100%(2)100% menganggap dokumen ini bermanfaat (2 suara)
264 tayangan3 halaman
O ensaio analisa como o romance Coração das Trevas, de Joseph Conrad, construiu uma narrativa sobre a África que permanece até hoje. Achebe argumenta que essa narrativa serviu para justificar o tráfico de escravos e a colonização, apresentando a África como um continente selvagem e pré-histórico. Ele também mostra como essa visão ocultou realizações históricas africanas, como o reino cristão de Nzinga Mbemba no Congo.
Deskripsi Asli:
Resenha do ensaio "O nome difamado da África", presente no livro A educação de uma criança sob o protetorado britânico de Chinua Achebe.
O ensaio analisa como o romance Coração das Trevas, de Joseph Conrad, construiu uma narrativa sobre a África que permanece até hoje. Achebe argumenta que essa narrativa serviu para justificar o tráfico de escravos e a colonização, apresentando a África como um continente selvagem e pré-histórico. Ele também mostra como essa visão ocultou realizações históricas africanas, como o reino cristão de Nzinga Mbemba no Congo.
O ensaio analisa como o romance Coração das Trevas, de Joseph Conrad, construiu uma narrativa sobre a África que permanece até hoje. Achebe argumenta que essa narrativa serviu para justificar o tráfico de escravos e a colonização, apresentando a África como um continente selvagem e pré-histórico. Ele também mostra como essa visão ocultou realizações históricas africanas, como o reino cristão de Nzinga Mbemba no Congo.
ACHEBE, Chinua. O nome difamado da frica. In: ACHEBE, Chinua. A
educao de uma criana sob o protetorado britnico. So Paulo: Companhia das Letras, 2012. pp. 82-99.
No ensaio O nome difamado da frica, publicado na coletnea
ensastica A educao de uma criana sob o protetorado britnico, o escritor Chinua Achebe faz uma breve, porm contundente, reflexo acerca da construo do imaginrio sobre o continente africano, na perspectiva do olhar europeu, focando suas ponderaes, sobretudo, no romance Corao das Trevas de Joseph Conrad, mas tambm passando pelas artes visuais, como na acertada anlise de um quadro de Gainsborough, a qual retomaremos mais adiante. Achebe inicia sua discusso recorrendo ironia presente na ideia de um distanciamento, histrico e geogrfico, entre o continente africano e o europeu. Para tal, faz uso de um poema de Lopold Sdar Senghor (Orao s mscaras), com o qual evidencia uma paradoxal proximidade entre os continentes, estratgia discursiva que o autor lana mo para esboar seu argumento sobre a falaciosa narrativa, consolidada em diferentes reas do conhecimento, de uma frica distante, extica e selvagem. Na sequncia do ensaio, j possvel identificar a questo central do argumento do autor: a imagem construda sobre o continente africano legatria muito menos da ignorncia e mais de um expediente consciente, o qual se definiria, recorrendo ao texto, como: uma inveno deliberada, concebida para facilitar dois gigantescos eventos histricos: o trfico transatlntico de escravos e a colonizao da frica pela Europa (p.83). Fazendo uso de um estudo de Dorothy Hammond e Alta Jablow (The Africa That Never Was), Achebe ratifica essa questo, destacando a mudana que houve no foco da produo textual britnica sobre o continente africano, a partir de uma intensificao do trfico de escravos. Tal produo, segundo as pesquisadoras citadas por Achebe, passou de relatos quase indiferentes e
factuais sobre aquilo que os viajantes tinham visto para o julgamento de
africanos. Como herana desse universo narrativo sobre a frica, Achebe identifica dois produtos: uma tradio literria, segundo ele j extinta e uma maneira particular de ver (ou no ver) a frica e os africanos. Assim, o que segue no ensaio uma tentativa do autor de evidenciar o enraizamento desse imaginrio sobre o continente, ou seja, Achebe nos mostra ao longo do texto a inegvel permanncia de um pensamento imperial e fincado numa perspectiva colonizadora que modula, at hoje, o olhar sobre a frica. Na sequncia o autor utiliza a metfora sobre uma antiga rvore na beira da estrada que guarda incontveis cicatrizes de faco para falar das marcas deixadas por europeus que estiveram no continente africano, principalmente na regio do Congo. Sobre tais viajantes, Achebe chama ateno a um grupo mais difcil de lidar, o daqueles que parecem trazer vantagens ao continente africano, simulando, assim, a violncia e o tom exploratrio da colonizao. E nesse grupo que o ensaio situa Joseph Conrad, que segundo Achebe
conseguiu
transformar
sculos
de
textos
transparentemente
grosseiros e fantasiosos sobre os africanos em um texto de literatura
permanente e sria (p. 85). Na leitura do romance Corao das Trevas, Chinua Achebe destaca duas operaes que parecem estruturar a narrativa: a ideia do continente africano como territrio nunca explorado, desconhecido e pr-histrico, consolidada na imagem do viajante que se permite fantasiar como o primeiro ser humano a tomar contato com essa realidade; e uma segunda, decorrente desta, de questionar de modo ambivalente a humanidade de africanos. No intuito de confirmar o alcance e a permanncia da narrativa de Conrad, o ensaio traz cena a histria do governante Nzinga Mbemba, batizado como D. Afonso I, descrevendo brevemente o processo de construo de seu reino cristo do Congo a partir do contato com o capito portugus Diogo Co, sculos antes da viagem de Conrad que serve de substrato ao romance. Achebe destaca, no entanto, que uma das razes para a histria de
D. Afonso I ser completamente desconhecida, aproximando-se de um conto de
fadas apesar da realidade dos fatos, situa-se na tradio legada de Corao das Trevas que: (...) inventou uma frica onde nada de bom acontece ou jamais aconteceu, uma frica que ainda no foi descoberta e est espera do primeiro visitante europeu para explor-la, explic-la e consert-la ou, mais provavelmente, morrer tentando. (p. 89).
Aps a anlise de mais algumas passagens do romance, Achebe passa
a desconstruir um argumento comum que procura minimizar esse imaginrio sobre frica que aparece em Conrad, a saber, de que insensibilidade racial do autor era normal na poca. Para tal, utiliza um exemplo das artes plsticas em que compara a representao humanizada que Gainsbourg faz de Ignatius Sancho em 1786 e um retrato annimo pintado na Gr-Bretanha na mesma poca de Francis Williams, poeta formado em Cambridge, em que ele est representado de forma caricatural e com escrnio. Como concluso da anlise, Achebe afirma que a poca no pode aprisionar os melhores intelectuais e o que separaria os pintores dos quadros acima descritos, assim como separaria Conrad de escritores contemporneos como Livingstone no seria a poca, mas o fato de existir ou no respeito pessoa humana. Por fim, possvel afirmar que a grande contribuio desse ensaio de Achebe para os trabalhos relacionados ao continente africano chamar ateno ao fato das permanncias de um pensamento colonial, em que o fator racial, ainda que no aparea mais de forma consciente, continua a definir, como uma presena invisvel, o modo como so realizadas as leituras sobre o continente africano. Cristiane Santana Silva .