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A REVOLUCAO SEXUAL Traducio de ARY BLAUSTEIN Terceira edigao 29F Bor PE ARCA & GaALo ZAHAR EDITORES RIO DE JANEIRO ‘Translated from DIE SEXUELLE REVOLUTION: Zur Charakterlichey toststeuerung by in 8 new edition with corrections, © 1968 Mary Boyd Higgins as ‘trustee of The Wilhelm Reich Infant Trust Fund, Originally published in German as DIE SEXUALITAT IM KULTURKAMPF copyright 1936 by Sexpol-Veriag, Kopenhagen. English language edition pu- blished by Farrar, Straus é Giroux, Inc. under the title THE SEXUAL REVOLUTION: Toward a Self-Governing Character Structure, co~ pyright © 1945, 1962 by Mary Boyd Higgins as trustee of The Wilhelm Reich Infant Trust Fund, Baitore = «| 9.6 00 1976 Direitos para a lingua portuguesa adquiridos por ZAHAR EDITORES Rua México, 31 -~ Rio de Janeiro que se reservam 2 propriedade desta tradugio Impresso no Brasil INDICE Prefécio da 4° Edigho (1049) .....2.... sees esse tne eere ene es Prefaclo da 3.8 Edico (1945) .........ssseveeesesseeeerenteeee \ Prefacio da 2.* Bdigho (1886) ...-..-.--seseeeseeeeeeeeeeneneee PRIMEIRA PARTE. O FIASCO DA MORAL SEXUAL I. O8 FUNDAMENTOS CLINICOS DA CRITICA BEXUAL- ECONOMICA 1. Do Prinetpio. Moral aoEconémico-Serudl .......-.++++ 2. Uma Contradigéo da Teorta Cultural de Freud....... a) Repressio sexual e abstinéncla impulsional .... Dd) Batisfagio e abstenctio de impulsos 3. Impulso Secundério ¢ Regulamentagdo Moral . 4. “Moral” Sexual-BoonOmica .......5..s08eeseees Tl. O FRACASSO DA REFORMA SEXUAL ...............- Il, A INSTITUIQAC DO CASAMENTO COMO BABE DAS CONTRADICOES DA VIDA SEXUAL ......4..--.-0055 6 I. Vv. A REVOLUCAO SEXUAL A INFLUENCIA DA MORAL SEXUAL CONSERVADORA ‘2 1. Cidnoia “Objetiva, Apolitica” ............. 0... ccc 72 2. A Moral do Casamento como Empecitho a Qualquer Reforma Serual 0... ici cece cece eee e nent nets @) Helene Stécker 2...00.0...... see cece e eee eee 83 Bb) Augusto Forel .........0.. 0c ce eee esses eee eee eee 0 ¢) © fim da Liga Mundial para a Reforma Sexual 91 3. © Beco sem Saida da Educagéo Sexual ...... sere Pad A FAMILIA COMPULSORIA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAGAO .... . 08 1, A Influéncia da Ideologia Social .................... 106 2. A Estrutura Triangular ......... scenes 108 O PROBLEMA DA PUBERDADE ..................--...- 1s 1, QO Conjlito da Puberdade .................+ beveeeeeee U3 2, Ewigéncia Social e Realidade Serual .................. 118 a) Juyentude operdria 120 b) Juventude da grande-burguesia 136 3. Uma Consideragdo Médica, Ndo-ftica, sobre as Rela- gdes Sexuais da Juventude . 134 @) A abstinéncia sexual na puberdade ... 135 b) © onanismo.... 143 c) As relaghes sexuals dos adolescentes ............ 144 CASAMENTO COMPULSORIO E RELACAO SEXUAL PERMANENTE .........----:eeceeeeeeeeneeerene ieee eeeee 149 1, As Relagédes Seruais Permanentes 153 2. O Problema Matrimonial ..................... wees 162 @) A fungéo social do casamento . 164 176 d) A contradigfo da instituigéo do casamente SEQUNDA PARTE A LUTA PELA “NOVA VIDA* NA UNIAO SOVIETICA REACAO SEXUAL NA RUSSIA . 18 I. ‘ “ABOLIQAO DA FAMILIA" ....0..000.c0ccccceceeeeee ie (TL A REVOLUGAO SEXUAL 00.0... .ccceccecceceereees 196 ' 1. Legtsiagho de Tendéncia Progressista ................ 196 «peg OF Operarias Previnem ooo... .s.ccesiescescsneaees 202 IM, © REFREAMENTO DA REVOLUGAO SEXUAL ........ 214 1. As Pressuposigdes para o Refreamento 2. Moralizar, em Vez de Reconhecer e Dominar 3. Causas Objetives do Refreamenta .............-..6+5 Iv. LIBERACAO E REFREAMENTO DO CONTROLE DA NA- TALIDADE E DA HOMOSSEXUALIDADE .. 331 1. Controle da Natatidade . 231 Solug&o fundamental ..............-..:0-000eeeee eee 2M 2. A Reintrodug#o da Cléusula da Homosserualidade .. 245 Vv. O REFREAMENTO NAS COMUNAS DA JUVENTUDE .. 249 1. Juventude Revoluctondria 2, Comunas da Juventude ... ¢) A Comuna Sorokin ....... * 8) A comuna operéria “Bolchevo”, da GPU, para de- lingllentes: ¢) A juventude & procure de novas formas de vida .. 262 d) A contradicSio insolivel entre famflla e comuna .. 267 8 A REVOLUGAO SEXUAL [ 3. Pressuposic6es Bstruturais Necessdrias ...... eeneeeee OB VI. ALGUNS PROBLEMAS DA SEXUALIDADE INFANTIL .. 276 Estruturagdo Coletivg ......ceeceeccseccteeesseeseenee an Reestruturagéo Nao-Autoritérta no Bebe ............ 282 Falsos Revoluctondrios, Educagdo Pastoral ........... 290 Novamente a Questdo dos Delingilentes aexw re ‘VII. O QUE SE CONCLUI DA LUTA SOVIETICA POR UMA “NOVA VIDA” Amor, trabalho e saber séo as fontes de nossa existéncia. Deverio regé-la também. O redator do Garnrolle, que apresentou a pergunia: “Para que vivemos?”, parece ter vontade de aventurar-se no éma- tanhado da Filosofia. Talvez tenha sido tomado por um gran+ de temor ante a insignificdncia da existéncia humana. No pri- meiro caso, ainda bem; no segundo, muito mal. Isso pela se- guinte tazdo; “Viver para viver” é a tinica resposta & pergunta feita, por esquisito e unilateral que isso possa parecer. Toda a finalidade, todo o sentido da vida, para o. homem, consiste na propria vida, no processo da vida. A fim de apreender a finalidade eo sentido da vida, é preciso amar a vida por ela mesma, .intetramente; mergulhar, por assim dizer, no redemoi- nho da vida; somente entdo apreender-se-d o sentido da vida, compreender-se-d para que se vive. A vida é algo que, ao con- trdrto de tudo criado pelo homem, nao necessita de teot quem apreende a prdtica da vida também assimila a sua teoria. (Do didrio do aluno Kostya Ryabtsev) Prefacio da 4* Edigt&o (1949) Vinte anos se passaram desde que foi reunido o material da primeira parte deste livro na Austria e entregue para publi- cacdo do “Muerster-Verlag” em Viena sob o titulo Geschlecht- sreife, Enthaltsamkeit, Ehemoral. Vinte anos contam pouco no campo bioldgico; entretanto, nesta metade tormentosa do s¢- culo XX a sociedade humana tem sido assolada por mais males que nos séculos anteriores. Podemos dizer que todos os concei- tos estabelecidos pelo homem para a nitida compreensio de sua existéncia nestas ultimas duas décadas comecaram a lique~ fazer-se. Entre estes conceitos nenhum do ~mais do que o- Ca eee ee ae ais sesh Estamos viven 10 @ uma ver i i @ in versio de t 05 valores que se rélacionam com a vida sex: se rvelacionam ¢om a vida sexual infanto-juvenil. Eee ee Quando, em 1928, fundei em Viena a “Sociedade Socialista para o Consetho e Pesquisa Sexual’, os direitos genitais das criangas e dos jovens eram tabu. Era inadmisstvel que os pais tolerassem jogos genitais infantis, muito menos ainda que os constderassem como exteriorizagées de um desenvolvimento na- tural e sadio, A simples iddia de que os jovens satisfizessem sua necessidade de amor num abraco natural era horrenda. A difamacdo atingia aquele que apenas ousasse mencionar esses direitos. Na luta contra as primeiras medidas para a seguranga da vida amorosa infanto-juvenil, grupos humanos que em ou- 14 A REVOLUQAO SEXUAL tros campos se combatiam com ddio miutuo conciliavam;: mem~ bros de igrejas de todas as confissées, socialistas, comunistas, psicdlogos, médicos, psicanalistas etc. Nos meus consultdrios sexual-higiénicos e nas reunides de higiene mental, que ainda devem estar na lembranga de bom niimero de austriacos, apre- sentavam-se éticos e sofistas, que profetizavam o fim da huma- nidade baseados na imortalidade; pollticos, que prometiam as massas de maneira irresponsdvel o céu sobre a terra, nos afu- gentavam de suas organizacdes porgue defendiamos os direitos das criancas e dos jovens ao seu amor natural. Esse representa- slio puramente médica das exigéncias bioldgicas teve natural- mente consegiiéncias graves imediatas para a totalidade da es- trutura social e econémica da sociedade: moradias para jovens; subsisténcia assegurada pata pais; reestruturagéo do cardter dos educadores; critica de todas as tendéncias politicas que basea- vam sua atividade e existéncia no desampato essenctal do ho- mem; auto-suficiéncia interna bdsica do homem e, por conse- guinte, das massas humanas; auto-orientagio na educagdo in- fantil e, dessa forma, paulatinamente, a emancipagéo dos adul~ tas; eram os primdrdios originais duma reviravolta significative na constituic¢ho bioldgica do homem. A pressio exercida de todos os lados sobre esse trabalho social-higiénico era tdo grande que resolvi transferir-me para a Alemanha, Em setembro de 1930, acabei com a minha flo- rescente clinica médica em Viena, bem como com o magistério pstcanalitico, ¢ mudei-me para Berlim. Desde entio, revi a - Austria uma unica vez, em abril de 1933. Durante essa curta estada, por ocasido de uma reunido de estudantes universitd- , Tios vienenses, pude tirar algumas conclusdes do meu trabalho Sobre o fascismo: a catdstrofe alem& me pareceu, como psi- qutatra ¢ bidlogo, resultado das-massas humanas tornadas bio- logicamente indefesas, que haviam catdo sob o dominio de al. guns poucos bandidos sedentos de poder. Fiquei agradecido pela compreensio que encontrei na ecasido por parte da ju- ventude académica vienense. Néo havia um tinico dos poltti- cos dominantes que prestasse ouvidos a isso. O problema da biologia do animal humano, desde entéo, eresceu desproporcionalmente, Hoje, em marco de 1949, nos Estados Unidos da América, nos encontramos em meio a acir- rada luta pelo reconhecimento da revolugio biolégica, que hd alguns decénios tomou conta da humanidade. Neste ponto, se- tig demasiado entrar em detalhes, Uma tinica circunstdncia, no entanto, deve ser acentuada energicamente. Aquilo que de 1920 a 1930 parecia tio estranho e perigosa na Austria, hoje, em 1949, é assunto de debate piiblico acalo- rado na América, A reviravolta deu-se aproximadamente em 1946. logo depois do término da Segunda Guerra’ Mundial. Assinalouwse pelo fato de que os jornais traziam cada vez mais artigos em torno da naturalidade da auto-satisfagao genital das eriangas. O vasto mouimente da higiene mental apoderou-se da conseiéncia publica na América. Sabe-se hoje na América que o futuro da humanidade depende da solug%o da estrutura ca- ractérica do homem. Nos tiltimos dois anos, especialmente, o slogan da auto-orientagio na educagio infantil alastrou-se enor- memente e comeca a avancar para as grandes massas. Eviden- temente, existem aqui, como alhures, hipdcritas sexuais em altos postos — funciondrios publicos que se escandalizam quan- do ouvem falar em auto-orientacdo ¢ que constituem a pior espécie de politicos sedentos de poder. No entanto, no se pode duvtdar mais do avancgo do movimento da higiene mental em massa e da afirmacio de sexualidade bioldgico-natural das eriangas e dos jovens. Tal movimento ndo pode mais ser detido. A ideologia da negagéo da vida e a da sua afirmagdo contra- pidem-se. — Nao attrma que a vitéria jd tenha sido conguistada, din- da haverd choques e debates acirrados inte ectnios. Dex, cigro ‘Ose entretanto, que a afitmagéo bdsica da vida amore “aneset de mutine inimtgos p GS do ser urvo. Ale ond conheco, @ A a é também o tinico pals em que “a vida, a liberdade ¢ a busca da felicidade” (‘‘life, liberty and the pursuit of happiness”) séo elementos bdsicos de sua constituigdo, As- Seguro ao leitor também que estou plenamente consciente das corventes reaciondrias nos Estados Unidos. Entretanto aqui, como em nenhum outro lugar, existe a possibilidade de lutar- se em favor da busca da felicidade e dos direitos do ser vivo. O livro de Alexander Neill, The Problem Family, que defende integralmente o principio sexual-econdmico na educacdo, ven- deu milhares de exemplares imediatamente apds a publicagao. O presente livro, A lugio Sexual, também antes havia sido aceito positivamente, Existem, na Am: reconhecidas organizagdes de pais e rO) fender eee a 16 A REVOLUGAO SEXUAL g-principio da auto-orientacio, ¢ conseqiientemente da econo- mu s universidades ensina-se o principio vida inclusive o elemento sexual; cd e Id existem hesitagoes, siléncio, inimizade mesmo, mas a higiene sexual das massas é uma realidade, Eu gostaria lindo este de acordo com 0 ponto_ de evolugio di livro, tornando-o atual, conheciniente ae Boje Mas tive que privar-me disso, As relagdes sexual i dec e a_i ue constitui um todo Pilegralcessa_imagem ainda ¢ essencialm, Os co- nhecimentos cientificos ¢ médicos, colhidos a partir de 1930 no campo da economia sexual, foram publicados em trabalhos de- tathados; agora estd sendo planejada a publicagdo deste novo desenvolvimento em lingua alema, Apresento, assim, A Revo- lugao Sexual em versio quase inalterada, E necessdrio salien- far, ue mais de 17 anos meu trabalho é independente de quaisquer tendéncias politice-partiddrias. Tor NOou-se agora w: e ee 4 ientemente_¢; tagonismo marcante com trata da vic ae Winnetm Rec Forest Hills, Nova York, em marco de 1949 Preféicio da 3° Edigéio (1945) A presente 3° edigéo do meu livro Die Sexualitat im Kulturkampf (1.* edigéo 1930, 2.9 edigéo, ampliada, 1936) apa- rece, gragas aos grarides esforcos do Dr. Theodore P. Wolfe, pela primeira vex em lingua inglesa. Nao contém quaisquer al- teracdes das exposigdes pertinentes, Na terminologia, entre- tanto, foi necessdrio proceder a muttas modificagées: QO movimento liberal europeu, em cujo contexto a matéria f i_originalmente cothida entve 1918 e 1935, labo- rienta: itdric te B-brocesso de vida da “burguesia” ¢_a.orientasio.liberal.com ‘© fundamental, Os acontecimentos sociais dos ul- se nest anos o corrigiram com ensinamentos sanguinolen- tmos tos: Orientagao autoritéria ¢ liberal nada tém que ver com os limites econdmicos de classe, bem definidos. A ideologia de uma camada social nao é um reflexo imediato de sua situagéo econdmica, As excitagdes emocional e mistica das massas deve ser atribuido um significado no minimo tio amplo, se ndo muito mais lato, na engrenagem social, do que aos interesses puramente econémicos. A tica compulsio’ autoritéria travessa_em todos os sentidos Ri as nagoes, assim como o_pensamenta-e-a-agao liberais. Nao existem limites, no que concerne & estrutura do cardter, como extstem limites de situagéo econémica ou de posigdo social. Nao se trata de “lutas de classes” entre proletdrios ¢ burgueses, somo a Sociologia tedrica mecanistica preconiza. Nao: tra 18 4A REVOLUCAO SEXUAL thadores liberalmente estruturados lutam conira trabalhadores Gutoritaridmente estruturados e contra os parasitas da socie- dade; membros liberalmente estruturados das camadas sociais mais atevadas Taian com. o.empenho de toda-a sua. exisinca lo direito de todos os trabalhadores contra ditadores . Ee? ap proterarieaten ot Resta SOvIetISa: pue-wargen asta ee ‘Volucae protetdria;¢ hoje, 1944 — lamento profundamente ter que declard-lo — sexual-politicamente reaciondria, ao passo que @ América, que surgiu duma revolucio burguesa, sexual-poli- ticamente deve pelo menos ser classificada como progressista. Os conceitos sociais do século XIX. com sua definigdo pura- mente econémica, jé néo mais se aplicam 4 estratificagao ideo~ logica que vemos nas lutas culturais da soctedade humana do século XX. As lutas sociais, para reduzi-las a férmula mais simples, hoje se travam entre os interesses da seguranca e afir- macio da vida e os interesses da destruicio e repressio da vida. g ten cig igi hoje nao mats px n wuranga_c liberdade mdximas posstveis is na? Fazes fraticamente tudo ao teu alcancé para tornar os mil de massas humanas téo ayténomos em pensamento, agéo e modo de viver que a autonomia completa da vida social — e em tempo nao muito temoto — se torne regra axiomética?” &std completamente claro que a questéo social bdsica, posta de tal forma concreta, é o funcionamento vivo de cada membro da sociedade, inclusive do mais pobre. E nesta cono- tagdo a importdncia, que tive que conceder a repressdo sexual social hd quinze anos, assume proporgdes gigantescas._A re- Etessio a vida amorosa infanto-juvenil provou, gracas as pes. quisas economia stxual ¢ individual, ser 0 mecanismo bd- {ica-da-criagiia-de_individuos submissos & csctevos econdmicos.” ‘ortanto, niio se trata mais de apresentar uma carteira de fir var essa, aquela ou guaiguer outra ideologia. Trata-se, iné- quivocamente sempre sem qualquer possibilidade de mistifica- Gao social, de se afirmar integralmente, de ajudar e assegurar, as manifestacoes lures ¢ sadias ida dos recém-nascidos, das i jes religiGo, judaica, cristé ou budista, Isso vale inequ mente qualquer lugar e lobar 7s” aaa a G os ianglbeg quanto houver vida, i 5 rE O embiste orcanizado ¢ com A necessidade de uma modificagao radical das condigées de vida sexuais jd permeou o pensamento social em geral ¢ es- td-se alastrando rapidamente. A atengdo compreensiva da vida amorosa infantil constantemente conquista circulos mais am- plos, Embora a afirmagdo social da vida amorosa do adoles- cente ainda nio exista na prdtica, embora a ciéncia educacional Oftcial ainda evite pegar nas “‘batatas .quentes” apresentadas pelo problema sexual da puberdade, a iddia de que as relagées sexuais do adolescente é uma exigéncia natural e ldgica nao pa- rece mais tio horrenda como em 1929, quando a apresentei pela primeira vex. O. sucesso desfrutado hoje pela economia sexual em tantos patses déves¢ aos intimeros i i uy uals as necesst 0S Gi tes parecem completamente naturais ¢ “\asiyicadas_¥ verdade que ainda existem a vergonha da legis- lagio sexual medieval e tdo nefastas instituicdes como os Te- formatérios, que fazey al desmedido. Mas foi aberto o O 5 Um novo pertodo de esclarecimento terd que lutar contra os poderosos resquicios do irracionalismo medieval. E certo que ainda existem representantes da “degeneragéo hereditd- ria” e da “criminalidade inata”; mas o reconhecimento da mo- tivagio social do crime ¢ da doenca emocional estd-se difun- dindo cada vez mais. E certo que ainda hd muitos médicos que recomendam amarrar as méos das criangas para evitar o ona- nismo ‘(masturbagdo) ; mas jd se escreve muito contra isso na imprensa didria, Certo é que muitos jovens ainda vio parar nos reformatdrios porque exercem fungdes amorosas naturais; mas jd existem muitos jutzes que sabem que tal legislagdo ¢ tais instituicdes sdo crimes sociais, Certo ¢ que ainda existe ampla moralidade e intromissio religiosa que condena a sexua- Itdade natural como obra do diabo; mas hé um niimero cada vez maior de estudantes de Teologia que realizam servigo social prdtico sem dar importdncia a esse falso moratismo. J4 exis- tem até mesmo bispos que defendem o controle da natalidade, embora o limitem ao matriménio legal, E verdade que muitos jovens ainda sofrem as conseqiiéncias ruinosas da dificil luta yer 20 . A REVOLUGAO SEXUAL pela felicidade amorosa; mas jd acontece que um pai é admoes- tado publicamente pelo rddio quando amaldicoa a filha por ter dado @ luz uma crianca sem a respectiva certidéo de casa- mento. E verdade que ainda existem leis compulsdrias de ma- fréménio que possibilitam fazer do casamento um caso de chan- tagem, mas a repulsa a tais leis ¢ processos de divércio cresce ¢ estd-se generalizando cada vez mais. O que estamos vivendo é uma revolugdo real e de alcance profundo da vida cultural, a qual ocorre sem desfiles, unifor- mes, medalhas, tufar de tambores ou salvas de canhées; mas @s suas vitimas n&o sio em menor numero do que as das guer- vas civis de 1848 ou 1917. Os sentidos do animal -humano para as suas funcées vitais naturais estio despertando de sono secular. A reviravolta em nossa vida atinge a raiz de nossa exis- téncia emocional, social e econdmica, As reviravoltas na vida familiar. o calcanhar de Aquiles da sociedade, realizam-se de forma cadtica. Sio cadticas porque nossa estrutura familiar autoritdria, herdada do antigo pa- inarcado, foi profundamente abalada e se encontra em via de dar lugar a uma forma familiar melhor ¢ mais natural, Este livro néo condena as relagées’ familiares de origem natural, ataca, porém, a forma autoritdria da familia, preservada por leis rigidas, pela mentalidade reaciondria e pela opiniéo pu-. blica trracional. Os acontecimentos na Uniéo Soviética no de- correr da revolugéo social, depois de 1917, dos quais tratamos na segunda parte deste livro, mostram o cardter emocional ¢ socialmente perigoso dessas reviravoltas. A crise da familia que @ Ruissia Sovidtica tentou resolver num curto espaco de tempo, na década de 1920, ocorre agora em todo o mundo, de modo muito mais lento, mas também muito mais radical. Quando falo de “revolugéo de alcance profundo da nossa vida cultu- tal”, refiro-me principalmente @ substituigéio das autoridades patriarcal-autoritdrias pela forma natural familiar. Entretanto, € precisamente essa forma natural de relagées entre marido ¢ mulher ou entre pais e filhos que tem que lutar contra obs- tdculos extremamente perigosos. A palavra revoluciondrio nesta, como em outras obras sexual-econdmicas, nao significa o uso de dinamite, mas o uso da verdade; niio significa reunides secretas e a distribuic¢io de fothetos clandestinos, mas adverténcia aberta e piblice da cons- ciéncia humana sem tergiversagdes ou pretextos; no significa Bangsterismo politico, execucdes, nomeagées, assinaturas ow rompimentos de pactos, mas significa “racionalmente revol- vente, agarrando as coisas pela raiz"”. A economia sexual é re+ voluciondria no sentido das reviravoltas causadas pela desco- berta dos micrdbios e da vida psiquica inconsciente, na Me dicina; da descoberta das leis mecdnicas e da eletricidade, na técnica; da descoberta da existéncia da forca produtiva, da for- ga de trabalho, na Economia, A economia sexual age de forma revolvente porque revela as leis da formagda do cardter do homem e porque baseia os esforgos humanos no sentido da li- berdade nao mais em slogans emptricos, mas nas leis funcio- nais da energia bioldgica. Somos revoluciondrios por encarar- mos o processo da vida com os métodos da Citncia Natural, ¢ nao de maneira mistica, mecanistica ou politica, A descober- ta da energia orgdnica cdsmica, que funciona nos organismos vivos como energia bioldgica, dd ds nossas aspiragdes sociais um fundamento sdlido na Ciéncia Natural. O desenvolvimento da nossa época, em toda parte, é no sentido de uma comunidade planetéria dos cidad&os terrestres e de um internacionalismo sem condigdes e sem restrigdes. O dominio dos povos pelos politicos deve ser substitutdo pela orientacio cientifica dos processos sociais, O que importa ¢ a sociedade humana, nao o Estado. O que importa é a verdade, ndo a tdtica. A Ciéncia Natural enfrenta seu maior problema: assumir finalmente e definitivamente a responsabilidade pelo destino futuro desta humanidade atormentada. A politica des- gastou-se definitivamente. Os naturalistas terZo, quer queiram, quer nao, que assumir a diregéo dos processos de vida social, ¢ os politicos aprenderéo, por bem ou por mal, a prestar ser- vigo util. Auxtliar a afirmagdo da nova ordem de vida racional ¢ cientifica, pela qual em toda parte se luta encarnigadamente, tornar o seu nascimento e seu crescimento mais indolores e menos sacrificados é uma das tarefas desta obra. Quem, no sen- tido do ser vivo, for digno ¢ socialmente cénscio de suas res- ponsabilidades. nao pode deixar de compreender isso, nem o usard indevidamente, WitueLm REIcH Novembro de 1944 Prefécio da 2 Edigto (1936) Em outubro de 1935, trezentos dos mais afamados psiquia- tras chamaram o mundo 4 raziio. A Itdlia acabava de invadir @ Abissinia. Milhares de pessoas, entre os quais mulheres, an- ClGos e criangas, foram trucidadas, indefesas: Obtinha-se uma iddia das proporcées do assassinato em massa em caso de uma nova, guerra mundial. ‘O fato de uma nagao como a italiana, em que massas da populag&o passavam fome, seguir com tanto fanatismo o cha- mado ds armas, sem qualquer rebeliéo, jd estava sendo espera- do, mas nao é compreensivel. Serviu para reforcar a crenca al de que nao somente o mundo em alguns lugares ¢ go- reais, Eis aligns sintomas na abunddncia; expor-se ao frio, 4 chuva ¢ 4 neve, apesar da abundancia de carvizo, mdquinas de construgio, milhbes de qui lémetros de drea livre etc.; acreditar que um poder divino de longus barbas: brancas rege tudo ¢ que se estd & mercé desse poder; para o bem ou para o mal; matar pessoas inocentes com entustasmo e acreditar ter de conquistar uma terra da qual nunca ouviu falar; andar esfarrapado e ao mesmo tempo sen- tir-se como representante da “grandeza.da nagio” a que se pertence; querer a sociedade sem classes ¢ considerd-la a “co- munidade do povo” com os cagadores de lucros; esquecer o que prometen um politico antes de se tornar lider da nagio; ‘dele- gar a qualquer individuo, mesmo que seja um chefe de Es- - tado, um poder quase absoluto sobre a propria vida e destino; ndo ser capaz de pensar que também os tais grandes lideres do Estado dormem, comem, tém disturbios sexuais, satisfazem suas necessidades orgdnicas, sio dominados por impulsos emocio- nats inconscientes e¢ incontrolados, exatamente da mesma for- ma que os simples mortais; considerar o castigo das criangas no interesse da “cultura” coisa evidentemente normal; negar @ felicidade da uniao sexual a jovens na flor da idade. Poder- Se-ia continuar ao infinito. O apelo dos 300 psiquiatras foi uma agéo pragmdtica por parte de uma ciéncia que geralmente se considera ndo-pragmd- tica. Mas essa ago foi incompleta. Nao atacou as ratzes dos * fendmenos que estavam corretamente sendo apontedos. Nao formulou a pergunta a respeito da natureaa dasgulgmmidadess : 4ntntal do homem de hoje. Nao perguntou pelas causas « imensurdvel disposigao ao sacrificio da massa em prol dos inte- do _estabeleceu a dife- resses de alguns poucos politiqueiros. fome ¢ miséria das massas, juntamente com a produtivt erescente da economia, em vez de levar 4 plantficagdo econd- mica racional da vida, levou 4 afirmacio da fome e a deterio- ragéo espiritual da prépria massa trabalhadora. O movimento liberal ficou em segundo plan (1 i da psi- Os estadistas de hoje sio irmaos, amigos, primos, sogros, dos grandes capitalistas ow dos ditadores. O fato de que a mas- $a dos homens que pensam, isto ¢, dos homens cultos e ins- trutdos, n@o se apercebe disso, nem reage de forma adequada, @ que constitui o problema. Nao pode ser resolvido por “in- vestigacies pstcodiagndsticas” individuais, Sacer ctor u 2-embotamento do pensamento ractonal, a r igs Zo “mundo, que abrigara quatro ém cada mil pessoas, nao se dd mais atencdo a regulam tagao da vida sexual do que na politica. Na cién- cia oficial, p capitulo Sexuatidade ainda ndo foi escrito. Ape- sar disso, hpje niio se pode duytdar mais da causa de reagdes iquicas akormais pela orienticio doentia de energia sexual Insatisfeita (= excitagéo do ago). Vamos,| portanto, & raiz da doenga pstquica massa, qyando enfrentamos a questéo da regulamen) sexual} do homem. A energia sexual ¢.& energia bioldgica construtora do apa- relho psiquico queep estrutura sensorial e de pensa- mento hu Rca lidade (fisiologicamente, fungéo do vaga bors ler oe brady ts Sua repressao} SigMPCG, nao Somente Woe CeO Tna ¢ geval, p ur bang das Fa Ber Wilais fundamentaie @ ex; stg socialmente briante désse fato € a acho inefic (rractonaty to-tro Oucura, seu isticteno. sua dis- posicdo para a gierta etc. A politica Social vartir da pergunia, Por we Wastive Procuremos resumir brevemente de. que maneira\a econo- mia sexual estabelece a relagdo entre a vida mental humana ¢ a\ordem econdmica social, As necessidades humanas \sa o for~ , transformadas e especialmente. também subjugada pela Sociedade; assim se forma a estrutura psiquice do homeh 9 estritura nao ¢ inata, mas se desenvolve em cada membro iso ‘lado da sociedade no decorrer da lute vonstante entre \néces- sidade e sociedade, Nao existe uma estrutura de impulsds ina- ta; essa:estrutura €73 Edguitide no decorer dos primeitas ae i053 ida. eitctncia 2a ante crate jenke. 3 temos qué sa a 0, nado somen amo_t.g fai_estruturade o home mas também como os homens livres devem Set estruluraaog, que forcas devem ser utilizadas para tal ine Forgas cevem ser ublizagas para tal pun y O Amago da psicologia politico-prdtica ¢ a politica sexual; { poss, o dmago do tom sexual. Isso romances, de te As necessidades bioldgicas, a alimentagio e o desejo sexual, determinam fundamentalmente a necessidede da organizacdo ‘soctal dos homens. As “relagdes de produgio” assim crit a ificam as necessidades fundamentais, sem, no creo Km matd-las, e assim criam novas necessidades. As modi € recém-criadas necessidades, por sua vez, determinam o desenvolvimento posterior da produgdo, dos meios de produ- go (ferramentas ¢ mdquinas) e consegiientemente o das rela- Ges sécto-econdmicas dos homens entre si. Com base nessas re- lagdes de produgdo dos homens entre si desenvolvem-se certos conceitos em torno da vida, da moral, da filosofia ete. Tais conceitos correspondem apraximadamente @ situagéo do desen- voluimento téenico num determinado momento, isto ¢, @ ca- pacidade de compreender-se profundamente a existéncia hu-, mana, A “sdeologia” social assim estabelecida, por seu lado, forma a estrutura humana. Desse modo, torna-se uma forga material, conservando-se na estrutura do homem como “tra~ digéo”, O desenvolvimento posterior depende inteiramente de que a sociedade como um todo participe da produg&o da ideo- logta social, ou de que apenas uma minoria o faga. Se uma min ie ém o pod i ler lus / tla. ideoldgiea «da formagho-de-estutura geval. Conseqiente~ mente, na sociedade autoritdria, o pensamento homens cor- responde aos tnteresses dos potentados politicos e econdmicos. Em contrapartida a isso, na sociedade democrético-trabalhista, na qual nao existem interesses de poder duma minoria, a ideo- logia social produzida corresponderia aos interesses vitais de todos os membros da sociedade. Até aqui considerava-se a ideologia social somente uma soma de conceitos que se formavam “na cabeca dos homens” Sobre o processo econdmico. Depois da vitdria da reacéo poli- tica alem@ na mais profunda das crises, e depois das experién- cias do comportamento irracional das massas, a ideologia nao pode mais ser considerada como um simples reflexo das con- digées econdmicas. Desde que uma ideologia se epadera e forma 26 A REVOLUQAO SEXUAL @ estrutura do homem, torna-se uma forca material e social. Nao hd processo sdcio-econémico de significado histérico que nao se baseie na estrutura psiquica das massas e que ndo se manifeste no modo de comportamento das massas. Nao existe 4 ¥igaxUtteMesenualvimento das forcas-de-pwoducio em si”, mas somente um desenvolvimento da inibigdo da estrutura hu- mana, do seu pensamento e do seu sentimento, baseado em processos econémico e social. .O-processa econdmice;-isto~é, 0 desenvolvimento das mdquinas, é funcionalmente idéntico ao processo da estrutura 70 palquica dos homens que o criam, movem, tece como "sentimento, Pensamento 0 ou a = jeguencia S nceitos __leva ao psicologismo (“Soment, i onam como ima unidade € a0 mesmo o tempo cor nam-se umas as outras; mas, em hipdtese alguma, serd possi- vel domimar-se o atual processo cultural praticamente se néo Se compreender que a estrutura psiquica ¢, em seu dmago, a estrutura sexual, e que o processo cultural ¢ primordialmente um processo de necessidade sexual, que se desenrola condicio- nado pela preservagéo da vida, A vida sexual, pequena, aflita e propaladamente “apoli- tica” do homem deve ser investigada e dominada, em princt- pio, em entrosamento com as questées da sociedade autoritd- ria, A alta politica na realidade nao se desenrola na hora do café dos diplomatas, mas nessa pequena vida cotidiana. E por isso que a consciéncia social da vida cotidiana é¢ indispensdvel. Se todos os 1.800 milhdes de habitantes da Terra compreen- dessem @ atividade dos cem principais diplomatas, tudo esta- ria bem; nado haveria orientacao da sociedade ¢ regulamentacao da satisfagdo das necessidades humanas de acordo com os in- teresses armamentistas ¢ as exigéncias politicas. Entretanto, es- ses 1.800 milhGes de pessoas néo poderio controlar o seu prd- prio destino enquanto néo tiverem conscitncia de sua propria ede: € modesta vida Pessoal mam-se moral sexual Tomita ios. w A ordem econémica dos.tiltimas 200 anos modificou mui- a to a estrutura humana; no entanto, essa modificagao é insigni- ficante, compared | com o amplo oe humano, fisicoldgico das massas a autoridade ea submisde @ a esta, bers Wincrivet-tramitdadte, det lado, ¢ a" rials sadiserde italista dos times 200 anos péde ex; endir-se e sobreviver: Nioz i, or ple pene « bre amicos que, hd milhares de anos, deram inicio a essa modificagéo da estrutura humana, Néo se trata mais, pois do problema de_ ~ums-indistsia-demiquinas de-200-enos de idade, mas de ume estrutura humana de cerca de 6.000 anos, que até hoje demons-_ frou 5 ‘a colocay as uinas a seu servico, Par gtandiosa ¢ vevoluciondria que tenha sido a descoberta leis da economia capitalista, ela sozinha nio tem poder suficiente. para resolver o problema da submissio do homem 4 autoridede. Embora, em todos os lugares, grupos de homens, partes das clas- ses subjugadas, lutam por “pio e liberdade”, a maioria predo- minante fica de lado e reza, ou luta pela liberdade do lado dos | subjugadores. Que esta massa sofre miséria inaudita, ela mes maa cxperimenta diariamente e a todo momento._O fato de i dat azeres Churildadg0 que a ad rata et; bode ser ou poderd a pay a ser, até agora ndio foi explicado as massas concretamente de forma compreenstvel. Nao the foram ie 7 Baek ie anferiitras, bfPrrras Bee atten oot a olay Weta rv te Sun. JEG, shes? a k O tradutor francés do meu livro Geschlechtsreife, Enthalts- amkeit, Ehemoral (La crise sexuelle, Paris, 1934) confronta 0 marxtsmo freudiano com o marxismo e acha que a maneira de pensar especificamente psicanalitica modifica o questiond- rio marxista, “Para Reich”, escreve ele, “a crise sexual ndo ¢, em primeiro lugar, resultado do conflito entre a moral ¢ o 28 A REVOLUCGAO SEXUAL capttatismo decadente, de um lado, ¢ as novas tendéncias so- ciais, a nova moral proletdria, do outro, mas o resultado do conflito entre as eternas necessidades sexuais naturais ¢ a or- dem social. capitalista.” Tais objecdes sia sempre instrutivas e produtivas. Sua pon- deragdo leva sempre a maior precisdo ¢ ampliagdo da formu- lagdo original. O eritico aqui faz distinggo entre a diferenca de classes ¢ 0 conflito entre necessidade e sociedade. Nao obstante, esses dois elementos opostos sio explicdveis como um todo e ndo podem ser. simplesmente vistos em sua antitese. E verdade que, embora encarada objetivamente do ponto de vista classista, a crise sexual ¢ uma menifestacdo do conflito entre o declinio capitalista ¢ a ascensio revoluciondria. Ao mesmo tempo, é a mantfestacio do conflito entre a necessidade sexual € a socie- dade mecanistica, Como ¢ posstvel conciliar isso? Muito sim- plesmente; o fato do prdprio critico no ter encontrado a so- lugdo pode ser explicado em virtude da distingao rigorosa en- tre o lado subjetivo ¢ 0 objetivo do fenédmeno social: ser in- comum, embora axiomdtica: objetivamente a crise sexual é uma manifestacio da diferenca de classes; mas como é que ela $e mantfesta subjetivamente? Que quer dizer essa “nova moral proletdria"? A moral capitalista de classes € contra a sexuali- dade e cria, assim, primeiro o conflito; o movimento revolucio- ndrio elimina o conflito, criando primetro uma ideologia afir- mativa sexual, ¢ fortalecendo depois também legislativamente € por nova regulamentacao a defesa da nova vida sexual. Isto é, © capitalismo ¢ a repressio social sexual estiio num lado, en- quanto a “moral” revoluciondria e a satisfagio das necessidades sexuais esto no outro lado. néo dizemos nada; essa_nova moral se ‘ome ‘mora Contra © roudo, &: a PM ofismavelmente vistvel, podendo assim ser transportado para a prdtica: Quem no pas- sa. fome nfo tem necessidade de roubar e portanto ndo neces- Sita de nenhuma moral que o impeca. A mesma lei fundamen- tal se aplica também a sexualidade: Quem vive satisfeito ndo sente impulso para violentar ¢ também nfo necessita de uma moral contra tal impulso. A “auto-regulamentagio econémico- Sexual” entra no lugar de regulamentacio normative. O comu- mismo, em conseqiiéncia da ignordncia das leis da sexualidade, procura conservar a forma da moral burguesa ¢ modificat os seus contetidos; surge, na Unido Soviética, por assim dizer, uma “nova moral”. que substitui a vetha, Fatualmente, isso é inexa- to, Assim como o Estado nfo modifica apenas a sua forma, mas “desaparece” completamente (Lénin), assim também a mo- ral compulsiva ndo somente modifica a sua forma, mas igual- mente desaparece. O segundo equivoco do nosso critico consiste em acreditar que assumimos uma sexualidade absoluta, que entra em con- flito com a sociedade hodierna, £. por exemplo, um erro bd- sico da Psicandlise considerar os impulsos como fendmenos bio- ldgicos absolutos; mas isso néo se deve 2 natureza da Psicand- dase, que é especificamente dialética, mas ao pensamento me- canistico dos analistas, que, por outro ledo, como sempre, & limitado por teses metaftsicas. Os impulsos também surgem, modtftcam-se ¢ desaparecem. Os espacos de tempo, no entanto, em que se realizam as modificagées bioldgicas sio de tal forma dilatados, ao passo que os dos processos sociais séo tio redu- zidos em relagdo ds primeiras, gue estas nos impressionam como : fendmenos absolutos, aqueles, porém,.como relativos e transi- . térios, Pava o. exame dos processos sociais concretos, estrita- mente limitades no tempo, basta.a constatacdo de um con- flito entre um impulso bioldgico dado e a maneira como a ordem social o trata, Para as leis bioldgicas do processo sexual com suas épocas seculares, isso de forma alguma basta; tém que ser elaboradas nitidamente a relatividade e a mutabilida~ de impulsional, Se temos, pois, que tomar’ o processo de vida dos individuos como primeira premissa de todo fenémeno so- * cial, basta presumir que a vida, com as suas necessidades, exis- te. Mas essa prdpria vida nao é absoluta, ela surge e desapa- rece jd na forma da sucessBo de gerages e, simultaneamente, é preservada na formagdo das células sexuais, que seguem vi- vendo de geracio para gerocilo,. A vida como um todo é — até ide sto is -gnde sto levadas em conte. épocat-cismicax — algo que surgi ff do tnorgdnico ¢ qué, se a teoria da mutabilidade do curso dos OD oGRe u — 380 A REVOLUGAO SEXUAL astros ros for verdadeira, se tranformard novamente em coisa inor- gdnica, isto €, desa: pulsoria do pensamento dialdtico. le vista seja mais bem conhecimenio de como séo infinit . ‘as ihasoes “transcendental”, ¢ con jomem ¢ a5 uma te bem pequena; como é ridiculo, poder-se-ia dizer, que Si onone ie $e matem uns aos outros para acabar com o desemprego ou para guindar Hitler ao poder e em seguida promovam protissées naciona- listas de gracas, quando no espaco se movem qs isso seria bem mais racional que se dedica natureza. Tal interpretacio seria errénea, Aa av infinito e o sentimento da natureza, pelo q al é 2 refletide nos seres humanos, no arcdbougo da idéia infinitamente pequena da abstinéncia sexual ¢ sacrifteio para fins| patridticos, o que nunca poderd suceder; a democravia do tr¢balho por sua ve experimenta — como ideologia — uadre infinttamente pequena ¢ sua vida s mente grande do processo natural gera confiio criado por um “deser metath da sexualidade e contraa etica sexualfirs a economia planejada e aciio € 0 estabelecimento de frontciras nacionais, Na ideologia nacional-socialista, encontra-se um cerne\qa= cional, que dd grande impulso ao movimento reaciondrio ¢ se expressa na frase da “vinculagéo pelo sangue e pelo solo”; a pratica nacional-socialista, pordm, utiliza todas as forcas sociais que contradizem o fundamento do movimento revoluciondrio — a unidade entre a sociedade, a natureza e a técnica; continua @ adotar o principio da divisio das classes, que ndo pode ser eliminado por nenhuma ilusio da unidade do povo, da pro- priedade privada dos meios de produgao e que nao pode ser banido de mundo por nenhuma “idéia comunitdria”. O na- cional-socialismo se exprime misticamente em sua ideologia, naquilo que é contido no movimento revoluciondrio como nticleo racional, auséncia de classes e vida em harmonia com @ natureza, O movimento revoluciondrio, por outro lado, em- bora ainda néo se tenha apercebido do seu conteido ideold- bico, apresenta, porém, com nitidez as condigdes econdmicas € sociais para a realizagio de sua concepcéo racional da vida, a vealizagio da felicidade da vida na Terra. Do ponto de vista da experitncia adquirida no exercicio da Medicina no campo sexual econdémico, evolveram-se no de- correr dos anos uma critica do estado de coisas sexual, hoje pre- valecente, ¢ pontos de vista reunidos nesta obra. A Primeiva Parte deste livro (“O Fiasco da Moral Sexual’) apareceu hd cerca de seis anos sob o titulo “Geschlechtsreife, Enthaltsam- eit, Ehemoral”, em francés sob o nome “La crise sexuelle”. Foi ampliada em pontos isolados, mas de resto permanece inal- terada, A Segunda Parte (“A Luta pela ‘Nova Vide’ na Unido Soviética”) foi acrescentada com base em material coletado due = = rante os wltimos dez anos, A apresentacio da inibicéo da re- nN volugdo sexual sovittica esclarecerd por que sempre, me teferi 9 a Uniéo Sovittica nos meus primeiros trabathos sexualpolt- § ticos, Durante os tiltimos trés ou quatro anos, muita coisa que era correta nao o ¢ mais. Em conexio com - rais dos princiios autocrdilcor de orders socal na Reason So, as cCOnguistas tin v0 o- sen £raGa mattcn 6 tivamente abandonadas, O presente trabalho esté longe de, mesmo aproximada- mente, ter apreendido e muito menos solucionado todas as questées pertinentes. Uma critica dos atuais ensinamentos so- bre doengas meritais deveria ter sido incluida agui, bem como um tratamento extensivo da religido. Isso, no entanto, no foi possivel, pois a problemdtica é inesgotdvel, e o livro se torna- ria um calhamaco indigesto, A politica sexual do fascismo ¢ da Igreja como organizacéo sexual-politica do patriarcado fot tratada no meu livro Massenpsychologie des Faschismus (Psi- cologia-das-Massas do Fascismo). O presente trabalho niio ¢ um compéndio sexoldgico nem uma histéria da crise sexual da atualidade, Limita-se conscientemente a mostrar as caracteris- ticas fundamentais gerais dos conflitos da vida sexual de hoje, com exemplos tipicos isolados, Os conceitos sexual-econdmicos aqui apresentados ndo sto resultados de' trabalho em escriva~ ninha; sem um contato intimo durante décadas com a fuven- 32, : 4 REVOLUCAO SEXUAL tude, sem constante controle das experiéncias realizadas duran- te o trabalho clinico com pacientes, nao teria sido possivel es- erever frase alguma deste livro. Isso é o que quero desde jd dizer em vista de certo tipo de critica. A discussio ¢ ume coisa proveitosa ¢ necessdria; mas ¢ um desperdicio de tempo e¢ ener- gia sem qualquer sentido, se os ecriticos néo se transportam pessoalmente aos locais da vida social, nos quais pode ser en- contrado o manancial vivo da experiencia imediata da ciéncia sexual: a vida das massas pouco instruidas ou erroneamente instruidas, das. pessoas que sofrem e que freqiientemente lutam, dos sub-homens, como. sio chamados pelos lideres, nacionais pela graca de Deus. Com. base nas minhas experidncias prdti- cas na Alemanha e na Austria, eno meu trabalho clinico, pude presumivelmente formar uma opinido sobre o :desenrolar da revolugdo sexual na Uniaio Sovidtica, sem ter pessoalmente acompanhado os acontecimentos ali ocorridos. E bem possivel que uma ou outra coisa na descrigdo das condigées sexual- econdmicas da Uni&o Sovidtica esteja apresentada com algum exagero, Mas o objetivo nio era pronunciar verdades absolu- tas, mas apresentar fundamentalmente as tendéncias gerais de desenvolvimento e os conflitos. E claro que levarei em conta quatquer corrigenda de fatos pertinentes nas proximas edigdes deste trabalho. Finatmente, quero dizer aos meus amigos preocupados, que me adverteni deixar a “politica perigosa” e dedicat-me exclusivamente ao trabalho naturalista, que a economia sexual nio se inclina, até onde merece este nome, para a esquerda ou para a direita, mas se move para a frente, isto ¢: racional- mente dirigida e revolvente, quer queira ela, quer nao. Quem leria, numa casa em pleno incéndio, escrever tranqtiilamen- te tratados estéticos sobre o sentido das cores dos grilos? ‘Witnetm Reicn Novembro de 1935 PRIMEIRA PARTE O FIASCO DA MORAL SEXUAL CAPITULO | OS FUNDAMENTOS CLINICOS DA CRITICA SEXUAL-ECONOMICA 1. DO PRINC{PIO MORAL AO ECONOMICO-SEXUAL Os pontos de vista sexual-econdmicos aqui apresentados baseiam-se em observagies clinicas e conhecimentos adquiridos em pacientes que, no decorrer, Htico, experimentam uma Gnodi Com toda a razio indag: truturagio de um individuo neurético para um sadio podem, sem mais nem menos, ser aplicados aos problemas da estrutura de massa e sua reeducacao. Em lugar de consideragées tedri- cas, deixemos que os fatos falem por si mesmos. De modo algum é€ poss{vel adquirir uma compreensao das exterioriza- ges inadequadas, irracional-inconscientes das massas, a nao ser com base em observaces feitas no doente neurdtico indi- vidual, Afinal de contas, o principio é 6 mesmo utilizado no combate duma epidemia. Procura-se domina-Ia pelo exame mi- nucioso das vitimas isoladas da epidemia, a fim de determi- nar-se o bacilo bem como seus efeitos que s40 basicamente os mesmos em todas as vitimas da epidemia. A compatagio ainda pode ser acompanhada por mais um trecho. Também no caso de uma epidemia um dano externo influi sobre um organismo originariamente s40. No caso de célera, por exemplo, nao nos -daremos por satisfeitos com a cura de um unico doente, mas trataremos de isolar simultaneamente o local de onde se reali- za a difusio do bacilo e de extermind-lo como fonte da epi- demia. O comportamento patoldgico do homem médio das 36 O FIASCO DA MORAL SEXUAL massas mostra claramente a semelhanga com o dos nossos pa- cientes individuais; seja a_ojeriza sexual generalizada; a impul- sividade das exigéncias morais, que ocasionalmente se avolum! atéa brutalidade crassa + a_incapacidade de_imaginar Gueuma satisfacin dos-impuleos-podeserconciliada com ode. sempenho proveitoso de trabalho;,a crenga que aparece, como. que deteniunada pela natureza. de que a sexualidade das crian- Pt icos, que no entanto dife- rem entre si por motivo de desenvolvimentos diferenciados. Quando alguém pretende aplicar 4s massas os conhecimentos adquiridos pelo exame de alguns individuos isolados, somente poderd utilizar aqueles conhecimentos que se referem aos con- flitos tipicos, que a todos atingem coletivamente. Nesse caso, as observagdes concernentes 4 modificagio na estrutura do in- dividuo poderdo ser corretamente aplicadas As massas. Os doentes mentais se dirigem a nés com sinais tipicos de disturbios mentais. A capacidade de trabalho fica sempre re- duzida em maior ou menor proporcao, e 9 des nem corresponde As exigéncias qui faz a si_mésma, nem as que a sociedade Ihe faz... gapacidade que sente nele“Mesmo. A capacidade de satisfagio sexual] encontra-se, sem excecao, fortemente reduzida, se. nao destruida, No lugar da capacidade de satisfaco genital natural _ sempre entraram modalidades nio-genitais (pré-geri?tais) , ima- ginagdes sadistas do ato, fantasias de violentacao etc. Fica-se convencido, de forma completamente indiscutivel, de que a transtormacio do cardter e do comportamento sexual do doen- te invariavelmente por volta do 4.° ao 5.° ano de vida assu- miu esbocos e formas nitidas; a pérturbagao do desémpenho mental em sentido social e sexual aparece visivelmente em cada um, mais cedo ou mais tarde. Cada doente traz em si, z=}, Sob _condigdes da_supressdo_neurdética “sexual, um confine in--~ soluivel entre impulso e moral, As exigéncias morais que faz ‘a si mesmo sob constante influéncia social incrementam o re- presamento de suas exigéncias sexuais e vegetativas em geral. Quanto maior o dano causado A sua poténcia genital, tanto mais se eleva a desproporcdo entre a necessidade e sua capaci- we dade de satisfagio. Isso por sua vez aguca mais a pressio moral que se torna necessdéria para reprimir as quantidades impul- sionais armazenadas. Ja que todo o conflito, em seus aspectos mais importantes, é inconsciente, incompreens{ve] para o in- teressado, de modo algum ele poder4 resolvé-lo por si sé. ivi “Nig é é dere acehtiar yes maioria dos individnos sofre sob essa | ida; _entr i, i i ¥ a base mais importante do isolamento veal meio & vida colétiva. rr Poanncccenniamustanhies Q tratamento carater-analitico tem, pois, a tarefa de liber- tar as gnetgias vegetativas di sda armadura psiquica. s Dg as_necessidade: seein Perera e crudis, © Fan yas Tico i i il, as crencas supersticiosas etc. _ BeeRtyas INGE REAvces oR OT ey RAS PO NBENTE Neeaninsce” — gras Ercaceml, Assim, eu ouTRes Elgares, PC FrAMA HaRaaevbL, (v - CON SCIEATE, AMMAR TEME NTE JNERPL|CAVEL LotumiiMe E pNgividva LACE alssseacer DA RebeessKo 38 © FIASCO DA MORAL SEXUAL Se o doente antes se encontrava sob forte armadura,_sem contato consigo mesmo e seu meio ambiente, ou somente era dotado tutas Stada vez mais adquire a cidade para um contato imediato, tanto com os seus impulsos quanto com o mundo. A conseqiiéncia desse Pre Mento imediato, natural, no lugar do anterior nao-natural. Observamos na maioria dos doentes, por assim dizer, uma vida dupla. Exteriormente, eles parecem artificiais e esquisitos, mas por tr4s da fachada Patolégica é possivel visl mbrar cla- convalescenca, tal dierenga indi mente, exemplo, sua perturba¢ao de trabalho de forma muito di- versa._Perdendg a_a sua perturbacao e adqui- tindo “confianca em ‘suas fungdes do ego, - tra carter fn inferioridade, A aw fianga, entretanto, que se_baseia meénté amnesia. in, todos os homens. mesmo vale pata_o modo de encarar_a_vida_ sexual. uera eliminou 2 ia _sexualidade desenvolve formas mui- to diversificadas id, Se os doen Teadquirem o contato com suas necessit 8 sexuais, também as diferenciagSes neurdticas desaparecem. A reago diante duma vida sexual natural em todos sé torna mais ou menos equivalente; isso vale principalmente para a afirmacio do pra- zer e perda do sentimento de culpa sexual. O conflito ante- tiormente insolivel entre exigéncia impulsional e inibigio mo- ral obrigava o doente a pautar todas as suas acdes de acordo com os ditames duma norma que pousava acima ou além de sua, pessoa. Tudo o que fazi; era medido > moral” ja_estabelecido para si; a0 mesmo tempo gle_protestava contra isso, Se agora, no curso turagdo, nao somente a necessidade, mas também o carater im- prescindivel da satisfagio do impulso genital é reconhecido, perde-se a camisa-de-forca moral e com ela o represamento de suas necessidades impulsionais. Se antes a moral supertensa tornou o impulso mais vigorosu, a-seje_enet-soctat, ¢ 0 tmpat, pA MORAL aininitia. O individuo 10 pratical moral, mas tampouco tem impulsos que determinariam uma inibiggo moral. O dominio de impulsos anti-sociais, porven- tura ainda existentes, realiza-se com facilidade sob condigao da satisfagao das necessidades genitais basicas. Isso também fica demonstrado pelo comportamento do homem tornado orgasti- camente potente. As relacdes sexuais com uma prostituta tor- Nam-se impossiveis; as fantasias sadistas perdem a sua forca € significado. Forcar_um.parceiro_ou_violenti-lo para o amor torna-se estranho e inconcebivel. mesmo acontece 8 impulsos porventura anter exstehtes de desencaminhar crian- as, Perversées’ anais exibicionistas e outras cedem completa- mente e com isso desaparecem também os sentimentos de medo € culpa sociais, _~Aligasio—incestiosaaos_pais ou inmios fica esttenlda de interes + sain se-tibetia também a energie que fa_anteriorme! havia_suprimi Numa _palavra, os fent menos aqui itos devem na sua totalidade ser i- nee as Fica demonstrado que pessoas que adquirem a capacida- satistacdo ongdstica_se_tornam multe —maiscapazes” de aquelas cuja capacidade de des- contraimento ge_encontra perturbada. No entanto, seu com- port monogami nao se basela na inibigio de impul- INGTILIDA DE AYTO GOVERNS __-_paietita, Nao foi posstvel constatar clinicamente qualquer di- ferenga entre homem e mulher, No entanto, na auséncia_do arceiro adequado, o que, sob as vida SoBe MoNoGAMIA 40 © FIASCO DA MORAL SEXUAL © comportamento monogamico fica_restabelecida e se conserva enquani rduram a hatmonia e satisfacio sexuais, Pensa- mentos e desejos por outros parceiros ou néo aparecem ou n&o sdo postes em ago, em virtude do interesse no parceiro. As velhas relagdes, entretanto, desmoronam .inapelavelmente quando se deterioram e quando outro novo parceiro promete mais prazer, Essa realidade inabal4vel encontra-se em con- tradicao insoluivel com toda a ordem sexual da saci hoje, onde ligarse. materi ‘considetacdo _pelos_ filhos i xual-econédmico, Dessa forma, sob sexualidade, sio justamente as pessoas mais sadias as que esto expostas aos maiores sofrimentos subjetivos. O comportamento dos homens orgasticamente perturbados, ou seja da maioria, é diferente. Jé que do ato sexual deriva menos prazer, estdo mais ca- pacitados a passar mais ou menos tempo sem parceiro sexual, ou sda. i : © ato para eles no significa muita coisa, A_indiscrim:macao nas rela uais aqui, pois, é con- seqGéncia de pérturbacdo sexual. Tais individuos sexualmen- Te “perrurbadtos so Mais Capazes de se conformarem com as condicdes de um matriménio vitalicio; a sua fidelidade, no entanto, nfo se baseia em satisfagio sexual, mas em inibigdes moralistas. ve COMA] PEWWEZ QLE A PROTAIE - NBG re Dace paves A PERM LIGERBAD Quando o convalescente eventualmente encontra o par- ceiro adequado para a vida sexual, fica patenteado que nao somente perde ele todos os sintomas nervosos — mais do que isso, com espantosa facilidade consegue agora, coisa que the era desconhecida antes, ordenar sua vida, resglvegaconfli de modo n&o-neurético, e desenvolve Matica na orienta de iais— Com isso, segue imp! e_ sent da sua exist ia. Ao mesmo tempo, ¢! ‘a _pérante a ordem ‘absol le adqui es O principio da regulamentagzo moral contrapée-se entio ao do autcgoverno sexual-econdmico. Na atual sociedade sexualmente deteriorada, que se re- cusa a prestar qualquer auxilio nesse campo, a realizacio desse trabalho de cura freqiientemente encontra obstdculos quase insuperdveis, um dos quais é a escassez de pessoas sexual- mente sadias que poderiam ser parceiros. adequados para o individuo curado. Além disso, ainda se fazem sentir as bar- reiras gerais da moral sexual. Poder-se-ia dizer que aquele que se tornou genitalmente sadio deve forcosamente deixar de ser um hipdcrita inconsciente e tornar-se um hipécrita cons- reiras gerais da moral sexual. Poder-se-ia dizer que aquele que impcdem o desenvolvimento da sua sexualidade sadia, natural, Outras pessoas desenvolvem a capacidade de trans- formar scu meio ambiente de tal forma que os obstaculos - impostos pela ordem social vigente se tornam. insignificantes. ERO EQUCACIONDL ~ ECows Mica 3% Tive que limitar-me aqui 4 apresentacgdo mais sumdria; 2 & explanagées minuciosas séo dadas em Die Funktion des Or- > gasmus e Charakteranalyse. Foi_possivel_tirar_conclusdes das e experiénci: i i ‘cipio. As perspectivas amplas dessas conseqiiéncias, seja na questao da prevencao de neuroses, da jus contr ili € supersticgao ou do velho problema da alégada cen’ 10 entre natureza e cultura, de impulso e moral, a principio sur- preenderam e confundiram; mas apés anos de exame dessas Ey NCO conclusées, estribado em material etnoldgico elpearamreayt rev fnou-se « conviccio sélida de que as conclusbés do principio * [ANTI-MekAL] SeeAl ~ Econ Ce ar poss 6rd A “ORAL QUAY MORALS 60 © FIASCO DA MORAL SEXUAL nao querer um parceiro querido nos bracos de outra pessoa; Mas € igualmente_nao-natural-e_corresponde a um_impulso § se cundario que, por exempio, num matrimdnie ou numa rela. Gio cru nao se tenha mais relacdes sexuais ¢ apesar di Estes poucos exemplos devem bastar e afirmamos que a vida pessoal e especialmente sexual do homem, tao compl “tada_como_€ Hoje, se Tegulamentaria de manei ples,” sea estriitura do homém fosse _capaz, todas as conclus6es que resultam do jin “tra-se no fato de evitar exatamente o estabelecimento de re- gtas ou normas absolutas e reconhece os interesses da vontade e da alegria de viver como os reguladores da convivéncia hu- mana. O fato de que esse reconhecimento hoje se encontra extremamente limitado pela estrutura humana desordenada apenas depGe contra a regulamentacio moral que a gerou, nao contra o principio do autocontrole. Existem, pois, duas espécies de “moral”, mas apenas uma especie de regulamentagao moral. A espécie de “guang todo mundo reconhece e afirma ser uma colgpormal) ssidades naturats. a8 “mora negamos (abstinéncia sexual “para @riancas e adolescentes, fidelidade eterna absoluta, may ‘triménio-foreado_etc.)__é ela prépria doentia € gera o caos que ela pretende d dominar_.Contra_esta_se-dirige nossa _luta sem erégua, Acusam a economia sexual de querer destruir a famflia. Falam do “caos sexual” que a vida com amor livre acarreta- tia, e as massas dao ouvidos as palavras dessas pessoas € con- fiam nelas porque usam casaca e éculos de aro dourado, po- dendo assim falar como lideres. A pessoa deve saber sobre o que estd falando. A escravizag3o econémica das mulheres e criancas deve ser eliminada, A escravizagao autoritdria da mes- ma torma, Somente quando isso se tornar realidade, 0 marido amard a mulher, os filhos os pais e os pais os filhos. Nao terao mais motivo para se odiarem mmutuamente, -O-auc_queremos _Mdestruir, portanto, é o 6dio gerado pela familia e avi Jentaga : Se o amor familiar € 0 grande bem A VE Ae SEN eee OL humano, ele tem que afirmar-se. Se um cachorro amarrado nao toge, ninguém por isso o considerar4 um companheiro fiel,. Ninguém, em seu juizo perfcito, falaré de amor quando um homem possui uma mulher de pés e maos amarrados ¢ indefesa. Nenhum homem decente ficard orgulhoso com o amor de uma mulher que ele compra com alimentacao ou in- fluéncia de poder. Nenhum homem correto tomar4 um amor que nao for dado voluntariamente. A moral forcada do dever e da autoridade familiar ¢ uma mo = le impotentes incapazés de conseguir pela torga_natural do amor aquilo que pretendem conseguir por intermédio da policia e do direito conjugal... Querem enfiar toda a humanidade na sua prépria camisa- de-forga por serem incapazes de tolerar nos outros a sexua- lidade natural. Isso os aborrece e os enche de inveja, porque eles préprios gostariam de viver assim e nfo conseguem. Nds Rao _queremos forgar ninguém a_abandonar_a_vida familiar, . i ie la_a Vida como. que o faca: quem, entretanto, Bao e_¢ talvez se arruine por causa disso, deve ter a id de oenisae- asia va de cra forma No ci tanto, to, _a organizacio de uma “nova vida". pressupde 0 co! “cleo das. consadiqeer-da auga. CAPITULO HI O FRACASSO DA REFORMA SEXUAL A reforma sexual ende. eliminar irregularidades da i i i i wm expressio mas -doencas mentais dos membros da sociedade, Na sociedade au- toritaria, aumentam, em conexio com os conflitos econémicos e ideolégicos, as contradigdes entre a moral vigente, que é im- posta a toda a Sociedade pela classe dominante no interesse da preservacio e do fortalecimento do seu poder, e as exigén- cias naturais da sexualidade dos individuos isolados em deter- minada é¢poca, levando a uma crise insohivel no contexto da torma social existente. Nunca, entretanto, na histéria da hu- manidade, essa contradicao levou a conseqiéncias tio crassas, objetivamente cruéis e até mesmo assassinas, como nos Ultimos 30 anos. Por isso, em nenhuma outra época se discutiu e se escreveu tanto sobre questdes sexuais, também em nenhuma outra época todos os empenhos fracassaram tanto como — apenas aparentemente de modo paradoxal ~ na “era da téc- nica e da ciéncia”. A contradigio entre a miséria sexual, de- terioradora da vida sexual, e 0 progresso enorme da ciéncia sexual ¢ um corolario da outra contradicio entre a miséria ~Scandmica da-massa trabalhadorac-os enormes conquistas tée: —nicas_da_nossa_¢poca, Também é apenas aparentemente con- traditério que, na época das operagées assépticas e da arte ci~ rurgica aperfeigoada, entre 1920-1932, anualmente, cerca de 20,000 mulheres morreram na Alemanha de aborto e 75.000 mulheres adoeceram gravemente em conseqiiéncia de infecgdes ocasionadas por aborto, Ou que, com o progresso da raciona- lizagio da producZo entre 1930-1933, cada vez mais operdrios industriais ficavam desempregados, socobrando fisica e moral- mente com suas familias. Essa contradi¢ao, longe de ser irra- cional, adquire sentido quando nfo se procura compreendé-la independentemente da estrutura econdmica ¢ social dentro da qual foi formada. Tem jue demonstrar que tanto a_exis- _tencia. da miséria sStual quenis-s-tesaliinaade do: problems sexual pertencem 4 permai ii i _Sua_existéncia, As lutas em prol da reforma sexual fazem parte da luta geral politico-cultural, O liberal, como por exemplo Norman Haire, com a sua reforma sexual, combate apenas uma deficién- Sia da sociedade, sem pretender tocar nela mesma, O socialis- ta pacifico, o “reformista”, pretende com isso implantar um Pouco de socialismo na sociedade existente. Tenta inverter o processo de desenvolvimento fazendo que a reforma sexual Ocorra antes que se verifique a modificagio da estrutura eco- némica. O moralista jamais compreenderd que a miséria sexual ¢ — uma fe in qué ele defende. Nao éTga as causas nem na licenct fos homens nem numa misteriosa “Ananke” (= compulsio sobrenatural) ou numa vontade nao menos mistica de sofrimento, se no chega a acre- ditar que a miséria sexual seja tao grande apenas porque as suas formas ascéticas e mondégamas no esto sendo seguidas. No podemos esperar que ele reconheca que é conivente para que ocorra precisamente aquilo que, queremos acreditar, ele quer abolir piedosa embora talvez honestamente com suas re- lormas. As conseqiiéncias de tal reconhecimento somente po- deriam, sob certas circunstancias, abalar a sua base econdémica, fundamentada na qual ele quer empreender a sua reforma. Pois eie ainda nao se convenceu de que o fascista de qualquer tipo nao admite brincadeiras com coisas sérias e sem hesitacio en- trega o pacifista liberal 4s mios do carrasco, quando a exis- téncia dele, fascista, est4 em jogo. rma sexual procura, hé séculos, amenizar a miséria Aexual. A questZo da prostituigio € das doengas Venéreas, a miséria sexual, o.aborto e os crimes sexuais, bem como a ques- to das neuroses, estZo sempre no centro do interesse publico, Nenhuma das medidas tomadas teve qualquer efeito sobre a — 64 O FIASCO DA MORAL SEXUAL miséria sexual imperante, mais ainda, @s propostas para a re- forma sexual estao sempre _atre comparacio com as. decréscimo casamentos e o aumento dos divércios e do adul- tério impdem a discussio da reforma matrimonial; as relagdes sexuais extramatrimoniais conquistam cada vez maior reco- nhecimento, contra 0s pontos de vista dos sexologistas de men- talidade ética; relagdes sexuais entre os jovens de 15 a 18 anos -de idade tornam-se um fato comum, ao passo que a reforma sexual ainda se encontra na questio sobre se a abstinéncia sexual dos adolescentes nZo deveria continuar acima da idade de 20 anos e se seria licito reconhecer 0 onanismo como fe- némeno natural. O aborto “criminoso” e o uso de anticoncep- cionais abrangem cfrculos cada vez mais vastos, ao passo que a reforma sexual ainda se debate com a quest&o sobre se deve ser reconhecida, além da indicagio médica, também a social para o aborto. Esse atraso dos esforcos reformadores, bem como o fato de que as modificacGes concretas na vida sexual esto enérgica e consideravelmente adiantadas em relagio as quase insigni- ficantes fides dos reformadores sexuais, demonstram_claramen- te que ha algo internamente errado nesses esforcos reformado- res, que hd uma contradig&o interna que funciona como um mecanismo de freto, cerceando todo movimento e anulando todos os esforgos, Encontramo-nos, assim, diante da tarefa de descobrir o sentido oculto do fiasco da reforma sexual autoritaria e con- seqiientemente as relacGes existentes entre a reforma sexual autoritaria, e seu fracasso orgdnico, e a ordem social autori- tania. Essas relagdes de modo algum sao simples, e muito espe- cialmente o problema da formacio ideoldgica sexual é tdo com- plexo que necessitou de uma investigagao ampla em separado.! No presente trabalho, somente um setor da complexa questio € analisado, e nessa investigagao se cruzam os seguintes ele- mentos relacionados entre si; 1. A instituiggo do matriménio como freio da reforma sexual. t Ver meus trabalhos: Der Binbruch der Sexuatmorat e Massenpsychologie des Faschismas. 2. A familia autoritaria como instrumento educacional. 3. A exigéncia da abstinéncia sexual da juventude como medida conseqiiente e acertada, do ponto de vista autoritario, para a educacao para um matriménio monogimico e vitalfcio e para a familia patriarcal. 4. A contradig’o entre a reforma sexual conservadora e a ideologia matrimonial conservadora. Algumas dessas relagdes tém sido negligenciadas até agora porque na critica da reforma sexual se salientavam as formas externas da vida sexual (moradia, aborto, legislacgio matrimo- nial etc.) em contraposicao As necessidades sexuais, seus me- canismos e experiéncias. Pouco hd a acrescentar a essa critica sociolégica por ter sido realizada minuciosamente na Europa por figuras como Hodann, Hirschfeld, Brupbacher, Wolff e outros e especialmente por ter-se destacado em virtude da reviravolta na legislacao sexual na Unido Soviética de 1918- 1921.2 No entanto, @ julgamento das conseqiiéncias mentais € Sexual para a é xtial_do indi culturais da ordém™ s€xual ‘para a nomia si a dticos da sexualidade. ~ " ‘Até onde a eritica médica se junta A_socigldgica, cla se fun@amenta_inteiramente nas experiéncias da clinica cardier=! landiftica e da pesquisa dos orgasmos. 2 Ver as obras de Genss sobre a questio do aborto na Rissla Soviética; e também Wolfsotin: Soztologie der Ehe und Familie, e Batkis sébre Die se- xuelle Revolution in der Sowjet-Union etc. CAPITULO Ifl A INSTITUICAO DO CASAMENTO COMO BASE DAS CONTRADICGES DA VIDA SEXUAL A reforma sexual estd sendo realizada do ponto de vista de interesse da moral do casamento forcado. Por tr4s dela, en- conira-se a instituicao do matriménio, e isso por sua vez se ba- seia firmemente em interesses econdmicos, A moral do, Seialieas te ideolégico mais extremo esses interesses ifutura ideolégica da sociedade € como tal permeia o pensamento ¢ a acio de toda pesquisador.¢. refor-_ mador-seynal na mesma medida em que_torna_a reforma sexual moose, jue _se relacionam os inter: a_moral do casamel A conseqiiéncia imediata ¢ o interesse na Virgindade pré-nupcial e na fidelidade conjugal da esposa. O higienista sexual de Munique, Gruber, reconheceu acerta- damente este ultimo motivo decisivo: ‘Temos que dar valor & virgindade da mulher como o tesou- Yo popular mais elevado e cultivé-la, pols na_virgindade de encontra-se a tnica certeza_e garantia de que realmen- _—para_o nosso proprio sangue, tanto, nfo existe possibilidade de uma cenciosidade do a, Ise os Para apresentar exigéncias mais rigorosas 4s mulheres, no que concerne & virgindade pré-nupcial e A fidelidade no matrimd- nio, do que ao ee tis ligenciosidade dela, encontracse em (o Muito mais do que na dele. (Hygiene des Ge: 4 53.°-54) ., pags. 146-147.) Pelo entrosamento das leis de heranga com a concepcio, o problema imionial isolado” encontra-sc _firmeémente en- _¥dizado na vida sexual, ‘sendo a atrimomal da mulher ¢ ua Hdelidade conju- gal, sem um elevado grau de represséo sexual de sua parte, nado pode ser mantido por um espago de tempo prolongado; dai, a exigéncia de virgindade da moga, Originalmente, ¢ ainda hoje entre_os primitivos j4 com organizacio r da, er_até o m; Tante ai fltimas décadas do sécule EHO come ‘ a exigencia da_virgindade cowtio ‘isador ee aeions ‘io. tem que apoiar, quer queira “quer nao, TWeolsgicamente, desde que nd saia do seu meio. BA MADR sexual, BRYTatipar€ Na questo do aborto vemos também as contradigdes en- tre a constatagdo dos fatos ¢ as exigéncias e por trés disso o apoio ideolégico da moral matrimonial e as cofisideracdes para com a instituigio do casamento. Um dos argumentos contra a legalizagio do aborto é o do _tecato’-Onde estarlamos se -permitissemos ampla liberdade de aborto? A lel contra 0 to afinal é um freio & “vida sexual irrestrita”. Quer-se conse: 7 |." gulk_ aumento populace - Le f ao~e- ; ciou_o aumento de. ~~ Populagio_na mas, Delo contratio. que a asistencia ee social juntamen aborto Tegal determinaram um enor- Zi (O populacional.* ~ ied nM : Necessita-se, no entanto, de su; remacia nacional § wats = oohao a Imeja-se portanto um incremento no 2 Genss: Was tehrt die Freigabe der Abdtrelbung in Sowjet-Russiand? (Ed. Agis-Verlag, 1926). ABokTO 1 FamiLin PRATER < PRR AS £ erréneo acreditar que a consideracao pela produgao de um exército industrial de reserva seja a mola mestra. Prova- velmente era assim antes, quando o desemprego duma certa porcentagem baixa de trabalhadores era sumamente conve- niente a pressdo salarial. Mas os tempos mudaram. O desemprego em massa em todos os paises ocidentais, que se tornaram pecas integrantes da estrutura de nossa economia, desvalorizou ¢sse motivo. Os motivos imediatamente econd- micos para o impedimento de uma regulamentagao racional do uso de anticoncepcionais sao insignifi A_ligacdo | extramatr casame: a monial_e_anula- com) videz. Prejudicar-se-ia_a_instituigio do casamento; ideolo: ae ee 8 me dar “ - da vida sexual, preservar-se_a moral matrimonial, porque 0 casamento € a espinha dorsal da familia autoritdria, e esta por sua vez é a fonte natural das ideologias autoritdrias € éstra- duras humanas. Esse aspecto tem sido demasiadamente negligenciado na discussio da questio do aborto. Poder-se-ia tirar meia conse- qiiéncia, isto é, talvez permitir q aborto somente as casadas, mas nao as solteiras, Ent&o, assim se salvaguardava o interesse do casamento. Essa alegagao seria verdadeira se nao houvesse -outro fato em contr4rio na engrenagem sexual-ideoldgica. & elemento fundamental da moral sexual que o ato sexual nao pode ser um ato de prazer e necessidade, independente da procriagéo. O reconhecimento oficial da satisfagao sexual, inde- pendente da procriagio, de uma Unica vez derrubaria todas as concepgées oficiosas e ecuménicas sobre a vida sexual. As- sim escreve Max Marcuse em sua coletanea Die Ehe (capitulo: “Der eheliche Praventivverkehr", pag. 399): “Se fosse real- Seria encontrar um _método ‘aa disponibilidade_e comer- to para... a higiene, mas neutralizasse. seu _perigo inaudi — ql nel muiheres temporariamente 2 vontade,. is premente cunt! 70 © FIASCO DA MORAL SEXUAL ~ pata—a-ordem—e—mora]_sexuais_até para a. vida_e a cultura, ~fleiase:vida_antoritéria e cultura)” A grande preocupacéo ética de Marcuse, o reformador sexual liberal do ano de 1927, foi levada em consideracao pelo fascismo alemfo em 1983-1945: Cerca de mil e quinhentas esterilizagdes no Terceiro Reich nao asseguraram nenhum pro- veito para a higiene, mas “prevenizam o perigo inaudito (a ci- so entre sexualidade e procriagio) para a ordem e moral sexuais, para a propria vida e a cultura” — no interesse da eliminagao do “bolchevismo sexual”. Por simples matematica, podemos demonstrar o que sig- nificam essas frases na realidade. Nenhum pesquisador sexual preocupado com a preservagio da humanidade pode exigir de uma mulher trabalhadora que dé a luz — digamos — mais do que cinco filhos. Isso significaria poder ter relagdes sexuais cinco vezes na vida, se é que se considera o ato apenas meio de procriagio. A natureza humana, entretanto, arrumou as coisas de forma tal, talvez para causar tantas dores de cabeca a08 nossos reformadores sexuais, que o homem, primeiro, tam- bém sente excitaco sexual e deseja ter relagdes sexuais, mes- mo sem ter qualquer documento matrimonial, e, segundo, sente essa vontade em média cada trés dias; isso quer dizer que ele tem relages sexuais, dos 14 aos 50 anos de idade, entre 3.000 a 4.000 vezes, se nao se importa com a moral. Se Marcuse queria apenas assegurar o aumento da Taga, deveria Propor € conseguir que a mulher pudesse usar os anticoncep- cionais seguros em 2.995 casos, se ela os deixa de usar cinco vezes au tantas quantas forem necessdrias para produzir cin- co filhos. No entanto_o que preocupa ao reformador sexual na rea- didade nijo 4-tanto.o.medo dos.“cinca’ o homem p ~~ CLNCO"... alos. ria mas o de 10 Sa. com acda, note bem. como be-. “neplicite 4 Wtoridade, nao _somente. desejar,.mas.até. mesmo _ cometer 3.000 atos de prazer. Por que é que este medo o “Brtocapa? — 1. Porque a instituiggo do asamen toda ~ lieth a em que’ centval da fabrica_de ideologia ecient ser preservada_ como elemento. ~-autoritéria: a ‘familia, 2. Porque inapelavelmente no poderia mais fugir 4 _sompleis quae ta weuathtide oer que ee pe a igi at 03_lemas “"abstingntia “sexual” “e ”“esclareci: 3. Porque a sua teoria da constituigéo monogémica das mulheres, ou mesmo de todas as pessoas, abalada pelos fatos bioldgicos e tisiolégicos, desmoronaria completamente. 4. Porque, em tais circunst4ncias, ele entraria em sério conflito com a Igreja; somente se d4 bem com ela enquanto propaga, como Van de Velde no seu livro O Casamento Ideal, (Die vollkommene Ehe), a erotizagio no contexto do mairi- ménio, nao sem esclarecer minuciosamente que seus esforgos n&o contradizem os dogmas da Igreja. A ideologia do recato convencional ¢ a pedra fundamental da instituicéo matrimonial autoritaria; contradiz o reconhect- “Hiénto da ‘satisfacdo sexual e pressupde uma atitide se galiva. & dessa i ‘igko do casamento aue eta “ possibilidade de ge Fetolver-& questo do-aborto. CAPITULO IV A INFLUENCIA DA MORAL SEXUAL CONSERVADORA 1. crfncia “oBjeriva, apo.itica” © cardter especifico da atmosfera sexual-ideolégica é a negacdo sexual e degradacdo da sexualidade, que fazem seu efeito em cada individuo isolado da sociedade autorit4ria no processo da repressdo sexual. Pouco importa quais os compo- nentes das necessidades sexuais que sao reprimidos, em que Proporgio isso acontece ¢ quais as conseqiiéncias que tem no caso isolado. O importante ¢ estabelecer quais os meios de que se serve a “opiniao publica”, entre a qual se encontra também a sexologia conservadora, e quais os resultados gerais que alcanga. O expoente mais nobre e mais significative da atmosfera ideolégica & a sexologia conservadora. Na discussio dos pré- blemas do casamento e da sexualidade juven'l trataremos dis- so em detalhe, ao passo que aqui apenas damos exemplos ti- Picos para os preconceitos moralistas da sexologia pretensa- mente objetiva. Timerding escreve em sua conferéncia sobre “Etica Se- xual” no Handwérterbuch der Sexualwissenschaft de Marcuse, uma obra que certamente exprime a opinido da sexologiai oficial: Para toda a compreensio da vida sexual a posicio ética feral sempre se mostrou significative, as propostas de reformas no campo sexual quase sempre so justificadas por fundamen- tos éticos, (2.8 edigko, p&g. 710.) © significado real da acepgio ética sexual encontra-se em que ensina a encarar os fendmenos da vida sexual no grande contexto de todo o desdobramento da personalidade e da or- dem social. (Op. cit., pig. 712.) ene ee en EE EE Sabemos que concretamente se trata da ordem autoritdria, suando se fala da ordem social e do desdobramento duma_per- sonalidade que. cificame: ente nessa ordem se podera _ PERE Tee then eal oficial Tota étict sexual oficial & porém, necessariamerite” sexual-negativa, mesmo que na luta com os fendmenos reais da vida sexual também facam algumas concessées a satisfagao sexual, mesmo que a classe dominante nessa ética oficial leve uma vida sexual t®o contraditéria a ela e a fomente, Em face da sua controvérsia interna, alguns pesquisadores chegaram a ~fexnulacies que se encontramem contradicio com a atmosfera ( Weiat-~Mas, -praticamente, “esse” polo naturalista_oposto nuncay i iltrapassasse to estabelecido pela sociedade reacionat! aliza, SOS: fentemente se alcangar @ sublimacSo espiritual ou mental do intercAmbio hu- mano somente sob condi¢ic do (maior ou menor) ascetismo. Isso 6 invariavelmente fundamentado no menosprezo da esfera do corporal e Imaginago da cisfio entre o espiritual e o cor- poral e da condicéo de concorréncia entre corpo e alma. Esse ascetismo moderno, muitas vezes somente tedrico ou tornando necessidade virtude, somente em casos raros pode ser equipa- rado a um verdadeiro ascetismo religioso, Multas vezes é.0 re- sultado supinamerite depauperado da superratisfac&o ou de uma forga vital por demais reduzida que o pathos ou o caleidosc6- Plo colorido do sensual niio é capaz de suportar. ada gtau e cada intensidade de_fe do_ascetismo é a nai rural vigorase DEO “ode Her —sllinlnado.mas_apenas_desviedo ¢-elterado. A absti-~ cla, "Feprime” o impulso sexual. Por mals que seja”necessé- rio precaver-se contra diversos exageros da escola freudiana, 6 necessério apoiar o ensinamento da repressio sexual para o Imeonsciente por melo da abstinéncia completa, Muito fanatismo, spinetiqnsiio, Gdio.a humanidade ¢ falta de recato da fantasia’ pode originar-se da abstinéncia sexual. (Op. cit, pag. 40.) E adiante: ~ “ concordasse com essa maldicio; que fazer GA O FIASCO DA MORAL SEXUAL Jo & ec} oO au Hie ae idedel g ancetisns © pee eran a oa ~~ -nesialniin Diolégicd As sezee-€ “um fenémeno da adaptacko a condi¢bes de vida antinaturais, Js vezes uma ideologia viciada, (Op. cit, pig. 40.) Apresentagdes acertadas em sua esséncia; mas a inibicZo das conseqiiéncias praticas em Wiese ja se encontra talvez numa distinggo entre ascetismo religioso e ascetismo de outra espé- cie, uma distingio que obscurece o fato de que o ascetismo Teligioso também se origina de uma “inclinacdo para o espiri- tualismo”, e nao de “instintos religiosos superados”. Pela aco- modagio dos instintos religiosos deixa-se ao ascetismo eminen- temente condicionado socialmente uma portinha dos fundos religiosa pela qual poder4 escapar donde o pesquisador mi- nucioso a afugentou pela constatagdo de que no homem sadio “no existe um instinto natural de abstinéncia’”. Outra portinha dos fundos, ética, da sexologia oficial é a maneira de dizer do “recatamento” e da “espiritualizagio” das Telagdes sexuais, Qrigivalmente se amaldicoava a sensualidade; mas ela voltava com, Fria, espezinhando cada individuo_qué er com _umfendm: mémeno que se colocou em contradic’ “recatada””, isto é, ascética ¢_ sar A. “‘espi yirginal? Resta apenas uma coi, rial iO~ brecimento do impulso sé: da re- forma sexual, significa, mesmo que se utilizem tais lugares-co- muns, coisa bem concreta, ou seja, novamente nada mais nada menos do que a sua Trepress4o ou inibicZo. Pelo menos os mo- Talistas nos ficam devendo uma explica¢%o concreta sobre aqui- Jo que querem dizer. Interessante para o observador dessas contradigées ¢ a opo- siggo resultante da mistura de constatagdo de fatos com ética sexual. Assim, escreve Timerding: Quando se nega & mulher solteira o dirélto de amar, tam- bém deve-se exigir do homem a abstinéncia sexual até o ma- ecide ,, rare cla permanece em ideat i 9penas alcangado (grifos meus, W. R.) em casos raros, sendo ’ ‘utilizada apenas para a condenagfo de outros, mas nfo como ‘alcangeda ‘maturidade sexual. A exigéncia ética sox pés mplés, Gile pretende servir A defesa Ampla da familia, é facil- mente deseartads como compulsfio incémoda pelo individuo is0- lado. (Op. cit., pag. 721.) ‘Temos aqui diante de nés, de uma s6 vez, as seguintes in- conseqiiéncias da argumentacio légica: Se a mulher antes do casamento tem que se conservar virgem, por que nao o homem? Certo! A possibilidade de estabelecer a idéia da virgindade como norma ética (?) individual se desvanece cada vez mais. Certo! Mas essa idéia de virgindade deveria afirmar-se, ape- sar de que “Essa concepcio fracassou e se tornou... uma farsa”, Ouvimos dizer que a preservacio da “virgindade antes do casamento aaeguiania & socedade a existncia wiais seguta”) /A prova dessa afirmacdo constantemente permanece ausente. poe PIG, Que no entanto tm-o-stu sentido até onde fe refere a existéncia e preservagto da sociedade autoritatia. THO ja procuramos deimonstrar. Adiante: © fulgamento higiénico da vide sexual diverge... em duas diregbes distintas. Por um lsdo sfo apresentados os prejuizos para a sade e para a alms, ligados & escravizacio forcada do impulso sexual e de acordo com isso exigidos ao homem para a garantia-de relagSes sexuais sadias de acordo com a sua Yocagho, Mas independentemente de suas condigées eco- némicas, Por outro lado se alega a inocuidade de abstinéncia completa e df~se @nfase aos perigos para a satide em conse- quéncia de relacbes sexuais desregradas, Trata-se especifica- mente das doencas venéreas realmente muito difundidas e per- niciosas... O nico prevennvo realmente seguro contra estas 6 na realidade a sbstinéncia sexual completa. Mas como esta 46 pode ser exigida geralmente em casos excepcionais (7), re~ torna-se ao ideal das relacSes sexuals exclusivamente realiza- das no casamento rigorosamente monogtmico (gritos meus, ‘W. R.). As doengas venéreas rapidamente diminuirlam. Mas também esse ideal dtfictimente poderé ser realizado (grifos meus, ‘W. R.), e & conservacho da pureza do matriménio, uma ves 1 O FIASCO DA MORAL SEXUAL contraido, no ajudaré muito, pois os matores perigos de con- tagio encontram-se antes do casamento. Assim, somente pode- Tia adlantar um agueamento gerai da consciéncia na questo sexual, a fim de evitar pelo menos as relecdes sexuais muito freqientes e muito diversificadas. Talvez até se possa pensar que a Hberagdo das relagdes sexuais, baseadas em forte atragdo " mittua, da compulséo sob a qual side colocadas pela opinifo da Sociedade burguesa e em parte também pelos dispositivos le- gats Javoreceria as ligagdes mantidas durante tempo prolonga- do, ou até mesmo permanentes, eliminaria a fprostituicho pi- bilca € secreta e assim ndo somente diminuiria a incidéncia das doencas venéreas, mas também constderavelmente os perigos ji- steos & pstguicos. B, de qualquer modo, inegdvel. que pessoas de dmbdos og sezos que tendem para atividades sexuais nunca delxam, atendendo és exigéncias dos vons costumes, de seguir seus tmpulsos e talver tanto mais desregradamente quanto mais secretamente tiverem que agir para @ conservacdo das aparén- ‘clas, Por outro lado, pode muito bem ser mantido o ideal de entrar em relacdes sexuais com apenas uma pessoa e nela en- contrar protongadamente @ satisfacdo fisica e emacional com- pleta, pois é fora de divida que tem que ser julgado feliz aque- le que consegué isso. (Op. cit., pigs. 114, 715.) Vemos ropri rador se aproxuma da solucio pratica da miséria, mas nao pode liber” Tar deologia do. casament i 1O ‘seu julgamento forca a entrar num beco sem saida: “Mas “pode milli bem por outro lado, ser mantido o ideal”, pois “aquelé “que Tonsegué iso” 36” pode-ser- juigado feliz. Pode, v Ser, ‘Mas ue! co TUCO prop. moralista Sexual quem anunciou o fiasco_desse_ideal.A con- Cc locondicionamento. eco- wradigad ce .._hénnco dea “COlocacao do ideal ¢ da impossibilidade sexual- ca, sua realizacao, “~~Asima a pessoa Oscila entre a ideologia da castidade e a do casamento, pois entre as duas se encontra de boca escan- carada a fera “doencga venérea”, que nao. se pode dominar, pois é o pdlo oposte da ‘moral do casamento e da ideologia da castidade. & bem verdade que jd_se constatou_pessoalmen- te “que a libtraqio das Feleqees séxuais... da compulsio- (dos ~~ Pontos de vista reaciondrios e da legislagao) ..- favorece liga- s6es. duradauyay ——Gimiihii 4 mcidéncia das doengas Vené=~- Teas... , mas nado podemos dispensar a “orden mora! ao—s=cisso: afirmamos com toda a serié:_ ~~-dade_— e assim resta apenas “o agucamento geral da cons ciéncia”; e o préprio mestre no campo da higiene sexual, Gru- —baxatcumblusse dso afimmandos ¥A concupiscéncia das criaturas esté mesclada com amar- gor.” © leltor destas péginas ja viu confirmada intimeras vezes essa afirmagio de Mestre Eckhart. B ainda nem chegamos a felar mais detalhadamente dos maiores males que as relagées Sexuais podem trazer. (Hygiene des Geschlechtslebens, pag. 121.) A concupiscéncia das criaturas est4 mesclada com amar- gor. Mas ninguém que tenha feito tal afirmagio se lembrou dé indagar se esse amargor é de origzm social ou bioldgica. A frase: Omne animal post coitum triste (“Todo ser vivo fica triste apés o ato sexual’) tornou-se dogma cientifico. Deve-se saber que tais afirmagdes, expressas por autoridades, ficam profundamente gravadas na vida sensual daqueles que com veneragdo seguem as palavras de um Gruber tao profunda- mente que talsificam nao somente as préprias observacdes que as contradizem, mas ainda, enevoados e atordoados pela frase altissonante, desistem de qualquer raciocinio préprio, que ine- quivocamente os levaria para a questdo da situa¢ao social, na qual a concupiscéncia fem que se mesclar com amargor. preciso conhecer as reagdes de um adolescente que lé, por exemplo, as seguintes palavras de um sexdlogo de fama como Fiirbringer: Novas tarefas se apresentam na adolescéncia, em primetro lugar @ atitude médica com respeito as relagdes sexuais com os seus perigos para a Satide geral e de infecgdo, N&o é mais se- @redo que na sociedade moderna a grende maioria dos homens Pratica relacbes sexusis antes do matriménio. Néo precisamos estender-nos sobre 2 quest&o se e em que medida os hébitos sho tolerados’ pela sociedade, para n&o dizer, recebem o seu hene- Plécito (II). (Handwarterbuch, pag. 718.) © adolescente assimla a seguinte sugestio: 1. A atitude médica, isto é, aquela pela qual o leigo tem o maior respeito, é que as relagées sexuais “prejudicam a sati- de geral”. Quem viu como os jovens reagem a essas afirmacées, como eles se tornam presa do conflito sexual, neurose, hipo- condria, e como tais afirmagGes se combinam com as experién- cias infantis para produzir neuroses, concordard conosco que essas afirmagoes autoritativas exigem no somente protestos, imas contramedidas praticas. 13 O FIASCO DA MORAL SEXUAL 2. O médico declara que as relagées sexuais podem levar a infeccio, Gruber chega a afirmar que toda mulher com re- lagdes extramatrimoniais e pré-nupciais é suspeita. Haveria en- to a solugio de ter relagdes sexuais somente com alguém que se conheca bem e a quem se ame; ainda mais, pode-se entrar em acordo com o parceiro sobre a fidelidade durante algum tempo ou no sentido de que ndo haverd relagées durante al- gumas semanas apds relagGes com um terceiro e alguns outros detathes. Onde est4, entao, a moral? Como Gruber, Firbringer € outros pesquisadores de pensamento’ semelhante encaram toda relagao extramatrimonial pelo 4ngulo do bordel, como Engels o expressou uma vez, agem inteiramente no sentido da atmostera sexual-ideolégica reaciondria, da qual resultam re- comendacées “morais” como as expostas a seguir, segundo Gru- ber: Em vista da asquerosidade e periculosidade da prostitui- ‘g0..., muitos serio tentades a encontrar satisfagdio em tal “arranjo” até a época em que estiverem em condig6es de con- trair matriménio. Mas tém que ter presente o seguinte: Segu- fanga integral contra o contégio tais relagdes somente apresen- tariam se tidas com uma virgem Intocada e se de ambas as Partes se conservasse rigorosa fidelidade, pois, pela dissemina~ Go de hoje das doengas venéreas, como j4 antes foi salientado, qQuaisquer relagées poligamicas sfio extremamente perigosas. De uma mo¢a que se entrege tio facilmente, ou até mesmo me- Giante retribuic&o de qualquer forma, mesmo encoberta, 2 tal “arregio”, n&o se pode esperar fidelidade, Quando ela, como téo frequentemente acontece, j4 andou de m&o em mfo (1) ela é tho Perigosa quanto a prostituta profissional. Outra coisa que o dovem cheio de ambigdes mais elevadas deve ter em mente & Que & vida em comum com uma moga que emocional e intelec- tuaimente se encontra em baixo nivel, que nfo tem compreeri- 860 dos objetivos dele e somente procura divertimentos frivolos, tem que, forgosamente, baixar seu proprio nivel intelectual. Tal “relagio amorosa” conspurca psiguicamente muito mais do que @ vicita ocasional a uma prostituta com o objetivo de satisfa- zer ume necessidede, semethante & visita a ume privada pi- blica, (Hygiene, pigs. 142-143.) Mas, para também evitar de antemio a possibilidade de entrar em relagées com uma “moga intocada”, j4 se segue na pagina seguinte a fina flor do pensamento moralista sexual: amg, lduzit_ ume moga honrada, de espftito elevado a uma “relagéo @amorosa temporaria" também é ato de irresponsabi- dade, mesmo quando acontece com honestidade completa com Tespeito as intenobes finais. (Pag. 144.) ‘No quero mencionar o fato de que o defloramento em ai traz prejuizo a moga pols Ihe dificulta a realizagfio de um ca- samento mais tarde, j4 que o homem de instintos absolutamen- te certos prefere a mulher intocada como companheira (sic!