emoçã rutura
é ca us od uç õe bém observaram a est
qu e at
Expliquei que
as pr
te xt os fin ai s. receita ou conto. Tam po emas.
rarmos com os e o jogo de palavras
pre sen tes nos
para as compa na rra çõ es , trava-
uma folha e deixei exp
osta
apareceram Registrei as idéias em
Não foi fácil: de memória; ide ntif ica r as
e qu ad ras que sabiam na sala. Os alunos com
eça ram a
línguas emas.
do tema. peculiaridades dos po
outros fugiram
16
Milagre no C
orcovado
(...) Para a cida
De ponta a po
de 8 a oficina 7a oficina
nt Patativa do
A gente sente a maravilhosa IDENTIFIC
ANDO EMO Assaré POESIA POPULAR
um arrepio: E SENTIME ÇÕES “Vocês conhecem poesia
O milagre é o NTOS
próprio Rio! (1909-2002) popular, de cordel?”
Rec
itei o poem
a com emoç Um dos Como poucos conheciam,
queria envo ão, pois
lver os alun maiores poetas solicitei que fizessem
9a oficina vocês sentira os. “O que
m ao ouvir uma pesquisa sobre esse
VENDO O MUNDO DE UM Solicitei qu o poema?” populares do
e representa Brasil, retratista estilo. Descobriram que
MODO POÉTICO sentimento ssem seus
s em uma fo a poesia de cordel é
Iniciei a aula lendo o poema os à vontad lha. Deixei- da caatinga
comum no Nordeste.
e; saíram tra
O leão, de Vinícius de Morais. belíssimos. balhos nordestina cuja
Declamei um trecho do
Criamos ve
“Por que o poeta compara o na lousa, es rsos e pus obra foi
poema Emigração e as
clarecendo
rugido do leão a um trovão?” um poema o que era registrada em conseqüências de
lírico.
Responderam que o rugido do folhetos de Patativa do Assaré e
leão é tão sonoro quanto um cordel. falei sobre o escritor.
trovão. Fiz outras perguntas e
em seguida pedi que procuras-
sem no mural poemas que
apresentassem metáforas.
Encerrei lendo o poema Milagre
no Corcovado, de Ângela Leite
de Sousa.
10a oficina
DIFERENTES OLHARES
SOBRE O MESMO TEMA
e sua
Pedi aos alunos que falassem sobr
a em grup os e dei os 11a oficina
infância. Dividi a turm
as Doze anos , Infân cia e Colé gio para TECENDO POEMAS
poem
e os Para o texto final, retomamos
leitura. Conversamos sobre o tema
atiza ram os poem as. Transcrevi o trabalho das oficinas e os
grup os dram
recursos poemas publicados no mural.
os textos, fizemos uma análise dos
s e iden tifica mos as Conversamos muito sobre o
poét icos pres ente
um deles. tema “o lugar onde vivo” e
comparações existentes em cada sobre as peculiaridades de
segu ida diss e: “Pen sem em coisas que
Em nossa cidade. Lembrei que
do lugar
gostam e coisas que não gostam eles deveriam tomar algumas
vivem . Faça m com para ções e
onde decisões ao escreverem o
registrem no caderno”. poema: título sugestivo,
organização dos versos e
estrofes, rimas, repetições
de palavras, ritmo da
linguagem, metáforas etc.
3a oficina
CATADORES DE (...)
POEMAS Pensamentos Quixeré, que faço agora?
Li O catador de de todos
pensamentos (Mônica os tipos:
Quixeré, que faço agora?
Feth), com uma entonação alegres, 4a oficina Tu és tão pequenina
caprichada para despertar tristes, OUVINDO E LENDO Como te defenderei
a emoção dos alunos. inteligentes, POESIA Dessa gente, ó menina?
Aproveitando o entusiasmo, bobos, Essa oficina foi espetacular,
propus: “Vamos ser Todos querem se apossar
bonitos (...) afinal os alunos gostam de
catadores de poemas?”. uma aula diferente: organizei
De tua serra que é linda.
Todos ajudaram: familiares, um sarau com os poemas
moradores e poetas da
A chapada do Apodi
colhidos pela turma e outros
nossa cidade. que selecionei. Fizemos um
Entre todas a mais bela
varal poético. Os alunos Terra rica e frutífera
escolheram poemas no varal Todos olham para ela
e leram para os colegas. Suspirando e desejando
Coloquei música instrumental Ah! Se eu fosse o dono dela!
para tornar o ambiente mais
aconchegante. Muita gente de fora
Aqui já se instalou
E com suas grandes firmas 17
O povo escravizou
Hoje quem era patrão
6a oficina chamam-no de senhor.
M
BRINCANDO CO 5a oficina
E
BRINCANDO COM EMOÇÕES
, RE PE TI ÇÕES E Sei que muitos benefícios
RI M AS
ALITERAÇÕES PALAVRAS Essas firmas nos trouxeram
que
“Vocês sabem o
que é Iniciei a oficina com a pergunta: “O Mas a exploração
ma ioria disse cois inha à-toa que deix a você s
acróstico? ” A é uma É demais e sou sincero
acróstico resp osta s no mura l.
qu e nã o. Fiz um felizes?”. Afixei as Prefiro ver Quixeré
para explicar. Em seguida li o texto: Duas dúzia
s de
com meu nome e feliz Virar um cemitério.
cada aluno coisinhas à-toa que deixam a gent
Depois pedi que e as
fizesse um co m o próprio (Otávio Roth). Conversamos sobr Não é com egoísmo
me . Ta mb ém en sinei o que idéias do autor e as rimas que criou
.
no o Que falo desses abusos
, us an do uma Desa fiei a turm a: vam os escr ever
é aliteração oa
es tro fe do po em a Bolha de nosso “Duas dúzias de coisinhas-à-t É porque a escravidão
Cecília Meireles. que deixam a gente feliz”? Já passou, e é absurdo
Ver meu povo escravizado
Como se fosse surdo-mudo
e
esia em qu
Acróstico: po ve rs o
“Passarinho na janela, Antes, nossa cidadezinha
cada
as letras de cal,
pijama de flanela, Era uma tribo bem singela
sentido verti
formam, em es ou um
brigadeiro na panela.” Mas os índios que a habitavam
nom
um ou mais (Otávio Roth)
áxima etc. Tinham carinho por ela
conceito, m
Lutavam com entusiasmo
Ninguém se apossava dela
Hoje o nosso povo
Não a defende com ardor
É triste ver o estrangeiro
12a oficina Ser chamado de senhor
TOQUE FINAL E também ver nossas riquezas
Fim do trabalho; hora de rever os Serem levadas sem pudor.
textos e fazer a autocorreção.
Coloquei no quadro itens que Quixeré, que faço agora?
auxiliariam na revisão. Foram feitas O meu grito eu já dei
modificações. Pedi que passassem Porém ele é bem pequeno
o texto a limpo. Escolhemos três E na verdade eu não sei
finalistas e os enviamos para a
comissão escolher o melhor.
Se ele vai ecoar
* Professora na EEIEF Vereador
Foi um trabalho árduo, mas Ou vai se calar de vez.
Raimundo Nonato de Sena,
alcançamos o objetivo proposto.
Quixeré – CE. Maria Eliane Mercês da Silva,
12 anos – 5a série
semifinalista, em 2004
Pra valer
A comunidade na internet do Escrevendo o Futuro
www.escrevendoofuturo.org.br está no ar desde setembro e é ponto
de encontro de professores. Além de notícias relativas ao programa,
entrevistas, informações sobre cursos e eventos,e dicas de links
interessantes,a comunidade possibilita que professores de todo o O cordel teve influência
Brasil possam conversar, trocar idéias e experiências em tempo real.
Basta acessar a página e se cadastrar. dos povos espanhóis,
franceses e principal-
Mão e Giz
mente, os portugueses
18 que se fixaram na região
nordeste na época da
colonização. Na Espa-
nha, França e em Portu-
gal o cordel é escrito em
prosa, no Brasil a carac-
terística marcante é do
cordel em verso, no esti-
lo dos repentistas. Em
cada folheto, o poeta
popular, numa rica varia-
ção de versos, conta fa-
tos do cotidiano, grace-
O Escrevendo o Futuro, em parceria com o canal Futura, produziu o
jos, desafios, romance,
programa Mão e Giz - uma série de animação sobre o ensino de história de encantamen-
leitura e escrita por meio de gêneros textuais. São três episódios que to, de valentia e de per-
abordam o trabalho com Texto de Opinião, Memórias, Poema. As
escolas inscritas no Prêmio em 2006 receberão o vídeo pelo correio.
sonalidades importantes
* Xilogravura de autoria de José Francisco Borges, ABLC- Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Texto Vencedor
Minha terra, minha gente
———— ———— ———— ———— ———
———— ———— ———— ———— ———
Na noite————
———— dorme ————
a cidade:———————
no alto
————chia———— o vento,
———— ———— ———
acordadas,
———— só ficam
———— ———— as estrelas
———— ———
o————
frio para o pobre
———— ———— é o lamento
———— ———
————————————————————————————
Manhã vem chegando,
————————————————————————————
roncos
————————————de trovão————————————
————
A mãe————
———————————— prepara————
a marmita
————————
enquant————
———————————— o chega————
caminhã————
o ————
————————————————————————————
Se cai chuva, não tem trabalho;
————————————————————————————
o chão ————
molhado————————————
Christina Rufato
————————————
desfaz
————————————a———— marmita————————————
é hora de————
———————————— ajeitar————
o telhado.
————————
————————————————————————————
Euler Júnior Machado, Se não fosse pelo dinheiro
————————————————————————————
19
10 anos, 4a série, E. M. José a alegria————
seria complet
———————————— ————a; ————————
Henrique Avelar (Santo Antônio
do Amparo – MG)
a família
———————————————— reunida; ————————
————
Só com————
———————————— pão se————
faz a festa.
