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“Perambulamos distantes de Deus. Se desejamos retornar à casa de nosso Pai, este mundo deve ser usado, não desfrutado, para que, assim, as coisas invisíveis de Deus sejam vistas claramente, sendo entendidas pelas coisas que são criadas – isto é, por meio do que é material e temporário possamos apreender o que é espiritual e eterno” – Agostinho de Hipona
Se essa declaração de Agostinho lhe causou mal estar, talvez você tenha um problema. Talvez 0 mesmo que eu tive.
“Perambulamos distantes de Deus. Se desejamos retornar à casa de nosso Pai, este mundo deve ser usado, não desfrutado, para que, assim, as coisas invisíveis de Deus sejam vistas claramente, sendo entendidas pelas coisas que são criadas – isto é, por meio do que é material e temporário possamos apreender o que é espiritual e eterno” – Agostinho de Hipona
Se essa declaração de Agostinho lhe causou mal estar, talvez você tenha um problema. Talvez 0 mesmo que eu tive.
“Perambulamos distantes de Deus. Se desejamos retornar à casa de nosso Pai, este mundo deve ser usado, não desfrutado, para que, assim, as coisas invisíveis de Deus sejam vistas claramente, sendo entendidas pelas coisas que são criadas – isto é, por meio do que é material e temporário possamos apreender o que é espiritual e eterno” – Agostinho de Hipona
Se essa declaração de Agostinho lhe causou mal estar, talvez você tenha um problema. Talvez 0 mesmo que eu tive.
POR MEIO DO MATERIAL E DO TEMPORAL O ETERNO" AGOSTINHO
Perambulamos distantes de Deus. Se desejamos retornar casa de
nosso Pai, este mundo deve ser usado, no desfrutado, para que, assim, as coisas invisveis de Deus sejam vistas claramente, sendo entendidas pelas coisas que so criadas isto , por meio do que material e temporrio possamos apreender o que espiritual e eterno Agostinho de Hipona
Se essa declarao de Agostinho lhe causou mal estar, talvez voc tenha um problema. Talvez 0 mesmo que eu tive.
Por muito tempo fui um dualista, buscando as coisas espirituais e ignorando
a histria e a matria. Educado em uma igreja batista renovada e dispensacionalista, tive uma experincia real com Jesus Cristo, e experimentei a graa como uma exploso de amor, na minha adolescncia. E com ela veio um terrvel mal estar em relao cultura. Como muitos que percebem essa anttese entre o Reino de Deus e o esprito desse mundo, eu s esperava Jesus voltar. Ento, h uns quinze anos, passei por uma revoluo teolgica, entendendo que o evangelho integral, e inclui a matria e a histria. Foi uma libertao entender que parte da minha angstia em relao ao mundo vinha do prprio isolamento cultural em que vivamos, da falta de categorias para absorver o contraste entre a espiritualidade crist que eu conhecia e a opacidade de sentido e de moralidade na qual viviam meus incrdulos colegas de sala-de-aula. Desse momento em diante no podia evitar a estranheza ao olhar para antigos professores como Keneth Hagin e modelos melhores mas ainda fora-do-eixo, como Watchman Nee (sim, atravessei muitos vales e montanhas antes de me tornar reformado). Equilibrar-se, no entanto, no coisa fcil. Na nsia de combater o platonismo esqueci-me da assimetria entre o Eterno e o temporal, que parte integrante do cristianismo clssico. Lembro-me de ver os crentes tpicos, alienados, aguardando Jesus voltar, quase como se fossem fiis de outra religio. No estava completamente errado; o gnosticismo outra religio mesmo. Todo cristianismo que recusa a bondade da criao e deseja fazer a assepsia da finitude gnstico, tenha ele forma piedosa do asceticismo extremo no romanismo, na igreja oriental ou no puritanismo evanglico, tenha ele a forma iconoclasta da recusa revolucionria das formas concretas e imperfeitas da vida social, como encontramos na tradio poltica da esquerda. A essa altura, eu subscrevia completamente declaraes como a que se segue: No se justifica a concepo da vida plena em termos exclusivamente espirituais. A teologia segundo a qual a vida que Cristo oferece uma vida ultramundana para alm da histria, aparentada ao pensamento grego com sua nfase na dicotomia entre eternidade e o tempo, a alma e o corpo, o espiritual e o material. Necessita ser corrigida pela viso bblica, para a qual a esperana escatolgica inclui uma nova criao Ren Padilla (Deus e Mamon). O grande telogo latinoamericano est certo: o platonismo corrompeu a relao da igreja crist com a matria e a histria. E Agostinho era um platonista. Ou, ao menos, algum muito influenciado pelo platonismo. Mas isso no a histria toda: pois no fixamos o olhar nas coisas visveis, mas naquelas que no se veem; pois as visveis so temporrias, ao passo que as que no se veem so eternas. Paulo Apstolo (em 2Corntios 5) Lembro-me de sentir desconforto lendo esse e vrios outros trechos do apstolo, e como professor de Novo Testamento em uma Faculdade Teolgica, tinha certeza de haveria uma explicao no platnica para eles. Mas no era fcil; descobri, que esse e outros trechos paulinos como 1Corntios 7.29-35 so estudadamente ignorados pelos articuladores de teologias de engajamento histrico e transformao, e a certa altura a pergunta que lutava para emergir no pde mais ser reprimida: Agostinho era meramente platnico ou no seria simplesmente bblico? O que estaria por trs do meu incmodo em reconhecer que o pensamento bblico tanto sustenta a dualidade de eterno e temporal, quando sustenta uma assimetria de valor entre o eterno e o temporal?