/), © fato principal é que isso nfo acontece sem prejufzo ou ferimento profundo da alma feminins. O desejo da materni- dade é inate & mulher de boa formagéo. Somente quando as relagées sexuais Ihe déo a esperanga de tornar-se mfée $ que @ tornam completamente feliz. Quem introduz a mulher, com artimanhss mesquinhas, Telagdes sexuals priva-a da hora de maior felicidade que Ihe daria o casamento honesto com os primeiros abracos sem barreiras. (Op. cit., pig. 145.) Assim foram “feitas’, no interesse da instituigao do casa- mento, constatacg&es “cientificas”. A mulher somente se torna feliz com o ato sexual quando a ele se liga a perspectiva de se tornar mie. Conhecemos o mesmo ponto de vista da andlise de mulheres frigidas, sexualmente negativas. E como sao esses “primeiros abragos sem barreiras... no casamento honesto” na realidade descobrimos no tratamento das mulheres que adoecem em conseqiiéncia do “casamento honesto”. Quem poderia estar mais bem aparelhado para tal dou- trinacio das massas no sentido sexual-moralista do que um famoso professor universitario? A sociedade autoritaria é es- perta na escolha de seus pregadores. O cimulo do abuso perigoso de autoridade cientifica a servico da ideologia reacionaria foi a afirmagio de Gruber de que a abstinéncia sexual nao fazia mal algum, mas, pelo con- trario, era extremamente util porque assim o sémen seria reab- sorvido e estabeleceria uma “fonte de proteinas”. “Nao se pode falar de prejuizo da retengio do sémen no corpo, pois ele nao Yepresenta um excremento maligno, um detrito de mudanca de matéria, como a urina e as fezes." No entanto, Gruber ti- nha algumas dividas de deixar essa bobagem assim sem mais nem menos. Entio escreveu: Poder-se-ia. pensar, com relac&o a isso, que a reabsorgéo do sémen seja util apenas quando niio ultrapassa certo limite, que um excesso dele possa fer prejudicial. Contra essa alegacio de- vernos chamar a atencfio para que » naturema j4.tomou provi- déncias para que nfo se déem acumulos demasiados de iqui- dos fecundos, pelas miccdes noturnas involuntérias de sémen, que séo coisa perfeitamente normal, quando nao se realizam com demasiada freqliéncia: além disso, que a secrecto do sémen Se reduz por si mesma, quando o aparelho sexual ndo estd sendo ~ 80 © FIASCO DA MORAL SEXUAL usado. Com os testiculos acontece a mesma coisa que com as outras partes do organismo, Quando néo estéo sendo usados, recebem menog sangue, e, ao receberem menos sangue, sia nu- trigdo e toda a sua atividade wtal decrescem, (Grifos meus, ‘W.R.) Também desse modo se evita dano ou prejuizo. (Op. cit., pégs. 72-78.) Leiam-se essas sentencas com a atengio que merecem. O que Gruber expressou aqui aberta e honestamente é conserva- do em segredo pela posiggo ética de toda a ciéncia sexual rea- ciondria: No interesse da ordem moral, da cultura do povo e do Estado, propaga-se a atrofia do aparelho sexual. Se tivéssemos dito tal coisa sem uma comprovacio, njo nos teriam dado a minima atengio. O que se encontra expresso aqui constitui o nucleo da ideologia sexual reaciondria: atrofia sexual! Nao nos €spanta mais o fato de que cerca de 90% das mulheres e 60%, dos homens so perturbados sexualmente e de que as neuroses se tornaram um problema de massa. Quando se recorre a coisas tais como “absorcao do sémen como fonte de proteina”, micgdes noturnas e atrofia dos testi- culos, estd-se a um passo apenas da castra¢io como medida ativa. Mas entdo a tal ciéncia “objetiva” se anularia por si mesma, o que no interesse do “progresso humano” e no “soer- guimento da cultura” deve ser evitadol! Na forma da esterilizagao fascista, essa flor de nossa “‘cul- tura” tornou-se realidade, Ja que a Hygiene des Geschlechislebens (Higiene da Vida Sexual) de Gruber vendeu 400.000 exemplares, isto é, foi lida pelo menos por um milhao de pessoas, predominantemente ado- lescentes, € possivel imaginar bem seu efeito como influancia Social. Como fracasso extremo; causou pelo menos numero igual de doencas, impoténcia ou neuroses. Poder-se-ia alegar ser injusto citar somente Gruber; a maio- ria dos sexologistas sexuais nao se identifica com ele. Por ou- tro lado, deve ser salientada a import4ncia da sexualidade. Pode-se, ento, perguntar: que sexologista, que alegadamente nao se identificou com Gruber, escreveu algo contra ele na tentativa de neutralizar a sua influéncia? Nao falo aqui dos escritos em Tevistas cientificas sobre os motivos e a personali- dade das poluigdes ou do onanismo. Refirb-me & aplicagao cone seqiiente da conviccdo cient{fica em acées correspondents, como Por exemplo a publicacio de brochuras populares como me- dida contra as centenas de milhares de exemplares de subli+ teratura sexual, escritos por médicos irresponsdveis, que nada entendem da coisa, mas exploram a fome do povo por conhe- cimentos sexuais, a necessidade de um pouco de luz sobre o emaranhado em que estd envolvido, para auferir uma boa tenda, Tais bichos-papdes como “doenga venérea” e€ “onanis- mo", interesses culturais considerados tentagdes, ndo podem ser combatidos com tratados esotéricos. Consideracio por um colega e a chamada “ética profissional” nfo podem ser ale- gadas no caso. Nao, a coisa é bem diferente. Quem néo se solidariza com as afirmacées claras e insofismaveis, porque tem de nega-las de acordo com seus conhecimentos, certamen- te hesita em pensar e exteriorizar até o fim o seu ponto de vista acertado e suas convicgées cientificas, pois isso o leva- tia a ultrapassar os limites do conhecimento conservador ¢ conseqiientemente a deixar para trds o recinto estreito da so- ciedade convencional; e isso ninguém arrisca de boa vontade. & verdade que nfo faltaram tentagdes de lutar contra e- ses conceitos. Sua superficialidade trai no entanto a timidez dos autores. Ou entio a discussdo se estende apresentando uma série de lugares-comuns. Eis um exemplo: Da mesma forma 6 desejavel, a fim de se fazer uma apre- clacio mais justa e para se evitar o boicote social que se veri- fica freqUentemente nos processos sexvais, um conhecimento mats difundido dos fundamentos fisioldgicos e priquicos da vida sexual. Também para o reconhecimento dos préprios im- Pulsos sensoriais e do comportamento determinado por eles, a familiaridade com fatos cientificamente assegurados pode ser de grande significado, & necessfrio esperar confiantemente que @ cultura progressista, quando nfo se difunde somente em seus aspectos isolades mas em todo o seu contetide completo, no fim de contas nfio levaré & degeneragio dos hébitos sexuais, mas antes & sua sublimacio e refinamento. (H. F. Timerding, Hand- wérterbuch, pag. 713.) O conhecimento dos fundamentos da vida sexual é de- sejdvel (nfo é essencial), a familiaridade com os fatos cienti- ticos pode ser de grande significagio (nao o 4), “é necessdrio esperar confiantemente”... “a degeneracio dos habitos, a su- blimag3o e enobrecimento”... etc, Palavras! A miséria, entretanto, tem alcance ainda maior: a pré- pria constatacgdo dos fatos e a formaco de teorias sio moral- —_ 82 © FIASCO DA MORAL SEXUAL mente inibidas, e isso até mesmo no circulo mais chegado de autores que em outros campos nao se encontram inibidos con- servadoramente. Nao admira que a ideologia sexual reacio- néria é a mais geral e mais profundamente arraigada. £ fato conhecido que a frieza sexual da mulher se baseia numa inibigao da sensibilidade vaginal e que, com a elimi- nacio da repressdo da erética geral e vaginal, reaparecem a excitagio vaginal e a capacidade orgdstica. Paul Krische es- creveu uma brochura popular: Neuland der Liebe, uma “So- ciologia da Vida Sexual”. & onde lemos sobre a anestesia vaginal: © Unico excitante pare tornar feliz a mulher é o clitéris, nfo como até mesmo clentistas e médicos afirmam ainda ho- Je, o interior da vagina e do Utero. Pols as condigSes para a excitaghio Sic 0s corpos cavernosos e os corpusculos de Krause, e estes Somente se encontram no clitéris. Nem o dtero nem o interior da vagina poder&o, pois, transmitir sensagdes de pra- wer sexual, j4 que além da fecundacio formam o canal de nascimento para o fruto maduro da vida... Para nfio tornar © parto insuportavelmente doloroso, a natureza tornou o cor- po cavernoso da mulher menor... de modo a tornar a safda da vagina insenstvel a0 nascimento... Desse modo, a nature- Za criou aquele conflito, que dentro da histéria da humanida- de n&o conseguiu resolver, tornando insensivel 9 safda da va- gina, para possibilitar o nascimento, ela também impediu de- sejavel satisfagéo da mulher na cépula. (Pag. 10.) O tato de que na raga germanica “pelo menos sessenta Por cento das mulheres nunca, ou apenas raramente, sentem © ptazer sexual” (sic? Entio o restante o sente, mas como, 8e a natureza dispbs de outra forma?) Krische deriva da ale- gada maior distancia entre o clitéris e a vagina nessa raga. A fungao sexual recebe explicacio final pela funcio da pre- servagio da espécie, como tantas vezes na sexologia oficial, mas a influéncia da moral conservadora ja na pagina seguin- te reaparece: Para a muther, a idade mais propfcia para a maternidade € entre os 20 e 25 anos. © amadurecimento dos dvulos, entre~ tanto, ja se inicla na moga de 14 anos. A fim de evitar a gra- videx premature, a nstureza estabeleceu a baixa excitagio s¢- xual da adolescente como medida de protegfio. (Pag. 10.) Por que entdo.a natureza foi tao indbil que nfo trans- feriu o amadurecimento dos é6vulos para a idade de 25 anos € insondavel. Menos compreensivel ainda é que, apesar de toda a previdéncia dessa moderna deusa “natureza”, ela nio concedeu tal protegao a grande porcentagem de mogas, que sofrem barbaramente de excitagdes sexuais. E temos que la- Mmentar que as meninas nio apenas com 14 anos, mas também ja com trés e quatro anos de idade masturbam-se e brincam com bonecas e deseiam ter filhos dos pais, apesar de que a natureza achou aprontiada a idade de 25 anos. Sera que essa natureza no se revelaria, a um exame mais acurado, como a Posi¢ao especial econdmica da mulher em nossa sociedade € como o sentuimento “pudico” e honesto correspondente? Que € que ha com as negras e croatas de 14 anos? Ser4 que a na- tureza as esqueceu completamente? Tais formagées de teorias objetivamente nada mais sio que métodos para desviar o interesse cientifico das verdadeiras causas sociais e psiquicas dos disturbios sexuais. O conceito predominantemente ou exclusivamente bio- légico do impulso sexual no sentido da preservagdo da espécie ¢ um dos métodos de repressio da sexologia conservadora. Es- sa fundamentagao da preservacio da espécie é uma concepcio finalista €, portanto, idealista; atribui ao acontecimento um objetivo, que necessariamente deve ser perseguido por um mo- tivo que est4 acima do individuo, se é que tudo nao passa de uma simples loucura. Reintroduz um principio metafisico, sen- do pois basicamente uma inibig&o religiosa ou mistica. 2. A MORAL DO CASAMENTO COMO EMPECILHO A QUALQUER REFORMA SEXUAL a) Helene Sticker Nas linhas precedentes procuramos demonstrar que o que constitui o beco sem safda de qualquer espécie de reforma sexual convencional € o apego 4 instituiggo do casamento, com fundamento aparentemente biolégico, mas na realidade econémico; que da ideologia matrimonial, por intermédio da qual a sociedade autoritdéria imediatamente influencia toda a situacgio sexual, provém conseqiientemente tintim por tin- tim toda a miséria sexual. Mas até os melhores e mais pro- gressistas dos reformadores sexuais fracassam precisamente nessé ponto — ao passo que em todos os outros, do ponto de 84 © FIASCO DA MORAL SEXUAL vista da economia sexual, apresentam. teses eminentemente validas — e justamente por isso o programa oferecido por eles é impraticdvel. . O movimento da reforma sexual alemi foi esmagado. Mas em todos 0s outros paises o movimento da reforma sexual avanca, se bem que sobrecarregado de todas as contradigées Provenientes da negagao da sexualidade dos adolescentes. A exposiggo a seguir pode ser igualmente aplicada a qualquer tipo de reforma sexual liberal progressista. A Deutsche Bund fiir Mutterschutz und Sexualreform (So- ciedade Alema para a Protecio das Maes e para a Reforma Sexual), cujo spiritus rector era Helene Stocker, publicou as suas Richtlinien (Diretrizes), ed. Verlag der neuen Genera- tion, Berlim, aprovadas pela assembléia dos dirigentes da So- ciedade em Berlim, em 25-26 de novembro de 1922. Damos a seguir as linhas introdutérias com as quais estamos funda- mentalmente solidatios do ponto de vista da economia sexual: “DIRETRIZES” da Sociedade Alem& para a Protegfio das Mies e para a Re- forma Sexual 1. Contetdo e propésito do movimento © movimento para a protegio das mfes e para a reforma sexual nasce no solo de uma Weltanschawung jubilosa e afir- madora da vida. Origina-se da convicgio do mais alto valor, da santidade e intocabilidade da vide humana, Por esse motivo nosso movimento pretende tornar a vida entre marido e mulher, entre pais e filhos, e entre as pessoas de modo geral, téo rica e fértil quanto possivel. Nossa tarefa é, portanto, levar a circulos cada vez mais amplos o reconhecimento da discrepfncia entre o estado de Coisas social ¢ os pontos de vista éticos, em que vemos néo somente a tolerancia, mas também o fomento da prostituigéio e doengas venéreas, da hipocrisia sexual e abstinéncia forgada. A confusfo nos valores morais hoje prevalecente e 08 re- Sultantes sofrimentos pessoais e males sociais exigem providén- clas, Mas estas nfio podem consistir apenas na eliminacho de sintomas, e sim devem determinar a erradicagho das causas reais, Mas nfo é somente eliminando os males, mas também fo- mentando positivamente,’ que o nosso movimento pretende ser-

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