————————
————————————————————————————
Conheça um Quando vem a estiagem
————————————————————————————
COISAS DE ALMANAQUE
Hai-kai
O que você sabe da arte Forma de poesia japonesa
de compor ou escrever surgida no século XVI e ain-
da hoje em voga, composta
Como se inventaram
os almanaques
Sabem que o Tempo é, desde que nasceu, um ve- Esperança respondeu-lhe com duas gaifonas, e dei-
lho de barbas brancas. Entretanto, uma coisa é barba, xou-se estar solteira. Há de vir o noivo, pensou ela.
outra é coração. As barbas podem ser velhas e os cora- Um dia, Tempo desceu a ver a bela Esperança,
ções novos; e vice-versa: há corações velhos como bar- achou-a anciã, mas forte, com um perpétuo sorriso nos
bas recentes. Não é regra, mas dá-se. Deu-se com o lábios.
Tempo. Um dia o Tempo viu uma menina de quinze
– Ainda assim, te amo, e te peço... – disse ele.
anos, bela como a tarde, risonha como a manhã, sosse-
gada como a noite, um composto de graças raras e fi- Esperança abanou a cabeça; mas, logo depois, es-
nas, e sentiu que alguma coisa lhe batia do lado esquer- tendeu-lhe a mão.
do. – Vá lá – disse ela –; ambos velhos, não será longo
– Que é isso? Murmurou o velho. consórcio.
Sentiu que era amor: mas olhou para o oceano, vasto – Pode ser indefinido.
espelho, e achou-se velho. Amaria aquela menina a um O velho Tempo pegou da noiva e foi com ela para
varão tão idoso? um espaço azul e sem termos, onde a alma de um deu
– Como te chamas, linda criatura? à alma de outro o beijo da eternidade. Toda a criação
estremeceu deliciosamente. A verdura dos corações fi-
– Esperança é meu nome.
cou ainda mais verde.
– Queres amar-me?
Esperança, daí em diante, colaborou com os alma-
– Tu estás carregado de anos – respondeu ela –; eu naques, cada ano, em cada almanaque, atava Esperan-
estou na flor deles. O casamento é impossível. Como te ça uma fita verde. Então a tristeza dos almanaques era
chamas? assim alegrada por ela; e nunca o Tempo dobrou uma
– Não te importe o meu nome; basta saber que te semana que a esposa não pusesse um mistério na se-
posso dar todas as pérolas de Golconda... mana seguinte. Deste modo todas elas foram passando,
– Adeus! vazias ou cheias, mas sempre acenando com alguma
coisa que enchia a alma dos homens de paciência e de
– Os diamantes de Ofir...
vida.
– Adeus! adeus!
Assim as semanas, assim os meses, assim os anos. E
Esperança fugiu. O Tempo ficou a olhar, calado, até choviam almanaques, muitos deles entremeados e ador-
que a perdeu de todo. Abriu a boca para amaldiçoá-la, nados de figuras, de versos, de contos, de anedotas, de
mas as palavras que lhe saíam eram todas de bênção. mil coisas recreativas. E choviam. E chovem. E hão de
Foi por essa ocasião que lhe acudiu a idéia do al- chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança
manaque. Não se usavam almanaques. Vivia-se sem eles; os edita; é toda a oficina da vida.
negociava-se, adoecia-se, morria-se sem consultar tais (Condensado e adaptado de
livros.
Almanaques dos Fluminenses.
– Se eu achar um modo de trazer presente aos olhos Rio de Janeiro, H. Lombaerts & Cia., 1890,
os dias e os meses, e o reproduzir todos esses anos, pp.8,12,15,18,21,24)
para que ela veja palpavelmente ir-se-lhe a mocidade...
Raciocínio de velho, mas tudo se perdoa ao amor, Dois horizontes
ainda quando ele brota de ruínas. Assim toda a Terra
Dois horizontes fecham nossa vida:
possui, no mesmo instante, os primeiros almanaques.
Um horizonte, – a saudade
– Agora, sim! – disse Esperança pegando no folheto Do que não há de voltar;
que achou na horta –, agora já me engano nos dias das Outro horizonte, – a esperança
amigas. Irei jantar ou passar a noite com elas, marcando Dos tempos que hão de chegar;
aqui nas folhas, com sinais de cor dias escolhidos. No presente, – sempre escuro, –
Ano findo, outro almanaque; assim foram eles vin- Vive a alma ambiciosa
do, até que esperança contou vinte e cinco anos, ou, Na ilusão voluptuosa
como então se dizia, vinte e cinco almanaques. Nesse Do passado e do futuro. (...)
mesmo instante apareceu-lhe o Tempo.
– Aqui estou,não deixes que te chegue à velhice...
Ama-me...
RESPOSTAS: CARTA ENIGMÁTICA (p.4): “Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que todas as coisas têm.” (García Lorca)
TESTE (p.20): 1- d 2- a 3- c 4- b 5- d 6- c
Prêmio
Prêmio Escrevendo
Escrevendo oo Futuro
Futuro 2006
2006
Conselho Nacional de
Conselho Nacional de
Secretários de Educação
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