De repente toda a questo mais especfica da relao entre evangelizao e
responsabilidade social, e da alegada inexistncia de uma prioridade entre evangelizao e transformao histrica na misso abriu-se de novo como uma ferida mal-curada. Em 2003 eu estava no CBE2 no SESC em Belo Horizonte quando ouvi o Dr. Russell Shedd defender a prioridade da evangelizao e ser logo depois refutado por um telogo da Misso Integral, para quem essa distino nem existiria. Sa de l irremediavelmente incrdulo. No da integralidade da misso, que abrao com todo o corao e alma, mas da inexistncia de uma dualidade. Mais do que isso at, da inexistncia de uma dualidade e de uma assimetria. Exilado de meus recentes confortos teolgicos e missiolgicos vi-me de novo sozinho num deserto de incertezas, com poucas gotas de satisfao teolgica aqui e ali. L para 2005 comecei a lanar perguntas sobre os limites da assim-chamada teologia da misso integral, que ainda considero cruciais, mas o centro do problema continuava escapando das minhas mos. Aos poucos eu entendia que a questo era muito maior do que um problema com o discurso de misso integral, tendo relaes com a totalidade do discurso moderno de progresso e com a perda de uma teleologia Crist na cultura ocidental. Ainda se passariam alguns anos antes que eu agarrasse a questo pelo pescoo. Mas finalmente aconteceu, h uns poucos anos. Alguns dariam sorrisos com o canto da boca ao ouvir-me descobrindo o que sempre lhes foi bvio, mas no me importa. Redescobrir a assimetria foi como reencontrar um velho amigo. Reconciliei- me com o adolescente que lutava contra o mundo com medo, sim, mas que estava apaixonado pelos cus, e no sabia bem o que fazer com isso. Foi uma alegria dizer a ele que no precisava ter medo da histria e da matria, pois elas mesmas eram suas janelas. Abra-as bastante, olhe atravs delas! E abraado ao adulto, o adolescente viu os cus.
E o jovem engajado com a histria, convicto de que o cristianismo material,
nem ele ficou de lado. Entendi que vale a pena ter um corpo, uma profisso, uma militncia, um pertencimento, mas no por que eles nos definam, hoje. Todas essas coisas terminaro no tmulo: trabalho, luta poltica, justia social, cincia, arte, sexo, famlia, igrejas Mas isso no tem problema. Um dia todos os nossos tmulos ficaro vazios. Mas esses corpos nunca voltaro como eram, nada continuar como ; h uma brutal descontinuidade entre o corpo dessa morte e o corpo celestial. H descontinuidade e assimetria, pois a ressurreio no repristinao, mas ascenso. O corpo celestial no a mera legitimao do corpo terreno, mas a transparncia da matria e da histria para o eterno. E, no fim, este o seu valor: que contenha o infinito. Isso faz diferena? Faz, muita. Muda suas prioridades, sua sensibilidade, suas urgncias. Muda sua avaliao do que significa ser relevante. Muda sua devoo, e j aviso: um veneno mortal contra toda ansiedade pragmatista, de mudar o mundo, cuja raiz no seja a pura compaixo pelo outro. Quanto aos sonhos revolucionrios e as paixes da revolta juvenil, esses terminaro reduzidos a p. E para seu desespero, voc se pegar sonhando acordado com um avivamento espiritual mais vezes do que com coisas decentes e respeitveis, como uma sociedade sem injustia que o que qualquer pessoa normal faz. Hoje percebo claramente que em ambas as etapas do meu progresso espiritual aprendi coisas importantes, mas vivi graves incompletudes. Paulo, Agostinho, Boaventura, Toms de Aquino, Benardo de Claraval, Calvino, Jonathan Edwards e tantos outros, no eram neandertais teolgicos que no haviam compreendido o que um cristianismo maduro e historicamente responsvel que ns, modernos, compreendemos. No, meus amigos, esses homens sabiam das coisas. A igreja de Jesus sempre soube das coisas, muito antes de Kuyper ou Ren Padilla. No nos ensinou o Senhor que todas as coisas o que recebemos quando buscamos primeiro o Reino? Como, ento, poderamos confundir o reino com todas as coisas? Ser integral, amar e reconhecer todas as coisas. O Reino de Deus integral, sim; mas isso no o mais importante. A coisa mais importante sobre o Reino de Deus no que ele seja integral, mas que ele divino . E essa divindade o que torna sua integralidade to bela. E essa a forma clssica da doutrina Crist: perder o finito para ganhar o infinito, sem nunca desprezar o finito; e em virtude do infinito retomar o finito, para sempre. A f encontrar na matria e na histria, e viver por meio da matria e da histria, e transparecer por meio da matria e da histria, aquilo que vai alm delas, alm da integralidade: o Eterno. Compartilhe isso: